Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Dinâmicas de grupo: diversos contextos e objetivos Prof.ª Patricia Rossi Carraro Descrição A compreensão das dinâmicas de grupo em diversos contextos e dos seus objetivos como assuntos fundamentais para a psicologia da saúde, a organizacional e a educacional. Propósito O conhecimento das dinâmicas de grupo em diversos contextos e dos seus objetivos é essencial para a formação e a atuação do psicólogo em diferentes contextos profissionais, como organizações e instituições. Objetivos Módulo 1 Grupos em organizações e instituições Identificar os grupos em organizações e instituições. Módulo 2 O papel do coordenador do grupo Descrever o papel do coordenador do grupo. Módulo 3 Especi�cidades em grupos de crianças e adolescentes Reconhecer as especificidades em grupos de crianças e adolescentes. Módulo 4 Ética no trabalho em grupo Reconhecer a ética no trabalho em grupo. Introdução Ao longo dos tempos, a palavra “grupo” tornou-se parte do dia a dia das pessoas. Ela é utilizada para denominar diversas reuniões de pessoas, por exemplo, grupo de amigos, de trabalho, de lazer ou de idosos. Dessa forma, reconhecer a importância do grupo é fundamental para refletir a prática do psicólogo frente aos diversos contextos. Por isso, neste conteúdo, vamos entender o funcionamento dos grupos em organizações e instituições. Verificaremos também o papel do coordenador de grupo e apresentaremos as especificidades em grupos de crianças e adolescentes. Por fim, identificaremos a ética no trabalho em grupo. Acreditamos que você esteja interessado em compreender os aspectos do processo grupal. Eles, afinal, são primordiais para a sua prática e formação profissional. 1 - Grupos em organizações e instituições Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os grupos em organizações e instituições. O grupo, as organizações e as instituições O grupo Para iniciarmos nossos estudos, vamos definir o que seria um grupo? Diversos autores tentaram definir o termo “grupo”. Destacaremos a seguir as definições de alguns deles: É a reunião de duas ou mais pessoas interdependentes e interativas, as quais, uma vez unidas, procuram alcançar determinado objetivo. É a quantidade de indivíduos que, além de compartilhar de um conjunto de normas, crenças e valores, mantém, implícita ou explicitamente, relações definidas de tal forma que o comportamento de cada um traz consequências para os demais. Nossa história é marcada pela vida em grupo. A todo momento, afinal, estamos nos relacionando com outras pessoas. Exemplo: quando estamos sozinhos, pensamos em nossos amigos, nas atividades que precisamos realizar com outras pessoas e em nossa família. É muito raro encontrar uma pessoa que esteja completamente sozinha. Até mesmo alguém que escolhe viver isolado (em geral, por motivo de penitência ou religiosidade) levará suas lembranças sobre a convivência em grupo, assim como seu conhecimento e sua cultura. Mesmo que as pessoas saibam como fazer as coisas sozinhas, há momentos nos quais elas precisam umas das outras. É muito difícil alguém viver totalmente isolado. Em torno de nós, realmente há muitas coisas, mas existem principalmente pessoas de quem se depende mais do que se consegue avaliar. É fundamental não esquecer que faz parte dos seres humanos o hábito de se reunir em grupos, já que nascemos, nos desenvolvemos e morremos dentro de grupos sociais. Em grupo, também trabalhamos, nos divertimos e passamos por diversas experiências de alegria, tristeza Robbins (2002) Aguiar (2005) Bock, Furtado e Teixeira (2008) Bergamini (2009) Busnello (1989) e crescimento. As pessoas têm suas vidas ligadas ao funcionamento dos grupos. As organizações e as instituições Você já pensou na relação entre organizações, instituições e grupos? Vamos refletir sobre ela? Bock, Furtado e Teixeira (2008) afirmam que a instituição não seria somente o local em que se presta determinado serviço, tendo ela uma distribuição hierárquica, como a de uma empresa, escola ou hospital. A instituição, na verdade, é um espaço abstrato que se constitui no campo dos valores e das regras. Agora, se fossemos pensar no que seria a organização, verificaremos que ela seria uma forma de efetivar essas regras institucionais – só que por meio da produção social. Robbins (2002) tem uma importante contribuição para esse assunto. Segundo o autor, a organização é sistema social formado por: Pessoas Sentimentos Interesses Motivações Bergamini (2009) considera que o aspecto grupal é fundamental para que as pessoas consigam que um trabalho seja feito. Nesse caso, elas precisam interagir da maneira mais produtiva possível para que os objetivos almejados possam ser atingidos. Quando essa interação positiva é alcançada, ocorre a sinergia, momento no qual o todo é mais que a simples soma das partes. Ampliando o potencial das forças individuais, atinge-se, dessa forma, a maior eficácia do grupo como um todo. O grupo, por sua vez, faz as regras e proporciona os valores. Ele, na realidade, é composto por indivíduos que apresentam e, em outros momentos, refazem tais regras. É interessante observar que, ao mesmo tempo que têm a responsabilidade de produzir dentro das organizações, esses indivíduos são responsáveis pela construção de suas singularidades, as quais, na maioria das vezes, são controladas, sendo submetidas de forma acrítica a tais regras e valores. No entanto, eles também podem ser os indivíduos da transformação, da oposição e da produção do novo (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). O grupo é um instrumento que complementa a dinâmica de construção social da realidade. Trata-se do espaço em que a instituição acontece. Dinâmica de grupo em organizações e instituições Os grupos em diferentes organizações e suas dinâmicas É importante destacar que a organização é composta por pessoas organizadas para atingir metas comuns (LACOMBE, 2005). Já Aguiar (2005) destaca que, em uma organização, verifica-se a existência de diferentes grupos com: Objetivos específicos (valores); Normas e padrões de comportamento estabelecidos; Uma forma própria de interação entre seus membros. A importância e a influência dos grupos na organização e no comportamento de seus membros têm