Buscar

O campo da saúde e os conceitos de gênero e sexualidade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 52 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 52 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 52 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DESCRIÇÃO
As diferentes dimensões da existência humana na compreensão dos conceitos de gênero, sexo, sexualidade, feminilidade e
masculinidade.
PROPÓSITO
Compreender as dimensões biológicas e sociais do corpo humano é essencial para uma análise crítica e para a desmistificação sobre
as diferenças entre corpo e sexo, construídas culturalmente em nossa sociedade. Essa compreensão é também um importante
instrumento na construção de valores e atitudes, permitindo um olhar mais crítico e reflexivo sobre a construção dos conceitos de
gênero, sexo e sexualidade por parte dos profissionais da saúde.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar as quatro dimensões do ser humano e as características do corpo biológico e do corpo simbólico
MÓDULO 2
Reconhecer a abordagem biológica e social na determinação do que é ser e ter um corpo masculino e feminino
MÓDULO 3
Explicar os conceitos gênero, sexo e sexualidade e sua interface com o campo de saúde
INTRODUÇÃO
O corpo biológico, em suas diferentes formas e dimensões, é alvo de reflexões no campo da saúde e da educação, assim como no
âmbito dos meios culturais, por exemplo, publicidade, cinema, revistas, televisão, academias de ginástica e outros espaços sociais que
transmitem saberes e valores, produzindo os sujeitos sociais.
Por isso, neste conteúdo, em relação às dimensões existentes da ideia de corpo, abordaremos as representações que cada corpo
ocupa dentro da sociedade em determinada cultura, para assim compreendermos os conceitos de gênero, sexualidade e sua interface
com o campo de saúde.
AS QUATRO DIMENSÕES: ESPIRITUAL, PSICOLÓGICA,
SOCIAL E BIOLÓGICA
Em algum momento você refletiu sobre o fato de o ser humano ser extremamente complexo e integrado?
Nós somos o resultado de basicamente quatro dimensões: espiritual, psicológica, social e biológica.
A nossa dimensão espiritual está relacionada ao nosso centro de pertencimento e ao fim que damos à nossa existência, não
necessariamente relacionando-se com alguma religião. Já a dimensão psicológica está relacionada ao nosso comportamento. Quanto
à dimensão social, esta relaciona-se com nossas dinâmicas interacionais, como interagimos com as pessoas ou com o meio em que
MÓDULO 1
 Identificar as quatro dimensões do ser humano e as características do corpo biológico e do corpo simbólico
vivemos. Por fim, a nossa dimensão biológica está relacionada ao nosso organismo, ao nosso genótipo e fenótipo, à nossa anatomia e
ao processo saúde-doença.
A biologia humana é uma área do conhecimento científico de natureza interdisciplinar, dentro das Ciências Naturais. Esse campo tem o
corpo humano como principal objeto de estudo. Essa natureza ampla e interdisciplinar da biologia humana faz interface com outras
áreas, como: Antropologia, Física e Química, que também compõem o campo da saúde. É interessante entendermos as concepções
da genética e as características corporais que, em adição a muitos outros campos científicos, irão construir os pontos de diferença no
campo social.
O CORPO É ESSÊNCIA DA NOSSA EXISTÊNCIA?
OU O CORPO É SOMENTE UM SUPORTE PARA AQUILO QUE
VERDADEIRAMENTE SOMOS?
A MENTE É ALGO DIFERENTE DO CORPO?
É POSSÍVEL CONHECER O MUNDO E AS COISAS QUE NOS CERCAM
SOMENTE PELA RAZÃO, SEM RECORRER AOS SENTIDOS DO NOSSO
CORPO?
OU O CONHECIMENTO DEPENDE DA NOSSA EXPERIMENTAÇÃO DO
MUNDO?
Vamos refletir sobre todos esses questionamentos!
É comum dizerem que vivemos um culto ao corpo, mas, na realidade, não é bem assim. Nós, com frequência, acabamos
desvalorizando o nosso o corpo e valorizamos a imagem que temos dele. O nosso corpo é cercado de tecnologias, que o manipulam e
vendem a ideia de corpo ideal. No entanto, o corpo nada tem a ver com o ideal, ele é um suporte de exercício de poder. Segundo o
viés psicologista, o corpo é expressão da vida psíquica. Já para os psicoterapeutas, o corporal pode ser a via de acesso ao psíquico. E
para o viés sociologista, o corpo é também matéria, na qual se encontram as marcas das classes e dos grupos sociais.
Precisamos entender que valorizar o corpo é valorizar não um suporte de exercício de poder, mas a porção da vida que trazemos em
nós mesmos. Os corpos são movidos por múltiplas forças e não são um objeto de único significado para o conhecimento. Todos os
corpos são, antes disso, constituídos por forças que lutam através deles.
O fato de termos corpos individuais faz com que pensemos em termos de unidades. Isto é, nossos corpos singulares podem nos dar
essa aparência de viver como uma unidade, como uma máquina que poderia ser explicada por suas partes ou mecanismos
funcionando como uma unidade coerente. Em parte, é assim, e devemos a nossa existência a essas partes funcionando em conjunto,
porém há uma luta dentro de nossos corpos, entre nossas partes. Nossos instintos lutam uns contra os outros dentro de nós mesmos,
e lutam nos nossos órgãos, nos nossos pensamentos e desejos, que também são partes do nosso corpo.
