Prévia do material em texto
AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE MARCO POLO. PROCESSO N.º: 00000001-12-2022.8.26.0000 LEANDRA TOLENTINO, brasileira, manicure, em união estável, portadora da cédula de identidade RG nº 99.000.000- x, inscrita no CPF/MF sob o nº 000.333.888-88, com endereço na Avenida Freddie Mercury, nº 40, Parque Residencial Campo limpinho, Cidade de Marco Polo, CEP 9000-000; por seu Advogado devidamente constituído nos autos da AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE CUMULADA COM PERDAS E DANOS que lhe move GABRIEL CUNHA, também já qualificado por seus Advogados, vem mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência, interpor a sua; CONTESTAÇÃO pelos motivos de fato e de Direito abaixo aduzidos: Alega o REQUERENTE em sua exordial que: Manteve união estável com a mãe da REQUERIDA durante o período de 1999 a 2020, estando eles agora sem qualquer relacionamento; Que o REQUERENTE emprestou de forma gratuita o piso superior do imóvel, em forma de comodato verbal; Que sempre arcou com as despesas de consumo e IPTU e que inclusive ajudava com as compras de supermercado que a REQUERIDA fazia; Encerrado o relacionamento com a mãe da REQUERIDA este supostamente a notificou. para que fosse cessado o suposto contrato de comodato. Não juntou a notificação assinada pela REQUERIDA; Trouxe a questão de estar aposentado por invalidez e que quer usar o imóvel construído pela REQUERIDA para locações e assim ter outra fonte de renda. É a síntese. PRELIMINARMENTE DA JUSTIÇA GRATUITA A REQUERIDA faz jus à concessão da gratuidade de Justiça haja vista que não possui rendimentos suficientes para custear despesas processuais e honorários advocatícios em detrimento de seu sustento e de sua família e como bem traz no novo CPC, em seu artigo 98. DA REALIDADE DOS FATOS O REQUERENTE alegou que emprestou a parte de cima do imóvel e de forma gratuita à REQUERIDA para que ela ali residisse. Todavia, fora omitido em sua exordial o fato de que no piso superior onde a REQUERIDA habita nada havia, tendo somente a laje, portanto, a REQUERENTE e o seu consorte tiveram de construir uma nova casa sobre a laje. O REQUERENTE TAMBÉM OMITIU EM SUA EXORDIAL o fato de que não houve um contrato verbal de comodato, mais sim, houve a cessão da superfície superior da propriedade (DOAÇÃO), como previsto no Art. 1.510-A do CCB, haja vista que, no ano de 2015, a REQUERIDA e o seu consorte, o Sr. Leonardo Santiago estavam à procura de um apartamento, todavia, a genitora da REQUERIDA e o REQUERENTE cederam a parte de cima do imóvel base para que a REQUERIDA construísse uma casa. Da construção da parte superior que fora doada à REQUERIDA foram gastos cerca de R$ 50.000,00 (Cinquenta mil reais). Os gastos com o pedreiro, com os materiais comprados no depósito, com Arquiteta e Engenheira estão no nome da REQUERIDA. Dois anos após a construção, o REQUERENTE e a genitora da REQUERIDA se mudaram para o Estado do Acre e lá compraram um imóvel. Todavia, em janeiro de 2020, a mãe da REQUERIDA e o REQUERENTE se separaram e dividiram os imóveis comprados, sendo que, a mãe da REQUERIDA ficou com o imóvel do Acre e o REQUERENTE com o imóvel da Cidade de Marco Polo. Entretanto, o imóvel construído na laje pela REQUERIDA NÃO ENTROU NA PARTILHA, HAJA VISTA