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PEDAGOGIA – AMPLI COMPETÊNCIAS PARA A VIDA UNIDADE 1 – GERENCIAMENTO DE EMOÇÕES Aula 1. Emoções e comportamento A resposta luta-fuga, também conhecida como resposta ao estresse ;agudo, representa as escolhas que nossos ancestrais tiveram de fazer quando confrontados com o perigo em seu ambiente: lutar ou fugir. Em ambos os casos, a resposta �siológica e psicológica ao estresse prepara o corpo para reagir ao perigo, sendo liberados hormônios que preparam o corpo para confrontar a ameaça ou fugir para um local seguro. Mais especi�camente, o sistema nervoso simpático estimula as glândulas adrenais, desencadeando a liberação de adrenalina e noradrenalina, que provoca aumento na frequência cardíaca, pressão arterial e frequência respiratória. A resposta de lutar ou fugir pode acontecer diante de um perigo físico iminente (como encontrar um cachorro rosnando no meio da rua) ou como resultado de uma ameaça psicológica (como se preparar para fazer uma apresentação importante na faculdade ou no trabalho). A resposta luta-fuga pode ocorrer como “alarme”, conhecido como parte do primeiro estágio da síndrome geral de adaptação, um padrão especí�co de resposta comportamental proposto por Hans Selye, em 1936, e que ajuda a explicar o efeito do estresse no corpo humano. De acordo com a teoria (Figura 1 a seguir), existem três fases sucessivas de resposta diante de um evento estressor: alerta, resistência e exaustão: ● Fase de alerta: ocorre quando o indivíduo entra em contato com o agente estressor e o seu corpo perde o equilíbrio. Alguns sintomas possíveis são dores no estômago (acidez estomacal), aumento de sudorese, tensão nos ombros, insônia, mudança de apetite. ● Fase de resistência: nessa fase, o corpo busca voltar ao equilíbrio. Há um aumento de liberação de cortisol e tem-se impressão de controles esporádicos. Alguns sintomas possíveis podem ser cansaço constante, problemas dermatológicos, problemas com memória, gastrite prolongada, tonturas, sensibilidade emotiva excessiva e obsessão pelo agente estressor. ● Fase de exaustão: na última fase, podem ocorrer diversos comprometimentos físicos em forma de doença. Alguns sintomas podem ser: diarreias frequentes, tiques nervosos, problemas dermatológicos prolongados, tonturas frequentes, úlcera, impossibilidade de trabalhar, taquicardia, insônia prolongada, formigamento nas extremidades. … De acordo com Paul MacLean (1990), a progressão da vida pode ser vista em nosso cérebro a partir dos níveis de desenvolvimento que ele possui: reptiliano (primitivo ou instintivo), límbico (emocional) e neocórtex (racional). Nossos tecidos corticais são mais complexos, lentos, situam-se na periferia do cérebro (ou topo) e são responsáveis pelas nossas funções executivas (tomada de decisão, raciocínio lógico, memória da linguagem). No centro do cérebro, abaixo do córtex e acima do tronco cerebral, �ca nossa região subcortical, também conhecida como sistema límbico. No centro do sistema límbico, no meio do caminho entre nossas orelhas e atrás de nossos olhos, está a amígdala cerebral, envolvida, principalmente, no processamento de emoções e nas memórias associadas ao medo (Figura 2). Ela é peça-chave de como processamos emoções fortes, como medo ou prazer, e responsável por disparar a resposta luta-fuga. … Além disso, é interessante o mecanismo de contágio emocional que nosso cérebro sofre. Quando �camos encantados com um bebê sorridente ou quando nos entristecemos diante de uma pessoa em situação vulnerável, estamos nos conectando às outras pessoas, e essa também é uma característica de nossa espécie: somos in�uenciáveis socialmente e necessitamos do contato com outras pessoas. Isso ajuda a explicar o fenômeno das redes sociais e seu amplo crescimento nas últimas décadas. O fato de que podemos desencadear qualquer emoção em outra pessoa – e ela em nós – atesta o poderoso mecanismo por meio do qual os sentimentos de uma pessoa se espalham para outras. Esses contágios são a principal transação da economia emocional, o intercâmbio de sentimentos que acompanha toda interação humana, não importa qual seja o tema em questão. … De acordo com Paul Ekman (2016), temos emoções universais, ou seja, compartilhadas por toda a espécie a partir de cinco rotas evolutivas. A compreensão de nossas cinco rotas emocionais básicas nos permite saber as bases de nosso comportamento: ● Medo: uma percepção de ameaça real e iminente. ● Raiva: aponta uma percepção de injustiça, algo que nos bloqueia. ● Tristeza: provoca nossa resposta diante da perda de algo de valor. ● Nojo: aponta nossos gostos e preferências pessoais. ● Alegria: indica percepção de algo de valor. Cada uma dessas cinco rotas abre caminho para centenas de estados emocionais secundários, como melancolia, ansiedade ou frustração, perceptíveis em nossas relações de trabalho. Para cada “família” emocional existem determinadas atitudes, e todas as emoções são “úteis” no sentido de que nos trazem informações sobre nossa relação com o mundo. No entanto, podemos utilizá-las a nosso favor, de maneira construtiva (visando ao bem-estar e a uma melhor relação com a realidade) ou destrutiva (quando não nos desvencilhamos dos estados negativos ou prejudicamos outras pessoas). Vamos, então, compreender alguns comportamentos possíveis para cada uma das famílias emocionais, explorando respostas construtivas ou destrutivas a partir de exemplos: ● Ações diante do medo: evitar a ansiedade (medo de uma ameaça imaginada) pode ser construtivo, se nos ajudar a fazer uma apresentação para uma sala cheia de pessoas, e destrutivo, se nos impedir de confrontar nosso difícil relacionamento com nosso chefe. ● Ações diante da raiva: suprimir nossa frustração pode ser algo construtivo, se nos ajudar a evitar discussões, e destrutivo, se estivermos magoados por não falarmos por nós mesmos. ● Ações diante da tristeza: renunciar a sentimentos de desamparo pode ser uma ação construtiva para superar um luto intenso, porém destrutiva, se não buscarmos apoio quando precisarmos ou se formos vítimas de uma positividade tóxica (evitação extrema de sentimentos negativos). ● Ações diante do nojo: evitar a aversão pode ser algo construtivo para superar o preconceito, mas destrutivo se levar a um envolvimento com uma pessoa prejudicial. ● Ações diante da alegria: expressar nossa alegria por um comportamento extrovertido e brincalhão pode ser construtivo como meio de compartilhar com amigos um �nal de tarde, mas destrutivo se for em resposta a zombar de alguém. Aula 2. A escola de Harvard de inteligência emocional Baseados no modelo de Gardner, os pesquisadores John Mayer e Peter Salovey publicaram, em 1990, o primeiro artigo cientí�co que fez menção a uma inteligência emocional, ou seja, a um conjunto de habilidades mentais para se lidar com as emoções. Esse modelo �cou conhecido como quadrifatorial ou de ability cuja tradução é melhor de�nida como de aptidões mentais para se lidar com emoções humanas. De acordo com o modelo quadrifatorial, são quatro as habilidades de inteligência emocional (Figura 1): ● Perceber emoções: identi�car emoções em si, nos outros e em coisas, bem como expressá-las acuradamente. ● Usar emoções: facilitar o pensamento e o julgamento a partir de estados emocionais. ● Entender emoções: nomear emoções e sentimentos complexos e compreender progressões. ● Administrar emoções: estar aberto aos sentimentos e gerenciar emoções em si e nos outros. … No modelo quadrifatorial, todas as habilidades incluem as faculdades interpessoal e intrapessoal, ou seja, a compreensão e a interação com nós mesmos e com os outros. A principal contribuição desse modelo de inteligência emocional é considerar que nossas emoções são informações que podemos utilizar para melhor avaliarmos cada situação da vida e como nos posicionarmos. Para Susan David (2018), nossas emoções podem servir como guias ao nosso comportamento, uma vez que sinalizam que valores nossos estão sendo acionados. Enquanto navegamos pela vida, nós, humanos, temos poucasmaneiras de saber que rumo tomar ou o que vem pela frente. Não temos faróis que nos mantenham afastados de relacionamentos problemáticos. Não temos vigias na proa ou radares na torre atentos a possíveis ameaças submersas que podem afundar nossos planos de carreira. Em vez disso temos nossas emoções – sensações como medo, ansiedade, alegria e euforia – um sistema neuroquímico que evoluiu para nos ajudar a navegar pelas complexas correntes da vida. … De forma a promover a avaliação de competências socioemocionais de executivos do mundo inteiro, Goleman e Boyatzis (2016) associaram-se à Korn Ferry Hay Group e criaram o assessment ESCI – Emotional and Social Competence Inventory, que serve de base para processos de desenvolvimento gerencial e coaching sistêmico em equipes de liderança. O instrumento ESCI é uma avaliação 360° que permite que um indivíduo se avalie e seja avaliado por pares, clientes, líderes e liderados em relação a 12 competências socioemocionais ligadas ao trabalho nas dimensões de autoconsciência, autocontrole, consciência social e gestão de relacionamentos: ● Autoconsciência: reconhecer e entender as próprias emoções. Competência emocional associada (1): autoconsciência das emoções. ● Consciência social: reconhecer e entender emoções em outros. Competências emocionais associadas (2): empatia e consciência organizacional. ● Autocontrole: efetivamente, administrar as próprias emoções. Competências emocionais associadas (4): adaptabilidade, otimismo, autocontrole, orientação para resultados. ● Gestão de relacionamentos: aplicar e entender as emoções ao lidar com as emoções de outros. Competências emocionais associadas (5): coaching e mentoring, gestão de con�itos, in�uência, liderança inspiradora, trabalho de equipe Além do assessment ESCI, existem diversas escalas para avaliação de competências socioemocionais, algumas com validação cientí�ca, outras não. O que se espera desse tipo de assessment é que possa contribuir para que