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Introdução anatômica, função motora da pelve e disfunções do assoalho pélvico Unidade 1 Anatomia neuromuscular, visceral e perineal Sistema neuromuscular Sistema visceral Sistema perineal Anatomia funcional do assoalho pélvico e do sistema anorretal Musculatura do assoalho pélvico e sistema anorretal Abordagem interdisciplinar nas disfunções do assoalho pélvico Disfunções do assoalho pélvico Atuação interdisciplinar Função motora e organização do movimento Mecanismo da execução do movimento Anatomia neuromuscular, visceral e perineal A Anatomia estuda a relação entre os componentes internos e externos que formam os sistemas do corpo humano e suas interações entre esses diferentes sistemas. O sistema nervoso é responsável por realizar o processamento das informações internas e externas ao corpo humano, regular funções específicas e controlar todas as atividades do corpo, seja de forma consciente ou inconsciente. Para que ocorra determinada atividade do corpo humano, é necessária a contração dos músculos esqueléticos, da musculatura lisa dos órgãos internos e a secreção de substâncias químicas, por meio das glândulas exócrinas e endócrinas. Esse conjunto de atividades é conhecido como as funções motoras do sistema nervoso. Segundo a Anatomia, o sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O SNC possui partes da sua estrutura localizadas na parte interna do crânio, que corresponde ao encéfalo, e na coluna vertebral, que corresponde à medula espinhal. O SNP possui suas estruturas localizadas fora do SNC e é composto pelas raízes, nervos, gânglios, plexos e terminações nervosas. Esse sistema ainda é dividido quanto à sua função, ou seja, em somático e visceral (autônomo). Tendo isso em mente, este tópico discutirá as estruturas, funções e interações dos sistemas neuromuscular, visceral e perineal, com enfoque em urologia e gineco-obstetrícia. SISTEMA NEUROMUSCULAR A medula espinhal é o centro nervoso dos atos involuntários e os sinais sensoriais chegam a ela pelos nervos espinhais. O encéfalo controla a maioria das atividades subconscientes, como a resposta sexual, que acontece na região do córtex cerebral. A região do córtex é responsável por realizar a integração da informação sensorial e pela tomada de decisão para várias respostas motoras. O SNP funciona como a interface entre o ambiente e o SNC, por meio das fibras nervosas, que são formadas pelos neurônios. Os neurônios sensoriais ou aferentes são responsáveis por captar o estímulo externo ao corpo e levá-lo até o encéfalo e a medula espinhal (SNC). Os neurônios motores ou eferentes, por sua vez, são responsáveis pela transmissão do impulso a partir do encéfalo e da medula espinhal (SNC) até as fibras musculares e as glândulas. Os neurônios mistos são compostos pelo axônio de neurônios sensoriais e por neurônios motores (BERNE; LEVY, 2004). O sistema muscular é composto pelos músculos, que são formados por milhares de fibras musculares de comprimento variável. Essas fibras podem ser controladas de forma indireta ou direta pelo sistema nervoso e pelas sinapses entre os neurônios e as fibras musculares, que poderão resultar no relaxamento ou na contração e ocasionar o movimento do músculo. A sinapse entre a parte terminal do axônio e a fibra muscular é responsável por promover a junção neuromuscular. A partir dela, os estímulos advindos dos neurônios motores do SNC chegam até essa junção e estimulam a liberação da acetilcolina, provocando diversas reações que irão resultar na contração do músculo estriado esquelético (ZANELA, 2015). SISTEMA VISCERAL O sistema nervoso visceral, também conhecido como autônomo, é um dos componentes do SNP responsáveis pela regulação dos processos fisiológicos involuntários, ou seja, aqueles que não demandam esforço consciente do indivíduo para serem executados, como a micção, a defecação e a resposta sexual. Esse sistema é dividido em simpático e parassimpático, sendo que ambos contêm fibras aferentes e eferentes, responsáveis pela