QUE O ESPAÇO DA LAJE FOI DOADO, SENDO O IMÓVEL CONSTRUÍDO POR ELA AUTÔNOMO AO IMÓVEL BASE. Ocorre que, em razão de ter havido a cessão da parte superior e não um contrato de comodato, a REQUERIDA e o seu convivente exercem a posse mansa e pacífica sobre o imóvel; atendendo também os requisitos listados no Art. 1.196 do CCB, sendo eles possuidores e não meros detentores, como prevê o Art. 1.198 do CCB. Vejamos como o CCB classifica o possuidor: “ART. 1.196. CONSIDERA-SE POSSUIDOR TODO AQUELE QUE TEM DE FATO O EXERCÍCIO, PLENO OU NÃO, DE ALGUM DOS PODERES INERENTES À PROPRIEDADE.” Cabe destacar mais uma vez Excelência que a parte superior construída pela REQUERIDA não entrou na divisão; Portanto, a alegação de que houve comodato verbal não deve prosperar, haja vista que fora doado o espaço para que houvesse a construção da casa e sem oposição do REQUERENTE. Não há sequer documento que comprove a alegação do REQUERENTE de que houve comodato e, nem tampouco notificação extrajudicial que exprima a ciência inequívoca da REQUERIDA para que ela desocupasse o imóvel; desocupação esta injusta, haja vista que a REQUERIDA exerce a posse mansa, pacífica e com “animus domini” sobre a parte superior que por ela foi construída. DO ENDEREÇO COLACIONADO AOS AUTOS Excelência, informou o REQUERENTE que se mudou para perto de seus parentes, ficando ele na Rua: Waldo de Los Ríos, nº 400, Vila Nárnia, Cidade de Marco Polo, CEP 40000-000, todavia, a REQUERIDA ainda mora na casa em que foi construída por ela e que fica acima da unidade autônoma do REQUERENTE; casa esta que fica na Avenida Freddie Mercury, nº 40, Parque Residencial Campo limpinho, Cidade de Marco Polo, CEP 9000-000 e não na Rua descrita pelo REQUERENTE. DA INÉPCIA DA INICIAL D. Julgador, de acordo com o que fora apresentado acima a ação deverá ser julgada inepta nos exatos termos do Art. 330, inciso I do CPC, pois, o REQUERENTE NUNCA TEVE A POSSE DO IMÓVEL CONSTRUÍDO, pois, ALÉM DA LAJE TER SIDO DOADA À REQUERIDA, O IMÓVEL FORA CONSTRUÍDO NO ANO DE 2015 PELA REQUERIDA E O SEU COMPANHEIRO, e, com o término da construção, a REQUERIDA já passou a exercer a posse sobre ele. Portanto, a ação correta não é a de “REINTEGRAÇÃO DE POSSE”, mas sim, a ação de “IMISSÃO NA POSSE”. Vale destacar Excelência que o REQUERENTE tem a propriedade do terreno onde foram construídas as acessões sobre ele, entretanto, nunca exerceu a posse sobre o imóvel construído pela REQUERIDA. De acordo com a melhor doutrina, STOLZE GAGLIANO e PAMPLONA FILHO (2019, apud LÔBO, 2016), temos que: “A IMISSÃO DE POSSE, APESAR DO NOME, NÃO PROTEGE A POSSE, MAS SIM ASSEGURA QUE O TITULAR DE DIREITO REAL, PRINCIPALMENTE DA PROPRIEDADE, POSSA NELA INGRESSAR, POIS AINDA NÃO A TEVE; DIZ RESPEITO A EXERCÍCIO DE DIREITO E NÃO DE SITUAÇÃO FÁTICA, QUALIFICANDO-SE, ASSIM, NO PLANO PROCESSUAL, COMO PRETENSÃO E AÇÃO PETITÓRIAS. O DIREITO CIVIL ASSEGURA A PROTEÇÃO POSSESSÓRIA E ESPECIFICA OS MEIOS, MAS OS MODOS DE ASSEGURÁ-LA SÃO REMETIDOS À LEGISLAÇÃO PROCESSUAL CIVIL.”1 Portanto, pelo fato de o REQUERENTE ter doado a laje para a REQUERIDA; pelo fato de o imóvel ter sido construído pela REQUERIDA e, pelo REQUERENTE não ter exercido em nenhum momento a posse sobre ele, mas sim, ter o justo título do terreno bem como da acessão construída sobre ele e que