É muito natural sentirmos o nosso corpo dilacerado em lutas internas, como também é natural sentirmos o corpo tomado pela
dominância de um ou mais instintos e afetos. Portanto, é o corpo e os seus movimentos que podem nos ajudar a medir nossa maior
saúde e a cuidar melhor de nós mesmos.
O CORPO BIOLÓGICO E O CORPO SIMBÓLICO
A ideia de corpo que se aprende desde a infância é aquela baseada nas Ciências Biológicas. Primeiro, aprendemos que o corpo se
divide em cabeça, tronco e membros e, à medida que evoluímos, vamos acrescentando sistemas, órgãos, tecidos, células etc.
Por determinação biológica, o campo da saúde estruturou seus conhecimentos classificando os corpos de natureza genética feminina
(xx) e masculina (xy) a partir da identificação genética cromossômica e todas as características determinadas por esses genes
(genética, genitália, fenótipos, características hormonais etc.).
A Biologia é uma ciência que se preocupou com o que e de que o corpo humano é feito, como funciona, e como o corpo pode ser
corrigido se algo der errado ou se ele for invadido por outros seres microscópicos, por exemplo: bactérias, fungos, vírus etc. No campo
da saúde, é importante entendermos que essa dimensão biológica do corpo foi estruturante e que há uma dimensão do cuidado que
tem como objeto os agravos que ocorrem nesse corpo biológico, os quais podemos entender como corpo físico.
Mas não podemos nos esquecer de que, desde sempre, somos também um corpo social, um corpo simbólico. Assim, nosso corpo será
o portador e o veículo de mensagens e disposições próprias de dada sociedade e dada cultura em certo contexto e momento
historicamente determinado. Ao aprendermos a cultura da sociedade da qual fazemos parte, construímos um entendimento de nós
mesmos, dos outros e do mundo.
Segundo Dumont e Preto (2005), a percepção de que temos do corpo na atualidade apresenta a influência de duas vertentes que
explicam a concepção de ser humano: a vertente idealista e a vertente materialista.
A abordagem idealista tem a sua gênese nas reflexões e nas ideias de Platão, para quem o corpo representa, na verdade, o cárcere da
alma, esta última originada no mundo das ideias. Logo, podemos compreender que o corpo real, ou o corpo físico, representa uma
dimensão inferior, sendo limitado, diferentemente da alma, que se apresenta como perfeita e imutável. Seguindo essa linha de
pensamento, mais tarde, podemos destacar a teologia sobre o pecado original representada por Santo Agostinho. Para esse filósofo, o
corpo é pecaminoso, representando a perdição e o caminho do mal. Dessa forma, podemos observar como a abordagem idealista
apresenta tendências de rejeição do corpo físico como inferior e fonte de culpa e angústia.
Tempo depois, a modernidade conduz a um conflito, pois ela se contrapõe à lógica medieval para a qual o sexo era, por natureza,
pecado, conduzindo para a negação do corpo. O culto ao prazer da modernidade conduz a uma emancipação do ser humano, que
passa a ser o centro das atenções.
Com a dessacralizaçãodo corpo humano e a possibilidade do seu estudo, surge uma fragmentação do ser associada a uma
fragmentação do conhecimento, tanto do ser humano como do seu corpo. Assim, podemos observar como, ao longo do tempo, ficamos
presos inicialmente em uma visão idealista, passando depois para uma visão materialista contraposta e, atualmente, buscando uma
visão mais integral e consciente, tanto do corpo humano como das suas condições.
Ainda sofremos forte influência desse passado, que se reflete, por exemplo, na idealização do corpo perfeito, sublime, que a lógica
mundial do capitalismo nos empurra. Assim, rejeitamos corpos que não são adequados a um padrão estético exigente e de
performance extraordinária, que refletem, segundo essa visão, um ser fraco. Por outro lado, essa visão entra em conflito com o forte
hedonismo da atualidade, pois precisamos conhecer e valorizar os nossos desejos para nos libertarmos de qualquer imposição. Isso
nos gera um grande conflito, afinal, o que desejamos pode ser apenas uma mera reprodução do que socialmente estamos
acostumados a idolatrar.
CORPO, SAÚDE E DOENÇA
Se voltarmos agora aos eventos de saúde e doença, e considerarmos o corpo um elemento que participa ativamente dessas
construções, veremos que a forma como é concebido é de vital importância para sua compreensão. Dessa forma, os estados de
doença exigem que sejam classificados e esclarecidos os sinais dos sintomas. Para tanto, na construção diagnóstica, o profissional de
saúde (médico ou outro) deve levar em conta os sintomas descritos pelo paciente, e também os aspectos constatados objetivamente –
os sinais. Mas, nessa jornada, o pessoal da saúde é fortemente influenciado por um campo de conhecimento que, muitas das vezes,
passa a reproduzir relações de poder e que pouco representa a realidade objetiva e neutra que tanto defende.
