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Apostila-História-da-Filosofia-Moderna

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 HISTÓRIA DA FILOSOFIA MODERNA 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4 
2 AS BASES DO PENSAMENTO MODERNO ................................................................... 5 
2.1 A FILOSOFIA NA IDADE MODERNA .............................................................................. 5 
2.2 A CIÊNCIA NA IDADE MODERNA ................................................................................. 8 
2.3 OS ESTADOS NACIONAIS E O MERCANTILISMO.......................................................... 12 
3 HUMANISMO, RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA .................................. 16 
3.1 HUMANISMO ..........................................................................................................16 
3.2 RENASCIMENTO..................................................................................................... 17 
3.3 REFORMA PROTESTANTE E CONTRARREFORMA ....................................................... 20 
3.4 CONTRARREFORMA ............................................................................................... 22 
3.5 NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527) ......................................................................... 25 
3.6 MICHEL DE MONTAIGNE (1533-1592) ..................................................................... 29 
3.7 FILOSOFAR É APRENDER A MORRER ........................................................................ 31 
3.8 REVOLUÇÃO CIENTÍFICA......................................................................................... 33 
4 O PROBLEMA DO CONHECIMENTO ........................................................................... 34 
4.1 RACIONALISMO ...................................................................................................... 35 
4.2 O PROJETO FILOSÓFICO CARTESIANO ...................................................................... 36 
4.3 O MÉTODO.............. ............................................................................................. 38 
4.4 O COGITO, FUNDAMENTO DA FILOSOFIA CARTESIANA ................................................ 41 
4.5 MÉTODO GEOMÉTRICO ........................................................................................... 43 
4.6 EMPIRISMO ..........................................................................................................46 
4.7 O EMPIRISMO A PARTIR DE BACON E O MÉTODO INDUTIVO ......................................... 48 
4.8 PENSAMENTO CRÍTICO – TEORIA DOS ÍDOLOS .......................................................... 49 
4.9 O EMPIRISMO A PARTIR DE LOCKE (1632 – 1704) .................................................... 50 
4.10 CRÍTICA ÀS IDEIAS INATAS .................................................................................. 51 
4.11 CETICISMO ....................................................................................................... 53 
5 IDEALISMO ALEMÃO .................................................................................................... 57 
5.1 ILUMINISMO........... ................................................................................................ 57 
5.2 ROMANTISMO ........................................................................................................ 60 
5.3 IDEALISMO TRANSCENDENTAL A PARTIR DE IMMANUEL KANT ..................................... 63 
 
3 
 
5.4 O QUE É CONHECER?............................................................................................. 65 
6 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ................................................................................................ 73 
6.1 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR .................................................................... 73 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 AS BASES DO PENSAMENTO MODERNO 
 
A Idade Moderna foi um período marcado por continuidades e transformações 
em relação ao mundo medieval. A cultura, a economia, a política e a sociedade foram 
afetadas por novas visões de mundo e novos questionamentos. Em alguns aspectos, 
coexistiam traços do medievo com características que poderíamos atribuir à 
modernidade. 
Neste capítulo, você vai aprender a comparar e diferenciar as linhas de 
pensamento que surgiram na Idade Moderna com a filosofia medieval. Para isso, verá 
de que forma a ciência influenciou as mudanças na concepção dos indivíduos sobre 
sua subjetividade, sobre suas relações com a natureza e sobre o mundo e, por fim, 
vai analisar a relação dos Estados Nacionais com a prática mercantilista. 
 
2.1 A filosofia na Idade Moderna 
 
Do ponto de vista cultural, compreendendo “cultura” em suas diferentes 
manifestações (artísticas, filosóficas, religiosas), a Idade Moderna se caracterizou 
pela emergência de novas visões de mundo e novos valores, que transformaram a 
forma de compreender o ser humano e sua relação com a natureza por meio da 
mescla com a cultura medieval, ou em sua total transformação. 
 Nesse sentido, a emergência do humanismo é um marco significativo no 
pensamento moderno. Os humanistas, para Sevcenko (1994, p. 14), eram: 
 
[...] um conjunto de indivíduos que desde o século anterior [século XIV] vinha 
se esforçando para modificar e renovar o padrão de estudos ministrados 
tradicionalmente nas universidades medievais. Esses centros de formação 
intelectual e profissional eram dominados pela cultura da Igreja e voltados 
para as três carreiras tradicionais: direito, medicina e teologia. Estavam, 
portanto, empenhados em transmitir aos seus alunos uma concepção 
estática, hierárquica e dogmática da sociedade, da natureza e das coisas 
sagradas, de forma a preservar a ordem feudal. 
 
6 
 
Essa forma de ensino não era mais condizente com as transformações 
econômicas, políticas e sociais ocorridas na Europa Ocidental. 
Os humanistas, portanto, surgiram como um “movimento” para atualizar, 
dinamizar e revitalizar os estudos universitários, incluindo os “estudos humanísticos” 
nos currículos, ou seja, a filosofia, a história, a matemática e a retórica. Para o estudo 
dessas disciplinas, era necessário o domínio das línguas clássicas (grego e latim) e 
do árabe, do aramaico e do hebraico, o que significava, também, que esses estudos 
deveriam ser realizados a partir de textos dos autores da Antiguidade Clássica, 
excluindo-se os manuais de textos medievais. “Significava, pois, um desafio para a 
cultura dominante e uma tentativa de abolir a tradição intelectual medieval e de buscar 
novas raízes para a elaboração de uma nova cultura” (SEVCENKO, 1994, p. 15). 
Nesse sentido, o projeto humanista chocava-se diretamente com as práticas e 
os valores da Igreja Católica. Isso não quer dizer que os humanistas fossem ateus ou 
pagãos: “[...] eram todos cristãos e apenas desejavamreinterpretar a mensagem do 
Evangelho à luz da experiência e dos valores da Antiguidade. Valores esses que 
exaltavam o indivíduo, os feitos históricos, a vontade e a capacidade de ação do 
homem, sua liberdade de atuação e de participação na vida das cidades” 
(SEVCENKO, 1994, p. 15). É a partir dessa proposta que se desenvolve uma das 
características do pensamento moderno, o antropocentrismo, pois os humanistas 
acreditavam nas capacidades espirituais e físicas dos seres humanos em detrimento 
de uma cultura teocêntrica. Essa compreensão sobre os indivíduos e sobre o mundo 
encontrava uma enorme receptividade nos estratos burgueses da sociedade. 
 Os “antigos” eram, para esses pensadores, uma inspiração em seus atos, suas 
crenças e suas realizações para o comportamento dos europeus, “[...] um 
comportamento calcado na determinação da vontade, no desejo de conquistas e no 
anseio do novo” (SEVCENKO, 1994, p. 15). Souza e Öelze (1998, p. 178) identificam 
nesse comportamento um “espírito de aventura”, que seria característico ao indivíduo 
moderno: 
 
Na aventura, procedemos de um modo diametralmente oposto: apostamos 
tudo justamente na chance flutuante, no destino e no que é impreciso, 
derrubamos a ponte atrás de nós, adentramos o nevoeiro, como se o caminho 
devesse nos conduzir sob quaisquer circunstâncias; [...] por isso a atividade 
do aventureiro frequentemente parece loucura aos olhos do homem sóbrio, 
porque, para que tenha sentido, ela parece ter como pré-requisito o que o 
insondável seja sabido. 
 
7 
 
Fique Atento! 
 
Como surge o interesse dos humanistas pela crítica histórica? Francesco Petrarca, 
um dos precursores do “movimento” humanista, afirmava que os autores e obras da 
Antiguidade Clássica deveriam ser recuperados a partir de uma crítica filológica 
(estudo da linguagem e dos textos), estabelecendo “[...] a mais perfeita versão e a 
leitura mais cristalina” (SEVCENKO, 1994, p. 16), pois a cultura medieval poderia 
ter deturpado seus sentidos. Da crítica interna a essas obras, derivou a 
preocupação com as circunstâncias e os períodos em que foram escritas, 
buscando-se as características das sociedades antigas, ou seja, a crítica histórica. 
 
Entretanto, as contribuições dos humanistas à cultura e ao pensamento 
moderno não se restringiram ao âmbito educativo e à temática da antiguidade. De 
acordo com Sevcenko (1994, p. 16), os humanistas “[...] estabeleceram em primeiro 
lugar as bases das línguas nacionais da Europa moderna e passaram, em seguida, 
ao estudo histórico das novas sociedades urbanas e dos novos Estados monárquicos. 
Eles davam assim sua contribuição para a consolidação dos Estados-nações 
modernos”. Assim, “humanistas” deixou de ser um termo utilizado para designar o 
movimento de renovação dos estudos universitários para abranger todos aqueles que 
criticavam a cultura tradicional e apoiavam um novo código comportamental e de 
valores, centrado no indivíduo e em sua capacidade realizadora. 
Mas de que forma o pensamento humanista se confrontava com a cultura 
medieval? Primeiramente, em relação a seu espírito crítico, voltado para a percepção 
da mudança e para a transformação das tradições e dos costumes. Essa atividade 
crítica se chocava diretamente com o pensamento medieval e os valores da Igreja 
Católica, caracterizados pela estabilidade, pela imutabilidade e pela preocupação com 
o mundo transcendental. O clero reforçava a submissão dos seres humanos a Deus, 
ao clero e à nobreza, exaltando valores como a disciplina, a mansidão e a piedade. 
 
Os humanistas, por sua vez, voltavam-se para o aqui e o agora, para o mundo 
concreto dos seres humanos em luta entre si e com a natureza, a fim de terem 
um controle maior sobre o próprio destino [...] valorizavam o que de divino 
havia em cada homem, induzindo-o a expandir suas forças, a criar e a 
produzir, agindo sobre o mundo para transformá-lo de acordo com sua 
vontade e seu interesse (SEVCENKO, 1994, p. 17). 
 