serviu de base ao imóvel da REQUERIDA, a ação correta no caso em tela 1 GAGLIANO, Pablo Stolze; FILHO, Rodolfo Pamplona; “NOVO CURSO DE DIREITO CIVIL, VOLUME 5: DIREITOS REAIS” - São Paulo: Saraiva Educação, 2019. deveria ser a “AÇÃO DE IMISSÃO NA POSSE” e não a “AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE”. DA CONTESTAÇÃO DO DIREITO REAL DE LAJE E A POSSE EXERCIDA PELA REQUERIDA SOBRE O IMÓVEL AUTÔNOMO Excelência, quando da cessão gratuita da laje do imóvel em que residia o REQUERENTE, a REQUERIDA e o seu companheiro adquiriram o direito de construir um imóvel um imóvel autônomo ao imóvel base. Em consonância para com o que fora dito, temos o Art.1.510-A do CCB, o qual diz que: “ART. 1.510-A. O PROPRIETÁRIO DE UMA CONSTRUÇÃO-BASE PODERÁ CEDER A SUPERFÍCIE SUPERIOR OU INFERIOR DE SUA CONSTRUÇÃO A FIM DE QUE O TITULAR DA LAJE MANTENHA UNIDADE DISTINTA DAQUELA ORIGINALMENTE CONSTRUÍDA SOBRE O SOLO.” (Grifos) Vale ressaltar que o REQUERENTE em sua exordial alegou que pagava as despesas de consumo, todavia, isso não condiz com a realidade, haja vistaque a REQUERIDA é quem paga as despesas de consumo de sua unidade. Vejamos o que prevê o parágrafo 2º do artigo supracitado: “§ 2 O O TITULAR DO DIREITO REAL DE LAJE RESPONDERÁ PELOS ENCARGOS E TRIBUTOS QUE INCIDIREM SOBRE A SUA UNIDADE.” Outrossim, pelo fato de ter havido a construção do imóvel na parte superior e, SEM OPOSIÇÃO ALGUMA DO REQUERENTE, mas sim, com a autorização inequívoca deste, a REQUERIDA exerceu com “animus domini” a posse sobre a superfície que lhe fora doada, passando ela a ter direito de usar, gozar e dispor de sua unidade autônoma, como prevê o parágrafo 3º do artigo supracitado, senão, vejamos: § 3 O OS TITULARES DA LAJE, UNIDADE IMOBILIÁRIA AUTÔNOMA CONSTITUÍDA EM MATRÍCULA PRÓPRIA, PODERÃO DELA USAR, GOZAR E DISPOR. Igualmente, pelo imóvel superior ter sido construído pela REQUERIDA, e, pelo fato dela ter a posse mansa e pacífica, o REQUERENTE não exerceu em momento algum a posse sobre a unidade autônoma construída, portanto, ELE NÃO PODERÁ PLEITEAR A REINTEGRAÇÃO DE POSSE SOBRE ELE E, NEM TAMPOUCO VIR A ALEGAR PROPRIEDADE SOBRE TAL IMÓVEL, POIS O QUE É DISCUTIDO NO CASO EM TELA É A POSSE, NÃO A PROPRIEDADE OU O JUSTO TÍTULO APRESENTADO NOS AUTOS. Vejamos caso análogo a este: “EMENTA: DIREITO CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE DEDUZIDA EM FACE DE FAMILIAR (ENTEADA DO PRIMEIRO AUTOR). ALEGAÇÃO AUTORAL DE EXISTÊNCIA DE COMODATO VERBAL COM O FIM EXCLUSIVO DE MORADIA DOS RÉUS. PRETENSÃO DE DESFAZIMENTO DO EMPRÉSTIMO, ALÉM DO PAGAMENTO DE ALUGUEIS, DESDE A DATA DA NOTIFICAÇÃO PARA DESOCUPAÇÃO DO IMÓVEL. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS. IRRESIGNAÇÃO DOS AUTORES. 1) AO AUTOR DA AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE INCUMBE COMPROVAR A SUA POSSE PRÉVIA, O ESBULHO PRATICADO PELO RÉU, A DATA DESSE ESBULHO E A PERDA DA POSSE, NOS TERMOS DO ART. 561 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 2) A MATÉRIA CONTROVERTIDA, DEVOLVIDA AO TRIBUNAL PARA CONHECIMENTO, CONSISTE EM VERIFICAR SE A CESSÃO DE POSSE DOS AUTORES AOS RÉUS DECORREU DE COMODATO VERBAL OU DE CESSÃO GRATUITA DEFINITIVA DA POSSE. 3) APÓS DETIDA ANÁLISE DOS AUTOS, VERIFICA-SE QUE OS AUTORES NÃO DEMONSTRARAM OS FATOS CONSTITUTIVOS DO DIREITO. 