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02 Portugal no contexto das Grande Navegações

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HISTÓRIA DO 
BRASIL COLÔNIA
Caroline Silveira Bauer 
Portugal no contexto das 
grandes navegações
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Relacionar a Revolução de Avis com o desenvolvimento mercantil 
de Portugal.
  Analisar a posição geográfica portuguesa e sua relação com o co-
mércio marítimo.
  Descrever as principais expedições náuticas lideradas pelo governo 
português.
Introdução
Por sua indelével importância histórica e cultural, as relações intrínsecas 
entre Portugal, o mar Mediterrâneo, o Oceano Atlântico e além foram 
cantadas em verso e prosa por luminares como Camões e Fernando 
Pessoa. A busca por novas rotas comerciais e novos mercados foram os 
aspectos que motivaram a exploração marítima portuguesa desde o início 
da Era Moderna. Entretanto, muitos outros fatores estiveram envolvidos 
nas grandes navegações portuguesas. 
Neste capítulo, você vai estudar a Revolução de Avis e sua importância 
para o desenvolvimento mercantil de Portugal. Também verá de que 
forma a posição geográfica de Portugal contribuiu para um direciona-
mento ao comércio marítimo. Por fim, conhecerá as navegações e as rotas 
traçadas pelos portugueses para África, Ásia e América.
1 A Revolução de Avis
A história de Portugal como reino independente está diretamente relacio-
nada às empreitadas de expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica 
durante as Guerras de Reconquista. O primeiro rei português, Afonso I, 
assume em 1139, inaugurando a dinastia do Borgonha, que permanecerá 
no poder até a Revolução de Avis.
Chamamos de Revolução de Avis (1383–1385) os confrontos resultantes da 
crise sucessória ocorrida em Portugal a partir de 1383. A morte de D. Fernando 
I, o último monarca da dinastia dos Borgonha, ocasionou um problema na 
sucessão, porque aquela que deveria assumir o cargo, além de não ser bem 
quista pela população, representava uma ameaça pela proximidade com a 
coroa de Castela. O casamento de Fernando I provocou descontentamento de 
parte do reino, pois escolheu como esposa Leonor Teles, em detrimento de 
vantajosos acordos de casamento com herdeiras dos reinos vizinhos. O casal 
não teve filhos homens; sua única filha, Beatriz, foi entregue em acordo de 
casamento ao rei D. João de Castela. Essa situação criou então a possibilidade 
do rei de Castela vir a se tornar rei de Portugal. Assim, D. Fernando procurou 
evitar essa possibilidade mediante certas determinações no acordo de casa-
mento (COSER, 2015)
Além disso, seu governo enfrentou grandes pressões, já que a “mudança 
na correlação de forças internas, os anseios dos homens bons das cidades, a 
insatisfação dos filhos segundos da nobreza, o peso das guerras e das pilhagens 
geravam conturbações sociais que se agravaram no reinado de D. Fernando, 
o último rei da dinastia de Borgonha” (COSER, 2015, p. 703).
Assim, o problema sucessório da coroa transformou-se em uma revolta, 
que envolveu diferentes estratos da sociedade:
A oposição à rainha intensificou-se em Portugal, em especial em Lisboa, 
onde iniciou-se o movimento que seria chamado de Revolução de Avis, 
quando, em dezembro de 1383 o conde Andeiro foi assassinado pelo grupo 
de D. João, o Mestre de Avis, filho bastardo do rei D. Pedro e meio-irmão de 
D. Fernando. O movimento iniciado em Lisboa contra a regente alastrou-se 
por várias regiões do reino e o Mestre de Avis assumiu a regência do reino. 
Neste meio tempo, o rei de Castela marchava para Portugal para reclamar 
seus direitos sobre o trono, que culminaria no cerco da cidade de Lisboa, 
no ano seguinte. A cidade resistiu à invasão e em 1385 D. João, o Mestre 
de Avis, foi escolhido o novo rei de Portugal nas Cortes de Coimbra. No 
mesmo ano, o rei de Castela invadiu mais uma vez Portugal e foi vencido 
em Aljubarrota, numa batalha que foi tida como milagre pelos portugueses 
(COSER, 2015, p. 705).