sido um interessante constante de psicólogos. Esses profissionais têm realizado muitos estudos sobre os fenômenos grupais. Tais estudos se concentram especificamente da seguinte forma: Como são constituídos os grupos; Aspectos de suas forças sociais e psicológicas; Influência das diferentes estruturas grupais e dos canais de comunicação; Poder de influência e de mudança nos pequenos grupos; Caracterização de um líder; Funções de liderança; Papel da liderança no desempenho e no comportamento dos membros dos grupos. Para Morin e Aubé (2009), em uma organização, o grupo representa um recurso tanto para as pessoas que dele fazem parte quanto para ela. Em especial, o grupo pode: Dar apoio ao indivíduo admitido em uma empresa; Oferecer, ao longo de sua trajetória na organização, suporte para que ele possa adquirir habilidades úteis para a execução de tarefas e seu aperfeiçoamento; Prestar ajuda ao indivíduo em suas atividades cotidianas. Já para a empresa, o grupo possibilita a realização de tarefas complexas ou difíceis à medida que se beneficia dos talentos de várias pessoas. Ele também permite a melhoria da qualidade das decisões, facilita a mudança e garante a estabilidade organizacional por meio do fortalecimento do sentimento de se pertencer ao grupo de trabalho. No ambiente de trabalho, alguns grupos se formam espontaneamente a fim de atender a diferentes necessidades individuais. Podemos defini-los como grupos informais. Exemplo: grupos de amigos, de viagens e do futebol. Por outro lado, outros grupos surgem por questões de trabalho ou por decisão organizacional. Trata-se dos chamados grupos formais: a entrada neles, em geral, é obrigatória; além disso, as pessoas geralmente não escolhem quem entra ou com quem vão ficar.Vamos lembrar de que todos nós já passamos por experiências nas quais fomos obrigados a trabalhar com pessoas com quem tínhamos pouca ou nenhuma afinidade (pelo menos no início). Tais experiências de vida nos fazem ter consciência das dificuldades que o trabalho em grupo pode trazer, especialmente no que diz respeito ao aparecimento de conflitos e problemas de gestão. Mas não vamos esquecer de que várias pessoas viveram e vivem experiências, mostrando quão importante e vantajoso é trabalhar em grupo. Sabemos o quanto é difícil realizar individualmente determinadas atividades (ou até impossível), porém, em grupo, elas se tornam muito mais fáceis. Bergamini (2009) afirma que, em grupo, o trabalho produtivo e eficaz é um diferencial que oferece destaque à organização. O grupo eficaz possibilita um espaço de aprendizagem colaborativa, oferecendo aos seus membros a chance de melhorar suas competências nas funções. Dessa forma, considera-se que os grupos podem ter um importante impacto sobre a maneira como seus membros se comportam. Os grupos em diferentes instituições e suas dinâmicas De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008), as pessoas estão inseridas em espaços institucionalizados. A instituição é um campo amplo no qual estão incluídas até as organizações. Como exemplo de instituições, podemos considerar: Famílias Instituições religiosas Instituições de ensino (escolas e universidades) Instituições jurídicas, políticas e econômicas São consideradas grupos primários as instituições cujos membros têm relações próximas, havendo um grande envolvimento emocional que costuma existir respeito, cooperação e lealdade. Exemplo: amigos e familiares. Já nas instituições com grupos secundários, os relacionamentos imparciais e racionais predominam entre as pessoas. Nesses grupos, também é comum haver indivíduos que nunca tiveram contato com seus colegas. Exemplo: no ingresso em uma faculdade ou em um emprego novo. Nas instituições, há dois tipos de solidariedade. Confira a seguir: Considerada uma forma de convívio na qual as pessoas fazem parte de um grupo porque escolhem estar com seus membros. É o caso do grupo de amigos que se reúne nos finais de semana, no feriado ou nas férias para fazer um churrasco, ouvir uma música, se divertir ou simplesmente bater papo. Solidariedade orgânica Ocorre quando fazemos parte de um grupo que independe da nossa escolha. Entretanto, subgrupos (grupos de sala de aula ou de amigos do escritório) podem surgir nele. Observamos que a quantidade de pessoas em um grupo pode mudar muito. Todos os membros dele terão um ou vários objetivos específicos em comum, podendo desempenhar diferentes papéis para a execução desse objetivo. Motivação nos grupos Os motivos Para Robbins (2002), as pessoas se reúnem em grupo por vários motivos. Confira a seguir alguns deles: Reduzir a insegurança de “se sentir só”, criando forças para enfrentar as ameaças. Ser incluído em um grupo pode ser visto como algo importante para o indivíduo, já que ele proporciona reconhecimento para seus membros. Os grupos podem dar a seus membros uma sensação de valor próprio à medida que a filiação faz com que seus membros valorizem os Solidariedade mecânica Segurança Status Autoestima outros do próprio grupo. Satisfações das necessidades sociais. Os objetivos só podem ser alcançados por meio da ação grupal. Ocasiões em que mais de uma pessoa é necessária para realizar determinada tarefa em função da necessidade de diferentes talentos, conhecimentos ou poderes para que uma meta seja atingida. A coesão Outro aspecto importante em um grupo é a coesão. Trata-se de um elemento usado pelos grupos para que seus membros alcancem as regras estabelecidas. Segundo Ribeiro (2003), quando as relações interpessoais entre os membros de um grupo são fortes, a comunicação se torna mais eficiente, reduzindo o nível de falhas e atritos; além disso, os conflitos e as lutas pelo poder não são tão importantes. Quanto mais coeso é um grupo, mais se cria um senso de identidade entre seus membros, pois eles compartilham ideias e valores comuns à convivência. Com isso, ela torna-se muito mais fácil, elevando o comprometimento de todos para alcançar metas comuns. Bock, Furtado e Teixeira (2008) ressaltam que, quando alguém ingressa em um novo grupo, seu comportamento será avaliado e sua adesão, verificada. As pessoas que estão há mais tempo nele já não passam por isso: caso não cumpram alguma regra, elas não serão responsabilizados por isso. Ocorre