3.1) OS AUTORES AFIRMAM NA EXORDIAL QUE EM MEADOS DE SETEMBRO DE 2010 CEDERAM AOS RÉUS, DE FORMA VERBAL, A POSSE DO IMÓVEL SITUADO NA ESTRADA MAGARÇA, Nº 32, QUADRA 2, A TÍTULO DE COMODATO, TENDO SOLICITADO A DEVOLUÇÃO EM OUTUBRO DE 2011, ATRAVÉS DA NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE FLS. 12/17, SEM SUCESSO. 3.2) OS RÉUS, POR SUA VEZ, ADUZEM QUE HOUVE A CESSÃO DEFINITIVA E GRATUITA DE PARTE DA LAJE DO REFERIDO IMÓVEL, EM DEZEMBRO DE 2007, UMA VEZ QUE A PRIMEIRA AUTORA É ENTEADA DO PRIMEIRO AUTOR, SENDO CRIADA PELO MESMO DESDE OS OITO MESES DE IDADE. AFIRMAM, AINDA, QUE A SEGUNDA AUTORA NÃO RESIDIA NO IMÓVEL EM LITÍGIO NA ÉPOCA DA CESSÃO, UMA VEZ QUE O 1º AUTOR AINDA ERA CASADO COM A GENITORA DA 1ª RÉ. POR OUTRO LADO, SUSTENTAM OS RÉUS QUE A CONSTRUÇÃO DO IMÓVEL, AO CONTRÁRIO DO AFIRMADO PELOS AUTORES, FOI CUSTEADA PELOS RÉUS, RAZÃO PELA QUAL PLEITEIAM PELO PAGAMENTO DAS BENFEITORIAS REALIZADAS EM CASO DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE DO BEM EM LITÍGIO. 4) O ÔNUS DA PROVA DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO COMPETE À PARTE AUTORA (ARTIGO 373, I, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL), DO QUAL NÃO SE DESINCUMBIU. 4.1) DIREITOS SE ALICERÇAM SOBRE FATOS. O ARTIGO 373, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, ESTABELECE UMA DISTRIBUIÇÃO ESTÁTICA DAS REGRAS INERENTES À PRODUÇÃO DE PROVA. NESSE SENTIDO, O INCISO I, DO CITADO DISPOSITIVO PREVÊ QUE O ÔNUS DA PROVA INCUMBE AO AUTOR QUANTO AO FATO CONSTITUTIVO DE SEU ALEGADO DIREITO. CABE AO RÉU, CONFORME PREVISTO NO INCISO II, DO MESMO ARTIGO, O ÔNUS DA IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA, NÃO SÓ DA EXISTÊNCIA DE FATOS IMPEDITIVOS, MODIFICATIVOS OU EXTINTIVOS DO DIREITO DO AUTOR, COMO, TAMBÉM, DA IMPROPRIEDADE DOS ELEMENTOS PROBATÓRIOS CARREADOS AOS AUTOS PELA PARTE EX ADVERSA. 4.2) ASSIM SENDO, A TESE DE COMODATO VERBAL COM DIREITO DE RETOMADA DO IMÓVEL NÃO RESTOU DEMONSTRADA PELOS AUTORES, TENDO OS RÉUS DEMONSTRADO QUE, ALÉM DE EXERCEREM A POSSE DO IMÓVEL DESDE 2008, CONTRIBUÍRAM PARA A CONSTRUÇÃO DO BEM E EXERCIAM A POSSE COMO LEGÍTIMOS POSSUIDORES ATRAVÉS DA CESSÃO DE DIREITOS CELEBRADA VERBALMENTE COM O 1º AUTOR, QUE TRANSFERIU A POSSE DO IMÓVEL LITÍGIOS EM FAVOR DOS RÉUS, NÃO HAVENDO QUE SE FALAR EM RECONHECIMENTO DO DIREITO À PROTEÇÃO POSSESSÓRIA VINDICADA NA INICIAL. 5) RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. CONCLUSÕES: POR UNANIMIDADE DE VOTOS, NEGOU-SE PROVIMENTO AO RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR.”2 Excelência, pode ser depreendido do Acórdão acima que a posse do imóvel fora exercida pelos réus de forma mansa e pacífica e com ânimo de dono, não havendo comprovação do comodato alegado pelo autor da ação de reintegração de posse. 2 TJ-RJ, APELAÇÃO 0010947-61.2012.8.19.0205, RELATOR(A): DES. WERSON FRANCO PEREIRA RÊGO, PUBLICADO EM: 21/05/2020 Vale destacar Excelência partes importantes que faltaram ao REQUERENTE trazer aos autos: • Não houve a apresentação do contrato de comodato ou provas concretas capazes de demonstrar que houve ao menos comodato verbal realizado pelas partes. • Não juntou prova inequívoca, COM O ENDEREÇO DA REQUERIDA E COM A ASSINATURA DA REQUERIDA de que ela fora notificada extrajudicialmente, o que faz cair por terra a alegação