O encerramento da crise se deu com a coroação de João, Mestre de Avis, 
como rei de Portugal, passando a se chamar D. João I, inaugurando a dinastia 
de Avis. D. João I (1357–1433) era filho bastardo do rei D. Pedro I, da dinastia 
de Borgonha, e sua aclamação como rei foi favorecida pelo “medo da ameaça 
Portugal no contexto das grandes navegações2
estrangeira do rei D. João de Castela, casado com D. Beatriz, filha do rei D. 
Fernando I e D. Leonor e a antipatia do povo português para com a viúva D. 
Leonor, casada com o rei D. Fernando I, irmão do Mestre de Avis” (BLANCO, 
2016, p. 18). D. João I possuía apoio popular, suporte de grande parte do clero 
e de alguns nobres que almejavam maior prestígio.
A Revolução de Avis teve consequências políticas e econômicas. Quanto 
ao primeiro aspecto, o evento marca a efetiva independência de Portugal em 
relação ao reino de Castela. “O discurso desenvolvido pela nova dinastia, 
para além da afirmação de sua legitimidade, objetivava promover o rei a um 
soberano de fato no reino português. E o rei como verdadeiro soberano seria 
o rei capaz de unir todos os segmentos sociais, justamente por sobrepor-se a 
eles, formando uma unidade reconhecível por todos, que viria a constituir a 
nação portuguesa” (COSER, 2015, p. 708).
E qual a relação da Revolução de Avis com o mercantilismo português? 
Antes de respondermos essa pergunta, é importante destacarmos que Por-
tugal estava inserida em importantes rotas comerciais dos países da Europa 
setentrional, que faziam escala nos portos de Lisboa e do Porto. A inserção 
desses portos nas rotas de navegação dos mercadores flamencos e italianos 
levou ao desenvolvimento da burguesia marítimo-comercial portuguesa, que 
encontrou na Revolução de Avis uma oportunidade de associar-se com a coroa 
para o desenvolvimento das grandes navegações.
Parece haver um consenso na historiografia de que, com a dinastia dos 
Avis, temos o início da expansão marítima portuguesa (CONFORTO, 2003). 
Lembremos que esses acontecimentos ocorreram em meio às crises que atin-
giram a Europa no século XIV, como a Peste Negra e a Guerra dos Cem 
Anos, que causaram prejuízos à agricultura em função da indisponibilidade 
de mão-de-obra. Ainda com esses reveses, Portugal foi capaz de desenvolver 
suas práticas comerciais, área com bastante proeminência desde a Idade Média, 
com o surgimento de uma burguesia comercial marítima. Esse estrato social 
surgiu em função da posição geográfica portuguesa, pois seus portos eram 
utilizados como escala para os mercadores do norte da Europa, quando viajavam 
para comerciar no Mar Mediterrâneo. De acordo com Conforto (2003, p. 250), 
“a entrada dos portos marítimos portugueses nas rotas de navegação levou 
[...] judeus, genoveses, marselheses, flamengos e outros a se estabelecerem 
definitivamente em terras portuguesas”.
Esse grupo comercial mercantil viu-se ameaçado com a crise sucessória 
em Portugal e uma possível submissão do reino de Portugal a Castela, o que 
ocorreria caso a herdeira, Beatriz, assumisse a coroa. Essa ameaça levou a 
burguesia mercantil portuguesa a apoiar João, Mestre de Avis.
3Portugal no contexto das grandes navegações
Conforme Conforto (2003, p. 250):
A revolução de Avis entronizou um monarca sensível a interesses da burguesia 
comercial. [...] Foi sob o comando de D. João I que Portugal entrou na fase mer-
cantilista e na epopeia das grandes navegações. A insuficiência portuguesa em 
metal circulante, em produtos agrícolas e em mão-de-obra, sua posição geográ-
fica privilegiada, a tradição da escola de Sagres e os desejos de expansão da fé 
cristã são causas apontadas para o expansionismo português. A principal causa 
foi a existência de condições políticas e institucionais favoráveis à expansão.
