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TRAUMA DE TÓRAX NOÇÕES DE ANATOMIA DO TÓRAX O tórax possui estruturas nobres que devem ser protegidas, como o coração e os pulmões. Essas estruturas ficam revestidas pelos arcos costais, músculos e ligamentos. Temos 12 pares de arcos costais, que são ligados à coluna vertebral, e 10 deles se encontram-se fixados no externo, enquanto os 2 últimos são flutuantes. Entre as costelas possuímos os músculos intercostais internos e externos, que participam do processo respiratório normal com o diafragma. Possuímos outros músculos que podem ajudar no processo respiratório forçado, que são os músculos peitoral maior, menor e outros. O diafragma é um músculo grande que recobre a base do tórax, separando-o do abdome. A caixa torácica é revestida internamente pela pleura parietal, o pulmão, externamente, também é revestido pela pleura, mas nesse caso, recebe o nome de pleura visceral. Essas pleuras parietal e visceral são uma fina membrana que impede o atrito entre o pulmão e a caixa torácica durante a ventilação. Dentro desse espaço pleural encontra-se uma pequena quantidade líquida que mantém as duas pleuras unidas e evita o colabamento do pulmão. Os pulmões ocupam o lado direito e esquerdo do tórax, no meio deles nós temos um espaço chamado de mediastino, onde fica o nosso coração, traqueia, brônquios e os principais vasos sanguíneos do nosso corpo (veia cava e artéria aorta). NOÇÕES DE FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Dentro do tórax ocorre dois processos fisiológicos vitais: a respiração e a circulação. Esses dois processos garantem a vida, quando funcionam de forma adequada e em conjunto. O objetivo desses processos é levar oxigênio (O2) para os nossos tecidos, pois por meio desse gás, as células do nosso corpo exercem a geração de energia e seu metabolismo normal. Sem oxigênio as células morrem. Dessa forma, nosso corpo precisa a todo custo de O2 para se manter vivo. Para que o oxigênio seja aceito pelas células, é necessário ter uma troca gasosa para retirar o gás carbônico (CO2). A respiração é feita justamente com esse objetivo de levar o ar cheio de O2 para os nossos pulmões, transportado para as células do nosso sangue (hemácias). Esse processo de troca gasosa nos alvéolos é chamado de hematose. As hemácias, por meio da sua substância hemoglobina, carregam esse oxigênio para viajar por todo nosso corpo, alimentando nossas células. Observe que precisamos do coração para fazer o sangue viajar pelo corpo, pois ele é a bomba ejetora que mantém o sangue circulando A ventilação é a entrada e saída de ar do nosso pulmão. Ao entrar nas vias aéreas, o ar percorre uma trajetória, passando por vários órgãos do sistema res piratório até chegar aos alvéolos. Observe essa sequência: nariz, faringe, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e alvéolos. Esquematizando: É nos alvéolos (estrutura funcional do pulmão) que vai ocorrer essa troca de gases A relação dos capilares do sistema circulatório com a fina membrana dos alvéolos permite que ocorra a troca gasosa. A entrada de ar nos pulmões, rico em O2, é chamada de inspiração; e a saída do ar, rico em CO2, é chamada de expiração. Esses processos mecânicos são realizados com a contração dos músculos intercostais e diafragma. A depender da quantidade de O2 dentro do nosso sangue, detectado por quimiorreceptores, o sistema nervoso vai controlando a frequência respiratória (quantas vezes respiramos por minuto). Por exemplo, se faltar O2, respiramos mais rápido por estímulo do bulbo (que está lá no sistema nervoso). Vamos resumir o controle da respiração! O controle da respiração ocorre pelo controle do Centro Respiratório (sistema nervoso controla nível de CO2) e pelos quimiorreceptores (as artérias aorta e carótidas controlam o nível de O2). Esses dois mecanismos exercem o controle da respiração, aumentando ou diminuindo a frequência e amplitude respiratória. NOÇÕES DE ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA CIRCULATÓRIO O Sistema Cardiovascular é formado pelo coração, sangue e vasos capilares. Ele é responsável por levar o oxigênio e os nutrientes para o corpo. O coração é composto por 4 câmaras: átrio direito e esquerdo, ventrículo direito e esquerdo. Além dessas estruturas, temos as veias e as artérias. AZUL o lado direito, ele vai conduzir sangue venoso (pobre em oxigênio), e o lado esquerdo, de VERMELHO, porque nele circula sangue arterial (rico em oxigênio) Precisamos ficar atentos a uma exceção IMPORTANTE! As artérias normalmente carregam sangue rico em oxigênio, e as veias carregam sangue pobre em oxigênio. Porém, existe exceção, a artéria pulmonar vai conduzir sangue venoso e as veias pulmonares vão conduzir sangue rico em oxigênio. Ciclo Cardíaco O coração e os grandes vasos estão localizados no tórax, e por isso, a lesão de tórax é tão grave. Dentre esses grandes vasos, podemos citar a veia cava e as artérias pulmonares e aórtica. A veia cava traz o sangue do corpo, pobre em oxigênio, para o átrio direito do coração e de lá o sangue segue para o pulmão (para ser oxigenado), por meio da artéria pulmonar. Depois, o sangue vai do pulmão para o átrio esquerdo, pelas veias pulmonares (rico em oxigênio), do átrio esquerdo vai para o ventrículo esquerdo, e por fim, a artéria aorta leva sangue para irrigar o corpo e oxigenar os tecidos Um ciclo cardíaco único inclui todos os eventos associados a um batimento cardíaco. No ciclo cardíaco, os dois átrios se contraem, enquanto os dois ventrículos relaxam e vice-versa. Obs.: O termo sístole designa a fase de contração ventricular. A fase de relaxamento é designada como diástole. A verificação da pressão arterial é exatamente a identificação da pressão que ocorre nessas etapas do ciclo cardíaco. O aparelho cardiovascular é um sistema fechado, por meio do qual o sangue circula de maneira praticamente constante, graças à ação impulsionadora do coração. De qualquer forma, o coração atua a um ritmo básico de 60 a 100 impulsos por minuto. Em cada batimento, o ventrículo esquerdo envia para a artéria aorta uma determinada quantidade de sangue que, por meio de múltiplas ramificações arteriais, chega até todos os tecidos do organismo. Pressão Arterial Sistólica e Diastólica A pressão arterial é a força que o sangue bombeado pelo coração exerce contra as paredes arteriais, força essa, necessária para que o sangue avance pelos vasos. O coração trabalha em dois tempos: 1. contração para expulsar o sangue. A força é máxima, e esse processo é chamado de sístole; 2. relaxamento do coração entre as contrações cardíacas. A força é mínima, e esse processo é chamado de diástole. A pressão arterial é resultado de um produto: PA = Débito Cardíaco X Resistência Vascular Periférica. O Débito Cardíaco é o volume de sangue sendo bombeado pelo coração em um minuto. A Resistência Vascular Periférica é a oposição dos vasos sanguíneos, que podem estar mais ou menos contraídos ou dilatados. Quando utilizamos o termo vasodilatação, os vasos estão com a maior luz dentro deles e a resistência periférica estará menor. Quando a luz do vaso está menor, chamamos de vasoconstrição, nesse caso, a resistência dos vasos é maior. É importante você saber que a pressão arterial não é uniforme, pois ao longo do ciclo cardíaco sofre certas oscilações. Para se referir aos seus valores, vamos classificar dois parâmetros: • • Pressão arterial máxima ou sistólica: corresponde ao momento em que o ventrículo esquerdo bombeia o seu conteúdo para a aorta (sístole): a grande artéria acolhe subitamente uma considerável quantidade de sangue, o que faz com que a pressão no seu interior atinja o valor máximo, que em condições de repouso é de cerca de 120 a 140 mmhg; • Pressão arterialmínima ou diastólica: corresponde ao momento em que o ventrículo esquerdo está enchendo de sangue (diástole): a elasticidade das paredes da aorta faz com que a artéria impulsione o sangue para os vasos periféricos e, assim, a pressão no seu interior atinge o valor mínimo de aproximadamente 80 mmHg Os vasos sanguíneos são tubos que formam a complexa rede do sistema cardiovascular, constituída por artérias e veias que se ramificam em calibres cada vez menores, originando as arteríolas, vênulas e capilares • Artérias: vasos sanguíneos que saem do coração levando sangue para o corpo. Nesse vaso, o sangue flui a alta pressão e não possui válvulas no seu interior. • Veias: vasos sanguíneos que chegam ao coração trazendo sangue do corpo. Nesse vaso, o sangue flui a baixa pressão e precisa ser direcionado por válvulas internas TRAUMA TORÁCICO A lesão que atinge a região torácica, por ser uma área na qual estão localizados órgãos vitais (coração e pulmão); é uma lesão, geralmente, de natureza grave. As causas de trauma de tórax mais frequentes estão associadas aos acidentes automobilísticos, quedas e agressões por meio de armas de fogo ou armas brancas. O traumatismo de tórax poderá ser aberto (penetrante) ou fechado (contuso). Para o corpo funcionar adequadamente, precisa que o sistema respiratório e circulatório esteja em perfeita harmonia. Conforme vimos acima, o trauma de tórax perturba esses mecanismos fisiológicos de duas formas: trauma contuso (sem lesão aparente externamente) e o trauma penetrante (com lesão aparente, como exemplo temos a perfuração do tórax com arma branca ou arma de fogo). Uma lesão torácica grave pode produzir distúrbios fisiológicos que põem em risco a vida. O socorrista deve relacionar a presença de choque com os achados do exame físico para intervir apropriadamente e tratar o paciente. Fraturas das últimas costelas ou indícios de traumatismo na base do tórax devem levantar a suspeita de existência de lesões intra- abdominais, particularmente a nível do baço e fígado. TRAUMA PENETRANTE DE TÓRAX O trauma penetrante do tórax comunica o meio interno do espaço pleural com o meio externo. Como resultado, ocorrerá a entrada de ar nesse espaço, e formará uma pressão nesse compartimento, e a isso chamaremos de pneumotórax (ar na cavidade pleural). Esse processo leva a um colapso do pulmão no lado afetado. Se ao invés de ar, esse espaço for preenchido por sangue, teremos um hemotórax. O pneumotórax aberto causado por lesões penetrantes e o pneumotórax fechado, que é causado por trauma contuso. Nos dois casos haverá entrada de ar no espaço pleural. No aberto, o ar virá do meio externo, e no fechado, por lesão interna dos alvéolos pulmonares. Se a quantidade de ar for muito grande, pode causar uma pressão intensa dentro desse compartimento e gerar um pneumotórax hipertensivo. Quando o pneumotórax hipertensivo é gerado, ocorre uma compressão no pul mão afetado, e este empurra o lado contrário, comprimindo a traqueia, coração e o outro pulmão. Lacerações e sangramentos dos ferimentos penetrantes podem fazer com que esse sangue seja represado nesse espaço pleural e daí receberá o nome de hemotórax. TRAUMA CONTUSO DE TÓRAX O trauma contuso de tórax não causa lesão aberta, porém, o tecido pulmonar é lesionado e os alvéolos são rompidos. Podemos perceber esse tipo de trauma com hematomas na região do tórax e escoriações, além disso, o paciente consciente relata dor torácica. Como acabamos de falar, o trauma contuso pode gerar o pneumotórax fechado seguido do pneumotórax hipertensivo. É comum acontecer esse tipo de trauma durante acidentes automobilísticos quando há impacto do tórax no volante. Outra situação no trauma contuso, é a fratura de costelas, responsável por perfurar o tecido pulmonar. Caso haja mais de duas costelas fraturadas, ocorrerá uma situação chamada de tórax instável. Sinais e Sintomas Dependendo da extensão, presença de lesões associadas (fratura de esterno, costelas e vértebras) e comprometimento pulmonar e/ou dos grandes vasos, o paciente poderá apresentar: • Dispneia (falta de ar); • Taquipneia (aumento da frequência respiratória); • Aumento da sensibilidade, dor local ou desconforto torácico, que se agravam com os movimentos respiratórios; • Respiração superficial (dificuldade de respirar, apresentando movimentos respiratórios curtos); • Eliminação de sangue por meio de tosse ou vômito; • Postura característica (o paciente fica imóvel, inclinado sobre o lado da lesão, com a mão ou o braço sobre a região lesada); • Tontura; • Sudorese; • Sinais de choque circulatório. O choque ocorrerá como situação de maior gravidade Dentre as lesões torácicas, é fundamental a identificação das seguintes situações (potencialmente fatais): Essas lesões, pela sua frequência e gravidade (interferem com a ventilação e/ou a circulação), devem ser identificadas durante a avaliação primária AVALIAÇÃO DO PACIENTE VÍTIMA DE TRAUMA DE TÓRAX Realizaremos a avaliação primária, em busca de sinais de risco imediato de morte, como já aprendemos na primeira aula; e na sequência, a avaliação secundária dessa vítima, fazendo o exame físico. A avaliação secundária inclui a avaliação do SAMPLA (sintomas, idade, alergia, medicações, antecedentes, horário da última refeição e eventos relacionados à lesão). Esse paciente estará apresentando dor torácica que piora com a respiração. É importante tranquilizar o doente que estará muito ansioso e com falta de ar. Na sequência, faremos um exame físico com os seguintes passos: inspeção (observação), palpação e oximetria. Na inspeção, observaremos o paciente com a pele mais arroxeada (cianose) por dificuldade nas trocas gasosas, o que gera hipoxemia (diminuição de oxigênio no sangue) e hipóxia (diminuição do oxigênio nos tecidos). A falta de ar é percebida pelo esforço respiratório ao utilizar músculos acessórios do pescoço, e outros torácicos, para executar o processo respiratório. O esforço respiratório também pode ser percebido com o batimento da asa do nariz. A ansiedade e a sudorese estarão presentes. A pele do tórax estará com lacerações, escoriações e vermelha (hiperemia). A parede do tórax pode apresentar uma parte com movimento contrário ao movimento da respiração normal (movimento paradoxal), nesse caso, é evidente a fratura de algumas costelas, o que chamamos de tórax instável. Os ferimentos devem ser avaliados para perceber a presença de ar (bolhas) que denota que houve comunicação com o tecido pulmonar. Durante a palpação, que deve ser feita com compressão suave na parede torácica, é observado se há crepitação, atrito de ossos fraturados e presença de ar sob a pele. A oximetria de pulso deve ser avaliada para verificação da saturação de O2 e deve ser mantida maior que 95%. FRATURA DE COSTELAS As fraturas de costelas, geralmente, são causadas por traumatismos torácicos diretos ou por compressão, e estão associadas à produção de lesões de vasos, pulmões e hemorragias, podendo acarretar tórax instável. Fratura simples de costelas, por si só, raramente representa risco de morte no adulto. Obs.: As fraturas de costelas inferiores podem originar lesões de baço, rins ou fígado, gerando intenso sangramento. O PHTLS não recomenda imobilização rígida do tórax com fitas adesivas ou tiras, pois pode gerar atelectasia e pneumonia como consequência dessa ação. A atelectasia é um colabamento dos alvéolos pulmonares. Esse manual recomenda a administração de oxigênio nessa situação. Sinais e sintomas da fratura de costelas: • dor local; • dificuldade respiratória; • dor durante os movimentos respiratórios; • crepitação (esse é resultado do atrito entre os doisossos fraturados). Tratamento Pré-Hospitalar O atendimento começa com uma avaliação primária e verificação da frequência respiratória e profundidade da respiração. Esses pacientes estarão com frequência alta e respirando de forma superficial (respiração curta). A oximetria de pulso ajuda a identificar a saturação de oxigênio e avaliar a necessidade de instalar O2. Um dos nossos objetivos nesse atendimento é reduzir a dor. Na fratura de uma ou duas costelas, posicione o braço do paciente sobre o local da lesão usando ataduras, tipoias e faixas. Essa imobilização da fratura, reduz a dor. Assim que o suporte avançado chegar será necessário o uso de medicações pela via endovenosa O manual do SAMU orienta: não estabilizar com enfaixamento, bandagens ou ata duras circundando o tórax para não atrapalhar a ventilação. Segundo o PHTLS e o SAMU, o socorrista deve incentivar a vítima a tossir e respirar profundamente para evitar colabamento dos alvéolos (atelectasia), mesmo que isso aumente a dor. TÓRAX INSTÁVEL Ocorre quando duas ou mais costelas adjacentes são fraturadas, pelo menos, em dois pontos. Nessa situação ocorre a