8 
 
A reação da Igreja Católica ao pensamento humanista foi voraz. Sevcenko 
(1994, p. 17-18) lembra as penas às quais foram submetidos uma série de 
humanistas: alguns, como Dante e Maquiavel, sofreram com o exílio, outros, como 
Campanella e Galileu “foram submetidos à prisão e tortura, Thomas Morus foi 
decapitado por ordem de Henrique VIII, Giordano Bruno e Étienne Dolet foram 
condenados à fogueira pela Inquisição, Miguel de Servet foi igualmente queimado vivo 
pelos calvinistas de Genebra, para só mencionarmos o destino trágico de alguns dos 
mais famosos representantes do humanismo”. 
 
2.2 A ciência na Idade Moderna 
 
https://farolbi.com.br/o-que-e-ciencia-dos-dados/ 
Durante a Idade Média na Europa Ocidental, boa parte das explicações sobre 
os fenômenos astrológicos, climáticos e naturais era dada por componentes de fé e 
pela providência divina. O conhecimento era especulativo e tinha como base o 
dogmatismo a partir de interpretações bíblicas. 
Podemos afirmar que a ciência na Idade Moderna influenciou e foi influenciada 
pelas transformações no âmbito da cultura, já que uma de suas principais 
características, a experimentação, decorre de uma nova concepção de homem como 
 
9 
 
ser de conhecimento, ao mesmo tempo que permite reforçar a laicização, a 
racionalidade e a secularização da ciência. 
 
O traço mais característico da ciência moderna é a ideia de método, e mais 
especificamente de método hipotético-dedutivo. Tornam-se necessárias 
hipóteses como tentativas de solução de problemas; hipóteses das quais se 
deduzem consequências experimentais publicamente controláveis. É a ideia 
de ciência metodologicamente controlada e publicamente controlável que, de 
um lado, exige as novas instituições – sedes de discussões, confrontos e 
controles – como as academias e os laboratórios, e de outro funda a 
autonomia da ciência em relação à fé; [...] (REALE; ANTISERI, 2004, p. 139). 
Com Copérnico e Galilei, a Terra é deslocada do centro do universo, 
contrariando um dos principais dogmas da Igreja Católica, que compreendia o planeta 
como centro do universo criado por Deus, em que os seres humanos seriam o cume 
do processo de criação. Os impactos dessa “revolução científica” podem ser medidos 
a partir das seguintes perguntas, que questionavam as certezas provenientes da 
cultura medieval: 
 
E se a terra não é mais o lugar privilegiado da criação e se ela não é diferente 
dos outros corpos celestes, então não poderia haver outros homens também 
em outros planetas? E, ocorrendo isso, como poderia resistir a verdade da 
narração bíblica sobre a descendência de todos os homens de Adão e Eva? 
E como é que Deus, que desceu nesta terra para redimir os homens, poderia 
ter redimido outros eventuais homens? (REALE; ANTISERI, 2004, p. 143). 
 
Saiba mais! 
 
O surgimento e a disseminação da teoria heliocêntrica levou a profundas 
transformações na cultura. Blaise Pascal, pensador francês, afirmava que o silêncio 
eterno desses espaços infinitos lhe apavorava, o que, segundo Porto e Porto (2008, 
p. 4.600-4.601), seria um indício “[...] do sentimento de estranhamento do ser 
humano em face de um universo com o qual não mais se comunicava 
simbolicamente”. Com a destruição do cosmos geocêntrico, o homem moderno foi 
tomado por um sentimento de intensa perplexidade diante de um novo universo, 
impessoal e refratário à atribuição de qualquer significado simbólico. 
 
 
10 
 
As descobertas e os inventos científicos da modernidade, juntamente com as 
descobertas e as conquistas de outros territórios no planeta, levaram a mudanças 
econômicas e políticas, mas também a profundas transformações antropológicas e 
religiosas. Os indivíduos modernos interpretaram a revolução científica “[...] como uma 
confirmação de sua situação singular no Universo, pela sua aparentemente ilimitada 
capacidade de compreensão da realidade a sua volta, cuja máxima expressão se deu 
com a previsibilidadee o determinismo causal da mecânica newtoniana” (PORTO; 
PORTO, 2009, p. 4.601-4.602). 
Nesse sentido, torna-se importante a discussão sobre a relação entre o homem 
e a natureza, em que o mundo é objetivado, e “[...] a natureza transforma-se na fonte 
única, para a técnica, a ciência e a indústria” (BATISTELA; BONETI, 2008, documento 
on-line). 
 
O entendimento da modernidade, especialmente pela perspectiva do padrão 
relacional sociedade/natureza, depende, fundamentalmente, da 
compreensão da instauração de algumas ideias-chave, a partir das quais 
edifica-se o construto ideacional moderno, que serve como cosmovisão 
norteadora do desenvolvimento das sociedades humanas a partir do século 
XVII. 
 
O humanismo e o antropocentrismo, dessa forma, contribuem para o 
desenvolvimento de uma percepção do potencial humano para compreender a 
realidade e não se limitar às concepções dogmáticas religiosas. 
 
A modernidade se instaura, portanto, sobre o desvelamento dessa 
indeterminação existencial no humano; quer dizer, sobre a perspectiva de que 
nada parece prescrever, deterministicamente, nosso devir histórico. Não 
precisamos estar, então, necessariamente, atrelados à dinâmica natural; 
podemos transbordá-la, subvertê-la, subjugá-la: eis o ideário liberal da 
modernidade, vivenciado pelo liberalismo, que rompeu com a visão da 
providência divina, dando ao homem um caráter histórico e livre (BATISTELA; 
BONETI, 2008, documento on-line). 
 
Nesse sentido, um dos principais contribuidores para o desenvolvimento da 
ciência moderna foi Galileu Galilei, no sentido de sua crença no potencial cognoscente 
do ser humano a partir da aposta na experimentação como forma de compreensão e 
transformação do real. Com Galileu, ocorre “[...] uma intensificação singular no 
 
11 
 
processo de conhecimento humano da realidade, fundamentado na ênfase na 
medição da concretude do real pelo aporte do método quantitativo” (BATISTELA; 
BONETI, 2008, documento on-line). Segundo sua ideia, certamente original, o ser 
humano pode desvendar a realidade ao dirigir a atenção para as propriedades 
quantificáveis da matéria. “É o que empreende Galileu, cujo êxito é conhecido 
historicamente. Sua defesa da teoria heliocêntrica é que acaba provocando toda a 
revolução científica que está na base da edificação da modernidade” (BATISTELA; 
BONETI, 2008, documento on-line). 
Essa compreensão é desenvolvida, filosoficamente, por René Descartes (1596-
1650), filósofo francês do século XVII que pode ser considerado um pensador que 
demarca as bases do pensamento moderno, que teoriza sobre a essência do ser 
humano e da realidade. Segundo Batistela e Boneti (2008, documento on-line) 
Descartes objetivava, assim, 
 
[...] a construção de uma ciência radicalmente nova, alicerçada em bases 
sólidas e inabaláveis, cuja essência seria sua redutibilidade matemática e sua 
consequente indubitabilidade científica. Para tanto, embrenhou-se Descartes 
no famoso método da dúvida metódica, revendo sistematicamente todos os 
seus conhecimentos à procura de toda forma de dúvida e/ou certezas 
inabaláveis. Ao cabo do processo deparou-se com infindáveis meandros de 
dúvidas e uma única certeza indubitável, inabalável, matemática, sintetizada 
na frase “cogito, ergo sum” (penso, logo existo). 
 
Assim, podemos afirmar que tanto a ciência quanto a filosofia moderna foram 
constituídas paulatinamente por meio de elementos presentes na cultura medieval da 
Europa Ocidental, do contato cultural com outros povos a partir das rotas comerciais 
e dos descobrimentos e da recuperação de autores e obras da Antiguidade Clássica. 
Dessa forma, foi-se desenvolvendo um ideal de liberdade e de razão como formas de 
orientação do conhecimento, aliadas ao antropocentrismo, com a autonomia e a 
responsabilidade do sujeito, em contraposição ao mundo revelado da Igreja Católica 
e característico da cultura medieval. As verdades não seriam mais dogmas revelados 
a partir das escrituras ou fenômenos espirituais, mas era necessário fabricar o 
conhecimento (CALDAS; 2018). 
 
 
12 
 
2.3 Os Estados Nacionais e o mercantilismo 
 
O processo de formação dos Estados Modernos se deu a partir de uma série 
de transformações culturais, econômicas, políticas e sociais ocorridas desde a Baixa 
Idade Média, todas de mútua influência. 
 
 
https://www.educamaisbrasil.com.br 
A organização do sistema bancário, as grandes navegações e 
descobrimentos, o desenvolvimento das cidades, a perda por parte da Igreja 
do monopólio de explicação dos fenômenos naturais e humanos, o declínio 
do poder dos senhores feudais e da Igreja, tornou o homem moderno mais 
crente em si mesmo, deixando de almejar tanto Deus e passando a prestar 
mais atenção aos semelhantes e ao ambiente que o rodeava. Liberto da 
onipresença divina o homem se tornou livre para ser e construir o que quiser 
(GODINHO, 2012, documento on-line) 
 
Sabemos que o fortalecimento do poder real, com a expansão de suas 
atribuições, influências e poderes, decorre da perda de poder econômico e político da 
nobreza feudal e do apoio recebido da burguesia, que via no monarca 
 
 
13 
 
[...] um recurso legítimo contra as arbitrariedades da nobreza e um defensor 
de seus mercados contra a penetração de concorrentes estrangeiros. A 
unificação política significava também a unificação das moedas e dos 
impostos, das leis e normas, de pesos e medidas, fronteiras e aduanas. [...] 
Com a grande expansão do comércio, a monarquia nacional criaria a 
condição política indispensável à definição dos mercados nacionais e à 
regularização da economia internacional (SEVCENKO, 1994, p. 9). 
 