entrada sensorial e saída motora. Esse sistema possui dois neurônios motores: o neurônio pré-ganglionar e o pós-ganglionar. O corpo celular do pré-ganglionar está localizado no encéfalo ou na medula espinhal (SNC) e seu axônio sai em direção aos nervos cranianos, ou na direção dos nervos espinhais, para fazer sinapse com o segundo neurônio motor, o pós-ganglionar, cujo axônio leva o estímulo até o tecido-alvo, que pode ser um músculo liso ou cardíaco. Grande parte dos órgãos do corpo humano recebe inervações do simpático e do parassimpático. As vias simpáticas têm sua origem na região torácica e lombar da medula espinhal. A maioria tem origem no tronco encefálico, enquanto a outra parte se origina no sacro, para controle dos órgãos pélvicos. Tanto os neurônios pré-ganglionares do simpático como do parassimpático liberam a acetilcolina nos receptores pós-ganglionares. Nos receptores adrenérgicos dos órgãos, os neurônios pós- ganglionares simpáticos secretam a noradrenalina. Nos receptores colinérgicos muscarínicos dos órgãos, os neurônios pós- ganglionares do parassimpático secretam a acetilcolina (ZAMELA, 2015). As atividades do corpo humano relacionadas ao simpático estão relacionadas à resposta de fuga ou luta, como é o caso do aumento do débito cardíaco, da dilatação das pupilas, do aumento da pressão arterial, dentre outros. Quanto ao parassimpático, as respostas do corpo humano estão relacionadas à diminuição do débito cardíaco, além de salivação, micção, defecação, digestão, dentre outros. Ambos os sistemas, neuromuscular e visceral, são de extrema importância para a funcionalidade dos músculos do assoalho pélvico. Esses músculos estão localizados na região perineal, oferecendo suporte para órgãos pélvicos e contribuindo para o funcionamento adequado do sistema urinário, fecal e sexual. SISTEMA PERINEAL O períneo fica localizado na parte inferior do tronco, entre as coxas e as nádegas. A região perineal forma um losango e suas bordas anatômicas na região anterior são formadas pela sínfise púbica; na região posterior, pela ponta do osso cóccix; nas laterais, pelos ramos púbicos inferiores, ramos isquiáticos inferiores e ligamento sacrotuberal. A parte superior (telhado) é formada pelo assoalho pélvico, enquanto a parte inferior (base) é formada por pele e fáscias. A região anterior do períneo (trígono urogenital) é formada pelas estruturas urinária e genital. Na parte posterior (trígono anal), por sua vez, está localizado o canal do ânus. Na região perineal estão localizadas estruturas para suporte dos sistemas urogenital e gastroinstestinal, tendo importante contribuição para a execução das funções da micção, defecação, relações sexuais e do parto. O trígono urogenital é delimitado pela sínfise púbica, pelos ramos isquiopúbicos e por uma linha imaginária entre as tuberosidades isquiáticas. Esse trígono possui uma fáscia profunda e resistente, a membrana perineal, que contém uma região mais profunda, correspondente à bolsa perineal profunda, localizada entre a fáscia profunda do assoalho pélvico e a membrana perineal. Além disso, a região é composta por parte da uretra e esfíncter uretral externo. Em mulheres há também a vagina; nos homens, as glândulas bulbouretrais e os músculos perineais transverso profundos. A bolsa perineal superficial corresponde à região mais superior da membrana e está localizada entre a membrana perineal superior e a fáscia perineal superficial. Essa região contém o clitóris, tecidos responsáveis pela ereção do pênis, as glândulas de Bartholin e os músculos isquiocavernoso, bulboesponjoso e transversos superficiaisdo períneo. (As glândulas de Bartholin são estruturas pequenas e arredondadas localizadas bilateralmente na vulva, tendo como função realizar a secreção do muco responsável pela lubrificação durante a relação sexual. Os ductos dessas glândulas podem sofrer obstrução, formando uma massa equivalente a cistos e abscessos. Para aprofundar no conhecimento, leia o artigo “Cistos das glândulas de Bartholin”, escrito por Kilpatrick) Ainda