que, no caso das pessoas mais antigas, o grau de aderência ao grupo é conhecido e entende-se que eles não agem contra a manutenção dele. Ser fiel ao grupo constitui a chamada coesão grupal. A partir de suas características, os grupos apresentam maior ou menor coesão grupal. Exemplo Em um grupo de jovens que participam de reuniões religiosas, é necessária alguma coesão para manter o grupo, mas não em alto grau. Grupos com baixo grau de coesão acabam se desfazendo, como geralmente acontece com grupos de pais em escolas. Os objetivos do grupo sempre predominarão sobre os motivos individuais, embora as diferenças individuais possam ser reconhecidas. Se precisar manter sua coesão, ele dificultará colocações e expressões individuais capazes de, de alguma forma, se opor às suas finalidades. Associação Poder Alcance de metas Processos grupais em organizações e instituições Neste vídeo, a especialista reflete sobre os processos grupais em organizações e instituições, destacando os respectivos desafios do psicólogo. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Nas instituições, há dois tipos de convivência em grupos: a solidariedade orgânica e a mecânica. Podemos dizer que a orgânica está presente em: Parabéns! A alternativa D está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EA%20solidariedade%20org%C3%A2nica%20%C3%A9%20um%20tipo%20de%20conv%C3%ADvio%20no%20qual%20os%20indiv%C3%AD Questão 2 Nas organizações, certos grupos se formam por decisão organizacional; outros, de maneira espontânea. Aqueles formados por decisão organizacional (também denominados formais) seriam a: A grupo de professores do curso de Psicologia para subsidiar as decisões do coordenador do curso. B grupo de psicólogos que se reúne a fim de implantar um treinamento para gestores em diversas organizações. C grupo de voluntários para servir comida para moradores de rua. D grupo de amigos que se reúne para jogar vôlei. E grupo de trabalho para subsidiar as decisões do gestor de uma multinacional. A formação de um grupo para andar de bicicleta à noite. B formação de um grupo para estudar os astros. Parabéns! A alternativa E está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EGrupos%20formais%20s%C3%A3o%20organizados%20pela%20estrutura%20de%20uma%20empresa.%20A%20entrada%20no%20grupo 2 - O papel do coordenador do grupo Ao �nal deste módulo, você será capaz de descrever o papel do coordenador do grupo. Competências do coordenador de grupo Formação Para Zimerman (1993), a formação de um coordenador de grupo, da mesma forma que a de qualquer outro profissional, está baseada em três aspectos, confira: C formação de um grupo para disputar o campeonato de basquete do bairro. D formação de um grupo de discussão sobre política brasileira. E formação de um grupo composto por psicólogos para atuar na implantação do programa de qualidade de vida em diversas empresas. Conhecimentos Consistem na necessidade de uma consistente base teórica e técnica relacionada a um programa de ensino-aprendizagem sistematizado e continuado por uma constante curiosidade e leitura diversificada. Resultam de uma atividade supervisionada, sendo que o aprendizado é obtido tanto pelos acertos como – e principalmente – pelos erros, só sendo possível a partir da experiência própria de cada um. As atitudes do terapeutarefletem como ele é como gente. Elas resultam da união de uma série de fatores: conhecimentos e habilidades que possuem; sua estrutura da personalidade; o investimento em sua análise pessoal; seus valores; e, principalmente, a presença de algumas características nem sempre manifestadas. Analisando as características da pessoa de um grupoterapeuta de forma específica, podemos afirmar que nem todos os terapeutas têm indicação para serem coordenadores de grupo. Postura pro�ssional A partir dos estudos de Mota e Munari (2006), as principais posturas esperadas para um coordenador de grupos seriam: Dominar os conceitos científicos e os instrumentos, além de ter habilidade para realizar intervenções e coordenar os aspectos grupais. Conduzir o grupo com espontaneidade, proporcionando um ambiente favorável à integração grupal. Atitude humanística e sem imposição de valores, crenças e comportamentos. As teorias aprendidas durante a formação não podem ser utilizadas para limitar o potencial e as dificuldades das pessoas, excluindo-as. Habilidades Atitudes Competência técnica Competência interpessoal Responsabilidade ética com o grupo Evitar enquadramentos teóricos Não é possível elaborar diagnósticos e análises que generalizem os comportamentos do grupo, pois cada ser é único e tem sua subjetividade. Deve-se fazer isso em vez de usar crenças populares e mitos no processo grupal. Tais ideias são provenientes do contexto social que influencia a percepção do grupo.Exemplo: Questões relacionadas a idade, gênero, cor, etnia, cultura, religião, traços físicos e trejeitos pessoais. É imprescindível adquirir confiança, o coordenador deve ter respeito e paciência com o funcionamento do grupo. É permitido errar, expressar suas percepções sobre o grupo, sem medo de receber críticas dos participantes ou de ter uma avaliação desfavorável do trabalho realizado. É importante, portanto, que o coordenador não tenha receio de perder os afetos que surgem na relação com o grupo e que acredite no trabalho que realiza. Para Mota e Munari (2006), os aspectos apontados constituem atitudes e cuidados necessários e esperados para não atrapalhar a dinâmica do grupo. O coordenador deve incentivar o crescimento individual e grupal, com a visão de que ambos precisam: Expandir e aperfeiçoar os conhecimentos; Desenvolver as potencialidades; Promover a integração; Quebrar paradigmas; Possibilitar mudanças. O papel do coordenador é interferir. Ao trabalhar com a dialética do processo grupal, ele favorece uma perspectiva e uma comunicação clara, de modo que todos tenham conhecimento sobre as situações ocorridas no contexto grupal. Não emitir diagnósticos Utilizar o conhecimento científico Não permitir ideias preconcebidas Compreender que cada participante do grupo tem um ritmo e tempo específico Não ter receio Prática do coordenador de grupo As características do coordenador de grupo Para Zimerman e Osório (1997), a