Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL 1 AULA 2 - INTRODUÇÃO À PERÍCIA JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL - PARTE 2 Olá aluno e aluna, na aula de hoje vamos dar continuidade ao tema e entender um pouco mais sobre perícia judicial e extrajudicial. Bons estudos! Entendendo a ação judicial Ao contrário do que muitas pessoas costumam dizer, uma ação judicial não se limita ao mero conceito de um processo. Trata-se de um rito realizado no âmbito do Poder Judiciário que poderá se dar em formato sumário, ordinário ou extraordinário. Como qualquer atividade judicante, o propósito é garantir que uma situação conflituosa seja resolvida aplicando-se o maior rigor de imparcialidade possível, amparado pelos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório. Ressalte-se que se algum desses princípios estiver ausente em um procedimento judicial ele não terá validade. Destarte, não apenas os elementos relacionados aos princípios deverão ser considerados. Como se trata de um rito existe atividades que deverão ser realizadas em uma sequência prevista por lei com o devido encadeamento lógico ou, igualmente, todos os trâmites poderão ser nulos. A legislação prevê como uma das etapas que é inerente ao rito judicial é a escolha da pessoa que irá realizar os trabalhos de mediação da questão litigiosa ou conflituosa. Via de regra, o magistrado que irá se responsabilizar pelo julgamento do processo será devidamente sorteado (isso não se aplicará a casos em que uma corte possua apenas um juiz). A impetração de uma ação judicial é algo razoavelmente simples de ser iniciada. Para tal, basta que uma pessoa entenda que um ou mais de seus direitos foi ou foram violados. Imagine-se comprando um imóvel à ordem de R$ 500.000,00 com a promessa da construtora de que iria recebê-lo em determinada data com determinados itens adicionais que você escolheu. Ao chegar à data prometida o imóvel não está concluído e, além disso, sua unidade foi construída sem um ou mais dos itens adicionais escolhidos. Nesse momento o direito de reparação de danos torna-se uma realidade. ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL 2 Digamos que o tal imóvel tinha como um dos itens adicionais a construção de uma banheira de hidromassagem com iluminação interna. Daí, ao receber o produto final, você percebe que além de não ser uma banheira (em nosso exemplo teria recebido uma jacuzzi menor), a tal iluminação foi colocada no ambiente em torno do local e não dentro como prometido. Não é objetivo deste material realizar discussões apuradas sobre diferenças técnicas entre banheira de hidromassagem e jacuzzi, contudo, são produtos de ordem e preços diferentes. Caso você insista que quer a banheira de hidromassagem com a iluminação interna conforme projeto apresentado e produto pago por você e a construtora disser que não irá resolver porque são a mesma coisa, firmou-se o direito à reparação. De agora em diante você poderá trabalhar para reunir o máximo de elementos de prova que conseguir para que o magistrado escolhido para resolver o seu caso tenha condições de concluir que você de fato tem razão. Perito judicial Você já deve ter percebido que foi importante entendermos um pouco o significado do que é ser um perito, bem como a compreensão macro de uma ação judicial para podermos falar sobre o perito judicial. Veja que nosso exemplo nos dá uma série de elementos que poderão necessitar de comprovação técnica para que o magistrado envolvido no caso seja convencido de seus argumentos. Afinal, ele é formado em Direito, sua área de perícia, e eventualmente não terá conhecimentos apurados sobre construções civis e banheiras de hidromassagem. O profissional em Direito que for contratado para representar o caso no tribunal juntará aos autos todas as informações técnicas que encontrar para provar ao juiz que banheira de hidromassagem e jacuzzi são produtos diferentes. Contudo, não podemos jamais esquecer daqueles princípios (contraditório e ampla-defesa). Eles dão à outra parte o direito de se defender e, com certeza, trabalharão no sentido de provar ao juiz que as duas coisas são iguais e que, dessa forma, não se coaduna o pedido de reparação de danos. ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL 3 Veja que o magistrado terá duas situações distintas em mãos: a acusação e a defesa. No que for possível inferir de maneira legal ele o fará. Porém, certamente chegará o momento de comprovar a especificidade de cada um dos dois produtos. Nessa etapa, o juiz não poderá decidir sem que tenha certeza das informações. Eis que surgirá a necessidade de que um profissional especializado em obras civis e produção de banheiras de hidromassagem analisem os elementos técnicos para apresentar ao magistrado uma conclusão científica sobre o que afinal foi entregue ao reclamante. A esse profissional damos o nome de perito judicial. A nomenclatura é “perito judicial” porque sua atividade técnica ocorrerá à luz do judiciário e, para tanto, necessitará seguir as regras ali estabelecidas. Desta forma, o perito judicial é o indivíduo que possui conhecimentos técnicos especializados em determinado assunto que lhe confere a capacidade de elaborar um documento que apresentará posição específica sobre o mesmo. Ao perito judicial não basta o notório saber em sua especialidade profissional. Ele deverá manter seu registro profissional junto ao órgão de classe regulador da profissão (caso haja) em dia. Esses órgãos de classe são os denominados Conselhos Regionais. Por exemplo, para cuidar do caso que utilizamos para ilustrar uma situação de litígio, provavelmente o perito deveria ter formação específica em engenharia civil com especialização em técnicas de produção de materiais hidráulicos. Nesse caso, além daquele conhecimento profissional, ele também precisa estar em dia com seu registro no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura – CREA . Um perito judicial pode ser requerido tanto por um magistrado como pelas pessoas que estão envolvidas no conflito judicial que gerou a necessidade de informações técnicas Em termos de mercado de trabalho é evidente que há uma demanda por habilidades específicas por parte das pessoas para que elas consigam desempenhar as atividades objeto de sua contratação. Não é diferente com o cidadão que opta por atuar como perito judicial. Aliás, como se trata de um auxiliar da justiça, as habilidades vão além daquelas que ele já desenvolveu durante seu curso superior. Para que você tenha uma noção, vamos relacionar as que são mais destacadas: ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL 4 Trata-se de um profissional que deve conseguir atuar no sentido de que as dúvidas estabelecidas em uma situação sejam devidamente esclarecidas. Assim, a análise técnica necessária deve ser apresentada em conformidade com o que lhe é requerido. É necessário que o perito tenha plena convicção de que erros são inerentes a qualquer atividade humana. No entanto, é sua responsabilidade por aqueles que sejam cometidos durante sua atuação. A capacidade de análise sistêmica é necessária para que a busca por uma solução coerente seja efetiva. Isso se dá porque não há exatidão em análises periciais e, assim, os laudos também não o serão. Não há uma lista de quesitos que uma vez seguidos trarão a resposta absoluta. Por isso, o perito necessita dessa visão sistêmica que lhe dê a visão de todas as possibilidades de solução. A mera conclusão de um curso superior seguido de uma pós-graduação não é suficiente para uma pessoa que opte por ser perito. Esses conhecimentos precisam ser constantemente atualizados para que o profissional acompanhe as tendências. Já que é esperado um profissional capaz de vislumbrar as mais variadas soluções para um conflito, é necessário, também, que ele possa definir qual a variável melhor se aplica parao caso em análise de maneira rápida e sem abertura para dúvidas posteriores. A atuação no mercado de perícias lhe dará um elemento essencial para que suas habilidades e competências sejam cada vez mais polidas e melhoradas. Trata- se da experiência que só é adquirida com o uso constante dos conhecimentos obtidos na prática profissional. Em um universo de informações tão vasto, é necessário ter a habilidade de filtrar aquilo que realmente se aplica a uma questão específica. Para tal, o domínio dos conhecimentos acadêmicos é de grande valia ao trabalho pericial. O trabalho pericial obedece a uma sistemática ritualística da mesma maneira que ocorre em pesquisas de campo acadêmicas. Desta forma, a metodologia é uma ferramenta que dá suporte ao profissional para que ele consiga realizar sua atividade de maneira objetiva e eficiente. O profissional perito deve possuir a capacidade de enxergar elementos em um conteúdo que as partes de um litígio e até mesmo o magistrado não conseguem. É o famoso “ver fora da caixa”. Isso permitirá que as conclusões do profissional esclareçam os pontos de dúvida ou criem as provas necessárias. ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL 5 Já aprendemos que o trabalho de um perito resultará em análises relacionadas a questões que não são de domínio por parte de quem demanda a atividade pericial. Em função disso, o profissional deverá ter condições de zelar pelas informações, ter capacidade de trabalhá-las, saber decidir quando necessário e possuir os demais elementos de perfil que já discutimos. Justamente por isso, quem conta com esse tipo de trabalho espera ter uma boa primeira impressão que vem junto com a apresentação pessoal. As pessoas que demandam a atividade pericial devem ficar seguras quanto à capacidade de seus problemas serem resolvidos. Daí surge a necessidade de que o perito não apenas tenha uma boa apresentação, mas, sobretudo, competência para trabalhar a questão. Note que o trabalho pericial será de uma maneira ou de outra, requisitado por uma pessoa. Dessa forma, torna-se imperioso que o perito tenha condições de lidar com pessoas nos mais variados níveis. Perito extrajudicial Até aqui tivemos a oportunidade de descrever os conceitos que envolvem um perito de maneira genérica e o perito no contexto judicial. Assim, o perito extrajudicial será o profissional que atuará dando apoio a ações que não entraram na tutela do estado por meio do Judiciário. Tal qual o perito judicial, o profissional que atuar em nível extrajudicial utilizará seu treinamento técnico e científico para dar suporte no sentido de eliminar dúvidas ou criar provas relacionadas aos itens elencados pelas partes em torno de um determinado tema. Para facilitar a visualização é interessante desenharmos um exemplo: Um determinado Hotel Y costuma receber uma quantidade de clientes em nível quase de lotação total durante um certo período sazonal. Uma vez chegado o período, não se observou redução significante no volume de hóspedes. Porém, os lucros apurados não condizem com as práticas comuns daquela época. Os responsáveis por levantamentos contábeis apresentam dados que dizem que os valores estão dentro daquilo que era esperado. Contudo, os proprietários não concordam. ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL 6 É definido que haverá a contratação de uma perícia para apurar os ganhos apurados em função dos números apresentados em relatório. Uma situação interessante nessa questão é que os proprietários não prejulgaram seus funcionários. Ao invés disso, resolveram realizar um estudo externo para fundamentar qualquer tipo de ação futura. E quem será responsável por realizar esse estudo pericial? Será o perito extrajudicial. Este ator é um técnico especialista em um assunto que domina e utilizará seus conhecimentos para criar provas. Caso você esteja se perguntando se uma atividade realizada fora dos tribunais poderá acabar parando lá, a resposta é sim! A questão aqui é que o apoio pericial de um especialista que ocorre antes de uma controvérsia virar um litígio é realizado por um perito extrajudicial. A relação entre habilidades e profissional tem o mesmo grau de importância para o perito extrajudicial que tem para o judicial. Afinal, o perito é um expert em resolver questões relacionadas a um determinado assunto e sua atuação dará suporte às necessidades de alguém. Assim, este profissional precisa de habilidades para atuar nesta área, tais como: • Capacidade de esclarecer dúvidas; • Responsabilidade pelo que concluir; • Visualização sistêmica do problema; • Atualização constante de conhecimento; • Rapidez e solidez na decisão pericial; • Constância no uso de suas habilidades para obter mais experiência; • Capacidade de filtrar informações úteis; • Uso de métodos apropriados; • Capacidade de enxergar pontos cegos no problema; • Boa apresentação pessoal; ATUAÇÃO E ANÁLISE PERICIAL 7 • Poder de passar segurança; • Capacidade de se relacionar com pessoas. BIBLIOGRAFIA ARAÚJO. S. Conceito e características do processo penal. Revista Duc In Altum – Caderno de Direito, vol. 5, no 8, jul-dez. 2013. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em: . Acesso em: 20/1/2017. Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: . Acesso em: 30/1/2017 Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: . Acesso em: 24/1/2017. Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 19/1/2017. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil. Disponível em: Acesso em: 26/1/2017. Lei no 12.008, de 29 de julho de 2009. CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL no 1.949/2007. Institui a Lei Geral da Polícia Civil e dá outras providências. Disponível em: . Acesso em: 23/1/2017. CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO. Manual de perícia do administrador. CONSELHO FEDERAL DE ECONOMIA. Consolidação da regulamentação profissional do economista. MORAIS, A. C. S. Perícia judicial e extrajudicial. 2. ed. Brasília: Qualidade, 2004. ONU. Resolução no 217 A III, de 10 de dezembro de 1948. Declaração Universal dos Direitos Humanos. SÁ, A. L. Perícia contábil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
Compartilhar