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Fundamentos de Contabilidade Básica Rio de Janeiro UVA 2016 Julio Cezar de Mello Cidade Fundamentos de Contabilidade Básica Rio de Janeiro UVA 2016 Copyright © UVA 2016 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. ISBN: 978-85-69287-33-9 Autoria do Conteúdo Julio Cezar de Mello Cidade Projeto Gráfico UVA Diagramação Cristina Lima Revisão Janaína Senna Débora Silvestre Costa Lydianna Lima Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UVA. Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho. C568 Cidade, Julio Cezar de Mello Fundamentos de contabilidade básica [livro eletrônico] / Julio Cezar de Mello Cidade. – Rio de Janeiro : UVA, 2016. 905 KB. ISBN 978-85-69287-33-9 Disponível também impresso. 1. Contabilidade. 2. Contabilidade - Estudo e ensino. I. Universidade Veiga de Almeida. II. Título. CDD – 657 SUMÁRIO Apresentação...............................................................................................................7 Sobre o autor................................................................................................................8 Capítulo 1 - Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos...............................................................9 A contabilidade .............................................................................................10 Usuários............................................................................................................16 Campo de atuação do profissional contábil........................................22 Técnicas contábeis........................................................................................26 Patrimônio.......................................................................................................28 Contas...............................................................................................................32 Princípios contábeis ...................................................................................41 Referências......................................................................................................59 Capítulo 2 - Escrituração Contábil – Parte I....................63 Atos e fatos administrativos.................................................................... 64 Livros da empresa....................................................................................... 74 Método das Partidas Dobradas.............................................................. 91 Escrituração contábil..................................................................................94 Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes...........102 Referências....................................................................................................113 Capítulo 3 - Escrituração Contábil – Parte II..................115 As contas de resultado ............................................................................118 Contabilização a partir de razonetes...................................................129 Apropriação das despesas incorridas e não pagas........................138 Balancete de verificação...........................................................................143 Apuração do resultado do exercício....................................................145 Referências...................................................................................................154 Capítulo 4 - Demonstrações contábeis básicas...........155 Características..............................................................................................156 Demonstrações contábeis obrigatórias.............................................168 O balanço patrimonial..............................................................................172 A DRE...............................................................................................................198 Outras demonstrações obrigatórias.....................................................201 Referências....................................................................................................202 Considerações finais.....................................................206 7 APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO Este livro trata do assunto Fundamentos de Contabilidade Básica: uma abordagem atualizada. Sua função é apresentar os conceitos iniciais dessa linguagem que se tornou rapidamente uma poderosa ferramenta de decisão para usuários externos das entidades e de gestão para os gestores de uma entidade. Aqui, vamos aprender os elementos básicos para o aprendizado dessa que é chamada a linguagem dos negócios e que todos os gestores e in- vestidores no mundo contemporâneo têm que saber utilizar. Entender a informação contábil é o passo fundamental para a tomada de decisão. Quanto mais informações reunimos para tomar uma decisão, maiores as chances de êxito na escolha desta. Desejamos que você aproveite ao máximo esta experiência e que a leitu- ra desta obra promova uma oportunidade de reflexão sobre os conteú- dos abordados, contribuindo efetivamente para o seu enriquecimento cultural e acadêmico. ...................................................................................................................................................................................................................... 8 SOBRE O AUTOR Julio Cezar de Mello Cidade é professor da Universidade Veiga de Al- meida – UVA desde 2012. É administrador de empresas, graduado em 1981, bacharel em Ciências Contábeis, graduado em 2007, certificado como gestor de fundos de pensão pelo Instituto de Certificação dos Profissionais de Seguridade Social – ICSS, equivalente à Anbid para o mercado previdenciário, e mestre em Ciências Contábeis pela Univer- sidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj. Tem experiência e vivência em liderança, gerência de projetos, desenvolvimento e implantação de sistemas, automação comercial, consultoria e mercado financeiro — liderança e integração de várias equipes e grupos de trabalho para planejamento, execução e controle de projetos. Atua como docente no magistério do ensino superior em nível de graduação e pós-graduação. Atua também como professor na modalidade presencial e EAD na Uni- versidade Estácio de Sá – Unesa e ministra cursos de contabilidade na Escola de Administração Judiciária – Esaf. Atuou em Gestão de Entida- de Fechada de Previdência Complementar, na condição de dirigente, durante quatro anos, acumulando a superintendência com a diretoria de aplicações financeiras. Nesse ambiente desenvolveu uma sólida vi- vência em Governança Corporativa, pois tais entidades são reguladas de forma rigorosa e com base nos ditames da Lei Sarbanes-Oxley, repli- cada pela legislação brasileira em muitos dos seus tópicos principais. 9A contabilidade ...................................................................................................................................................................................................................... CAPÍTULO 1 OS CONCEITOS BÁSICOS DA CONTABILIDADE: OS PRIMEIROS PASSOS Neste capítulo serão abordados alguns conceitos funda- mentais para o aprendizado da contabilidade. Serão abordados temas como seus conceitos básicos, o porquê de a contabilidade ter se tornado a linguagem dos negócios, quem são os usuários das informações por ela fornecidasa partir de relatórios contábeis, o conceito de patrimônio, que é o objeto da contabilidade, como a infor- mação é produzida de forma qualitativa por meio do con- ceito de conta contábil, o vasto campo de atuação de um profissional da área contábil, além das técnicas contábeis para registrar as operações, produzir as informações, veri- ficá-las e analisá-las. Outro ponto de grande importância abordado neste capí- tulo são os princípios contábeis que norteiam a atuação de um profissional de Ciências Contábeis. Aproveite esses conhecimentos iniciais para poder assimi- lar com consistência os assuntos que virão nos próximos capítulos. Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos10 ...................................................................................................................................................................................................................... A CONTABILIDADE Um filósofo argentino, chamado Arthur Eddington, afir- mou certa vez que, “para que a exposição de um sistema de pensamento seja clara, é preciso que se comece pelas origens” (EDDINGTON, 1946, p. 258). Para podermos ex- plicar o presente é necessário que conheçamos o passado, pois ele é a justificativa para o momento presente. O professor Lopes de Sá (2010, p. 21) nos ensina que o ho- mem primitivo, no período Paleolítico Superior, ainda sem escrita e sem saber fazer cálculos, já tentava registrar, de alguma forma, suas provisões, que eram, naquele momento, a expressão de sua riqueza patrimonial. Dizia o autor que: a qualidade e a quantidade das reservas de utilida- des, quer de caça, quer de colheitas, foram elemen- tos que o homem notou como algo distinto, como conquista de seu trabalho. Por meio da arte, o homem primitivo, com inscrições em paredes de grutas, fazia o registro de seu patrimônio. 11A contabilidade ...................................................................................................................................................................................................................... De forma rudimentar, as inscrições procuravam com desenhos, representar a qualidade da coisa e com rabiscos ou riscos a quantidade (SÁ, 2010, p. 22) Em diversas civilizações foram encontradas formas dife- rentes de fazer o acompanhamento das variações patri- moniais de uma pessoa ou grupo. À medida que a população foi aumentando e o comércio entre os povos foi se intensificando, a quantidade de fa- tos a serem registrados se tornou mais volumosa, e isso resultou em um problema mais complexo de ser tratado. Na Idade Média, em 1492, o frade franciscano Luca Pacioli publicou o primeiro livro de que se tem notícia sobre o método das partidas dobradas, que até os dias atuais é utilizado pela contabilidade, o livro se chama Summa Ari- thmetica, Geometria, Proportioni e Proprocionalità. Como vimos, trata de diversos assuntos, dentre eles apresenta o Tractatus Particularis de Computis et Scriprituris, no qual imortaliza o método, também conhecido como método digráfico. Apesar disso, não se pode afirmar que o fra- de tenha inventado o método, pois há registros da sua utilização em épocas anteriores. Aquele que, talvez, seria considerado como o pai da contabilidade nunca foi iden- tificado. Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos12 ...................................................................................................................................................................................................................... Esse método passou a ser adotado como método de escri- turação contábil por todos, ou seja, tornou-se universal. Basicamente ele demonstra que em cada registro de mo- vimentação patrimonial haverá sempre uma origem do recurso e uma aplicação para ele. Veremos com maiores detalhes na sequência deste livro o assunto escrituração contábil. Nos dias atuais não podemos imaginar pessoas físicas ou jurídicas que não se utilizem da contabilidade. Para en- tendermos nosso saldo bancário, precisamos de algum co- nhecimento contábil; para fazermos os nossos orçamen- tos domésticos, precisamos utilizar essa ciência social. Sendo assim, é importante que entendamos o que ela é, como funciona e que tipo de informações fornece. 13A contabilidade ...................................................................................................................................................................................................................... Conceito Vivemos em um mundo em que as pessoas, físicas e jurídicas, podem ser capazes de acumular e admi- nistrar o que chamamos de patrimônio. Esses patrimônios, no mundo dos negócios, são controlados por meio da contabilidade, a linguagem dos negócios. A contabilidade, segundo Padoveze (2012), pode ser definida como o sistema de informações que con- trola o patrimônio de uma entidade. Podemos tam- bém adotar uma definição mais protocolar: conta- bilidade é a ciência que estuda e pratica as funções de orientação, de controle e de registro relativas à administração econômica. Essa definição associa a contabilidade ao forneci- mento de informações para empresas acerca dos aspectos patrimoniais, econômicos e financeiros. Ela é tratada como um sistema de informações, pois recebe dados por intermédio da escrituração, pro- cessa-os e fornece as informações, de acordo com o enfoque necessário, em relatórios contábeis que po- dem ser utilizados por diversos tipos de usuários. A Resolução nº 774/94, do Conselho Federal de Contabilidade – CFC, define que: [...] a Contabilidade é uma Ciência Social com plena fundamentação epistemológica. Por consequência, todas as demais classificações – método, conjun- to de procedimentos, técnica, sistema, arte, para Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos14 ...................................................................................................................................................................................................................... citarmos as mais correntes – referem-se a simples facetas ou aspectos da Contabilidade, usualmente concernentes a sua aplicação prática, na solução de questões concretas. Em resumo, a resolução trata a contabilidade como ciência social, pois se refere às alterações do patri- mônio em função da ação humana. Objeto Como pudemos observar na abordagem do concei- to, o objeto da contabilidade é o patrimônio, seja de pessoa física ou jurídica. O patrimônio leva o homem à satisfação de suas necessidades, e, muitas vezes, não há limites para a ambição que leva à acumulação de riqueza. Para efeitos de nossos estudos contábeis, trataremos Pa- trimônio como um conjunto constituído de Bens, Direitos e Obrigações. É por meio dele que as en- tidades econômico-financeiras obtêm seus resulta- dos. Podemos entendê-lo como o suporte necessário às atividades de uma organização, desde que seja passível de mensuração financeira e que seja iden- tificável como bens, direitos ou obrigações, que são a matéria-prima das entidades para a produção de riquezas. Objetivo O objetivo dessa ciência é fornecer aos seus usu- ários informações sobre as variações ocorridas no patrimônio de uma entidade. 15A contabilidade ...................................................................................................................................................................................................................... Ela fornece informações acerca da situação patrimo- nial, econômica e financeira de uma entidade para as pessoas nelas interessadas. Funções A contabilidade tem uma função administrativa que é o controle do patrimônio mediante o registro dos fatos contábeis em livros apropriados, tais como o livro diário e o livro-razão. A função econômica da contabilidade é a apuraçãodos resultados de uma entidade. 16 ...................................................................................................................................................................................................................... Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos USUÁRIOS Se o objetivo da contabilidade é a geração de informações, os usuários são os destinatários delas. Existem diversos grupos de interessados nas informações contábeis, pessoas físicas e jurídicas, que podem ser de usuários internos ou de usuários externos. Estamos vivenciando, no Brasil, em especial, um momento de grandes mudanças nas normas de contabilidade em bus- ca da harmonização dos padrões internacionais. Essas mu- danças têm como principal objetivo qualificar melhor e pa- dronizar as informações fornecidas pela contabilidade aos seus diversos usuários, sobretudo os usuários externos. Essas mudanças são previstas pelas Leis nº 11.638/2007 e nº 11.941/2009, que alteram a Lei nº 6.404/1976 e de- legam a responsabilidade dessas normas ao Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, formado por diversas entidades como: • Associação Brasileira das Sociedades de Capital Aberto – Abrasca. • Associação dos Profissionais do Mercado de Ca- pitais – Apimec Nacional. • Bolsa de Mercadorias e Futuros e Bolsa de Valo- res do Estado de São Paulo – BMF&Bovespa. • Conselho Federal de Contabilidade – CFC. 17Usuários ...................................................................................................................................................................................................................... • Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atua- riais e Financeiras – Fidecafi. • Instituto Brasileiro dos Contadores – Ibracon. Cada uma dessas entidades participa do comitê com dois membros, totalizando 12 membros. Suas deliberações são aprovadas com voto qualificado, ou seja, 2/3 dos votos dos membros participantes. Além desses 12 membros, serão sempre convidados a par- ticipar de suas deliberações representantes das seguintes entidades: • Banco Central do Brasil – BCB. • Secretaria da Receita Federal – SRF. • Comissão de Valores Mobiliários – CVM. • Superintendência de Seguros Privados – Susep. Por que foi criado o CPC? Em função das necessidades de: • Convergência internacional das normas contá- beis (redução de custo de elaboração de relatórios contábeis, redução de riscos e custo nas análises e decisões, redução de custo de capital). • Centralização na emissão de normas dessa natu- reza (no Brasil, diversas entidades o fazem). • Representação e processo democráticos na pro- dução dessas informações (produtores da informa- ção contábil, auditor, usuário, intermediário, acade- mia, governo). 18 ...................................................................................................................................................................................................................... Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos Criado pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como objetivo “o estudo, o preparo e a emissão de Pronuncia- mentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais”. Dessa forma o CPC produz pronunciamentos técnicos, orientações e interpretações. Para que se tenha uma ideia da importância da qualifica- ção da informação contábil a ser fornecida pelas entida- des aos seus usuários, o Pronunciamento Técnico nº 00, sobre a estrutura conceitual para elaboração e divulga- ção de relatório contábil-financeiro, em pleno vigor, foi aprovado por: • CVM, por meio da Deliberação nº 675/11; • CFC, por meio da Resolução nº 1.374/11 – NBC TG ESTRUTURA CONCEITUAL; • BCB/Conselho Monetário Nacional – CMN, por meio da Resolução CMN nº 4.144/12; • Susep, por meio da Circular nº 483/14 – Anexo IV; • Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, por meio da Resolução Normativa nº 605/14 – Manual e da Associação Nacional de Saúde; e • ANS, por meio da Resolução Normativa nº 322/13 – Anexo I. 19Usuários ...................................................................................................................................................................................................................... Em seu item nº 1 — Finalidade — determina que essa es- trutura conceitual estabelece os conceitos que fundamen- tam a preparação e a apresentação de demonstrações con- tábeis destinadas a usuários externos. Em seu item 9, o pronunciamento determina: Usuários e suas necessidades de informação Entre os usuários das demonstrações contábeis incluem- -se investidores atuais e potenciais, empregados, credores por empréstimos, fornecedores e outros credores comer- ciais, clientes, governos e suas agências e o público. Eles usam as demonstrações contábeis para satisfazer algu- mas das suas diversas necessidades de informação. Essas necessidades incluem: (a) Investidores. Os provedores de capital de risco e seus analistas que se preocupam com o risco ine- rente ao investimento e o retorno que ele produz. Eles necessitam de informações para ajudá-los a decidir se devem comprar, manter ou vender inves- timentos. Os acionistas também estão interessados em informações que os habilitem a avaliar se a enti- dade tem capacidade de pagar dividendos. (b) Empregados. Os empregados e seus represen- tantes estão interessados em informações sobre a estabilidade e a lucratividade de seus empregadores. Também se interessam por informações que lhes permitam avaliar a capacidade que tem a entidade de prover sua remuneração, seus benefícios de apo- sentadoria e suas oportunidades de emprego. 20 ...................................................................................................................................................................................................................... Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos (c) Credores por empréstimos. Estes estão interes- sados em informações que lhes permitam determi- nar a capacidade da entidade em pagar seus emprés- timos e os correspondentes juros no vencimento. (d) Fornecedores e outros credores comerciais. Os fornecedores e outros credores estão interessados em informações que lhes permitam avaliar se as importâncias que lhes são devidas serão pagas nos respectivos vencimentos. Os credores comerciais provavelmente estarão interessados em uma enti- dade por um período menor do que os credores por empréstimos, a não ser que dependam da continui- dade da entidade como um cliente importante. (e) Clientes. Os clientes têm interesse em informa- ções sobre a continuidade operacional da entidade, especialmente quando têm um relacionamento a longo prazo com ela, ou dela dependem como for- necedor importante. (f) Governo e suas agências. Os governos e suas agências estão interessados na destinação de re- cursos e, portanto, nas atividades das entidades. Necessitam também de informações a fim de regu- lamentar as atividades das entidades, estabelecer políticas fiscais e servir de base para determinar a renda nacional e estatísticas semelhantes. (g) Público. As entidades afetam o público de di- versas maneiras. Elas podem, por exemplo, fazer contribuição substancial à economia local de vários 21Usuários ...................................................................................................................................................................................................................... modos, inclusive empregando pessoas e utilizando fornecedores locais.As demonstrações contábeis podem ajudar o público fornecendo informações sobre a evolução do desempenho da entidade e os desenvolvimentos recentes. Pelo que pudemos verificar com mediana clareza, há uma grande preocupação com o atendimento das necessidades informacionais, preferencialmente dos usuários externos, pois estes não têm como interferir na produção de infor- mação específica para o atendimento de suas necessida- des de informação para a tomada de decisão. No entanto os usuários são classificados em dois grupos importantes e distintos. O primeiro tem o condão de for- matar, de acordo com suas necessidades imediatas, os relatórios que tomará por base para o seu processo de- cisório. O segundo não tem esse poder; para isso as re- gulamentações, visando atender às suas necessidades e expectativas, criaram a padronização dos demonstrativos e adotaram um formato específico para cada um deles. Esses dois grupos de usuários são assim divididos: 1. Usuários Internos São os administradores, empregados etc. 2. Usuários Externos São os credores da entidade, financiadores, investi- dores, governos, clientes etc. 22 ...................................................................................................................................................................................................................... Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos CAMPO DE ATUAÇÃO DO PROFISSIONAL CONTÁBIL Com o acelerado avanço ocorrido na tecnologia da infor- mação nos últimos anos, a profissão de contador expe- rimentou uma verdadeira revolução, transformando de forma radical a atuação desses profissionais. Fatores como a globalização, o agigantamento das em- presas, as combinações de negócios, a internacionaliza- ção das empresas, a quebra de barreiras comerciais, as diversas fusões de grandes empresas e incorporações de grandes empresas por outras ainda maiores tornaram o ambiente de negócios algo absolutamente novo, no qual a concorrência se tornou cada vez mais acirrada, e a veloci- dade para a tomada de decisão e adaptação às mudanças, que ocorreram e continuam ocorrendo freneticamente, transformaram a informação em algo precioso, essencial. Nesse novo cenário, a contabilidade muda de patamar, pois, em vez de gerar informações sobre as ocorrências passadas na situação patrimonial de uma empresa, passa a gerar informações estratégicas fundamentais em tempo real, graças aos poderosos sistemas integrados utilizados pelas empresas, trazendo o profissional contábil da reta- guarda do processo de informação para a linha de frente do processo decisório nas organizações. 23Campo de atuação do profissional contábil ...................................................................................................................................................................................................................... Definitivamente a contabilidade se tornou a linguagem dos negócios. Sem o adequado planejamento estratégico, tático e operacional nenhuma dessas empresas sobrevive nesse mercado tão competitivo. De outro lado, sem o ne- cessário controle das execuções desses planejamentos, os ajustes necessários ao planejamento não se concretizam. No centro dessas duas funções nobres da administração (planejamento e controle) está a informação contábil. Vocês já pararam para pensar no porquê de investido- res de todo o planeta (sim, hoje investidores têm condi- ções técnicas para operar em bolsas de todos os países do mundo) utilizarem relatórios contábeis para comparar empresas e tomarem as decisões quanto ao investimento que farão de suas poupanças? O que há de tão importante nessas demonstrações que fazem com que investidores experientes e conhecedores do mundo dos investimentos, em que sempre há uma re- lação de risco e retorno, tomem suas decisões de investir, muitas vezes, vultosas quantias na empresa A do país X e não na empresa X do país A? Posso assegurar a vocês que muito poucos deles estão dispostos a correr riscos do tipo voo cego, alguns estão propensos a assumir riscos razoavelmente maiores em busca de retornos melhores e a maioria busca, em princípio, o maior retorno possível com o menor risco. Nesse novo ambiente a profissão contábil ganhou uma amplitude que os contadores de muito pouco tempo atrás não imaginavam. No início dos anos 1990, nem se vislum- 24 ...................................................................................................................................................................................................................... Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos brava essa verdadeira revolução, para dar uma ideia a vo- cês da velocidade com que essas mudanças ocorreram. O mercado de trabalho para o profissional contábil se am- pliou de forma avassaladora. Em muitos países do mundo, é a profissão mais procurada pelos novos universitários. A profissão é regulada pelo CFC, que emitiu Normas Téc- nicas e Profissionais para a atuação dos profissionais ha- bilitados para o exercício da profissão. Atualmente o CFC aplica o exame de suficiência para os bacharéis em Ciên- cias Contábeis para que, aprovados no exame, eles pos- sam ser credenciados pelo Conselho. As Normas Profissionais são conhecidas como Normas Brasileiras de Contabilidade dos Profissionais Gerais – NBC PG. São elas: a NBC PG 100, que é de aplicação geral aos profissionais da contabilidade; a NBC PG 200, que regula a atuação de contadores que prestam serviços (Contadores Externos); a NBC PG 300, que regula a atuação de conta- dores empregados (Contadores Internos) e, finalmente, a NBC PG 12 (R1), que trata da educação profissional conti- nuada. As possibilidades de atuação são tantas que um bom es- quema das alternativas profissionais para um contador é sintetizado no quadro elaborado pelo professor Marion, que destaco a seguir: 25Campo de atuação do profissional contábil ...................................................................................................................................................................................................................... ...................................................................................................................................................................................................................... 26 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos TÉCNICAS CONTÁBEIS Na Teoria da Contabilidade aprendemos que as técnicas contábeis são quatro: 1. Escrituração Consiste basicamente no registro nos livros apropriados de todos os fatos administrativos ocorridos na entidade, pois os fatos administrativos afetam a posição patrimo- nial. Esses livros são o livro diário, o livro-razão, o livro- -caixa, contas correntes etc.). 2. Elaboração das Demonstrações Contábeis Já vimos a importância que se dá às demonstrações contá- beis, ou seja, às informações acerca da situação patrimonial, financeira e econômica de uma entidade aos seus diversos usuários, sobretudo os externos. Saber elaborá-las inclui a compilação e o tratamento dos dados contábeis registrados, o reconhecimento de elementos patrimoniais e sua avaliação. 3. Auditoria As sociedades por ações de capital aberto e as empresas de grande porte, são, por força de Lei, obrigadas a apre- sentar suas demonstrações contábeis devidamente audi- tadas. Técnicas contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 27 A auditoria consiste no exame das demonstrações contá- beis para que sejam relatados o cumprimento dos princí- pios contábeis e para que os dados apresentados revelem, com razoável grau de certeza, osnúmeros apresentados refletindo a realidade patrimonial, financeira e econômica da empresa examinada. 4. Análise das Demonstrações Contábeis Vocês recordam que ao abordar o campo de atuação do profissional contábil eu fiz a indagação “O que há de tão importante nessas demonstrações que fazem com que investidores experientes e conhecedores do mundo dos investimentos, em que sempre há uma relação de risco e retorno, tomem suas decisões de investir, muitas vezes, vultosas quantias na empresa A do país X e não na empre- sa X do país A?”? Boa parte da explicação para esse questionamento está contida na técnica da análise das demonstrações contá- beis, transformando as informações ali contidas em índi- ces e indicadores fundamentais ao processo de tomada de decisão. ...................................................................................................................................................................................................................... 