Isso fica evidente quando definimos padrões e modelos de saúde, os quais refletem apenas os valores e a realidade de uma
hegemonia social. Tudo aquilo que não se enquadra em tal padrão passa a ser tratado como doença. O padrão dominante é
constituído por um conjunto de atributos: branco, feminino/masculino, heterossexual, sem deficiências, saudável, magro. Elege-se na
consciência das pessoas – individual e coletivamente –, com base na nossa história, nos costumes, nos aprendizados que herdamos
das gerações passadas.
No entanto, segundo Ferreira (1994, p. 2), “as sensações corporais experimentadas pelos indivíduos e as interpretações médicas
dadas a estas sensações serão feitas de acordo com códigos específicos a estes dois grupos”.
Precisamos compreender o corpo como signo, pois profissionais e usuários têm formas diferenciadas de significar suas experiências e
compreender sinais e sintomas. Quanto maior a possibilidade de compreensão das significações e dos sentidos expressos por
pacientes e profissionais, nos dois sentidos, melhor a relação que se estabelece, mais claro o diálogo e, consequentemente, melhor
preparado estará o campo para acolhimento e atenção à saúde.
A COMPREENSÃO DOS SINTOMAS POR PARTE DA EQUIPE
DE SAÚDE E OS PACIENTES
No vídeo a seguir, a especialista faz uma reflexão sobre a compreensão dos sintomas por parte da equipe de saúde e os pacientes.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
As quatro dimensões: espiritual, psicológica, social e biológica. – O culto ao corpo e a desvalorização do corpo.
O corpo biológico e o corpo simbólico. – O corpo físico, o corpo social e o corpo simbólico.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
 Reconhecer a abordagem biológica e social na determinação do que é ser e ter um corpo masculino e feminino
O CONCEITO DE GÊNERO E SUAS IMPLICAÇÕES
Gênero é uma construção social. Mas fomos nós que inventamos o masculino e o feminino?
Isso mesmo, podemos dizer que o masculino e o feminino é uma invenção humana. Afinal, somos uma espécie animal. A Sociologia
permite-nos o estudo científico da organização e do funcionamento das sociedades humanas, proporcionando, junto a outras áreas
científicas, o conhecimento de como papéis e padrões sociais foram estabelecidos ao longo do tempo.
Nascemos como todas as espécies animais, macho e fêmea. Foi assim entendido por um período na nossa história humana, até que
surge este novo termo, este novo conceito, do masculino e do feminino. Se, por um lado, o impulso animal conduz ao acasalamento,
entre outras atividades necessárias para a sobrevivência, o ser humano tornou-se uma espécie capaz de agir tanto instintiva como
racionalmente. Somos bípedes, trocamos os instintos pela racionalidade, somos capazes de nos comunicar de diversas maneiras.
Temos um raciocínio lógico, logo podemos pensar a respeito. Além disso, somos dotados de bom senso, juízos de valor etc. Temos a
capacidade neurológica de apreender uma variedade de conhecimentos e, dessa forma, naturalmente, nascemos como macho ou
fêmea.
Os ancestrais originários agrupavam-se para sobreviver e, assim, eram compostas as primeiras famílias. Nesses grupos, a
organização social era pouco diferenciada, mas já existiam, em sua essência, os cuidados, a solidariedade e a empatia minimamente.
Afinal, a permanência e a evolução da espécie humana dependem desses acordos de cooperação. No começo, cada indivíduo caçava
ou colhia dependendo do que tinha para fazer naquele momento, buscando sobreviver. Não havia uma definição exata de quem estava
disposto a estar ali e desempenhar um ou outro papel, como, por exemplo, cuidar das crianças.
Nesse contexto, não havia a designação de “mulher faz isso ou aquilo”. Ser macho e fêmea tinha, apenas e tão somente, a ver com a
reprodução da espécie. Hoje, existem papéis sociais diferentes para homens e mulheres. Mas uma das hipóteses em relação a este
tema é que a evolução foi demandando arranjos sociais de cooperação que permitissem à espécie humana o cuidado de uma cria,
que, diferentemente de outras espécies, requer cuidados intensivos durante um bom tempo da sua vida.
Veja que interessante: a história aponta que, na medida que a sociedade se torna mais complexa, mais tempo a prole convive com os
seus pais. Isso é explicado pelo fato de que são os pais os responsáveis, de forma direta ou indireta, pelo desenvolvimento e pela
aprendizagem cultural dos filhos. Assim, por meio da dialética entre cultura e natureza, vamos construindo uma sociedade que conta
com trabalho mais especializado, conhecimento mais específico e organização social mais complexa.
Mas para entendermos toda essa evolução, onde entra o conceito de gênero?
A BIOLOGIA E O GÊNERO MASCULINO E FEMININO
Antes de aprofundarmos o assunto, faremos aqui uma diferenciação interessante entre sexo e gênero. Veja: o sexo definirá diferenças
anatômicas, fisiológicas, entre macho e fêmea. Trata-se de uma determinação de ordem biológica.
O sexo masculino tem algumas características anatômicas e fisiológicas que são diferentes do sexo feminino. Por outro lado, o gênero
refere-se a noções socialmente construídas. São os papéis sociais construídos e atribuídos a este masculino e feminino. Todas essas
construções, essas realizações, são definidas ao longo da nossa história por uma série de outras construções que foram feitas.