De acordo com Nunes (2007, p. 302): 
 
Na base das concepções fundamentais dos mercantilistas está, no entanto, 
uma filosofia individualista de busca do máximo lucro a partir do aumento da 
produção e do comércio. A atuação dos regimes mercantilistas caracterizou- 
-se, de resto, pela ajuda prestada às atividades privadas, incentivando-as e 
protegendo-as nos primeiros passos do seu desenvolvimento em moldes 
capitalistas. [...] Historicamente, o mercantilismo contribuiu, no plano doutrinal 
e no plano da ação política, para a acumulação de capitais necessária à 
implantação do capitalismo como modo de produção dominante. 
 
É durante esse período da Idade Moderna que a economia passa a ter um 
caráter nacional, ou seja, ser desenvolvida entre nações, e não entre indivíduos. Esse 
caráter se dá a partir das funções que os soberanos dos Estados Modernos passam 
a desempenhar em relação à economia, considerados como condutores do sistema 
econômico. 
Veja, a seguir, algumas das características da política econômica mercantilista 
de acordo com Nunes (2007): 
 
 política de incentivo à exportação de produtos manufaturados; 
 proibição da exportação de matérias-primas e dos capitais necessários 
à indústria nacional; 
 limitação da importação de produtos estrangeiros, excetos os de 
utilidade para a indústria nacional; 
 reserva de mercado para os comerciantes nacionais; 
 política de fomento às manufaturas; 
 liberdade de comércio interno, unificando o mercado dentro das 
fronteiras dos reinos; 
 
14 
 
 práticas colonialistas como busca de novos mercados e novas fontes de 
matérias-primas. 
A faceta metalista do mercantilismo, ou seja, a adoção da quantidade de metais 
preciosos que uma nação possui como forma de riqueza, estabeleceu- -se a partir do 
renascimento comercial das cidades e da emergência de uma classe comerciante e 
manufatureira que transformou as relações de trabalho (BAUER, 2020). 
A política mercantil entendia a riqueza e o desenvolvimento como dependentes 
de um Estado, que deveria unificar a tributação, controlar a atividade produtiva e 
estabelecer um sistema alfandegário para proteger os produtores do seu país. O 
Estado deveria manter uma balança comercial favorável, ou seja, exportar mais do 
que importar. Devido à necessidadede manutenção dessa balança favorável, 
associada ao metalismo, os governos mercantilistas foram levados a argumentar em 
favor da autossuficiência interna e da prática do monopólio, o direito exclusivo do 
monarca sobre a economia. 
Foram subvencionadas indústrias para garantir o abastecimento do mercado 
interno, mas, como a riqueza só podia ser medida a partir do comércio exterior e do 
fluxo de metais em seu território, a sustentação do sistema mercantil vai depender do 
sistema colonial. Assim, o governo vai licenciar companhias para o comércio 
ultramarino e promover a organização dos territórios ocupados. 
 Diferentes tipos de mercantilismo foram adotados nos países europeus, e o 
critério para definir cada tipo de mercantilismo foi a posse ou não de territórios 
coloniais e o tipo de produto que forneciam. A expansão marítima europeia trouxe o 
domínio de novos territórios, novas fontes de riquezas e novos braços de trabalho ao 
antigo continente. A estruturação do sistema de exploração colonial só foi possível 
após o entendimento da necessidade de gerar riqueza neste território. 
No entanto, a relação entre os Estados Nacionais e a burguesia não se limitou 
somente ao âmbito econômico. De acordo com Sevcenko (1994, p. 9), para a criação 
e manutenção do poder, era preciso, nesse momento, “contar com um grande e 
temível exército de mercenários, um vasto corpo de funcionários burocráticos de corte 
e de província, um círculo de juristas que instituísse, legitimasse e zelasse por uma 
nova ordem sócio-político-econômica e um quadro fiel de diplomatas e espiões, 
ocultos e eficientes”. Segundo o autor, esses homens mais provavelmente estariam 
nos escalões da burguesia. 
 
15 
 
 
Saiba mais 
 
De que forma as casas comerciais burguesas lucravam com sua inserção no Estado 
Moderno? Sevcenko (1994, p. 10-11) nos responde essa questão, afirmando que o 
Estado se tornou uma vasta empresa: 
 
Todas essas casas comerciais possuíam uma enorme burocracia, que 
abrangia dimensões tanto nacionais como internacionais, graças às suas 
inúmeras agências, feitorias e entrepostos. Desenvolviam igualmente um 
sistema completo de contabilidade e de administração empresarial e 
financeira. Não relutavam, mesmo quando necessário, em contratar com 
companhias especializadas os serviços de corpos de mercenários para a 
guerra, para combater revoltas populares ou para simples ameaça. E o que 
era o Estado moderno senão a ampliação de uma empresa comercial, cujo 
controle decisório estava nas mãos o rei, sendo que este se aconselhava 
com os assessores financeiros, fiscais, comerciais, militares, com os 
diplomatas e espiões antes de qualquer gesto? Era natural, portanto, que 
os monarcas buscassem o apoio, a inspiração e encontrassem parte de 
seu pessoal junto a essas grandes casas comerciais. Normalmente o 
acordo incluía a concessão dos direitos de exploração de minas de metais 
preciosos e ordinários, de sal e alume, o monopólio sobre certos artigos 
comerciais e o arrendamento da cobrança de impostos. Os lucros e o poder 
que tais privilégios propiciavam a seus detentores eram extraordinários e 
faziam com que eles se tornassem verdadeiros patronos dos Estados aos 
quais se associavam. Tem-se, dessa forma, a imagem de um Estado 
transformado numa vasta empresa e ele próprio dominado por uma ou 
algumas casas financeiras. 
 
Não podemos esquecer, portanto, que a passagem da Idade Média para a 
Idade Moderna, com a ascensão da burguesia e o desenvolvimento de práticas 
mercantilistas, marca, também, o desenvolvimento do conceito moderno de Estado, 
como estudou Skinner (1996, p. 10): “O poder do Estado, e não o do governante, 
passou a ser considerado a base do governo. E isso, por sua vez, permitiu que o 
Estado fosse conceitualizado em termos caracteristicamente modernos — como a 
única fonte da lei e da força legítima dentro de seu território, e como o único objeto 
adequado da lealdade de seus súditos”. 
 
16 
 
3 HUMANISMO, RENASCIMENTO E REVOLUÇÃO CIENTÍFICA 
3.1 Humanismo 
 
De acordo com Abbagnano (2007, p. 602), o Humanismo, característico da 
modernidade, se apresenta sob duas abordagens distintas: histórica e filosófica. 
No panorama histórico, o Humanismo representa um movimento artístico, 
filosófico e literário originário da segunda metade do século XIV na Itália, alastrando-
se por toda a Europa e tornando-se um aspecto essencial do Renascimento – período 
histórico do qual partiremos para constituirmos nossas pesquisas sobre a Filosofia 
Moderna. Isto é, introduz uma nova maneira de pensar, que tem como interesse 
desvencilhar-se das bases metafísicas do pensamento medieval a partir do 
reconhecimento do valor do homem em sua totalidade. O homem passa a ser 
compreendido como natural e histórico. 
No ponto de vista filosófico, denomina-se humanista toda filosofia que assume 
como eixo central o homem, que se baseie na natureza humana ponderando seus 
interesses e seus limites, e, assentando-se nisso, redimensione os problemas 
filosóficos. Nas palavras de Abbagnano (2007, p. 603): 
 
No léxico filosófico atual fala-se de Humanismo a propósito: a) das teorias 
que veem no homem – e não fora do homem – o centro da realidade e do 
saber; b) das teorias que visam a salvaguardar a “dignidade” do homem 
diante das forças que a ameaçam (nesta acepção costuma-se falar em 
Humanismo existencialista, cristão, marxista etc.). 
De forma geral, podemos garantir que o Humanismo é uma atitude filosófica 
que confere ao homem um valor supremo, dispondo-o como medida na procura pelo 
conhecimento. São frequentemente conferidas como características do Humanismo: 
o reconhecimento do homem como ser composto de corpo e alma, que tem lugar 
central na natureza, que é dotado de liberdade e tem seu futuro desenhado pelo poder 
de domínio sobre a natureza; a assimilação do homem como ser social e histórico, 
que possui conexões com o passado (tais conexões tanto podem aproximar quanto 
distinguir o homem desse passado); mais uma característica relevante do Humanismo 
conserva com a própria origem do termo uma relação muito estreita, trata-se da 
 
17 
 
valorização da palavra humanistas, traço característico da paidéia grega; enfim, o 
reconhecimento do homem como ser natural, para o qual o conhecimento da natureza 
é fator imprescindível para a vida. 
3.2 Renascimento 
 
As transformações sucedidas na Europa a partir do século XII, como o 
desenvolvimento das cidades, do comércio e a expansão marítima, foram 
acompanhadas por um intenso movimento cultural. Diferente do que se via na Idade 
Média, nos séculos XV e XVI apareceram numerosos escritores, pintores e escultores 
que procuravam retratar os valores daquela nova era, isto é, propagavam em suas 
obras as modificações advindas na maneira de interpretar o mundo europeu 
renascentista (CALDAS; 2018). 
 É possível apontar como pontos comuns de toda a produção renascentista, em 
primeiro lugar, a retomada da cultura greco-romana, por avaliarem que estes 
possuíam um saber muito mais extenso no que concerne à vida e suas possibilidades, 
distinta da visão de mundo predominante na Idade Média. Em segundo lugar, 
podemos direcionar como ponto comum a valorização do ser humano. Este compõe-
se como um ponto de essencial relevância neste período, pois é a partir da 
compreensão do homem como eixo central para o entendimento do universo que vai 
se ampliar o antropocentrismo, ideia que se contrapõe ao teocentrismo, predominante 
na Idade Média, quando o mundo era interpretado como manifestação divina. Outro 
ponto importante a avaliar, é a mudança de valores em relação à vida. Em função da 
compreensão espalhada até então, a vida das pessoas se reduzia à prática religiosa 
ou à prática da guerra, mas com as modificações sucedidas, outras maneiras de vida 
passaram a ser valorizadas, tornando possível uma vida voltada a diferentes 
interesses como a literatura,as artes e a vida pública. Uma figura de ampla 
importância para o Renascimento, e de grande representatividade desse novo modelo 
de vida, é Leonardo Da Vinci (pintor, escultor, literato e cientista). Por fim, temos, 
também como ponto comum, a valorização da razão e da natureza. O Renascimento, 
conforme veremos, foi caracterizado pelo racionalismo, que se traduziu na elaboração 
e aplicação de métodos experimentais e na observação da natureza. 
 