a organização possa medir a inteligência emocional de líderes e liderados, aumentar a conscientização das pessoas a respeito de seus comportamentos, desenvolver qualidades especí�cas para as interações sociais e promover con�ança e emoções positivas em indivíduos e equipes. … Re�etindo sobre a própria Inteligência Emocional (IE) Uma di�culdade nos programas de desenvolvimento organizacionais é medir o nível de consciência e ação emocional das pessoas. Nesse sentido, há uma contradição em relação aos testes de Inteligência Emocional, porque, se de um lado, somos pouco acurados em medir nossas próprias habilidades emocionais (na maioria das vezes, quem “menos precisa” de Inteligência Emocional é quem mais se bene�cia de programas de desenvolvimento), de outro, é interessante perguntar aos outros sobre nosso comportamento, e isso faz com que as avaliações por pares ou por informantes sejam largamente utilizadas. Porém, para que essas avaliações sejam bem-sucedidas, é preciso treinamento quanto à forma de condução e muito zelo com as informações coletadas, a �m de que não promovam um clima de descon�ança e perseguição. Aula 3. Quando falta inteligência emocional Todos estamos sujeitos a fenômenos afetivos, que, de acordo com o professor Rafael Bisquerra, da Universidade de Barcelona, englobam: ● Emoções: respostas de nosso organismo aos estímulos que recebemos. ● Sentimentos: tomada de consciência sobre essas emoções. ● Estados emocionais: podem ser entendidos como uma predisposição dos indivíduos para uma determinada atitude, comportamento ou decisão. Esses fenômenos afetivos são modulados por crenças e valores pessoais, isto é, o mesmo estímulo pode provocar respostas distintas nas pessoas, e isso traz impactos não apenas em nosso comportamento individual mas também nos relacionamentos interpessoais. Vamos às competências: ● Autoconsciência: é a principal competência de inteligência emocional, pois exerce grande in�uência nas demais, e é baseada numa vontade de ter acesso a novas perspectivas e no entendimento de si mesmo(a). Pessoas com essa habilidade têm maior facilidade para o desenvolvimento pessoal. Você demonstra autoconsciência quando: - Dá-se conta de seus próprios sentimentos. - Sabe o que causa esses sentimentos. - Compreende as consequências de seus estados emocionais em seu comportamento ou em suas decisões. - Conhece suas forças e limites. - Está aberto ao feedback. ● Autocontrole O autocontrole provê direção, energia e restrição ao nosso comportamento. Ele nos permite regular as emoções no cotidiano e ter maior controle das respostas emocionais em situações desa�adoras. … Você demonstra autocontrole emocional quando: - Consegue lidar de forma calma com situações estressantes. - Consegue regular a intensidade de suas respostas emocionais e controlar seus impulsos. - Mantém sua positividade e otimismo mesmo perante eventos difíceis. - Consegue realizar suas entregas mesmo quando envolto em sentimentos negativos. ● Consciência social Consciência social tem a ver com entrar em sintonia com as necessidades, expectativas, comportamentos e estados emocionais de outras pessoas. Aqui, é necessário considerar pessoas e contextos. Você demonstra empatia quando: - Consegue ler pistas sobre os estados emocionais de outras pessoas de forma precisa. - Desenvolve escuta ativa. - Entende as perspectivas e os pontos de vista de outras pessoas. - Compreende as razões que motivam as outras pessoas. Você demonstra sensibilidade ao contexto quando: - Entende as forças políticas em seu trabalho, grupo ou organização. - Consegue compreender as principais relações de poder existentes. - Compreende os valores e a cultura de seu grupo ou organização. - Compreende os processos informais existentes em seu grupo ou ambiente de trabalho. - Entende quais comportamentos são valorizados e quais são considerados inadequados em seu grupo ou ambiente de trabalho. ● Gestão de relacionamentos A gestão de relacionamentos é a competência que nos permite "fazer a diferença", in�uenciar e motivar outras pessoas, bem como aplicar o entendimento emocional no trato com o outro, mantendo a assertividade e o diálogo fácil para objetivos comuns. Você demonstra uma boa gestão de relacionamentos quando: - Consegue construir consenso e in�uenciar pessoas para apoiar suas ideias e sugestões. - Oferece feedback para melhorar o desempenho de outras pessoas, reconhecendo suas forças e oportunidades de desenvolvimento. - Consegue inspirar outras pessoas para atingir metas e objetivos, extraindo o melhor de cada uma delas. - Consegue promover con�ança, cooperação e espírito de equipe nos grupos em que atua. Aula 4. Como desenvolver a gestão emocional De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria (APA), a ansiedade é uma emoção caracterizada por sentimentos de tensão, pensamentos preocupados e mudanças físicas, como aumento da pressão arterial. Pessoas com transtornos de ansiedade, geralmente, têm pensamentos ou preocupações intrusivas recorrentes; elas podem evitar certas situações por preocupação e apresentar sintomas físicos, como sudorese, tremores, tonturas ou taquicardia. Como outros estados emocionais, a ansiedade pode ser facilitada por questões �siológicas, mas é, das emoções a�itivas, a mais ligada ao modo como projetamos nossa percepção da realidade. Ela é, portanto, uma emoção ancorada no tempo futuro, geralmente, ocupando nossa mente com situações sobre as quais não temos controle, mas desejamos controlar. De acordo com Laguaite (2011), são múltiplos os sintomas de ansiedade, entre eles: ● Evitar amigos ou família. ● Preocupação constante. ● Choro. ● Sensação de irritação, cansaço ou tensão. ● Sentir que você precisa ser perfeito. ● Ter problemas para dormir. ● Ter problemas para se concentrar ou lembrar das coisas. ● Perder o interesse no seu trabalho. ● Comer demais ou de menos. Existem situações que podem disparar nossa ansiedade e nos fazer antecipar nosso desempenho diante de outras pessoas. No espaço de trabalho,algumas delas são: ● Lidar com problemas de colegas. ● Montar e realizar apresentações. ● Acompanhar e atualizar as redes sociais. ● Reuniões, almoços de equipe e festas de escritório. ● Cumprir e de�nir prazos em equipe. ● Falar durante as reuniões. Certos comportamentos não nos ajudam a lidar com preocupações e ansiedades, como tentar suprimir os pensamentos, alienar-se com álcool e outros vícios, superestimar o risco de algo ruim acontecer ou checar repetidamente o status nas redes sociais. Ao contrário! O que pode contribuir para a diminuição da ansiedades é ter clareza do que efetivamente se pode controlar e uma certa apreciação da experiência, ainda que a vida apresente novos riscos e incertezas a cada dia. Em relação aos desa�os diários, para diminuir a ansiedade, é importante dedicar-se a uma atividade por vez, buscando pausas para observar o que acontece e refazer as energias. … É importante compreendermos que a tristeza é uma emoção humana normal, que todo mundo sente de vez em quando. Como vimos na primeira aula, ela está associada a algum tipo de perda, podendo estar vinculada à forma como entendemos alguma situação da vida. Uma característica interessante da tristeza é que, quando a sentimos, é como se “nunca tivéssemos” sentido a felicidade antes, além disso, facilmente, ela é a emoção dominante. Quando em intensidade baixa, a tristeza favorece a análise crítica e a empatia por outras pessoas; por essa razão, a tristeza pode ser aliviada quando desabafamos, choramos ou, simplesmente, entramos em contato com nossos sentimentos. O mais importante em relação à tristeza é que ela é temporária. Se ela se intensi�car e não estiver mais vinculada a algum fato especí�co (geralmente de perda), é possível que haja algo mais a se investigar, como uma possível depressão, e, nesse caso, o ideal é procurar ajuda de um pro�ssional de saúde mental. Ainda, a depressão pode ser desencadeada por uma predisposição �siológica, como uma forte alteração hormonal, ou devido a circunstâncias externas. O termo "deprimido" é frequentemente mal utilizado e muitas pessoas explicam estados de melancolia a partir do sentimento de depressão. A depressão clínica, no entanto, só pode ser diagnosticada por um pro�ssional de saúde mental, que pode avaliar os sintomas e recomendar o tratamento adequado. … Muitas são as práticas contemplativas, podendo ser generativas, quando intentam gerar pensamentos e sentimentos de compaixão ou conexão com algo superior (como orações e mantras), de movimento (como caminhadas ou artes marciais) ou de quietude, quando buscam promover calma e tranquilidade (como meditação sentada). Elas são chamadas "práticas" porque se aperfeiçoam com o tempo e a repetição, modi�cando a forma como experimentamos a realidade. De acordo com a organização CMind (2021), as práticas contemplativas podem incluir atividades como cantar, tocar música e tricotar, bem como práticas como ioga ou tai-chi. Em comum, elas têm a característica de promover uma melhora em nossa saúde emocional, afastando-nos de emoções a�itivas e nos aproximando de estados de bem-estar e apreciação da vida. Mindfulness é uma expressão em inglês melhor traduzida como “atenção plena” e diz respeito a uma observação da realidade de forma curiosa e distanciada. Quando estamos “mindful”, percebemos o que acontece de maneira livre de julgamentos, por isso, a prática de mindfulness torna-se uma ferramenta poderosa para nos ajudar a controlar o sofrimento que experienciamos, promovendo calma, apreciação da experiência e felicidade. … UNIDADE 2 - PENSAMENTO CRIATIVO E OPORTUNIDADE PARA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Aula 1. Facilitação emocional do pensamento criativo O processo de �ow Ao realizar uma tarefa em estado �ow, a pessoa sente-se “livre” de ter de pensar e simplesmente �ui. Csikszentmihaliy explica que mesmo atividades consideradas repetitivas, burocráticas ou cansativas, pode oportunizar momentos de criatividade, gerando satisfação posterior. Para isso acontecer, é