coordenação de grupos é vista não só como uma ciência, mas também como uma arte. Afinal, é necessário ter algumas características. Confira a seguir: Vamos conhecer agora os principais atributos, isto é, as características consideradas indispensáveis, na visão desses autores, para a formação e a prática de um coordenador de grupo: O coordenador precisa gostar de grupos, pois seus membros percebem e captam com mais facilidade o que é passado por ele. Não se espera, porém, que o coordenador seja perfeito. Dica: É importante que o coordenador de grupo tenha passado pela experiência de ter sido membro de um grupo na condição de paciente ou de observador. Conhecimento teórico Domínio da técnica Responsabilidade com o ser humano Criatividade Emoção Sensibilidade Gostar de grupos O coordenador precisa conter os inevitáveis momentos de sua ignorância em relação ao que está se passando no campo grupal, bem como angústias e necessidades tanto dos outros quanto de si mesmo. O coordenador tem de se colocar no papel de cada membro e fazer um aproveitamento útil de todos os sentimentos contratransferenciais. Para tanto, é indispensável que ele tenha condições de diferenciar os sentimentos que surgem dos pacientes daqueles que são unicamente dele. No campo grupal, há muitas identificações (as projetivas, principalmente) que precisam ser diferenciadas pelo coordenador. Caso contrário, corre-se o risco de se instalar uma confusão de papéis e de responsabilidades. Os membros do grupo podem se identificar com características e capacidades do coordenador do grupo. O modelo de identificação também contribui para a função de desidentificação e dessignificação de experiências passadas, abrindo espaço para novas identificações e significações no grupo. Trata-se da capacidade de o coordenador de grupo olhar para as pessoas com as quais está próximo e em interação. É a capacidade de observar sem o olhar de rótulos e de papéis da sociedade. Essa postura acaba sendo desenvolvida em cada um dos pacientes do grupo. A tolerância por falhas e limitações presentes em algumas pessoas do grupo, assim como a compreensão e a paciência pelo ritmo de cada um, tem de estar presentes. É necessário que o coordenador de grupo saiba se comunicar adequadamente devido à responsabilidade que o conteúdo interpretativo e o seu estilo de comunicar representam. Também é importante que ele esteja em sintonia com os membros do grupo. Atenção: O coordenador deve ficar atento, pois a comunicação não é unicamente verbal. A não verbal, porém, tem suas sutilezas. Sem nunca perder a seriedade da situação, o coordenador é capaz de atingir uma profundidade na comunicação, mantendo seu papel e a manutenção dos necessários limites. Isso pode ocorrer por meio de: Capacidade de ser “continente” Capacidade de empatia Capacidade de discriminação Modelo de identificação Respeito Comunicação Senso de humor Exclamações; Comentários bem-humorados; Brincadeiras; Uso de eventuais metáforas; Sorriso e riso. É essencial que o coordenador, quando se aproxima o término da sessão, faça uma síntese dos principais movimentos que nela ocorreram a fim de integrar os aspectos que foram aparecendo dissociados e projetados. Ele também deve construir uma uniformidade de comunicação e uma continuidade de coesão grupal. Missão dos coordenadores de grupo A importância dos grupos e dos coordenadores Ao longo dos tempos, notamos que o trabalho de grupos vem se destacando cada vez mais, principalmente nas áreas da saúde, educacional e organizacional. Os coordenadores, por isso, são essenciais no desenvolvimento dessas práticas. Andaló (2001) afirma que a valorização torna o conhecimento sobre os grupos um elemento fundamental e até mesmo indispensável, seja em termos de eficácia para alcançar metas ou realizar tarefas, seja para identificar lideranças, conseguir coesão e solucionar conflitos e tensões, entre outros aspectos. Mesmo tratando-se de grupos operativos ou terapêuticos, é preciso (e imprescindível) ampliar o conhecimento sobre essa temática, considerada significativa no campo da psicologia social. Um aspecto preocupante que Andaló (2001) aponta é o fato de as pessoas considerarem que a coordenação de um grupo seja um trabalho técnico ou que se trate de uma função simples, não sendo necessário, portanto, reunir conhecimentos teóricos, e sim apenas dominar jogos, técnicas, brincadeiras ou dinâmicas, os quais, de certa forma, são usados sem comprometimento e de maneira superficial em algum grupo. Esse pensamento é mais comum do que você imagina. Exemplo Desqualificar a seriedade de um trabalho com grupos ao pedir uma "tecnicazinha" com o objetivo de ser utilizada em um grupo cujas relações e comportamentos o próprio coordenador desconhece por completo. Entre as várias perspectivas teóricas que estudam e trabalham com esse assunto, a reflexão sobre o papel do coordenador de grupo é uma motivação contínua. Por mais que as pessoas questionem a necessidade de haverum coordenador de grupo, a própria história dos grupos justifica tal necessidade, pois mesmo aqueles que se unem de forma espontânea atribuem (ainda que provisoriamente) o papel de líder a determinados participantes. Capacidade de síntese e integração Para Mota e Munari (2006), o coordenador de grupo tem de descobrir uma maneira satisfatória para realizar as intervenções sobre os assuntos que surgem no processo grupal, reunindo e dando ênfase não só aos aspectos científicos, mas também às emoções que florescem na interação com o grupo. É primordial iniciar um trabalho com grupos de maneira acolhedora e clara. Entretanto, é entre a prática e a teoria, entre o profissional e o pessoal, que o equilíbrio vai ocorrer. O trabalho do coordenador de grupo Neste vídeo, a partir da prática do profissional de psicologia, a especialista reflete sobre o trabalho do coordenador de grupo. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Ao considerarmos as contribuições de Zimerman (1993) ao processo grupal, podemos afirmar que a formação de um coordenador de grupo deve estar baseada em: Parabéns! A alternativa C está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EDe%20acordo%20com%20Zimerman%20(1993)%2C%20a%20forma%C3%A7%C3%A3o%20de%20um%20coordenador%20de%20grupo% se%20com%20a%20parte%20te%C3%B3rica%20e%20a%20t%C3%A9cnica.