D. João I (1385–1433), o monarca que deu início a conquistas e descobrimentos sistemáticos 
além-mar intitulou-se “senhor de Ceuta”. Posteriormente, o rei Duarte (1433–1438) usou 
mesmo título. Em seguida, Afonso V (1438–1481) adotou o título de “rei de Portugal e dos 
Algarves daquém e dalém-mar em África”. João II (1477–1495)intitulou-se pela primeira vez 
“senhor de Guiné”. Por sua vez, D. Manuel (1495–1521) aumentou em muito as fardagens dos 
títulos: “Rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém-mar em África, senhor da Guiné, 
da conquista, navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia” (COELHO, 1994, p. 12).
Estudaremos, mais adiante, as principais rotas comerciais estabelecidas pelo 
expansionismo marítimo português. De momento, assinalamos que a conquista de 
Ceuta (1415) foi o marco inicial da expansão comercial pelos mares por Portugal, 
possibilitando o comércio de africanos escravizados, seda e outros produtos 
(CONFORTO, 2003). “Aparentemente o impulso é ainda o da Reconquista, 
mas as diferenças estão à vista. A conquista de Ceuta envolve a mobilização 
de uma frota europeia e, para lá do exército dos nobres, o entusiasmo de um 
exército dos concelhos, em particular do de Lisboa e do Porto e a participação, 
à sua custa, de alguns mercadores italianos e ingleses” (COELHO, 2000, p. 66).
Assim, podemos afirmar que a Revolução de Avis impulsionou Portugal 
para o comércio marítimo, com benefícios para os diferentes extratos sociais, 
como veremos na próxima seção.
2 Portugal e o mar
Achamento, conquista, descobrimento, colonialismo, evangelização, império... 
Diferentes termos foram utilizados para se referir ao processo de expansão 
Portugal no contexto das grandes navegações4
marítimo-comercial na África e na Ásia e à chegada de Portugal na América, 
além da exploração econômica dessas rotas e regiões. Independentemente das 
palavras utilizadas, algumas com maior precisão conceitual, outras empregadas 
pelos contemporâneos dos eventos, mares e oceanos tiveram fundamental 
importância na constituição do Império Português.
Os registros da utilização marítima com finalidade econômica e de subsis-
tência em Portugal são muito antigos. Lembremos da localização geográfica 
de Portugal, com seu litoral no Mar Mediterrâneo e no Oceano Atlântico. 
Os portos portugueses eram utilizados como parada para as embarcações 
provenientes do norte da Europa e que comerciavam com as cidades italianas, 
via Mar Mediterrâneo. Em relação ao contexto que estamos estudando, cabe 
destacar a data de 1340 como um marco, pois foi nesse ano que ocorreu a 
primeira empreitada dos portugueses no Oceano Atlântico. Juntamente com 
a coroa de Castela e principados italianos, aventuraram-se em direção ao sul, 
encontrando as Ilhas Canárias (COELHO, 2000).
Após a Revolução de Avis, houve um aumento nas expansões marítimas e, 
paralelamente a esse processo, um incremento tecnológico, permitindo a conquista 
de territórios e o estabelecimento de rotas comerciais muito importantes. De acordo 
com Fausto (1995, p. 22), “embora alguns historiadores considerem a revolução 
de 1383 uma revolução burguesa, o fato importante está em que ela reforçou e 
centralizou o poder monárquico, a partir da política posta em prática pelo Mestre 
de Avis. Em torno dele, foram se reagrupando os vários setores sociais influentes 
da sociedade portuguesa: a nobreza, os comerciantes, a burocracia nascente”.
Vejamos alguns dos aspectos do desenvolvimento tecnológico do período. 