necessário que os indivíduos dessas atividades tenham o chamado per�l autotélico, que consegue reconhecer oportunidades onde outros não reconhecem e tirar bem-estar psicológico a partir de atividades consideradas difíceis para outras pessoas. A pessoa autotélica cria condições para o �ow acontecer. Outros exemplos são as atividades de “abrir a massa” feita em algumas pizzarias artesanais ou de “soprar o vidro” feita em vidraçarias tradicionais. Essas são tarefas aparentemente banais que são transformadas criativamente por pessoas autotélicas, que retiram satisfação e promovem um toque artístico no que fazem. Algumas outras de�nições ajudam a compreender melhor o �ow. É necessário que a pessoa se sinta desa�ada pela tarefa e, ao mesmo tempo, tenha condições de executá-la. Daí a importância do amplo tempo de dedicação para que se chegue ao �ow. Se temos muito domínio sobre uma atividade e não somos desa�ados por ela, é fácil cair em um estado de tédio. Já se temos pouca habilidade e o desa�o da tarefa é muito grande, entramos em estado de preocupação ou ansiedade, uma vez que não vemos saída fácil. Essas diferentes relações entre o desa�o e a habilidade são explicadas pela Figura 1. O indivíduo criativo em formação Inspirado na teoria de Csikszentmihalyi, Howard Gardner explorou as condições necessárias para as pessoas serem criativas. Ele analisou a vida de sete personalidades criativas: Freud, Einstein, Picasso, Stravinsky, Eliot, Graham e Gandhi e chegou à conclusão de que a criatividade não é um fato isolado e restrito a indivíduos geniais, ao contrário, depende das condições de formação do indivíduo criativo, do ambiente em que cresceu, do afeto que recebeu e das oportunidades que encontrou. Para explicar essas condições, Gardner (1996) propôs o triângulo da formação (Figura 2), que traz três elementos centrais: 1. Da criança ao mestre – compreensão de como o indivíduo passa de criança a mestre, como os talentos foram identi�cados e que meios encontraram para �orescer. 2. Campo de domínio – a relação entre o indivíduo e o trabalho em que se envolveu. 3. Ambiente-comunidade – a relação entre o indivíduo e outras pessoas que fazem parte do seu mundo, tais como familiares e professores. A interconexão desses três elementos faz com que se compreenda as bases do processo de criatividade no decorrer de uma vida, inclusive todos os afetos envolvidos. Figura 2 | Triângulo da formação. Fonte: Gonzaga e Rodrigues (2018, p. 22). Dessa forma, o triângulo da formação engloba aspectos individuais (herança genética, temperamento, constituição básica); aspectos do ambiente (in�uência de pais, professores e demais pessoas que julgam ou emitem opiniões sobre o comportamento do indivíduo); e o domínio (o estágio de desenvolvimento de uma dada disciplina em uma determinada época). O mesmo triângulo já havia sido utilizado por Gardner para explicar o conceito de Inteligências Múltiplas. Alguns achados na formação do indivíduo criativo De acordo com Gardner, todos os mestres criativos estudados mostraram dons formidáveis na infância, havendo especial destaque para o nível de habilidade do jovem Picasso. Um desenhista talentoso na primeira década de sua vida, ele estava no �nal da adolescência pintando com tanta sutileza quanto qualquer outro artista de sua época – e lançando as bases para mais 75 anos de produtividade. Picasso oferece a oportunidade de considerar as contribuições da prodigiosidade para as primeiras realizações deslumbrantes e sua transmutação em uma forma que permite a realização de contribuições mais duradouras. Outra característica compartilhada pelos mestres criativos é que vivenciaram diferentes culturas e contextos, não �cando restritos aos códigos sociais de uma determinada região ou cidade e havendo inclusive participado de movimentos criativos de seu tempo. O autor cita o exemplo do escritor T.S. Eliot, que se tornou de certa forma “marginal” em sua própria era, mesclando estilos diversos em sua obra. Por último, todos os criadores tinhamalgum tipo de sistema de suporte signi�cativo. Isso incluiu apoio afetivo de alguém de quem colhia suporte emocional e cognitivo. Em algumas situações, a mesma pessoa supria ambas as necessidades, em outras ocasiões, foi necessária mais de uma pessoa para os diferentes suportes. A relação entre o indivíduo criativo e esse “outro signi�cativo” se compara em utilidade a outros dois tipos de relacionamento: a relação entre o cuidador e a criança no início da vida, e a relação entre um jovem e seu ou seus amigos no decorrer do crescimento. Em alguns aspectos, essa relação passa por algum tipo de embate, em que o mestre tenta introduzir um novo jeito de ver as coisas e seu amigo-con�dente é o zelador da língua e cultura existente. O que se reforça é que a criatividade passa pela ação de forças sociais e afetivas, que agem no desenvolvimento do indivíduo criativo. Facilitação emocional para criar Antes de mais nada é preciso deixar de encarar as emoções como visitas inoportunas que atrapalham nosso pensamento e começar a considerá-las como componentes-chave para despertar nossa cognição. Uma das mensagens mais importantes para nosso melhor desempenho em tarefas cognitivas de criação é de que as emoções podemmelhorar nosso raciocínio. Isso acontece porque nossos humores têm impacto direto sobre o pensamento. Conforme nosso humor se altera, o mesmo ocorre com o pensamento. Assim, se somos capazes de perceber como estamos nos sentindo e em seguida conseguirmos alterar esse sentimento, facilitamos o espaço para pensarmos criativamente. Porque a cada mudança de humor muda também a forma como analisamos a realidade. E esse é exatamente o “pulo do gato” que favorece o novo chegar. E melhor ainda se estivermos sob efeito de emoções positivas. Os humores positivos ajudam nossa mente a “abrir janelas” e pensar em novas possibilidades. Por exemplo, se estamos de “bom humor” de repente nos vemos elaborando com facilidade um determinado plano de marketing, já que esse bem-estar fornece segurança psicológica e favorece que pensemos sobre coisas que “não estão ali”. Quando nos sentimos alegres e con�antes olhamos para fora da caixa, arriscamos dar uma opinião em uma apresentação coletiva, topamos um passeio diferente, acreditamos que as coisas “podem dar certo” e diminuímos a percepção de risco. O contrário acontece com os humores negativos. Eles nos abrem os olhos para tudo que pode dar errado e nesse sentido podem ser um empecilho a novas ideias. Mas se houver uma leve mudança de um estado negativo pode-se abrir espaço para a criatividade, especialmente para questões de organização e ordenamento. E eis que numa tarde um tanto melancólica olhamos para as gavetas e, no meio de uma motivação momentânea, nos vemos descobrindo uma forma criativa de disposição das peças. Foi nosso humor que teve uma leve alteração, su�ciente para que o “pop up” mental da criação pudesse acontecer. A pausa também pode ser um facilitador emocional para a criatividade. Muitas vezes simplesmente pausar e �car sem “fazer nada” é su�ciente para construir as bases para que uma nova ideia possa surgir. Eis aqui uma prática revelada por muitos criativos: não é só buscando a solução que a encontramos. Vale a pena se “abastecer de informações” a respeito do que queremos resolver, mas também deixar um tempo de folga para que a mente intuitiva possa trabalhar subliminarmente e, sem que possamos antecipar, a solução simplesmente “aparece” no campo mental. Aula 2. Grupos criativos e solução de problemas Obstáculos à criatividade e o valor do diálogo Todos podemos ser criativos, mas o que separa os grandes autores e artistas dos que não criam é a crença na própria criatividade. É verdade, no entanto, que existem alguns obstáculos à criatividade, desde bloqueios simples de atenção até mais complexos. Eis aqui alguns deles: 1. Obstáculos da percepção – são aqueles provocados pelo próprio ego, embates do raciocínio. A análise crítica, o julgamento e as percepções negativas podem atro�ar o processo de criação. 2. Obstáculos emocionais – a emoção que mais bloqueia a criatividade é o medo, em suas mais diversas formas: medo de errar, medo do desconhecido e principalmente medo da rejeição. Algumas pessoas dizem “tenho medo de falhar” e isso as paralisa. 3. Obstáculos intelectuais – nesse caso não há apenas a barreira do ego, mas sim di�culdades de construção do raciocínio. Um exemplo é algum tipo de bloqueio da linguagem e conotações especí�cas. Por isso é tão difícil criar um texto em uma língua que não dominamos. 4. Obstáculos culturais – muitas vezes �camos presos à nossa própria cultura. Barreiras culturais podem impedir o acesso a novas possibilidades de ação e de pensamento. 