sobre a região do trígono urogenital, é importante mencionar a fáscia perineal, que é uma continuação da fáscia abdominal com uma parte mais profunda responsável por cobrir os músculos perineais mais superficiais e as estruturas mais proeminentes, como pênis e clitóris. A fáscia superficial é formada pelas fáscias de Camper e de Colles e, por fim, pela pele, onde os orifícios da uretra e vagina se abrem. O trígono anal é delimitado pelo cóccix, pelos ligamentos sacrotuberal e por uma linha imaginária entre as tuberosidades isquiáticas. Nessa região também ocorre a abertura e o fechamento do ânus pelo músculo esfíncter anal externo, e a fossa isquional, que corresponde aos espaços nas laterais do ânus. Por fim, essa região também conta com o nervo pudendo, que inerva todo o períneo. A estrutura que une o trígono urogenital ao trígono anal é o corpo perineal, que corresponde à união dos músculos e septos. Além disso, nessa mesma região, é possível encontrar as musculaturas esquelética e lisa, bem como as fibras colágenas e elásticas. O corpo perineal tem papel primordial no equilíbrio das forças biomecânicas, pois integra as funções de excreção urogenital e anorretal, absorvendo todos os movimentos dos órgãos. Sua integridade contribui para a continência, pois ele está diretamente associado à função respiratória do diafragma, à função postural do tronco e à função locomotora dos membros inferiores. Nas mulheres, durante a gravidez, hormônios influenciam no alongamento do corpo perineal e nos tecidos moles da pelve, contribuindo para o parto (HODGES; PENGEL; SAPSFORD, 2007; BORDONI; SICCARDI, 2020). Anatomia funcional do assoalho pélvico e do sistema anorretal Anatomia funcional é de extrema importância para a Uroginecologia, pois diz respeito às interações entre os músculos, fáscias, ligamentos e nervos com o objetivo de promover continência, esvaziamento e suporte dos órgãos pélvicos. A pelve é formada pelos ossos do quadril (ílio, ísquio e púbis), juntamente com os ossos do sacro e cóccix. Toda essa estrutura óssea forma um anel que tem como principal função proteger os órgãos da cavidade pélvica, além de fixar os músculos do períneo e dos membros inferiores e auxiliar ativamente na transferência de peso do corpo para os membros inferiores. Ela também possui duas bases: uma maior, na qual estão localizados os órgãos abdominais, e outra menor, na qual estão localizados os órgãos urogenitais e a porção terminal do tubo digestório. A pelve feminina apresenta diferença quando comparada à masculina. Ela é mais afunilada, com forames obturatórios em formato mais triangular e seu diâmetro circular é mais evidente. Além disso, ela possui abertura superior mais alargada, o que acaba predispondo a um possível enfraquecimento muscular. O posicionamento e a suspensão dos órgãos da pelve são mantidos pelos ligamentos, que também auxiliam na limitação de movimentos inapropriados. Os ligamentos da pelve são: iliolombar, sacrotuberal, sacroespinhal, sacroilíacos e sacrococcígeo. Eles auxiliam na sustentação, mas o principal componente responsável por essa sustentação é a musculatura. MUSCULATURA DO ASSOALHO PÉLVICO E SISTEMA ANORRETAL A musculatura do assoalho pélvico, juntamente com as fáscias, é responsável por prover sustentação para as vísceras que se localizam na pelve. Essa musculatura se divide em diafragma pélvico, que está diretamente relacionado à manutenção estática das vísceras e da continência, e em diafragma urogenital, diretamente relacionado à sexualidade, além de também contribuir para a continência. O diafragma pélvico é formado pelo músculo elevador do ânus e pelo músculo isquiococcígeo ou coccígeo. O músculo levantador do ânus possui três porções: pubococcígeo, puborretal e a iliococcígeo. O diafragma urogenital é formado pelo músculo transverso profundo do períneo, pelas fáscias e fica situado logo abaixo do diafragma pélvico. O períneo feminino possui formato de losango. Seus trígonos são formados pela linha imaginária entre as tuberosidades isquiáticas. A área anterior