Primeiramente, é preciso fazer referência ao aperfeiçoamento da arte de 
navegar, por meio da Escola de Sagres. De acordo com João (2005, p. 418):
Apesar de todas as dúvidas dos especialistas, a ideia mais aceita e divulgada 
continua a apontar Sagres e o seu imponente Promontório como um local 
privilegiado para o controle da navegação entre o Mediterrâneo e o Atlântico, 
cuja importância tinha sido claramente percebida pelo Infante D. Henrique. 
Por isso, ali quis edificar a sua Vila para apoiar os navios que cruzavam a 
região. [...] Sagres se foi transformando num lugar mítico da memória. A sua 
ligação ao Infante D. Henrique e ao início dos descobrimentos portugueses 
tem muito de lendário. Mas a sua força impôs-se no imaginário e tornou-se 
um símbolo de uma época e de um povo.
Sagres seria uma evidência da mudança de mentalidade, com a valorização 
da ciência e da experimentação, sem necessariamente o abandono da religião: 
“essa paixão naturalista da Renascença nos seus primeiros tempos, essa tenaz 
5Portugal no contexto das grandes navegações
curiosidade científica, diferia essencialmente do misticismo religioso da Idade 
Média, eivado de fantasias cabalísticas e da ingenuidade das mitogenias 
primitivas. O homem já preferia a ciência à imaginação: rejeitava as fábulas, 
e confiava tudo aos processos e aos meios positivos” (BLANCO, 2016, p. 22).
Para desbravar o Oceano Atlântico, foram utilizadas as caravelas, que serviam para 
realizar a exploração, levar e trazer informações e até mesmo como navio de guerra. 
Coelho (2000, p. 62) afirma que “enquanto uma nau da carreira da Índia demorava 
cerca de 6 meses na viagem de ida, em 1516 a caravela de Diogo de Unhos gastou 
menos de 6 meses na ida e no regresso”. 
Além do revolucionário desenvolvimento da chamada caravela latina, 
em Sagres também foram aperfeiçoados instrumentos de navegação como 
o astrolábio, a balestilha, a bússola, o quadrante e o sextante. Dessa forma, 
deu-se nessa época e local uma série de aprimoramentos na cartografia e nos 
cálculos de distâncias e grandezas, como a medida da circunferência da Terra 
em léguas. Com a caravela latina e com esses melhoramentos tecnológicos, 
Portugal se transformou no primeiro país europeu a maximizar o potencial do 
sistema de ventos e correntes marítimas equatoriais (RUSSEL-WOOD, 2001).
A partir dessa vocação marítima, Portugal estabeleceu seu Império Atlân-
tico, que englobava possessões na África continental e arquipélagos atlânticos. 
Foram desenvolvidas não somente rotas entre Portugal e África e Portugal e 
América, mas também um comércio triangular (Europa–África–América) e, 
posteriormente, bilateral, envolvendo diretamente comerciantes da América 
Portuguesa com comerciantes de Angola, São Tomé, Príncipe, Cabo Verde, 
Açores e Madeira (RUSSEL-WOOD, 2001). Esse fato ocasionou um forta-
lecimento dos portos de Salvador e do Rio de Janeiro, que, segundo Russel-
-Wood (2001, p. 12), tiveram “uma próspera área portuária, testemunho da sua 
importância como empórios, tanto para a cabotagem como para o comércio 
oceânico, e cada uma podia contar com a presença de fortes fortins, baluartes 
e redutos em volta das respectivas baías e áreas contíguas”.
Podemos afirmar, dessa forma, que a expansão marítimo-comercial por-
tuguesa correspondia aos vários interesses das diferentes classes sociais e 
instituições. Para os comerciantes, significava uma possibilidade de bons 
Portugal no contexto das grandes navegações6
negócios; para o rei, novas receitas e aumento dos rendimentos da coroa; para 
os nobres e membros da Igreja, novos convertidos e recompensas com cargos 
mediante a prática das mercês; e para o povo, uma possibilidade de vida nova.