5. Obstáculos ambientais – restrições de acesso, ação ou presença de outras pessoas e di�culdades tecnológicas são exemplos de barreiras à criação que independem da ação do criativo. Muitos dos obstáculos são atitudes de autodefesa em que o indivíduo procura evitar sentimentos ansiosos e interrompe a criação. Às vezes, a remoção ou o afastamento dos obstáculos requer criatividade. Alguns empecilhos para o bom diálogo são o excesso de preparação – chegamos prontos para falar, não para ouvir – e o pensamento rígido a respeito dos temas a serem tratados. Pessoas que pensam e conversam com e�cácia, favorecendo o processo criativo de um grupo, possuem as seguintes qualidades: ● Escuta – Devemos ouvir não apenas os outros, mas a nós mesmos, abandonando nossas suposições, resistências e reações. ● Respeito – Devemos permitir ideias diferentes das nossas serem expressas, ao invés de tentar mudar as pessoas com um ponto de vista diferente. ● Observação – Devemos suspender nossas opiniões, recuar, mudar de direção e ver com novos olhos. ● Autonomia – Devemos falar nossa própria voz, sem termos agendas predeterminadas com alguém ou alguma instituição. Encontrar a própria autoridade é também desistir da necessidade de dominar. A concretude da criatividade Há um certo consenso de que os indivíduos criativos, sejam eles artistas, líderes ou cientistas, têm em comum uma ampla capacidade de observação, uma motivação e energia ímpar e às vezes uma forma particular de viver e tomar decisões. Entende-se que seu pensamento é mais livre e menos dependente da lógica, mais inclinado ao sonho e à fantasia. Contrapondo em parte essa visão, o sociólogo Domenico De Masi (2003) desenhou um modelo para explicar grupos criativos que equilibram razão e emoção, fantasia e realidade. De acordo com o autor, existem quatro forças entre as quais a criatividade atua: a) o pensamento primário, b) o pensamento secundário, c) a esfera emotiva e d) a esfera racional. O pensamento primário tem a ver com o funcionamento inconsciente da psique, em que prevalece o sonho e algumas psicoses. Já o pensamento secundário diz respeito ao funcionamento da mente desperta e serve-se da lógica comum. A esfera emotiva é composta de emoções, sentimentos e atitudes e a esfera racional de conhecimentos e habilidades. Das intersecções entre esses quatro fatores surgem as condições para a criatividade acontecer, conforme apresentado na Figura 1. Da intersecção entre a esfera emotiva e o pensamento secundário surge a (1) área das emoções administradas. Um exemplo dessa primeira intersecção são os diálogos em torno de nossos sentimentos ou a dramatização em forma de arte. Da união entre a racionalidade e a mente consciente surge a (2) área da concretude, em que as soluções e inovações tornam-se materiais e reais. Na intersecção entre emotividade e a mente inconsciente está a (3) área da fantasia, em que os primeiros movimentos involuntários do processo criativo podem surgir e entre a esfera racional, e no pensamento primário está a (4) área das técnicas introjetadas, como aqueles sonhos que não servem para o campo da realidade. Assim, entende-se que a criatividade não se caracteriza apenas pela imaginação e fantasia, mas também pelo movimento para sua realização (concretude), ainda que na síntese do entroncamento entrefantasia e concretude, entre emoções administradas e técnicas introjetadas instala-se a criatividade, conforme resumido na �gura a seguir. O encontro com o artista A arte é uma atividade do cérebro artista e sua linguagem é a imagem e o símbolo. Por isso a linguagem do artista é sensual, alimentada pela experiência e os cinco sentidos. Para Seaward (2009), as atividades criativas envolvem uma combinação das funções dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro humano. Maslow (1987) concluiu que o processo criativo e o caminho para a autorrealização eram o mesmo. Antecedendo o pensamento de De Masi, ele dividiu o processo criativo em duas partes: primária e secundária. A criatividade primária é a origem das ideias: uma espécie de playground da mente em que as imagens são geradas, ainda incipientes e não necessariamente úteis. Já a criatividade secundária é o momento do processo criativo em que é traçado um plano estratégico para que a ideia selecionada funcione na realidade, quando ela é posta em ação. Considerado pelo diretor Martin Scorsese como uma ferramenta valiosa para se conectar com a própria criatividade, o livro O Caminho do Artista, de Julia Cameron, propõe uma jornada de atividades para recuperação de nosso eu criativo. Na base de todas as re�exões, Cameron (2019) propõe duas ferramentas para o despertar criativo: as páginas matinais e o encontro com o artista. As páginas matinais são três páginas escritas à mão com livre associação. Simplesmente isso, sem um plano prévio e sem necessidade de editar o texto. A intenção é liberar as preocupações cotidianas ou as histórias que passam em nossa cabeça, de forma que sobre o espaço para a criatividade acontecer. As páginas permitem que nos afastemos de nossos censores ou críticos internos e vão aos poucos permitindo que nos livremos de medos, dúvidas, negatividade e outros humores que impeçam nossa ação criativa. Todas essas coisas que lhe provocam raiva, irritação e implicância, escritas pela manhã, são um obstáculo entre você e sua criatividade. Preocupações com o emprego, a lavanderia, o barulho esquisito que o carro está fazendo, o olhar diferente do seu namorado – isso tudo �ca se revolvendo em seu subconsciente e enlameando seus dias. Deixe tudo no papel. (CAMERON, 2019, p. 35) A ferramenta de encontro com o artista é um tempo, talvez duas horas por semana, reservado para alimentar a consciência criativa e o artista interior. É uma hora “para brincar”, só que planejada com antecedência. No momento do encontro é importante não ser interrompido. Aula 3. Heurísticas e vieses Os processos de tomada de decisão Métodos racionais de tomada de decisão Para muitos de nós, existe a percepção – e podemos dizer que, às vezes, a esperança – de que o processo de tomada de decisão e�caz possa ter como base uma escolha racional, que envolve identi�cação, escolha e aplicação da melhor alternativa possível. Os métodos racionais são estruturados geralmente no seguinte conjunto de etapas, conforme Figura 1: 1. Identi�car um problema ou uma oportunidade de maneira clara: por vezes, agimos sem ter um entendimento completo do problema, o que nos leva a resolvê-lo de maneira errada. 2. De�nir o método a ser utilizado: identi�cação e priorização de todos os objetivos por meio de critérios de avaliação para selecionar a melhor opção considerando todos os aspectos envolvidos. 3. Desenvolver possíveis escolhas ponderadas pela utilização dos critérios: é recomendado envolver as equipes na tarefa de atribuir peso relativo a cada problema para classi�cá-lo e priorizá-lo. 4. Identi�car a solução otimizante: realizadas as primeiras etapas, esta resultaria teoricamente do julgamento natural fundamentado nas anteriores, facilitando o consenso. Recomenda-se fazer previsões sobre eventos futuros, tentando avaliar as consequências potenciais das escolhas. 5. Implementar a solução selecionada: deve-se avaliar, sempre que possível, tanto a aderência aos planos quanto aos resultados obtidos em relação aos esperados, propondo ajustes quando necessário. 6. Avaliar a escolha selecionada: é recomendado que haja um aprendizado sobre todo o processo, incluindo fatores não previstos durante a implantação e diferenças de resultados entre planejado e realizado, buscando-se aprimorar métodos e critérios para processos futuros. … Métodos naturalistas Os métodos naturalistas são, às vezes, a melhor opção recomendada, dada a impossibilidade de utilização de métodos racionais em função de fatores como: ● Problemas não estruturados que di�cultam abordagens racionais. ● Presença de incertezas em ambientes dinâmicos, com ciclos que realimentam o modelo a partir das primeiras escolhas realizadas. ● Objetivos mal de�nidos e mutáveis. ● Pressão do tempo para tomada de decisão. ● Múltiplos participantes com con�itos de interesse e di�culdade de chegar a um consenso. ● O fato de que esses modelos não consideram de forma adequada as consequências graves para o decisor, que talvez esteja inclinado a posturas mais conservadoras ou menos arriscadas em relação às indicadas pelos processos racionais. A estrutura dos métodos naturalistas é apresentada na Figura 2. Determinada situação ou problema gera estímulos que permitem o reconhecimento de padrões adotados em situações ou casos semelhantes que já vivenciamos. Esses padrões determinam a escolha de roteiros para ação. A resposta pode ser mais rápida ou intuitiva ou ainda passar por ciclos de re�namento com base nos padrões mentais que utilizamos para análise e tomada de decisão. Compreendendo melhor os Sistemas 1 e 2 As decisões eram in�uenciadas por sistemas de análise “laterais” que colocam limites na abordagem do que se pode considerar um resultado ótimo. Essa é a origem do Sistema 1 (rápido e intuitivo) e Sistema 2 (devagar e racional) de tomada de decisão. A evidência primária por trás dessa dicotomia veio a partir do aprofundamento dos estudos do cérebro. Nossos dois hemisférios cerebrais exibem uma divisão de trabalho: em pessoas destras, o hemisfério direito desempenha um papel especial no reconhecimento de padrões visuais e o hemisfério esquerdo nos processos analíticos e no uso da linguagem, que é fundamental para processos racionais de tomada de decisão. … Daniel Kahneman (2012), matemático e psicólogo também ganhador do Prêmio Nobel em Economia em 2002, nos apresenta com mais detalhes esses dois personagens que animam a mente: ● O Sistema 1 opera de forma automática e rápida, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma sensação de controle voluntário. ● O Sistema 2 atribui atenção às atividades mentais que a exigem, incluindo cálculos complexos. As operações do Sistema 2 são frequentemente associadas à �ltros subjetivos. Para Kahneman (2012), essas são as principais características do Sistema 1: ● Gera impressões, sentimentos e inclinações; quando endossados pelo Sistema 2, tornam-se crenças, atitudes e intenções. ● Opera automaticamente e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e nenhuma sensação de controle voluntário. ● Cria um padrão coerente de ideias ativadas na memória associativa. ● Liga uma sensação de facilidade cognitiva a ilusões da verdade, sentimentos agradáveis e vigilância reduzida. ● Infere e inventa causas e intenções. ● Negligencia a ambiguidade e suprime a dúvida. ● É tendencioso para acreditar e con�rmar. ● Concentra-se nas evidências existentes e ignora as evidências ausentes. ● Gera um conjunto limitado de avaliações básicas. ● Responde mais fortemente às perdas do que aos ganhos. Simon (1987) destaca a importância desse sistema de tomada de decisão a partir de seu estudo com grandes mestres enxadristas, que resolvem problemas "criativamente" – de novas maneiras interessantes ou socialmente valiosas – com base na experiência que acumularam em seu campo ao longo dos anos e fazendo apostas calculadas com base em conhecimento superior. Já o Sistema 2 é sujeito a heurísticas e vieses, que são atalhos de pensamento que adotamos frente a análises de situações por