corresponde à parte urogenital e a posterior corresponde à parte anal, composta pelo músculo do esfíncter anal. A parte muscular corresponde ao trígono urogenital e é formada por músculos superficiais e profundos. DeLancey (1992) diferenciou a sustentação das paredes da vagina e do útero em três níveis: Nível I: sustentação do útero e porção superior da vagina, posicionamento dos órgãos sobre os músculos elevadores do ânus e formação por fibras do uterossacrocardinal; Nível II: sustentação da porção média da vagina por meio da fáscia pubocervical, do arco tendíneo da fáscia pélvica, na região anterior. Na região posterior, ocorre a sustentação retovaginal nas fáscias do músculo iliococcígeo. Nível III: união entre a vagina e o músculo levantador do ânus na parte lateral, com o corpo perineal na região posterior e com a uretra na parte anterior. Lesões e prolapsos, por sua vez, podem ocorrer em níveis específicos, tais como: A região anorretal fica localizada no compartimento posterior da pelve. O trajeto do reto se inicia aproximadamente na terceira vertebra sacral e segue até o osso do sacro, atravessando o músculo elevador do ânus e dando continuidade ao canal anal. Esse canal é composto pelo músculo esfíncter interno e o esfíncter externo do ânus, sendo que ambos ficam sobrepostos. O músculo esfíncter externo do ânus é a extensão da musculatura levantadora do ânus. É um músculo estriado esquelético que circunda o canal anal e possui ação voluntária, contribuindo para a continência fecal. Sua inervação é realizada pelo nervo pudendo. O músculo esfíncter interno do ânus é formado por musculatura lisa, a partir da continuação da musculatura interna ou circular do reto. Sua inervação ocorre pelas fibras advindas do sistema parassimpático dos nervos esplâncnicos pélvicos. Ele tem como objetivo fazer com que não ocorra a perda involuntária de fezes e gases. Além disso, fibras musculares do canal anal adentram como septos no esfíncter interno, se prendendo à pele do ânus e ocasionando a formação do músculo corrugador. Por fim, o sulco interesfinctérico, localizado no interior do canal anal, corresponde ao limite inferior do esfíncter interno do ânus. Abordagem interdisciplinar nas disfunções do assoalho pélvico O assoalho pélvico é a região que inclui todas as estruturas da pelve, localizadas na parte inferior do abdômen. Nessa região, há órgãos dos sistemas reprodutor, urinário e digestivo. A sustentação para o funcionamento adequado desses órgãos é realizada pelos músculos, tendões, ligamentos e fáscias, que estão inseridas nas estruturas ósseas da pelve. Além disso, o assoalho pélvico oferece resistência ao aumento da pressão intra-abdominal, da ação esfincteriana e da manutenção da pressão vaginal. Alguns fatores, no entanto, podem prejudicar a estrutura pélvica, levando a disfunções do assoalho pélvico. Esses fatores incluem condições como obesidade, traumatismo, genética, idade, múltiplos partos vaginais, cirurgias, dentre outros (PALMA, et al. 2014). DISFUNÇÕES DO ASSOALHO PÉLVICO A disfunção do assoalho pélvico (DAP) não tem a sua etiologia totalmente compreendida. Não há algum fator desencadeanteou evento identificado que cause a DAP; contudo, há fatores relacionados à funcionalidade da musculatura do assoalho pélvico que podem contribuir para a DAP, conforme demonstram Grimes e Stratton em “Pelvic Floor Dysfunction”, publicado em 2020. Como exemplo podemos mencionar a incapacidade do controle devido ao aumento da atividade muscular, a hipertonia, ou com a diminuição da atividade muscular, a hipotonia, além das condições mistas. Essas disfunções na parte anterior da pelve acometem, principalmente, os órgãos pélvicos, gerando prolapsos e incontinência urinária (IU), que irão interferir diretamente na função urinária e sexual. Na parte posterior da pelve, essas disfunções irão comprometer a função colorretal, ocasionando a incontinência fecal (IF). Os órgãos pélvicos incluem o útero, vagina, próstata, bexiga e reto. Os prolapsos relacionados a esses órgãos estão associados