%20As%20habilidades%20s%C3%A3o%20desenvolvidas%20na%20experi% A linguagem, raciocínio e percepção. B emoção, inteligência e atenção. C conhecimentos, habilidades e atitudes. D raciocínio, vocabulário e sensação. E informações, terapia e reflexões. Questão 2 O modelo de identificação é uma das característica desejáveis para um coordenador de grupo. Nesse sentido, Zimerman e Osório (1997) afirmam que esse atributo: Parabéns! A alternativa A está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EO%20modelo%20de%20identifica%C3%A7%C3%A3o%20favorece%20a%20identifica%C3%A7%C3%A3o%20de%20caracter%C3%ADstica 3 - Especi�cidades em grupos de crianças e adolescentes Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer as especi�cidades em grupos de crianças e adolescentes. A possibilita aos membros do grupo introjetar a figura do coordenador e se identificar com muitas características e capacidades dele. B analisa a capacidade de pensar, agir e sentir dos participantes. C considera se a pessoa tem problemas de comunicação e de personalidade. D define-se pela imposição do coordenador quanto aos seus valores e às suas expectativas ao grupo. E compreende se o coordenador de grupo gosta de trabalhar com grupos e pessoas. O psicoterapeuta e as aprendizagens em grupo Formação do psicoterapeuta infantil De acordo com Levisky (1997), para trabalhar com crianças, é fundamental gostar e se interessar por elas. O trabalho com elas, contudo, é mais complexo do que com adultos – e ser psicoterapeuta de grupo de crianças é ainda mais delicado. A formação de um psicoterapeuta infantil é demorada. O profissional da área deve estar em análise pessoal e possuir uma formação aprofundada e conhecimento sobre o desenvolvimento infantil. Além disso, ele precisa ter um curso de especialização a respeito da dinâmica do funcionamento grupal e participar de supervisões clínicas com profissionais mais experientes na área. O psicoterapeuta de crianças deve desenvolver a capacidade de: Tolerar frustrações; Receber ataques do grupo; Comunicar-se de forma simples e acessível; Conduzir atividades lúdicas; Suportar jogos muitas vezes cansativos; Ser criativo e autônomo. O terapeuta infantil precisa gostar de brincar e de se comunicar com crianças. Para isso, ele deve trabalhar, em sua análise pessoal, a sua criança interna. Isso significa ter um lado infantil e brincalhão, tornando-o, assim, uma pessoa empática com as crianças. Ao mesmo tempo que participa, esse terapeuta também observa, tendo, com isso, uma participação ativa e discreta. Espaços de comunicação e aprendizagem O coordenador de grupo de crianças deve ser um indivíduo sensível e intuitivo, apresentando as condições necessárias para brincar, sonhar e levar o grupo ao desenvolvimento de uma capacidade do pensar. Para Zimerman (1993), a psicoterapia analítica de grupo é a melhor modalidade para os adolescentes, pois o grupo é a matriz dinâmica adequada para o jovem adquirir um insight da condição e das mudanças próprias dos conflitos da idade, podendo elaborar os lutos pelas perdas que acompanham o necessário abandono da identidade infantil e preparar-se para aproveitar as novas aquisições da emergente identidade adulta. De acordo com Coutinho e Rocha (2007), os grupos de reflexão proporcionam formas de escuta psicanalítica focadas nos adolescentes em ambientes institucionais ou sociais frequentados por eles. Exemplo: escolas, instituições de acolhimento e projetos sociais. O período da adolescência é marcado por um momento que impõe ao jovem um trabalho mais subjetivo, indo ao encontro de sua identidade com o objetivo de reconhecer seu espaço e suas possibilidades de agir em um mundo social no qual ele está inserido. A formação de grupos vai favorecer a busca dos adolescentes por uma nova fase social, abrindo espaços de comunicação e apoios necessários à elaboração de perdas infantis e à construção de um lugar no mundo adulto. Atenção! O grupo constitui um importante local no qual é possível realizar ações que correspondem a um trabalho psíquico da adolescência, dando ênfase a novas oportunidades de descobertas de si mesmo. Grupos de crianças Contrato terapêutico Segundo Levisky (1997), é mais comum formar grupos com crianças cuja idade varia de 6 a 9 anos e entre 9 e 12. Para quem trabalha com esse público, o contrato terapêutico deve ser feito em dois níveis. Confira a seguir: Devem ser tratadas questões de ordem prática, como honorários, duração das sessões, sistema de faltas e férias, é preciso trabalhar outros pontos relativos à resistência que surge durante o processo terapêutico. A dinâmica de funcionamento grupal também é conversada com as Trabalho com os pais crianças. O trabalho é em sistema de grupos abertos (possibilidade de entrada de novos membros durante o processo terapêutico), as questões contratuais são abordadas na fase de encaminhamento da criança, logo após o período diagnóstico. Por outro lado, nos fechados, o contrato, com tempo e objetivos delimitados, é discutido em grupo. Para trabalhar com um grupo de crianças, é preciso ter um espaço apropriado. A sala não deve ser grande para não dispersar a atenção delas. Já o piso precisa ser de fácil limpeza. Outros itens também são necessários, como os seguintes: Uma pia; Uma ou mais mesas de trabalho (dependendo do tamanho do grupo); Uma estante para guardar materiais e jogos coletivos cuja altura proporcione às crianças um fácil acesso; Um espaço suficiente para o grupo se reunir em círculo. Critérios de homogeneidade Zimerman (1993) destaca a necessidade de haver clareza quanto aos critérios de homogeneidade, às idades e ao tipo de patologia a ser atendida (psicóticas ou não psicóticas, por exemplo), já que, em alguns casos, o auxílio de outro psicoterapeuta é necessário. As crianças se comunicam em um grupo por meio de uma linguagem motora e lúdica. Por essa razão, o local deve contar com um material que propicie o uso de jogos, brinquedos e brincadeiras. Dica Em jogos e brincadeiras, é natural haver contato físico entre as crianças. Levisky (1997) frisa que nem sempre as crianças têm consciência dos aspectos elaborados. Por isso, cabe ao coordenador de grupo ajudá-las a dar nome