Nós éramos nômades e, aos poucos, passamos a formar grupos sedentários. Assim, construímos cidades, ampliamos a tecnologia e
conseguimos produzir coisas impressionantes. No decorrer de tudo isso, historicamente falando, fomos nomeando estruturas,
maneiras, modos de andar pela sociedade.
O gênero, então, é um produto direto de toda essa organização e evolução. Criou-se um conceito que tem a ver com os papéis sociais.
Papéis esses que começam a ser definidos quando começamos a nos organizar em locais fixos (as futuras cidades). Nesse momento
da história, houve um arranjo que surge baseado nas diferenças e nas possibilidades anatômicas em combinação com os
comportamentos dos sexos, delimitando a divisão de tarefas. Isto é, a mulher passa a cuidar da criança, e o homem é encarregado de
buscaros recursos relativos à segurança e ao alimento.
Evolutivamente falando, quando passamos de quadrúpedes a bípedes, a mulher, que gera e cria os filhos, passa a desempenhar
tarefas mais sedentárias, enquanto o homem pode circular mais livremente na procura por esses recursos. Falamos evolutivamente,
pois, para a fêmea da raça humana, é mais difícil carregar a cria e fazer as atividades de caça e luta do que as fêmeas de outras
espécies primatas, que podem carregar a cria nas costas.
A INFLUÊNCIA DE OUTRAS INSTÂNCIAS
Precisamos adicionar a toda essa história o enquadramento que surge de uma junção da Igreja com o poder econômico. No passado,
o poder econômico era representado principalmente pelos reis, pois era o monarca quem detinha o poder financeiro de montar a
cidade e, assim, neutralizar e deter o perigo de uma guerra ou, em alguns casos, organizar confrontos para aumentar ainda mais o seu
poder. Toda essa organização política, social e econômica determina os papéis, as expectativas, bem como os deveres e os direitos de
todos os membros do grupo. Estamos já falando aqui de sociedades fortemente hierárquicas, nas quais o gênero masculino se torna
fortemente poderoso, detentor de riquezas, prestígio e autoridade.
No Estado, esse poder, junto com o aspecto religioso, determina um padrão de normalidade para a raça humana. Esse padrão fica
estabelecido de maneira que o que é considerado normal são homens héteros – herança de uma organização que privilegia e valoriza
o sexo para fins reprodutivos.
Sendo assim, são somente aceitas as relações heterossexuais, especialmente sob o controle moral e religioso da Igreja, que determina
os comportamentos socialmente aceitos para homens e mulheres, espelhando-se em uma idealização da figura materna e do homem
forte e protetor. Ainda na maioria das religiões, as figuras masculinas são mais poderosas do que as figuras femininas.
Tal padrão norteará a organização social praticamente do planeta inteiro, mas, na sociedade ocidental, entende-se como uma
determinação. Assim, surgem as chamadas “coisas de menina” e “coisas de menino”. Junto com esse aporte da religiosidade, há a
questão de como eram consideradas as mulheres nas religiões antigas, as quais eram as responsáveis pela manutenção da vida,
sequência e manutenção da espécie.
Achados arqueológicos do período neolítico, como a presença de diversas peças com imagens femininas, são interpretados por muitos
historiadores como uma valorização dos atributos femininos, especialmente aqueles relativos à maternidade, representados pelo culto
às deusas mulheres, em detrimento a valores de dominação e força característicos do sexo masculino. O fato é que as mulheres
exercem um papel muito importante em toda esta evolução sócio-histórica. São elas que amamentam, e que, muitas das vezes,
desempenham papel de curandeiras, procuradas para fazer chá para as dores diversas. Mas com o ascenso da religião judaico-cristã e
a determinação dos papéis considerando a supremacia de homens brancos e héteros, as mulheres passam para um segundo plano e,
pior ainda, restam inferiorizadas.
A SOCIALIZAÇÃO DO GÊNERO
A socialização dos homens e das mulheres da nossa raça se dá de forma totalmente diferenciada. É estabelecido um padrão de
comportamento para as mulheres e para os homens. Essa diferenciação contribui para a desigualdade e a assimetria de privilégios
entre os homens e as mulheres. Veja as fotos a seguir.
Por um lado, a mulher precisa ser frágil, submissa e, de preferência, não ter muitos interesses intelectuais. Cabe à mulher dedicar-se
às atividades do lar, mantendo-se dentro de casa, cuidando e sendo responsável pela organização e execução dos afazeres
domésticos. Fica sob a responsabilidade do gênero feminino a criação dos filhos, sua educação, garantindo que eles estejam bem
alimentados, devidamente vestidos e comportados. A mulher fica encarregada de transmitir os valores e a religião, pois o pai estará
ocupado com outras tarefas. Ela precisa reproduzir modelos femininos fortemente idealizados em uma imagem pura, abnegada e
solícita, que busca o bem-estar da sua família e, especialmente, respeita e segue a figura do homem, que deve ser entendida como
uma autoridade.