28 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos PATRIMÔNIO O que é Muitos imaginam o patrimônio como algo essencialmente positivo, porém, o patrimônio tem elementos que são po- sitivos e elementos que são negativos. O que chamamos de patrimônio é a diferença entre tais elementos. O patrimônio de uma entidade é composto pela diferença entre os bens e direitos e as obrigações da entidade. Uma entidade pode ter obrigações originárias de duas fontes: os próprios acionistas/cotistas e pessoas que não sejam diretamente ligadas à sociedade, tais como bancos, fornecedores, governos etc. Às obrigações que pertençam aos sócios, chamamos de capital próprio. As que não pertencem, chamamos de ca- pital de terceiros. Essas obrigações são aplicadas na entidade, por meio do que chamamos de bens e direitos. Como é dividido a. Bens São coisas úteis capazes de satisfazer as necessida- des das pessoas e das empresas. Patrimônio ...................................................................................................................................................................................................................... 29 São aplicações dos recursos obtidos pela empresa. Os bens podem ser numerários, de venda, de renda ou de uso; estes últimos podem ser tangíveis (mate- riais) ou intangíveis (imateriais). b. Direitos São os valores que a entidade tem a receber de terceiros, geralmente são seguidos de expressões como a receber ou a recuperar. Temos como exemplos: duplicatas a receber, impos- tos a recuperar etc. c. Obrigações São os valores que a empresa tem a pagar a tercei- ros (exigíveis) ou aos sócios (não exigíveis). Situações patrimoniais Ao analisarmos o patrimônio de uma entidade, normal- mente o fazemos utilizando a mais conhecida das de- monstrações contábeis: o balanço patrimonial. Essa demonstração tem o formato de uma letra T, apre- sentando do lado direito as obrigações com terceiros e o capital próprio, e do lado esquerdo os bens e direitos da entidade. O que chamamos de patrimônio na teoria adotada pelas empresas, a patrimonialista, é a parte que pertence aos sócios. São as obrigações não exigíveis, ou as origens de ...................................................................................................................................................................................................................... 30 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos recursos que a entidade utiliza pertencentes aos seus só- cios, e as reservas que vão sendo acumuladas ao longo do tempo. É representado pelo grupo denominado Patrimô- nio Líquido. Os recursos originários de terceiros (exigíveis) são o que chamamos de Passivo. A soma do passivo com o patrimô- nio líquido representa o total de origens de recursos da entidade. Esses recursos relativos às origens são aplicados no grupo que denominamos Ativo, em que representamos os bens e os direitos. Situação patrimonial positiva: se o total de bens e direi- tos (ativo) é maior do que o de obrigações com terceiros (passivo), a situação patrimonial é positiva, ou seja, o Pa- trimônio Líquido é maior do que zero. Ativo – Passivo > 0 Situação patrimonial nula: se o total de bens e direitos é igual ao total de obrigações com terceiros, dizemos que a situação patrimonial é nula, ou seja, o Patrimônio Líquido é igual a zero. Ativo – Passivo = 0 Situação patrimonial negativa: se o total de bens e di- reitos é menor que o total de obrigações com terceiros, podemos dizer que a situação patrimonial é negativa, ou seja, o Patrimônio Líquido é menor do que zero. Patrimônio ...................................................................................................................................................................................................................... 31 Ativo – Passivo < 0 Dessa forma podemos dizer que a equação patrimonial é: Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido Aqui temos uma lição importante que levaremos ao longo de nossa vida como usuários da contabilidade, ou mesmo como contadores: o total de origens é sempre igual ao total de aplicações. Como se modifica Como a contabilidade registra todos os fatos administrati- vos, a cada movimentação registrada ocorre uma alteração na posição patrimonial. Mais adiante veremos como são efetuados os registros contábeis e abordaremos esses as- pectos com maior riqueza de detalhes. ...................................................................................................................................................................................................................... 32 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos CONTAS O que são Em termos contábeis, podemos dizer que conta é como chamamos o componente patrimonial ou de resultado que utilizamos para fazer os registros dos fatos administrati- vos de uma entidade. Tipos de contas Para que a contabilidade possa cumprir seu objetivo, que é o fornecimento de informações aos seus diversos usu- ários, precisamos dotar essas informações de elementos qualitativos e quantitativos. Os primeiros são para informar o que faz parte do patri- mônio de uma entidade, com todos os detalhamentos pos- síveis de serem demonstrados; os últimos, para demons- trar o valor monetário de cada elemento apresentado. Para que isso seja possível ela se utiliza das contas. As contas são classificadas, na teoria patrimonialista, que é a que estamos abordando, em dois grupos: a. Patrimoniais São as que identificam cada elemento do patrimô- nio de uma entidade. Como já vimos anteriormente, os elementos patrimoniais são os bens, os direitos e as obrigações, que são divididos como apresentado a seguir. Contas ...................................................................................................................................................................................................................... 33 i. Ativo Aqui estamos nos referindo aos bens e direitos da entidade. ii. Passivo Esse grupo de contas inclui as obrigações com terceiros, ou seja, aquelas que são exigíveis. iii. Patrimônio Líquido Nesse grupo estão incluídas as obrigações da entidade com seus próprios sócios. Inclui, além do investimento inicialmente feito por eles, to- das as reservas que foram criadas, prejuízos acumulados, ajustes de avaliação patrimonial, entre outras. b. De resultados Para que a entidade cumpra sua função econômica, deve apresentar resultados, e para que esses sejam apurados utilizamos as contas de resultados. Elas têm características próprias, pois acumulam saldo ao longo do exercício social. O exercício social é o período no qual as entidades deverão elaborar as demonstrações contábeis. Esse período deverá ter duração de 1 (um) ano, e a data do término será fixada no EstatutoSocial, conforme o artigo 175 da Lei nº 6.404/1976 (A Lei das Socie- dades por Ações), in verbis: Art. 175. O exercício social terá duração de 1 (um) ano e a data do término será fixada no estatuto. ...................................................................................................................................................................................................................... 34 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos Parágrafo único. Na constituição da companhia e nos casos de alteração estatutária o exercício social poderá ter duração diversa. Ao final do exercício social, essas contas são encerradas na apuração do resultado do exercício, quando se apura se a entidade teve lucro ou prejuízo, e seus saldos serão zerados. Nada impede que esses demonstrativos sejam apurados mensalmente, trimestralmente ou como preferirem os gestores. A exigência acima trata da legislação societária, não da tributária. Elas são divididas em duas categorias, que veremos a seguir: i. Receitas São as contas que representam as operações decor- rentes da venda de bens ou serviços, ou pela remu- neração de ativos da entidade. Existem em número bem menor que as contas de despesas. As contas de receitas mais comuns são: receitas de vendas, recei- tas de serviços, aluguéis ativos, descontos obtidos, receitas de juros etc. ii. Despesas São contas que representam o sacrifício de ativos ou compromissos assumidos em busca de receitas. Decorrem do consumo de bens ou da utilização de serviços. Ao fazer uma venda de mercadorias uma empresa tem uma receita de vendas, mas, quando entrega a mercadoria vendida para o cliente, estará Contas ...................................................................................................................................................................................................................... 35 “sacrificando” um ativo em troca daquela receita. As despesas mais comuns são: custo de mercado- rias/serviços/produtos vendidos, impostos, des- contos concedidos, salários de empregados, energia elétrica etc. O plano de contas Para controlar o patrimônio e ter como fornecer informa- ções que sejam úteis e confiáveis, a contabilidade precisa ampliar as possibilidades de qualificar a informação que fornece. Para que isso seja possível, utiliza-se de dois ti- pos de contas, que veremos em detalhes a seguir. São elas as contas analíticas e as contas sintéticas. Parece complicado, não? Mas é apenas uma primeira impressão. Um plano de contas é feito de tantos níveis quanto neces- sários forem. a. O que é Cada empresa, de acordo com suas características peculiares, ou do ramo que atua, precisa organizar suas contas de forma a possibilitar a geração de in- formações adequadas aos seus diversos usuários. Para isso, cada uma delas define a estrutura mais adequada para as suas contas. A essa estruturação chamamos de Plano de Contas. b. Para que serve Podemos dizer que se trata do planejamento da for- ma como será efetuada a escrituração contábil da- ...................................................................................................................................................................................................................... 36 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos quela empresa. É certo que o plano de contas deve atender às necessidades legais de evidenciação de informações. Ao definir o plano de contas de uma empresa que está iniciando, o contador deve desenvolver uma es- trutura flexível o suficiente para suportar um enor- me aumento do porte dessa empresa que ora se ini- cia, ou seja, o plano de contas tem que ser capaz de absorver em sua estrutura novas contas. c. A hierarquia das contas i. Contas analíticas Se você tem duas contas bancárias: uma no Banco da Praça, agência 999, com saldo de R$ 1.000,00, e outra no Banco do Parque, agência 888, com saldo de R$ 500,00, qual seria o seu saldo bancário total, ou seja, o saldo da conta que chamaremos de Bancos? Somados os R$ 1.000,00 do Banco da Praça com os R$ 500,00 do Banco do Parque, teremos um saldo total de R$ 1.500,00. Nesse exemplo, as contas Banco da Praça e Banco do Parque repre- sentam contas analíticas, são as contas que são movimentadas. A conta Bancos representa uma conta sintética, pois apenas soma (sintetiza) os saldos de contas analíticas a ela ligadas. Ficou mais fácil para compreender agora? A contabilidade, mesmo sem termos consciência disso, é aplicada em nosso cotidiano. Contas ...................................................................................................................................................................................................................... 37 De forma simplificada podemos dizer que as contas analíticas são aquelas que, efetivamente, recebem os lançamentos contábeis. É nelas que ocorrem os registros dos fatos administrativos. ii. Contas sintéticas As contas sintéticas são as que resumem os sal- dos das contas a elas subordinadas. No primei- ro nível de uma conta sintética há o resumo dos saldos das contas analíticas a ela subordinadas. Nos níveis acima, uma conta sintética soma os saldos das contas sintéticas a ela subordinadas, ou até mesmo de outras contas analíticas. d. Como deve ser planejado e elaborado Como vimos, o plano de contas deve ser elabora- do com muito cuidado, pensando nas variações que podem ocorrer no futuro, em longuíssimo prazo. Dessa forma, ele tem que ser flexível o suficiente para absorver novas contas durante muitos exer- cícios sociais consecutivos. Muitas vezes fatos não previstos ocorrem, como a criação de um novo tri- buto, e uma conta tem que ser criada para atender ao seu registro. Segundo Velter e Missagia (2011, p. 117), A maioria das empresas não trabalha com um plano de contas na acepção da palavra. Usa apenas um elenco de contas. A diferença entre um e outro resi- de no fato de que o plano de contas, além de apre- ...................................................................................................................................................................................................................... 38 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos sentar a relação de contas (elenco), mostra a função e o funcionamento destas. O elenco de contas só exibe a relação das contas a serem movimentadas. As contas têm como função o registro e controle dos fatos administrativos ocorridos, de sorte que a informação de- las possa ser extraída de forma ordenada e clara. As contas têm características de funcionamento próprias. As que registram os ativos da empresa são as que inicial- mente recebem as aplicações (lembram?), portanto, pode- mos dizer que elas têm natureza devedora. As do passivo e do patrimônio líquido são as que inicial- mente recebem as origens de recursos da entidade, por- tanto, podemos afirmar que elas têm natureza credora. As contas de receitas representam a entrada de recursos, portanto, têm natureza credora. As contas de despesas representam a saída de recursos, portanto, têm natureza devedora. Como podemos constatar, as contas funcionam em duas situações: quando ela é debitada ou quando ela é creditada. Para que um plano de contas seja criado, é preciso que de- finamos a quantidade de níveis que ele terá e, como numa construção civil, deverá ser erguido de baixo para cima. No nível inferior são situadas as contas analíticas (as con- tas que recebem lançamentos diretos). Contas ...................................................................................................................................................................................................................... 39 No nível mais elevado estão as contas que representam os grandes gruposcontábeis, que normalmente são assim representados: 1. Contas do Ativo. 2. Contas do Passivo e Patrimônio Líquido. 3. Contas de Despesas. 4. Contas de Receitas. 5. Contas de Apuração do Resultado. Segundo a Lei das Sociedades por Ações, o Ativo é dividi- do em dois grupos, o circulante e o não circulante. Poderíamos representar o circulante como sendo o sub- grupo 1, e o não circulante, como o subgrupo 2. Nessa simples estrutura mostrada teríamos: 1 – Ativo 1.1 – Circulante 1.2 – Não circulante Ainda não estamos estudando alguns detalhes sobre as di- ferenças entre esses subgrupos, mas apenas para ilustrar a hierarquia das contas, em uma estrutura de um plano de contas, poderíamos dizer que os saldos das contas 1.1 – Circulante e 1.2 – Não circulante somados perfazem o saldo da conta 1 – Ativo. Continuando uma primeira visão de uma estrutura bem simplificada, poderíamos ter como continuação do grupo ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 40 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos 1.1 – Circulante a conta 1.1.1 – Disponibilidades, cujo sal- do será adicionado à conta 1.1 – Circulante, que por sua vez adiciona seu saldo à conta 1 – Ativo. 1 – Ativo 1.1– Circulante 1.1.1 – Disponibilidades 1.2 – Não circulante A conta 1.1.1 – Disponibilidades, apenas a título de ilus- tração, poderia ter a ela vinculadas as contas 1.1.1.01 – Caixa e 1.1.1.02 – Bancos. O saldo da conta 1.1.1.01 – Cai- xa somado ao saldo da conta 1.1.1.02 – Bancos somados perfazem o total do saldo da conta 1.1.1 – Disponibilida- des, e assim sucessivamente. 1 – Ativo 1.1 – Circulante 1.1.1 – Disponibilidades 1.1.1.01 – Caixa 1.1.1.02 – Bancos 1.2 – Não circulante Observe que o número de níveis vai depender da amplitu- de da estrutura de contas que for planejada. Princípios contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 41 ...................................................................................................................................................................................................................... PRINCÍPIOS CONTÁBEIS Os Princípios de Contabilidade significam a essência das doutrinas e teorias relativas à ciência da contabilidade, de acordo com o entendimento predominante, para um deter- minado momento, nos universos científico e profissional. Eles não são imutáveis, mas são de observância obrigató- ria pelos contabilistas no exercício da profissão, conforme determinam as Normas Brasileiras de Contabilidade. A partir de 02/06/2010, Os “Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC)”, citados na Resolução CFC nº 750/1993, passam a ser chamados de “Princípios de Contabilidade (PC)”, por força da Resolução CFC nº 1.282/2010, cuja íntegra é a que se segue: RESOLUÇÃO CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE - CFC Nº 1.282 DE 28.05.2010 D.O.U.: 02.06.2010 Atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC nº 750/93, que dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade. O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais, CONSIDERANDO que, por conta do processo de convergência às normas internacionais de contabilidade, o Conselho Federal de Contabilidade emitiu a NBC T 1 - Estrutura Conceitual para a Elabo- ração e Apresentação das Demonstrações Contábeis, que discute ...................................................................................................................................................................................................................... 42 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos a aplicabilidade dos Princípios Fundamentais de Contabilidade contidos na Resolução CFC nº 750/93; CONSIDERANDO a necessidade de manutenção da Resolução CFC nº 750/93, que foi e continua sendo referência para outros orga- nismos normativos e reguladores brasileiros; CONSIDERANDO a importância do conteúdo doutrinário apresen- tado na Resolução CFC nº 750/93, que continua sendo, nesse novo cenário convergido, o alicerce para o julgamento profissional na aplicação das Normas Brasileiras de Contabilidade; CONSIDERANDO que, para assegurar a adequada aplicação das Normas Brasileiras de Contabilidade à luz dos Princípios de Conta- bilidade, há a necessidade de harmonização dos dois documentos vigentes (Resolução CFC nº 750/93 e NBC T 1); CONSIDERANDO que, por conta dessa harmonização, a denomina- ção de Princípios Fundamentais de Contabilidade deva ser alterada para Princípios de Contabilidade, visto ser suficiente para o perfei- to entendimento dos usuários das demonstrações contábeis e dos profissionais da Contabilidade, resolve: Art. 1º Os “Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC)”, citados na Resolução CFC nº 750/93, passam a denominar-se “Princípios de Contabilidade (PC)”. Art. 2º O “CONSIDERANDO” da Resolução CFC nº 750/93 passa a vi- gorar com a seguinte redação: “CONSIDERANDO a necessidade de prover fundamentação apro- priada para interpretação e aplicação das Normas Brasileiras de Contabilidade,” Art. 3º Os arts. 5º, 6º, 7º, 9º e o § 1º do art. 10, da Resolução CFC nº 750/93, passam a vigorar com as seguintes redações: “Artigo 5º O Princípio da Continuidade pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância. Princípios contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 43 Artigo 6º O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas. Parágrafo único. A falta de integridade e tempestividade na pro- dução e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação. Artigo 7º O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes do patrimônio devem ser inicialmente regis- trados pelos valores originais das transações, expressos em moe- da nacional. § 1º As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em graus distintos e combinadas, ao longo do tempo, de diferentes formas: I - Custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas cir- cunstâncias, pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações; e II - Variação do custo histórico. Uma vez integrado ao patrimônio, os componentes patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer va- riações decorrentes dos seguintes fatores: a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos na data ou no período das demonstrações contábeis. Os passivos são reco- nhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessáriospara liquidar a obrigação na data ou no período das demonstrações contábeis; b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ...................................................................................................................................................................................................................... 44 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos ou equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos pela ven- da em uma forma ordenada. Os passivos são mantidos pelos va- lores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações da Entidade; c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, des- contado do fluxo futuro de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das operações da Entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações da Entidade; d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimentos; e e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aqui- sitivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da expressão formal dos valo- res dos componentes patrimoniais. § 2º São resultantes da adoção da atualização monetária: I - a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não representa unidade constante em termos do poder aquisitivo; II - para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações originais, é necessário atualizar sua expressão for- mal em moeda nacional, a fim de que permaneçam substantiva- mente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por consequência, o do Patrimônio Líquido; e III - a atualização monetária não representa nova avaliação, mas tão somente o ajustamento dos valores originais para determina- da data, mediante a aplicação de indexadores ou outros elemen- tos aptos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda na- cional em um dado período.” [...] Princípios contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 45 “Artigo 9º O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou paga- mento. Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe a simul- taneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas.” Artigo 10. [...] “Parágrafo único. O Princípio da Prudência pressupõe o emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos neces- sários às estimativas em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabili- dade ao processo de mensuração e apresentação dos componen- tes patrimoniais.” Art. 4º Ficam revogados o inciso V do art. 3º, o art. 8º e os §§ 2º e 3º do art. 10, da Resolução CFC nº 750/93, publicada no D.O.U., Se- ção I, de 31.12.93; a Resolução CFC nº 774/94, publicada no D.O.U., Seção I, de 18/1/95, e a Resolução CFC nº 900/01, publicada no D.O.U., Seção I, de 3/4/01. Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. JUAREZ DOMINGUES CARNEIRO Presidente do Conselho ...................................................................................................................................................................................................................... 46 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos Da entidade O Princípio da Entidade, na Resolução CFC nº 750/1993, tem a seguinte redação: O PRINCÍPIO DA ENTIDADE Art. 4º O Princípio da ENTIDADE reconhece o Pa- trimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferen- ciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de per- tencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. Por consequ- ência, nesta acepção, o Patrimônio não se confunde com aqueles dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição. Parágrafo único – O PATRIMÔNIO pertence à ENTI- DADE, mas a recíproca não é verdadeira. A soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova ENTIDADE, mas numa unidade de natureza econômico-contábil. Em síntese, podemos afirmar que o patrimônio da entida- de deve ser segregado do patrimônio de seus sócios. São patrimônios distintos, não se misturam. O sócio tem o seu quinhão na empresa, mas o dinheiro da empresa é do pa- trimônio dela, e não do sócio. Se a empresa obtiver lucro e parte desse lucro for distri- buído aos sócios, aí, sim, eles terão parte do patrimônio da empresa. Um exemplo da aplicação desse princípio é apresentado por meio da questão de concurso público – Analista Legis- lativo – Câmara dos Deputados – FCC – 2007: Princípios contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 47 A Cia. Astral tem como sócio-presidente o Sr. Carlos Al- berto. A empresa, neste último exercício, vem atravessan- do sérias dificuldades financeiras em função de os dois outros concorrentes terem se instalado na mesma região, disputando mercado que anteriormente era somente seu. O Sr. Carlos Alberto habitualmente apresenta suas despe- sas pessoais para serem contabilizadas e pagas pela em- presa. Ao fazer isso o Sr. Carlos Alberto está infringindo o Princípio/Norma Contábil: a) Da continuidade. b) Do conservadorismo. c) Da entidade. d) Do custo como base do valor original. e) Da competência. Resposta: Letra C – Da entidade. Da continuidade O Princípio da Continuidade, na Resolução CFC nº 750/1993, modificada pela Resolução CFC nº 1.282/2010, tem a seguinte redação: Art. 5º O Princípio da Continuidade pressupõe que a Enti- dade continuará em operação no futuro e, portanto, a men- suração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância. Parte do pressuposto que, em condições normais, salvo evi- dências ou algum evento excepcional em contrário, a entida- ...................................................................................................................................................................................................................... 48 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos de terá continuidade no futuro, ou seja, de que as empresas tendem a continuar existindo por longos períodos. Caso haja indícios de que essa continuidade não ocorrerá, os critérios de avaliação de seu patrimônio necessariamen- te terão que ser diferentes, ou seja, o tratamento contábil dado ao patrimônio da empresa terá que ser diferenciado. Da oportunidade A redação do Princípio da Oportunidade, na Resolução CFC nº 750/1993, foi alterada pela Resolução CFC nº 1.282/2010 e assim ficou: Art. 6º O Princípio da Oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos com- ponentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas. Parágrafo único. A falta de integridade e tempesti- vidade na produção e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade e a confiabilidade da informação. Novamente aqui sepode notar o cuidado da regulamenta- ção com a qualidade das informações a serem fornecidas pela contabilidade. Segundo Moraes Júnior (2013, p. 28), esse princípio está marcado pela necessidade do fornecimento de informa- ções que sejam íntegras e tempestivas, portanto, exige a apreensão, o registro e o fornecimento das informações relativas às alterações ocorridas no patrimônio, no mo- mento em que os fatos administrativos são consumados. Princípios contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 49 Para exemplificar a aplicação desse princípio, vejamos uma questão de prova de concurso sobre o tema: (Analista Judiciário – Área Administrativa – Especialidade Contabilidade – TRT 24R-2011 – FCC) O princípio contábil que determina que o registro das variações patrimoniais, desde que tecnicamente estimável, deve ser feito mesmo na hipótese de somente existir razoável certeza de sua ocorrência, é o Princípio da: a) Continuidade. b) Exclusividade. c) Oportunidade. d) Entidade. e) Prudência. Essa questão aborda em essência a ideia do Princípio da Oportunidade, pois os registros contábeis das variações patrimoniais devem ser efetuados mesmo na existência de razoável certeza do acontecimento. Como não poderia deixar de ser, nesse exemplo a alterna- tiva correta é a opção “C”. Do registro pelo valor original Esse é outro Princípio previsto na Resolução CFC nº 750/1993 que foi modificado pela Resolução CFC nº 1.282/2010. Art. 7º O Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os componentes do patrimônio de- ...................................................................................................................................................................................................................... 50 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos vem ser inicialmente registrados pelos valores origi- nais das transações, expressos em moeda nacional. Um ponto importante a ser destacado é que na nova re- dação desse Princípio ele absorve o extinto princípio da atualização monetária, que agora é utilizado apenas como um dos critérios para que se registre a variação do custo histórico. Esse é o Princípio que mais alterações sofreu com a edição da Resolução CFC nº 1.282/2010. Ele determina que os componentes patrimoniais devem, em princípio, ser registrados pelos valores originais das transações a que correspondem expressos em moeda na- cional. A partir daí manifestam-se, mais uma vez, os cuidados regulatórios em favor da apresentação mais próxima da realidade. A ideia é fazer com que os valores apresentados nas demonstrações contábeis reflitam, com a maior proxi- midade possível, seus valores corretos. A partir do momento em que foi feito o registro pelo va- lor original, dependendo do caso e das circunstâncias, as seguintes bases de mensuração de seus valores devem ser utilizadas, combinadas ou não, para demonstrar as varia- ções de valores ocorridas ao longo do tempo. Essas bases são, segundo a Resolução CFC nº 1.282/2010, editando a Resolução CFC nº 750/1993: Princípios contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 51 § 1º As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em graus distintos e combinadas, ao lon- go do tempo, de diferentes formas: I – Custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equiva- lentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recur- sos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das opera- ções; e II – Variação do custo histórico. Uma vez integrado ao patrimônio, os componentes patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer variações decorrentes dos seguintes fatores: a) Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equi- valentes fossem adquiridos na data ou no período das demonstrações contábeis. Os passivos são re- conhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessários para liquidar a obrigação na data ou no período das demonstrações contábeis; b) Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais poderiam ser obtidos pela venda em uma forma or- denada. Os passivos são mantidos pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam pagos para liquidar as correspon- dentes obrigações no curso normal das operações da Entidade; c) Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro de entrada lí- quida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das operações da Entidade. Os pas- sivos são mantidos pelo valor presente, desconta- ...................................................................................................................................................................................................................... 