3 As navegações portuguesas
As navegações portuguesas, portanto, inserem-se em uma conjuntura não 
somente de busca por novas rotas marítimas a novos mercados e busca 
de solução para os problemas enfrentados por Portugal no século XV 
(crise econômica, declínio populacional), mas também de mudança de 
mentalidade, com maior disposição para a aventura e para o novo. Portugal 
procura, dessa forma, incrementar o comércio com a África, fornecedora 
de escravizados e metais preciosos, e com a Ásia, que fornecia especiarias, 
pedrarias e seda.
Para o financiamento da expansão ultramarina, Portugal utilizou recursos 
provenientes da cobrança de impostos, de empréstimos e de fundos acumula-
dos pela Ordem de Cristo. “Estado Pobre, desde o início Portugal recorreu a 
investidores estrangeiros, entre os quais estavam incluídos muitos florentinos, 
e aos empréstimos internos obtidos junto a judeus portugueses, que eram pagos 
pela Coroa quase sempre em espécie” (RAMOS, 1997, p. 75).
Você pode encontrar mais informações sobre as navegações portuguesas visitando 
a página disponível no link a seguir, preparada peloInstituto Camões, de Portugal.
https://qrgo.page.link/68dXw
Como dito anteriormente, a expansão marítima e comercial portuguesa teve 
como marco inaugural a conquista de Ceuta em 1415. Vejamos os principais 
marcos do expansionismo português:
  1419 — chegada à Ilha da Madeira;
  1427 — reconhecimento do Arquipélago dos Açores;
  1434 — ultrapassagem do Cabo Bojador por Gil Eanes;
7Portugal no contexto das grandes navegações
  1488 — ultrapassagem do extremo-sul da África, o Cabo das Tormentas, 
chamado posteriormente de Cabo da Boa Esperança;
  1498 — chegada em Calicute, nas Índias, por Vasco da Gama;
  1500 — chegada de Pedro Álvares Cabral no território americano.
Agora vejamos no mapa ilustrado na Figura 1 como os diferentes continentes 
foram sendo paulatinamente alcançados por Portugal.
Figura 1. A expansão portuguesa pela África, Ásia e América.
Fonte: Wikimedia Commons contributors (2014, documento on-line).
A partir desses dados, podemos afirmar que em menos de um século Por-
tugal dominou as rotas comerciais do Atlântico Sul, incluindo África, América 
e Ásia. Na África, os portugueses estabeleceram feitorias (postos fortificados 
de comércio) para negociação de escravizados, especiarias, marfim e ouro. 
Na América Portuguesa, as primeiras práticas comerciais foram extrativistas, 
vinculadas à exploração do pau-brasil.
Com a chegada de Cristóvão Colombo à América, financiado pelo governo 
espanhol, as disputas entre Portugal e Espanha pelo domínio do Atlântico 
tornaram-se mais acirradas, levando os dois países a assinarem tratados de 
partilhas.
  Bula Intercoetera: tratado assinado pelo papa Alexandre VI, em 1493, 
que dividiu o Oceano Atlântico entre Espanha e Portugal, privilegiando 
o primeiro.
Portugal no contexto das grandes navegações8
  Tratado de Tordesilhas: assinado em 1494, novamente com o intermé-
dio papal, estipulava um novo limite para as possessões espanholas e 
portuguesas, permitindo que Portugal mantivesse suas rotas marítimas 
no Atlântico Sul.