respiração paradoxal. O segmento comprometido se movimenta, paradoxalmente, ao contrário do restante da caixa torácica durante a inspiração e a expiração. Enquanto o tórax se expande, o segmento comprometido se retrai, e quando a caixa torácica se contrai, o segmento se eleva Sinais e sintomas do tórax instável Segundo o PHTLS esse movimento paradoxal deixa a ventilação menos eficiente. E podemos encontrar: • Respiração paradoxal; • Aumento da frequência respiratória; • Respiração curta e superficial; • Cianose (presente devido à dificuldade de oxigenação do sangue). Tratamento Pré-Hospitalar O tratamento pré-hospitalar deve ter como foco o suporte ventilatório e redução da dor. Apesar de algumas literaturas recomendarem fixar o segmento instável, o PHTLS e o SAMU não recomendam imobilização do seguimento instável para não prejudicar a ventilação. Obs.: Não realizar tentativas de estabilização do segmento torácico afundado por qualquer meio. FERIMENTOS PENETRANTES NO TÓRAX As lesões penetrantes são os traumas abertos de tórax, geralmente, provocados por objetos que estejam ou não encravados, bem como lesões provocadas por armas brancas, de fogo ou lesões ocorridas nos acidentes de trânsito. É possível perceber o ar entrando e saindo pelo local ferido quando o objeto é removido no momento do trauma O atendimento do trauma penetrante do tórax depende do quadro encontrado: o objeto encravado e o objeto removido na hora do trauma. Com o objeto encravado devemos fixar o objeto, conter o sangramento e fazer a remoção para retirada cirúrgica. Sem o objeto encravado é necessário ocluir a lesão com um curativo de três pontas para formar um mecanismo de válvula, em que o ar sai e não entra novamente. Tratamento Pré-Hospitalar sem Objeto Encravado 1. tampone o local do ferimento usando a própria mão protegida por luvas, após a expiração; 2. faça um curativo oclusivo com plástico ou papel aluminado (curativo de três pontas), que funcionará como uma válvula, permitindo a descompressão espontânea de um pneumotórax hipertensivo em desenvolvimento. Observe esse curativo de três pontas na imagem abaixo: • previna o estado de choque; • conduza-o, com urgência, para um hospital e ministre oxigênio suplementar. Segundo o manual do SAMU: nos ferimentos por arma de fogo é importante realizar a busca por ferimentos na parede torácica anterior e posterior, para observar o local de entrada e saída do projétil. Vale lembrar que esse projétil pode ficar alojado no corpo e não ter orifício de saída. FERIMENTOS PENETRANTES E OBJETOS CRAVADOS OU ENCRAVADOS Durante um trauma penetrante o objeto pode ficar preso (encravado) no corpo da vítima. Esse objeto não deve ser removido na assistência pré- hospitalar, pois haverá um sangramento intenso e risco de choque por falta de volume sanguíneo. Nesse caso, o objeto deve ser imobilizado na pele do paciente que deve ser encaminhado ao hospital. Os socorristas não devem remover corpos estranhos encravados (pedaços de vidro, facas, lascas de madeiras, ferragens) A tentativa de remoção pode causar hemorragia grave ou, ainda, lesionar nervos e músculos próximos à lesão. O paciente deverá ser encaminhado ao hospital com o objeto, que será retirado no centro cirúrgico. Tratamento pré-hospitalar: Recomendações do Manual do CBM-DF: 1. Controle a hemorragia por pressão direta; 2. Estabilize manualmente o objeto encravado; 3. Exponha o local do ferimento, se necessário, corte as vestes próximas ao objeto a ser estabilizado; 4. Utilize um curativo volumoso, auxiliando na estabilização e fixe-o com fita adesiva ou ataduras; 5. Evite a movimentação desnecessária do paciente, para que o objeto encravado não se mova, agravando, assim, a lesão; 6. Previna o estado de choque; 7. Forneça apoio emocional. O manual do CBM-DF reforça que em algumas situações, será necessário o corte do objeto, para permitir um atendimento e transporte adequados. Transporte o paciente administrando oxigênio suplementar. O socorrista deverá estar atento para não restringir os movimentos respiratórios, exercendo pressão excessiva no tórax com as ataduras ao fixar o objeto. Há uma exceção: quando o objeto encravado está na bochecha e tem risco de obstrução de vias aéreas, nesse caso, o objeto pode ser retirado para prevenir uma parada respiratória. PNEUMOTÓRAX Representa ar no espaço pleural, entre a pleura visceral (pulmonar) e a pleura parietal (caixa torácica). O pneumotórax pode ocorrer por mecanismo aberto (ferimentos abertos penetrantes) ou fechado (contusão). Quando o ar está nesse espaço, em pequena quantidade, e não causa compressão contralateral nem colabamento pulmonar importante, pode ser chamado de pneumotórax simples. Por sua vez, quando o ar nesse espaço começa a pressionar o lado contralateral, deve ser chamado de pneumotórax hipertensivo e deve ser atendido como prioridade, pois rapidamente conduz o paciente para choque obstrutivo e complicações hemodinâmicas. Pneumotórax Aberto O pneumotórax aberto resulta na entrada de ar para o espaço pleural, por meio de uma solução de continuidade da parede torácica (ferida torácica aberta). Essa entrada de ar para o espaço pleural vai condicionar o colapso do pulmão, com a consequente alteração da ventilação e má oxigenação. É extremamente importante fechar a ferida de modo a evitar o agravamento do pneumotórax. Sem intervenção, o pneumotórax pode evoluir em poucos minutos para um pneumotórax hipertensivo, situação extremamente grave. O tratamento do pneumotórax aberto consiste em fechar o local com o curativo fechado em 3 pontas (curativo de 3 pontas), formando um mecanismo de válvula que irá impedir o ar de continuar entrando nesse espaço. A respiração deve ser avaliada, além disso, deve ser fornecido oxigênio no suporte pré-hospitalar. Na sequência, esse paciente deve ser encaminhado ao hospital para drenagem desse ar no espaço pleural. Pneumotórax Hipertensivo Situação extremamente grave que demanda remoção imediata, pois o paciente fica instável do ponto de vista hemodinâmico. O pneumotórax hipertensivo ocorre quando há acúmulo de ar no espaço pleural e esse ar não sai da cavidade. Na medida em que o ar se acumula, a pressão intratorácica aumenta bruscamente, comprimindo o coração e o pulmão. A hemorragia no interior da caixa torácica, hemotórax, também provoca compressão do pulmão, levando à insuficiência respiratória. O pneumotórax hipertensivo pode ser consequência de pneumotórax aberto ou fechado. Ocorre quando a pressão exercida pelo ardentro do espaço pleural começa a comprimir regiões vizinhas. Sinais e sintomas • Insuficiência respiratória; • Pulso fraco; • Desvio de traqueia contralateral; • Hipotensão; • Estase jugular; • Cianose (pele arroxeada); • Sinais de choque, quando a pressão arterial sistólica estiver abaixo de 90mmHg. Tratamento Pré-Hospitalar 1. avalie a circulação e a respiração (simultaneamente), proceda para as intervenções necessárias; 2. ministre oxigênio suplementar; 3. monitore constantemente os sinais vitais 4.transporte o paciente o mais rápido possível. O curativo oclusivo no pneumotórax aberto (se não usar o de três pontas) complica o quadro do paciente. Tamponamento Cardíaco Em nosso coração, temos um revestimento fibroso chamado de pericárdio, e no trauma de tórax, pode haver lesão cardíaca que acumula sangue entre o coração e o pericárdio. Esse pericárdio não se distende, e dessa forma, dificulta o batimento cardíaco. Na assistência pré- hospitalar os sinais e sintomas se parecem com o pneumotórax hipertensivo. No atendimento do suporte avançado, quando é possível auscultar o coração, será percebido um abafamento dos sons cardíacos. Esse quadro é chamado de tamponamento cardíaco. Esse sangramento preso no espaço pericárdico restringe o batimento cardíaco e pode gerar um choque do tipo obstrutivo, segundo a maioria das literaturas, pois ocorre uma obstrução ao fluxo sanguíneo, mas outras literaturas abordam o tamponamento cardíaco como choque cardiogênico. ATENDIMENTO DO PNEUMOTÓRAX PELO MANUAL DO SAMU Pneumotórax aberto – ferimento aberto no tórax Quando suspeitar ou quais são os critérios de inclusão? - Lesão aberta no tórax com franca comunicação entre o ar ambiente e a cavidade pleural, evidenciada pela visível passagem do ar por meio