52 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos do do fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo no curso normal das operações da Entidade; d) Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado, entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimentos; e e) Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da expressão formal dos valores dos componentes patrimoniais. § 2º São resultantes da adoção da atualização mo- netária: I – a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não representa unidade constante em termos do poder aquisitivo; II – para que a avaliação do patrimônio possa man- ter os valores das transações originais, é necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, a fim de que permaneçam substantivamente corre- tos os valores dos componentes patrimoniais e, por consequência, o do Patrimônio Líquido; e III – a atualização monetária não representa nova avaliação, mas tão somente o ajustamento dos va- lores originais para determinada data, mediante a aplicação de indexadores ou outros elementos ap- tos a traduzir a variação do poder aquisitivo da mo- eda nacional em um dado período. Observem que os valores variam de acordo com alguns con- ceitos muito importantes que serão muito utilizados ao lon- go do seu aprendizado em Ciências Contábeis, tais como: 1. Custo histórico. 2. Variações do custo histórico, como Custo Corren- Princípios contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 53 te, Valor Realizável, Valor Presente, Valor Justo e Atualização Monetária. Ao longo do curso esses temas serão tratados com maior profundidade. Da competência Outro Princípio estabelecido pela Resolução CFC nº 750 que foi modificado pela Resolução CFC nº 1.282/2010: Art. 9º O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam re- conhecidos nos períodos a que se referem, indepen- dentemente do recebimento ou pagamento. Parágrafo único. O Princípio da Competência pres-supõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas. Esse Princípio também sofreu mudança, em face da har- monização das Normas de Contabilidade de acordo com novo padrão adotado para a contabilidade brasileira. Ele simplesmente, agora de forma mais genérica, determina o reconhecimento, e consequente registro, das transações no momento em que elas ocorrem, independentemente se houve ou não seus pagamentos ou recebimentos. Vamos exemplificar a aplicação desse Princípio com uma questão de concurso público (FCC): Em relação ao princípio contábil da competência, é correto afirmar que: ...................................................................................................................................................................................................................... 54 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos a) O reconhecimento das despesas deve ser efetua- do quando houver o efetivo desembolso financeiro por parte da pessoa jurídica que efetuou o gasto. b) Uma despesa é considerada incorrida quando há um surgimento de um ativo, sem o concomitante desaparecimento de um passivo. c) As perdas involuntárias de ativos por questões fortuitas ou por força maior não devem ser compu- tadas na apuração do resultado do exercício, por- que não estão correlacionadas com a realização de receitas. d) As receitas são consideradas realizadas, nas tran- sações com terceiros, quando estes efetuarem o pa- gamento. e) A extinção, mesmo que parcial, de um passivo, sem o desaparecimento concomitante de um ativo, de valor igual ou maior, é considerada realização de receita. Existem nessa questão-exemplo alguns conceitos que você ainda não aprendeu, mas a simples leitura do caput do Princípio da Competência e de seu parágrafo único levará você à resposta correta, observe: O princípio da competência define claramente que o reco- nhecimento de uma despesa independe do seu pagamento ou recebimento, portanto, a opção A não atende às suas definições. Princípios contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 55 Quando há o surgimento de um ativo, sem o concomitante desaparecimento de um passivo, podem ter ocorrido dois tipos de eventos: sócios investindo mais recursos na enti- dade ou, este mais comum, uma receita, por exemplo, de aluguéis recebidos, ou seja, ocorreu uma receita. Portanto a opção B não está de acordo com o princípio da compe- tência. As perdas são necessariamente registradas como despe- sas, e o resultado é o confronto entre receitas e despesas, portanto, a opção C também não atende ao princípio da competência. É o mesmo caso da opção A, só que ao contrário. O princí- pio da competência não atrela o reconhecimento de uma receita ao seu recebimento, portanto, essa opção também não atende ao princípio da competência. A extinção de um passivo (obrigação) sem o desapareci- mento concomitante de um ativo (normalmente as obri- gações são quitadas com ativos — bens e direitos) signifi- ca realização de receita, nos termos da Resolução CFC nº 750/1993, em seu artigo 9º. Opção correta “E”. Da prudência Na existência de um ativo ou um passivo, escriturados de acordo com o que determina o Princípio do Registro pelo Valor Original, quando é suscitada qualquer dúvida quan- to à correção que eles devem sofrer, o Princípio da Prudên- cia deve ser observado. ...................................................................................................................................................................................................................... 56 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos Caso exista mais de uma possibilidade de se fazer o cálcu- lo dos valores atualizados, recomenda o princípio da pru- dência que seja sempre escolhido o de menor valor para os ativos e o de maior valor para os passivos. O objetivo é sempre garantir os interesses dos credores da entidade ou dos sócios minoritários da entidade. O valor provisionado ao final de cada exercício social para estimar, no próximo exercício social, as perdas que ocor- rerão pelo não recebimento dos créditos da empresa junto aos seus clientes, chamada de Provisão para Estimativa de perdas em Créditos de Liquidação Duvidosa – PECLD, é um exemplo claro da aplicação do princípio da prudência, pois, como essa conta (PECLD) é redutora do ativo, o usu- ário das demonstrações contábeis daquela entidade terá a ideia correta dos valores líquidos que a empresa espera receber de seus clientes. Art. 10. O Princípio da PRUDÊNCIA determina a ado- ção do menor valor para os componentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apre- sentem alternativas igualmente válidas para a quan- tificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. Parágrafo único. O Princípio da Prudência pressupõe o emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às estimativas em cer- tas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas não sejam superestimados e que passi- vos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior confiabilidade ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais. Vejamos, a título de exemplo, uma questão de concurso que aborda o tema: Princípios contábeis ...................................................................................................................................................................................................................... 57 (Técnico Judiciário – Área Administrativa – Especialidade Contabilidade – TER/PI – 2009 – FCC) De acordo com o Princípio da Prudência, a contabilidade deve adotar, den- tre os critérios válidos, aquele que resulta no: a) Menor valor para os passivos. b) Menor valor para os ativos. c) Menor valor para as perdas. d) Maior valor para o patrimônio líquido. e) Maior valor para as receitas. O Princípio da Prudência mostrado acima determina a adoção do menor valor para os componentes do ATIVO e do maior para os do PASSIVO, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. Dessa forma não teremos dúvidas em assinalar a opção “B”. Neste capítulo, você estudou as noções iniciais do que é a contabilidade. Foram abordadas algumas características que a definem como uma linguagem importante para in- vestidores e gestores em geral de acordo com o atual con- texto de negócios e suas demandas contemporâneas. Você pôde entender que a contabilidade vai bem além do simples fato de fazer registros e gerar informações passa- das para seus usuários. Ocorreram mudanças que a alça- ram a um novo patamar no universo dos negócios. ...................................................................................................................................................................................................................... 58 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos Você teve a oportunidade de conhecer um pouco de sua história e evolução. Viu também quais são os usuários das informações con- tábeis e dentre esses grupos de usuários aprendeu a dis- tinguir os que têm prioridade nas informações contábeis padronizadas. Você pôde aprender e conhecer o amplo campo de atua- ção atualmente disponível para um profissional da área contábil. Outro ponto importante que você pôde conhecer foi o en- tendimento das técnicas que um profissional contábil uti- liza para atender aos objetivos da contabilidade. Teve também a oportunidade de conhecer o verdadeiro significado do que é patrimônio, sua composição e as di- versas situações patrimoniais possíveis. Vocêteve um contato inicial com o “tijolo” da construção da informação contábil, a noção de conta contábil, do re- lacionamento existente entre elas e como por meio desse relacionamento se projeta a informação que se deseja ex- trair do sistema contábil. Finalmente, pôde compreender parte do escopo regula- mentar que rege o exercício técnico da profissão, ou seja, os princípios contábeis. 59 ...................................................................................................................................................................................................................... REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Resolução Normativa nº 605, de 11 de março de 2014. Aprova o Ma- nual de Contabilidade do Setor Elétrico – MCSE, instituí- do pela Resolução Normativa nº 444, de 26 de outubro de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 19 mar. 2014. AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE. Resolução Normativa nº 322, de 27 de março de 2013. Altera o Anexo da Resolução Normativa nº 290, de 27 de fevereiro de 2012, que dispõe sobre o Plano de Contas Padrão para as Operadoras de Pla- nos de Assistência à Saúde. Diário Oficial da União, Brasí- lia, DF, 28 mar. 2013. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução nº 4.144, de 27 de setembro de 2012. Dispõe sobre a estrutura conceitual para a elaboração e apresentação das demonstrações con- tábeis. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 set. 2012. BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1976. . Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e es- tende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2007. . Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a le- gislação tributária federal relativa ao parcelamento ordiná- rio de débitos tributários; concede remissão nos casos em que especifica; institui regime tributário de transição [...] e ...................................................................................................................................................................................................................... 60 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 maio 2009. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Deliberação CVM nº 675, de 13 de dezembro de 2011. Aprova o Pronuncia- mento Conceitual Básico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que dispõe sobre a estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 dez. 2011. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº 750, de 29 de dezembro de 1993. Dispõe sobre os Prin- cípios de Contabilidade (PC). Diário Oficial da União, Bra- sília, DF, 31 dez. 1993. . Resolução CFC nº 774, de 16 de dezembro de 1994. Aprova o Apêndice à Resolução sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 jan. 1995. . Resolução CFC nº 1.055, de 7 de outubro de 2005. Cria o Comitê de Pronunciamentos Contábeis – (CPC) e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 out. 2005. . Resolução CFC nº 1.282, de 28 de maio de 2010. Atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC nº 750/93, que dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2 jun. 2010. . Resolução CFC nº 1.374, de 8 de dezembro de 2011. Dá nova redação à NBC TG ESTRUTURA CONCEITU- AL – Estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro. Diário Oficial da União, Bra- sília, DF, 16 dez. 2011. 61 ...................................................................................................................................................................................................................... . Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 100, de 24 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a NBC PG 100 – Aplicação geral aos profissionais da contabilidade. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 mar. 2014. . Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 12, de 21 de novembro de 2014. Aprova a NBC PG 12, que dis- põe sobre educação profissional continuada. Alterada pela NBC PG 12, de 10 de dezembro de 2015. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 dez. 2014. . Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 200, de 24 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a NBC PG 200 – Contadores que prestam serviços (contadores externos). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 mar. 2014. . Norma Brasileira de Contabilidade – NBC PG 300, de 24 de janeiro de 2014. Dispõe sobre a NBC PG 300 – Contadores empregados (contadores internos). Diário Ofi- cial da União, Brasília, DF, 25 mar. 2014. EDDINGTON, Arthur S. La filosofia de la ciência física. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1946. MARION, José C. Contabilidade Geral. São Paulo: Atlas, 2012. MORAES JÚNIOR; José J.; Contabilidade Geral. Rio de Ja- neiro: Campus, 2013. PADOVEZE, Clóvis Luís. Manual de Contabilidade Básica: contabilidade introdutória e intermediária. 8. ed. São Pau- lo: Atlas, 2012. SÁ, Antônio Lopes de. Teoria da Contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 62 Os conceitos básicos da contabilidade: os primeiros passos SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS. Circular Susep nº 483, de 6 de janeiro de 2014. Dispõe sobre al- terações das Normas Contábeis a serem observadas pelas sociedades seguradoras, sociedades de capitalização, enti- dades abertas de previdência complementar e ressegura- dores locais, instituídas pela Resolução CNSP nº 86, de 3 de setembro de 2002. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 jan. 2014. VELTER, Francisco; MISSAGIA, Luiz R. Manual de Contabi- lidade: teoria e mais de 650 questões. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus; Elsevier, 2011. 63Atos e fatos administrativos ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ CAPÍTULO 2 ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL – PARTE I Neste capítulo, abordaremos a diferença entre atos e fatos administrativos para a contabilidade e como os fatos ad- ministrativos são registrados nos principais livros da em- presa. Um ponto importante que será abordado, fundamental para a compreensão da lógica que fundamenta a linguagem contábil, é o Método das Partidas Dobradas. Será apresentada, em suas minúcias, a técnica da escritu- ração contábil, e, em seguida, será mostrada a prática da escrituração contábil no livro diário, que é o principal livro contábil, e nos razonetes, que representam a simplificação da escrituração efetuada no livro-razão, outro importante livro da contabilidade. 64 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I ATOSE FATOS ADMINISTRATIVOS Em contabilidade, a questão das nomenclaturas adotadas é sempre importante. É bom que seja esclarecida a dife- rença entre ATOS administrativos e FATOS administrati- vos, pois isso costuma dar margem a erros. Atos Administrativos Ocorrem na entidade sem causar alterações em seu pa- trimônio, portanto, não são registrados contabilmente (veremos como funciona essa contabilização ainda neste capítulo). Quando forem abordadas as demonstrações contábeis, veremos que o conjunto delas inclui Notas Explicativas. Nelas são registrados alguns atos administrativos, os que sejam relevantes e que poderão gerar fatos administrati- vos no futuro. O melhor exemplo dessa situação é a em- presa se tornar avalista de um empréstimo tomado por uma empresa em que tenha participação relevante. Se a empresa associada não pagar o empréstimo, a empresa avalista terá que pagá-lo, com seus custos, e isso se torna- rá um fato administrativo. Existem algumas situações mais simples e transitórias que são atos administrativos. Muitas empresas costumam, por esse motivo, fazer registros em contas de compensação, que são contas próprias para o registro de atos adminis- trativos (MORAES JÚNIOR, 2013, p. 91). 65Atos e fatos administrativos ...................................................................................................................................................................................................................... Fatos Administrativos Alguns autores os chamam também de fatos de gestão, porém, a grande maioria os trata como fatos administrati- vos, que representam operações realizadas pela adminis- tração de uma entidade que afetem, em termos quantitati- vos e/ou qualitativos, o patrimônio desta. A simples transferência de valores da conta que registra a movimentação do Banco A para a conta que registra a movimentação do Banco B afeta a posição patrimonial, e por esse motivo deve ser registrada. Sim, os fatos adminis- trativos devem ser registrados na contabilidade. Enfim, todas as operações praticadas pela administração de uma entidade, tais como compras, vendas, emprésti- mos, trocas etc., são consideradas fatos administrativos. Com muita propriedade nos esclarece Ferreira (2013, p. 391) que fato administrativo não é a mesma coisa que fato contábil, porque todo fato administrativo é um fato contá- bil, mas nem todo fato contábil é um fato administrativo. Por exemplo, se um incêndio causa a perda dos estoques de uma empresa, o patrimônio é reduzido. Esse fato não é decorrente de atos praticados pelos gestores, portanto, não é um fato administrativo, mas produz variação patri- monial, portanto, trata-se de um fato contábil. Os fatos administrativos podem ser separados em três ca- tegorias distintas: fatos permutativos ou compensativos, fatos modificativos e fatos mistos. 66 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I 1. Fatos permutativos ou compensativos São aqueles que NÃO provocam alterações no valor do Pa- trimônio Líquido. Como no exemplo das contas bancárias mostrado acima: o fato administrativo não alterou o valor do patrimônio. Naquele caso somente alterou o valor das duas contas bancárias envolvidas. O valor do ativo perma- neceu o mesmo, o do passivo também, por consequência, o patrimônio líquido também não foi alterado. Sempre que houver fatos que envolvam somente contas patrimoniais, não haverá apenas a troca de saldos. Vamos ver alguns exemplos: 1.1. Se a empresa retira R$ 1.000,00 da conta caixa e compra estoques ocorre uma redução no saldo da conta caixa, ou seja, um crédito, já que é uma conta do ativo, e um correspondente aumento da conta estoque, ou seja, um débito, já que é também uma conta do ativo. Nesse caso, houve o registro de um fato administrativo, porém o ativo não se alterou, nem o passivo e tampouco o patrimônio líquido. 1.2. Se a empresa paga, por meio de um cheque de R$ 5.000,00, uma dívida com um fornecedor, temos uma saída da conta bancos, que, por ser uma conta do ativo, é diminuída, e para diminuir o ativo de- vemos lançar um crédito. O pagamento serviu para quitar uma obrigação, reduzindo o passivo. Para re- duzir o passivo devemos lançar um débito de R$ 5.000,00, que, nesse caso, é efetuado na conta for- necedores a pagar. Observem que nesse exemplo o 67Atos e fatos administrativos ...................................................................................................................................................................................................................... ativo diminuiu, o passivo diminuiu no mesmo valor, e, como o patrimônio líquido é a diferença entre o ativo e o passivo, ele não foi alterado. 1.3. Um cliente pagou, em dinheiro, R$ 2.000,00 que devia à empresa. O fato administrativo foi registra- do da seguinte forma: um débito na conta caixa no valor de R$ 2.000,00 (aumento do ativo) e um crédi- to na conta clientes a receber no mesmo valor (dimi- nuição do ativo). Novamente temos um caso em que o fato administrativo não alterou o valor do ativo, não envolveu o passivo e, portanto, não alterou o patrimônio líquido. 1.4. A empresa que tinha uma reserva de lucros para futuro aumento de capital resolveu efetivar o aumento de seu capital utilizando-se dessa reser- va, que montava a R$ 500.000,00. Nesse caso temos envolvidas duas contas do patrimônio líquido: “ca- pital social” e “reserva de lucros para aumento de capital”. Por serem contas de natureza credora (as contas do passivo e do patrimônio líquido têm natureza credora) — para aumentar o patrimônio líquido devemos lançar um crédito, e, para dimi- nuir, um débito — vamos lançar um crédito de R$ 500.000,00 na conta que teve o saldo aumentado, ou seja, a conta “capital social”, e um débito no mes- mo valor na conta que teve o saldo reduzido, ou seja, a conta “reserva de lucros para aumento de capital”. Observe que não ocorreu alteração no valor do patrimônio líquido, pois nesse fato administrati- vo ele aumentou e diminuiu no mesmo valor. 68 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I 1.5. A empresa efetuou, a prazo, uma compra de mer- cadorias para revenda, no valor de R$ 600.000,00. Estão envolvidas nesse fato administrativo duas contas, “fornecedores a pagar” e “estoques”, uma do passivo, pois é uma obrigação assumida, e uma do ativo, pois são bens adquiridos. Temos nesse caso um aumento no ativo, representado por um débito na conta “estoques”, e um aumento no passivo, re- presentado por um crédito na conta “fornecedores a pagar”, ou seja, foram aumentados o ativo e o pas- sivo em R$ 600.000,00, não alterando o patrimônio líquido, pois Ativo – Passivo = Patrimônio Líquido. 1.6. Se a empresa vender, à vista, em dinheiro, pelo preço de custo, uma mercadoria de seus estoques, ocorrerá somente a troca de mercadorias por mo- edas. Nesse caso, o fato administrativo envolverá contas patrimoniais e contas de resultado (veremos esse tipo de operação mais adiante), mas não haverá nenhuma alteração no patrimônio líquido, pois não ocorrerá nem lucro, nem prejuízo. Nesses fatos administrativos exemplificados acima não devemos, e não podemos, esquecer do Princípio da Competência. Lembram dele? O reconhecimento dos fatos deve se dar no momento de sua ocorrên- cia, não estando vinculado necessariamente ao seu pagamento ou recebimento. 2. Fatos Modificativos Como o nome sugere, esses fatos provocam alterações para mais ou para menosno patrimônio líquido, podendo ser classificados da seguinte forma: 69Atos e fatos administrativos ...................................................................................................................................................................................................................... a) Aumentativos: são os que aumentam o valor do patrimônio líquido. b) Diminutivos: são os que reduzem o valor do pa- trimônio líquido. c) Mistos ou compostos: são aqueles que envolvem, ao mesmo tempo, um fato modificativo e um fato per- mutativo, podendo ser aumentativos ou diminutivos. Apesar de não termos aprendido ainda o que são lança- mentos contábeis, serão apresentados a seguir alguns exemplos desses fatos, que ficarão mais claros, para o seu entendimento, após o estudo dos lançamentos contábeis e da apuração de resultados de um exercício social. 2.1 Fatos Modificativos Aumentativos: a) A entidade prestou um serviço e o recebeu à vis- ta, em dinheiro. Houve um aumento do ativo, por meio de um dé- bito na conta caixa, e um aumento do patrimônio líquido, em função do lançamento a crédito na con- ta receita de serviços. Toda receita aumenta o patri- mônio líquido. b) A entidade recebeu dividendos relativos à distri- buição dos lucros de uma entidade em que tenha participação societária. Ao receber os dividendos, ela teve um débito em sua conta bancos e um crédito, por exemplo, em outras receitas. Sempre que ocorre uma receita o patrimônio líquido é aumentado. 70 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I Nesse exemplo tivemos um aumento de um ativo e um aumento do patrimônio líquido. c) Os acionistas da empresa resolveram fazer um aumento do capital social e integralizaram mais R$ 100.000,00, depositados na conta do Banco A. Nesse caso houve um aumento do patrimônio líqui- do, por causa de um crédito na conta capital social, e um aumento do ativo, em função de um débito na conta banco A. d) A empresa devia uma importância significativa a um determinado fornecedor e, após um acordo com os acionistas, decidiu aumentar seu capital social, emitindo novas ações, que foram entregues ao for- necedor em troca da importância devida. Nesse caso houve uma redução do passivo, por cau- sa de um débito na conta fornecedores a pagar, e um aumento do patrimônio líquido, em função de um crédito na conta capital social. 2.2 Fatos Modificativos Diminutivos: a) A empresa distribuiu dividendos aos seus acio- nistas, por meio de transferências bancárias para os titulares dessas ações. Nesse caso houve uma redução do ativo, em função de créditos na conta bancos, e uma redução do pa- trimônio líquido, por causa da distribuição, lançada por meio de débitos na conta lucros acumulados. b) A empresa efetuou o pagamento do aluguel da loja que utiliza, em dinheiro. 71Atos e fatos administrativos ...................................................................................................................................................................................................................... Nessa situação houve a redução de ativo, traduzido por um lançamento a crédito na conta caixa, e a re- dução do patrimônio líquido, pois a conta despesa com aluguéis recebeu um débito. Toda despesa re- duz o patrimônio líquido. c) A empresa obteve antecipadamente duplicatas que tinha a receber. Para que o cliente fizesse o pa- gamento de forma antecipada, a empresa ofereceu um desconto. Houve um recebimento em dinheiro ou cheque, au- mentando o ativo por meio de débito. Houve o des- conto concedido, que é registrado em função de um débito (lembram que toda despesa reduz o patrimô- nio líquido?), e um direito foi retirado do ativo, por causa de um crédito, que corresponde à soma dos dois débitos que vimos acima. 2.3 Fatos Mistos Diminutivos: a) Uma empresa recebeu, em 01/06/2016, por depó- sito bancário, R$ 100.000,00 relativos a uma dupli- cata cujo valor era de R$ 108.000,00 e venceria em 60 dias. Para tanto, concedeu ao cliente um descon- to de R$ 8.000,00. O lançamento envolveria um débito na conta caixa, pois o caixa foi aumentado no valor recebido (R$ 100.000,00); a contrapartida dessa conta seria a conta clientes a receber, em que o cliente constava como devedor de R$ 108.000,00, portanto, tal con- ta recebe um lançamento a crédito no valor de R$ 100.000,00. Para completar o registro, devemos lan- 72 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I çar, na conta despesas financeiras, o desconto que foi concedido ao cliente no valor de R$ 8.000,00. Toda despesa recebe lançamento a débito e reduz o patrimônio líquido. Como contrapartida a esse re- gistro, devemos lançar um crédito na conta “clien- tes a receber” no valor de R$ 8.000,00. Dessa forma, esse fato permutou posições no ativo e reduziu o patrimônio líquido. Observem que o total lançado a débito (R$ 100.000,00 + R$ 8.000,00) é exatamente igual ao to- tal lançado a crédito (R$ 100.000,00 + R$ 8.000,00). Essa é uma das regras mais importantes da conta- bilidade. Estudaremos isso com mais detalhes quando abor- darmos a escrituração contábil. 2.4 Fatos Mistos Aumentativos: b) Uma empresa recebeu, em 01/06/2016, por depó- sito bancário, uma duplicata de R$ 100.000,00 que um cliente lhe devia. Esse recebimento foi acrescido de R$ 8.000,00 a título de juros pelo atraso no paga- mento, ou seja, a empresa tinha “duplicatas a receber” no valor de R$ 100.000,00 e recebeu R$ 108.000,00. No caso houve um aumento no ativo, na conta ban- cos. Como já sabemos, para aumentar o ativo de- vemos fazer um lançamento a débito no valor de R$ 108.000,00. Houve a quitação de uma dívida, ou seja, um direito que a empresa tinha a receber foi recebido, dessa forma houve uma redução no ativo. Para reduzir o ativo devemos fazer, nesse caso, um lançamento a crédito na conta duplicatas a receber 73Atos e fatos administrativos ...................................................................................................................................................................................................................... no valor de R$ 100.000,00, que era o valor da dívida que o cliente tinha registrada na empresa. Os res- tantes R$ 8.000,00 são lançados na conta receitas financeiras, e, como vocês já sabem, as receitas são lançadas a crédito e aumentam o patrimônio líquido. Dessa forma o fato permutou elementos do ativo e modificou para mais o patrimônio líquido. Novamente observem que o total lançado a débito é exatamente igual ao total lançado a crédito. 74 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I LIVROS DA EMPRESA As atividades empresariais podem ser representadas por pessoas físicas ou jurídicas de forma quase total, à ex- ceção das que exigem a adequação da entidade ao que é determinado pelos diplomas legais de cada país em que estejam sendo executadas. No caso das entidades brasileiras, atuantes no Brasil, o primeiro normativo a ser obedecido é o Código Civil – CC, ou seja, a Lei nº 10.406/2002. CAPÍTULO IV Da Escrituração Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva,e a levantar anualmente o ba- lanço patrimonial e o de resultado econômico. § 1o Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados. § 2o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empre- sário a que se refere o art. 970. Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário (grifo nosso), que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica. Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de re- sultado econômico. 