demasiado complexas,em função de nossa racionalidade limitada. Heurísticas e vieses – quando os Sistemas 1 e 2 se encontram Em questões realmente complexas, o Sistema 2 não é su�ciente para nos ajudar a concluir por quais caminhos seguiremos em um determinado processo de julgamento e tomada de decisão. Ou seja, os modelos racionais utilizados não são su�cientes por si só: eles são no mais das vezes utilizados como instrumentos de apoio e análise para a tomada da decisão em paralelo com o julgamento subjetivo do Sistema 1, estando sujeitos ao que chamamos de heurísticas, vieses e falácias, que podem ser de�nidos como atalhos de pensamento que tomamos ao fazermos julgamentos e que possuem impacto na qualidade das decisões. Destacamos aqui, como exemplo, alguns desses atalhos: ● Raciocínio por analogia – julgar uma situação com base em evento anterior similar prevendo que os resultados serão os mesmos como consequência do mesmo conjunto de ações. ● Âncora e ajuste – somos in�uenciados por um ponto de âncora inicial e não nos afastamos su�cientemente dele à medida que novas informações são fornecidas. Um exemplo são as empresas, preocupadas em impedir a entrada de novos concorrentes a seu modelo de negócio atual, deixando de considerar o impacto das inovações. ● Heurística de disponibilidade – estimar a facilidade de que algum evento de impacto ocorra com base na facilidade de lembrar-se de eventos de natureza semelhante. Temos mais facilidade em dar crédito e aumentar a probabilidade de ocorrência de eventos associados a fortes emoções ou eventos mais recentes. ● Falácia da satisfação – escolhemos as melhores opções dentro de limites de tempo, orçamento, facilidade de acesso, etc., sem necessariamente observarmos todas as alternativas. Por exemplo, uma empresa que busca determinada solução tecnológica solicita cotações e continua o processo de seleção até avaliar ter encontrado uma solução satisfatória; no entanto, isso não signi�ca que tenha optado pela solução ótima. ● Falácia da eliminação por aspectos – por exemplo, há uma quantidade muito grande de candidatos a uma vaga de emprego, pela facilidade, eliminamos a maior parte dos candidatos pelos critérios de proximidade da empresa e pretensão salarial para veri�carmos menos currículos, que já é uma análise mais trabalhosa. Fazendo assim, corremos o risco de deixar de lado os candidatos potenciais. Daniel Kahneman et al. (2021), em seu mais recente livro, exploram outros atalhos comuns no meio corporativo: ● Ilusão de compreensão: construímos narrativas para ajudar na compreensão e dar sentido ao mundo. Procuramos causalidade onde não existe. ● Ilusão de validade: analistas e especialistas tendem a sobrevalorizar suas capacidades de análise e tomada de decisão. ● Falsa Intuição de especialista: algoritmos, mesmo os aparentemente primitivos, aplicados com disciplina muitas vezes superam os especialistas. ● Falácia de planejamento: essa falácia a�ige muitas pro�ssões e se origina de planos e previsões que estão irrealisticamente próximos do melhor caso e não levam em consideração os resultados reais de projetos semelhantes. ● Otimismo e a ilusão empreendedora: a maioria das pessoas é excessivamente con�ante, tende a negligenciar os concorrentes e acredita que eles terão um desempenho melhor do que a média. Para Daniel Kahneman et al. (2021), nos casos de decisões complexas em organizações, é essencial que se desenvolvam formas estruturadas de análise da qualidade das decisões tomadas, as quais sejam conduzidas por times de pessoas que trabalhem de forma independente e sem con�ito de interesse com as decisões tomadas e seus resultados e, preferencialmente, apoiadas por métricas quantitativas da qualidade ou do riscos associados às decisões. Aula 4. Aprendendo a aprender Um café no ciclo de Kolb A teoria do estilo de aprendizagem experiencial de Kolb foi criada nos anos 1980 e revolucionou a forma como pedagogos e professores do mundo todo elaboram seus planos de ensino. Ela é representada por um ciclo de aprendizagem de quatro estágios. Para que a aprendizagem seja facilitada, a ideia é que o aluno possa acessar o conhecimento em cada uma das bases. Os estilos de aprendizagem de Kolb são: 1. Experiência concreta – uma nova experiência ou situação é encontrada, ou uma reinterpretação da experiência existente. 2. Observação re�exiva da nova experiência – permite fazer a compreensão da experiência e veri�car possíveis inconsistências. 3. Conceitualização abstrata – re�exão sobre o que foi aprendido, que dá origem a uma nova ideia ou modi�cação de um conceito abstrato existente. 4. Experimentação ativa – o aluno aplica suas ideias no mundo ao seu redor para ver o que acontece. A aprendizagem efetiva acontece quando a pessoa progride pelo ciclo de quatro estágios: (1) há uma experiência concreta seguida por (2) observação e re�exão sobre essa experiência, que leva à (3) formação de conceitos abstratos (análise) e generalizações (conclusões) que são então (4) usados para testar uma hipótese em situações futuras, resultando em novas experiências. Se em uma situação hipotética fôssemos ensinar alguém a fazer uma café percorrendo todo o ciclo de Kolb, poderíamos: (1) começar com uma sessão de degustação de diferentes cafés, (2) re�etir sobre como absorvemos a experiência e qual café nos agradou mais, podendo inclusive escrever a respeito e depois (3) compreender os processos de maturação dos grãos, formas de processamento e técnicas de produção para (4) testar possibilidades alternando técnicas de moagem inovadoras, que não havíamos experimentado antes. … Vários fatores in�uenciam o estilo de aprendizado de cada pessoa: o ambiente em que ela cresce, suas experiências no campo educacional e mais especi�camente, conforme a teoria de Kolb, sua forma individual de pensar. Existem dois pares de variáveis que in�uenciam nossa forma de aprender, duas dimensões com pares opostos: o par pensar/sentir e o par observar/agir. Quando estamos experimentando determinada atividade (experiência concreta) estamos pensando a respeito e quando paramos para compreender o que essa experiência causou em nós (conceitualização abstrata), estamos no campo das emoções e dos sentimentos. Omelhor jeito de aprender Da base do sistema de liderança das empresas até o nível de desenvolvimento gerencial, as organizações investem todos os anos milhões de reais em capacitação in company ou vinculada a instituições de ensino superior, com o objetivo de preparar sua força de trabalho para os diversos desa�os do mercado. Assim, seja qual for a área de trabalho em que se atua, há uma necessidade de contínuo aprendizado, conhecido como “forever learning”. Nos últimos anos, o grande desa�o tem sido capturar a atenção das pessoas, uma vez que o uso de imagem e vídeos em alta escala transformou a �gura do professor em um facilitador de diferentes conhecimentos, encriptados em diversas “mídias”. Se antes o único meio de ensino era da fala de um professor para um aluno, atualmente as metodologias ativas de aprendizagem provocam o aluno para um maior envolvimento em seu processo de aprendizagem. … Idealizada pelo psiquiatra americano William Glasser (1998), a pirâmide de aprendizagem dá ampla ênfase às formas de aprendizagem ativa (ver Figura 2), que dizem respeito a: discutir o que foi estudado (conversar, perguntar, repetir, recordar, debater, nomear), praticar (escrever, interpretar, traduzir, comunicar, catalogar) e ensinar (explicar, resumir, estruturar, ilustrar). Essas três formas ativas de aprendizagem envolvem a percepção subjetiva do aluno, ou seja, convidam às emoções, tanto pelo entusiasmo que geram como pela interpretação que suscitam. O efeito Net�ix na tomada de decisão Você já �cou perdido na busca pelo �lme ou série ideal para assistir? Já chegou ao ponto de esgotar as opções disponíveis de entretenimento? Na Net�ix existe a opção “me surpreenda”, disponível para aqueles expectadores realmente indecisos, que procura “zerar” o per�l existente e trazer novas possibilidades.Mas ainda assim há aqueles que desligam a tela depois de muito tempo “zapeando”, havendo desistido de escolher. Em seu discurso de formatura em Harvard, o orador Pete Davis (2018) chamou esse fenômeno de di�culdade de tomar decisões e se comprometer com uma única alternativa de “mantenha minhas opções em aberto” e disse que é o típico estado mental que caracteriza toda uma nova geração de trabalhadores. A di�culdade de tomar decisões afeta diretamente na capacidade de aprender. Isso porque seja qual for o tema que desperte nosso interesse, é preciso comprometimento com o que estamos lendo, ouvindo ou escrevendo de forma a produzir aquele sentimento de “a-há” que caracteriza a produção de sentido e, por consequência, a aprendizagem. É preciso também paciência para passar por trechos não tão interessantes, não tão envolventes, para que em algum momento o conteúdo possa ser todo absorvido por nossos canais cognitivos. Como aprender melhor Com a mudança nos modelos de carreira, já a partir dos anos 1990, tornou-se crucial que tenhamos compromisso com nossa aprendizagem, buscando cursos e quali�cações que possam fornecer novas competências ou aperfeiçoamento das habilidades que já possuímos. Mas o que pode facilitar nosso processo de aprendizagem? Como podemos aprender melhor? Algumas variáveis importantes para considerarmos são o tipo de curso certo, o currículo dos professores, a solidez da instituição de ensino, a abordagem metodológica. Mas talvez a variável mais importante não seja o curso em si e sim a postura de quem busca, ou seja, a qualidade do aluno. Diretor de Recursos Humanos de uma instituição �nanceira, Kehoe (2018) estudou o comportamento de alunos de cursos on-line. Quatro hábitos que contribuem para aprendermos novas habilidades: 1. Concentre-se em habilidades emergentes – no lugar de se inscrever no curso mais famoso e badalado, é preciso �car atento àqueles requisitos de trabalho que estão evoluindo rapidamente. Nos anos da pandemia, por exemplo, as habilidades ligadas à produção e edição de vídeo passaram a ser extremamente valorizadas, não apenas por pro�ssionais liberais, mas também por organizações que precisaram gravar suas reuniões e treinamentos e disponibilizar em rede. A dica de Kehoe é �car atento a ofertas de emprego recentes e mapear que tipo de quali�cação está surgindo ou conversar com líderes e perguntar que tipo de habilidade eles consideram importante para tornar um candidato viável. 