Já o homem precisa ser grande, forte, guerreiro, provedor, protetor e o mais intelectualizado possível. Ele precisa mostrar sempre a
sua superioridade, não podendo expor fragilidades. Alguns autores refletem sobre como esse modelo masculino traz consequências
negativas, não somente no psiquismo feminino, como também no psiquismo masculino (NOLASCO, 1993).
Para a mulher, a supremacia do gênero masculino pode trazer sérias consequências, atrapalhando a possibilidade de expressar os
seus desejos, manifestar as suas vontades sem se sentir culpada por se colocar em primeiro lugar. A mulher entra em conflito quando
percebe que a sua personalidade não se encontra representada nessa imagem de fragilidade e submissão, que, por muito tempo, foi
imposta. Essa mulher pode não se reconhecer na figura doce e sensível, domesticada e pura, discreta e obediente.
Da mesma forma, para Nolasco (1993), o homem pode sofrer pela imposição dos papéis e das características tipicamente masculinas.
Um homem pode não se identificar com a figura de um ser autoritário, detentor de força, seguro e determinado, com capacidade de
proteger e sustentar todos os membros da família, sendo altamente sexualizado, capaz de engajar no sexo de forma rápida e eficiente.
Dessa forma, homens que apresentam um psiquismo mais sensível, sendo mais submissos e passivos, podem encontrar neste modelo
uma enorme tortura.
A SOCIALIZAÇÃO DO GÊNERO E SUAS IMPLICAÇÕES
No vídeo a seguir, a especialista faz uma reflexão sobre a opressão dos papéis masculinos e femininos e a socialização do gênero.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
O conceito de gênero e suas implicações – A organização social de nossos ancestrais
A biologia e o gênero masculino e feminino – A definição dos papéis segundo o gênero
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
 Explicar os conceitos gênero, sexo e sexualidade e sua interface com o campo de saúde
HOMEM OU MULHER, QUE PERGUNTA É ESSA?
A sexualidade ainda é um grande tabu na nossa cultura, mas é necessário falar sobre ela, pois o desconhecimento sobre esse assunto
só ajuda a perpetuar o sofrimento que milhares de pessoas vivem todos os dias.
A sexualidade humana manifesta-se de várias formas. Para podermos falar sobre ela, é importante primeiro saber a diferença entre:
sexo, gênero, identidade de gênero e orientação sexual.
Vamos conhecer essas diferenças.
SEXO
GÊNERO
IDENTIDADE DE GÊNERO
ORIENTAÇÃO SEXUAL
SEXO
O sexo é a parte biológica e se divide em macho, fêmea e intersexo. Ele é definido pelos seus cromossomos e por características,
como os órgãos reprodutivos internos e externos. No entanto, definir o sexo de alguém não é algo tão simples assim, já que uma
pessoa biologicamente intersexo pode nascer com características sexuais de macho e fêmea.
INTERSEXO
O termo descreve pessoas que não desenvolvem completamente a genitália “masculina” ou “feminina”, ou desenvolveram uma
combinação de ambas.
GÊNERO
O gênero é a categoria de masculino e feminino que construímos socialmente e que engloba todas as práticas atribuídas às pessoas
que nascem com um aparelho genital ou outro. Cada cultura incentiva que as pessoas tenham certos comportamentos, vestuários,
profissões e valores de acordo com o gênero que foi atribuído à pessoa quando ela nasceu.
IDENTIDADE DE GÊNERO
javascript:void(0)
A identidade de gênero tem a ver com qual gênero a pessoa em questão se identifica. Um indivíduo biologicamente macho pode se
identificar com o gênero masculino ou com o gênero feminino, por outro lado, uma pessoa biologicamente fêmea também pode se
identificar com qualquer um dos dois.
Assim, transgêneros são pessoas cuja identidade de gênero, ou expressão dessa identidade, difere do gênero relacionado com seu
sexo biológico.Um exemplo seria uma pessoa biologicamente macho, mas que se identifica com o gênero feminino e se veste ou se
comporta de modo coerente com o gênero feminino. Quando a identidade e a expressão de gênero são coerentes com o gênero
atribuído a uma pessoa, ela é chamada de cisgênero, então, o contrário corresponde ao transgênero.
ORIENTAÇÃO SEXUAL
Temos ainda o termo orientação sexual, o qual descreve por qual tipo de pessoa você sente atração afetiva e sexual. A orientação
sexual divide-se em orientação heterossexual, homossexual ou bissexual. Apesar dessas divisões, hoje, a orientação sexual é vista
mais como um continuum, variando de um extremo a outro. A orientação sexual de alguém não é necessariamente fixa e pode variar
por diferentes razões.
 ATENÇÃO
É importante destacarmos que tanto a orientação sexual quanto a identidade de gênero costumam se
manifestar desde cedo, independentemente dos pais ou das pessoas próximas serem homo ou
heterossexuais, trans ou cisgêneros.
Todas essas características da sexualidade são determinadas por muitos fatores distintos, tais quais: a herança genética passada
pelos pais, o funcionamento das glândulas e dos hormônios do corpo, as primeiras experiências de socialização, a cultura vigente e as
suas experiências durante a vida. A nossa sociedade incentiva algumas orientações e identidades, enquanto discrimina outras. Por
isso, os pais costumam incentivar ou reprimir as manifestações de sexualidade a partir das normas culturais com as quais eles
concordem.