75Livros da empresa ...................................................................................................................................................................................................................... Prossegue a Lei: Art. 1.183. A escrituração será feita em idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasu- ras, emendas ou transportes para as margens. Parágrafo único. É permitido o uso de código de números ou de abreviaturas, que constem de livro próprio, regularmente auten- ticado. Art. 1.184. No Diário serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita di- reta ou reprodução, todas as operações relativas ao exercício da empresa. § 1º Admite-se a escrituração resumida do Diário, com totais que não excedam o período de trinta dias, relativamente a contas cujas operações sejam numerosas ou realizadas fora da sede do estabelecimento, desde que utilizados livros auxiliares regular- mente autenticados, para registro individualizado, e conservados os documentos que permitam a sua perfeita verificação. § 2º Serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resul- tado econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária. Art. 1.185. O empresário ou sociedade empresária que adotar o sistema de fichas de lançamentos poderá substituir o livro Diário pelo livro Balancetes Diários e Balanços, observadas as mesmas formalidades extrínsecas exigidas para aquele. Art. 1.186. O livro Balancetes Diários e Balanços será escriturado de modo que registre: I - a posição diária de cada uma das contas ou títulos contábeis, pelo respectivo saldo, em forma de balancetes diários; II - o balanço patrimonial e o de resultado econômico, no encerra- mento do exercício. 76 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I O regulamento do imposto de renda – RIR, Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999, obriga as pessoas jurí- dicas tributadas com base no lucro real a manterem sua escrituração em livros adequados. O CFC, por meio da Resolução nº 1.330/2011, emitiu a interpretação técnica geral – ITG 2000, alterada em 05/12/2014 pela ITG 2000 (R1) – publicada no D.O.U. de 12/12/2014 – tratando do tema: ITG 2000 (R1) – ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL Objetivo 1. Esta Interpretação estabelece critérios e procedimentos a serem adotados pela entidade para a escrituração contábil de seus fatos patrimoniais, por meio de qualquer processo, bem como a guarda e a manutenção da documentação e de arquivos contábeis e a responsabilidade do profissional da contabilidade. Alcance 2. Esta Interpretação deve ser adotada por todas as entidades, in- dependente da natureza e do porte, na elaboração da escritura- ção contábil, observadas as exigências da legislação e de outras normas aplicáveis, se houver. Formalidades da escrituração contábil 3. A escrituração contábil deve ser realizada com observância aos Princípios de Contabilidade. 4. O nível de detalhamento da escrituração contábil deve estar alinhado às necessidades de informação de seus usuários. Nesse sentido, esta Interpretação não estabelece o nível de detalhe ou mesmo sugere um plano de contas a ser observado. O detalha- mento dos registros contábeis é diretamente proporcional à com- plexidade das operações da entidade e dos requisitos de informa- ção a ela aplicáveis e, exceto nos casos em que uma autoridade reguladora assim o requeira, não devem necessariamente obser- var um padrão predefinido. 77Livros da empresa ...................................................................................................................................................................................................................... 5. A escrituração contábil deve ser executada: a) em idioma e em moeda corrente nacionais; b) em forma contábil; c) em ordem cronológica de dia, mês e ano; d) com ausência de espaços em branco, entrelinhas, borrões, rasuras ou emendas; e e) com base em documentos de origem externa ou interna ou, na sua falta, em elementos que comprovem ou evidenciem fa- tos contábeis. 6. A escrituração em forma contábil de que trata o item 5 deve conter, no mínimo: a) data do registro contábil, ou seja, a data em que o fato con- tábil ocorreu; b) conta devedora; c) conta credora; d) histórico que represente a essência econômica da transação ou o código de histórico padronizado, neste caso baseado em tabela auxiliar inclusa em livro próprio; e) valor do registro contábil; f ) informação que permita identificar, de forma unívoca, todos os registros que integram um mesmo lançamento contábil. 7. O registro contábil deve conter o número de identificação do lançamento em ordem sequencial relacionado ao respectivo do- cumento de origem externa ou interna ou, na sua falta, em ele- mentos que comprovem ou evidenciem fatos contábeis. 8. A terminologia utilizada no registro contábil deve expressar a essência econômica da transação. 9. Os livros contábeis obrigatórios, entre eles o Livro Diário e o Li- vro Razão, em forma não digital, devem revestir-se de formalida- des extrínsecas, tais como: a) serem encadernados; b) terem suas folhas numeradas sequencialmente; c) conterem termo de abertura e de encerramento assinados pelo titular ou representante legal da entidade e pelo profissio- nal da contabilidade regularmente habilitado no Conselho Re- gional de Contabilidade. 78 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I 10. Os livros contábeis obrigatórios, entre eles o Livro Diário e o Livro Razão, em forma digital, devem revestir-se de formalidades extrínsecas, tais como: a) serem assinados digitalmente pela entidade e pelo profissio- nal da contabilidade regularmente habilitado; b) serem autenticados no registro público competente; c) quando exigível por legislação específica, serem autenticados no registro público ou entidade competente (Alterada pela ITG 2000 (R1)). 11. Admite-se o uso de códigos e/ou abreviaturas, nos históricos dos lançamentos, desde que permanentes e uniformes, devendo constar o significado dos códigos e/ou abreviaturas no Livro Diá- rio ou em registro especial revestido das formalidades extrínsecas de que tratam os itens 9 e 10. 12. A escrituração contábil e a emissão de relatórios, peças, análi- ses, demonstrativos e demonstrações contábeis são de atribuição e de responsabilidade exclusivas do profissional da contabilidade legalmente habilitado. 13. As demonstrações contábeis devem ser transcritas no Livro Diário, completando-se com as assinaturas do titular ou de repre- sentante legal da entidade e do profissional da contabilidade le- galmente habilitado. Livro diário e livro-razão 14. No Livro Diário devem ser lançadas, em ordem cronológica, com individualização, clareza e referência ao documentoproban- te, todas as operações ocorridas, e quaisquer outros fatos que pro- voquem variações patrimoniais. 15. Quando o Livro Diário e o Livro-Razão forem gerados por pro- cesso que utilize fichas ou folhas soltas, deve ser adotado o regis- tro “Balancetes Diários e Balanços”. 16. No caso da entidade adotar processo eletrônico ou mecaniza- do para a sua escrituração contábil, os formulários de folhas soltas, devem ser numerados mecânica ou tipograficamente e encader- nados em forma de livro. 79Livros da empresa ...................................................................................................................................................................................................................... 17. Em caso de escrituração contábil em forma digital, não há ne- cessidade de impressão e encadernação em forma de livro, porém o arquivo magnético autenticado pelo registro público compe- tente deve ser mantido pela entidade. 18. Os registros auxiliares, quando adotados, devem obedecer aos preceitos gerais da escrituração contábil. 19. A entidade é responsável pelo registro público de livros contá- beis em órgão competente e por averbações exigidas pela legis- lação de recuperação judicial, sendo atribuição do profissional de contabilidade a comunicação formal dessas exigências à entidade. Escrituração contábil de filial 20. A entidade que tiver unidade operacional ou de negócios, quer como filial, agência, sucursal ou assemelhada, e que optar por sistema de escrituração descentralizado, deve ter registros contábeis que permitam a identificação das transações de cada uma dessas unidades. 21. A escrituração de todas as unidades deve integrar um único sistema contábil. 22. A opção por escrituração descentralizada fica a critério da en- tidade. 23. Na escrituração descentralizada, deve ser observado o mesmo grau de detalhamento dos registros contábeis da matriz. 24. As contas recíprocas relativas às transações entre matriz e uni- dades, bem como entre estas, devem ser eliminadas quando da elaboração das demonstrações contábeis da entidade. 25. As despesas e as receitas que não possam ser atribuídas às unidades devem ser registradas na matriz e distribuídas para as unidades de acordo com critérios da administração da entidade. 80 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I Documentação contábil 26. Documentação contábil é aquela que comprova os fatos que originam lançamentos na escrituração da entidade e compreende todos os documentos, livros, papéis, registros e outras peças, de origem interna ou externa, que apoiam ou componham a escri- turação. 27. A documentação contábil é hábil quando revestida das carac- terísticas intrínsecas ou extrínsecas essenciais, definidas na legis- lação, na técnica-contábil ou aceitas pelos “usos e costumes”. 28. Os documentos em papel podem ser digitalizados e armazena- dos em meio magnético, desde que assinados pelo responsável pela entidade e pelo profissional da contabilidade regularmente habilita- do, devendo ser submetidos ao registro público competente. Contas de compensação 29. Contas de compensação constituem sistema próprio para con- trole e registro dos fatos relevantes que resultam em assunção de direitos e obrigações da entidade cujos efeitos materializar-se-ão no futuro e que possam se traduzir em modificações no patrimô- nio da entidade. 30. Exceto quando de uso mandatório por ato de órgão regulador, a escrituração das contas de compensação não é obrigatória. Nos casos em que não forem utilizadas, a entidade deve assegurar-se que possui outros mecanismos que permitam acumular as infor- mações que de outra maneira estariam controladas nas contas de compensação. Retificação de lançamento contábil 31. Retificação de lançamento é o processo técnico de correção de registro realizado com erro na escrituração contábil da entidade e pode ser feito por meio de: a) estorno; b) transferência; e c) complementação. 81Livros da empresa ...................................................................................................................................................................................................................... 32. Em qualquer das formas citadas no item 31, o histórico do lan- çamento deve precisar o motivo da retificação, a data e a localiza- ção do lançamento de origem. 33. O estorno consiste em lançamento inverso àquele feito erro- neamente, anulando-o totalmente. 34. Lançamento de transferência é aquele que promove a regula- rização de conta indevidamente debitada ou creditada, por meio da transposição do registro para a conta adequada. 35. Lançamento de complementação é aquele que vem posterior- mente complementar, aumentando ou reduzindo o valor ante- riormente registrado. 36. Os lançamentos realizados fora da época devida devem con- signar, nos seus históricos, as datas efetivas das ocorrências e a razão do registro extemporâneo. Em razão dessa alteração, as disposições não alteradas desta In- terpretação são mantidas e a sigla da ITG 2000, publicada no DOU, Seção 1, de 22.3.11, passa a ser ITG 2000 (R1). A alteração desta Interpretação entra em vigor na data de sua pu- blicação. Brasília, 5 de dezembro de 2014. Contador José Martonio Alves Coelho Presidente Pelo que pudemos verificar nessa parte da regulamenta- ção, existem livros empresariais obrigatórios e livros fa- cultativos; livros comuns e livros especiais; livros princi- pais e livros auxiliares; e, finalmente, livros cronológicos e livros sistemáticos. 82 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I Moraes Júnior (2013, p. 68) mostra um interessante esque- ma que ajudará muito na compreensão dessas diferenças. Livros obrigatórios – São os que a lei exige, por exemplo, o livro diário exigido pelo CC, e o livro-ra- zão, exigido pelo CFC pela ITG 2000 (R1). Livros facultativos – Esses não são exigidos por lei, podendo, de acordo com os critérios da empresa, ser ou não adotados; temos como exemplo o livro- -caixa. Livros comuns – São livros exigidos nas empresas, de forma geral, não importando se são ou não obri- gatórios. Dependendo do tipo societário alguns li- vros são obrigatórios ou não. Livros especiais – São exigidos exclusivamente para alguns tipos de sociedades. Livros principais – Registram todos os fatos admi- nistrativos e contábeis; temos como exemplos o li- vro diário e o livro-razão. Livros auxiliares – São os que registram informa- ções para controle de apenas alguns elementos pa- trimoniais, isoladamente, tais como o livro de con- tas correntes ou o livro-caixa. Livros Cronológicos – Obedecem, como o nome su- gere, a ordem de ocorrência dos fatos administrativos e contábeis, de forma rigorosa, dia a dia, mês a mês, ano a ano. O maior exemplo disso é o livro diário. 83Livros da empresa ...................................................................................................................................................................................................................... Livros sistemáticos – São aqueles em que a escritu- ração é feita separada por contas (elementos patri- moniais). Por exemplo, o livro-razão. É importante que isso seja entendido, pois é muito cobra- do em concursos públicos e no exame de suficiência do CFC. Observe que cada livro pode possuir mais de uma característica. O livro diário, por exemplo, é obrigatório, principal, co- mum e cronológico. O livro-razão é obrigatório (pela regulamentação comer- cial e fiscal e pelo CFC), principal e sistemático. Vamos veros detalhes, especialmente desses dois livros, para entender essas diferenças e o porquê de serem tão importantes. 1. Livro diário O Código Civil coloca como livro obrigatório o livro diário, no entanto, ele pode ser substituído por fichas, no caso de escrituração mecanizada (quase em desuso) ou eletrônica. No caso remoto do uso de fichas, isso não elimina a neces- sidade de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do demonstrativo de resultado econômico (que chamamos de demonstração do resultado do exercí- cio – DRE). Veja os artigos 1.179 e 1.180 do CC. Continuando a atenta leitura do CC, fica patente que a escrituração deve ser feita em idioma nacional e moeda corrente nacional, em formato contábil, por ordem crono- 84 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I lógica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens. No livro diário, serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do documento respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as operações relativas ao exercício da empresa. A esse respeito a ITG 2000 (R1) determina os elementos mínimos de um lançamento con- tábil nele. São eles: a) Data do registro contábil, ou seja, a data em que o fato contábil ocorreu; b) Conta(s) devedora(s); c) Conta(s) credora(s); d) Histórico que represente a essência econômica da transação ou o código de histórico padronizado, neste caso baseado em tabela auxiliar inclusa em livro próprio; e) Valor do registro contábil; f) Informação que permita identificar, de forma uní- voca, todos os registros que integram um mesmo lançamento contábil (normalmente contido na com- binação da data do evento, das contas envolvidas, do histórico e do valor). Outro ponto importante constante da ITG 2000 (R1) é o seguinte: “serão lançados no Diário o balanço patrimonial e o de resultado econômico, devendo ambos ser assinados por técnico em Ciências Contábeis legalmente habilitado e pelo empresário ou sociedade empresária”. Isso signifi- ca que deverá ser feita no próprio livro diário a apuração do resultado de cada exercício e feitos os lançamentos re- 85Livros da empresa ...................................................................................................................................................................................................................... lativos aos relatórios daí resultantes. Essa apuração e os relatórios balanço patrimonial e DRE veremos em detalhes nos próximos capítulos. O livro diário, atendendo às formalidades legais, deve ser encadernado, com folhas numeradas sequencialmente, nas quais estarão os registros dos fatos administrativos ou contábeis ocorridos no período de um exercício social. Deverá conter termo de abertura e de encerramento e ser autenticado no órgão competente — no caso das socie- dades empresárias, as Juntas Comerciais — e deverá ter as demonstrações contábeis nele contidos assinadas pelo titular ou representante legal da entidade e pelo conta- dor responsável pela escrituração da empresa. Podemos resumir as formalidades legais exigidas para o livro diário, separando-as em dois grupos: formalidades intrínsecas e formalidades extrínsecas, conforme o quadro a seguir: Formalidades Extrínsecas Formalidades Intrínsecas • Encadernado e com páginas numeradas • Ordem cronológica • Registrado no órgão compe- tente • Não são permitidos borrões, rasuras ou emendas • São necessários termos de abertura e de encerramento • Não são permitidos espaços em branco e ocupação de margens e entrelinhas • Assinado por contabilista responsável e por represen- tante legal da empresa • Método uniforme de escritu- ração Fonte: Velter e Missagia (2013, p. 156). 86 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I De acordo com os pontos que abordamos podemos enten- der que o livro diário faz o registro dos fatos administra- tivos ou contábeis na mesma ordem em que eles ocorrem, ou seja, obedecendo uma ordem cronológica. Se imaginar- mos que esse livro, em cada registro nele feito, utiliza con- tas, tanto a débito quanto a crédito, muitas vezes diferen- tes, salvo em sistema informatizado, na segunda página já não saberíamos em tempo razoável os saldos de cada uma dessas contas. Pensem no livro diário de um banco. Cada um de nós tem nele pelo menos uma conta. A cada depó- sito que fazemos em nossas contas é feito um registro no livro diário. Já imaginaram a confusão para que cada um obtenha seu saldo? 2. Livro-razão O livro-razão veio a registrar, em ordem cronológica, mas individualmente, as movimentações ocorridas em cada conta, ou seja, ele é separado por conta contábil. Por inter- médio dele fica mais direto o acompanhamento do saldo de cada conta contábil (lembram do exemplo das contas correntes bancárias que vimos no livro diário?). Cada vez que vamos a um terminal bancário e imprimimos os lan- çamentos efetuados em nossa conta corrente, o extrato bancário, estamos utilizando uma parte do conteúdo do livro-razão de nossa conta corrente no banco. É um livro obrigatório, principal e sistemático. “O Razão é um livro primordialmente sistemático e secundariamente cronológico, enquanto que o Diário é exclusivamente cro- nológico.“ (MORAES JÚNIOR, 2013, p. 71). 87Livros da empresa ...................................................................................................................................................................................................................... Como vimos, ao abordarmos as contas contábeis, existem contas analíticas e contas sintéticas (lembram?). As contas analíticas são as efetivamente movimentadas, recebem os lançamentos, e as contas sintéticas são as que acumulam saldos de outras contas, analíticas ou sintéticas, a elas vin- culadas. Todas as contas do plano de contas da entidade, sintéti- cas ou analíticas, são registradas no livro-razão. Temos, portanto, o livro-razão analítico e o livro-razão sintético. Vamos ver um exemplo. No capítulo em que abordamos as contas foi colocado um exemplo para demonstrar a hie- rarquia das contas. Agora podemos desdobrar o mesmo exemplo para entendermos melhor como funciona essa hierarquia e como são efetuados os registros nos livros- -razão analítico e sintético. O exemplo que foi colocado está transcrito a seguir: 1 – Ativo 1.2 – Circulante 1.1.1 – Disponibilidades 1.2 – Não circulante A conta 1.1.1 – Disponibilidades, apenas a título de ilus- tração, poderia ter a ela vinculadas as contas 1.1.1.01 – Caixa e 1.1.1.02 – Bancos. O saldo da conta 1.1.1.01 – Cai- xa somado ao saldo da conta 1.1.1.02 – Bancos somados perfazem o total do saldo da conta 1.1.1 – Disponibilida- des, e assim sucessivamente. 88 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I 1 – Ativo 1.2 – Circulante 1.1.1 – Disponibilidades 1.1.1.01 – Caixa 1.1.1.02 – Bancos Suponhamos que a empresa tem contas em três bancos di- ferentes, somente em uma agência de cada um deles (mui- tas empresas têm mais de uma conta no mesmo banco). De acordo com a estrutura que traçamos vamos criar um código para cada uma dessas contas, que são as seguintes: Banco A – Agência 777 Banco B – Agência 888Banco C – Agência 999 No plano de contas da empresa seriam atribuídos os se- guintes códigos para cada uma delas: 1.1.1.02.001 – Banco A – Agência 777 1.1.1.02.002 – Banco B – Agência 888 1.1.1.02.003 – Banco C – Agência 999 O Razão de cada uma dessas contas, que são analíticas, teria o seguinte formato: 89Livros da empresa ...................................................................................................................................................................................................................... Conta: 1.1.1.02.001 – Banco A – Agência 777 Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C 04/07/2015 Depósito inicial 5.500,00 5.500,00 D 05/07/2015 Ch. 321123 400,00 D Conta: 1.1.1.02.002 – Banco A – Agência 888 Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C 04/07/2015 Depósito inicial 15.000,00 15.000,00 D 06/07/2015 Depósito 15.000,00 45.000,00 D Conta: 1.1.1.02.003 – Banco A – Agência 999 Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C 05/07/2015 Depósito inicial 35.000,00 35.000,00 D Poderíamos dizer que o total que temos em cada conta é facilmente identificável. Basta olhar para o Razão de cada uma delas e verificar imediatamente. Porém, se quisermos saber o total que temos depositados em bancos, teríamos que fazer a soma dos três Razões. O Razão sintético, de acordo com a hierarquia definida no plano de contas, efetua exatamente isso. A conta sintética 1.1.1.02 registrará a movimentação ocor- rida em todas as contas a ela vinculadas, que, nesse caso, são a 1.1.1.01.001, 1.1.1.01.002 e 1.1.1.01.003. ...................................................................................................................................................................................................................... 90 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I O Razão dessa conta, que é sintética, seria assim repre- sentado: Conta: 1.1.1.02 – Bancos Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C 04/07/2015 Depósito inicial Banco A 5.500,00 5.500,00 D 04/07/2015 Depósito inicial Banco B 15.000,00 20.500,00 D 05/07/2015 Ch. 321123 400,00 20.100,00 D 05/07/2015 Depósito inicial Banco C 35.000,00 55.100,00 D 06/07/2015 Depósito inicial Banco B 30.000,00 85.100,00 D 91Método das Partidas Dobradas ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ MÉTODO DAS PARTIDAS DOBRADAS Entraremos em um assunto de importância vital para a sua compreensão sobre os próximos passos na contabi- lidade. Trata-se do método sobre o qual se apoia a contabilidade moderna, apesar de ter sido relatado em 1492. Quando, no primeiro capítulo, vimos o que é a contabilida- de foi colocado o seguinte texto: na Idade Média, em 1492, o frade franciscano Luca Pacioli publicou o primeiro livro de que se tem notícia sobre o método das partidas dobra- das, que até os dias atuais é utilizado pela contabilidade, o livro chamado de Summa de Arithmetica, Geometria, Pro- portioni et Proprocionalità. O professor Antônio Lopes de Sá (1995), grande estudio- so da contabilidade no Brasil e de todas as suas teorias, dizia em seu dicionário contábil que o termo “partida” é o “registro de um fato ou vários fatos em forma contábil, caracterizando-se a conta, o histórico, os valores e a data em que se verificou o fato”. Se associarmos essa definição ao que determina a ITG 2000 (R1), veremos nela integralmente presente essa defi- nição do emérito professor Lopes de Sá: 92 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte I a) Data do registro contábil, ou seja, a data em que o fato contábil ocorreu. b) Conta(s) devedora(s). c) Conta(s) credora(s). d) Histórico que represente a essência econômica da transação ou o código de histórico padronizado, neste caso baseado em tabela auxiliar inclusa em livro próprio. e) Valor do registro contábil. f) Informação que permita identificar, de forma uní- voca, todos os registros que integram um mesmo lançamento contábil (normalmente contido na com- binação da data do evento, das contas envolvidas, do histórico e do valor). O termo partida pode ser entendido como sendo sinônimo de lançamento. A ideia central desse método é a de que não pode existir uma aplicação sem que haja origem correspondente, e vi- ce-versa. Não podemos aplicar um dinheiro que veio do “nada”. Não podemos receber um recurso e ele, simplesmente, como um toque de mágica, desaparecer no éter. Diante dessa simples constatação, temos estabelecido o método que, para um determinado montante de recursos aplicados, deve haver um montante correspondente de origens de recursos. 93Método das Partidas Dobradas ...................................................................................................................................................................................................................... Sendo assim, sempre que formos registrar, por meio do lançamento contábil, um fato administrativo ou contábil, temos que informar a origem do recurso e a sua aplicação. Por exemplo, a empresa adquiriu, a prazo, mercadorias para revenda do fornecedor X. Nessa operação a origem dos recursos registrados é o fornecedor X, que recebe um crédito. A aplicação desses recursos foi feita nos estoques da empresa; dessa forma a conta estoques recebe um dé- bito de igual valor, ou seja, o total de origens tem que ser, obrigatoriamente, igual ao total de aplicações de recursos. Existem fatos em que há uma origem e uma aplicação, ou- tros em que há várias aplicações e uma origem, outros em que há várias origens e uma aplicação, outros, ainda, em que há diversas origens e diversas aplicações. Nada disso tem importância se, ao final, o total de origens for igual ao total de aplicações. Não pode haver, em um lançamento contábil, diferença entre os totais de origens e de aplicações. ...................................................................................................................................................................................................................... 94 Escrituração Contábil – Parte I ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL Quando, no capítulo I, abordamos as técnicas contábeis, vimos que a primeira delas é a escrituração. Vimos que é a técnica contábil que registra os fatos contábeis e os ad- ministrativos, pois eles alteram, seja qualitativa ou quan- titativamente, o patrimônio de uma entidade. Em termos comerciais, que é o que nos interessa neste estudo, utilizamos o método de escrituração das partidas dobradas, também chamado de digrafia. Como vimos, método, ao fazer um registro, observa dois aspectos fundamentais: a origem e a aplicação dos recur- sos. A origem dos recursos será sempre representada por cré- dito, e a aplicação dos recursos, por débito. O CC, a ITG 2000 (R1) e a Lei das Sociedades por Ações, nº 6.404/76, dispõem sobre a obrigatoriedade da escritu- ração contábil. Escrituração contábil ...................................................................................................................................................................................................................... 95 Código CivilBrasileiro – Lei nº 12.406/2002 CAPÍTULO IV Da Escrituração Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o ba- lanço patrimonial e o de resultado econômico. Artigo 177 da Lei nº 6.404 de 15 de dezembro de 1976 Art. 177. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comer- cial e desta Lei e aos princípios de contabilidade geralmente acei- tos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações patrimoniais segundo o regime de competência. ITG 2000 (R1) – ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL Objetivo 1. Esta Interpretação estabelece critérios e procedimentos a serem adotados pela entidade para a escrituração contábil de seus fatos patrimoniais, por meio de qualquer processo, bem como a guarda e a manutenção da documentação e de arquivos contábeis e a responsabilidade do profissional da contabilidade. Alcance 2. Esta Interpretação deve ser adotada por todas as entidades, in- dependente da natureza e do porte, na elaboração da escritura- ção contábil, observadas as exigências da legislação e de outras normas aplicáveis, se houver. ...................................................................................................................................................................................................................... 96 Escrituração Contábil – Parte I Como vimos, a escrituração deverá ser registrada em li- vros contábeis apropriados. Em nossa abordagem introdu- tória ficaremos restritos aos livros diário e razão. Para executarmos a técnica da escrituração precisamos utilizar o lançamento contábil, que nada mais é do que o registro dos fatos contábeis e/ou administrativos, logica- mente com suporte em documentação idônea. Um lançamento contábil, para que assim seja configurado, precisa conter, no mínimo cinco elementos: • Local e data. • Conta(s) debitada(s). • Conta(s) creditada(s). • Valor. • Histórico. Somente por meio desses elementos seremos capazes de localizar um documento relativo a uma determinada ope- ração. Esse conjunto de elementos é o identificador do lançamento. Como vimos ao estudarmos o método das partidas dobra- das, pode haver quatro fórmulas de lançamentos, no livro diário, a saber: 1ª Fórmula: Nesse tipo de lançamento temos uma conta debitada e uma conta creditada. Escrituração contábil ...................................................................................................................................................................................................................... 97 2ª Fórmula: Nesse tipo de lançamento temos uma conta debitada e mais de uma creditada. 3ª Fórmula: Nesse tipo de lançamento temos mais de uma conta debi- tada e apenas uma creditada. 4ª Fórmula: Nesse tipo de lançamento temos mais de uma conta debi- tada e mais de uma creditada. Importante: não importa qual seja a fórmula utilizada, “Nunca podemos esquecer que o total de débitos TEM que ser igual ao total de créditos.” Veremos agora como seriam feitos os lançamentos, no livro diário, de cada uma das fórmulas. Exemplo de um lançamento de 1ª fórmula: Uma compra, feita a prazo, de mercadorias para revenda, no dia 5 de junho de 2016, no valor de R$ 15.000,00. Rio de Janeiro, 5 de junho de 2016. Mercadorias a Fornecedores a Pagar 15.000,00 ...................................................................................................................................................................................................................... 