a fatores mecânicos de alargamento do hiato levantador do ânus e à frouxidão do assoalho pélvico. Os mais comumente encontrados são: cistocele, que é o prolapso da bexiga para a vagina; o prolapso uterino, que é uma herniação do útero para a vagina; e a retocele, que é a herniação do reto para a vagina. Todos podem ser causados por obesidade, gravidez, menopausa, partos cesáreos ou vaginais, anormalidades de colágeno genéticas ou adquiridas e aumento da pressão abdominal exagerado ao defecar (BOYADZHYAN; RAMAN; RAZ, 2008). Os prolapsos são classificados segundo o grau de descida da estrutura, sendo grau I quando ocorre a descida da estrutura da sua posição anatômica normal à altura das espinhas isquiáticas; grau II quando há descida entre as espinhas isquiáticas e o hímen; e grau III quando o prolapso do órgão é total, para fora da vulva (ESPUNA; LACIMA, 2008). Dentre as disfunções, a incontinência urinária (IU) é o sintoma mais comumente encontrado na população, principalmente em mulheres. Aproximadamente uma em cada quatro mulheres tem risco de desenvolver DAP. Um estudo realizado com 4002 mulheres turcas identificou que mais de 50% das entrevistadas apresentaram IU, além de demonstrar que a idade avançada e quantidade de partos estão diretamente relacionadas com a ocorrência de DAP (GOOD; SOLOMON, 2019). A IU é quando há qualquer perda involuntária de urina, exceto em crianças, que gera desconforto social ou higiênico. Estão divididas em IU de esforço, IU de urgência e IU mista. A IU de esforço é comumente encontrada nas mulheres durante a perda urinária devido ao esforço de tossir, espirrar e fazer exercícios físicos; a IU de urgência está relacionada à frequência e à noctúria e ocorre quando há uma vontade forte e repentina de urinar, podendo ocasionar vazamentos; a IU mista é quando o indivíduo apresenta tanto a IU de esforço quanto a IU de urgência. Algumas mulheres, independentemente da faixa etária, sofrem com DAP, seja com IU, IF (incontinência fecal) ou prolapso de órgão pélvico. Em idades mais avançadas, as DAP se tornam mais comuns, afetando 40% de mulheres na faixa etária de 65 e 70 anos e por volta dos 50% entre aquelas com mais de 80 anos (NYGAARD, et al. 2008). Os homens também sofrem com esse problema, mas em número bem menor. Essas disfunções influenciam negativamente a qualidade de vida da população, contribuindo para limitações físicas, sociais, ocupacionais e sexuais. A incontinência fecal (IF) acomete tanto homens como mulheres, sendo mais comum em mulheres. Se caracteriza pela incapacidade de manter o controle sobre as fezes e gases devido a um problema na musculatura do esfíncter anal. É classificada como IF passiva quando há disfunção do esfíncter anal interno; IF de urgência quando a disfunção acomete o esfíncter anal externo; e IF mista quando há disfunção de ambos os esfíncteres, interno e externo. Grande parte dos casos de IF são advindos de lesões no esfíncter anal, além de fatores como neuropatia, trauma obstétrico, problema congenital, fraqueza muscular, alteração da consistência das fezes, retenção anormal das fezes e condições idiopáticas. É de suma importância que intervenções eficazes e com olhar integral pelo indivíduo sejam adotadas. Uma abordagem interdisciplinar pode contribuir para esse atendimento integral, adotando medidas de promoção e prevenção da saúde para indivíduos não acometidos pela DAP. Para aqueles que já possuem DAP, é necessário realizar tratamento e reabilitação que possam contribuir para sua qualidade de vida. ATUAÇÃO INTERDISCIPLINAR Indivíduos que possuem DAP necessitam de uma abordagem interdisciplinar, de forma a oferecer um cuidado em saúde completo. Abordagens tradicionais – aquelas nas quais há somente uma especialidade, geralmente centrada no médico, e que utiliza apenas diagnóstico e tratamento, ignorando a sintomatologia coexistentes – necessitam ser revistas, pois esse indivíduos necessitam de atendimento integral e isso só é possível com os diversos saberes de prática de cuidado. O tratamento apropriado