OS DIREITOS HUMANOS E O PAPEL DA SOCIEDADE
Infelizmente, homossexuais e pessoas com uma identidade destoante do gênero associado ao seu sexo são alvos de discriminação e
violência.
Na realidade, não podemos deixar de enfatizar que até alguns anos atrás ter relações sexuais com pessoas do mesmo sexo era um
crime na maioria das sociedades. Atualmente, ainda existem países com essa filosofia, vide a Arábia Saudita e o Irã. Como resultado,
em muitos casos, quem não é heterossexual ou cisgênero vive em um mundo muito hostil, e o pior: isso ocorre por motivos que estão
além do controle da pessoa!
Expressar a própria sexualidade é parte fundamental do desenvolvimento psicológico saudável de todos. Podemos compreender,
então, o impacto psicológico negativo em que se encontram muitas das pessoas que expressam a sua sexualidade de forma diferente
do padrão estabelecido por uma maioria social.
Existem resoluções e declarações aprovadas pela Organização das Nações Unidas – ONU (2008) e pela Organização dos Estados
Americanos – OEA (2008) que afirmam que a orientação sexual e a identidade de gênero representam Direitos Humanos que devem
ser respeitados e reconhecidos.
Em adição e dando força a esse reconhecimento, a ONU (2008) publicou recomendações específicas para os diversos governos e
seus responsáveis em relação aos deveres do Estado com as suas populações de homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais.
Essas obrigações incluem a proteção desses grupos contra qualquer ato de violência e de discriminação.
Dessa forma, podemos observar como o assunto da identidade de gênero e da orientação sexual passa a ser contemplado nos Direitos
Humanos. Em adição, não podemos esquecer que, no caso do Brasil, a Constituição Federal de 1988 prevê a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, que deve combater as desigualdades e qualquer tipo de discriminação. Assim, a nossa Constituição e
o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT (BRASIL, 2009) destacam a liberdade e o respeito de todos
esses cidadãos, apesar de a realidade ainda ser distante do que se preconiza.
O respeito à diversidade sexual torna-se uma necessidade de ordem nacional quando observamos ainda o alto índice de violências e
discriminação no Brasil. O leitor interessado pode consultar O relatório sobre violência homofóbica no Brasil, de 2012, que apresenta
um número lastimável de 310 homicídios de LGBT no país.
Para despertar mais ainda a sensibilidade e a preocupação de todos, é necessário apontar que o Brasil, segundo a organização não
governamental europeia Transgender Europe, lidera o ranking mundial de assassinatos, com mais de 600 travestis e transexuais
mortos entre 2008 e 2014 (TRANSGENDER EUROPE, 2015).
IDENTIDADE DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E
IDEOLOGIA DE GÊNERO
Até pouco tempo atrás, não era muito complicado entender as variações da sexualidade. Falava-se em heterossexuais, homossexuais
e bissexuais, e isso parecia ser suficiente para definirmos a diversidade de como as pessoas viviam sua sexualidade.
Tradicionalmente, o termo “gênero” passa a ser usado como sinônimo de “sexo”, fazendo referência ao ponto de vista físico ou
biológico com o qual a pessoa nasce, sendo classificado de duas maneiras: masculino = macho e feminino = fêmea. Mas é importante
que, para o seu correto uso, o termo “gênero” seja entendido como um conceito de fundo cultural e histórico e, dessa forma, passe a
ser compreendido como uma construção social.
Digamos, por exemplo, que, desde cedo, aprendamos que meninos usam a cor azul e brincam de carrinho ou de bola, ao passo que as
meninas usam a cor rosa e brincam de casinha ou de boneca. Temos, portanto, construções sociais associadas ao masculino e ao
feminino, mas diante de uma ideologia de gênero.
Podemos pensar que, se o gênero é uma construção social, do mesmo jeito que ele pode ser construído, ele também pode ser
desconstruído. Isso quer dizer que a ideologia que existe em volta do gênero masculino ou feminino pode ser modificada. Ela não é
algo imutável, que se restringe às características físicas e/ou biológicas do sujeito. O sexo expressa-se nas características físicas,
como os órgãos genitais, os seios ou a barba, já o gênero refere-se ao aspecto social. Essa distinção entre sexo e gênero dá origem ao
conceito de identidade de gênero.
A identidade de gênero não está associada aos fatos biológicos, quer dizer, ao sexo em si, ao pênis e à vagina, como o movimento
ideológico de gênero quer impor, mas sim à identificação do indivíduo com papéis, comportamentos e padrões sociais, em outras
palavras, com a construção social. Assim, por exemplo, existem pessoas que nascem com o sexo masculino, mas não se identificam
com o gênero masculino. A ideologia de gênero postula a ideia de que esta falta de concordância entre o sexo e a identidade de
gênero é, necessariamente, uma patologia.
Mas não podemos perder de vista que estamos falando aqui de uma ideologia. Quando definimos ideologia, seguindo o pensamento
de sociólogos importantes, como Marx e Engles (1997), ela é usada pela classe dominante como forma de manter a sua hegemonia e,
assim, submeter suas ideias às demais classes. Dessa forma, gera uma consciência falsa do que é aparentemente certo e errado.