do ferimento. Geralmente, é produzido por objetos perfurantes ou lesões por armas de fogo ou arma branca e, ocasionalmente, por trauma contuso. Condutas Realizar avaliação primária com ênfase para: • Avaliação da ventilação: presença de dispneia ou desconforto respiratório, taquipneia, presença de sinais de hipóxia (ansiedade e agitação ou apatia) e presença de cianose; • Avaliação da parede torácica anterior e posterior (se possível) para detecção do ferimento; • Cobrir imediatamente o ferimento com curativo oclusivo com plástico ou papel metálico, com 3 pontas/lados de fixação. O objetivo desse curativo é formar uma válvula para que o ar saia da cavidade e não retorne. TRAUMA DE ABDOME No nosso atendimento à vítima de trauma de abdome, é necessário avaliar a cena do acidente, reconhecer rapidamente os sinais de trauma, seja ele contuso (sem lesão aparente) ou penetrante (penetração da pele por objeto pontiagudo ou projétil de arma de fogo), entender quais órgãos podem ter sido lesionados nessa situação e quais condutas devem ser tomadas antes de encaminhar o paciente ao hospital. Normalmente, os traumas de abdome não são reconhecidos rapidamente pelos socorristas, isso mascara a gravidade da situação e retarda a remoção. O tratamento definitivo para a lesão abdominal geralmente demanda abordagem cirúrgica e transfusão de hemocomponentes, nesse sentido, o tempo até a chegada à sala de cirurgia é crucial. Daí a importância de a equipe de enfermagem entender a dinâmica desse atendimento, visando à remoção precoce. O atendimento da equipe de enfermagem no nível hospitalar consiste em: • Priorizar este atendimento por meio da avaliação na classificação de risco; • Puncionar rapidamente acesso venoso; e • Agilizar as condutas administrativas para realização dos exames e procedimentos cirúrgicos necessários. Segundo o PHTLS 2017, as lesões abdominais não reconhecidas são importantes causas de mortes evitáveis no atendimento pré-hospitalar. Geralmente, as causas de morte por trauma abdominal ocorrem por sangramentos intensos não percebidos de forma precoce. ANATOMIA DO ABDOME A cavidade abdominal está abaixo do tórax e separada deste pelo músculo diafragma. No abdome encontramos órgãos dos sistemas digestivo, endócrino e genital. Segundo o PHTLS 2017, o abdome pode ser dividido em duas partes: peritoneal e retroperitoneal. No peritônio encontramos os seguintes órgãos: baço, fígado, vesícula biliar, estômago, parte do intestino grosso, parte do intestino delgado e órgãos reprodutores femininos (útero e ovário). O retroperitônio fica atrás do peritônio e possui: os rins, os ureteres, a veia cava inferior, o segmento da aorta abdominal, o pâncreas, uma parte do intestino grosso e delgado. A bexiga e os órgãos genitais masculino ficam na parte inferior do peritônio (chamada de cavidade pélvica). O peritônio é uma membrana que reveste esses órgãos e forma uma cavidade na região do abdome, separando esses dois compartimentos. O fígado e o baço ficam logo abaixo do diafragma protegidos pelas costelas, caso haja fratura de costelas esses órgãos podem ser lesionados e o sangramento será intenso. O PHTLS reforça que a lesão hepática é a lesão de órgão intra-abdominal mais comum nesse tipo de trauma. A parte inferior do abdome é protegida pela pelve (ossos do quadril). A região mais central e a lateral do abdome são protegidas apenas pelos músculos abdominais e partes moles. A região posterior do abdome está na coluna vertebral. O abdome é dividido em partes que servem para descrição das lesões encontradas no abdome. Essas partes são chamadas de QUADRANTES. Essa divisão tem como base duas linhas imaginárias: 1ª linha: vertical entre um apêndice xifoide (ponta do osso do externo que fica sobre o coração) e a sínfise púbica (centro da pelve). 2ª linha: horizontal a nível do umbigo. Os anatomistas dividiram a cavidade abdominal em 9 (nove) regiões, sendo definidas da seguinte forma: hipocôndrio direito, epigástrio, hipocôndrio esquerdo, flanco direito, mesogástrio, flanco esquerdo, fossa ilíaca direita, hipogástrio e fossa ilíaca esquerda FISIOPATOLOGIA DO ABDOME O PHTLS divide os órgãos do abdome em ocos e sólidos. Quando ocorre lesão de órgãos sólidos (baço e fígado) sangra muito e deixa o paciente em choque circulatório. Por outro lado, as lesões dos órgãos ocos (intestino, bexiga) fazem com que esses órgãos derramem seu conteúdo no peritônio. A liberação de conteúdo gástrico (ácido), intestinal (bactérias) e urinária irrita o peritônio e causa inflamação (peritonite) ou infecção. Essa infecção é causada por microrganismos como as bactérias e, ao ir para a corrente sanguínea, pode levar o paciente a uma infecção sistêmica chamada de sepse. As duas situações (choque hipovolêmico por falta de sangue e a sepse por contaminação de bactérias) são graves e devem ter atendimento imediato. A lesão hepática é a lesão de órgão intra- abdominal mais comum. As lesões abdominais podem ocorrer por trauma penetrante ou contuso. O trauma penetrante ocorre por projétil de arma de fogo ou arma branca (faca, tesoura e outros objetos cortantes). As lesões por contusão ocorrem por compressão dos órgãos contra a coluna e algum objeto como, por exemplo, o volante do carro. Em algumas situações pode haver ruptura do diafragma (músculo que separa o tórax do abdome) e pela diferença de pressão os órgãos da cavidade abdominal sobem para a cavidade torácica. Dessa forma, compromete a ventilação pulmonar e a função respiratória. A lesão na parte inferior do abdome pode causar fratura de pelve com consequente lesão de bexiga e intestino. AVALIAÇÃO PRIMÁRIA DA LESÃO ABDOMINAL O foco do atendimento primário na lesão abdominal é manter o paciente vivo(a), dessa forma, a respiração e a circulação são a nossa prioridade. A indicação de lesão abdominal pode ser suspeitada quandoo paciente apresenta sinais de choque hipovolêmico sem outro sangramento aparente. O choque hipovolêmico ocorre quando há dificuldade de perfusão tecidual pelo sistema cardiovascular. A causa é a perda de volume de sangue, exemplo: após uma hemorragia. O paciente apresenta-se com a pressão diminuída, o pulso rápido e a respiração rápida. Esses sinais são manifestados com a tentativa de compensar a perda de volume sanguíneo. Além disso, nosso corpo prioriza irrigar coração e cérebro, a pele estará com pouquíssimo sangue e se apresenta pálida e fria. Além disso, na hemorragia interna abdominal, o paciente encontra-se agitado e ansioso. ATENÇÃO: Sinais de choque hipovolêmico (pressão baixa, frequência cardíaca e respiratória altas) sem causa definida são sinais de sangramento oculto no abdome AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA DA LESÃO ABDOMINAL Na avaliação secundária deve ser coletada a história do paciente, lembrando da sigla SAMPLA: Sinais e Sintomas – Alergias – Medicações – Passado médico – Se ele ingeriu Líquidos ou alimentos – Análise do Ambiente. Na sequência, deve ser feito um exame físico com os passos da inspeção e palpação. Na inspeção devem ser procuradas lesões (escoriação, hematoma, abrasões, ferimentos penetrantes) ou distensão (inchaço). Podem ser encontrados também sangramentos externos e evisceração. Opa! O que é evisceração? É a exteriorização dos órgãos do abdome por feridas penetrantes. O trauma de abdome pode ser evidente quando ocorre a marca do cinto de segurança na pele por força de desaceleração repentina. Existem dois sinais que indicam sangramento retroperitoneal: 1. Sinal de Gray Turner – equimose envolvendo os flancos. 