de que a REQUERIDA está em mora por não ter saído de um imóvel que por ele não fora construído. Desta forma Excelência, as fracas alegações do REQUERENTE para tomar o imóvel que não é seu não merecem prosperar. O REQUERENTE busca por meio desta ação enriquecer sem justa causa, como prevê o Art. 884 do CCB. DA USUCAPIÃO URBANA USADA COMO EXECEÇÃO Excelência, no caso em questão a REQUERIDA exerce a posse mansa, pacífica e com ânimo de dona sobre o imóvel autônomo que por ela foi construído. Explanados os fatos, com o devido amparo legal e Jurisprudencial, a REQUERIDA vem por meio desta se utilizar da súmula 237 do STF, a qual prevê que: “O USUCAPIÃO PODE SER ARGUIDO EM DEFESA.” Outrossim, a REQUERIDA invoca o Art. 9° do Estatuto da Cidade (LEI No 10.257/2001) para usar como exceção a “USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL URBANO.” Vejamos o que prevê o artigo supracitado: “ART. 9O AQUELE QUE POSSUIR COMO SUA ÁREA OU EDIFICAÇÃO URBANA DE ATÉ DUZENTOS E CINQÜENTA METROS QUADRADOS, POR CINCO ANOS, ININTERRUPTAMENTE E SEM OPOSIÇÃO, UTILIZANDO-A PARA SUA MORADIA OU DE SUA FAMÍLIA, ADQUIRIR-LHE-Á O DOMÍNIO, DESDE QUE NÃO SEJA PROPRIETÁRIO DE OUTRO IMÓVEL URBANO OU RURAL.” Excelência, no caso em tela a REQUERIDA atende aos requisitos, pois: 1. A REQUERIDA possui como sua área de até 250m2; 2. Exerce desde 2015 (exatos 7 anos) de forma mansa, pacífica, ininterrupta e com ânimo de dona a posse sobre o imóvel autônomo ao imóvel base; 3. Não possui outro imóvel, seja urbano ou rural. Esposado a estes requisitos, caso não venha a haver inépcia da inicial, mas sim, continuação do processo, caso a sentença seja favorável à utilização da usucapião como forma de defesa (“exceptio usucapionem”) em prol da REQUERIDA, poderá haver o registro do imóvel construído pela REQUERIDA no Cartório de Registros de Imóveis, senão, vejamos o que está disposto no Art. 13 do Estatuto da Cidade: “ART. 13. A USUCAPIÃO ESPECIAL DE IMÓVEL URBANO PODERÁ SER INVOCADA COMO MATÉRIA DE DEFESA, VALENDO A SENTENÇA QUE A RECONHECER COMO TÍTULO PARA REGISTRO NO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS.” (Grifos) Sobre o registro após a sentença, vejamos o entendimento Jurisprudencial: “EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE USUCAPIÃO - LITISPENDÊNCIA - "EXCEPTIO USUCAPIONEM" - USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA - OCORRÊNCIA.É POSSÍVEL O RECONHECIMENTO DA LITISPENDÊNCIA ENTRE A AÇÃO DE USUCAPIÃO E A INVOCAÇÃO DA MESMA USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA EM SEDE DE DEFESA EM AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE, UMA VEZ QUE ESSA MODALIDADE ESPECÍFICA DE PRESCRIÇÃO AQUISITIVA ADMITE QUE A SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA, QUE ACOLHE A "EXCEPTIO USUCAPIONEM", SEJA LEVADA A REGISTRO (ART. 13, LEI Nº 10.257/01).”3 “EMENTA: APELAÇÃO - AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE - PROPOSITURA PELOS ADQUIRENTES DO IMÓVEL, POR ESCRITURA PÚBLICA DE VENDA E COMPRA - CONTESTAÇÃO DO POSSUIDOR DO IMÓVEL ALEGANDO USUCAPIÃO COMO MATÉRIA DE DEFESA, REQUERENDO SEU RECONHECIMENTO POR SENTENÇA - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO, COM ACOLHIMENTO DO PLEITO DE USUCAPIÃO - INCONFORMISMO DOS 3 TJ-MG - APELAÇÃO CÍVEL 1.0035.15.008831-4/001, RELATOR(A): DES.