às emoções de natureza inconsciente surgidas na dinâmica grupal. No entanto, o terapeuta, para transmitir o que pretende comunicar, precisa ter o cuidado de usar um vocabulário simples e acessível à compreensão da criança. Ser terapeuta de crianças não significa falar como uma criança,e sim para ela. Trata-se de desenvolver uma capacidade para entrar na brincadeira, sem, no entanto, perder a função analítica. Isso significa poder ter acesso ao mundo interno dos pacientes por meio do qual se vive na relação analítica. É aprender a: Escutar; Observar os conteúdos não verbais e simbólicos do lúdico; Conter angústias juntamente com o grupo. É, em suma, continuar brincando de "esconde-esconde" com a função de tentar achar o escondido na mente das crianças e do grupo. Grupos de adolescentes Trabalho com o grupo Recomendações teóricas Para Zimerman (1993), os teóricos que se dedicam ao cuidado de adolescentes recomendam o grupo como a terapia pelos seguintes motivos: Os adolescentes gostam de estar em grupo. É próprio e natural neles; Eles aceitam mais o processo grupal (os sentimentos estão mais dispersos) do que em uma situação individual (os sentimentos transferenciais são mais intensos), que é sentida como mais ameaçadora; Existe um favorecimento na estruturação do sentimento de identidade (individual e grupal); Em conjunto, ocorre melhor elaboração de perdas e ganhos, bem como mudança de valores que fazem parte de todos. Registra-se uma mudança técnica em relação à faixa etária dos adolescentes em grupoterapia. No caso daqueles entre 15 e 17 anos, a delimitação e a condução técnica se aproximam muito mais da utilizada com o grupo de pré-adolescentes. Quanto aos adolescentes, cuja idade seria entre os 18 e 21 anos, a técnica é praticamente igual a empregada em grupos com adultos. Constatamos nesse momento, uma valorização da comunicação verbal, mas ainda encontramos a linguagem corporal e encontramos os segredos entre os integrantes. Exemplo Um namoro oculto entre membros do mesmo grupo. Psicoterapia de grupo com adolescentes O psicólogo que trabalha com grupo de adolescentes deve desenvolver: Uma natural empatia com eles; Uma boa tolerância às contestações, que, às vezes, assumem uma aparência muito agressiva; Conhecimento da comunicação não verbal. Também é recomendável que esse profissional saiba eventualmente utilizar o recurso da psicodramatização. O trabalho com o grupo de adolescentes estabelece três possibilidades: Amenizar a ansiedade que existe nas fantasias inconscientes por meio da interpretação das situações trazidas; Proporcionar a manifestação de sentimentos e ações dos adolescentes; Promover a socialização entre os membros. O cuidado com adolescentes no trabalho em grupo Neste vídeo, a partir da perspectiva da psicoterapia enquanto cuidado da saúde mental, a especialista reflete sobre o trabalho em grupo com adolescentes. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Leia o fragmento do texto a seguir: “A psicoterapia de grupo facilita o contato das crianças entre si e com o grupo. Auxilia no desenvolvimento do insight, e contribuiu para o bem- estar das crianças do grupo de atividades. O terapeuta funciona como facilitador de um setting que favorece o jogo, o brincar, a capacidade de criar, de imaginar e de expressar os conteúdos inconscientes e conscientes que surgiram das realidades interna e externa de cada criança” (TERZIS, 2005, p. 291-299). O texto apresentado aborda: Parabéns! A alternativa A está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3E%C3%89%20fundamental%20inicialmente%20que%20o%20terapeuta%20infantil%20goste%20de%20crian%C3%A7as%20e%20de%20es Questão 2 Analise o trecho a seguir: “Os grupos de adolescentes se formam a partir de uma necessidade básica de desvincular-se do grupo familiar de origem e testar, em novas relações objetais com seus pares, os padrões adaptativos que possibilitarão a cristalização da identidade adulta” (OSÓRIO, 1986, p. 328). A as habilidades e as capacidades de um terapeuta para trabalhar com crianças. B o contato com a própria infância do terapeuta para entender melhor as crianças. C que gostar de trabalhar com crianças é somente o que importa para um terapeuta. D a compreensão mais profunda do complexo maravilhoso universo infantil de um adulto. E o brincar e o jogar, além de ter criatividade e imaginação, como algumas ações sem muito destaque para o trabalho com grupo de crianças. Considerando a afirmação acima, podemos concluir que o trabalho com grupos de adolescentes possibilita: Parabéns! A alternativa B está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EO%20grupo%20oferece%20diversos%20benef%C3%ADcios%20as%20pessoas%20de%20modo%20geral.%20No%20caso%20dos%20ad 4 - Ética no trabalho em grupo Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a ética no trabalho em grupo. Regulação dos grupos A focar apenas a projeção das angústias e o sentimento de pertencer a um local. B amenizar a ansiedade, a manifestação dos sentimentos e a socialização entre os adolescentes. C trabalhar a sensação de ser excluído da sociedade marcada por atitudes dos adultos. D conversar sobre o estresse exigido pelas pressões acerca da escolha profissional e da busca pela intimidade. E a socialização e o engajamento político, pontos centrais das necessidades básicas dos adolescentes. A ética Rasera e Freitas (2010) enfatizam que o conceito de ética assumiu, ao longo dos tempos, vários sentidos. Inicialmente, havia a base etimológica da palavra grega ethos, que significa hábitos e costumes. Posteriormente, a definição de ética estava relacionada ao estudo da moral, cuja finalidade principal é fazer o bem. Muitos teóricos postulam que, na atualidade, a ética relaciona-se a um conjunto de valores e de normas que orienta as pessoas e representa a consciência e as atitudes da sociedade. Ela determina normas de comportamento com valores e dever. A ética é diferente, porém, de uma simples regra para se obter oportunidades. Por mais que determine normas de dever, os seres humanos têm a liberdade para realizá-las ou não. Considerar que as pessoas fazem parte de um mesmo contexto social não implica que elas sejam iguais, que pensem da mesma forma, que acreditem nas mesmas coisas ou que