2. Sinal de Cullen – equimose em volta do umbigo. Esses dois sinais vão aparecer no estágio mais avançado do sangramento. Na palpação deve ser observado sinal de dor. Porém, a palpação deve ser suave, pois a palpação profunda pode deslocar coágulos ou agravar a lesão. A palpação da pelve deve observar se há instabilidade óssea, o que demostra que houve fratura de pelve. Essa é uma lesão que causa muito sangramento, esse paciente deve ser removido rapidamente. Assim que detectado instabilidade pélvica, deve ser evitada a continuidade da palpação. A ausculta por meio do estetoscópio não muda o atendimento pré-hospitalar e faz perder tempo na remoção. Porém, se forem auscultados sons intestinais no tórax suspeita-se de ruptura de diafragma. Isso ocorre porque os órgãos do abdome vão penetrar na cavidade torácica. A maioria das lesões abdominais necessita de abordagem cirúrgica e hemotransfusão, dessa forma o PHTLS não recomenda demorar a remoção em busca de detalhes no exame secundário ATENDIMENTO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA NO TRAUMA ABDOMINAL Como já falado, o transporte para o atendimento definitivo no hospital é o nosso objetivo no atendimento ao trauma de tórax, a maioria dos pacientes precisarão de cirurgia e hemotransfusão. Durante o transporte devem ser avaliados os parâmetros vitais e fornecido oxigênio. A saturação deve ser mantida acima de 95%. As hemorragias externas são contidas por meio de compressão direta na ferida e curativo compressivo. Segundo o PHTLS, se o trauma foi contuso é necessário imobilizar a coluna do paciente. Nos traumas penetrantes não há necessidade de imobilização da coluna. Objetos empalados no abdome não devem ser removidos, pois aumentará o sangramento. Eles funcionam tamponando a ferida formada e dessa forma são utilizados como suporte para conter hemorragias. No ambiente hospitalar, esse objeto será removido após exame de imagem para avaliar o trajeto do objeto. A equipe hospitalar também já inicia a hemotransfusão e reposição de líquidos (soro). Quem remove esse objeto é o cirurgião. Nunca remover objeto empalado no atendimento de primeiros socorros. O socorrista deve imobilizar o objeto empalado para evitar que este se mova durante o transporte e aumente a lesão. Não deve ser palpado o abdome com objeto empalado e se sangrar ao redor do objeto o socorrista deve atuar fazendo uma compressão entre o local ferido e o objeto. EVISCERAÇÃO Segundo o PHTLS, uma evisceração ocorre quando parte de um órgão é deslocado por meio de um ferimento aberto e se projeta para fora do corpo. O órgão mais comum de deslocar pelo ferimento abdominal é o intestino. O socorrista não deve reposicionar a víscera dentro do abdome. Deve ser deixado o órgão exteriorizado como encontrado e cobrir com um tecido estéril ou pelo menos limpo umedecido com solução fisiológica para evitar ressecamento e morte (necrose) do tecido. Uma ação muito importante nesse atendimento é manter a vítima calma (o que é muito difícil com um órgão exteriorizado), mas deve ser explicado a pessoa que chorar ou gritar aumenta a pressão dentro do abdome, o que fará aumentar a evisceração. Cuidados na evisceração: • Não recolocar o órgão para dentro. • Umedecer o órgão exteriorizado com solução fisiológica. • Manter a vítima calma Manual do SAMU de Suporte Básico de Vida (SBV): Trauma abdominal aberto Quando suspeitar ou quais são os critérios de inclusão? Lesão aberta no abdome, com mecanismo de trauma sugestivo, como os causados por arma de fogo, arma branca, acidentes com veículos a motor, atropelamentos e outros. Conduta: 1. Realizar avaliação primária e secundária. 2. Oferecer O2 sob máscara não reinalante, 10 a 15 L/min se SatO2 < 94%. 3. Monitorizar a oximetria de pulso. 4. Controlar sangramentos externos. 5. Providenciar cuidados com os ferimentos e objetos encravados ou empalados: não devem ser movidos ou removidos no APH; devem ser fixados e imobilizados para evitar movimentação durante o transporte; se ocorrer sangramento ao redor do objeto, fazer pressão direta sobre o ferimento ao redor do objeto (com a própria mão e/ou compressas); e não palpar o abdome para evitar maior laceração de vísceras. 6. Providenciar cuidados com a evisceração: não tentar recolocar os órgãos de volta na cavidade abdominal, manter como encontrado; e cobri-los com compressas estéreis umedecidas com SF e plástico especial para evisceração, quando disponível 7. Realizar a mobilização cuidadosa e a imobilização adequada da coluna cervical, tronco e membros em prancha longa com alinhamento anatômico, sem atraso para o transporte. 8. Realizar contato com a Regulação Médica e passar os dados de forma sistematizada. 9. Aguardar orientação da Regulação Médica para procedimentos e/ou transporte para a unidade de saúde. Obs.: Considerar a cinemática do trauma e sempre buscar lesões associadas a outros segmentos. Atentar para as lesões torácicas abaixo da linha mamária anteriormente, dorso abaixo da linha infraescapular e flanco (definido como área entre as linhas axilar anterior e posterior, do 6º espaço intercostal até a crista ilíaca), pois podem cursar com lesões de órgãos intra-abdominais. TRAUMA DE EXTREMIDADES Trauma de extremidades envolve os membros superiores e inferiores. O atendimento a esse paciente depende se a lesão de extremidade é apenas lesões de partes moles (músculos, peles e outros) ou se atingiu e fraturou os ossos. Outra observação é se a lesão de extremidade está associada a outras lesões ou se ocorreu de forma isolada. Vamos frisar que tecidos moles são os tecidos que suportam, rodeiam ou ligam estruturas ou órgãos e que incluem os músculos, tecidos fibrosos (tendões, ligamentos), tecidos gordurosos, vasos sanguíneos e tecido sinovial. Às vezes, as lesões de extremidades não são tão graves como as hemorragias internas, mas chama mais a nossa atenção no atendimento, principalmente se for uma fratura exposta. As principais lesões das extremidades e dos tecidos moles são: • Equimoses e hematomas;• Escoriações; • Feridas; • Fraturas; • Luxações; • Entorse; • Amputações; • Esmagamento; e • Síndrome de compartimento ANATOMIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO Nossos membros são formados por tecido ósseo, que fornecem sustentação, e são revestidos por músculos que fornecem os movimentos e que são nutridos por vasos sanguíneos e inervados por nervos periféricos. Além disso, possuímos o revestimento de tecido gorduroso e pele. Sistema esquelético O nosso corpo é composto por 206 ossos que possuem estruturas bem diferentes. Temos os ossos longos como: o osso do fêmur (coxa) e a tíbia (osso da perna), temos os ossos curtos como os da mão e do pé. Os ossos chatos são finos como os ossos do crânio e o esterno. Possuímos também ossos irregulares como as vértebras. Os ossos são órgãos esbranquiçados, muito duros que se unem por intermédio das articulações para constituírem o esqueleto. Entre os ossos da articulação encontramos as cartilagens com finalidade de melhorar o movimento reduzindo o atrito entre dois ossos. Nosso corpo possui o esqueleto geral, que pode ser dividido em duas partes: esqueleto axial e apendicular. • O esqueleto axial é o nosso centro formado por: Crânio; Vértebras; Esterno; e Costelas. • O esqueleto apendicular são os ossos dos: – membros superiores; e membros inferiores. O esqueleto axial é ligado ao esqueleto apendicular por duas cinturas: escapular e pélvica. • A cintura escapular liga os membros superiores ao esqueleto axial. • A cintura pélvica liga os membros inferiores ao esqueleto axial Os ossos são conectados pelas cartilagens. As cartilagens são estruturas semirrígidas que formam partes do esqueleto nas quais ocorrem movimentos (articulações). A cartilagem não possui suprimento sanguíneo próprio, suas células obtêm oxigênio e nutrientes por difusão. A cartilagem é responsável por comunicar os ossos entre si e não causar atrito nem desgaste ósseo Funções do Sistema Esquelético: • sustentação do organismo (apoio para o corpo); • proteção de estruturas vitais (coração, pulmões, cérebro); • base mecânica para o movimento; • armazenamento de sais (cálcio, por exemplo); • hematopoiética (suprimento contínuo de células sanguíneas novas). A medula óssea presente nos ossos longos produz as células do sangue (hemácias e leucócitos). SISTEMA MUSCULAR Os músculos são estruturas individualizadas que cruzam uma ou mais articulações e pelas suas contrações são capazes de transmitir-lhes movimento. Funções dos músculos: 1. Produção dos movimentos corporais (contração muscular). 2. Estabilização das posições corporais. 3. Regulação do volume dos órgãos. 4. Movimento de substâncias dentro do Corpo. 