18 
 
Figura 1 - O Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci
 
https://gq.globo.com 
Atenção! 
O Homem Vitruviano é uma obra de 1490 e foi primeiramente fundamentada na 
obra do arquiteto romano Marcus Vitruvius. A obra faz menção às proporções 
anatômicas divinas perfeitas, demonstrando a perspectiva do ideal humano. É, 
também, uma retomada dos traços característicos da cultura greco-romana, como 
o realismo e a perfeição das formas. 
 
O Renascimento aconteceu primeiramente em determinadas cidades da Itália, 
em função do desenvolvimento comercial, se difundindo em seguida por toda a 
Europa. Na Itália, os nomes de maiores destaques foram: Leonardo da Vinci (1452-
1519), Michelangelo Buonarroti (1475-1564), Rafael Sanzio (1483-1520), Sandro 
Botticelli (1444-1510), Galileu Galilei (1564-1642) e Nicolau Maquiavel (1469-1527). 
https://gq.globo.com/
 
19 
 
No restante da Europa, o Renascimento adquiriu contornos distintos daqueles 
adquiridos na península Itálica. O historiador Edward Burns, interpreta as diferenças 
existentes nas manifestações do Renascimento pelas várias regiões da Europa em 
sua obra História da Civilização Ocidental: 
 
Na península itálica, alegres, descuidados e despidas de rigidez moral, as 
pessoas inclinavam-se a procurar na arte e na literatura o meio mais propício 
para expressão de seus sentimentos. Além disso eram herdeiras das 
tradições clássicas que ainda alimentavam mais seus interesses estéticos. 
Por outro lado, o europeu setentrional (do Norte), devido à luta mais árdua 
pela existência, tendia para objetivos mais sérios e práticos. Inclinava-se a 
encarar os problemas da vida de um ângulo moral e religioso: tudo era 
questão de bem ou de mal, a nada se atribuía valor só por ser belo. (BURNS, 
1970, p. 421). 
Abaixo temos os demais países europeus onde o Renascimento se 
estabeleceu e seus principais representantes: 
• Países Baixos – Considerado um dos mais ilustres humanistas da 
renascença, Erasmo de Roterdã (1466-1536) elabora ferrenha crítica à sociedade em 
que vivia na obra Elogio da Loucura; 
 • França – Os principais representantes do Renascimento francês foram 
François Rabelais (1494-1555), que escarneceu a monarquia e o Cristianismo em 
suas obras, e Michel de Montaigne (1533-1592) autor da obra Ensaios; 
• Inglaterra – O principal representante do Renascimento inglês foi William 
Shakespeare (1564-1616); 
 • Espanha – Na literatura renascentista espanhola, temos como principal 
expoente Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de Dom Quixote de la Mancha. 
 
Tabela 1 – Quadro sinótico 
Plano econômico Plano religioso Plano político-social 
Transição da economia 
feudal para a economia de 
mercado 
Crise na Igreja, 
ocasionada pela baixa 
confiança passada pelo 
clero aos fiéis 
Substituição do estado 
feudal pelos estados 
nacionais centralizados 
Revolução comercial 
estimulada pelas 
navegações 
Insatisfação da burguesia 
(classe em ascensão) em 
função das restrições do 
Substituição da sociedade 
rural pela urbana 
(nascimento das cidades) 
 
20 
 
clero ao comércio e ao 
lucro 
*** Reforma Protestante e 
Contrarreforma 
*** 
RENASCIMENTO – Movimento intelectual que consistia numa forma laica de expressão da cultura 
burguesa, abarcando os campos literário, artístico, filosófico e científico. 
Fonte: Elaborada pela Autora 
 
Saiba mais! 
 
William Shakespeare foi o maior poeta e dramaturgo da Inglaterra e um dos maiores 
de todos os tempos. Entre suas obras destacam-se aquelas pertencentes aos 
gêneros da comédia e tragédia: Romeu e Julieta, Hamlet, Muito barulho por nada, 
Júlio César, Otelo etc. Em suas obras, descreve de maneira maravilhosa os 
sentimentos e as paixões humanas. 
 
3.3 Reforma Protestante e Contrarreforma 
 
No século XVI, o poder e a grande influência da Igreja Católica foram abalados 
de forma profunda, por um movimento de contestação à sua autoridade e doutrina. 
Esse movimento, teve como principais representantes: Martinho Lutero (1483-1546), 
fundador do Luteranismo no Sacro Império; João Calvino (1509-1564), que fundou o 
Calvinismo na Suíça; e Henrique VIII (1491-1547), que criou o Anglicanismo depois 
dos movimentos de protesto e rebeldia na Inglaterra. Todos esses movimentos 
receberam o nome de Reforma Protestante. 
A Reforma Protestante colaborou também para modificações, a principal, 
podemos citar, foi a desestabilização do domínio da Igreja Católica Romana ao fazer-
se apelo à consciência de cada um. A Reforma proclama o retorno à Escritura e a 
primazia da Bíblia. Fé e graça ocasionam a salvação aos homens. A adesão profunda 
do coração é muito mais relevante que as obras. Nesse caso, o destaque é colocado 
no sujeito e na pessoa, no ser humano distinto dos outros. Acontece, portanto, uma 
 
21 
 
drástica revolução espiritual visto que o conhecimento direto da Escritura é muito mais 
importante que a tradição da igreja (CALDAS; 2018). 
 
https://gustoporlahistoria.com 
Vários foram os fatores que colaboraram para a irrupção da Reforma, não 
apenas questões religiosas, mas questões políticas, econômicas e culturais. Dessa 
forma, foram inúmeras as implicações derivadas desses movimentos. No campo 
religioso, via-se até a época da Reforma, a vida das pessoas serem tomadas pelos 
sentimentos de medo e culpa ocasionados pela ideia de pecado, o que gerava a 
procura incessante pela salvação por meios de orações e doações de bens e dinheiro 
à igreja, enquanto os papas e bispos habitavam no luxo tendo como preocupação 
apenas os seus ganhos e descuidando-se das suas obrigações religiosas. No campo 
econômico, a Igreja condenava as atividades burguesas afirmando que a prática 
comercial desagradava a Deus. Atividades como o comércio, a procura de lucro e a 
usura eram interpretadas como pecado, isso provocava ampla insatisfação na classe 
burguesa, que se via prejudicada pela permanência de um pensamento tipicamente 
feudal causado pelo posicionamento tomado pela igreja. No campo político, o poder 
que antes concentrava-se na figura do papa em várias regiões da Europa, passa a ser 
 
22 
 
concentrado nas “mãos” do rei, originando violenta oposição à interferência 
estrangeira, por conseguinte, ao papa. No campo cultural, podemos apontar, em 
primeiro lugar, a centralidade ocupada pelo homem em suas preocupações, que se 
difundiu pela Europa pondo em discussão várias crenças católicas; em segundo lugar, 
temos a invenção da imprensa, por meio da qual difundiram-se conhecimentos e 
hábitos de leitura, privilégio de uma minoria durante muito tempo. A difusão do saber 
cooperou para que os indivíduos consentissem de aceitar passivamente a doutrina da 
Igreja (CALDAS; 2018). 
Todos os abusos feitos pelo clero eram malvistos pelos fiéis, que solicitavam a 
aproximação entre o que era pregado e o que de fato era praticado, ou seja, era 
imprescindível uma reforma da igreja: 
 
As consequências da Reforma foram: 
 
 O enfraquecimento político da Igreja Católica; 
 Fortalecimento dos ideais burgueses; 
 Ampliação do poder dos reis; 
 Transmissão da instrução religiosa fundamentada no estudo da Bíblia; 
 Origem de conflitos religiosos entre católicos e protestantes; 
 A reação da Igreja Católica à Reforma originou um movimento 
chamado de: 
 
3.4 Contrarreforma 
 
Como reação aos movimentos reformistas, que apresentaram como 
decorrência, entre outras coisas, a redução do poderio do clero nas mais distintas 
áreas,a Igreja Católica adotou uma série de medidas que ficaram conhecidas como 
Contrarreforma. Dentre as medidas adotadas estavam: a convocação do Concílio de 
Trento, a criação da Companhia de Jesus e o asseveramento das atividades no 
Tribunal do Santo Ofício (Inquisição). 
 
 
23 
 
 Figura 2 - Concílio de Trento 
https://conhecimentocientifico.r7.com 
Atenção! 
 
O Concílio de Trento é uma reunião de todos os bispos da igreja, sob a direção do 
papa, para definir assuntos relevantes da doutrina católica. No referido período, o 
Concílio decidiu pela condenação da doutrina protestante, reafirmando a doutrina 
católica; constituiu a necessidade de formação de sacerdotes em escolas especiais 
(seminários); estabeleceu o Index, relação de livros proibidos e reafirmou o valor 
das indulgências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 Figura 3 – Companhia de Jesus 
https://ohistoriante.com.br 
Atenção! 
Seu criador foi Inácio de Loyola (1491-1556). Ele estruturou a Companhia em 
moldes militares (por ter sido um militar espanhol), subordinando seus membros 
(jesuítas) a uma rígida disciplina e obediência ao papa. Os jesuítas combatiam os 
ideais protestantes e dedicavam-se à educação dos jovens e à conversão de 
distintos povos ao Cristianismo. 
 