98 Escrituração Contábil – Parte I Exemplo de um lançamento de 2ª fórmula: No dia 10 de junho de 2016 a empresa efetuou um paga- mento ao fornecedor, com atraso. Era devida a importân- cia de R$ 5.000,00, mas houve o acréscimo de R$ 100,00 a título de juros pelo atraso. Rio de Janeiro, 10 de junho de 2016. Bancos a Diversos a Duplicatas a Pagar 5.000,00 a Juros passivos 100,00 5.100,00 Exemplo de um lançamento de 3ª fórmula: No dia 10 de junho de 2016 a empresa recebeu do Cliente X, por meio de depósito bancário, uma duplicata a receber no valor de R$ 10.000,00, já vencida, e recebeu R$ 200,00 de juros pelo atraso. Rio de Janeiro, 10 de junho de 2016. Diversos a Bancos Duplicatas a Receber 10.000,00 Juros Ativos 200,00 10.200,00 Exemplo de um lançamento de 4ª fórmula: Em 5 de junho de 2016 a empresa adquiriu na Loja XYZ uma máquina para sua fábrica por R$ 3.000,00, uma mesa para microcomputador no valor de R$ 600,00 e uma ca- deira no valor de R$ 400,00. No ato da compra foi dada Escrituração contábil ...................................................................................................................................................................................................................... 99 uma entrada, em dinheiro, no valor de R$ 1.500,00, sendo o restante a ser pago por duplicata, vencível em 30 dias, no valor de R$ 2.500,00. Rio de Janeiro, 5 de junho de 2016. Diversos a Diversos Caixa 1.500,00 Duplicatas a Pagar 2.500,00 a Móveis e utensílios 1.000,00 a Máquinas e Equipamentos 3.000,00 Observem que em todos os lançamentos os totais lança- dos a débito são exatamente iguais aos totais lançados a crédito. Se esses lançamentos fossem efetuados no livro-razão, te- ríamos, como exemplo, o de 1ª fórmula: Conta: N.N.N.NN.NNN – Mercadorias Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C 05/06/2016 Compra – NF 222 – Fornece- dor XYZ 15.000,00 15.000,00 D Conta: X.X.X.XX.XXX – Fornecedores a Pagar Data Histórico Débito Crédito Saldo D/C 05/06/2016 Compra – NF 222 – Fornece- dor XYZ 15.000,00 15.000,00 C ...................................................................................................................................................................................................................... 100 Escrituração Contábil – Parte I Buscando a simplificação da utilização do livro-razão, como se fosse um rascunho, utilizamos os razonetes, que são a representação gráfica da conta no formato de uma letra “T”. Acima do traço fica o nome da conta, do lado esquerdo ficam todos os créditos lançados na conta, e do lado direito ficam todos os débitos lançados na conta. Débito Crédito Nome da Conta Vamos preencher os razonetes das operações mostradas no exemplo acima? Vamos fazer primeiro o da conta mercadorias. Os recursos da conta mercadorias, no exemplo mostrado, representam origem ou aplicação de recursos? A resposta é simples: re- presentam aplicações, pois as origens são explicadas pelo crédito dado pelo fornecedor. Todas as vezes que você for fazer a classificação de uma conta contábil para saber se a lançará a débito ou a cré- dito, faça a pergunta: de onde veio o recurso? A resposta indicará a(s) conta(s) que receberá(ão) lançamento(s) a cré- dito. Em seguida faça a pergunta: onde foram aplicados os recursos? A resposta indicará a(s) conta(s) que recebe- rá(ão) lançamento(s) a débito, ou seja, as origens são sem- pre credoras, e as aplicações, sempre devedoras. No nosso exemplo, os recursos em questão tiveram qual origem? “Fornecedores a Pagar”. Tiveram qual aplicação? “Mercadorias”. Então, crédito para “Fornecedores a Pagar” e débito de “Mercadorias”. Escrituração contábil ...................................................................................................................................................................................................................... 101 Débito Crédito Mercadorias Débito Crédito Fornecedores a pagar Um ponto de enorme relevância é que, de acordo com a Resolução CFC nº 750/1993, que foi modificada pela Reso- luçãoCFC nº 1.282/2010, os registros contábeis devem ser feitos obedecendo ao Princípio da Competência, ou seja, os fatos devem ser reconhecidos no ato de sua ocorrência independentemente de seus pagamentos ou recebimentos. Assim também determina a Lei das Sociedades por Ações. A escrituração da companhia será mantida em registros permanentes, com obediência aos preceitos da legislação comercial e desta Lei aos princípios de contabilidade ge- ralmente aceitos, devendo observar métodos ou critérios contábeis uniformes no tempo e registrar as mutações pa- trimoniais segundo o regime de competência (Art. 177, da Lei nº 6.404/1976). Outro princípio adotado na escrituração normal de uma entidade é o Princípio da Continuidade, quando se supõe que aquela empresa está funcionando em condição nor- mal e com perspectiva de continuidade de suas atividades. 15.000,00 15.000,00 ...................................................................................................................................................................................................................... 102 Escrituração Contábil – Parte I PRATICANDO A ESCRITURAÇÃO NO LIVRO DIÁRIO E NOS RAZONETES Na cidade do Rio de Janeiro, em 1º de junho de 2015, João e José, futuros sócios na empresa XPTO, em fase de forma- ção, reuniram-se oficialmente para elaborar seu contrato social, quando estabeleceram que o capital social da em- presa seria de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), compos- to por 2.000 quotas, no valor nominal de R$ 100.000,00 cada, como se segue: João R$ 100.000,00 José R$ 100.000,00 Total R$ 200.000,00 As quotas estabelecidas deveriam ser (e foram) integrali- zadas, em 15 de junho de 2015, por meio de depósito ban- cário na conta da Cia. XPTO, em moeda corrente do país. Os primeiros fatos administrativos a serem escriturados estão presentes. Teriam que ser feitos no livro diário os seguintes lançamentos: Rio de Janeiro, 1º de junho de 2015. Capital Subscrito a Capital Social 200.000,00 Referente à subscrição do capital da Cia. XPTO. Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes ...................................................................................................................................................................................................................... 103 Nesse ato os razonetes assim teriam a seguinte represen- tação: 200.000,00 Capital social 200.000,00 Capital a integralizar Na escrituração acima ficou registrada a subscrição do ca- pital (quanto os sócios determinaram que investiriam na empresa). Em 15 de junho, conforme estabelecido, os sócios efetua- ram os depósitos de suas quotas na conta bancária da Cia. XPTO. Para que se fizesse o registro desses fatos foram efetuados os seguintes registros contábeis no livro diário: Rio de Janeiro, 15 de junho de 2015. Bancos c/ Movimento a Capital subscrito 200.000,00 Referente à integralização pelos sócios da importân- cia subscrita para a formação do capital social da Cia. XPTO. ...................................................................................................................................................................................................................... 104 Escrituração Contábil – Parte I Nos razonetes teríamos a seguinte representação: 200.000,00 Capital social 200.000,00 Capital a integralizar 200.000,00 Bancos Conta Movimento Estamos no início de um exemplo de escrituração, mas vamos fixar alguns pontos importantes: • No primeiro lançamento (subscrição do capital), a origem foi a conta “capital social”; por esse motivo ele foi lançado a crédito. A aplicação foi a conta “ca- pital a integralizar”; por esse motivo ela foi lançada a débito. • Nos razonetes, os lançamentos a crédito ficam sempre do lado direito do “T”; os a débito, do lado esquerdo. • No segundo lançamento (integralização do capi- tal), a origem foi a integralização, por isso foi lan- çado um crédito na conta capital a integralizar e a 200.000,00 Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes ...................................................................................................................................................................................................................... 105 aplicação foi depositada na conta Bancos conta mo- vimento da Cia XPTO, que recebeu um lançamento a débito. • No livro diário, os créditos não são precedidos da partícula “a”, os débitos são. Conta Devedora a Conta Credora No dia 16 de junho de 2015, já com o dinheiro depositado na conta da Cia XPTO, os dois sócios resolveram iniciar as atividades e adquiriram um microcomputador por R$ 3.000,00, duas mesas de escritório ao custo unitário de R$ 600,00 e duas cadeiras de escritório ao custo unitário de R$ 200,00. Tudo foi pago à vista. No mesmo dia adquiriram mercadorias para revender, no valor de R$ 20.000,00, sendo que metade foi pago no ato da compra, e a outra metade, a crédito, para ser paga em 20 dias. O livro diário teve fatos para registrar no dia 16, e eles foram nele assim registrados: ...................................................................................................................................................................................................................... 106 Escrituração Contábil – Parte I Rio de Janeiro, 16 de junho de 2015 Máquinas e Equipamentos a Bancos conta movimento 3.000,00 Relativo à aquisição de um microcomputador na Firma XYZ, por meio da Nota Fiscal nº 9.999. Móveis e Utensílios a Bancos conta movimento 1.200,00 Relativo à aquisição de duas mesas de escritório na Fir- ma ZYX, por meio da Nota Fiscal nº 7.700 Móveis e Utensílios a Bancos conta movimento 400,00 Relativo à aquisição de duas cadeiras de escritório na Firma ZYX, por meio da Nota Fiscal nº 7.700 Diversos Banco conta movimento 10.000,00 Estoques 10.000,00 a Fornecedores a Pagar 20.000,00 Relativo à aquisição de mercadorias para revenda do Fornecedor Gente Boa, por meio da Nota Fiscal nº 6.987. Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes ...................................................................................................................................................................................................................... 107 200.000,00 Capital social 200.000,00 200.000,00 Capital a integralizar 3.000,00 1.000,00 10.000,00 Bancos Conta Movimento 200.000,00 3.000,00 Máquinas e equipamentos 200.000,00 Móveis e utensílios 200.000,00 Estoques 10.000,00 Fornecedores a pagar Fique atento para o fato de que, nas contas até aqui lança- das, todas são patrimoniais, ou seja, são bens, direitos ou obrigações. Quando movimentamos somente contas patri- moniais, o total do patrimônio líquido não é alterado, ou seja, todos os fatos são permutativos. Vamos recapitular os lançamentos, apurando a posição patrimonial a cada lançamento efetuado. ...................................................................................................................................................................................................................... 108 Escrituração Contábil – Parte I Temos que considerar que a equação patrimonial é a se- guinte: Patrimônio Líquido = Ativo - Passivo • No primeiro lançamento foi efetuado o registro da subscrição do capital. Ficamos com saldo em duas contas do patrimônio líquido, uma com cré- dito de R$ 200.000,00, e outra com débito de R$ 200.000,00. Nenhuma conta no Ativo e nenhuma no Passivo. Olhando para a fórmula, teremos: 0 – 0 = 0 (200.000,00 – 200.000,00). • No segundo lançamento foi efetuado o registro da integralização (a colocação dos recursos pelos sócios na empresa) do capital social. • Ao final ficamos com um saldo credor na conta capital socialde R$ 200.000,00 e um saldo devedor na conta banco conta movimentos de R$ 200.000,00. Respeitando a equação patrimonial teremos: Ativo – Passivo = Patrimônio líquido 200.000,00 – 0 = 200.000,00 • No terceiro lançamento foi feita uma compra de um microcomputador, à vista, por R$ 3.000,00, ou seja, ocorreu um fato permutativo, pois transferiu- -se saldo de uma conta do ativo para outra, sem al- terar o patrimônio líquido. Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes ...................................................................................................................................................................................................................... 109 • O total do ativo, nesse momento, era de R$ 200.000,00, sendo R$ 197.000,00 na conta bancos conta movimento e R$ 3.000,00 na conta máquinas e equipamentos. O total do passivo continuou zero, de forma que o ativo subtraído do passivo resultou nos mesmos R$ 200.000,00 da operação anterior. • No quarto lançamento foi efetuada a compra de duas mesas, à vista, totalizando R$ 1.200,00. Mais uma vez o patrimônio líquido não se alterou. • O ativo continuou totalizando R$ 200.000,00, sendo R$ 195.800,00 na conta bancos conta movi- mento, R$ 3.000,00 na conta máquinas e equipa- mentos e R$ 1.200,00 na conta móveis e utensílios. O passivo continuou zero, e, consequentemente o patrimônio líquido permaneceu em R$ 200.000,00. • No quinto lançamento foi efetuada a compra de duas cadeiras, à vista, totalizando R$ 400,00. No- vamente não ocorreu modificação no patrimônio líquido. • O ativo continuou totalizando R$ 200.000,00, sendo R$ 195.400,00 na conta bancos conta movi- mento, R$ 3.000,00 na conta máquinas e equipa- mentos e R$ 1.600,00 na conta móveis e utensílios. O passivo continuou zero, e, o patrimônio líquido permaneceu em R$ 200.000,00. • No sexto e último lançamento feito, foi efetua- da a compra de mercadorias para revenda, sendo metade à vista e metade a prazo, totalizando R$ 20.000,00. Novamente não ocorreu modificação no patrimônio líquido, mas observem que aqui ocorreu um fato diferente. O patrimônio líquido não se alte- rou, mas o ativo aumentou, e o passivo aumentou no mesmo valor. ...................................................................................................................................................................................................................... 110 Escrituração Contábil – Parte I Vamos rever os razonetes, após esse último lançamento efetuado. 200.000,00 Capital social 200.000,00 Capital a integralizar 200.000,00 200.000,00 3.000,00 1.000,00 10.000,00 Bancos Conta Movimento 3.000,00 Máquinas e equipamentos 600,00 400,00 Móveis e utensílios 20.000,00 Estoques 10.000,00 Fornecedores a pagar Para apurar o saldo de cada conta soma-se o total nela lançado a débito. Faz-se o mesmo com o total a crédito. O saldo da conta é a diferença, portanto a conta pode ter saldo devedor, saldo credor ou saldo igual a zero. Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes ...................................................................................................................................................................................................................... 111 • A conta capital social tem um saldo credor de R$ 200.000,00. • A conta capital a integralizar tem saldo zero. • A conta bancos conta movimento tem saldo de- vedor de R$ 185.400,00. • A conta máquinas e equipamentos tem saldo de- vedor de R$ 3.000,00. • A conta móveis e utensílios tem saldo devedor de R$ 1.600,00. • A conta estoques tem saldo devedor de R$ 20.000,00. • A conta fornecedores a pagar tem saldo credor de R$ 10.000,00. Lembrando que os componentes do ativo são os bens e os direitos, teremos no ativo: Banco conta movimentos R$ 185.400,00 Estoques R$ 20.000,00 Máquinas e Equipamentos R$ 3.000,00 Móveis e utensílios R$ 1.600,00 Total do Ativo R$ 210.000,00 No passivo: Fornecedores a pagar R$ 10.000,00 No Patrimônio líquido: Capital social R$ 200.000,00 ...................................................................................................................................................................................................................... 112 Escrituração Contábil – Parte I Utilizando a equação do patrimônio teremos: R$ 200.000,00 (ativo) – R$ 10.000,00 (passivo) = R$ 200.000,00 (patrimônio líquido). Observe que o ativo aumentou, o passivo aumentou, mas isso não alterou o patrimônio líquido. Praticando a escrituração no livro diário e nos razonetes ...................................................................................................................................................................................................................... 113 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jan. 2002. CONSELHO FEDERAL DE CONTALIBIDADE. ITG 2000 (R1): escriturações contábeis. Brasília, DF, 2014. FERREIRA, R. J. Contabilidade básica: teoria e mais de 1.600 questões comentadas. 10. ed. Rio de Janeiro: Ferrei- ra, 2013. MORAES JÚNIOR, José J. Contabilidade Geral. Rio de Janei- ro: Campus, 2013. SÁ, Antônio Lopes de. Dicionário de Contabilidade. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1995. VELTER, Francisco; MISSAGIA, Luiz R. Manual de Contabi- lidade: teoria e mais de 650 questões. 8. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier 2011. ...................................................................................................................................................................................................................... 114 115As contas de resultado ...................................................................................................................................................................................................................... CAPÍTULO 3 ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL – PARTE II Neste capítulo serão mostrados os desdobramentos da es- crituração e seus efeitos sobre o patrimônio. Outro ponto fundamental do capítulo será a abordagem detalhada das contas de resultado, ou seja, as contas que, ao serem confrontadas, revelam se uma entidade teve lu- cro ou prejuízo. A partir desses elementos estudados serão mostradas si- tuações com a utilização de contas patrimoniais e con- tas de resultados para que sejam apresentados os efeitos da escrituração sobre o patrimônio. Esses lançamentos serão registrados em razonetes. Depois de finalizados, será apresentado o balancete de verificação para que seja visto de que forma é feita a conferência dos lançamentos efetuados e como se prepara a apuração do resultado do exercício. Após encerrada a apuração do resultado será mostrado de que forma esse resultado será incorporado ao patrimônio da entidade. É sobre isso que será o enfoque deste capítulo. 116 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II Observando atentamente os exemplos apresentados no final do capítulo anterior, detecta-se com clareza que so- mente foram movimentadas as contas patrimoniais, po- rém, no Capítulo I, quando foram mostradas as contas, foi esclarecido que elas estão divididas em dois grupos distintos: as patrimoniais, que são o ativo e o passivo, e o patrimônio líquido e as de resultado, que são as receitas e as despesas. Ao estabelecer uma empresa com finalidade lucrativa, o objetivo dos investidores é fazer o seu patrimônio líquido aumentar, que pode aumentar, ou mesmo diminuir, me- diante as seguintes situações: Aumentar: Diminuir: • Os sócios da empresa colocam(integralizam) mais recursos na empresa, aumentando o seu capital social. • A empresa apresentou lucro ao final de um exercício social. • Os sócios da empresa retiram uma parte do lucro gerado pela empresa. • A empresa apresentou prejuízo ao final de um exercício social. Em condições normais, as decisões de financiamento da entidade estão atreladas às suas decisões de investimen- tos, ou seja, quando são colocados recursos em uma em- presa, na qualidade de investidores, é importante saber como eles serão investidos a fim de que gerem o resultado imaginado. Ficou bastante claro que dentre as opções possíveis de alteração do Patrimônio Líquido, somente duas são atra- 117Escrituração Contábil – Parte II ...................................................................................................................................................................................................................... entes para os investidores da entidade: a empresa apre- sentar lucro ao final de um exercício social, de preferência resultante de suas operações normais, ou ela distribuir lucros (para distribuir, antes ela terá que gerar) para seus sócios, sem comprometer seu funcionamento futuro. Como fazer com que essas empresas gerem lucros? Como saber se geraram? Afinal, como é apurado o lucro de uma entidade? 118 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II AS CONTAS DE RESULTADO Como já mostrado, trata-se das contas de Receitas e das contas de Despesas ou Custos. Segundo o Pronunciamento Conceitual Básico (R1) – Estru- tura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro, visando à correlação da contabilidade brasileira às Normas Internacionais de Contabilidade, em seus itens, ele apresenta para essas contas as seguintes definições: Receitas 4.29. A definição de receita abrange tanto receitas propriamente di- tas quanto ganhos. A receita surge no curso das atividades usuais da entidade e é designada por uma variedade de nomes, tais como ven- das, honorários, juros, dividendos, royalties, aluguéis. 4.30. Ganhos representam outros itens que se enquadram na defini- ção de receita e podem ou não surgir no curso das atividades usuais da entidade, representando aumentos nos benefícios econômicos e, como tais, não diferem, em natureza, das receitas. Consequentemen- te, não são considerados como elemento separado nesta Estrutura Conceitual. 4.31. Ganhos incluem, por exemplo, aqueles que resultam da venda de ativos não circulantes. A definição de receita também inclui ga- nhos não realizados. Por exemplo, os que resultam da reavaliação de títulos e valores mobiliários negociáveis e os que resultam de aumen- tos no valor contábil de ativos de longo prazo. Quando esses ganhos são reconhecidos na demonstração do resultado, eles são usualmen- te apresentados separadamente, porque sua divulgação é útil para fins de tomada de decisões econômicas. Os ganhos são, em regra, reportados líquidos das respectivas despesas. 119As contas de resultado ...................................................................................................................................................................................................................... 4.32. Vários tipos de ativos podem ser recebidos ou aumentados por meio da receita; exemplos incluem caixa, contas a receber, bens e serviços recebidos em troca de bens e serviços fornecidos. A receita também pode resultar da liquidação de passivos. Por exemplo, a enti- dade pode fornecer mercadorias e serviços ao credor por empréstimo em liquidação da obrigação de pagar o empréstimo. Despesas 4.33. A definição de despesas abrange tanto as perdas quanto as des- pesas propriamente ditas que surgem no curso das atividades usuais da entidade. As despesas que surgem no curso das atividades usuais da entidade incluem, por exemplo, o custo das vendas, salários e de- preciação. Geralmente, tomam a forma de desembolso ou redução de ativos como caixa e equivalentes de caixa, estoques e ativo imo- bilizado. 4.34. Perdas representam outros itens que se enquadram na definição de despesas e podem ou não surgir no curso das atividades usuais da entidade, representando decréscimos nos benefícios econômicos e, como tais, não diferem, em natureza, das demais despesas. Conse- quentemente, não são consideradas como elemento separado nesta Estrutura Conceitual. 4.35. Perdas incluem, por exemplo, as que resultam de sinistros como incêndio e inundações, assim como as que decorrem da venda de ativos não circulantes. A definição de despesas também inclui as perdas não realizadas. Por exemplo, as que surgem dos efeitos dos aumentos na taxa de câmbio de moeda estrangeira com relação aos empréstimos da entidade a pagar em tal moeda. Quando as perdas são reconhecidas na demonstração do resultado, elas são geralmen- te demonstradas separadamente, pois sua divulgação é útil para fins de tomada de decisões econômicas. As perdas são, em regra, repor- tadas líquidas das respectivas receitas. 120 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II Elas são bem diferentes das patrimoniais. É por meio da confrontação entre elas que uma entidade apura os seus resultados. No exemplo de lançamentos contábeis, que foi apresenta- do no final do Capítulo II, ficou patente que toda aquela movimentação ocorrida somente alterou o patrimônio da empresa no momento da integralização do capital. A par- tir daquele lançamento, todos os outros apenas trocaram posições patrimoniais, sem alterar o patrimônio líquido. Ao lançarmos uma receita, automaticamente o patri- mônio líquido da entidade aumenta. Ao lançarmos uma despesa, automaticamente o pa- trimônio líquido da entidade diminui. O conceito de Resultado está ligado ao confronto das Recei- tas e Despesas. Se o total de receitas for maior, a empresa teve lucro. Porém, se o total de despesas for maior, a empre- 121As contas de resultado ...................................................................................................................................................................................................................... sa apurou prejuízo, e, finalmente, se os totais se igualarem é porque não houve lucro nem prejuízo. Lucro aumenta o patrimônio líquido, enquanto o prejuízo o reduz. Naturalmente, quando são abordadas a escrituração, a apu- ração de resultados, e outros, deve ser levado em considera- ção o princípio da competência e o da continuidade. Sendo assim, sabe-se que nem todas as receitas significam entrada de numerário para a empresa, assim como nem todas as despesas significam saída de numerário da empresa. Lembram o Princípio da Competência? O Princípio da Competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou do pagamento. Parágrafo único. O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de des- pesas correlatas. É importante também que, sempre de acordo com as nor- mas contábeis, estabelecidas por meio de leis, decretos, pronunciamentos, resoluções, interpretações técnicas, orientações, resoluções, circulares, resoluções normativas e deliberações de diversos órgãos reguladores, colocan- do-se sempre as leis e os decretos em primeiro lugar, a fim de que uma receita ou uma despesa sejam reconheci- das como tais, elas deverão cumprir alguns requisitos que estão estabelecidos no Pronunciamento Conceitual Básico(R1), conhecido como CPC 00, a saber: 122 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II Reconhecimento de receitas 4.47. A receita deve ser reconhecida na demonstração do resultado quando resultar em aumento nos benefícios econômicos futuros relacionado com aumento de ativo ou com diminuição de passivo, e puder ser mensurado com confiabilidade. Isso significa, na prática, que o reconhe- cimento da receita ocorre simultaneamente com o reco- nhecimento do aumento nos ativos ou da diminuição nos passivos (por exemplo, o aumento líquido nos ativos ori- ginado da venda de bens e serviços ou o decréscimo do passivo originado do perdão de dívida a ser paga). 4.48. Os procedimentos normalmente adotados, na práti- ca, para reconhecimento da receita, como, por exemplo, a exigência de que a receita tenha sido ganha, são aplicações dos critérios de reconhecimento definidos nesta Estrutura Conceitual. Tais procedimentos são geralmente direcionados para res- tringir o reconhecimento como receita àqueles itens que possam ser mensurados com confiabilidade e tenham su- ficiente grau de certeza. Quando é feita a apuração do resultado, ele deverá ser evi- denciado de forma detalhada em uma peça contábil, con- forme já vimos, denominada DRE. Observe que, segundo a definição dada, uma receita pressupõe aumento do ativo e/ou redução no passivo. Deve-se considerar que tenham suficiente grau de certeza (no caso de uma receita a prazo) e que ela possa ser mensurada de forma confiável. 123As contas de resultado ...................................................................................................................................................................................................................... Reconhecimento de despesas 4.49. As despesas devem ser reconhecidas na demonstra- ção do resultado quando resultarem em decréscimo nos benefícios econômicos futuros, relacionado com o decrés- cimo de um ativo ou o aumento de um passivo, e puder ser mensurado com confiabilidade. Isso significa, na prá- tica, que o reconhecimento da despesa ocorre simultane- amente com o reconhecimento de aumento nos passivos ou de diminuição nos ativos (por exemplo, a alocação por competência de obrigações trabalhistas ou da depreciação de equipamento). 4.50. As despesas devem ser reconhecidas na demonstra- ção do resultado com base na associação direta entre elas e os correspondentes itens de receita. Esse processo, usu- almente chamado de confrontação entre despesas e recei- tas (regime de competência), envolve o reconhecimento simultâneo ou combinado das receitas e despesas que re- sultem diretamente ou conjuntamente das mesmas tran- sações ou outros eventos. Por exemplo, os vários compo- nentes de despesas que integram o custo das mercadorias vendidas devem ser reconhecidos no mesmo momento em que a receita derivada da venda das mercadorias é reco- nhecida. Contudo, a aplicação do conceito de confronta- ção, de acordo com esta Estrutura Conceitual, não autori- za o reconhecimento de itens no balanço patrimonial que não satisfaçam à definição de ativos ou passivos. 4.51. Quando se espera que os benefícios econômicos sejam gerados ao longo de vários períodos contábeis e a associação com a correspondente receita somente possa 124 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II ser feita de modo geral e indireto, as despesas devem ser reconhecidas na demonstração do resultado com base em procedimentos de alocação sistemática e racional. Muitas vezes isso é necessário ao reconhecer despesas associadas com o uso ou o consumo de ativos, tais como itens do imobilizado, ágio pela expectativa de rentabilidade futura (goodwill), marcas e patentes. Em tais casos, a despesa é designada como depreciação ou amortização. Esses proce- dimentos de alocação destinam-se a reconhecer despesas nos períodos contábeis em que os benefícios econômicos associados a tais itens sejam consumidos ou expirem. 4.52. A despesa deve ser reconhecida imediatamente na demonstração do resultado quando o gasto não produzir benefícios econômicos futuros ou quando, e na extensão em que, os benefícios econômicos futuros não se qualifi- carem, ou deixarem de se qualificar, para reconhecimento no balanço patrimonial como ativo. 4.53. A despesa também deve ser reconhecida na demons- tração do resultado nos casos em que um passivo é incor- rido sem o correspondente reconhecimento de ativo, como no caso de passivo decorrente de garantia de produto. Em síntese, são sacrifícios de ativos da empresa ou assun- ção de passivos em busca da geração de receitas. Observe que a norma se refere diretamente à confrontação entre re- ceitas e despesas considerando o regime de competência. Para facilitar o entendimento, é apresentado um peque- no exemplo, de uma forma bem primária: a montagem de uma loja para vender roupas. 