deve estar baseado nos conhecimento interdisciplinares, de forma a contribuir para uma melhor tomada de decisão, visando o aspecto físico, mental e social, com treinamentos comportamentais; adoção de um estilo de vida saudável; abandono de hábitos prejudiciais e nocivos para a saúde; orientações para prática de exercícios de fortalecimento do assoalho pélvico; uso de medicamentos quando houver necessidade; apoio psicológico e social; cirurgias e reabilitação pós-operatória nos casos em que houver necessidade. É de extrema importância que o indivíduo em tratamento receba atendimento gradual e personalizado por parte da equipe de profissionais. Essa equipe interdisciplinar pode ser formada por médico, fisioterapeuta, enfermeiro, nutricionista, assistente social, psicólogo e profissional de educação física. Antes da tomada de decisão sobre as condutas a serem adotadas, é importante que se realize a discussão do caso do indivíduo a ser tratado, e que seja proposto o melhor tratamento de acordo com suas necessidades. Após a tomada de decisão sobre o tratamento mais adequado, seja cirúrgico ou conservador, a equipe interdisciplinar deverá criar intervenções com a incorporação de exercícios para o fortalecimento do assoalho pélvico e orientações sobre continência, adequação da dieta, terapias comportamentais para reeducação da bexiga e intestino, medicação adequada, abordagem de saúde mental e social, tudo de acordo com a necessidade do indivíduo (DAVIS; KUMAR; STANTON, 2003). A discussão sobre sua evolução durante o tratamento é de extrema importância, tanto para a equipe quanto para o indivíduo. O trabalho interdisciplinar nas DAP também deve estar apoiado em ações de promoção e prevenção. Isso pode acontecer por meio de ações de educação em saúde em Unidades Básicas de Saúde, com grupos de gestantes, fumantes, diabetes, idosos, nas salas de espera, grupos de ginásticas, e também em empresas, locais públicos e escolas. Essas ações podem levar conhecimento para a população, incentivando a busca por alternativas de cuidado, disseminando conhecimento e estimulando a procura por ajuda no caso de sentir algum dos sintomas. Uma abordagem interdisciplinar com excelência precisa ser colocada em prática, de forma a proporcionar ao indivíduo um tratamento que seja: Individualizado e que se paute pelos conhecimentos dos profissionais e suas respectivas habilidades; Mais esclarecedor em relação aos problemas, doenças e tratamento dos indivíduos com DAP; Incentivador do enfrentamento da disfunção; Continuado; Referência e contra-referência entre profissionais da atenção básica, Secundária e terciária de saúde; Estabelecedor de uma boa relação entre os profissionais envolvidos no tratamento; Otimizadorde recursos financeiros; Função motora e organização do movimento Para que ocorra o funcionamento dos vários músculos do corpo humano, é necessário que complexas interações aconteçam no sistema nervoso central. Por exemplo: o controle da micção pode ser realizado de forma tanto consciente como inconsciente. Para isso, necessita que a musculatura execute seus mecanismos complexos de controle pelo bulbo, ponte, mesencéfalo e córtex cerebral (COLOMBARI; JUC; SATO, 2011; HIDAI; KOMIYAMA; KUBOTA, 1998). No sistema nervoso, chegam informações de diferentes órgãos e músculos; da mesma maneira, informações saem desse sistema em direção à determinada região por meio dos sinais dos neurônios. O músculo esquelético contém uma unidade motora formada por uma célula nervosa, o motoneurônio, e também por fibras musculares, das quais ele irá inervar. A função dessa unidade motora é transformar o sinal vindo do neurônio em resultado mecânico para o músculo durante sua contração (FOX, 2000). ilustra.png Essa contração irá contribuir para a execução de determinado movimento. Esses movimentos podem ser divididos em: reflexos, de organização e complexidade mais simples, e os movimentos voluntários, que possuem organização e complexidade maior. Para execução dos movimentos voluntários, é necessária uma ação