 
 
 
 
25 
 
 Figura 4 – Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) 
 
http://cvc.instituto-camoes.pt/ 
3.5 Nicolau Maquiavel (1469-1527) 
 
Pudemos analisar até aqui, a ruína – ou pelo menos o enfraquecimento – da 
república cristã e o ato de nascer dos Estados Nacionais, repúblicas e senhorias, duas 
formas de governo que, permitindo maior liberdade, preocupam-se mais com as 
questões materiais do que espirituais dos seus cidadãos. Então, nessa conjuntura de 
perda de autoridade política do papado, a atenção dos governantes volta-se para os 
próprios súditos e para interesses limitados, não mais para Deus e para a Igreja como 
na Idade Média (CALDAS; 2018). 
 
 
26 
 
 
https://moaciralencarjunior.wordpress.com 
É justamente com a política que serão comprovadas as novas concepções de 
homem e de mundo que compõem o espírito do Renascimento, e será na obra de 
Nicolau Maquiavel que teremos sua representação mais fiel. Em sua obra O Príncipe, 
o autor amplia uma teoria realista com a finalidade de implantar uma nova ordem 
política – dominada pela liberdade moral e física – capaz de tornar os homens 
melhores, derrubados de sua pequenez natural. Em Discurso sobre a primeira década 
de Tito Lívio, outra relevante obra de Maquiavel, o autor mostra-se admirado e 
admirado ao compreender tamanha inspiração ocasionada pelos antigos, seja no que 
diz respeito às artes, costumes ou à política, ao passo que lamentava o fato de tais 
atos admiráveis de virtudes e de dedicação à grandeza da pátria fossem “mais 
friamente admirados do que imitados”. (MAQUIAVEL, 2007, p. 16). Maquiavel 
assegura ver os homens servindo-se dos ensinos dos antigos em múltiplos segmentos 
sociais, a exemplo das leis e da própria medicina, no entanto, quando se trata de 
“ordenar a república, conservar o Estado, governar um reino, comandar exércitos e 
administrar guerra” (MAQUIAVEL, 2007, p. 16), não se viu um só governante apoiar-
se no exemplo dos antigos. O filósofo florentino, entretanto, aponta uma possível 
causa para o fenômeno relatado, em suas palavras: 
 
27 
 
 
A causa disto, na minha opinião, está menos na fraqueza do que a moderna 
religião fez mergulhar o mundo, e nos vícios que levaram tantos Estados e 
cidades da Cristandade a uma forma orgulhosa de preguiça, do que na 
ignorância do espírito genuíno da história. Ignorância que nos impede de 
aprender o sentido real, e de nutrir nosso espírito com a sua substância. O 
resultado é que os que se dedicam a ler a história ficam limitados à satisfação 
de ver desfilar os acontecimentos sob os olhos sem procurar imitá-los, 
julgando tal imitação mais do que difícil, impossível. Como se o sol, o céu, os 
homens, os elementos não fossem os mesmos de outrora; como se a sua 
ordem, seu rumo e seu poder tivessem sido alterados. (MAQUIAVEL, 2007, 
p. 18). 
 
O fundamento do pensamento político de Maquiavel está no seu olhar 
pessimista em relação à natureza humana, visão transmitida, em grande parte, de sua 
análise pessoal. Ele afirma, fundamentando-se nos exemplos históricos e na tradição 
política, que aqueles que preparam a forma de um Estado devem partir do 
pressuposto “de que todos os homens são maus, estando dispostos a agir com 
perversidade sempre que haja ocasião” (MAQUIAVEL, 2007, p. 29), pois se esta (a 
maldade) não é compreendida de imediato deve-se a alguma causa desconhecida 
que a experiência ainda não permitiu proclamar, mas que de maneira inevitável será 
manifestada com o tempo. 
A exemplo do que acontecera com a queda da monarquia romana, a 
consequente expulsão do último rei de Roma, Lúcio Tarquínio Soberbo, e a fundação 
da República Romana, Maquiavel explana como os nobres encobriram-se de 
falsidade para forjar uma proximidade amistosa com a população mais modesta 
enquanto ainda não desfrutavam de plena liberdade. Assim que os Tarquínios 
morrem, os nobres perderam o medo e derramaram sobre o povo todo o veneno que 
preservavam em seus corações, agredindo com todas as vexações possíveis. Com 
isso, o autor reitera sua compreensão acerca da perversidade natural do homem: 
 
Os homens só fazem o bem quando é necessário; quando cada um tem a 
liberdade de agir com abandono e licença, a confusão e a desordem não 
tardam a se manifestar por toda parte. Por isto se diz que a fome e a miséria 
despertam a operosidade, e que as leis tornam os homens bons. Quando 
uma causa qualquer produz boas consequências sem a interveniência da lei, 
esta é inútil; mas quando tal disposição propícia não existe, a lei é 
indispensável. (MAQUIAVEL, 2007, p. 29). 
 
28 
 
 
Segundo Maquiavel, o remédio mais eficaz contra a corrupção humana é o 
Estado, pois apenas este permite a cumprimento de todas as demais medidas 
possíveis. É importante observarmos que, mesmo partindo de uma visão pessimista 
sobre a natureza humana, o autor pondera a probabilidade de melhoramento político. 
Podemos indagar, contudo, como seria possível tal melhoramento? Por meio da firme 
disciplina, pela educação, pelas leis e pelos bons costumes, pois são estas ações que 
separam o homem de sua crueldade natural, tornando-os aptos ao convívio ordenado. 
 Battista Mondin, em seus escritos sobre os filósofos da renascença, corrobora 
a compreensão de Estado exibida pelo autor florentino: 
 
Deve-se entender por Estado, antes de tudo, não tanto como organismo ético 
quanto como força, como poder de mando e de coerção, como vontade 
dominadora que se impõe mais pelo amor do que pelo amor, sem ou quase 
sem consideração pelos valores de ordem superior, graças aos quais o poder 
político se justifica. Os Estados são criados, todavia, pela “virtude” de poucos 
homens superiores, virtude que é, ao mesmo tempo, sabedoria capaz de 
conceber uma ordem política e firme vontade de execução que, empregando 
qualquer meio, sabe traduzir esta ordem em formas concretas, em 
instituições úteis e vitais. Esta virtude se comunica aos cidadãos ou aos 
súditos quando eles se tornam cônscios dos seus deveres de membros de 
uma sociedade civil bem organizada. (MONDIN, 1982, p. 10). 
 
Como descrevemos inicialmente, Maquiavel inaugura uma maneira de pensar, 
que marca determinantemente a política mundial ao romper com o idealismo da 
tradição, inserindo a concepção política realista: 
 
[...] pareceu-me mais conveniente ir em busca da verdade extraída dos fatos 
e não à imaginação dos mesmos, pois muitos conceberam repúblicas e 
principados jamais vistos ou conhecidos como tendo realmente existido. Em 
verdade, hátanta diferença entre como se vive e como se deveria viver, que 
aquele que abandone o que faz por aquilo que deveria fazer aprenderá antes 
o caminho de sua ruína do que o de sua preservação. (MAQUIAVEL, 2009, 
p.123-124). 
 
Segundo ele, a política não deve ajustar-se na moralidade, – pois, assim como 
os idealistas políticos sugerem, a concepção de um bom governante seria aquela que 
admite virtudes cristãs e que as insere no exercício do poder político – mas deve ser 
 
29 
 
autônoma, porque localiza em si a própria justificação ao garantir uma existência 
ordenada aos súditos. Isso não significa que o chefe político (o príncipe) deva ser 
imoral ou indiferente ao bem e ao mal, mas às vezes o que para um indivíduo é ruim, 
torna-se necessário ao Estado, precisando ser feito mesmo a duras penas. 
Com a tomada de conhecimento da teoria política maquiaveliana, o 
pensamento político europeu inicia um processo de mudança da antiga ideia do direito 
natural, pois o escritor florentino demonstra que a convivência em comunidades justas 
não faz parte da realidade social dos homens, pelo oposto, os homens habitam em 
sociedades desconexas onde “o povo não quer ser mandado nem oprimido pelos 
poderosos, e estes desejam governar e oprimir o povo”. (MAQUIAVEL, 2009, p. 83-
84). Ao mesmo tempo, Maquiavel mostra também que o Estado não surge da razão, 
nem do sentimento natural de justiça, nem de um decreto divino, mas da lógica de 
forças e conflitos que governam a vida social. Dito de outra forma, surge 
independentemente de qualquer sistema ético ou religioso. 
 
3.6 Michel de Montaigne (1533-1592) 
 
Ao pensarmos o Renascimento como momento de profundas e decisivas 
modificações, é indispensável que tenhamos consciência que a necessidade de 
mudanças é sempre gerada num momento de crise, e era justamente esse o cenário 
que se tinha entre o final da Idade Média e o início da Idade Moderna. O resultado 
desse estado de transição, crise e indefinição, de acordo com vários historiadores, foi 
o chamado ceticismo filosófico, cujos maiores expoentes teriam sido Montaigne e 
Erasmo. 
Nesse ambiente, Montaigne, representante do Renascimento francês que 
inventou o gênero literário chamado ensaio, procura uma sabedoria capaz de 
promover a arte de viver bem para o ser humano, para isso, ele elabora a partir do 
Ceticismo, Estoicismo e Epicurismo sua própria concepção de sabedoria. Por sua 
influência cética (pirrônica), várias vezes faz suspensão de juízo em sua obra em 
relação à verdade. Em sua obra Ensaios (Essais), Montaigne difunde uma advertência 
ao leitor informando ser aquela uma obra auto analítica, cujo foco de investigação era 
 
30 
 
ele próprio, isso porque o autor jazia radicado numa experiência pessoal e social muito 
forte. 
 
 
https://www.pensador.com/ 
Montaigne apresenta um pensamento organizado numa perspectiva contrária 
ao ideal humanístico: da dignidade humana e confiança nas capacidades criativas e 
intelectuais do homem; o homem para Montaigne pode pouco, pois sua racionalidade 
não consegue obter a essência das coisas. O saber é concebido como um processo 
parcial que acontece dentro do curso universal e, deste modo, sujeito às leis que 
dirigem o cosmos. Nessa medida, o homem se exibe como nada mais que um pedaço 
do universo, onde se há de questionar: como é possível que as leis reguladoras 
universais sejam provenientes desse fragmento? O autor responde a isso de maneira 
negativa e original. Segundo Montaigne, o homem não é um ser privilegiado como 
acreditavam os medievais, ao crerem que Deus revela ao homem a verdade sobre a 
natureza, para ele, era demasiado pretenciosa a crença na capacidade do homem 
avaliar a totalidade da qual faz parte. Para ele, o homem sabe bem pouco sobre si 
mesmo (CALDAS; 2018). 
 