125As contas de resultado ...................................................................................................................................................................................................................... Inicialmente, é necessário o investimento em ativos (es- toques de mercadorias para revenda, prateleiras, compu- tadores, vitrines, cabines, iluminação, letreiro etc). Isso pronto, torna-se fundamental que seja alugada uma loja, que já estava em vista; em seguida, a empresa deve contra- tar vendedores para suas mercadorias. Qual o objetivo dos investidores nesse empreendimento? – Conseguir receitas de vendas e ter lucros. Como? – Vendendo as mercadorias que têm em estoque por preços superiores aos que os compram. Porém, a fim de que isso seja possível, é necessário que se façam alguns sacrifícios: pagar o aluguel da loja, as taxas de luz, telefone, condomínio, além das taxas municipais para o funcionamento da loja, os salários dos vendedores contra- tados, as comissões sobre as vendas que eles efetuarem etc. Observe que, para que seja possível a obtenção de receitas, deve-se fazer uma série de sacrifícios de ativos, normal- mente dinheiro, que são denominadas despesas. Porém, sem incorrer nessas despesas, como obter receitas? Porque até as empresas de e-commerce têm suas despesas, apesar de não terem as despesas com instalações, lojas etc. A ideia central da gestão reside neste raciocínio: Devem-se tomar decisões de financiamentos (nas quais se- rão obtidos os recursos que utilizaremos na empresa – nor- malmente, a parte inicial é dos sócios, além da parte de ter- ceiros), assim como qual será o prazo para pagar o capital de terceiros, quais serão as taxas que estão sendo cobradas por eles e associá-las às decisões de investimento, ou seja, 126 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II de que forma serão aplicados esses recursos obtidos para que seja possível remunerar o capital investido pelos sócios, quitar as obrigações assumidas e ainda gerar riqueza para a entidade, aumentando o seu patrimônio líquido. Justamente para que se possa saber o resultado da empre- sa, deve ser efetuada a apuração do resultado. Outro ponto importante é que as contas patrimoniais e as de resultado, nas operações normais da empresa, mistu- ram-se. Não há a restrição em relação à contrapartida de uma conta de resultado não poder ser uma contapatrimo- nial ou vice-versa. Ao final do exercício, no momento da apuração, elas serão devidamente separadas para que seja efetuado o procedi- mento da apuração do resultado do exercício. Antes de iniciar um exemplo, é importante que sejam re- lembrados alguns conceitos: • Normalmente, as contas do ativo representam aplicações de recursos, por isso elas têm natureza devedora. • Existem no ativo algumas contas, denominadas redutoras do ativo, que têm natureza credora, pois elas servem para diminuir o valor da conta à qual elas estão ligadas. • No geral, as contas do passivo representam ori- gens de recursos, por isso elas têm natureza credora. 127As contas de resultado ...................................................................................................................................................................................................................... • Existem no passivo algumas contas, denomina- das redutoras do passivo, que têm natureza credo- ra, pois elas servem para diminuir o valor da conta à qual elas estão ligadas. • Todas as receitas são credoras, pois aumentam o patrimônio líquido. • Todas as despesas são devedoras, pois reduzem o patrimônio líquido. • Todos os lançamentos contábeis devem ter totais iguais lançados a débito e a crédito, segundo o Mé- todo das Partidas Dobradas. A equação patrimonial é: Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido ou Patrimônio Líquido = Ativo - Passivo Recordando todo o esquema, teremos: Conta Efeito Ativo Passivo Patrimônio líquido Aumenta Débito Crédito Crédito Diminui Crédito Débito Débito ...................................................................................................................................................................................................................... 128 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II Contas Ativo Passivo Efeito Receitas Crédito Aumentam o Patrimônio Líquido Despesas Débito Reduzem o Patrimônio Líquido 129Contabilização a partir de razonetes ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ CONTABILIZAÇÃO A PARTIR DE RAZONETES Sendo assim, visando a entender, parte a parte, o que foi apresentado até aqui, será montado um exemplo em que será feita a contabilização, por meio de razonetes, de cada fato administrativo ou contábil ocorrido. Ao final de to- dos os lançamentos, será feita a apuração do resultado do exercício. 1 – Na cidade do Rio de Janeiro, em 2 de janeiro de 2015, Antônio e Maria, futuros sócios na empresa comercial Ma- rônio, em fase de formação, oficialmente se reuniram para elaborar seu contrato social, quando estabeleceram que o capital social da empresa seria de R$ 300.000,00 (trezen- tos mil reais), composto por 2.000 quotas, no valor nomi- nal de R$ 150.000,00 cada, como segue: Antônio R$ 150.000,00 Maria R$ 150.000,00 Total R$ 300.000,00 No Fato Contábil envolvido, deve ser efetuado o lançamento em duas contas, que são “Capita Social” e “Capital Subscrito”, sendo que, nesse caso, a origem do futuro recurso é a conta “Capital So- cial”, que recebe um lançamento de R$ 300.000,00 a crédito, e a aplicação do futuro recurso é a conta “Capital Subscrito”, que re- cebe um lançamento de R$ 300.000,00 a débito. Dessa forma, o total lançado a crédito, ou seja, o total de origens, é igual ao total lançado a débito, ou seja, o total de aplicações é igual ao total de origens. 130 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II Isso se refere a um lançamento de 1ª Fórmula, ou seja, 1 débito e 1 crédito. O razonete desse lançamento ficaria assim: Observe que nesse momento o patrimônio da empresa é igual a zero. 2 – As quotas estabelecidas deveriam ser (e foram) inte- gralizadas, em 5 de janeiro de 2015, por meio de depósito bancário na conta da companhia XPTO, em moeda corrente do país. Acontece aqui um fato administrativo modificativo aumentativo que envolve duas contas: “Banco c/ movimento” e “Capital a in- tegralizar”. A origem do recurso veio da conta “Capital a integralizar”, e o re- curso foi aplicado na conta “Banco c/ movimento”. Portanto, cré- dito para a primeira e débito para a segunda. Nesse momento, o Ativo (Bens + Direitos) totaliza R$ 300.000,00 em direitos (depósito bancário). O Passivo totaliza zero, portanto, o Patrimônio Líquido é R$ 300.000,00 – R$ 0 = R$ 300.000,00, ou seja, houve aumento do patrimônio líquido. 131Contabilização a partir de razonetes ...................................................................................................................................................................................................................... 3 – A Marônio adquiriu, à vista, máquinas e equipamentos no valor de R$ 50.000,00. Ocorre aqui um fato administrativo permutativo que envolve duas contas: “Banco c/ movimento” e “Máquinas e Equipamentos”. A origem do recurso veio da conta “Banco c/ movimento”, e o recur- so foi aplicado na conta “Máquinas e Equipamentos”; portanto, cré- dito para a primeira e débito para a segunda. Nesse momento, o Ativo (Bens + Direitos) totaliza R$ 300.000,00 em direitos (depósito bancário). O Passivo totaliza zero; portanto, o Patrimônio Líquido é R$ 300.000,00 – R$ 0 = R$ 300.000,00, ou seja, não houve alteração quantitativa do patrimônio líquido. 4 – A Marônio adquiriu, à vista, móveis e utensílios, no valor de R$ 30.000,00. Há aqui outro fato administrativo permutativo que envolve duas contas: “Banco c/ movimento” e “Móveis e Utensílios”. 132 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II A origem do recurso veio da conta “Banco c/ movimento”, e o re- curso foi aplicado na conta “Móveis e Utensílios”; portanto, crédito para a primeira e débito para a segunda. Nesse momento, o Ativo (Bens + Direitos) totaliza R$ 300.000,00 em direitos (depósito bancário). O Passivo totaliza zero, portanto, o Patrimônio Líquido é R$ 300.000,00 – R$ 0 = R$ 300.000,00, ou seja, houve aumento do patrimônio líquido. Novamente, ele não sofre alteração. O que houve foi uma transferência do saldo de uma conta do ativo para outra conta do ativo. 5 – A empresa adquiriu, a prazo, mercadorias para reven- da no valor de R$ 80.000,00. Ocorre aqui outro fato administrativo permutativo que envolve duas contas: “Fornecedores a Pagar” e “Estoques”. A origem do recurso veio da conta “Fornecedores a Pagar”, e o re- curso foi aplicado na conta “Estoques”; portanto, crédito para a “Fornecedores a Pagar” e débito para “Estoques”. Nesse momento, o Ativo (Bens + Direitos) totaliza R$ 380.000,00 em Bens e direitos. O Passivo totaliza R$ 80.000,00 em obrigações; portanto, o Patrimônio Líquido é R$ 380.000,00 – R$ 80.000,00 = R$ 300.000,00, ou seja, não houve alteração quantitativa do patrimô- nio líquido. 133Contabilização a partir de razonetes ......................................................................................................................................................................................................................Observe que, nesse caso, ocorreu aumento no ativo: a parte positi- va do patrimônio é de igual valor no passivo, a parte negativa do patrimônio, e, por esse motivo, não ocorreu alteração do valor do Patrimônio Líquido. 6 – Considerando a inexistência de impostos na operação, a empresa vendeu, a prazo, metade das mercadorias em estoque pelo preço de R$ 120.000,00. Atenção: Há aqui um fato misto aumentativo que envolve quatro contas: “Clientes a Receber” e “Receitas de Vendas”, “Estoques” e “Custo das Mercadorias Vendidas”. (As contas sublinhadas são as de resultado de, respectivamente, receita e despesa). Observe que esse fato obedece a duas etapas no registro, conside- rando o método das partidas dobradas: 134 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II Primeiro, registramos a venda. Como a origem do recurso foi uma receita de venda, a conta a ser registrada a crédito, no valor vendi- do, que é de R$ 120.000,00, é a conta “Receitas de Vendas”. A conta que recebeu a aplicação desse recurso foi “Clientes a receber”, tam- bém no valor de R$ 120.000,00. Estão envolvidas, na primeira transação, uma conta de resultado e uma patrimonial. Em seguida, temos de fazer o registro da saída da mercadoria do estoque que foi vendida. Qual a fonte do recurso? O estoque. En- tão, crédito para a conta estoque no valor de R$ 40.000,00 (me- tade do estoque existente – veja o razonete da conta estoque acima). E para onde foi esse recurso? Para o cliente, em troca do valor que ele ficou devendo à empresa. Então, débito de “Clientes a receber” no valor de R$ 40.000,00. Temos de destacar alguns pontos importantes do lançamento contábil que foi efetuado: • Foram lançadas a débito 2 contas e a crédito 2 contas, por- tanto, trata-se de um lançamento de quarta fórmula. • Houve um lançamento permutativo cuja troca não teve valores iguais, ou seja, houve um débito de R$ 120.000,00 (Clientes a Receber) e um crédito de R$ 40.000,00 (Estoques). • A diferença citada acima é compensada nesse ponto. Houve um lançamento de uma receita (Receitas de Vendas) no valor de R$ 120.000,00 e um lançamento de uma despesa relativa à saída da mercadoria do estoque no valor de R$ 40.000,00. • A apuração do lucro dá-se por meio do confronto entre o total de receitas e o total de despesas, de forma que, nesse caso, houve um lucro de R$ 80.000,00 (R$ 120.000,00 – R$ 40.000,00). • Se houve lucro, ocorreu aumento do patrimônio líquido, portanto, esse é um fato misto aumentativo. 135Contabilização a partir de razonetes ...................................................................................................................................................................................................................... 7 – A empresa havia estabelecido o pagamento aos ven- dedores de 5% sobre suas vendas a título de comissão de venda e resolveu fazer, na sequência da venda ocorrida, o pagamento da comissão ao vendedor que a efetuou no valor de R$ 6.000,00 (5% de 120.000,00). Há aqui um fato misto diminutivo que envolve as contas: “Bancos c/ Movimento” e “Despesas com comissão”. Aqui se configura uma despesa, traduzida pelo sacrifício de um ativo (dinheiro em banco) em função da obtenção de uma receita (a venda das mercadorias). O lançamento contábil correspondente a esse fato administrativo é o crédito da conta bancária, a origem do recurso, e débito da conta despesas com comissão, a conta na qual foi aplicado o re- curso. 136 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II 8 – A Marônio efetuou o pagamento no valor de R$ 10.000,00 relativos à pintura da nova loja. Há aqui novamente um fato misto diminutivo que envolve as con- tas: “Bancos c/ Movimento” e “Despesas diversas”. Da mesma forma que no lançamento anterior, aqui isso também se configura uma despesa, traduzida pelo sacrifício de um ativo (dinheiro em banco) em função da obtenção de receitas de venda (a melhoria da aparência da loja). O lançamento contábil correspondente a esse fato administrativo é o crédito da conta bancária, a origem do recurso, e o débito da conta despesas diversas, a conta na qual foi aplicado o recurso. 137Contabilização a partir de razonetes ...................................................................................................................................................................................................................... 9 – A empresa recebeu R$ 40.000,00 de parte do que seu cliente lhe devia. Ocorre aqui outro fato administrativo permutativo que envolve duas contas: “Clientes a Receber” e “Bancos c/ Movimento”. A origem do recurso veio da conta “Clientes a Receber”, e o recur- so foi aplicado na conta “Bancos c/ Movimento”, portanto, crédito para a primeira e débito para a segunda. Observe que, nesse fato administrativo, não houve alteração se- quer do total do ativo. 10 – Considerando que as operações do período foram registradas, resta fazer a apropriação das despesas in- corridas e não pagas, conforme determina o Princípio da Competência. 138 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II APROPRIAÇÃO DAS DESPESAS INCORRIDAS E NÃO PAGAS A empresa tem de apropriar as despesas com salários, o aluguel da loja, a taxa de condomínio e as taxas de servi- ços (água, luz e telefone), cujos valores são os seguintes: 10.1 – Despesas com salários R$ 10.000,00 10.2 – Despesas com aluguel da loja R$ 5.000,00 10.3 – Despesa com taxa de condomínio R$ 2.000,00 10.4 – Despesas gerais R$ 6.000,00 Para que seja feita a apropriação, deve ocorrer o reconhe- cimento da despesa incorrida no período, mesmo que ela não tenha sido nele paga. O reconhecimento da despesa consiste em um lançamento de uma despesa, tendo como contrapartida o lançamento de uma obrigação a pagar (passivo). 10.1 – No caso das Despesas com salários, teríamos: 10.1 10.000,00 Despesas com Salários 10.110.000,00 Salários a pagar No reconhecimento da despesa, temos a origem do recurso na dívida assumida pela empresa, de forma que a conta “Salários a pagar” recebe um lançamento a crédito. Os recursos foram consu- midos e não pagos durante o mês, sendo aplicados na conta “Des- pesas com Salários”, que recebe um lançamento a débito. 139Apropriação das despesas incorridas e não pagas ...................................................................................................................................................................................................................... 10.2 – No caso das Despesas com aluguéis, teríamos: 10.2 5.000,00 Despesas com aluguéis 10.25.000,00 Aluguéis a pagar Da mesma forma que na apropriação anterior, vista no item 10.1, temos a origem do recurso na dívida assumida pela empresa, de forma que a conta “Aluguéis a pagar” recebe um lançamento a crédito. Os recursos foram consumidos e não pagos durante o mês e foram aplicados na conta “Despesas com aluguéis”, que recebe um lançamento a débito. 10.3 – No caso das despesas com taxas de condomínio, teríamos: 10.3 2.000,00 Despesas com condomínio 10.32.000,00 Condomínio a pagar Aqui é feita a repetição do mesmo procedimento dos itens 10.1 e 10.2. Nesse caso, a origem é a conta “Condomínio a pagar”, que é lan- çada a crédito.A aplicação é registrada na conta “Despesas com condomínio”, que é lançada a débito. 10.4 – No caso das despesas gerais, teríamos: 10.4 6.000,00 Despesas gerais 10.46.000,00 Contas a pagar 140 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II Novamente é feita a repetição do mesmo procedimento dos itens anteriores. Nesse caso, a origem é a conta “Contas a pagar”, que é lançada a crédito. A aplicação é registrada na conta “Despesas gerais”, que é lançada a débito. Feitas as apropriações, o próximo passo é fazer a apu- ração do resultado do exercício, que é feita por meio da confrontação das contas de resultados, ou seja, Receitas X Despesas. A seguir será colocada a relação dos razonetes de todas as operações: 141Apropriação das despesas incorridas e não pagas ...................................................................................................................................................................................................................... Estão listadas, em formato de razonetes, todas as contas contendo as movimentações que sofreram nas operações que foram feitas, passo a passo. É bom relembrar que o saldo de uma conta é a diferença positiva entre os totais nela lançados a débito e a crédito. Portanto, pode-se dizer que o saldo da conta “Bancos c/ Movimento” é de R$ 244.000,00, ou seja, (300.000,00 + 40.000,00) – (50.000,00 + 30.000,00 + 6.000,00 + 10.000,00). O próximo passo para apurar o resultado do exercício e fazer a confrontação das contas de resultado é transferir os saldos dessas contas (receitas e despesas) para uma conta de resultado que concentrará o saldo de todas as outras, de- nominada apuração do resultado do exercício – ARE. Essas contas, nesse ato, serão encerradas, ou seja, ficarão com saldo zerado, restando saldo somente na conta ARE, se o total de receitas for diferente do total de despesas. Os razonetes estão apresentados na mesma sequência em que foram registrados, ou conforme foram ocorrendo os 142 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II fatos registrados. Para facilitar e organizar a disposição das contas e de seus respectivos saldos, utiliza-se o ba- lancete de verificação, primeiro, para verificar se o mé- todo das partidas dobradas foi aplicado de forma correta. Como fazer isso? 143Balancete de verificação ...................................................................................................................................................................................................................... BALANCETE DE VERIFICAÇÃO Respondendo à pergunta anterior: verificando se os totais lançados a débito são iguais aos totais lançados a crédito, pois, como já foi visto, o total de origens (créditos) tem que ser, obrigatoriamente, igual ao total de aplicações (dé- bitos). Como também já visto, o balancete de verificação, que é um demonstrativo contábil auxiliar, pode ter diversos for- matos. Para o nosso caso, utilizaremos o mais simples. A ordem em que as contas são apresentadas no balancete de verificação não é importante. E após sua conclusão, o primeiro passo é verificar se o total a débitos é igual ao to- tal a créditos. Em seguida, temos que classificar as contas que são patrimoniais e as que são de resultado, pois, para efeito de apuração do resultado do exercício, somente as últimas serão utilizadas. Apurando, conta por conta, os saldos apresentados nos razonetes da movimentação que ocorreu no exemplo apresentado, e considerando que as contas que têm seus saldos zerados não necessitam ser relacionadas, teremos o balancete de verificação com a seguinte formação: Contas Natureza do saldo Devedor Credor Capital social 300.000,00 Banco c/ movimento 244.000,00 Total 523.000,00 523.000,00 144 Escrituração Contábil – Parte II Contas Natureza do saldo Devedor Credor Máquinas e equipamentos 50.000,00 Móveis e utensílios 30.000,00 Fornecedores a pagar 80.000,00 Estoques 40.000,00 Receitas de vendas 120.000,00 Clientes a receber 80.000,00 Custo das mercadorias vendidas 40.000,00 Despesas com comissão 6.000,00 Despesas diversas 10.000,00 Despesas com salários 10.000,00 Salários a pagar 10.000,00 Despesas com aluguel 5.000,00 Aluguéis a pagar 5.000,00 Despesas com condomínio 2.000,00 Condomínios a pagar 2.000,00 Despesas com serviços 6.000,00 Contas a pagar 6.000,00 Total 523.000,00 523.000,00 Propositalmente, para facilitar a visualização e o entendi- mento, as contas patrimoniais (bens, direitos, obrigações) foram marcadas na cor branca, e, consequentemente, as contas de resultados estão assinaladas na cor cinza. 145Apuração do resultado do exercício APURAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO Como já dito, para fazer a apuração do resultado, temos que fazer o encerramento das contas de resultado, confron- tando as receitas e as despesas, utilizando a conta ARE. 120.000,00 Receitas de Vendas 40.000,00 Custo das Mercadorias Vendidas 6.000,00 Despesas com Comissão 10.000,00 Despesas Diversas 10.000,00 Despesas com Salários 10.000,00 Salários a Pagar 5.000,00 Despesas com Aluguéis 5.000,00 Aluguéis a Pagar 2.000,00 Despesas com Condomínio 2.000,00 Condomínio a Pagar 6.000,00 Despesas com Serviços 6.000,00 Contas a Pagar 146 Escrituração Contábil – Parte II Após relacionar todos os razonetes das contas de resulta- dos, será criado um razonete para a conta ARE. ARE Agora será criada a conta ARE. Os saldos de cada uma das contas de resultado serão trans- feridos por meio de lançamento escriturado nos livros di- ário e razão para a conta de resultados. No entanto, não podemos simplesmente colocar saldo em uma conta se não houver uma origem e uma aplicação no mesmo valor. A primeira conta de resultado no quadro é a Receita com Vendas. Ela tem saldo credor. Será feito um lançamento a débito para zerar o seu saldo e um lançamento a crédito na conta ARE. 120.000,00 Receitas de Vendas 120.000,00 40.000,00 Custo das Mercadorias Vendidas 6.000,00 Despesas com Comissão 10.000,00 Despesas Diversas 10.000,00 Despesas com Salários 10.000,00 Salários a Pagar 147Apuração do resultado do exercício 5.000,00 Despesas com Aluguéis 5.000,00 Aluguéis a Pagar 2.000,00 Despesas com Condomínio 2.000,00 Condomínio a Pagar 6.000,00 Despesas com Serviços 6.000,00 Contas a Pagar 120.000,00 ARE A próxima conta que aparece no quadro é a Custo das Mercadorias Vendidas. Será repetido o mesmo procedi- mento que foi feito na primeira conta, e depois sucessi- vamente para todas as demais, ou seja, será feito o mes- mo para a conta Despesas com comissão, depois para a Despesas diversas, em seguida, para a Despesas com salários e posteriormente, para a Salários a pagar. Na se- quência, será feito o mesmo para a conta Despesas com aluguéis, a seguir, para a Aluguéis a pagar, prosseguindo para a Despesas com condomínio, que terá, em seguida, a conta Condomínio a pagar, partindo para a Despesas de serviços e, finalmente, para a Contas a pagar. Feitos os lançamentos, restará apenas saldo na conta ARE, e todas 148 Escrituração Contábil – Parte II as outras contas de resultado estarão comseus saldos en- cerrados, ou, como se diz comumente, “zerados”. Veja na sequência como ficaram os razonetes: 120.000,00 Receitas de Vendas 120.000,00 40.000,00 Custo das Mercadorias Vendidas 40.000,00 6.000,00 Despesas com Comissão 6.000,00 10.000,00 Despesas Diversas 10.000,00 10.000,00 Despesas com Salários 10.000,00 5.000,00 Despesas com Aluguéis 5.000,00 2.000,00 Despesas com Condomínio 2.000,00 6.000,00 Despesas com Serviços 6.000,00 120.000,00 ARE 40.000,00 6.000,00 10.000,00 10.000,00 5.000,00 2.000,00 6.000,00 79.000,00 120.000,00 149Apuração do resultado do exercício Na confrontação entre receitas e despesas feita na conta ARE, o total de despesas foi de R$ 79.000,00, e o total de receitas foi de R$ 120.000,00. Porém, como o saldo de uma conta é obtido pela diferença entre receitas e despe- sas, pode-se inferir que o saldo da conta é credor em R$ 41.000,00, ou seja, no período apurado, a Marônio obteve um lucro de R$ 41.000,00. Até o momento, o que foi apurado é chamado de Lucro An- tes do Imposto de Renda e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido — LAIRCSL. Em uma empresa comercial que opere pelo lucro real (esse assunto será tratado em ou- tro livro), a alíquota da Contribuição Sobre o Lucro Líquido — CSLL, tributo instituído pela Lei nº 7.689/1989, com o intuito de financiar a seguridade social brasileira, é de 9% sobre o lucro ajustado por algumas adições, exclusões e compensações, as quais não serão abordadas neste livro. Para fins didáticos, está sendo considerado que as ope- rações registradas, nas quais não foram informadas suas respectivas datas, compreendem o exercício completo de janeiro a dezembro de 2015 e que a empresa optou pela declaração anual de suas informações contábeis. Considerando que o LAIRCSL é, nesse caso, a base de cál- culo da CSLL, o valor a ser provisionado para o pagamento desse tributo seria de R$ 3.690,00 (9% de R$ 41.000,00). O Imposto de Renda com base no lucro real, que também tem suas adições, exclusões e compensações, será calcula- do, nesse caso, com uma alíquota de 15%, de forma que o valor a ser provisionado para o pagamento desse tributo seria de R$ 6.150,00 (15% de R$ 41.000,00). 150 Escrituração Contábil – Parte II Dessa forma, para finalizar a apuração do resultado, ainda serão registrados os dois fatos administrativos correspon- dentes aos impostos incidentes sobre o lucro, que seriam os seguintes: 3.690,00 Despesa c/ provisão para CSLL 3.690,00 CSLL a Pagar 6.150,00 Despesa c/ provisão para Imposto de Renda 6.150,00 I.R. a Pagar Resultaram desses fatos duas contas de resultado (despe- sas) e duas contas patrimoniais (obrigações). Sendo assim, ainda há duas contas de resultado que deverão ter seus saldos transferidos para a conta ARE, para a apuração do Lucro Líquido. 3.690,00 Despesa c/ provisão para CSLL 3.690,00 CSLL a Pagar 3.690,00 6.150,00 Despesa c/ provisão para Imposto de Renda 6.150,00 I.R. a Pagar 6.150,00 151Apuração do resultado do exercício 120.000,00 ARE 40.000,00 6.000,00 10.000,00 10.000,00 5.000,00 2.000,00 6.000,00 79.000,00 120.000,00 3.690,00 6.150,00 88.840,00 120.000,00 31.160,00 Considerando as despesas com imposto de renda e com a CSLL e como todas as contas de resultado devem ser en- cerradas (zeradas) ao final do exercício, o saldo contido na conta ARE, nesse caso em que houve lucro, portanto, sal- do credor, deve ser transferido para a conta Lucros Acu- mulados. Como fazer a transferência? Fazendo um lança- mento a débito na conta ARE, zerando o seu saldo, e um lançamento a débito na conta Lucros Acumulados, que é uma conta patrimonial que integra o Patrimônio Líquido. O lançamento seria o seguinte: 152 Escrituração Contábil – Parte II 120.000,00 ARE 40.000,00 6.000,00 10.000,00 10.000,00 5.000,00 2.000,00 6.000,00 79.000,00 120.000,00 3.690,00 6.150,00 88.840,00 120.000,00 31.160,0031.160,00 Lucros Acumulados 31.160,00 A partir de todas essas operações, nenhuma conta de re- sultado possui saldo, ou seja, todas foram “zeradas”. Se for elaborado um segundo balancete de verificação, com essa nova situação, seria evidenciada a seguinte situação: 153Apuração do resultado do exercício Contas Natureza do saldo Devedor Credor Capital social 300.000,00 Banco c/ movimento 244.000,00 Máquinas e equipamentos 50.000,00 Móveis e utensílios 30.000,00 Fornecedores a pagar 80.000,00 Estoques 40.000,00 Clientes a receber 80.000,00 Salários a pagar 10.000,00 Aluguéis a pagar 5.000,00 Condomínios a pagar 2.000,00 Contas a pagar 6.000,00 I. R. a pagar 6.150,00 CSLL a pagar 3.690,00 Lucros acumulados 31.160,00 Total 444.000,00 444.000,00 Considerando que todas as contas de resultado foram en- cerradas, as apropriações, efetuadas, e os impostos, reco- nhecidos por meio da provisão para pagamento no futuro, temos no balancete de verificação acima, porém, somente a existência de contas patrimoniais (bens, direitos ou obri- gações), e os totais de origens (créditos) é igual ao total de aplicações (débitos). Pode-se, então, partir para o próxi- mo passo, que é a elaboração do balanço patrimonial, mas esse assunto será tratado no próximo capítulo. ...................................................................................................................................................................................................................... 154 ...................................................................................................................................................................................................................... Escrituração Contábil – Parte II REFERÊNCIAS COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Pronuncia- mento Conceitual Básico (R1): estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro: correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – The Conceptual Framework for Financial Reporting (IASB – BV 2011 Blue Book). Brasília, DF, 2011. 155Características ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ CAPÍTULO 4 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS BÁSICAS Este capítulo aborda, de forma detalhada, duas das prin- cipais demonstrações contábeis obrigatórias e que devem ser conhecidas e construídas pelo estudante: o balanço patrimonial e a DRE. É apresentada a relação das demonstrações obrigatórias, mas essas outras deverão ser estudadas em outra etapa. 156 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas CARACTERÍSTICAS Se o objetivo da contabilidade é fornecer informações acer- ca das variações ocorridas no patrimônio de uma entidade, ao longo dos exercícios sociais, podemos compará-las às demonstrações contábeis que sejam úteis e tragam infor- mações relevantes para os tomadores de decisão, sobretu- do os externos, apresentadas de forma correta, confiável e tempestiva e que atendam às características qualitativas fundamentais e às características qualitativas de melho- ria estabelecidas pelo Pronunciamento Conceitual Básico (R1) – Estrutura Conceitual para a Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro, emitido pelo CPC. Para que a informação contábil-financeira seja útil,são ne- cessárias características qualitativas fundamentais, que são Relevância e Representação Fidedigna: • Relevância – Segundo o Pronunciamento Concei- tual Básico, também chamado de CPC 00: QC6. Informação contábil-financeira útil é aquela capaz de fazer diferença nas decisões que possam ser tomadas pelos usuários. A informação pode ser capaz de fazer diferença em uma decisão mesmo no caso de alguns usuários decidirem não a levar em consideração, ou já tiver tomado ciência de sua existência por outras fontes. 157Características ...................................................................................................................................................................................................................... QC7. A informação contábil-financeira é capaz de fazer diferença nas decisões se tiver valor preditivo, valor confirmatório ou ambos. QC8. A informação contábil-financeira tem valor pre- ditivo se puder ser utilizada como dado de entrada em processos empregados pelos usuários para pre- dizer futuros resultados. A informação contábil-fi- nanceira não precisa ser uma predição ou uma pro- jeção para que possua valor preditivo. A informação contábil-financeira com valor preditivo é empregada pelos usuários ao fazerem suas próprias predições. QC9. A informação contábil-financeira tem valor confirmatório se retroalimentar – servir de feedback – avaliações prévias (confirmá-las ou alterá-las). QC10. O valor preditivo e o valor confirmatório da informação contábil-financeira estão inter-relacio- nados. A informação que tem valor preditivo muitas vezes também tem valor confirmatório. Por exem- plo, a informação sobre receita para o ano corrente, a qual pode ser utilizada como base para predizer receitas para anos futuros, também pode ser com- parada com predições de receita para o ano corrente que foram feitas nos anos anteriores. Os resultados dessas comparações podem auxiliar os usuários a corrigirem e a melhorarem os processos que foram utilizados para fazer tais predições. Para que a informação possa ser relevante ela deve apre- sentar a característica da Materialidade. 