5. Produção de Calor e manutenção da temperatura corporal. Os músculos do nosso corpo são agrupados em 9 partes: Os músculos são divididos em 3 grandes grupos de acordo com a sua constituição, essa parte é muito importante: Observe que os músculos das nossas extremidades são músculos de movimento voluntário e são chamados de esqueléticos. Vamos detalhar as partes dos músculos: • Ventre muscular é a parte da carne do músculo; • Aponeurose reveste o músculo; e • Tendões fixam os músculos aos ossos. Componentes anatômicos dos músculos estriados • Tendões: ligam os músculos aos ossos. • Ligamentos: ligam os ossos dentro de uma articulação. TIPOS DE TRAUMA DE EXTREMIDADE Traumas de extremidades são frequentes nos traumatizados. As lesões podem variar de pequenas escoriações sem gravidade a lesões que ameaçam a vida do traumatizado, como por exemplo: grandes hemorragias e choque hipovolêmico. As principais lesões das extremidades e dos tecidos moles são: 1. As equimoses: são lesões de pequenos vasos da pele que não causam grande acumulação de sangue nos tecidos. Nas equimoses, a pele fica levemente arroxeada. 2. Hematomas: ocorrerão quando houver lesão de vasos sanguíneos de maior calibre (como as artérias) com acumulação de quantidades de sangue nos tecidos moles. O hematoma é percebido como uma mancha fortemente arroxeada sob a pele. Na presença de hematomas ou equimoses, o socorrista deve aplicar compressas frias sobre o local, para diminuir o edema (inchaço), a hemorragia e a dor por meio da diminuição da luz do vaso sanguíneo – vasoconstricção. Os hematomas (que são mais graves que a equimose) encontram-se muitas vezes associados a fraturas; e, nessa situação, além da compressa fria, deve ser feito a imobilização da área afetada. Esta imobilização evita o agravamento do hematoma e estabiliza a fratura, reduzindo as lesões provocadas pelos topos ósseos e a dor. 3. Escoriações: são lesões superficiais geralmente conhecidas por “arranhões”. Resultam normalmente do atrito da pele contra as superfícies na hora do trauma. As escoriações são lesões que sangram pouco e são extremamente dolorosas. 4. Entorse: ocorre quando há ruptura de ligamentos nas articulações por trauma local. 5. Luxação: ocorre quando se perde o contato dos ossos dentro de uma articulação, exemplo: luxação de ombro ou de quadril. 6. Fratura: ocorre a perda do contato de duas extremidades ósseas. Quando o osso se quebra, as estruturas adjacentes também são afetadas, ocasionando edema dos tecidos moles, hemorragia nos músculos e articulações, luxação de articulações, ruptura de tendões, secção de nervos e lesão de vasos sanguíneos. 7. Amputações: quando ocorre secção (por corte, arrancamento ou outro tipo de traumatismo) de um membro ou de um segmento de um membro. As amputações podem provocar hemorragias graves e levar à perda irreversível da parte amputada. 8. Esmagamento: ocorre quando o corpo é sujeito a uma forte pressão que quebra os ossos e tritura os órgãos naquele local. Sinais e sintomas dos traumas de extremidades Quando há um trauma de extremidade podemos perceber os seguintes sinais e sintomas: dor, ferimento, deformidade, crepitação, encurtamento, alterações sensitivas, vasculares ou motoras. Vamos continuar detalhando os traumas específicos das extremidades. FRATURAS As fraturas são definidas como uma ruptura parcial ou total do osso. Independentemente do tipo de fratura, o atendimento dos primeiros socorros será o mesmo, que é a imobilização e remoção para o hospital. A definição desses tipos de fraturas apenas será possível com a realização do exame de imagem (raio-X) e será importante para o tratamento definitivo. • Fratura fechada: é aquela que não causa ruptura na pele. • Fratura simples: existe apenas um traço de fratura, separando o osso em 2 pedaços apenas. • Fratura aberta ou exposta: é aquela em que a ferida na pele ou na membrana mucosa em torno dela se estende até o osso fraturado. Em alguns casos, uma das pontas fraturadas pode perfurar a pele expondo o osso ao ambiente. Daí o nome “fratura exposta”. • Fratura incompleta: envolve uma ruptura apenas em parte do perímetro do osso (ex.: fratura em galho verde). • Fratura patológica: fratura que ocorre em uma área de osso doente (ex.: osteoporose, cisto ósseo, metástase óssea, tumor), pode ocorrer sem traumatismo ou queda. • Fraturá-luxação: a fratura envolve uma ruptura óssea e encontra-se luxada (removida de sua posição normal). • Fratura cominutiva: aqui são vários traços de fratura, separando o osso em vários pedaços ou fragmentos. • Fratura em Galho Verde: é a fratura incompleta que atravessa apenas uma parte do osso. São fraturas geralmente com pequeno desvio e que não exigem redução; quando exigem, é feita com o alinhamento do eixo dos ossos. Sua ocorrência mais comum é em crianças e nos antebraços (punho). • Fratura Completa: é a fratura na qual o osso sofre descontinuidade total.Sinais e sintomas de fraturas Quando ocorre uma fratura o paciente apresenta: • Dor: geralmente o local da fratura está muito sensível e a vítima relata dor intensa. • Edema: inchaço provocado pelo aumento de líquido entre os tecidos secundário ao processo inflamatório no local da fratura. • Deformidade: a fratura produz uma posição anormal ou angulação num local que não tem articulação. • Impotência funcional: a fratura impede ou dificulta os movimentos, devido à dor e à alteração musculoesquelética. A vítima geralmente protege o local fraturado. • Crepitação: é a sensação audível e palpável causada pelo atrito entre os fragmentos ósseos fraturados (crec, crec). • Fragmentos expostos: os fragmentos ósseos saem por meio da pele ou podem ser vistos no fundo do ferimento ATENDIMENTO ÀS FRATURAS EXPOSTAS Veremos o atendimento a vítima de fraturas pelo protocolo de suporte básico de vida do SAMU com minhas explicações e aprofundamentos do PHTLS: 1) Realizar avaliação primária Consiste em avaliar a segurança da cena e da situação, seguido da avaliação dos sinais de risco de morte focando na: responsividade, sangramento exsanguinante, abertura de vias aéreas, respiração, circulação, avaliação neurológica e exposição. Lembra-se do XABCDE? 2) Realizar avaliação secundária A avaliação secundária é realizada com o exame físico mais detalhado e com a verificação da sigla SAMPLA (sinais e sintomas, alergias, passado médico, se a vítima usou alguma medicação ou alimentos, e avaliação do evento). O PHTLS reforça alguns aspectos que devem ser atentados na avaliação secundária: presença de dor, fraqueza, sensibilidade anormal das extremidades, dando atenção a: 1. Ossos e articulações: avaliar deformidades por meio da palpação em bus ca de crepitações e sensibilidade dolorosa. Se verificada a crepitação, não se deve continuar manipulando o membro do paciente, deve ser promovida a imobilização. 2. Avaliação de partes moles: as partes moles constituem os músculos, nervos e vasos. Nesse aspecto deve ser avaliada a presença de hematomas, escoriações, alterações da cor da pele e o edema. O socorrista deve dar especial atenção ao local que se encontra firme, rígido e muito doloroso. Pode ser uma síndrome de compartimento (muito grave). Obs.: A síndrome de compartimento consiste no aumento da pressão dentro de uma estrutura do corpo pela presença de lesão. O membro fica muito inchado e não consegue distender as estruturas. Dessa forma, os músculos começam a edemaciar muito e comprimir os nervos e vasos sanguíneos, resultando em lesão grave e morte de células e tecidos. A síndrome compartimental é muito dolorosa e pode ser percebida com a pele das extremidades mal perfundidas, fria, pálida e ausência de pulsos periféricos e de sensibilidade após a lesão 3. Perfusão tecidual: essa será avaliada pela presença de pulsos periféricos na extremidade traumatizada, cor e temperatura da pele (se mal perfundida observaremos a pele fria e pálida). O tempo de enchimento capilar pode ser avaliado e será detectado um tempo lento de enchimento se alteração na perfusão. 4. Avaliar sensibilidade: avaliação da sensibilidade abaixo do local do trauma é importante e deve ser percebida após a imobilização novamente para ver se foi alterada. No caso de fraturas é comum o doente apresentar dormência se lesionar um nervo. 5. Avaliar a função motora: na avaliação motora percebemos a mobilização dos 4 segmentos de forma anormal e se há fraqueza Após a imobilização, a avaliação da função motora e sensitiva deve ser repetida para identificar se houve uma imobilização inadequada com piora desses indicadores. Deve ser retirada a imobilização e refeito o enfaixamento. Seguindo com nossas condutas no atendimento, o próximo passo inclui o controle de sangramento. Porém, vale ressaltar que essa atuação está dentro da avaliação primária ao ser detectado o sangramento, pois é uma situação que aumenta o risco de morte. 