2. Conecte-se com seu curso – vivemos uma época de amplo crescimento da aprendizagem on-line. A vantagem de assistir às aulas quando e onde for conveniente, com um custo reduzido, torna essa opção muito atraente. O problema é que as experiências assíncronas costumam ser solitárias, causando perda de motivação e queda na aprendizagem. Nesse sentido, pre�ra formações que permitem algum momento de troca síncrona. Caso isso não seja possível, de�na atividades de rotina para repassar os conteúdos ou estudar com olhar renovado o que foi abordado. 3. Implemente o aprendizado imediatamente – aplicar os conhecimentos aprendidos de forma imediata permite completar o ciclo de aprendizagem, facilitando a memória e melhorando a absorção dos conhecimentos. O contrário também ocorre: se deixamos por muito tempo um conteúdo sem uso, é altamente provável que venhamos a esquecê-lo. 4. De�na objetivos claros – para manter o foco na aprendizagem, é necessário te objetivos de médio e longo prazo – um novo emprego, uma promoção na carreira, uma chance de fazer parte de uma grande equipe. Saber que o que aprendemos pode contribuir com nossa carreira, melhora nosso envolvimento com o que é ensinado. UNIDADE 3 - COMUNICAÇÃO E PROTAGONISMO DE VIDA Aula 1. Do verbal para o não verbal O que observar nas relações De acordo com Dimitrius (2009), existem categorias de indicadores não verbais: aparência física, linguagem corporal e voz são os mais prementes, pois já permitem uma leitura emocional, ainda que em breve interação. Primeiramente, vamos falar brevemente sobre essa tríade e na sequência vamos aprofundar a leitura não verbal, entrando nos demais indicadores: 1. Aparência física – a forma como uma pessoa se apresenta transmite a informação que ela quer passar, mas também dados não intencionais. Exemplo: alguém que esteja muito bem-vestido, mas com as unhas totalmente ruídas pode indicar uma certa ansiedade ou tema de preocupação. Essa é a “primeira impressão” que captamos de uma pessoa e inclui características físicas, como postura e altura, mas também escolhas afetivas, como estilo de roupa, uso de maquiagem e acessórios em geral. O mais importante vai ser comparar essa impressão com os demais indicadores emocionais. 2. Linguagem corporal – esse é o indicador que mais fornece informações emocionais, pois traz comportamentos que em geral a pessoa não consegue disfarçar: movimentos leves do corpo, maneirismos, gesticulação de mãos. Por ele é possível captar o nível de energia de alguém (pessoas mais motivadas tendem a movimentar-se mais), mas também é possível captar emoções como medo, honestidade, nervosismo, alegria. Aqui já é interessante fazer a comparação com a aparência física e ver se “combinam” ou são incoerentes. 3. Voz – o mais importante nesse indicador não é tanto o que é dito, mas como é dito, ou seja: se a voz sai alta ou baixa, aguda ou grave, entrecortada ou contínua. O mais importante aqui é a intensidade com que o traço aparece. Exemplo: um pequeno tremor na voz não necessariamente indica nervosismo, especialmente se for pontual. Mais uma vez é interessante comparar – voz, linguagem corporal e aparência – vendo possíveis incongruências. Outros indicadores e legenda emocional digital Havendo captado a aparência física, linguagem do corpo e voz – fundamentais para a leitura emocional – é possível, com o avanço de tempo da interação, captar outros quatro indicadores não verbais: estilo de comunicação, conteúdo da comunicação, ação e ambiente. Esses novos indicadores permitem que, mais do que uma breve percepção de humor, possamos captar crenças pessoais, valores, experiências e atributos da personalidade de uma pessoa. Vamos falar um pouco sobre cada um deles: 1. Estilo de comunicação – aqui estão contidas diversas técnicas de comunicação, como: deixar de responder, responder breve ou longamente, responder com perguntas, pausar, interromper, divagar, mudar de assunto, trazer ou tirar atenção de si mesmo. Muitas dessas ações são instintivas, outras são manobras conscientes para dominar a conversa. 2. Conteúdo da comunicação – aquilo que é dito importa para se ler uma pessoa e, especialmente, o que há de “embrulho” no conteúdo, aquele tipo de ênfase que se dá a um assunto ou outro. Especialmente, deve-se procurar por elementos como uso de gírias (aponta base étnica ou cultural), temas repetidos, exageros e até presença ou não de se falar de outras pessoas (fofoca). 3. Ação – a forma como uma pessoa se comporta com os outros também fornece informações valiosas sobre seu comportamento, assim como o tipo de atividade que ela executa. Por exemplo, pessoas que passam muito tempo em posição de autoridade e controle como atividade pro�ssional tendem a levar para casa e para as interações sociais esse tipo de atitude. Outras possíveis leituras a partir desse indicador: como alguém reage sob pressão, como a pessoa chega na casa de um estranho, como interage com crianças, etc. 4. Ambiente – esse indicador fornece o “pano de fundo” em que as interações humanas acontecem, nos fornecendo contexto. Por exemplo, no espaço de trabalho é possível observar comportamentos coletivos e até mesmo subculturas. Assim é que a área de marketing tende a ser mais descontraída do que a área �nanceira. Nesse sentido, o lugar em que as pessoas interagem interfere diretamente no tipo de comunicação realizada. Legendas emocionais no mundo digital Nas últimas décadas, ampliamos muito a facilidade de comunicação e acesso a outras pessoas. No início dos anos 2000 lembro-me de uma amiga executivame con�denciar em um aeroporto, enquanto aguardávamos um voo: “amiga, recebi mais de 300 mensagens em meu Blackberry hoje”. Lembro de ter �cado horrorizada. Naquela época o meio principal de comunicação era o e-mail. Hoje, temos WhatsApp, Direct, Chat pelo Teams e, sim, e-mail. Trabalhamos na redundância também: por exemplo, enviar um Whats dizendo que envio um e-mail. Se somarmos a essas mensagens rápidas o arsenal de noti�cações de aplicativos de redes sociais que recebemos em nosso celular, vemos que ganhamos em quantidade na troca de informações e perdemos, muito, em qualidade. Daí que se con�gura importante sabermos fazer a legenda emocional, a partir do tom da mensagem e do uso de emojis ou interjeições mais amigáveis. Alguns exemplos a considerar: ● E-mail – aqui o principal é como abrimos e como �nalizamos a mensagem. A intenção é ser breve, mas não taquigrá�co. Um cordial “bom dia” e no �nal “um abraço” (caso nos sintamos à vontade com o interlocutor) tiram o ar tão formal que o e-mail ainda tem. ● Mensagens instantâneas – emojis demais trazem infantilidade ou informalidade para a mensagem e emojis de menos trazem a sensação de uma troca mais rígida e formal. Áudios merecem ser curtos e poucos, geralmente para pontuar algo muito especí�co. Uso de �gurinhas é liberado em trocas com amigos ou familiares, cuidando para não exagerar no deboche. O que cada emoção nos diz Em nossa busca por bem-estar contínuo e evitação de sentimentos negativos, por vezes não conseguimos ver com clareza a realidade que se apresenta. Nossos estados emocionais de base – medo, raiva e tristeza – fornecem um determinado “�ltro” para nossa leitura de mundo. Essas emoções e seus estados emocionais decorrentes (como frustração, ansiedade ou culpa) podem di�cultar que vejamos com objetividade nosso próprio comportamento ou de outras pessoas. Assim, tendemos a tomar decisões baseados em evitar o que é doloroso ou buscar o que é agradável para nós no momento. No entanto, compreender as razões de base para nossas emoções pode permitir uma tomada de consciência e uma orientação para nosso comportamento, como já vimos em nossas primeiras aulas. Assim é que “o coração tem motivos que a razão desconhece”, como dizia Pascal. E nos bene�ciamos muito em conhecer as bases emocionais de nosso comportamento. Por isso, vamos explorar aqui como a tríade de emoções negativas, medo, tristeza e raiva, in�uencia nossa percepção da realidade. ● Medo – a força para evitarmos a perda, a dor ou a morte é o desejo mais primitivo em todos nós, nosso motivador primário. Por isso, a tentativa de puramente evitá-lo é infrutífera. Devemos, ao contrário, compreender qual é exatamente a situação que tememos. Explorar cenários e possibilidades que desejamos e investigar as possibilidades que aconteçam. A melhor arma contra o medo é o conhecimento. ● Tristeza – Na leitura interpessoal, a emoção da tristeza acaba aparecendo em comportamentos de carência e privação afetiva, uma vez que quando estamos tristes acabamos interrompendo o �uxo de trocas e “nos isolando” em nós mesmos. Quando estamos carentes, tendemos a “precisar” de soluções ou respostas rápidas. Uma boa saída é ganhar tempo e veri�car se aquilo que tanto desejamos é mesmo necessário e urgente ou se só estamos tentando preencher algum vazio interior. ● Raiva – a principal barreira para compreender a realidade que a raiva oferece é a incapacidade de ouvir que ela provoca. Quando estamos nos sentindo acuados, tendemos a só ver as coisas de nosso ponto de vista, nos tornando incapazes de conhecer as razões de outras pessoas. Aqui a estratégia de saída é buscar conhecer mais todos os elementos envolvidos. Só assim conseguimos ter nosso melhor julgamento. Aula 2. In�uência positiva Fazer amigos e in�uenciar pessoas … Adicionalmente, que eles pudessem expressar suas ideias com clareza e�ciência e equilíbrio nos seus contatos comerciais. Posteriormente, tornou-se um fenômeno mundial de vendas, já tendo chegado a mais de 50 milhões de pessoas. Seus conselhos são interessantes de resgatarmos aqui na disciplina, por apontarem princípios básicos das interações humanas. Como a teoria de base, ancora-se no comportamentalismo, ou do inglês, behaviorismo. Como veremos posteriormente, esses princípios não dão conta de alguns desa�os nos relacionamentos que os tempos atuais oferecem e podem estar na contramão da in�uência obtida a partir da autenticidade. São nove os princípios de liderança de Carnegie (2012): 1. Comece com um elogio ou uma apreciação sincera. 