158 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas QC11. A informação é material se a sua omissão ou sua divulgação distorcida (misstating) puder influen- ciar decisões que os usuários tomam com base na informação contábil-financeira acerca de entidade específica que reporta a informação. Em outras pa- lavras, a materialidade é um aspecto de relevância específico da entidade baseado na natureza ou na magnitude, ou em ambos, dos itens para os quais a informação está relacionada no contexto do relató- rio contábil-financeiro de uma entidade em particu- lar. Consequentemente, não se pode especificar um limite quantitativo uniforme para materialidade ou predeterminar o que seria julgado material para uma situação particular. • Representação Fidedigna – Segundo o Pronun- ciamento CPC 00: QC12. Os relatórios contábil-financeiros represen- tam um fenômeno econômico em palavras e núme- ros. Para ser útil, a informação contábil-financeira não tem só que representar um fenômeno relevante, mas tem também que representar com fidedignida- de o fenômeno que se propõe representar. Para ser representação perfeitamente fidedigna, a realidade retratada precisa ter três atributos. Ela tem que ser completa, neutra e livre de erro. É claro, a perfeição é rara, se de fato alcançável. O objetivo é maximizar referidos atributos na extensão que seja possível. QC13. O retrato da realidade econômica completo deve incluir toda a informação necessária para que o 159Características ...................................................................................................................................................................................................................... usuário compreenda o fenômeno sendo retratado, in- cluindo todas as descrições e explicações necessárias. Por exemplo, um retrato completo de um grupo de ativos incluiria, no mínimo, a descrição da natureza dos ativos que compõem o grupo, o retrato numérico de todos os ativos que compõem o grupo, e a des- crição acerca do que o retrato numérico representa (por exemplo, custo histórico original, custo histórico ajustado ou valor justo). Para alguns itens, um retrato completo pode considerar ainda explicações de fatos significativos sobre a qualidade e a natureza desses itens, fatos e circunstâncias que podem afetar a qua- lidade e a natureza deles, e os processos utilizados para determinar os números retratados. QC14. Um retrato neutro da realidade econômica é desprovido de viés na seleção ou na apresentação da informação contábil-financeira. Um retrato neu- tro não deve ser distorcido com contornos que pos- sa receber dando a ele maior ou menor peso, ênfase maior ou menor, ou qualquer outro tipo de manipu- lação que aumente a probabilidade de a informação contábil-financeira ser recebida pelos seus usuários de modo favorável ou desfavorável. Informação neutra não significa informação sem propósito ou sem influência no comportamento dos usuários. A bem da verdade, informação contábil-financeira re- levante, por definição, é aquela capaz de fazer dife- rença nas decisões tomadas pelos usuários. QC15. Representação fidedigna não significa exati- dão em todos os aspectos. Um retrato da realidade 160 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas econômica livre de erros significa que não há erros ou omissões no fenômeno retratado, e que o proces- so utilizado, para produzir a informação reportada, foi selecionado e foi aplicado livre de erros. Nesse sentido, um retrato da realidade econômica livre de erros não significa algo perfeitamente exato em to- dos os aspectos. Por exemplo, a estimativa de preço ou valor não observável não pode ser qualificada como sendo algo exato ou inexato. Entretanto, a re- presentação dessa estimativa pode ser considerada fidedigna se o montante for descrito claramente e precisamente como sendo uma estimativa, se a na- tureza e as limitações do processo forem devida- mente reveladas, e nenhum erro tiver sido cometido na seleção e aplicação do processo apropriado para desenvolvimento da estimativa. QC16. Representação fidedigna, por si só, não re- sulta necessariamente em informação útil. Por exemplo, a entidade que reporta a informação pode receber um item do imobilizado por meio de sub- venção governamental. Obviamente, a entidade ao reportar que adquiriu um ativo sem custo retrata- ria com fidedignidade o custo desse ativo, porém essa informação provavelmente não seria muito útil. Outro exemplo mais sutil seria a estimativa do montante por meio do qual o valor contábil do ativo seria ajustado para refletir a perda por desvaloriza- ção no seu valor (impairment loss). Essa estimativa pode ser uma representação fidedigna se a entidade que reporta a informação tiver aplicado com pro- priedade o processo apropriado, tiver descrito com propriedade a estimativa e tiver revelado quaisquer 161Características ...................................................................................................................................................................................................................... incertezas que afetam significativamente a estimati- va. Entretanto, se o nível de incerteza de referida es- timativa for suficientemente alto, a estimativa não será particularmenteútil. Em outras palavras, a re- levância do ativo que está sendo representado com fidedignidade será questionável. Caso não exista al- ternativa para retratar a realidade econômica que seja mais fidedigna, a estimativa nesse caso deve ser considerada a melhor informação disponível. Aplicação das características qualitativas fundamentais QC17. A informação precisa concomitantemente ser relevante e representar com fidedignidade a rea- lidade reportada para ser útil. Nem a representação fidedigna de fenômeno irrelevante, tampouco a re- presentação não fidedigna de fenômeno relevante auxiliam os usuários a tomarem boas decisões. QC18. O processo mais eficiente e mais efetivo para aplicação das características qualitativas funda- mentais usualmente seria o que segue (sujeito aos efeitos das características de melhoria e à restrição do custo, que não são considerados neste exemplo). Primeiro, identificar o fenômeno econômico que te- nha o potencial de ser útil para os usuários da in- formação contábil-financeira reportada pela entida- de. Segundo, identificar o tipo de informação sobre o fenômeno que seria mais relevante se estivesse disponível e que poderia ser representado com fi- dedignidade. Terceiro, determinar se a informação está disponível e pode ser representada com fide- 162 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas dignidade. Dessa forma, o processo de satisfazer as características qualitativas fundamentais chega ao seu fim. Caso contrário, o processo deve ser repe- tido a partir do próximo tipo de informação mais relevante. Visando ao atendimento das necessidades dos usuários, sobretudo os externos, o CPC fez destaques importantes, também, sobre as características qualitativas de melhoria, que são quatro: comparabilidade, verificabilidade, tem- pestividade e compreensibilidade. Determina o CPC 00 sobre elas: QC19. Comparabilidade, verificabilidade, tempes- tividade e compreensibilidade são características qualitativas que melhoram a utilidade da informa- ção que é relevante e que é representada com fi- dedignidade. As características qualitativas de me- lhoria podem também auxiliar a determinar qual de duas alternativas que sejam consideradas equi- valentes em termos de relevância e fidedignidade de representação deve ser usada para retratar um fenômeno. Comparabilidade QC20. As decisões de usuários implicam escolhas entre alternativas, como, por exemplo, vender ou manter um investimento, ou investir em uma enti- dade ou noutra. Consequentemente, a informação acerca da entidade que reporta informação será 163Características ...................................................................................................................................................................................................................... mais útil caso possa ser comparada com informa- ção similar sobre outras entidades e com informa- ção similar sobre a mesma entidade para outro pe- ríodo ou para outra data. QC21. Comparabilidade é a característica qualita- tiva que permite que os usuários identifiquem e compreendam similaridades dos itens e diferenças entre eles. Diferentemente de outras características qualitativas, a comparabilidade não está relaciona- da com um único item. A comparação requer no mí- nimo dois itens. QC22. Consistência, embora esteja relacionada com a comparabilidade, não significa o mesmo. Consis- tência refere-se ao uso dos mesmos métodos para os mesmos itens, tanto de um período para outro considerando a mesma entidade que reporta a in- formação, quanto para um único período entre enti- dades. Comparabilidade é o objetivo; a consistência auxilia a alcançar esse objetivo. QC23. Comparabilidade não significa uniformidade. Para que a informação seja comparável, coisas iguais precisam parecer iguais e coisas diferentes precisam parecer diferentes. A comparabilidade da informa- ção contábil-financeira não é aprimorada ao se fazer com que coisas diferentes pareçam iguais ou ainda ao se fazer coisas iguais parecerem diferentes. QC24. Algum grau de comparabilidade é possivel- mente obtido por meio da satisfação das caracte- 164 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas rísticas qualitativas fundamentais. A representação fidedigna de fenômeno econômico relevante deve possuir naturalmente algum grau de comparabili- dade com a representação fidedigna de fenômeno econômico relevante similar de outra entidade que reporta a informação. QC25. Muito embora um fenômeno econômico sin- gular possa ser representado com fidedignidade de múltiplas formas, a discricionariedade na escolha de métodos contábeis alternativos para o mesmo fenômeno econômico diminui a comparabilidade. Verificabilidade QC26. A verificabilidade ajuda a assegurar aos usu- ários que a informação representa fidedignamente o fenômeno econômico que se propõe representar. A verificabilidade significa que diferentes observado- res, cônscios e independentes, podem chegar a um consenso, embora não cheguem necessariamente a um completo acordo, quanto ao retrato de uma rea- lidade econômica em particular ser uma representa- ção fidedigna. Informação quantificável não necessi- ta ser um único ponto estimado para ser verificável. Uma faixa de possíveis montantes com suas proba- bilidades respectivas pode também ser verificável. QC27. A verificação pode ser direta ou indireta. Ve- rificação direta significa verificar um montante ou outra representação por meio de observação direta, como, por exemplo, por meio da contagem de caixa. 165Características ...................................................................................................................................................................................................................... Verificação indireta significa checar os dados de en- trada do modelo, fórmula ou outra técnica e recal- cular os resultados obtidos por meio da aplicação da mesma metodologia. Um exemplo é a verificação do valor contábil dos estoques por meio da checa- gem dos dados de entrada (quantidades e custos) e por meio do recálculo do saldo final dos estoques utilizando a mesma premissa adotada no fluxo do custo (por exemplo, utilizando o método PEPS). QC28. Pode não ser possível verificar algumas ex- plicações e alguma informação contábil-financeira sobre o futuro (forward-looking information) até que o período futuro seja totalmente alcançado. Para ajudar os usuários a decidir se desejam usar dita informação, é normalmente necessário divulgar as premissas subjacentes, os métodos de obtenção da informação e outros fatores e circunstâncias que suportam a informação. Tempestividade QC29. Tempestividade significa ter informação dis- ponível para tomadores de decisão a tempo de po- der influenciá-los em suas decisões. Em geral, a in- formação mais antiga é a que tem menos utilidade. Contudo, certa informação pode ter o seu atributo tempestividade prolongado após o encerramento do período contábil, em decorrência de alguns usuá- rios, por exemplo, necessitarem identificar e avaliar tendências. 166 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas Compreensibilidade QC30. Classificar, caracterizar e apresentar a infor- mação com clareza e concisão torna-a compreensível.QC31. Certos fenômenos são inerentemente com- plexos e não podem ser facilmente compreendidos. A exclusão de informações sobre esses fenômenos dos relatórios contábil-financeiros pode tornar a informação constante em referidos relatórios mais facilmente compreendida. Contudo, referidos rela- tórios seriam considerados incompletos e poten- cialmente distorcidos (misleading). QC32. Relatórios contábil-financeiros são elabora- dos para usuários que têm conhecimento razoável de negócios e de atividades econômicas e que re- visem e analisem a informação diligentemente. Por vezes, mesmo os usuários bem informados e dili- gentes podem sentir a necessidade de procurar aju- da de consultor para compreensão da informação sobre um fenômeno econômico complexo. Aplicação das características qualitativas de me- lhoria QC33. Características qualitativas de melhoria de- vem ser maximizadas na extensão possível. Entre- tanto, as características qualitativas de melhoria, quer sejam individualmente ou em grupo, não po- dem tornar a informação útil se dita informação for irrelevante ou não for representação fidedigna. 167Características ...................................................................................................................................................................................................................... QC34. A aplicação das características qualitativas de melhoria é um processo iterativo que não segue uma ordem preestabelecida. Algumas vezes, uma característica qualitativa de melhoria pode ter que ser diminuída para maximização de outra caracte- rística qualitativa. Por exemplo, a redução temporá- ria na comparabilidade como resultado da aplicação prospectiva de uma nova norma contábil-financeira pode ser vantajosa para o aprimoramento da rele- vância ou da representação fidedigna no longo pra- zo. Divulgações apropriadas podem parcialmente compensar a não comparabilidade. Além das características qualitativas apresentadas, há também a premissa subjacente sobre a qual se baseiam os relatórios contábil-financeiros: a continuidade. Significa dizer que as demonstrações contábeis são ela- boradas, em condições normais, utilizando como premis- sa que a entidade está em atividade e assim permanecerá dentro de um futuro previsível. Entende-se assim que a empresa não tem a pretensão de reduzir suas atividades, nem perspectiva de entrar em processo de liquidação. Há também que se observar uma relação positiva entre custos para a geração da informação e os benefícios que ela irá trazer. Um dos aspectos referidos em relação às demonstrações contábeis diz respeito a um conceito que precisa ser en- tendido, de acordo com o que determina a Lei das Socie- dades Anônimas, o exercício social. Qual a duração de um exercício social? Quando tem seu início e qual o seu final? 168 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS OBRIGATÓRIAS A Lei das Sociedades por Ações, Lei nº 6.404/76, modificada pela Lei nº 11.638/2007, em seu artigo nº 176 determina: Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará ela- borar, com base na escrituração mercantil da com- panhia, as seguintes demonstrações financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio da companhia e as mutações ocorridas no exercício: I - balanço patrimonial; II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumu- lados; III - demonstração do resultado do exercício; e IV - demonstração das origens e aplicações de re- cursos. IV – demonstração dos fluxos de caixa; e (Redação dada pela Lei nº 11.638, de 2007) V – se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. (Incluído pela Lei nº 11.638, de 2007) § 1º As demonstrações de cada exercício serão publicadas com a indicação dos valores correspon- dentes das demonstrações do exercício anterior. § 2º Nas demonstrações, as contas semelhantes poderão ser agrupadas; os pequenos saldos pode- rão ser agregados, desde que indicada a sua natu- reza e não ultrapassem 0,1 (um décimo) do valor do respectivo grupo de contas; mas é vedada a uti- lização de designações genéricas, como “diversas contas” ou “contas-correntes”. § 3º As demonstrações financeiras registrarão a destinação dos lucros segundo a proposta dos ór- gãos da administração, no pressuposto de sua apro- vação pela assembleia-geral. § 4º As demonstrações serão complementadas por notas explicativas e outros quadros analíticos 169Demonstrações contábeis obrigatórias ...................................................................................................................................................................................................................... ou demonstrações contábeis necessários para escla- recimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício. (grifos nossos) O CPC emitiu o Pronunciamento CPC nº 26 (R1) – Apre- sentação das Demonstrações Contábeis, aprovado pela Deliberação CVM nº 676/2011, no qual torna parte do conjunto das demonstrações contábeis obrigatórias para as sociedades por ações abertas. O CFC, através da Orien- tação Técnica Geral – OTG 1000 e da NBC 26 (R3) – Apre- sentação das Demonstrações Contábeis, ampliou a exigên- cia para outras empresas. De forma geral a situação ficou assim: Demons- tração contábil ME e EPP ITG 1000 PMEs NBC TG 1000 Regra Geral S.A. de Capital Aberto BP Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório DR Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório DRA Facultativa Pode ser substituída pela DLPA Obrigatório Obrigatório DLPA Facultativa Facultativa (Obriga- tória se substituir a DRA ou a DMPL) Facultativa Facultativa DMPL Facultativa Pode ser substituída pela DLPA Obrigatório Obrigatório DFC Facultativa Obrigatório Obrigatório Obrigatório NE Obrigatório Obrigatório Obrigatório Obrigatório DVA Facultativa Facultativa Facultativa Obrigatório Fonte: <http://www.crcpr.org.br/new/content/publicacao/mai- ling/html/2013_06_17_informativoFiscalizacao.html>. 170 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas Observações: O § 6º do art. 176 da Lei nº 6.404/76 deter- mina que a companhia fechada com patrimônio líquido, na data do balanço, inferior a R$ 2.000.000,00 (dois mi- lhões de reais) não será obrigada à elaboração e publica- ção da demonstração dos fluxos de caixa. (Redação dada pela Lei nº 11.638/2007). O parágrafo § 3º do art. 177 da mesma lei estabelece que as demonstrações financeiras das companhias abertas de- vem observar ainda as normas expedidas pela CVM e serão obrigatoriamente submetidas à auditoria por auditores in- dependentes nela registrados. (Redação dada pela Lei nº 11.941/2009). Ainda no mesmo artigo mais três pontos relevantes devem ser destacados: § 4º as demonstrações financeiras serão assinadas pelos administradores e por contabilistas legalmente habilitados; no § 5º ocorre a de- terminação que as normas expedidas pela CVM a que se refere o § 3º do artigo 177 deverão ser elaboradas em con- sonância com os padrões internacionais de contabilidade adotados nos principais mercados de valores mobiliários. (Incluído pela Lei nº 11.638/2007); e finalmente, no § 6º fica estabelecido que as companhias fechadas poderão optar por observar as normas sobre demonstrações finan- ceiras expedidas pela CVM para as companhias abertas. (Incluído pela Lei nº 11.638/2007). Exercício Social O exercício social é definido pela Lei 6.404/76, em seu art. 175, pelo Código Civil, Lei 10.406/2002, em seu art.1.179, também no Pronunciamento Técnico CPC 21 (R1) – Demonstração Intermediária e tem duração de 12 meses, 171Demonstrações contábeis obrigatórias ...................................................................................................................................................................................................................... sem que seu início ocorra necessariamente no dia 1º de janeiro de cada ano, pois a data de início varia de acordo com o previsto nos estatutos de cada companhia. Ciclo Operacional Trata-se do tempo decorrido a partir da data da compra da mercadoria, para uma empresa comercial onde será re- vendida, ou da matéria-prima, para uma empresa indus- trial em que será transformada em produtos, até o rece- bimento dos recursos relativos aos produtos vendidos ou mercadorias revendidas. 172 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas O BALANÇO PATRIMONIAL A mais conhecida demonstração contábil é o balanço pa- trimonial. Ele é um dos relatórios cuja apresentação é obrigatória para as sociedades por ações e para as empre- sas de grande porte, segundo determina a Lei 6.404/76. Já o Código Civil Brasileiro, Lei 10.406/2002, determina: Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilida- de, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico. §1º Salvo o disposto no art. 1.180, o número e a espécie de livros ficam a critério dos interessados. §2º É dispensado das exigências deste artigo o pe- queno empresário a que se refere o art. 970. O art. 970 do Código Civil prevê: Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, di- ferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e aos efei- tos daí decorrentes. Por sua vez a Resolução CFC nº 1.482/2012, que aprova a OTG 1000 – Modelo Contábil para Microempresa e Empre- sa de Pequeno Porte, determina, em seu item 4: 173O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... 4. A adoção dessa Interpretação não desobriga a mi- croempresa e a empresa de pequeno porte a manu- tenção de escrituração contábil uniforme dos seus atos e fatos administrativos que provocaram, ou possam vir a provocar, alteração do seu patrimônio. O objetivo do balanço patrimonial é evidenciar o patrimô- nio, em termos quantitativos e qualitativos, de uma enti- dade no último dia de cada exercício fiscal, o que normal- mente ocorre no dia 31 de dezembro de cada ano. Como demonstra a situação de um determinado momento, é considerada uma demonstração estática. Para que sua informação seja útil, o balanço patrimonial, bem como as outras demonstrações obrigatórias, deve ser apresentado de forma resumida. Como foi visto na abordagem sobre patrimônio, o patri- mônio é composto por bens, direitos e obrigações com terceiros. A Lei nº 6.404/76 obriga em seu art. 176 que as demons- trações de cada exercício sejam publicadas com a indica- ção dos valores correspondentes das demonstrações do exercício anterior, para que os usuários possam ter parâ- metros de comparação. Outro ponto importante definido nesse artigo é que, nas demonstrações, as contas semelhantes poderão ser agru- padas (lembram-se de que se trata de uma demonstração resumida?), desde que indicada a natureza desses agru- pamentos e que não ultrapassem um décimo do valor do referido grupo de contas, sendo proibido o uso de deno- 174 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas minações genéricas, que não determinem a natureza do agrupamento, como “diversas”, por exemplo. Segundo a Lei nº 6.404/76, as contas no balanço patrimo- nial são divididas em dois grupos: Ativo e Passivo, de for- ma que o passivo total da empresa seja o capital próprio somado com o capital de terceiros. Dessa forma podemos afirmar, com base no método das partidas dobradas, que o ativo deve ser sempre igual ao passivo. Isso explica o motivo de a demonstração chamar-se balanço. Tem que haver equilíbrio entre os dois lados. A equação patrimonial diz que Ativo = Passivo (capital de terceiros ou passivo exigível) + Patrimônio Líquido (capital próprio ou passivo não exigível). Atenção: É comum nos livros a separação ativo = passivo + patrimônio líquido, em que se considera que passivo se trata somente das obrigações com terceiros. Em questões de provas e concursos há que se tomar muito cuidado com essa questão. Prevalece a lei. Apresentação das contas do Ativo e do Passivo Há a necessidade de que os relatórios contábeis sejam ela- borados de forma padronizada, para permitir a compa- rabilidade, portanto a estrutura das informações a serem evidenciadas no relatório deve obedecer, visando harmo- nização das normas internacionais, ao Pronunciamento CPC nº 26, porém a Lei das Sociedades Anônimas não pode ser descumprida. Por esse motivo o citado pronun- ciamento considera os dados existentes na lei e somente acrescenta as informações que faltam para o atendimento 175O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... do objetivo de harmonização com as práticas internacio- nais; por exemplo, no CPC não há determinação de ordem de apresentação de contas, mas na lei há. Uma coisa não prejudica a outra, portanto temos que cumprir a lei. Em seu art. 178, § 1º, no ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados. Grau de liquidez significa o prazo no qual os bens e os direitos podem ser transformados em dinheiro e as obri- gações liquidadas. Quanto mais rápido, maior o grau de liquidez daquele bem, direito ou obrigação. O Ativo O Ativo é composto por dois grupos: • Ativo Circulante • Ativo Não Circulante Para que seja bem entendido esse conceito de circulante e não circulante é preciso a assimilação do seguinte concei- to bem simplificado: é considerado circulante tudo o que se espera que seja realizado (no caso do ativo) ou liquida- do (no prazo do passivo) até o final do exercício seguinte, ou seja, doze meses após o encerramento do balanço do ano corrente, que teoricamente ocorrerá no dia 31 de de- zembro do mesmo ano. Nos casos das empresas que tive- rem o ciclo operacional maior do que um exercício social, o conceito de circulante passa a ser adotado em função do ciclo operacional. 176 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas O ativo não circulante é subdividido em quatro subgrupos: 1. Realizável a Longo Prazo. 2. Investimentos. 3. Imobilizado. 4. Intangível. O ativo não circulante é formado por recursos que foram retirados de circulação em função de opções estratégicas e operacionais da entidade. O subgrupo Realizável a Longo Prazo refere-se aos direi- tos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou emprés- timos a sociedadescoligadas ou controladas (artigo 243 da Lei 6.404/76), diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usu- ais na exploração do objeto da companhia. Há nesse subgrupo algumas exceções que devem ser des- tacadas: adiantamentos ou empréstimos a sociedades co- ligadas (empresas que a entidade mantém participação ou influência significativa em sua gestão) ou controladas (empresas que a entidade detém o controle acionário, ou seja, que estejam submetidas à sua gestão), diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia que não constituam negócios usuais na exploração do objeto da companhia. Nesse caso, não importando o prazo da realização do direito, circulante (curto prazo) ou não cir- culante (longo prazo), esses direitos serão classificados nesse subgrupo. 177O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... O subgrupo Investimentos inclui os seguintes direitos da companhia: as participações permanentes em outras so- ciedades e os direitos de qualquer natureza, não classifi- cáveis no ativo circulante e que não se destinem à manu- tenção da atividade da companhia ou da empresa. Muitas questões de concursos costumam explorar o as- sunto em função do texto grifado. Atenção a esse impor- tante detalhe! O subgrupo Ativo Imobilizado inclui os direitos que te- nham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e contro- le desses bens. (Redação dada pela Lei nº 11.638/2007). Importante salientar que esse subgrupo está diretamente relacionado à manutenção das atividades da companhia, são ativos para uso. O subgrupo Ativo Intangível agrupa os direitos que te- nham por objeto bens incorpóreos destinados à manu- tenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido. (Incluído pela Lei nº 11.638/2007). O Passivo Conforme já foi visto, a Lei 6.404/76 em seu Art. 178 in- clui o passivo exigível e o patrimônio líquido (passivo não exigível) no grupo passivo, dessa forma o passivo fica as- sim dividido: 178 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas 1. Passivo Circulante. 2. Passivo Não Circulante. 3. Patrimônio Líquido. Não está previsto na Lei das Sociedades por Ações ne- nhum ordenamento específico para as contas do Passivo, porém convencionou-se ordená-las por grau decrescente de exigibilidade, ou seja, das que vencem primeiro para as que vencem por último. Como foi visto, fica mantido o conceito de Circulante (cur- to prazo) e Não Circulante (longo prazo) que foi visto no Ativo. Não há subdivisões nesses grupos. O ponto fundamental aí é que eles representam as obrigações da entidade com terceiros, ou seja, com não participantes da sociedade que concederam algum tipo de crédito para ela, de curto ou de longo prazo. O grupo Patrimônio Líquido disposto na Lei nº 6.404/76, com nova redação estabelecida pela Lei 11.941/2009, tem a seguinte composição: 1. Capital Social. 2. Reservas de Capital. 3. Ajustes de Avaliação Patrimonial. 4. Reservas de Lucros. 5. Ações em Tesouraria. 6. Prejuízos Acumulados. 7. Ajustes Acumulados de Conversão. 179O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... 1. O subgrupo Capital Social é composto pelos recursos empregados na empresa por seus sócios, podendo ser na forma de dinheiro ou outro bem, suscetível de avaliação monetária. O montante desses recursos é fixado nos atos que constituem a sociedade e que são traduzidos por duas peças fundamentais: o estatuto social e o contrato social. É comum que esse montante seja alterado ao longo da vida da empresa, seja pela entrada de novos recursos ori- ginários dos seus sócios ou pela incorporação de reservas dos lucros ou de capital registradas em seu patrimônio líquido. Segundo a Lei das Sociedades por Ações, previsto em seu ar- tigo 182, a conta capital social discriminará o total subscrito e, por dedução, a parcela ainda não integralizada. Capital subscrito representa os recursos que foram estabelecidos, nos atos de instituição da entidade, que os sócios aplica- riam na entidade. O capital integralizado representa o total do capital subscrito já entregue pelos sócios à sociedade. Por dedução o capital a subscrever representa a parte que falta ser entregue à entidade do capital subscrito. 