6. Controlar sangramento externo com curativo compressivo estéril. No caso da fratura exposta o sangramento será evidente e terá que ser contido para evitar a hemorragia intensa e choque hipovolêmico. A técnica prioritária é a compressão direta seguida da confecção do torniquete (apenas para as extremidades). Explicaremos a contenção de hemorragias na aula de hemorragia e choque. 7. Considerar breve limpeza/enxágue dos ferimentos abertos com solução salina em caso de sujidade grosseira. 8. Cobrir ferimentos abertos e/ou extremidades ósseas com curativo estéril. 9. Avaliar pulso periférico e perfusão, sensibilidade e mobilidade. 10. Realizar a imobilização do segmento afetado com ênfase para: • Retorno à posição anatômica, exceto se presença de dor significativa e/ou resistência ao reposicionamento; e • Escolha da técnica mais apropriada. 11. Reavaliar pulso periférico e perfusão, sensibilidade e mobilidade após a imobilização. 12. Realizar a mobilização cuidadosa e a imobilização adequada da coluna cervical, tronco e membros, em prancha longa com alinhamento anatômico, sem atraso para o transporte. 13. Realizar contato com a Regulação Médica e passar os dados de forma sistematizada. 14. Aguardar orientação da Regulação Médica para procedimentos e/ ou transporte para a unidade de saúde. O SAMU chama nossa atenção para não recolocar as estruturas ósseas expostas para dentro do corpo. Observe como está descrito: • Não recolocar o osso exposto para o interior do ferimento. A fratura fechada será avaliada da mesma forma (avaliação primária e secundária); deverá ser imobilizado o membro fraturado, e removida a vítima para o hospital. LUXAÇÃO Que é o desalinhamento das extremidades ósseas de uma articulação fazendo com que as superfícies articulares percam o contato entre si. A palavra-chave para luxação nas nossas provas é perda do contato dos ossos numa articulação Numa luxação, podemos destacar como sinais e sintomas: Dor: aumenta se a vítima tenta movimentar a articulação. Edema. Deformidade. Impotência funcional: a vítima não consegue executar atividades com esse membro. ENTORSE É a torção ou distensão brusca de uma articulação, além de seu grau normal de amplitude. Causa perda momentânea da congruência articular (cápsula articular e/ou ligamentos) de uma articulação. Também pode ser definida como uma lesão traumática de uma articulação, com alongamento, rotura de um ou mais ligamentos, sem deslocamento das superfícies articulares. A palavra-chave para entorse nas nossas provas é distensão da articulação e ruptura de ligamentos. A depender da gravidade da entorse, a bibliografia a classifica em 3 graus: 1º, 2º e 3º grau. Quanto maior o grau maior a gravidade. Vamos entender essa divisão: • Entorse de grau I: ocorre estiramento ou uma pequena rotura das fibras ligamentares com pouca ou nenhuma instabilidade articular. Pode apresentar dor leve, pouco edema e rigidez articular mínima. • Entorse de grau II: ocorre alguma rotura e separação das fibras ligamentares e instabilidade moderada da articulação. Pode-se esperar dor moderada a forte, edema e rigidez muscular • Entorse de grau III: ocorre rompimento total e separação das fibras liga mentares e grande instabilidade da articulação. Pode-se esperar dor forte, edema, hematoma e rigidez muscular AMPUTAÇÃO TRAUMÁTICA A amputação traumática é a perda/remoção de uma extremidade do corpo de forma total ou parcial. Ocorre a separação de um membro do restante do corpo e esse segmento ficará sem nutrição de sangue, o que levará a necrose (morte tecidual). Na amputação total os vasos sanguíneos se retraem e a coagulação ocorre de forma mais fácil, ocorrerá sangramento, mas não tão intensocomo nas amputações parciais. Nas amputações parciais o sangramento é mais grave e de difícil coagulação, pois ocorrerá o tracionamento do segmento pendurado. O que devemos fazer diante dessa situação com a vítima e com o segmento amputado? Basicamente devemos: • Priorizar as situações que implicam risco de morte (respiração e circulação); • Controlar a hemorragia; e • Fazer a remoção quando possível com o segmento amputado devidamente armazenado Vamos aprender os detalhes desse atendimento com base nas recomendações do SAMU. Condutas: 1. Realizar avaliação primária com ênfase para a manutenção da permeabilidade de vias aéreas e da boa ventilação. 2. Controlar hemorragia no segmento afetado (iniciar com compressão direta e considerar o uso de torniquete). O torniquete é indicado pelo PHTLS e SAMU como segunda opção de contenção de sangramento quando a compressão direta sobre a lesão não consegue conter o sangramento. É importante frisar que o PHTLS não indica a compressão indireta da artéria próxima a lesão sangrante nem elevação do membro; pois, segundo essa referência, essas técnicas não têm comprovação científica e fazem perder tempo no socorro. O PHTLS mostra alguns requisitos que devem ser levados em consideração na aplicação do torniquete, como: tempo máximo de aplicação, técnica de colocação, objetos utilizados, que serão detalhados na aula de hemorragias e choque. 3. Cobrir ferimento com curativo seco. 4. Evitar manipular a lesão que não sangra (pode ser rompido o coágulo sanguíneo e ocorrer novo sangramento). Após a formação do coágulo que faz parar o sangramento, não deve ser manipulado o coto do membro para que não volte o sangramento. 5. Oferecer O2 suplementar por máscara não reinalante 10 a 15 L/min se SatO2 < 94%. 6. Monitorizar a oximetria de pulso. 7. Considerar a possibilidade de choque. Percebemos a presença de choque com os seguintes sinais: taquicardia; taquipneia; pele fria e pálida. 8. Realizar avaliação secundária. 9. Realizar cuidados com a parte amputada: Atenção aos cuidados com a parte amputada, pois é muito cobrada nas provas. • realizar breve limpeza com ringer lactato; O Manual do SAMU e o PHTLS orientam a limpeza do segmento amputado com ringer lactato, porém outras bibliografias recomendam o uso de soro fisiológico. O ringer lactato favorece a vitalidade desse segmento, portanto é o mais indicado. Porém, na ausência dele, podemos usar o soro fisiológico. • Envolver em gaze estéril umedecida com ringer lactato; • Colocar em saco plástico e identificar; • Colocar o saco plástico em outro recipiente com gelo (não colocar a parte amputada em contato direto com gelo); e • Transportar o segmento amputado ao hospital adequado com o paciente. Seguem imagens sobre o transporte do segmento amputado: Não se deve perder tempo procurando a parte amputada. A prioridade é manter a vítima viva, dessa forma, essa é levada ao hospital e na sequência, outras pessoas levarão o segmento amputado. 10. Realizar a mobilização cuidadosa e considerar imobilização adequada da coluna cervical, tronco e membros, em prancha longa com alinhamento anatômico, sem atraso para o transporte. 11. Realizar contato com a Regulação Médica e passar os dados de forma sistematizada Obs.: Considerar a cinemática do trauma e sempre buscar lesões associadas em outros segmentos. Na identificação do segmento amputado deve constar, no mínimo: nome do paciente (se disponível); segmento ou parte amputada; e data e hora do evento. Os cuidados com a parte amputada almejam aumentar o tempo de viabilidade do segmento amputado em caso de eventual reimplante. Não retardar o transporte na tentativa de localizar a parte amputada. Policiais ou outros auxiliares devem permanecer no local para procurá-la e devem ser orientados quanto aos cuidados e à forma de transportá-la, sendo informados sobre o hospital de destino do paciente SÍNDROME DO ESMAGAMENTO Segundo o SAMU, suspeitaremos de esmagamento quando houver paciente de trauma por mecanismo de compressão de grande massa muscular de extremidades, causado por soterramento (colapso de estrutura), contenção em ferragens ou outro mecanismo que comprometa a circulação do membro e concorra para tempo prolongado de desencarceramento. A síndrome do esmagamento é decorrente de traumas que geram pressão contínua e prolongada sobre uma extremidade corpórea e tem alta mortalidade. O maior risco da lesão por esmagamento é a rabdomiólise, que gera insuficiência renal e morte. No esmagamento, ocorre uma grande lesão muscular que libera a mioglobina que lesiona o rim porque gera a insuficiência renal aguda. Além da mioglobina, o músculo libera muito potássio, que em grande quantidade causa arritmias e morte por parada cardíaca. O tratamento mais efetivo ocorrerá com a infusão de líquidos após a chegada do suporte avançado. Mas a atenção do socorrista é atentar para as situações de risco imediato de morte e remoção rápida. Conduta: 1. Realizar avaliação primária com ênfase para a manutenção da permeabilidade de vias aéreas e da boa ventilação. 