Entretanto, todos somos livres e temos o direito de escolher nosso próprio gênero. Toda essa identificação ou não do sexo com o
gênero e com a orientação sexual e a sexualidade dá origem às diversas classificações que existem atualmente e que se derivam nas
iniciais LGBTQIA+. Encontramos em toda essa diversidade outra definição importante de se explicar, o gênero binário, fazendo
referência a uma divisão entre feminino e masculino.
No entanto, existem pessoas que não se enquadram em apenas uma dessas categorias. Chamamos a este grupo de não binário. Em
outras palavras, a identidade não binária, ou gênero não binário, representa a identidade de gênero de pessoas que não se definem
estritamente como masculinas ou femininas, podendo representar uma inconformidade de gênero.
A diversidade ou as inúmeras possibilidades e expressões que representam as letras LGBTQIA+ nem sempre são entendidas por
todos. Portanto, vamos explicar brevemente o que significa cada uma das letras e dos grupos aqui contidos.
L
(L), como a maioria reconhece, representa o grupo de lésbicas, mulheres que sentem atração afetiva e/ou sexual por mulheres.
G
(G) representa o grupo de gays,homens que sentem atração afetiva e/ou sexual pelo mesmo sexo.
B
(B) são os bissexuais, que representa o grupo de homens e mulheres que sentem atração afetiva e/ou sexual por mais de um gênero.
Mas vamos explicar melhor os outros grupos, que nem sempre são adequadamente diferenciados.
T
Uma diferenciação que antigamente era feita e que hoje não se faz mais é entre os transgêneros e os transexuais. Antes,
considerava-se o transgênero aquele que apresenta uma identidade de gênero diferente do seu sexo biológico, mas sem recorrer a
cirurgias ou tratamentos. Já o transexual era aquele que realiza a cirurgia de mudança de sexo ou tratamento hormonal. Mas essa
distinção é muito difícil de se fazer em alguns casos.
Para confundir mais ainda, temos o termo “travesti”, que algumas pessoas identificam como aqueles que apenas se vestem como
mulher para incorporar um personagem, de forma histriônica e exagerada. Os travestis são identificados também como aquelas
pessoas que levam o personagem feminino para o seu dia a dia por identificação pessoal. E os drag queens são artistas (homens ou
mulheres) que se arrumam de forma exagerada, colocando cabelos, roupas e maquiagem, de forma a representar um personagem,
como, por exemplo, a Madonna.
Atualmente, usa-se apenas o termo trans ou transgênero (T), que considera todos aqueles nos quais o seu gênero psicológico não
corresponde ao físico. Assim, temos uma grande categoria que engloba todos os demais. A polêmica é gerada porque, ao se tratar de
uma identificação individual, não temos como diferenciar socialmente um do outro, pois a realização ou não de procedimentos
cirúrgicos e/ou tratamentos hormonais é, em muitos dos casos, o final de um processo.
Q
Os chamados hoje como queer (Q) são aqueles que transitam entre os gêneros feminino e masculino, ou outros. Esse termo é usado
por essas pessoas para expressar como elas se reafirmam com corpos não binários.
I
Outra classificação de identidade de gênero são os intersexuais (I), que são pessoas que nascem com a genitália indefinida ou com a
presença dos dois genitais. Na maioria dos casos, somente um dos genitais é funcional. Antigamente, isso era visto como uma
aberração, mas, na realidade, considerando o tema diversidade, devemos pensar que são pessoas cujo desenvolvimento sexual não
se enquadra na norma binária.
A
Os assexuais (A) representam aqueles que não apresentam interesse ou atração sexual por outras pessoas. Para eles, a atração
sexual não é um conceito entendível ou aplicável. Assim, o não interesse não representa uma falta (como muitas das vezes é
colocado) nem o resultado de necessariamente um problema físico ou psicológico, ele é apenas a expressão de um ponto diante de
todas essas possibilidades e de tamanha diversidade.
+
Finalmente, o símbolo + representa todos aqueles que não estão considerados nas definições LGBTQIA+.
Além do sexo, do gênero e da identidade de gênero, a sexualidade humana também é formada por outro elemento: a orientação
sexual. Muitos confundem orientação sexual e identidade de gênero, mas são dois conceitos completamente distintos. A identidade de
gênero está relacionada com o tipo de comportamento que a pessoa vai assumir, de acordo com o gênero com o qual ela se identifica.
Já a orientação sexual está relacionada com o aspecto afetivo e sexual.
A orientação sexual indica qual tipo de atração sexual uma pessoa vai ter por outra. Vale destacar que as diferentes formas de
orientação sexual não estão necessariamente relacionadas com identidade de gênero.
A transexualidade é, muitas vezes, confundida com a orientação sexual. Uma pessoa transexual não pode ser relacionada diretamente
como alguém homossexual, que é uma orientação sexual. Uma mulher trans pode ser heterossexual, homossexual ou bissexual.
Existem também outros tipos de orientação sexual, vide o pansexual. “Pan” significa todos e “pansexual” é uma orientação que denota
o interesse sexual por pessoas independentemente do sexo e do gênero. Então, o pansexual pode sentir atração por um
heterossexual, por um homossexual ou por um bissexual.