(A) FRANKLIN HIGINO CALDEIRA FILHO, JULGAMENTO EM 24/08/2021, PUBLICAÇÃO DA SÚMULA EM 27/08/2021 AUTORES, ALEGANDO QUE ADQUIRIRIAM O IMÓVEL DA COOPERATIVA HABITACIONAL DE ARARAS, POR VENDA DIRETA, MEDIANTE ESCRITURA PÚBLICA DEVIDAMENTE REGISTRADA, SEM QUALQUER VICIO, CARACTERIZADO ASSIM, ATO JURÍDICO PERFEITO, E QUE O USUCAPIÃO DEVERIA TER SIDO TRATADO POR VIA PRÓPRIA E NÃO EM SEDE DE CONTESTAÇÃO E QUE O RÉU SEMPRE SOUBE DE SUA SITUAÇÃO PRECÁRIA, MAS NUNCA TOMOU QUALQUER AÇÃO PARA VER SEU ALEGADO DIREITO RESGUARDADO - DESCABIMENTO - IMPOSSIBILIDADE DE IMISSÃO DOS AUTORES NA POSSE DO IMÓVEL, DIANTE DA COMPROVAÇÃO DE POSSE MANSA E PACÍFICA DO RÉU POR MAIS DE 20 ANOS, TEMPO NECESSÁRIO PARA AQUISIÇÃO DO DOMÍNIO POR USUCAPIÃO - HIPÓTESE DE RECONHECIMENTO DO PLEITO DE USUCAPIÃO, ARGUIDO COMO MATÉRIA DE DEFESA, PARA CONCEDER AO RÉU O DOMÍNIO DO IMÓVEL, NOS TERMOS DO ART. 13, DA LEI 10.257/2001 - RECURSO DESPROVIDO.”4 (Grifos) 4 TJSP; Apelação Cível 1003292-93.2015.8.26.0084; Relator (a): José Aparício Coelho Prado Neto; Órgão Julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional de Vila Mimosa - 2ª Vara; Data do Julgamento: 16/07/2021; Data de Registro: 16/07/2021 Igualmente a pretensão da REQUERIDA encontra amparo na Constituição Federal de 1988, no inciso XXII do artigo 5º, que dispõe: “é garantido o direito de propriedade”. No mesmo diploma legal, especificamente no artigo 5º, inciso XXIII, tem-se disposto que “a propriedade atenderá sua função social”. Acerca do assunto, Maria Helena Diniz dispõe: “A USUCAPIÃO É UM MODO DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE, PELA POSSE PROLONGADA DA COISA COM A OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS LEGAIS. (...) A USUCAPIÃO TEM POR FUNDAMENTO A CONSOLIDAÇÃO DA PROPRIEDADE, DANDO JURIDICIDADE A UMA SITUAÇÃO DE FATO: A POSSE UNIDA AO TEMPO. (...) O FUNDAMENTO DESSE INSTITUTO É GARANTIR A ESTABILIDADE E SEGURANÇA DA PROPRIEDADE, FIXANDO UM PRAZO, ALÉM DO QUAL NÃO SE PODEM MAIS LEVANTAR DÚVIDAS OU CONTESTAÇÕES A RESPEITO E SANAR A AUSÊNCIA DE TÍTULO DO POSSUIDOR, BEM COMO OS VÍCIOS INTRÍNSECOS DO TÍTULO QUE ESSE MESMO POSSUIDOR, POR VENTURA, TIVER. (...)5 5DINIZ, Maria Helena, 2002, p. 144 e 146 É importante frisar mais uma vez que neste período a REQUERIDA construiu e cuidou do imóvel usucapiendo com “animus domini”, sendo que durante todos esses anos ela e o seu companheiro efetuaram os pagamentos das contas de energia, água e telefone, onde tais documentos encontram-se no nome da REQUERIDA. Ainda sobre o tema, é o entendimento predominante: “USUCAPIÃO EXTRAÓRDINARIA – NA USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA, HAVENDO O ANIMUS DOMINI, BASTA COMPROVAÇÃO DE DOIS REQUISITOS: O TEMPO CONTÍNUO E A POSSE MANSA E PACÍFICA, INDEPENDENTEMENTE DE TÍTULO E BOA-FÉ – LOTEAMENTO IRREGULAR – POSSIBILIDADE DE USUCAPIÃO- PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS PARA A PRESCRIÇÃO AQUISITIVA EXTRAORDINÁRIA – RECURSO DESPROVIDO.”6 Desta forma, verifica-se que as pretensões da REQUERIDA se encontram cabalmente preenchidas e dentro dos preceitos legais acima citados, restando demonstrado o seu direito de pleitear a usucapião especial de imóvel urbano e, após o 6 TJ-SP - APL: 00138486120108260048 SP 0013848-61.2010.8.26.0048, Relator: Alcides Leopoldo e Silva