individualmente busquem o mesmo objetivo. Sabemos que as pessoas têm as próprias crenças, valores e interesses a fim de atender às suas necessidades. É mais fácil pensar que elas tenham, afinal, a sua forma de agir diante das adversidades do mundo. Os indivíduos agem de formas diferentes na sociedade. Muitas vezes, eles se comportam de maneira desigual, o que possibilita o surgimento de conflitos de interesses – algumas vezes, entre as pessoas; em outras, entre a pessoa e a sociedade. As pessoas atuam conforme suas motivações, agindo a partir de diferentes situações. Elas, em suma, decidem sobre o que é bom ou ruim e certo ou errado para si mesmas. A ética se faz fundamental no(a): Relação entre pessoas; Estrutura familiar; Relacionamento de comunidades. omunidades Esportivas, culturais, religiosas, organizacionais e educacionais. Ao pensarmos na ética no contexto profissional, podemos relacioná-la com a definição de deontológica, que trata das ações que as pessoas precisam ter no exercício profissional, embora seus comportamentos não estejam baseados em uma regulamentação jurídica. A prática, na verdade, está fundamentada na liberdade que a pessoa tem para agir e no caráter moral. Desse modo, é necessário haver um comportamento ético que, estando a par do conhecimento técnico, sustente a base do exercício das profissões. O estudo da ética (de forma geral) e o da sala aplicação ao exercício de uma profissão (em particular) devem receber a devida atenção no processo educativo e formativo – e isso também se aplica à formação do psicólogo. O grupo e sua dinâmica De acordo com Bergamini (2009), o indivíduo satisfaz às suas necessidades sociais no grupo em que está inserido. Por outro lado, é a partir do grupo que cada membro estabelece seu autoconceito. Ao se relacionar com outras pessoas, é possível obter informações importantessobre cada membro. É dentro do grupo que se torna possível obter auxílio e apoio, tendo em vista a conquista não somente dos objetivos individuais, mas também dos organizacionais e institucionais. É claro que, se detém o poder de ajustar e de favorecer o desenvolvimento produtivo da personalidade, o grupo também pode ter uma ação prejudicial ao indivíduo. As pessoas podem experimentar grandes sofrimentos quando rejeitadas pelo grupo ao qual pertencem. O grupo pode trazer danos à autoestima e à autoidentidade dos indivíduos que dele fazem parte. Sabemos que, embora o desejo inicial de todos que formam um grupo de interação frente a frente seja a busca de um convívio saudável, nem sempre é possível cumprir isso – e o prejuízo acaba por atingir a todos que a ele pertencem. Seria excelente se os objetivos do próprio indivíduo, do grupo, da organização e das instituições fossem parecidos. Isso, porém, nem sempre é possível. A solução é existir determinado grau de conformidade individual para continuar fazendo parte do grupo. Aguiar (2005) ressalta que o grupo – compreendido como uma identidade psicossociológica sujeita a fenômenos específicos, como coesão, estrutura, liderança, respeito e comunicação – foi incorporado à psicologia social e tornou-se o objeto de estudos e pesquisas, proporcionando uma compreensão científica para uma compreensão melhor do comportamento humano. A dinâmica de grupo não pode ser considerada nem confundida ccom uma simples técnica de trabalho em grupo. Dinâmica de grupo é ao mesmo tempo um estudo científico e uma prática que tem por objeto: Os grupos como entidades psicossociológicas; A natureza de suas forças; Os fenômenos e os processos grupais. Ética e processo grupal Autenticidade e respeito De acordo com Zimerman e Osório (1997), o coordenador de um grupo deve respeitar os integrantes – e não determinar ou impor suas crenças e suas expectativas. Ele precisa, portanto, expandir o espaço interior e exterior deles, possibilitando-lhes o direito de ser livre sem invadir a liberdade dos outros membros do grupo. O coordenador não pode se achar perfeito e querer ser o centro das atenções no grupo. Senão, ele poderá até estimular a idealização e a dependência de seus integrantes. Deve-se ter o cuidado para que o terapeuta não use o seu conhecimento como um elemento para ter poder, prestígio e dinheiro, já que ele precisa ter o compromisso ético com a busca da verdade. Não devemos, no entanto, compreender tal compromisso como uma recomendação para que o coordenador procure pelas verdades absolutas, pois elas são relativas e nunca definitivas. O coordenador tem de ser uma pessoa autêntica e sincera, não só como um dever ético, mas também por uma questão técnica. Por essa razão, ele está no papel de um novo modelo de identificação para os membros do grupo. No trabalho com grupos, o desenvolvimento ético da coletividade depende do respeito às necessidades do grupo para uma revitalização do diálogo e da participação. Código de ética O sigilo aparece com frequência em várias pesquisas, sendo caracterizado como um aspecto primordial para se respeitar e proteger as informações compartilhadas na terapia de grupo. Em outros estudos, o papel do coordenador de grupo surge como um líder, destacando que o comportamento pessoal dele pode impactar as ações éticas profissionais em diversas situações. Rasera e Freitas (2010) afirmam que o código de ética do psicólogo oferece poucas diretrizes para o contexto grupal. Ele é considerado um instrumento, um conjunto de normas a serem seguidas, já que não aponta todas as situações que fundamentam a prática profissional nem estabelece normas ou regras para a natureza técnica do trabalho, ainda que proporcione alguns direcionamentos. Em seu dia a dia, os profissionais que trabalham com grupos enfrentam diversas dúvidas particulares dessa atividade. Transpor as orientações éticas gerais do código para a prática grupal é, na maioria das vezes, uma ação realizada de maneira separada e secundária pelo profissional, dificultando a total prática ética e reflexiva de seu afazer. Autorregulação de valores nos grupos Neste vídeo, a partir do valor ético para o convívio social, a especialista reflete sobre como o trabalho em grupo pode colaborar para a autorregulação de valores nos membros do grupo. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Quanto à importância da ética no processo grupal, o coordenador de grupo tem o compromisso de: A diagnosticar os membros do grupo e a sua dinâmica. Parabéns! A alternativa E está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EO%20coordenador%20de%20grupo%20precisa%20ter%20o%20compromisso%20e%20a%20responsabilidade%20de%20n%C3%A3o%20 Questão 2 Analise o trecho abaixo: “O coordenador deve ter senso ético, considerando sempre que o grupo deve preceder suas motivações como pesquisador. É importante o código ético, mas esse não poderá substituir a conduta coerente do coordenador para encaminhar as situações nas quais se inserem os conflitos que decorrem das interações grupais, [o] que geralmente é explicitado por comportamentos de proximidade ou rejeição interpessoal” (DOMINGUES, 2004, p. 159-174). O texto apresentado aborda que: B curar o grupo das influências negativas do ambiente social. C resolver todos os conflitos e ambiguidades do grupo. D transformar a identidade do grupo e, posteriormente, a identidade individual. E manter uma atitude humana e não impor seus valores e crenças. A os aspectos do sigilo, da aparência e da sinceridade do coordenador impactam, de forma prejudicial, a evolução do processo grupal. B a subjetividade do coordenador funciona como uma ferramenta de transformação no grupo. C a postura do coordenador, que também é considerado um líder, é fundamental no processo grupal, pois seu comportamento pode influenciar as várias atitudes éticas em um grupo. D as pesquisas podem ser realizadas no grupo com ênfase na ética. E a participação dos integrantes do grupo podem ser fundamentais no desenvolvimento dele. Parabéns! A alternativa C está correta. %0A%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%20%3Cp%20class%3D'c- paragraph'%3EO%20coordenador%20de%20grupo%20tem%20um%20compromisso%20com%20a%20pr%C3%A1tica%20grupal%20e%20o%20fazer%2 Considerações �nais Ao longo do nosso estudo, discutimos os grupos em organizações e instituições. Além disso, analisamos o papel do coordenador de grupo. Destacamos as especificidades em grupos de crianças e adolescentes, verificando os aspectos éticos no trabalho em grupo. Pontuamos também que o trabalho do psicólogo com grupos em organizações e instituições exige um conhecimento sobre a forma com que eles se formam e as relações que estabelecem. Vimos ainda que o trabalho com grupos de crianças e adolescentes aponta as particularidades do processo terapêutico. Nesse sentido, o papel do coordenador é fundamental não só como um mediador do processo grupal, mas também para auxiliar os membros do grupo a pensar sobre suas ações, relações e sentimentos. Notamos que, no contexto grupal, a ética precisa estar presente, mas deve ser construída na prática por envolver sigilo e um bom relacionamento entre o coordenador e os integrantes do grupo. Por fim, frisamos quão desafiante é compreender o processo grupal. É primordial, assim, que o psicólogo conheça a dinâmica e o funcionamento dos grupos nas instituições e organizações. Podcast Ouça agora os diversos contextos e objetivos das dinâmicas de grupo, destacando exemplos das práticas do psicólogo em processos grupais nas diferentes áreas de atuação. Referências AGUIAR, M. A. F. Psicologia aplicada à administração: uma abordagem multidisciplinar. São Paulo: Saraiva, 2005. ANDALÓ, C. S. O papel de coordenador de grupo. Psicologia USP. v. 12. n. 1. 2001. p. 135-152. BERGAMINI, C. W. Psicologia aplicada à administração de empresas. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009.BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. BUSNELLO, E. D’A. Dinâmica de grupo. In: OSÓRIO, L. C. et al. Grupoterapia hoje. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. COUTINHO; L. G.; ROCHA, A. P. R. Grupos de reflexão com adolescentes: elementos para uma escuta psicanalítica na escola. Psicologia clínica. v. 19. n. 2. 2007. p. 71-85. DOMINGUES, I. Ética, ciência e tecnologia. Kriterion. v. 45. n. 109. 2004. p. 159-174. LACOMBE, F. Recursos humanos: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2005. LEVISKY, R. B. Grupos com crianças. In: ZIMERMAN, D. E.; OSÓRIO, L. C (Orgs.). Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artmed, 1997. MORIN, E. M.; AUBÉ, C. Psicologia e gestão. Tradução de Maria Helena C. V. Trylinski. São Paulo: Atlas, 2009. MOTA, K. A. M. B.; MUNARI, D. B. Um olhar para a dinâmica do coordenador de grupos. Revista eletrônica de enfermagem. v. 8. n. 1. 2006. p. 150-161. RASERA, E. F.; FREITAS, E. C. A. A. Sentidos sobre a ética para psicólogos que realizam práticas grupais. Gerais: revista interinstitucional de Psicologia. v. 2. n. 2. 2010. p. 128-140. RIBEIRO, A. L. Gestão de pessoas. São Paulo: Saraiva, 2003. ROBBINS, S. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice Hall, 2002. TERZIS, A. Grupo de atividades com crianças: processo de humanização. Estudos de Psicologia. v. 22. n. 3. 2005. p. 291-299. ZIMERMAN, D. E.; OSÓRIO, L. C. (Orgs.). Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artmed, 1997. ZIMERMAN, D. E. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre: Artes Medicas, 1993. Explore + Confira a indicações que separamos especialmente para você! Para ampliar seus conhecimentos, leia este artigo de Waldemar José Fernandes: A importância dos grupos hoje. É preciso, afinal, aprender a trabalhar com os grupos, pois eles estão cada vez mais presentes em instituições e organizações. Em um grupo, a comunicação e o vínculo são fortes elementos na interação. Você se interessou? Não perca tempo e acesse a página da Revista da SPAGESP. Aproveite também a oportunidade de, no site da Scielo, conhecer o seguinte artigo de Luiz Paulo de C. Bechelli e de Manoel Antônio dos Santos: Psicoterapia de grupo: como surgiu e evoluiu. Você perceberá como os aspectos históricos influenciaram a maneira com que a psicoterapia de grupo se encontra na atualidade. Vale a pena ler, no site da publicação Vínculo, este artigo de David Zimerman: A importância dos grupos na saúde, cultura e diversidade. Além de oferecer conhecimento sobre a importância da aplicação da dinâmica de grupo, o texto revela, entre outros aspectos, alguns dos principais fenômenos do campo grupal. Ele, sem dúvida, é muito interessante.
Compartilhar