31 
 
 A grosso modo, podemos afirmar que, para Montaigne, o mundo é marcado 
pela diversidade e perante a diversidade não cabe juízo de valor, mas juízo de fato. O 
importante é reconhecer a multiplicidade que compõe a universalidade, 
reconhecimento esse característico do Ceticismo renascentista. Se existe 
multiplicidade de pensamentos, todos são do mesmo modo legítimos, uma vez que, 
para cada argumento formado existe outro igualmente válido. A postura cética 
adotada pelo filósofo francês, assim sendo, é marcada pela suspensão de juízo, que 
significa não nomear entre quem está certo e quem está errado. No período em que 
escolhe pela suspensão de juízo alcança-se a imperturbabilidade da alma e ausência 
de inquietações (ataraxia), entre os céticos deve-se praticar a ataraxia, porque não se 
conhece a natureza daquilo que se deseja ou se teme. 
 
3.7 Filosofar é aprender a morrer 
 
Uma das mais difundidas ideias apresentadas por Montaigne é a de que, 
retomando Cícero: “filosofar não é outra coisa senão preparar-se para a morte”. 
(MONTAIGNE, 2010, p. 50). A meditação sobre a morte é a temática do primeiro 
ensaio, ofertando a essa parte um caráter – em alguma medida – pessimista. Contudo, 
no terceiro ensaio, é possível analisar otimismo – do mesmo modo, em alguma medida 
– quando exibe-se um aprendizado sobre o “bem viver”. A referida temática é 
oferecida na célebre passagem que se segue: 
 
Diz Cícero que filosofar não é outra coisa senão preparar-se para a morte. É 
assim porque, de certo modo, o estudo e a contemplação retiram nossa alma 
de nós e a ocupam separada do corpo, o que constitui certo aprendizado da 
morte e tem semelhança com ela; ou então, é porque toda a sabedoria e a 
razão do mundo se concentram, afinal, nesse ponto de nos ensinar a não ter 
medo de morrer. Na verdade, ou a razão está escarnecendo de nós ou seu 
objetivo deve ser apenas o nosso contentamento, e todo o seu trabalho deve 
tender, em suma, a fazer-nos viver bem e a nosso gosto, como dizem as 
Sagradas Escrituras. (MONTAIGNE, 2010, p. 50). 
Refletir sobre a morte é a melhor maneira, afinal, de localizar a fonte da vida. 
Ao avaliar o tema da morte, Montaigne alerta para o fato de que muitos apavoram-se 
ao pensar na morte e recebem como remédio para a ansiedade que os destrói, não 
 
32 
 
pensar nela, assim, o autor interroga: “Mas de que estupidez brutal pode vir cegueira 
tão grosseira? ”. (MONTAIGNE, 2010, p. 54). Atrelar à morte tamanho pavor e 
desprezo, confere vantagem a esta em relação à própria vida. Nesse sentido: 
 
[...] para começar a tirar-lhe sua grande vantagem sobre nós, tomemos um 
caminho totalmente oposto ao comum. Tiremos-lhe a estranheza, 
frequentemola, acostumemo-nos com ela, não tenhamos nada de tão 
presente na cabeça como a morte: a todo instante a representemos em nossa 
imaginação e em todos os aspectos. (MONTAIGNE, 2010, p. 58). 
 
Dessa forma, Montaigne aconselha: “considera como teu último dia aquele que 
brilha para ti” (MONTAIGNE, 2010, p. 58), pois na medida em que vivemos cada dia 
como o único (ou o último), todos os outros que vierem serão tomados como graça. 
Se não sabemos como, quando ou onde seremos descobertos pela morte, precisamos 
contar que ela possa aparecer em toda parte. Por não ser capaz de expressar de 
maneira mais clara e significativa o ensinamento montaigniano, vejamos o que ele 
garante sobre aprender a morrer: “quem aprendeu a morrer desaprendeu a se 
subjugar. Não há nenhum mal na vida para aquele que bem compreendeu que a 
privação da vida não é um mal. Saber morrer liberta-nos de toda sujeição e 
imposição”. (MONTAIGNE, 2010, p. 58). Com isso, quer dizer que ao habituar-nos 
com a morte afastamos dela o componente mais poderoso contra nós, que é o fato de 
considerá-la como inimiga. Portanto: “Meditar previamente sobre a morte é meditar 
previamente sobre a liberdade”. (MONTAIGNE, 2010, p. 58). De nada adianta 
passarmos a vida inteira tentando evitar o inevitável, compreender isso é libertar-se 
de apreensões e privações vãs e inúteis. Não são os acasos e perigos que nos 
aproximam da morte, do mesmomodo que o vigor ou mesmo a segurança do nosso 
lar não nos separa dela. A morte é um processo pelo qual passaremos e não existe 
nada que possamos fazer para evadir isto, assim sendo, precisamos lembrar sempre 
o que Montaigne nos ensina “tudo o que pode ser feito um outro dia pode ser feito 
hoje”. (MONTAIGNE, 2010, p. 60). 
 
 
 
 
 
33 
 
Saiba mais! 
 
A principal obra deixada por Montaigne foi Ensaios (Essais). Ela é composta por 
três livros, tendo sido a primeira edição (contendo os livros I e II) publicada em 1580; 
em seguida, em junho de 1588 é publicada uma nova edição com o livro III; mesmo 
tendo completado os três livros, Montaigne continuou trabalhando para o 
enriquecimento da obra até o ano de sua morte em 1592; por fim, em 1595, é 
lançada postumamente a versão final dos Ensaios. 
 
3.8 Revolução Científica 
 
Ao discorrermos em Revolução Científica, o primeiro ponto a ser elucidado é o 
pioneirismo no uso deste termo, pois esta expressão passou a ser empregada a partir 
de 1939, quando Alexandre Koyré, historiador francês, o cunhou para designar o 
momento de mudanças intelectuais radicais. Dentre tais mudanças intelectuais 
podemos citar o nascimento da ciência moderna como a principal delas, ciência sobre 
a qual se debruça toda a modernidade. 
Conforme vimos no início desta Unidade, o Renascimento (período de transição 
entre a Idade Média e a Idade Moderna, propriamente dita) trouxe modificações 
radicais no que tange à relação do homem com o conhecimento da realidade, das 
coisas e do próprio homem, tais modificações, como não poderia deixar de ser, 
intervieram de forma profunda na produção dessa nova compreensão de ciência. 
Podemos elencar, de forma inicial, aspectos característicos da ciência moderna no 
período do seu surgimento: 
 O afastamento de objetivos transcendentais em detrimento do foco em 
objetivos imanentes; 
 A substituição do objetivismo dos antigos e medievais pelo subjetivismo 
dos modernos; 
 O desejo moderno pela dominação e subjugação se sobrepõe à relação 
de contemplação da natureza e do ser, característica dos antigos e medievais. 
 
34 
 
O progresso científico, que estabelece uma das maiores glórias da Idade 
Moderna, percorreu sempre ao lado do estudo do método mais apropriado. Deste 
tema ocuparam-se Galileu Galilei, Descartes, Spinoza, Pascal, Vico, Hume, Leibniz e 
Kant, assemelhando-se em alguns pontos e diferindo-se em outros. Para o 
desenvolvimento da ciência é preciso, além de um bom método, também um critério 
seguro de verdade. 
A ciência ativa moderna rompe com a separação antiga entre a ciência 
(episteme), o conhecimento teórico, a técnica (téchne) e o saber aplicado, agregando 
ciência e técnica, fazendo com que problemas práticos no campo da técnica levem ao 
desenvolvimento científico, bem como com que hipóteses teóricas sejam testadas na 
prática, a partir de sua aplicação na técnica (CALDAS; 2018). 
 
4 O PROBLEMA DO CONHECIMENTO 
A modernidade, como foi visto, é um momento que se exibe de modo muito 
complexo. Seu nascimento é caracterizado pela procura de uma ruptura com a 
tradição, especialmente no que tange à compreensão da racionalidade, além de ser 
um momento de profundas modificações históricas. Essas mudanças têm sua raiz na 
valorização da razão, aspecto primordial desse período em função do 
antropocentrismo. Desse modo, sendo a razão componente comum a todos os seres 
humanos, torna-se o fundamento a partir do qual o mundo deve ser compreendido e 
organizado. 
A Filosofia preocupa-se com as questões do conhecer capazes de produzir a 
nova ciência, ou seja, recursos que pudessem proporcionar a passagem da 
especulação metafísica para os esclarecimentos experimentais. 
De forma geral, podemos dizer que o problema do conhecimento se desenvolve 
ao longo de três fases bem demarcadas em relação às suas preocupações, mas 
interligadas entre si, são elas: 
 1) Teoria do Conhecimento, que estuda a natureza do saber de forma geral; 
 2) Epistemologia, que estuda a natureza a base do conhecimento científico; 
 3) Metodologia Científica, que trata dos processos lógicos de obtenção do 
conhecimento científico. 
 
35 
 
Nesta Unidade, nos ateremos à Teoria do Conhecimento, exibiremos as 
principais correntes filosóficas que se ocuparam de investigações que têm por objetivo 
responder a questões como o “que é o conhecimento?”, “qual a probabilidade de obter 
o conhecimento?”, “qual o fundamento do conhecimento?”, além de investigar as suas 
origens e seu valor. As correntes estudadas serão: Racionalismo, Empirismo e 
Ceticismo. 
 