2. Chame a atenção para os erros das pessoas de maneira indireta. 3. Fale sobre os seus erros antes de criticar os das outras pessoas. 4. Faça perguntas ao invés de dar ordens indiretas. 5. Permita que a pessoa salve seu próprio prestígio. 6. Elogie o menor e todo progresso, seja sincero na sua apreciação. 7. Proporcione à outra pessoa uma boa reputação para zelar. 8. Empregue o incentivo, torne o erro fácil de ser corrigido. 9. Faça a outra pessoa sentir-se feliz realizando aquilo que você sugere. Como pode-se perceber, no centro dos princípios de Carnegie está que devemos apreciar as pessoas, elogiar seu bom desempenho, evitar criticá-las abertamente, incentivá-las a repetirem os comportamentos delas desejados. A teoria de base para esse ensinamento advém do psicólogo B. F. Skinner, que já pontuava nos anos 1930 que qualquer animal, quando recompensado por seu “bom comportamento”, aprenderá com mais facilidade e rapidez do que se for castigado por mau comportamento. Em outras palavras, nós seres humanos tendemos a nos comportar de forma a evitar o sofrimento ou buscar o prazer, sendo ambas forças que modelam nosso comportamento. Nesse sentido, a crítica, dura e contundente, provoca em nós sentimentos negativos de autodepreciação e culpa (sofrimento), funcionando como um reforço negativo. Já o elogio, por promover sentimentos agradáveis de alegria, satisfação e felicidade, funciona como um reforço positivo. Não há nada de errado em elogiar as pessoas. Todos gostam de ser recompensados pelo bom cumprimento de uma tarefa. Porém existe o contexto ideal para cada elogio. Há, por exemplo, o entendimento de que “é melhor elogiar no coletivo e criticar no privado”. Nem sempre isso é verdade. Por exemplo, se uma pessoa é elogiada coletivamente, havendo também participação das outras na entrega que é mencionada no elogio, isso pode ser considerado injustiça e gerar intrigas em uma equipe de trabalho. Ainda, se um elogio vem logo após uma crítica, ainda que ela seja sutil, ambos podem sair esvaziados, �cando o interlocutor confuso sobre seu comportamento. Também importa de quem vem o elogio e, acima de tudo, se é sincero. Ao contrário, uma crítica bem contextualizada e com intenção construtiva torna-se uma semente de aprendizado. Ou seja, mais importante do que se diz é como se diz e com que intenção. Formando alianças As relações pro�ssionais exercem impacto em diferentes frentes, desde a disposição para exercer nossas habilidades até a facilidade de acesso a informações relevantes. No contexto de trabalho, formar alianças permite que se encontre uma identidade coletiva e que se estabeleça um bom convívio nas interações. De acordo com Dillon (2018, p. 166), formar uma aliança é “tomar a decisão de encontrar e cultivar relações pro�ssionais com pessoas que você respeita, de quem gosta e com quem deseja trabalhar”. Existem, porém, linhas tênues para separar a prática de formação de alianças saudáveis – que permite que as pessoas se desenvolvam e atuem em um bom clima de trabalho – das formações tóxicas, como as que dividem as pessoas em “panelinhas”, o que pode ser bastante nocivo para as trocas entre equipes. … Para formarmos boas alianças, é necessário ter clareza de que pessoas queremos nos vincular, de que forma podemos contribuir com elas e elas conosco. Ser um bom aliado é ser útil para as pessoas, contribuir para seu desenvolvimento, participar com entusiasmo de atividades que o outro organize. Assim como as amizades, asalianças precisam de cuidados para permanecerem saudáveis. O contato regular ajuda a manter a sintonia. A comunicação precisa ser assertiva, por isso a crítica construtiva, assim como a desculpa sincera, são movimentos que podem ajudar a estreitar laços e promover con�ança. Em alguns momentos, pode ser necessário se afastar, especialmente quando o aliado começa a agir de maneiras que vão em direção oposta a seus valores pessoais. Isso porque o mau comportamento de um aliado pode se re�etir em quem está ao seu lado. Alianças saudáveis são aquelas que permanecem enquanto as diferentes partes podem contribuir uma com a outra. E tudo bem serem podadas ou renovadas, uma vez que o que torna o laço forte é a utilidade que tem para o bem-estar coletivo. In�uência, autenticidade e poder “Ser autêntico e ter sabedoria são dinâmicas humanas intimamente relacionadas, que se reforçam e constroem mutuamente.” Kets de Vries (2012, p. 266) Na contramão das sel�es, autenticidade implica ser verdadeiro consigo mesmo e as demais pessoas, viver de forma integrada aos próprios valores e princípios, encontrar signi�cado no que se faz. Uma pessoa autêntica tem a disposição de se aceitar como é e não tenta se fazer passar por outra coisa ou outra pessoa. Tem a coragem de dizer como são as coisas, consegue encarar a verdade e fazer a coisa certa porque isso é correto. Consegue ver seus pontos fortes e os seus pontos fracos, sendo paciente com as próprias falhas (DE VRIES, 2012). A autenticidade aumenta a coragem de sermos diferentes e seguirmos o que nossos corações e mentes pedem, não o que os outros querem. Por isso, os maiores testes de autenticidade surgem quando nossa opinião ou nosso jeito de ser não combina com o da maioria. Ser autêntico implica fazer coisas que façam sentido para nós e que nos tornem úteis para a sociedade. Disso decorre a relação entre a autenticidade e a in�uência: uma pessoa autêntica torna-se in�uente porque tem clareza do que prefere fazer e como fazer. No mundo das incertezas e da validação de comportamento a partir do olhar do outro torna-se inspirador ver uma pessoa “com luz própria”, que não busca dissuadir olhares, e sim aceita-se como é. A exemplo disso, voltando-se à analogia das redes sociais, tem-se o movimento de “body positive”, em que pessoas postam fotos reais de seus corpos e produzem simpatia pela veracidade que buscam divulgar. Mas qual a relação entre in�uência e poder? Poder é a capacidade de in�uenciar o comportamento de outras pessoas para conseguir o que se deseja. Em nossas vidas, o poder traz consequências negativas ou positivas, a depender da maneira como essa colaboração do outro é obtida. Entre as consequências negativas podemos apontar a corrupção, a autocracia, o abuso moral. Quando aplicado com inteligência social e positivamente, o poder pode produzir alinhamento, senso de identidade e bem-estar entre as pessoas. De acordo com especialistas em comportamento organizacional, existem seis fontes de poder (McSHANE; VON GLINOW, 2014). Em cada situação podemos ter uma delas ou todas, �cando assim mais in�uentes: ● Poder legítimo – que vem da posição hierárquica exercida em uma organização. ● Poder de recompensa – habilidade de fornecer recompensas, como pagamentos ou posições de interesse dos outros. ● Poder coercitivo – habilidade de retirar punições ou exercê-las. ● Poder de especialista – aquele que vem do conhecimento ou de habilidade especí�ca. ● Poder de informação – similar ao de especialista, porém diz respeito ao acesso à informação. ● Poder por referência – daquele que tem características pessoais que outras pessoas desejam. Aula 3. Tornando a comunicação empática e assertiva Bases da comunicação não violenta (CNV): conhecendo os próprios valores “A violência é a expressão de uma frustração impossível de ser manifesta em palavras.” D’Asembourg (2018, p. 17) Formas violentas de comunicação fazem parte de nosso inconsciente coletivo. Na base estão as emoções de raiva e medo, atuando em nós por meio das palavras. A violência nas relações surge como efeito da ausência de consciência e surge não para criar, estimular ou proteger nossas ideias ou bens, e sim para exercer pressão sobre outras pessoas. Na maior parte das vezes, a violência é sutil, não chegando a agressões físicas ou verbais, e sim imposta como uma pressão no campo afetivo e psicológico. Ao contrário, quando somos mais conscientes, conseguimos exprimir nossa intenção e vontade sem agredir a outra pessoa, nos comunicando de forma empática e assertiva. O processo de comunicação não violenta foi proposto pelo psicólogo Marshall Rosenberg nos anos 1960, em sintonia com o movimento dos direitos civis americano. Durante esse período, Rosenberg atuou com arbitragem e forneceu treinamento em sua recém-criada técnica comunicativa CNV (comunicação não violenta). Muitos anos se passaram e a tecnologia revolucionou nossa comunicação. Basta, no entanto, uma zapeada nas redes sociais para que encontremos comentários raivosos e posicionamentos que isolam as pessoas em seus pontos de vista. Também em organizações a comunicação tornou-se mais ágil e ganhou novas mídias, mas seguem as trocas ácidas e os comentários belicosos. Atualmente, a CNV é utilizada na resolução de con�itos em mais de 65 países do globo, sendo aplicada para o desenvolvimento de sistemas sociais, na justiça restaurativa, nas organizações e na área de educação. Em suas diversas aplicações, permanece tendo por base a consideração do bem comum e uma atitude baseada em empatia, por isso também chamada de comunicação empática ou comunicação compassiva. Para facilitar a compreensão em nossa aula, vamos nos referir a ela simplesmente como CNV. De acordo com D’Ansembourg (2018), a CNV nos estimula a parar e re�etir sempre que reagimos fortemente a alguma coisa ou situação. O processo da CNV é composto por quatro fases: observação da situação, leitura dos sentimentos envolvidos, compreensão da necessidade de base e formulação de um pedido. Mas por que temos di�culdade de expressar nossas