2. Oferecer O2 suplementar por máscara não reinalante 10 a 15 L/min se SatO2 < 94%. 3. Monitorizar a oximetria de pulso. 4. Comunicar imediatamente a Regulação Médica para a avaliação da possibili dade de apoio do SAV e/ou para procedimentos. 5. Realizar avaliação secundária. 6. Realizar a mobilização cuidadosa e a imobilização adequada da coluna cervical, tronco, e membros, em prancha longa com alinhamento anatômico, sem atraso para o transporte. 7. Realizar contato com a Regulação Médica e passar os dados de forma sistematizada. 8. Aguardar orientação da Regulação Médica para procedimentos e/ou transpor te para a unidade de saúde. 9. Relatar ao médico receptor no hospital de destino o tempo aproximado de encarceramento. Obs.: Considerar a cinemática do trauma e sempre buscar lesões associadas em outros segmentos. Resumindo: no esmagamento, o prioritário é manter a vítima viva e fazer a remoção precoce. SÍNDROME COMPARTIMENTAL A síndrome de compartimento é uma complicação de vários traumas de extremidades. Consiste em aumento da pressão dentro de um segmento do corpo que vai comprimir vaso sanguíneo atrapalhando a circulação e os nervos, dificultando a inervação local. A estrutura que reveste os músculos a fáscia é rígida e não permite estiramento diante de edemas. No nosso membro existem vários compartimentos (o antebraço tem 3 compartimentos divididos pela fáscia e a perna tem 4 compartimentos), se houver aumento da pressão dentro desses compartimentos resulta em síndrome compartimental. O grande problema da síndrome de compartimento é que pode ocorrer necrose nos tecidos por falta de irrigação de sangue no local. O paciente apresenta uma dor intensa e desproporcional a lesão manifestada, ausência de sensibilidade ou parestesia e ausência ou diminuição do pulso. Segundo o PHTLS, as causas mais comuns de síndrome de compartimento são: • A hemorragia dentro de um compartimento devido a fratura ou lesão vascular; e • O edema por ausência de fluxo sanguíneo. A síndrome de compartimento é favorecida se houver enfaixamento ou um fator que limite a expansão do edema (inchaço). Na hora de imobilizar um paciente, o socorrista não deve comprimir muito a tala e o enfaixamento para não desencadear uma síndrome de compartimento. As condutas diante desse quadro são: • Remover essas contenções, enfaixamentos; • Verificar o pulso e a sensibilidade; e • Remover ao hospital, onde será feito o tratamento definitivo. Sinais Clássicos da Síndrome de Compartimento Vale destacar que a ausência de pulso, palidez e paralisia são sinais tardiosem que a síndrome de compartimento já está instalada com dano de necrose muscular e perda desse membro. Na palpação podemos perceber o membro firme e tenso. O atendimento definitivo ocorrerá no hospital com a abertura da fáscia e descompressão do compartimento, chamado de fasciotomia. Mas nos primeiros socorros é fundamental remover enfaixamentos e a rapidez no transporte. Segundo o SAMU, devemos suspeitar de síndrome de compartimento nos (as) pacientes vítimas de trauma em extremidades decorrente de fraturas, traumas contusos de alta energia, esmagamento e queimaduras, dentre outros, acompanhados dos seguintes sinais e sintomas: • Dor intensa e desproporcional à lesão e/ou parestesia (sinais precoces); e Lembre-se de que a parestesia é a diminuição da sensibilidade por lesão nervosa, o paciente refere sensação de formigamento. • Ausência de pulso, palidez e/ou paralisia (sinais tardios). Conduta: 1. Realizar avaliação primária. 2. Realizar avaliação secundária. 3. Avaliar e remover imobilizações ou enfaixamentos circulares apertados. 4. Reavaliar a perfusão distal constantemente. 5. Realizar a mobilização cuidadosa e a imobilização adequada da coluna cervical, tronco e membros, em prancha longa com alinhamento anatômico, sem atraso para o transporte. 6. Realizar contato com a Regulação Médica e passar os dados de forma sistematizada. 7. Aguardar orientação da Regulação Médica para procedimentos e/ou transporte para a unidade de saúde. Obs.: Considerar que imobilizações aplicadas por tempo prolongado e/ou enfaixa mento circular muito apertado (inclusive aparelho gessado) também podem levar à síndrome compartimental. Não realizar acesso venoso no membro afetado Tratamento Pré-Hospitalar da Vítima de Trauma de Extremidades e Imobilização No começo da avaliação de um paciente com trauma em extremidade, deve- -se priorizar o atendimento a situações graves, ou seja, que tenha risco de morte, como a parada cardíaca, respiratória e sangramentos em grandes quantidades. Porém, quando o paciente está estável, do ponto de vista clínico, a avaliação das extremidades deve ser feita em busca de lesões Prioridade: controle de hemorragias e permeabilidade da via aérea. Quando o paciente apresenta entorse, luxação ou fratura é necessário atendimento imediato para melhoria do quadro clínico por meio da imobilização. A imobilização deve ser realizada de forma adequada e o transporte ao hospital ocorrerá na sequência para realização de exame de imagem e definição de conduta mais específica. Mas porque devemos imobilizar as extremidades lesionadas? Vamos entender! Razões para a imobilização: • Alívio da dor; • Prevenção de outras lesões de músculos, nervos e vasos sanguíneos que estão próximos ao osso fraturado; • Manutenção da perfusão (irrigação sanguínea) no membro lesionado. Tipos de imobilização: 1. Talas rígidas: dispositivos não flexíveis adaptados à extremidade fraturada para manter sua estabilidade e imobilização. Pode ser de madeira, papelão, arame ou alumínio recoberto de material plástico. Servem para imobilizar: mãos, pés, punhos, tornozelos, antebraços e pernas 2. Talas de tração: são indicadas para imobilizar fraturas da diáfise (parte do meio) do fêmur em pacientes estáveis. O fêmur é um osso que fica envolto pelo músculo da coxa (quadríceps), quando ocorre fratura nesse osso, o músculo quadríceps traciona o segmento fraturado para cima do outro fragmento ósseo. Resultado, as extremidades fraturadas pontiagudas ficam lesionando nervos, vasos e músculos, levando a hemorragia. Dessa forma, precisamos fazer uma tração na perna antes de imobilizar o membro inferior do paciente. O uso da tala de tração ajuda no controle da dor e estabilização do segmento fraturado. A desvantagem na aplicação da tala de tração é que demora mais para insta lar, precisa de treinamento dos socorristas e demanda pelo menos dois socorristas para instalação (um para tracionar o membro inferior e outro para medir, montar e instalar a tala de tração). Essas talas de tração não podem ser aplicadas quando há fraturas de fêmur associadas a lesões no joelho, luxações coxofemorais, fraturas de pelve, ou seja, apenas deve ser utilizada nas fraturas isoladas de fêmur. Caso ocorra essas situações de forma simultânea, o indicado é a tala rígida 3. Prancha longa: serve para uma imobilização mais completa do paciente e também para ajudar no transporte para o hospital. Nas fraturas dos membros superiores, podemos usar outros materiais para imobilização como: bandagens, enfaixamento, ataduras, tipoias e talas rígidas. Nas fraturas de pelve (quadril) podemos utilizar o KED (Kendrick Extrication Device) invertido, ou um imobilizador próprio de quadril. No ambiente hospitalar, após a realização de exames de imagem, o médico de verá indicar uma imobilização mais específica como uso do gesso, da tração cutânea, da tração transesquelética e da indicação cirúrgica para fixar a fratura