organizada, que ocorre com a contribuição de diversas áreas do córtex cerebral. MECANISMO DA EXECUÇÃO DO MOVIMENTO Para execução do movimento, há uma organização do plano motor devido à elaboração de uma estratégia motora e tática. Quando alguém se levanta do sofá, por exemplo, para ir ao banheiro, há um planejamento para levantar, andar até o banheiro, chegar ao banheiro e realizar suas necessidades fisiológicas. Esse é o aspecto estratégico realizado pelas áreas corticais, em que se emite uma informação que deverá ser o comportamento motor (BALDO, 2001). A partir dessa sequência, o córtex motor e o cerebelo se tornam responsáveis por definir, recrutar e ativar o conjunto muscular para a realização do plano motor, etapa que corresponde à estratégia tática. Por fim, o tronco cerebral e a medula espinhal são responsáveis por converter esse plano motor em uma continuidade para realização da contração e do relaxamento muscular, que será necessário para a realização dessa execução motora de levantar do sofá e ir até o banheiro. As únicas estruturas responsáveis pela execução do movimento são a medula espinhal e o tronco cerebral. O tronco cerebral fica a cargo da execução dos movimentos dos nervos cranianos. Ele também intermedia projeções descendentes das estruturas superiores até a medula espinhal e participa da manutenção postural. A medula espinhal inerva grande parte da musculatura estriada esquelética. Os neurônios presentes nessa estrutura são os motoneurônios alfa, que são responsáveis por qualquer movimento executado, seja pelo tronco ou membros (BALDO, 2001). Outro sistema que contribui para função motora é a sensibilidade proprioceptiva. Ela é responsável por levar informações sobre os movimentos ao sistema nervoso em cada etapa da sua execução para, assim, ocorrer a adequação, seja nas posições, velocidades, acelerações ou na força, do plano motor responsável pela execução de determinado movimento. Toda essa organização do movimento voluntário segue uma hierarquia do sistema nervoso central, na qual o córtex pré-motor é o local em que é feita a programação motora que, em associação com os sinais do cerebelo e gânglio basal, é enviada ao córtex motor primário para que, assim, ocorra interação entre interneurônios e motoneurônios do tronco cerebral e da medula espinhal. SINTETIZANDO Nesta unidade, observamos que os componentes anatômicos da pelve, assim como a contribuição do sistema nervoso para que ocorra o funcionamento adequado da região pélvica feminina e masculina, são de extrema importância para que o profissional de saúde trace condutas que possam ser eficazes, tanto em nível de prevenção como de promoção e reabilitação da saúde em urologia e gineco-obstetrícia. Assim, foram apresentadas as estruturas ósseas, ligamentares e musculares dos principais músculos do assoalho pélvico, bem como a origem, inserção e a sua ação. De maneira geral, aprendemos sobre a função do assoalho pélvico, com ênfase no assoalho pélvico feminino, devido às disfunções que acometem esse público. Também aprendemos sobre os níveis de sustentação da musculatura do períneo e possíveis lesões em decorrência de defeito em algum destes níveis. Verificamos que as disfunções do assoalho pélvico acometem grandes proporções de mulheres, principalmente entre as de idade avançada, as que tiveram múltiplos partos, as obesas e com predisposição genética. Os tipos de disfunções e prolapsos dos órgãos pélvicos foram apresentados, bem como a importância de uma abordagem interdisciplinar, contando com diversos profissionais da área da saúde, no intuito de contribuir para melhor qualidade de vida do indivíduo que sofre com alguma disfunção. Para finalizar, abordamos como o movimento muscular é formado e quais estruturas neurais atuam para que o músculo consiga executar sua função com excelência. Desse modo, conseguimos entender a importância da função motora e da anatomia funcional para todo o corpo humano e, consequentemente, para a saúde uroginecológica.
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