necessidades? Uma explicação possível é de que somos seres sociais. Crescemos nos acostumando a perceber a reação das outras pessoas e buscando corresponder ou nos antepor às necessidades delas. Por isso, muitas vezes, “partimos do princípio” de que estamos atendendo a necessidade de alguém quando, na verdade, não chegamos nem mesmo a compreendê-la. Podemos, aliás, estar simplesmente projetando. Julgamentos e rótulos Julgamos os comportamentos de outras pessoas o tempo todo. Vemos passar aquele colega tatuado e imaginamos que sua vida inteira é muito descolada. Não sabemos nada a respeito da vida dessa pessoa e nem imaginamos que não é um cara “de Humanas”, mas sim um engenheiro de qualidade. Construímos nosso mundo a partir do pouco que vemos do outro e, assim, “assumimos” algumas verdades que acabam por atalhar nossas interações. O primeiro componente ou fase da CNV pede para que observemos a realidade de nossa troca tal como ela aparece, livres de julgamentos e preconcepções, ou seja, observar sem avaliar. Abrindo-nos ao que está acontecendo e conhecendo nossos próprios valores e crenças, podemos abrir espaço para chegar às nossas emoções e necessidades pessoais. Percebendo emoções e necessidades No segundo momento da comunicação empática, passamos a �car mais atentos a nossos próprios sentimentos e aos sentimentos do outro. Deixamos de jogar a responsabilidade do que sentimos para as pessoas (“você me fez sentir raiva de...”) para colocar a responsabilidade em nós mesmos: “estou com raiva porque meu valor de ... foi violado”. … Os benefícios de se enriquecer o vocabulário emocional aparecem nos relacionamentos pessoais e no mundo pro�ssional. Expressar a nossa vulnerabilidade pode ajudar a ampliar o espaço de con�ança nas conversas e trocas e resolver ou diminuir con�itos (BROWN, 2013). Especi�camente conhecer nossos sentimentos permite que possamos saber quais necessidades estão ou não sendo atendidas, pois são por elas que nossasemoções são ativadas. Chega-se então ao terceiro momento da CNV: a compreensão de nossas necessidades. Fundamental é esse momento de acolher o fato de que temos desejos intrínsecos, necessidades relacionadas às nossas questões �siológicas, necessidades ligadas à segurança, aos relacionamentos, de estima e de realização pessoal ou crescimento. Nesse sentido, é interessante trazermos a Teoria da Hierarquia de Necessidades (Figura 1), proposta por Maslow nos anos 1980 e amplamente difundida no âmbito acadêmico. … Identi�car nossas necessidades provoca alívio e bem-estar, ainda que não tenhamos condições imediatas de satisfazê-las. No entanto, podem surgir divergências quando partimos do princípio de que as outras pessoas, especialmente as mais próximas, têm a obrigação de conhecer e até satisfazer as nossas necessidades. Por isso é fundamental que saibamos formular pedidos. Aprendendo a fazer pedidos e praticar a CNV Falamos até aqui sobre o valor de considerarmos nossas emoções e conhecermos nossas necessidades. Esses movimentos são fundamentais para que possamos chegar ao último componente da CNV: fazer pedidos. Muitas vezes, confundimos pedidos com necessidades, e vice-versa. Por isso, é importante separarmos sentimento (S), necessidade (N) e pedido (P). … Praticando a CNV Havendo compreendido os quatro componentes da CNV de observar (O), sentir (S), perceber a necessidade (N) e fazer pedidos (P), é importante aplicar todos os componentes ao mesmo tempo e, para isso, é fundamental recebermos a realidade do outro com empatia. A empatia permite que se faça uma compreensão respeitosa do que as outras pessoas estão vivendo ou sentindo e para acontecer faz uso de todos os nossos sentidos. Só conseguimos ser empáticos quando esvaziamos a nossa mente de ideias preconcebidas. Quando empáticos, preferimos perguntar e ouvir, em vez de falar. O hábito da pergunta amplia nosso espaço na interação com o outro e a escuta favorece a abertura a falar de sentimentos. Um outro cuidado para favorecer a empatia é evitar pensar demais já que o excesso de trabalho cognitivo atrapalha a troca afetiva, uma vez que �camos tentando encontrar causas e efeitos na fala do outro e perdemos sinais importantes de como a pessoa está se sentindo. Dois bons sinais de que estamos de fato praticando um diálogo empático: (1) não sabemos o que vamos dizer a seguir e precisamos da fala do outro para construir nosso posicionamento e (2) na linguagem não verbal do outro, a partir por exemplo do tom de voz e movimentos do corpo, é possível perceber sinais de calma e bem-estar. A conversa segue fácil e de forma confortável. Aula 4. Inteligência social As bases do contágio emocional Os primeiros anos de nosso milênio trouxeram para a pesquisa cientí�ca um campo emergente: a neurociência social. Estudos recentes revelam o que acontece no cérebro humano enquanto as pessoas interagem. O que se descobriu é a força da empatia. Quando entramos em contato com os sentimentos de outras pessoas e compreendemos seus motivos, temos nossa química cerebral afetada, assim como afetamos o outro. Não se trata apenas de dois cérebros reagindo independentemente, mas, ao contrário, dois cérebros que funcionam como um único sistema (GOLEMAN; BOYATZIS, 2008). A compreensão desses poderosos circuitos sociais do cérebro permitiu que se ampliasse a nossa teoria de inteligência emocional (IE) – anteriormente fundamentada em teorias de psicologia individual ou intrapessoal –, compreendendo-se agora que existe uma vasta zona interpessoal de ação da IE. Inteligência social é então de�nida como um conjunto de competências interpessoais construídas em circuitos neurais especí�cos (e sistemas endócrinos relacionados) que inspiram outras pessoas a serem e�cazes (GOLEMAN; BOYATZIS, 2008). As interações que temos com as pessoas atuam como reguladoras de nossas emoções, acionadas pelo sistema límbico de nosso cérebro. Quanto mais forte nossa ligação emocional com alguém, maior é a força com que os cérebros se in�uenciam. Por isso, nossas trocas mais potentes ocorrem com pessoas que passamos mais tempo e aquelas que mais importam para nós, ou seja, mais vezes são acessadas em nossos sentimentos e pensamentos (GOLEMAN, 2019). Nossos sentimentos têm consequências biológicas de longo alcance, sendo espalhados em nosso corpo por meio da ação de neurotransmissores (acetilcolina, noradrenalina, serotonina, dopamina, ocitocina, etc.), que regulam os sistemas biológicos, do coração às células do sistema imunológico. Por isso, de acordo com Goleman (2019), nossos relacionamentos moldam nossa experiência e nossa biologia. O mais interessante é que, além de in�uenciar nosso corpo e nossas interpretações da realidade, nossas interações podem também in�uenciar diretamente o que estamos sentindo. Esse fenômeno é conhecido como contágio emocional. Quando pessoas despejam sobre nós seus sentimentos tóxicos – explodindo de raiva ou fazendo ameaças, demonstrando repulsa ou desprezo – ativam em nós circuitos que provocam essas mesmas emoções a�itivas. (GOLEMAN, 2019, p. 23) Quando as emoções trocadas são negativas, há muita força no contágio, uma vez que somos programados evolutivamente para captar tudo que possa nos ferir ou nos causar perda. Nossa amígdala cerebral está sempre vigilante, por isso é mais fácil se contagiar com as emoções negativas. Mas o contágio emocional pode também ser positivo. E eis que nos vemos gargalhando após vermos outra pessoa gargalhar ou quem sabe �quemos felizes tão somente por ver uma criança sorrir. O fato é que participamos o tempo todo de uma espécie de economia emocional, em que são feitas trocas entre as pessoas a partir da forma como se sentem. Tudo isso ocorre de forma subconsciente, o que faz com que seja muito importante termos consciência de que tipo de mensagem não verbal estamos emitindo, a partir da expressão de nossos sentimentos e o que estamos conseguindo captar. Relações ressonantes e salutares “É por observação que no futuro eles não vão se lembrar do que você disse, eles não vão se lembrar do que você fez, mas vão se lembrar de como você os fez se sentirem.” Maya Angelou (apud DOUGLAS, 2019, p. 67) A inteligência social pode ser compreendida como o conjunto de habilidades socioemocionais que utilizamos na interação com outras pessoas. No modelo de Goleman e Boyatzis (2016), mencionado em nossa Unidade 1, a inteligência social diz respeito às dimensões de empatia e gestões de relacionamentos. Já Albrecht (2006) entende que são cinco as dimensões da inteligência social: 1. Consciência situacional – radar social ou habilidade de ler situações e interpretar comportamentos de outras pessoas, assim como suas possíveis intenções, estados emocionais e propensão à interação. 2. Presença – incorpora padrões verbais e não verbais, como aparência, postura, qualidade da voz e movimentos do corpo. 3. Autenticidade – o quanto somos percebidos como honestos, abertos, éticos e con�áveis. 4. Clareza – nossa habilidade de explicar, esclarecer ideias, transmitir dados, articular visores e cursos de ação de forma a conquistar a cooperação alheia. 5. Empatia – sentimento compartilhado de duas pessoas que se vinculam e interagem de forma a cooperarem positivamente. No modelo de Albrecht, a inteligência social tem um signi�cado análogo à inteligência intrapessoal de Gardner (2009), o que você já deve ter estudado. Por isso, sua de�nição de inteligência social é “habilidade de interagir bem com outros, fazendo com que cooperem com você” (ALBRECHT, 2008, p. 23). Ao mapear os diferentes comportamentos para construir seu modelo, Albrecht (2006) percebeu que pessoas com baixa inteligência social tendem a ter atitudes tóxicas, que contribuem para alienação, con�ito e animosidade, enquanto pessoas com alta inteligência social conduzem os outros à empatia, compreensão e cooperação, tendo assim uma atitude salutar no comportamento de outros. As atitudes salutares fazem com que as pessoas se sintam valorizadas, capazes, amadas, respeitadas
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