Os conflitos com a Espanha e com outros países não foram as únicas difi-
culdades enfrentadas por Portugal, já que as navegações de longa distância em 
si impunham árduos desafios de logística. Ramos (1997, p 76) afirma que um 
dos principais obstáculos enfrentados nessas façanhas relacionava-se à alimen-
tação. “A escassez de alimentos em Portugal terminava refletindo-se a bordo 
das embarcações portuguesas, geralmente abastecidas para enfrentarem cinco 
meses de viagem em alto mar, quando na verdade a viagem levava no mínimo 
sete meses. Além do que, os alimentos acabavam se deteriorando ao longo da 
viagem devido ao tempo e às condições de armazenamento precárias, sendo a 
fome companheira constante e inseparável dos navegantes portugueses. Em casos 
extremos, muitas embarcações foram obrigadas a recorrerem aos muitos ratos 
que infestavam o navio como única forma de sobreviver”. Além das privações 
alimentares, o autor faz referência às acomodações a bordo, bastante insalubres, 
que geravam constrangimentos e desconforto. Esse ambiente hostil teria feito 
com que Portugal destinasse cada vez mais degradados para participarem dessas 
carreiras, já que os voluntários se direcionaram à carreira do Brasil. Como se não 
bastasse, havia ainda incontáveis doenças, motins e naufrágios (RAMOS, 1997).
Há muitas informações disponibilizadas na Enciclopédia Virtual da Expansão Portu-
guesa, um projeto vinculado à Universidade Nova de Lisboa. Você pode acessar o 
projeto pelo link a seguir.
https://qrgo.page.link/dHo1B
A chegada dos portugueses na América
Seja chamada de achamento, conquista, descobrimento ou invasão, a chegada 
dos portugueses na América, no território que posteriormente seria chamado 
9Portugal no contexto das grandes navegações
de Brasil, sempre foi uma polêmica historiográfi ca, didática e política, tanto 
na forma de se referir ao evento e quanto nas conotações do emprego de dife-
rentes conceitos. Do ponto de vista historiográfi co, desde a segunda metade 
do século XIX havia uma discussão sobre a intencionalidade dos portugueses 
quanto à chegada na América (VAINFAS, 2000). “Importava saber se foram 
mesmo os portugueses os primeiros a chegarem ao litoral do atual Brasil ou se 
outros europeus os haviam precedido. Importavam saber, em segundo lugar, 
se teria ocorrido intencionalidade lusitana na descoberta ou se, pelo contrário, 
havia sido ela casual, resultado de um desvio de rota na viagem da armada de 
Cabral para a Índia causado por uma tempestade no Atlântico, na altura da 
costa ocidental africana” (VAINFAS, 2000, p. 182).
De acordo com Vainfas (2000), há quatro conjuntos documentais sobre a 
viagem de Cabral e o descobrimento do Brasil: 
  os textos oficiais de preparo da viagem à Índia; 
  os textos dos participantes da viagem; 
  os textos enviados pela coroa portuguesa ao exterior, relatando a 
descoberta; 
  a documentação cartográfica. 
A análise desses documentos, juntamente com as interpretações historio-
gráficas, permite “ao menos presumir que Portugal suspeitava da existência 
de terras no Atlântico sul, a oeste da África, muito antes de 1500. Talvez por 
isso tenha D. João II insistido, depois da viagem de Colombo em 1492, para 
que se estendesse de 100 para 370 léguas o meridiano traçado a oeste de Cabo 
Verde [...] a fim de que parte das terras por descobrir no Atlântico fossem 
portuguesas” (VAINFAS, 2000, p. 183).
A expedição de Pedro Alvares Cabral foi organizada após o retorno de 
Vasco da Gama de sua viagem às Índias. Nascido entre 1468 e 1469, Cabral era 
fidalgo da casa real, chegando posteriormente, por volta de 1494, a cavaleiro da 
Ordem de Cristo, a mais importante ordem de cavalaria de Portugal, supondo-se 
que “alguma coisa tivera feito para merecê-la” (MAGALHÃES, 2013, p. 10).