4.1 Racionalismo 
 
O pensamento moderno tem como marca característica a preocupação com o 
homem, sua capacidade de conhecer o mundo e transformá-lo. Isto é, procura-se pôr 
o valor do conhecimento humano e descobrir um método (ou percorrer uma 
metodologia) capaz de bem guiar o pensamento, ou melhor, um método apropriado 
para proceder na investigação filosófica. René Descartes, estimado pai do 
Racionalismo, pondera que o único conhecimento válido é aquele que está inato na 
alma, assim sendo, que não provém dos sentidos. O pensamento racional parte do 
universal e necessário, tornando possível o saber da natureza verdadeira e imutável 
das coisas. Nas palavras de Mondin (1995, p. 200-201), “o homem atinge a perfeita 
felicidade fazendo triunfar o poder da razão sobre os instintos e as paixões, e 
dedicando-se à contemplação amorosa de Deus (amor intellectualis Dei, segundo a 
bela expressão de Spinoza)”. 
 Racionalismo vem do latim Ratio, que significa razão ou entrosamento. Nesse 
fluxo de pensamento avalia-se a razão como a fonte de todos os saberes e estes, por 
sua vez, podem ser: universalmente válidos (intuição) ou contingentes (sentidos e 
experiências). Os racionalistas esperavam na existência de um mundo 
intrinsecamente verdadeiro e capaz de ser intuído pela inteligência humana. 
Dessa forma, o conhecimento verdadeiro seria oriundo de processos racionais, 
da intuição pura e abstrata. O conhecimento originário das experiências, de acordo 
com os racionalistas, não pode ser considerado verdadeiro, pois sofre as mudanças 
dos fenômenos e se transforma com as alterações deles. Os principais representantes 
 
36 
 
dessa corrente de pensamento são: Descartes, Spinoza e Leibniz, cujos sistemas 
conheceremos a seguir. 
 
Saiba mais 
 
A abstração, incide num processo intelectual por meio do qual um objeto só pode 
ser entendido quando isolado de fatores unidos à realidade. Referente ao fluxo 
racionalista, trata-se da aquisição de um saber em relação às experiências, isto é, 
alcançado sem a interferência da experiência. 
 
René Descartes (1596 – 1650) 
 
René Descartes é um relevante pensador moderno, chegando a ser 
considerado iniciador da Filosofia Moderna. De acordo com Jacqueline Russ (2015, 
p. 134). “o homem [...] está em condições de conquistar por si mesmo, pelas próprias 
forças e por um bom uso da razão, o que é verdadeiro: ao recorrer à dúvida metódica 
e ao conservar à distância a autoridade, Descartes estabelece o racionalismo 
moderno”. Conheceremos um pouco sobre seu desempenho no pensamento 
moderno, especialmente no que tange às questões referentes ao saber, seu valor e 
sua contribuição, e estudaremos o projeto filosófico cartesiano nos atendo aos 
seguintes pontos: o método e a metafísica (cogito). 
 
4.2 O projeto filosófico cartesiano 
 
Descartes, em seu projeto filosófico, constitui a razão como uma bússola 
fundamental do homem. Todos os traços característicos do pensamento moderno que 
vimos aparecer no decorrer do Renascimento, encontram-se solidificados na 
elaboração do pensamento cartesiano, na medida em que delineia-se a autonomia da 
filosofia em relação à teologia; o direcionamento do pensamento seguindo de forma 
prioritária a via do conhecimento (gnosiológica), conservando a metafísica em 
segundo plano– não quero dizer com isso que exista algum desinteresse pela 
 
37 
 
metafísica, mas que têm prioridade em resolver o problema do saber; por fim, a 
preocupação com o método (CALDAS; 2018). 
Em todas as obras que compõem o seu sistema filosófico, fica evidente a 
preocupação de Descartes em saber se existe um método capaz de evitar o erro. Para 
isso, o autor partia de questões como: é possível estabelecer proposições que sejam 
categoricamente verdadeiras? Quando é possível dizer que uma afirmação é 
verdadeira? Há algo do qual não podemos duvidar? Como ocorre o processo de 
raciocinar? Como se deve proceder para obter o saber científico? 
Nas Meditações sobre a filosofia primeira ou Meditações metafísicas (1641), 
dá-se conta de que vários dos ensinamentos que há muito lhe foram advindos eram 
falsos, é justamente a partir daí que Descartes começa sua procura pelo saber 
verdadeiro. O autor interrogava se era possível avaliar todas as nossas crenças, 
apartando aquelas que nos fazem incidir em erros. A solução descoberta foi assumir 
um posicionamento cético, com a finalidade de que pudesse localizar algo do qual não 
se pudesse duvidar, mas como é possível descobrir o que é indubitável? 
 
 
 
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38 
 
Em sua obra Princípios da Filosofia (1644), Descartes garante ter em nós 
liberdade suficiente para que, no exercício correto da razão, fujamos de ser ludibriados 
e, por conseguinte, nos aproximemos e/ou alcancemos o saber verdadeiro. Diz ele: 
 
[...] mesmo no caso de ser, aquele que nos criou, todo-poderoso, e ainda que 
sentisse prazer em nos iludir, não deixamos por essa razão de sentir em nós 
uma liberdade tal que, sempre que nos seja agradável, possamos evitar 
receber, em nossa convicção, as coisas que não conhecemos bem, e desse 
modo evitar de nunca sermos enganados. (DESCARTES, 2010, p. 71). 
4.3 O Método 
 
Descartes, na primeira parte do Discurso do Método (1637), faz considerações 
acerca das ciências, o autor parte da seguinte questão: se o bom senso e a 
racionalidade são naturais ao homem, sendo divididas por todos, o que esclarece a 
probabilidade e a ocorrência do erro, do engano e da falsidade? O autor ainda expõe 
que: 
 
O bom senso é a coisa melhor dividida no mundo, pois cada um se julga tão 
bem dotado dele que ainda os mais difíceis de serem satisfeitos em outras 
coisas não costumam querê-lo mais do que têm. E, a esse propósito, não é 
verossímil que todos se enganem. Isso prova, pelo contrário, que o poder de 
bem aquilatar e diferenciar o verdadeiro do falso, quer dizer, o chamado bom 
senso ou a razão, é naturalmente igual em todos os homens e assim, que 
multiplicidade de nossas opiniões não deriva do fato de uns serem mais 
razoáveis do que outros, porém somente do fato de encaminharmos nossos 
pensamentos por diversos caminhos e não levarmos em conta as mesmas 
coisas. Não é suficiente ter o espírito bom, o essencial é bem aplicá-lo. As 
maiores almas são capazes dos maiores vícios como das maiores virtudes e 
os que caminham muito vagarosamente podem adiantar muito mais, se 
prosseguirem sempre em seu caminho reto, do que os que correm e dele se 
afastam. (DESCARTES, 2010, p. 9). 
 
Como provável resposta ao autor, pronunciamos que o erro resulta na realidade 
do mau uso da razão, de seu aproveitamento incorreto em nosso conhecimento do 
mundo. 
 No momento em que Descartes amplia seus escritos, existem dois métodos 
possíveis: indutivo e dedutivo. O primeiro, parte da experiência, enquanto que o 
 
39 
 
segundo, parte de princípios universais. É justamente do método dedutivo que 
Descartes irá se ocupar. 
 
Atenção 
 
Finalidade do método: Pôr a razão no bom caminho evitando assim o erro. 
 
Etimologicamente, a palavra “método” tem sua raiz no Grego, Methodos, 
composta de meta (por meio de, através de) e de hodos (caminho, via). Geralmente é 
usada para referir-se a um certo caminho que consente chegar a um fim. 
Na conjuntura ao qual estamos nos referindo, método incide num procedimento 
que tende a garantir o sucesso de uma tentativa de conhecimento, da elaboração de 
uma teoria científica. Constitui-se de regras e princípios que são os caminhos desse 
procedimento. Apesar de Descartes não dê nome a essas regras, seus estudiosos as 
denominaram da seguinte maneira: evidência (ou intuição), análise, síntese e 
enumeração, respectivamente. 
Descartes no Discurso do método, descreve sua procura solitária – “e, como 
não tivesse, além do mais, felizmente, preocupação alguma ou paixão que me 
perturbassem, passei o dia só” (DESCARTES, 2010, p.15) – por respostas às 
questões divulgadas no início deste item (é possível formular proposições que sejam 
absolutamente verdadeiras? Quando é possível dizer que uma afirmação é 
verdadeira? Existe algo do qual não podemos duvidar? Como se produz o processo 
de raciocinar? Como se precisa proceder para obter o saber científico?), ele seleciona 
pela procura solitária, por considerar que “as construções que apenas um arquiteto 
empreendeu e levou ao fim costumam ser mais belas e melhor localizadas do que 
aquelas que muitos tentaram restaurar usando velhas paredes edificadas para outras 
finalidades”. (DESCARTES, 2010, p. 17). 
Em seguida, avaliando as dificuldades de empreender uma procura por 
caminhos obscuros e nunca percorridos, Descartes explica que escolhe por caminhar 
pausadamente, mesmo que isso procrastine sua chegada ao destino desejado 
(entenda por destino pretendido o alcance do verdadeiro método para chegar ao saber 
de todas as coisas de que seu espírito fosse capaz), pois assim “evita pelo menos 
cair”. O autor assegura não ter, pelo menos primeiramente, renunciado 
 
40 
 
completamente nenhuma das ideias que nasceram em sua mente, sem que sua razão 
as tivesse investigado. No excerto abaixo, Descartes apresenta as regras do método: 
 