Como você pode perceber, a variedade de orientações sexuais é enorme. Por exemplo, você já escutou falar do polissexual?
“Poli” significa muito, então, “polissexual” denota um interesse sexual por vários gêneros diferentes, sem manifestar interesse
específico por um. Existe também a denominação “solossexual”, conhecida como “autossexual”. Nesse tipo de orientação, a pessoa
não sente atração por terceiros, independentemente de sexo ou gênero. Essas pessoas só apresentam atração por si mesmas, mas
isso não quer dizer que elas não tenham uma vida sexual. Na maioria das vezes, essas pessoas sentem prazer sexual em sua
automasturbação.
Essa variedade de definições quanto à orientação sexual e à identidade de gênero só mostra o quanto é complexa a sexualidade
humana, a qual engloba toda essa variedade de expressões.
A DIVERSIDADE EM ORIENTAÇÃO E IDENTIDADE SEXUAL
No vídeo a seguir, a especialista faz uma reflexão sobre a diversidade em orientação e identidade sexual.
VEM QUE EU TE EXPLICO!
Homem ou mulher, que pergunta é essa? – Definições básicas: sexo, gênero, identidade e orientação sexual
Os direitos humanos e o papel da sociedade – Discriminação e violência na sexualidade
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, uma prática em assistência de qualidade e que atenda às necessidades sociais deve constituir-se alicerçada na
consciência de que tanto a formação profissional quanto os conhecimentos adquiridos não possuem status fixo. Por esse motivo, a
educação permanente tem de constituir uma parcela da discussão sobre a atenção integral à saúde, que, por sua vez, deve ser
favorável ao contínuo contato com as diversas realidades existentes e em sintonia com a dinamicidade social.
A construção de espaços de discussão e diálogo entre os profissionais de saúde e a sociedade de um modo geral deve se naturalizar
de forma a alcançar a integralidade da execução dos princípios do nosso sistema de saúde, assim como da nossa Constituição Federal
e dos Direitos Humanos. É essencial admitir a pluralidade de eventos e fenômenos que rodeiam e interferem na qualidade da
assistência em saúde.
Evidenciar as questões de gênero e sexualidade nos serviços de saúde é condição primordial para a construção saudável de
representações sociais sobre questões tão presentes no cotidiano. O esforço em prol de uma discussão que gere resultados positivos
para todos constitui-se também como ação estratégica que permita a efetiva implementação das políticas públicas e sociais
relacionadas às questões de gênero e sexualidade.
Não podemos concordar com a perpetuação de padrões que geraram e continuam gerando sofrimento. O nosso princípio, como
profissionais da área da saúde, deve ser sempre a busca por formas de atuação que visem ao bem-estar daqueles que nos procuram,
entendendo que a realidade de cada um precisa ser respeitada e acolhida.
 PODCAST
Neste podcast, a especialista discute sobre a importância do conhecimento e da compreensão, por parte do profissional de saúde
(psicólogo, enfermeiro, médico e outros), da complexidade de expressões da sexualidade humana, enfatizando a necessidade de
reconhecer o mundo LGBQTAI+ e seus desdobramentos.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BENTO, B. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro, RJ: Garamond, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
Brasília, DF, 2010.
BRASIL. Relatório sobre violência homofóbica no Brasil: ano de 2012. Brasília, DF, 2012.
BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos – SED. Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de
LGBT. Brasília, DF, 2009.
BUTLER, J. P. Problemas de gênero: feminismo e subversão de identidade. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2003.
DUMONT, A.; PRETO, E. Avisão filosófica do corpo. Escritos educ, v. 4, n. 2, dez. 2005.
FERREIRA, M. E. Educação inclusiva. Rio de Janeiro, RJ: DP&A, 1994.
LE BRETON, D. A sociologia do corpo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. p. 7.
LOURO, L. G. Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Pro-Posições, v. 19, n. 2, maio/ago. 2008.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1997.
NOLASCO, S. O mito da masculinidade. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1993.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. ONU. Human rights, sexual orientation and gender identity. Publicado em: 2008.
Consultado na internet em: 6 dez. 2021.
ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. OEA. AG/RES. 2435 sobre derechos humanos, orientación sexual e identidad
de género. Publicado em: 3 jun. 2008. Consultado na internet em: 2 dez. 2021.
TRANSGENDER EUROPE. Trans murder monitoring 2015. Publicado em: 8 maio 2015. Consultado na internet em: 6 dez. 2021.
VASCONCELOS, N. A.; SUDO, I.; SUDO, N. Um peso na alma: o corpo gordo e a mídia. Revista Mal-Estar e Subjetividade, n. 1, mar.
2004.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo:
Leia:
O e-book Gênero, sexualidade e saúde – diálogos latino-americanos, de Camilo Braz e Carlos Eduardo Henning, publicado
pela UFG em 2017.
A resenha Corpo, gênero e sexualidade: discussões, de Kelly Bedin França, publicada pela Revista Estudos Feministas em
2005.
Assista:
Ao filme Garota Dinamarquesa, que aborda os conflitos da não heterossexualidade e o pioneirismo da cirurgia de mudança de
sexo.
CONTEUDISTA
Carine Sena

Continue navegando