Cabral saiu de Lisboa no dia 9 de março de 1500 com destino a Calicute, 
na Índia, com o objetivo de estabelecer uma feitoria e celebrar acordos para 
garantir o monopólio comercial português. Sua armada era composta de dez 
naus e três caravelas, totalizando 1.500 homens, incluindo representantes da 
nobreza, artesãos, comerciais, religiosos, soldados e degredados (MAGA-
LHÃES, 2013). Em 22 de abril de 1500, chegaram na América. No dia 26 de 
abril, frei Henrique de Coimbra, capelão da esquadra, celebrou a primeira missa 
Portugal no contexto das grandes navegações10
na nova terra, no local hoje conhecido como Coroa Vermelha, na Bahia. Cabral 
tomou posse formal do novo território em nome da casa real portuguesa em 1º 
de maio. No dia seguinte, a esquadra partiu rumo às Índias. Uma nau voltou 
a Portugal com as cartas dos pilotos, inclusive a de Caminha, que relatavam 
a descoberta ao rei. Ficaram em terra dois desertores e dois marinheiros com 
a missão de aprender a língua dos nativos (MAGALHÃES, 2013).
Os portugueses, ao chegarem na América, não conheciam a dimensão do 
território, e pensaram se tratar de uma ilha que, inicialmente, chamou-se Vera 
Cruz. Após as navegações exploratórias, mudou-se a compreensão sobre o 
espaço e a territorialidade, e as terras conquistadas por Portugal também foram 
mudando de nome: Terra de Santa Cruz, Terra dos Papagaios, Terra dos Brasis. 
Esses diferentes nomes aparecem nos mapas elaborados à época (SOUZA, 2013).
Nos anos seguintes, foram enviados ao território uma série de expedições 
de reconhecimento, e nessas viagens, muitos homens se estabeleceram na 
América. Além de degredados expulsos de Portugal, havia aqueles que se 
sentiam atraídos pela possibilidade de enriquecer, comerciantes, nobres em-
pobrecidos em busca de ouro, aventureiros, oficiais reais, soldados, náufragos, 
desertores, religiosos e cristão novos (COSTA, 1956).
BLANCO, A. L. Possíveis representações da sociedade portuguesa dos séculos XIV e XV nas 
crônicas de Fernão Lopes e Gomes Eannes de Zurara: a produção de memória da Dinastia 
de Avis. 2016. 110 f. Dissertação (Mestrado) — Universidade Federal Rural do Rio de 
Janeiro, 2016.
COELHO,A. B. Clérigos, mercadores, “judeus” e fidalgos. Lisboa: Caminho, 1994.
COELHO, A. B. Os argonautas portugueses e o seu velo de ouro (séculos XV–XVI). In: 
MATTOSO, J. (Org.). História de Portugal. Bauru: Edusc, 2000.
CONFORTO, M. Descobrindo o paraíso. Métis: história & cultura, v. 2, n. 3, p. 249–259, 
jan./jun. 2003.
COSER, M. C. A dinastia de Avis e a construção da memória do reino português: uma 
análise das crônicas oficiais. Especiaria: Cadernos de Ciências Humanas, v. 10, n. 18, p. 
703–731, 2015.
COSTA, E. V. Primeiros povoadores do Brasil. O problema dos degredados. Revista de 
História, v. 13, n. 27, p. 3–23, 1956.
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995.
11Portugal no contexto das grandes navegações
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a 
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de 
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade 
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.
JOÃO, M. I. Sagres, lugar mítico da memória. In: CARVALHO, D. (Ed.). Des(a)fiando discur-
sos: homenagem a Maria Emília Ricardo Marques. Lisboa: Universidade Aberta, 2005.
MAGALHÃES, J. R. Quem descobriu o Brasil? In: FIGUEIREDO, L. (Org.). História do Brasil 
para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.
RAMOS, F. P. Os problemas enfrentados no cotidiano das navegações portuguesas da 
carreira da Índia: fator de abandono gradual da rota das especiarias. Revista de História, 
n. 137, p. 75–94, 1997.
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Leituras recomendadas
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GODINHO, V. M. Portugal: a emergência de uma nação (das raízes a 1480). Lisboa: 
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THOMAZ, L. F. De Ceuta a Timor. Lisboa: Difel, 1998.
Portugal no contexto das grandes navegações12

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