E como o excesso de leis dá desculpas, muitas vezes, aos vícios, de forma 
que um Estado é muito melhor regido quando, possuindo apenas muito 
poucas, elas são rigorosamente observadas, acreditei, por isso, que, em vez 
dos inúmeros preceitos de que a lógica se compõe, ser-me-iam suficientes 
os quatro seguintes, logo que tomasse a firme e constante resolução de não 
deixar de observá-los nenhuma vez. O primeiro consistia em jamais aceitar 
como verdadeira coisa alguma que eu não conhecesse à evidência como tal, 
quer dizer, em evitar, cuidadosamente, a precipitação e a prevenção, 
incluindo apenas nos meus juízos o que se apresentasse ao espírito de modo 
tão claro e distinto que não subsistisse dúvida alguma. O segundo consistia 
em dividir cada dificuldade a ser examinada em tantas partes quanto possível 
e necessário para melhor resolvê-las. O terceiro, pôr ordem em meus 
pensamentos, começando pelos assuntos mais simples e mais fáceis de 
serem conhecidos, para atingir paulatinamente, gradativamente, o 
conhecimento dos mais complexos e, supondo ainda uma ordem entre os que 
não se precedem normalmente uns aos outros. E o último, fazer, em cada 
caso, enumerações tão exatas e revisões tão gerais que estivesse certo de 
não ter esquecido nada. 
Essas extensas cadeias de razões simples e fáceis, das quais os geômetras 
costumam servir-se para alcançar as suas mais complexas demonstrações, deram a 
oportunidade de imaginar que todas as coisas que podem cair sob o conhecimento 
dos homens, seguem-se umas às outras da mesma forma e que, contanto apenas 
que se impeça tomar por verdadeira alguma que não o seja e que se respeite sempre 
a ordem estabelecida para deduzir umas das outras, não pode haver nenhuma tão 
distante que por fim não se alcance nem tão oculta que não se descubra. 
 
Método indutivo: aquele segundo o qual uma lei geral é constituída a partir da 
observação e repetição de regularidades em casos particulares. Embora o método 
indutivo não admita o estabelecimento da verdade da conclusão em caráter 
definitivo, fornece,no entanto, razões para a sua aceitação, que se tornam mais 
seguras quanto maior o número de observações realizadas. A indução é assim 
essencialmente probabilística. Este método se torna relevante na ciência 
experimental, especialmente a partir de sua defesa por Francis Bacon, sendo 
posteriormente sistematizado por J. Stuart Mill. (Cf. Dicionário básico de filosofia, 
Hilton Japiassú e Danilo Marcondes). 
Método dedutivo: entende-se por esse termo aquele método que consiste em 
buscar a confirmação de uma hipótese por meio da verificação das consequências 
 
41 
 
previsíveis da própria hipótese. Reichenbach mostrou o caráter complicado desse 
método e a sua irredutibilidade à verdadeira e própria dedução. Admitir que existe 
uma relação dedutiva entre a hipótese e os dados analisados, significaria admitir 
que a implicação A/B nos autorize a considerar a como provável quando b é dado 
[...]. (Cf. Dicionário de Filosofia, Nicola Abbagnano). 
 
4.4 O cogito, fundamento da filosofia cartesiana 
Dadas as regras das quais se deveria empreender a caminhada em procura do 
saber verdadeiro, e tomadas como critério de verdade a clareza e a distinção, 
Descartes enxerga na dúvida metódica um momento preliminar do conhecimento. O 
a sua finalidade, com isso, não é evidenciar a impossibilidade de qualquer afirmação, 
mas remover todos os preconceitos que impedem o correto desenvolvimento do 
raciocínio. É relevante, termos em mente, no entanto, que apesar de Descartes se 
usufrua de um posicionamento cético, a dúvida empreendida por ele não é absoluta 
como nos céticos pirrônicos, que previam a suspensão de todos os juízos num 
movimento denominado epoché (CALDAS; 2018). 
A preocupação de Descartes, é antes com as questões referentes ao valor do 
conhecimento do que propriamente com os estudos das coisas particulares. Desta 
forma, o filósofo procura localizar um embasamento garantido para o saber (e nesse 
caso precisa considerar a procura pelo saber científico), por meio da refutação do 
Ceticismo. Para isso, amplia o chamado “argumento do cogito” cuja principal 
conclusão é entendida a partir da célebre expressão filosófica “Cogito, ergo sum”. 
Assim, podemos nos interrogar, se o objetivo fundamental do argumento do 
cogito é proporcionar um embasamento seguro para o conhecimento por meio da 
refutação do Ceticismo, qual a intensão de Descartes ao adquirir um posicionamento 
cético? A intensão de Descartes é refutar o Ceticismo a partir de seus próprios apoios, 
isto é, adotando um posicionamento cético e exibindo ao crivo do Ceticismo todo seu 
saber, de tal modo seria possível localizar uma certeza imune às dúvidas céticas. 
Deparando a certeza “absoluta” e usando um método seguro, é possível restituir o 
conhecimento em fundamentos sólidos (seguros). Vejamos como Descartes procede 
nessa procura. 
 
42 
 
Fazendo uma analogia da nossa mente com um cesto contendo determinadas 
maçãs podres e outras em perfeito estado, o filósofo francês argumenta que: 
igualmente em nossa mente existe determinados saberes não cofiáveis e que apenas 
poderemos apontar estes dos realmente seguros por meio do exame minucioso de 
cada um desses saberes. Nas Meditações Metafísicas (1641), os argumentos são 
aplicados em graus de intensidade cética crescentes, da maneira como veremos a 
seguir: 
• Argumento contra a ilusão dos sentidos: os sentidos várias vezes nos 
enganam; 
• Argumento dos sonhos: tudo o que experimentamos acordados, podemos 
experimentar dormindo, em sonhos não temos nenhum critério para distinguir um 
estado do outro; 
• Argumento do “gênio maligno”: poderia ocorrer que determinado espírito 
maligno, algum demônio, nos confundisse, fazendo-nos, por exemplo, crer que 2+3=6 
e não 5. 
Podemos analisar a dúvida sendo empregada como método de comprovação 
de validade das certezas avaliadas. Diante da apresentação dos argumentos citados 
acima, nos encaminhamos para a primeira certeza: até para que tenha um Deus 
enganador (“dúvida hiperbólica”), que me ludibrie acerca de tudo que eu creio 
conhecer, é preciso que eu exista. Marcondes (2010, p.172), referindo-se ao 
argumento do cogito, profere: “chegamos assim à primeira certeza, à verdade precisa 
do cogito. Se até mesmo para duvidar é preciso pensar, a existência do pensamento, 
do ser pensante, não está sujeita à dúvida: é mais básica, mais originária do que está, 
é um pressuposto dela”. 
 
 
Saiba mais 
 
O vocábulo “cogito” é usado de maneira primordial com Descartes, e por isso 
merece uma maior explicação acerca do que, de fato, significa esse termo no projeto 
filosófico cartesiano. Battista Mondin se fixa de forma breve à discussão atribuindo 
significado ao cogito no acesso que se segue: 
 
 
43 
 
 
A propósito do cogito, é preciso notar que não se trata de uma demonstração, 
mas sim de uma intuição. O logo (ergo) não tem valor de consequência, mas 
é simplesmente pleonástico. Se o cogito fosse a conclusão de uma 
demonstração, ou seja, um entimema, então seria preciso subentender uma 
premissa universal (por exemplo: em toda parte conhecimento é existência) 
e não seria, portanto, mais possível considerar o Cogito como a primeira 
verdade metafísica. Quanto à existência provada pelo cogito não se pode 
tratar senão da existência do pensamento, da realidade pensante (res 
cogitans), e não da realidade distinta dos pensamentos. (MONDIN, 1995, p. 
272). 
Spinoza é outro relevante representante do Racionalismo moderno. Por meio 
de uma ordem matemática e geométrica, o filósofo holandês fala do tema Deus, 
enquanto substância única e infinita da qual deriva toda a realidade, a partir da tese 
do monismo substancial e opondo-se ao dualismo cartesiano. O autor ocasiona ainda 
no seio de sua principal obra (Ética) o tema da liberdade, que se torna provável pelo 
saber. O cerne da problemática do saber depara-se na maior obra de Spinoza: A Ética 
demonstrada à maneira dos geômetras (publicada postumamente), composta por 
definições, axiomas, proposições, revelações, escólios e, em determinados casos, 
corolários e lemas. A obra está dividida em cinco partes: De Deus; A natureza e a 
origem da mente; A origem e natureza dos afetos; A servidão humana e a força dos 
afetos; A potência do intelecto ou a liberdade humana, respectivamente. 
 
4.5 Método geométrico 
 
A argumentação filosófica identifica-se de distintas maneiras ao decorrer da 
História da Filosofia. Gêneros como a poesia, o diálogo, o tratado, o ensaio, o 
aforismo, o romance literário, o conto, e ao mesmo tempo o método geométrico se 
mostram presentes ao decorre-se de seu curso. O método geométrico está presente 
como forma de exposição ao longo de toda História da Filosofia, sendo encontrado 
algumas vezes de forma plena, usando todos os elementos do método, e outras 
somente parcialmente. 
 
Benedictus de Spinoza 
 
44 
 
 
O more geométrico adquire grande importância no século XVI e começo do 
século XVII com o desmoronamento do sistema medieval, o que deu início a uma 
intensa procura por um método para obter o saber verdadeiro e indubitável. Dois 
autores podem ser destacados como os principais filósofos a empregarem o método 
geométrico, são eles: René Descartes e Benedictus de Spinoza. Embora ambos 
façam uso do mesmo método, a maneira como este é aplicado por cada um é 
distinguida. Descartes faz utilização do método geométrico analítico, enquanto 
Spinoza aproveita o método geométrico sintético. Mas em que versa, prioritariamente, 
a justificativa para opção do método geométrico adotando vertentes diferenciadas 
pelos autores supracitados? (CALDAS; 2018). 
 
 
 
http://benedictusdespinoza.pro.br 
As principais características da filosofia de Descartes que justificam o emprego 
do método geométrico analítico são: a transcendência, o dualismo substancial e o 
entendimento finito. A análise versa na procura da verdade, que parte do saber

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