Júnior, Data de Julgamento: 06/10/2015, 1ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 06/10/2015 reconhecimento dos requisitos, que seja expedido ofício ao cartório de imóveis e registros para o devido registro do imóvel autônomo construído pela REQUERIDA. DA SUPOSTA NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL Excelência, a REQUERIDA não fora devidamente notificada pelo REQUERENTE e, nem tampouco houve a tentativa amigável por parte do REQUERENTE para que a REQUERIDA desocupasse o imóvel. Portanto, a alegação de que houve notificação extrajudicial não passa de uma falácia para alegar que houve esbulho possessório. Outrossim, tais alegações não prosperam, haja vista que o REQUERENTE: • Nunca teve a posse do imóvel autônomo construído pela REQUERIDA; • Não colacionou documento com a assinatura da REQUERIDA, nem tampouco juntou o documento da notificação com o endereço atual da REQUERIDA, mas sim, de forma unilateral expediu documentação que pouco prova. Portanto, deverá tal notificação ser considerada nula, pois, não fora entregue a REQUERIDA e, nem tampouco, o objeto da lide está certo. DO PAGAMENTO DO IPTU Excelência, a REQUERIDA por várias vezes pedia para que o REQUERENTE dividisse as despesas de IPTU com ela, todavia, este não a deixava pagar, haja vista que, na época, pelo REQUERENTE estar em um relacionamento com a Mãe da REQUERIDA, tal situação poderia trazer contenda dentro de seu lar, o que fez com que o REQUERENTE não repassasse o valor de IPTU a ser compartilhado. Entretanto, a REQUERIDA se dispõe a arcar com as despesas retroativas de IPTU, guardada as devidas proporções da construção de sua casa. DAS DESPESAS QUE SUPOSTAMENTE O REQUERENTE PAGOU À REQUERIDA Excelência, o REQUERENTE alegou que fazia compras de supermercado à REQUERIDA quando ela passava por situação difícil; todavia, isso não é verdade, pois, que a ajudava quando as contas de casa apertavam era o seu Pai, sendo que, o REQUERENTE somente uma vez e de espontânea vontade fez uma pequena compra a ela. Todavia Excelência, se isso afeta o REQUERENTE, a REQUERIDA faz questão de devolver em pecúnia o valor gasto por ele naquela compra. Outrossim, o REQUERENTE nunca pagou contas de água, luz e telefone da REQUERIDA. O REQUERENTE juntou aos autos como prova contas de sua própria casa, não sendo elas da REQUERIDA, portanto, tais alegações de que ele pagou essas despesas não merecem prosperar. DA SUPOSTA OSTENTAÇÃO E AUSÊNCIAS DO LAR Excelência, fora alegado pelo REQUERENTE que a REQUERIDA ostenta em sua rede social e que ela vive viajando, todavia, “data máxima venia”, isso não passa de uma falácia. A REQUERIDA trabalha em sua casa como manicure e sempre está no lar, ausentando-se poucas vezes, todavia, ela também tem o Direito de viajar quando pode, afinal, ninguém tem de ficar preso. A VIDA PESSOAL DA REQUERIDA NÃO ALTERA O FATO DE QUE ELA ADQUIRIU O DIREITO DE USUCAPIR A ÁREA DE LAJE QUE POR ELA FOI CONSTRUÍDA. Portanto, tais alegações e imagens em nada altera os fatos e, não merecem a guarida do Judiciário. DO PEDIDO DE ALUGUERES FEITO PELO REQUERENTE Excelência, fora pedido pelo REQUERENTE e com base na suposta notificação extrajudicial que a REQUERIDA lhe pagasse alugueres sobre o período em que ela ficou no imóvel e após o período que supostamente lhe fora estipulado para sair. Todavia, pelos fatos aqui narrados, a REQUERIDA impugna tal pedido, haja vista que não faz sentido algum ela ter de pagar aluguel por algo que o REQUERENTE não construiu e, nem tampouco, a notificou devidamente. Portanto o pedido de pagamento de alugueres feito pelo REQUERENTE pelo período em que supostamente acabou porconfigurar a mora da REQUERIDA é totalmente infundado e não merece prosperar. DO PEDIDO ALTERNATIVO – DO DIREITO DE RETENÇÃO Excelência, mesmo que com todo o conjunto fático probatório trazido aos autos, se for do Vosso entendimento exarar decisão contrária às pretensões da REQUERIDA, fazendo com que ela não venha a usucapir o imóvel que por ela foi construído, com base nos Arts. 884 e 1.219 do CCB, requer-se que a REQUERIDA seja ressarcida pelo REQUERENTE pelos gastos que ela teve para com a construção do imóvel autônomo ao imóvel base para que não ocorra o enriquecimento sem causa do REQUERENTE, sob pena de a REQUERIDA exercer o seu direito de retenção sobre o imóvel por ela construído enquanto ela não for reembolsada. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO Com base no Art. 334 do CPC, informa a REQUERIDA que não tem interesse na audiência de conciliação. DOS PEDIDOS Por todo o exposto, a REQUERIDA requer que a inicial interposta pelo REQUERENTE seja julgada TOTALMENTE IMPROCEDENTE. Requer ainda a REQUERIDA: a) Seja declarada a inépcia da inicial, haja vista que a ação correta a ter sido interposta pelo REQUERENTE era a de “IMISSÃO NA POSSE” E NÃO A DE “REINTEGRAÇÃO DE POSSE”, pois, ele nunca exerceu a posse sobre o imóvel autônomo construído pela REQUERIDA, mas sim, tem somente justo título do terreno; b) Caso não haja a inépcia da inicial, que seja realizada perícia para descobrir o quanto foi gasto no imóvel construído pela REQUERIDA; c) Caso sejam deferidas as alegações da REQUERIDA nesta contestação e, sendo do entendimento de Vossa Excelência que a REQUERIDA tenha atendido as especificações para a usucapir o imóvel (Art. 9° Lei nº 10.257/01), que seja expedido ofício ao cartório de registros de imóveis, nos moldes do Art. 13 do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/01) para que a Sentença venha a ser usada para registrar o imóvel por ela construído no Cartório de Registros de Imóveis; d) Alternativamente, em caso de deferimento da exordial interposta pelo REQUERENTE, que a REQUERIDA SEJA RESSARCIDA pelos gastos empenhados na construção da casa autônoma construída sobre a laje do REQUERENTE. e) Caso não venha a haver o ressarcimento dos valores apurados pelo perito, que a REQUERIDA VENHA A EXERCER O DIREITO DE RETENÇÃO SOBRE O IMÓVEL AUTÔNOMO POR ELA CONSTRUÍDO. Protesta a REQUERIDA por provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito, inclusive, por meio de provas testemunhais, as quais são: 1) Ana Lívia (vizinha do lado esquerdo); Rg:(xxx) Cpf: (xxx); 2) Amanda Martins (Vizinha da frente); Rg:(xxx) Cpf: (xxx); 3) Edvânio Santos (Vizinho da Esquina); Rg:(xxx) Cpf: (xxx); 4) Guilherme Costa (Vizinho dos fundos); Rg:(xxx) Cpf: (xxx); 5) Nicolas Pacini (Engenheiro); Rg:(xxx) Cpf: (xxx); 6) Gabrielly Lobo (Arquiteta); Rg:(xxx) Cpf: (xxx); Termos em que, Pede deferimento. Marco Polo, 06/12/2022 Dra. Natasha Andrade OAB/Nº Dr. Abner Félix Kassak Vieira OAB/Nº