2. O subgrupo Reservas de Capital é constituído pelos valores recebidos pela entidade, de seus sócios ou outros participantes do capital (debenturistas com debêntures conversíveis em ações, portadores de bônus de subscrição e de partes beneficiárias). A lei determina, em seu artigo 182, in verbis: § 1º Serão classificadas como reservas de capital as contas que registrarem: a) a contribuição do subscritor de ações que 180 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas ultrapassar o valor nominal e a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapas- sar a importância destinada à formação do capital social, inclusive nos casos de conversão em ações de debêntures ou partes beneficiárias; b) o produto da alienação de partes beneficiá- rias e bônus de subscrição. § 2° Será ainda registrado como reserva de capital o resultado da correção monetária do capital realiza- do, enquanto não-capitalizado. Alguns dos termos aí contidos são desconhecidos, vamos tentar esclarecê-los para facilitar o entendimento, mas isso somente será utilizado em fase mais avançada do cur- so de Ciências Contábeis. 1. Debêntures – São valores mobiliários representa- tivos de dívida de médio e longo prazos que asse- guram a seus detentores (debenturistas) direito de crédito contra a companhia que as emitiu. 2. Debêntures Conversíveis – São aquelas que po- dem ser trocadas por ações da companhia que as emitiu. As condições de conversibilidade devem es- tar descritas na escritura de emissão. 3. Partes Beneficiárias – O art. 46 da Lei 6.404/76 determina que uma companhia pode emitir, a qual- quer tempo, títulos negociáveis, sem valor nominal e estranhos ao capital social, denominados “partes beneficiárias”. Acrescenta em seu § 1º que elas con- ferirão aos seus titulares direito de crédito eventu- al contra a companhia, consistente na participação nos lucros anuais (artigo 190). 181O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... 4. Bônus de Subscrição – Em seu art. 75 a Lei das Sociedades por Ações autoriza que companhias po- derão emitir, dentro do limite de aumento de capi- tal autorizado no estatuto (artigo 168), títulos ne- gociáveis denominados “Bônus de Subscrição”. Em seu parágrafo único define: os bônus de subscrição conferirão aos seus titulares, nas condições cons- tantes do certificado, direito de subscrever ações do capital social, que será exercido mediante apresen- tação do título à companhia e pagamento do preço de emissãodas ações. 5. Capital Autorizado – A Lei nº 6.404/76, em seu art. 168, prevê a possibilidade de que o estatuto de uma companhia possa conter autorização para au- mento do capital social independentemente de re- forma estatutária. Logicamente há nesse artigo ou- tros itens que limitam e regulamentam os limites, os autorizadores e as condições para sua realização. Observações: 1. Os valores auferidos em face dos itens 2, 3 e 4 deverão ser registrados em Reservas de Capital. 2. É comum empresas oferecerem aos seus empregados, executivos, conselheiros etc. opções de ações, normalmen- te a partir de contratos firmados, que dão a esses empre- gados a exercer, ou não, o direito de compra de um de- terminado quantitativo de ações da entidade, por prazo estabelecido em contrato e mediante o cumprimento de algumas condições (resultados, tempo de serviço etc.). Se- 182 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas gundo a Orientação Técnica OCPC 02, emitida pelo CPC, a contabilização dessas opções deve se dar com crédito em conta especial de patrimônio líquido; sugere Ferrari (2016, p. 695) que a denominação dessa conta seria “Opções ou- torgadas reconhecidas”. 3. O subgrupo Ajuste de Avaliação Patrimonial represen- ta uma das maiores mudanças que ocorreram no proces- so de harmonização da contabilidade brasileira. Grandes mudanças ocorreram nas avaliações de ativos e passivos e na evidenciação dos resultados econômicos de uma enti- dade em função de seu estabelecimento, juntamente com outras normas. Tais alterações foram introduzidas na Lei das Sociedades por Ações através da Lei nº 11.638/2007 e confirmadas pela Lei 11.941/2007. A Lei 6.404/76 prevê em seu Art. 182, § 3º, que serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no re- sultado do exercício, em obediência ao regime de compe- tência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valores atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo, nos casos pre- vistos nessa lei ou em normas expedidas pela CVM, com base na competência conferida pelo § 3º do art. 177 dessa mesma lei. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009). Por exemplo, um terreno foi adquirido e registrado pela empresa ao valor de R$ 80.000,00 em janeiro de um deter- minado ano. Ao final desse ano, para fins de fechamento do seu balanço patrimonial, a empresa requereu a especia- listas do mercado imobiliário uma avaliação do preço do referido terreno. Supondo que a avaliação, a preço de mer- cado, indique que o valor do terreno, naquele momento, seja de R$ 85.000,00, teríamos a seguinte contabilização: 183O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... D – Terrenos 5.000,00 C – Ajuste de Avaliação Patrimonial 5.000,00 Caso a avaliação feita demonstrasse um valor de mercado de R$ 78.000,00, teríamos: D – Ajustes de Avaliação Patrimonial 2.000,00 C – Terrenos 2.000,00 No primeiro caso a empresa teve um ganho e no segundo caso teve uma perda, que não foram realizados pelo regi- me da competência. 4. O subgrupo Reservas de Lucros apresenta as diversas reservas que podem se formar em função da destinação do lucro líquido apurado em cada exercício. O § 2º do Art. 178 da Lei das Sociedades por Ações determina que a conta lucros acumulados deverá ter seu saldo destinado e não poderá apresentar saldo no balanço patrimonial. Essa destinação deverá ser dividida entre reservas de lucros e distribuição de dividendos aos acionistas, de acordo com o § 6º do Art. 202 da Lei 6.404/76, podendo uma parte ser utilizada para aumento do capital. Importante destacar que esse impedimento diz respeito ao balanço encerrado ao final do exercício social, não havendo nada que impeça que nas demonstrações intermediárias seja apresentado saldo na conta lucros acumulados. A Lei das Sociedades por Ações trata das diversas reservas de lucros, tais como reserva legal e a reserva estatutária, que pode ser composta por diversos tipos de reserva, tais como reserva para contingências, reserva de lucros a reali- 184 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas zar, reserva de retenção de lucros, reserva para dividendos obrigatórios, também chamada de reserva especial, e a re- serva de incentivos fiscais. Reserva Legal Prevista pelo Art. 193, determina que 5 % do lucro líqui- do serão, antes de qualquer destinação, para a constitui- ção dessa reserva. É obrigatória, se houver lucro. Somente essa reserva é obrigatória, todas as outras podem ou não ser constituídas. Seu limite não poderá ultrapassar 20% do total do capital social realizado corrigido monetariamente (correção que só ocorre em alguns casos especiais). A empresa poderá constituir a reserva relativa ao exercí- cio também caso o seu saldo somado ao das reservas de capital exceder 30% do capital social. Essa reserva tem a finalidade de garantir a integridade do capital social e somente poderá ser utilizada para aumen- to do capital social ou para a compensação de prejuízos. Reservas Estatutárias Os acionistas de uma companhia aberta têm o poder de criar diversos tipos de reservas, desde que as prevejam em seu estatuto, como sugere o nome, e que para cada reserva criada seja feita a indicação, precisa e pormeno- rizada, de sua finalidade; sejam estabelecidos os critérios que determinem qual parcela do lucro será a ela destinado e que, também, estabeleça o limite máximo para a sua acu- mulação, tal qual ocorre com a reserva legal, por exemplo. Dentre as reservas estatutárias mais comuns temos: 185O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... • Reserva para contingências Trata-se de uma das reservas mais utilizadas e deve ser proposta pelos Órgãos de Direção Executiva da Entidade e aprovada pela assembleia de acionistas. Determina a Lei 6.404/76 em seu Art. 195 que sua finalidade é a destinação de parte do lucro buscan- do compensar, em exercício futuro, a diminuição do lucro decorrente de perda julgada provável, cujo va- lor possa ser estimado. A proposta dos órgãos da administração deverá in- dicar a causa da perda prevista e justificar, com as razões de prudência que a recomendem, a constitui- ção da reserva. A reserva será revertida no exercício em que dei- xarem de existir as razões que justificaram a sua constituição ou em que ocorrer a perda. • Reserva de lucros a realizar A Lei das Sociedades por Ações, em seu art. 202, estabelece que uma parte do lucro líquido, ajustado com a formação, e das reservas legais e estatutá- rias e reversão de algumas das reservas estatutá- rias, caso não haja previsão estatutária, 50% desse lucro líquido ajustado deverá ser distribuído aos acionistas da entidade. Ela, porém, autoriza que a assembleia geral dos acionistas determine um per- centual menor, desde que não seja menor do que 25%. A reserva de lucros a realizar é prevista pela Lei das Sociedades por Ações, em seu art. 197, e tem o objetivo de postergação do pagamento dos dividendos obrigatórios a serem distribuídos sobre os lucros ainda não realizados que não se espera 186 ......................................................................................................................................................................................................................Demonstrações contábeis básicas que sejam transformados em moeda no decorrer do próximo exercício social. Essa reserva somente poderá ser utilizada para o pagamento do dividendo mínimo obrigatório a me- nos que seja absorvida para a cobertura de prejuí- zos acumulados. • Reserva de retenção de lucros Conforme determina o art. 196 da Lei 6.404/76, a assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos da administração, deliberar reter parcela do lucro lí- quido do exercício prevista em orçamento de capital por ela previamente aprovado. O § 1º do artigo em tela impõe que o orçamento, submetido pelos órgãos da administração com a justificação da retenção de lucros proposta, deverá compreender todas as fontes de recursos e aplica- ções de capital, fixo ou circulante, e poderá ter a duração de até 5 (cinco) exercícios, salvo no caso de execução, por prazo maior, de projeto de inves- timento. Prevê o § 2º do mesmo artigo que o orça- mento poderá ser aprovado pela assembleia geral ordinária que deliberar sobre o balanço do exercício e revisado anualmente, quando tiver duração supe- rior a um exercício social. (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001). • Reserva de Incentivos Fiscais A assembleia geral poderá, por proposta dos órgãos de administração, destinar para essa reserva a par- cela do lucro líquido decorrente de doações ou sub- venções governamentais para investimentos, que 187O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... poderá ser excluída da base de cálculo do dividendo obrigatório (inciso I do caput do art. 202 dessa lei). (Incluído pela Lei nº 11.638, de 2007). • Reserva para dividendos obrigatórios Quando a companhia não dispõe de meios para fazer o pagamento de dividendos obrigatórios, a parte não distribuída dos dividendos formará uma reserva que somente poderá ser utilizada para pa- gamento de dividendos, a menos que seja absorvida para a cobertura de eventuais prejuízos futuros. 5. O subgrupo Ações em Tesouraria ocorre em função de que uma empresa pode adquirir no mercado partes das ações por ela emitidas e mantê-las em tesouraria por ra- zões estratégicas. Esse ato tem amparo na Lei das Socieda- des por Ações em seu art. 30, reproduzido a seguir: Negociação com as Próprias Ações Art. 30. A companhia não poderá negociar com as próprias ações. § 1º Nessa proibição não se compreendem: a) as operações de resgate, reembolso ou amor- tização previstas em lei; b) a aquisição, para permanência em tesouraria ou cancelamento, desde que até o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital social, ou por doação; c) a alienação das ações adquiridas nos termos da alínea b e mantidas em tesouraria; d) a compra quando, resolvida a redução do ca- pital mediante restituição, em dinheiro, de parte do valor das ações, o preço destas em bolsa for inferior ou igual à importância que deve ser restituída. § 2º A aquisição das próprias ações pela com- panhia aberta obedecerá, sob pena de nulidade, às 188 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas normas expedidas pela Comissão de Valores Mobili- ários, que poderá subordiná-la à prévia autorização em cada caso. § 3º A companhia não poderá receber em garan- tia as próprias ações, salvo para assegurar a gestão dos seus administradores. § 4º As ações adquiridas nos termos da alínea b do § 1º, enquanto mantidas em tesouraria, não terão direito a dividendo nem a voto. § 5º No caso da alínea d do § 1º, as ações adqui- ridas serão retiradas definitivamente de circulação. O art. 178 da Lei das Sociedades por Ações, em seu § 2º, estabelece que o passivo é composto, conforme o Inciso I, de passivo circulante; segundo o Inciso II, de passivo não circulante; e segundo o Inciso III, de patrimônio líquido. O § 5º do art. 182 prevê que as ações em tesouraria de- verão ser destacadas no balanço como dedução da conta do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição. 6. O subgrupo Prejuízos Acumulados como já visto na definição do subgrupo Reservas de Lucros, quando a enti- dade apura lucro ao final do exercício, após possíveis pre- juízos acumulados, deverá destinar o lucro restante antes do encerramento do balanço patrimonial, de forma que a conta Lucros Acumulados não poderá ter saldo no balanço patrimonial de encerramento do exercício (nas demonstra- ções intermediárias não há nenhum impedimento). Se o resultado apurado no exercício for prejuízo este será transferido para a conta Prejuízos Acumulados. 189O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... O art. 189 em seu parágrafo único determina que o pre- juízo do exercício será obrigatoriamente absorvido pelas reservas de lucros e pela reserva legal, nessa ordem. Ponto importante: a reserva Legal é uma reserva de lucro, mas a lei determina que é a última a ser utilizada para a compen- sação de prejuízos acumulados. No exercício seguinte, caso seja apurado lucro, serão de- duzidos, antes de qualquer participação, os prejuízos acu- mulados e a provisão para o Imposto sobre a Renda. 7. O subgrupo Ajustes Acumulados de Conversão, se- gundo o Pronunciamento CPC 02(R2), o Pronunciamento CFC TG-02(R1) e a Deliberação CVM nº 640/2010, trata, entre outras coisas, dos Ajustes Acumulados de Conver- são. Segundo Ferrari (2016, p. 696): “É uma das contas do Patrimônio Líquido que compõem os ‘Outros Resultados Abrangentes’, isto é, valores que alteram o PL sem, no en- tanto, alterar o resultado.” Nela são registradas as variações cambiais de investimen- tos no exterior, em coligadas, controladas ou controladas em conjunto, além dos instrumentos de proteção (hedge) utilizados para garantir esses investimentos. Segundo a OCPC 02 (Orientação Técnica), essa conta será reconhecida no resultado apenas quando da baixa do re- ferido investimento. Essa não é uma conta de reserva, ela tem funcionalidade semelhante à conta Ajuste de Avalia- ção Patrimonial, podendo ter saldo devedor ou credor. Dessa forma, visto item por item um balanço patrimonial completo teria a seguinte apresentação: 190 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas Ativo Passivo Circulante Caixa Bancos Duplicatas a Receber Estoques Circulante Fornecedores a pagar Impostos a pagar Salários a pagar Não circulante Não Circulante Financiamentos a pagarRealizável a Longo Prazo Empréstimos a receber Investimentos Participações em outras entidades Imobilizado Móveis de uso Móveis e Utensílios Máquinas e Equipamentos Patrimônio Líquido Capital Social Reservas de Capital Reservas de lucro Ações em Tesouraria (redutora) Ajustes de Avaliação Patrimonial (+/-) Prejuízos Acumulados (redutora) Ajustes Acumulados de Conversão (+/-) Intangível Marcas e patentes Softwares Concessões Ao final do capítulo III foi apresentado um exemplo de apuração de resultados do exercício que, após sua conclu- são, resultou no seguinte balancete: Contas Natureza do Saldo Devedor Credor Capital 300.000,00 Banco c/ Movimento 244.000,00 Máquinas e equipamentos50.000,00 Móveis e utensílios 30.000,00 Fornecedores a pagar 80.000,00 Estoques 40.000,00 Clientes a receber 80.000,00 Salários a Pagar 10.000,00 191O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... Contas Natureza do Saldo Devedor Credor Aluguéis a Pagar 5.000,00 Condomínio a Pagar 2.000,00 Contas a pagar 6.000,00 I.R. a Pagar 6.150,00 CSLL a Pagar 3.690,00 Lucros Acumulados 31.160,00 TOTAL 444.000,00 444.000,00 Utilizando como exemplo o mesmo balancete de verifica- ção e, hipoteticamente, considerando que ele se refira ao mês de novembro de 2015, com o intuito de completar as contas para apresentar um balanço patrimonial com con- teúdo em boa quantidade dos grupos e subgrupos, vamos imaginar que em dezembro e no fechamento do balanço patrimonial ocorreram as seguintes operações. 1. A empresa Marônio adquiriu participação perma- nente em outra empresa, denominada XPTO Ltda., comprando 60% de seu patrimônio líquido pagando pela operação o valor justo de R$ 100.000,00, à vista. 2. A empresa Marônio emprestou à empresa XPTO a importância de R$ 20.000,00 para aliviar as dificul- dades imediatas de caixa que a XPTO tinha naquele momento, sem prazo definido para pagamento. 3. A Marônio adquiriu, a prazo, software para ges- tão de suas operações no valor de R$ 20.000,00. 4. A Marônio adquiriu máquinas e equipamentos, com financiamento a longo prazo, com 3 anos de 192 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas carência para início do pagamento no valor de R$ 200.000,00. 5. 5% do lucro líquido apurado foi destinado à reser- va legal, no valor de R$ 1.558,00. 6. A Marônio adquiriu ações de uma determinada companhia, no mercado financeiro, e as classificou como investimentos temporários, no valor de R$ 10.000,00. O valor justo dos referidos títulos foram avaliados ao final do exercício em R$ 10.800,00. 7. Em função de previsão de prejuízos no próximo exercício em face da retração da economia a direção da empresa propôs, e a assembleia dos acionistas aprovou, destinar 10% do lucro para a reserva de contingências. 8. A Marônio emitiu no mercado 1.000 títulos de Partes Beneficiárias e contabilizou R$ 10,00 em cada unidade captada, totalizando R$ 10.000,00. 9. O estatuto da Marônio prevê a distribuição míni- ma de 30% do lucro para os seus acionistas. a. Nesse caso, descontadas as reservas que foram criadas, o dividendo mínimo seria: i. Lucro Líquido 31.160,00 ii. Reserva Legal 1.558,00 iii. Reserva de contingências 3.116,00 iv. Saldo 26.486,00 v. Dividendo mínimo 30% 7.945,80 vi. Saldo 18.540,20 193O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... 10. Face aos projetos de expansão apresentados pela dire- ção, a assembleia aprovou a constituição de reserva de re- tenção de lucros com a utilização do saldo remanescente. A contabilização dessas operações mostraria os seguintes saldos para as contas: 1. Banco c/ Movimentos si 8 244.000 10.000 100.000 1 20.000 2 10.000 6 Participações em outras sociedades 1 100.000 2. Empréstimos a Receber de Controladas 2 20.000 3. Softwares 3 20.000 Títulos a Pagar 20.000 3 4. Máquinas e Equipamentos si 50.000 4 200.000 Financiamentos de Longo Prazo 20.000 4 5. Lucros Acumulados 5 1.558 7 3.116 9 7.945,00 10 18.540,20 si 31.160 Reserva Legal 1.558,00 5 6. Ações disponíveis para venda 6 10.000 8.1 80.000 Ajustes da Avaliação Patrimonial 800 8.1 194 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas 7. Reservas de Contigências 3.116 7 8. Partes Beneficiárias 10.000 8 9. Dividendos a Distribuir 7.945, 80 8 10. Reserva de Retenção de Lucros 18.540,20 10 Após essas operações o balancete de verificação seria as- sim apresentado: Balancete de Verificação Contas Débito Crédito Capital Social 300.000,00 Banco Conta Movimento 124.000,00 Máquinas e Equipamentos 250.000,00 Móveis e Utensílios 30.000,00 Fornecedores a Pagar 80.000,00 Estoques 40.000,00 Clientes a Receber 80.000,00 Salários a Pagar 10.000,00 Aluguéis a Pagar 5.000,00 Condomínios a Pagar 2.000,00 Contas a Pagar 6.000,00 I. R. a Pagar 6.150,00 CSLL a Pagar 3.690,00 195O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... Balancete de Verificação Contas Débito Crédito Participações Outras Sociedades 100.000,00 Empréstimos a Receber de Controladas 20.000,00 Softwares 20.000,00 Títulos a Pagar 20.000,00 Financiamentos a Longo Prazo 200.000,00 Reserva Legal 1.558,00 Ações Disponíveis para Venda 10.800,00 Ajustes de Avaliação Patrimonial 800,00 Reserva de Contingências 3.116,00 Partes Beneficiárias 10.000,00 Dividendos a Distribuir 7.945,80 Reserva de Retenção de Lucros 18.540,20 Total 674.800,00 674.800,00 196 ...................................................................................................................................................................................................................... Demonstrações contábeis básicas O balanço patrimonial, portanto, seria assim apresentado: Companhia Marônio Balanço Patrimonial - Encerrado em 31/12/2015 Ativo Saldo 31/12/2014 31/12/2015 Circulante Banco Conta Movimento Ações Disponíveis para Venda Estoques Clientes a Receber - - - - 124.000,00 10.800,00 40.000,00 80.000,00 Não Circulante Realizável a Longo Prazo Empréstimos a Rec. de Controladas Investimentos Participações em Outras Sociedades Imobilizado Móveis e Utensílios Máquinas e Equipamentos Intangível Softwares - - - - - 20.000,00 100.000,00 30.000,00 250.000,00 20.000,00 Total 674.800,00 197O balanço patrimonial ...................................................................................................................................................................................................................... Passivo Saldo 31/12/2014 31/12/2015 Circulante Salários a Pagar Aluguéis a Pagar Condomínios a Pagar Fornecedores a Pagar Contas a Pagar Títulos a Pagar I.R a Pagar CSLL a Pagar Dividendos a Distribuir - - - - - - - - - 10.000,00 5.000,00 2.000,00 80.000,00 6.000,00 20.000,00 6.150,00 3.690,00 7.945,80 Não Circulante Financiamentos a Longo Prazo 200.000,00 Patrimônio Líquido Capital Social Reservas de Capital Partes Beneficiárias Reservas de Lucros Reserva Legal Reserva de Contingências Reserva de Retenção de Lucros Ajuste de Avaliação Patrimonial - - - - - - 300.000,00 10.000,00 1.558,00 3.116,00 18.540,20 800,00 Total 674.800,00 198 Demonstrações contábeis básicas A DRE Segundo Ferreira (2013,p. 877) a DRE é a exposição orde- nadas das receitas realizadas e das despesas incorridas no exercício, registradas de acordo com o regime da com- petência. Se no balanço patrimonial são evidenciadas apenas contas patrimoniais, na DRE são listadas, em ordem, apenas as contas de resultado. Tomando por base Velter e Missagia (2011, p. 503), é obri- gatória para todas as empresas, independentemente de sua natureza jurídica, prevista pelo Art. 187 da Lei das So- ciedades por Ações e Art. 1.189 da Lei nº 10.406/2002 (Có- digo Civil), que a ele se refere como Balanço de Resultado Econômico ou Demonstração da Conta de Lucros e Perdas. O CPC 26 (R1), aprovado pelo CFC através da NBC TG 26 (R3) e pela Deliberação CVM nº 676/11; o CPC 31, aprova- do pelo CFC através da NBC TG 31 (R2) e pela CVM através da Deliberação nº 598/09; e o CPC 41, aprovado pelo CFC através da NBC TG 41 (R1) e pela CVM através da Deli- beração nº 636/10 também aludem à obrigatoriedade da evidenciação da DRE. Com as alterações trazidas pelas Leis nº 11.638/2007 e 11.941/2009 e em consonância com os Pronunciamentos Contábeis citados, foi estabelecida uma nova estrutura para a DRE: 199A DRE Operações Continuadas ou Operações em Continuidade Receitas (segundo o conceito do item 8 do CPC 30(R1) – Receitas). ( - ) Custo dos Produtos, Mercadorias ou Serviços Vendidos (CPV, CMV ou CSV) ( = ) Resultado Bruto (Lucro ou Prejuízo) ( - ) Despesas com Vendas ( - ) Despesas Administrativas ( - ) Despesas Gerais ( - ) Outras Despesas ( + ) Outras Receitas ( + ) Receita de Equivalência Patrimonial ( - ) Despesa de Equivalência Patrimonial ( = ) Resultado Antes das Receitas e Despesas Financeiras ( - ) Despesas Financeiras ( + ) Receitas Financeiras ( = ) Resultado Antes do IR e CSL ( - ) Despesas com IR e CSL (só das operações continuadas) ( = ) Resultado Líquido das Operações Continuadas (Lucro ou Prejuízo Líquido das Operações Continuadas) Operações em Descontinuidade (ou Operações Descontinuadas) ( + ) Resultado Líquido das Operações Descontinuadas (Lucro ou Prejuízo Líquido das Operações Descontinuadas) ( - ) Participações Estatutárias sobre o Lucro (Lei nº 6.404/76, art. 187) ( = ) Resultado Líquido do Exercício (lucro ou prejuízo líquido do exercício) Resultado Básico por Ação (Segundo o CPC 41 – Resultado por Ação) Resultado Diluído por Ação (Segundo o CPC 41 – Resultado por Ação) Fonte: Ferrari (2016, p. 739-740). É bom esclarecer um ponto que tem sido objeto de muita polêmica, o que é normal em ambiente de mudanças, en- tre contabilistas. 200 Demonstrações contábeis básicas Concordo com o Prof. Ed Luiz Ferrari quando afirma que quando ocorrerem divergências entre a Lei das Sociedades por Ações e os Pronunciamentos Técnicos do CPC, aprova- dos pelos diversos órgãos reguladores (no caso das Socie- dades por Ações, a CVM), deve prevalecer a lei, com base nos § 3º e § 5º do Art. 177 da Lei em questão. Pelo Art. 187 da Lei das Sociedades por Ações o início da DRE se apresenta da seguinte forma: Receita Bruta ( - ) Deduções ( = ) Receita Líquida ( - ) CPV e/ou CMV e/ou CSV O CPC 30 (R1), em seu item 8, demonstra com total clare- za que não mais existem as receitas brutas e as receitas líquidas. Há somente um conceito que permanece: o de Receita. Os tributos sobre vendas não recuperáveis (PIS, Cofins) so- bre bens e serviços (ISS) e sobre o valor adicionado (ICMS, PIS e Cofins) recuperáveis) não são benefícios econômicos que fluam para a entidade e não resultam em aumento do Patrimônio Líquido. Portanto, são excluídos da Receita (FERRARI, 2016, p. 741). Essas ocorrências são evidenciadas em Notas Explicativas, tal qual o detalhamento das operações descontinuadas. Como se pode observar, a DRE é montada em um formato de conta aritmética, utilizando exclusivamente contas de resultados. 201Outras demonstrações obrigatórias OUTRAS DEMONSTRAÇÕES OBRIGATÓRIAS Não abordaremos em detalhes neste livro as outras de- monstrações obrigatórias pela Lei das Sociedades por Ações e pelo CPC 26. São elas, além do balanço e da DRE: • Demonstração do Resultado Abrangente. • Demonstração das Mutações do Patrimônio Lí- quido. • Demonstração dos Fluxos de Caixa. • Demonstração do Valor Adicionado. As Notas Explicativas são obrigatoriamente o complemen- to das demonstrações, pois todas são resumidas, sinteti- zadas ao máximo. Ao conjunto das Demonstrações Contábeis deve ser incluí- do o Relatório da Auditoria e o Relatório da Administração. 202 Demonstrações contábeis básicas REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1976. . Lei nº 10.303, de 31 de outubro de 2001. Altera e acrescenta dispositivos na Lei nº 6.404, de 15 de dezem- bro de 1976, que dispõe sobre as Sociedades por Ações, e na Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que dispõe sobre o mercado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Diário Oficial da União, Brasília, 1º nov. 2001. . Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 11 jan. 2002. . Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de 1976, e estende às sociedades de grande porte disposições rela- tivas à elaboração e divulgação de demonstrações finan- ceiras. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2007. . Lei nº 11.941, de 27 de maio de 2009. Altera a legislação tributária federal relativa ao parcelamento ordi- nário de débitos tributários; concede remissão nos casos em que especifica; institui regime tributário de transição [...] e dá outras providências. Diário Oficial da União, Bra- sília, DF, 28 maio 2009. 203 COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Deliberação CVM nº 598, de 15 de setembro de 2009. Aprova o Pronuncia- mento Técnico CPC 31 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que trata de ativo não circulante mantido para venda e operação descontinuada. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 set. 2009. . Deliberação CVM nº 636, de 6 de agosto de 2010. Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 41 do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que trata da determinação e apresentação do resultado por ação. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 ago. 2010. . Deliberação CVM nº 640, de 7 de outubro de 2010. Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 02(R2) do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC sobre efeitos das mu- danças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 out. 2010. . Deliberação CVM nº 676, de 13 de dezembro de 2011. Aprova o Pronunciamento Técnico CPC 26(R1) do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que trata da Apre- sentação das Demonstrações Contábeis. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 dez. 2011. COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS. Orientação OCPC 02: esclarecimentos sobre as demonstrações contá- beis de 2008. Brasília, DF, 2009. . Pronunciamento Técnico CPC 41: resultado por ação: correlação às Normas Internacionais de Contabilida- de – IAS 33. Brasília, DF, 2010. 204 Demonstrações contábeis básicas . Pronunciamento Técnico CPC 02 (R2): efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demons- trações contábeis: correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – IAS 21 (BV2010). Brasília, DF, 2010. . Pronunciamento Conceitual Básico (R1): estrutura conceitual para elaboração e divulgação de relatório con- tábil-financeiro: correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – The Conceptual Framework for Financial Reporting (IASB – BV 2011 Blue Book). Brasília, DF, 2011. . Pronunciamento Técnico CPC 21 (R1): demons- tração intermediária: correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – IAS 34 (IASB – BV 2011). Brasília, DF, 2011. . PronunciamentoTécnico CPC 26 (R1): apresen- tação das demonstrações contábeis: correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – IAS 1 (IASB – BV 2011). Brasília, DF, 2011. . Pronunciamento Técnico CPC 30 (R1): receitas: correlação às Normas Internacionais de Contabilidade IAS 18 (IASB – BV 2012). Brasília, DF, 2012. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Orientação Técnica Geral OTG nº 1.000, de 21 de outubro de 2015. Aprova a OTG 1000 que dispõe sobre modelo contábil para microempresa e empresa de pequeno porte. Brasília, DF, 23 out. 2015. . Resolução CFC n° 1.482, de 20 de março de 2015. Acrescenta o parágrafo 5º ao artigo 1º e altera o caput do artigo 4º da Resolução CFC nº 1.442/2013, que dispõe sobre os critérios para a elaboração dos atos que discipli- 205 nam o exercício das atribuições legais e regimentais dos Conselhos de Contabilidade e dá outras providências. Diá- rio Oficial da União, Brasília, DF, 8 abr. 2015. . NBC TG 02 (R1): efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis. Bra- sília, DF, 2013. . NBC TG 26 (R3): apresentação das demonstrações contábeis. Brasília, DF, 2015. . NBC TG 31 (R3): ativo não circulante mantido para venda operação descontinuada. Brasília, DF, 2015. . NBC TG 41 (R1): resultado por ação. Brasília, DF, 2013. CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO PARANÁ. Informativo de Fiscalização nº 2: demonstrações contá- beis obrigatórias. Curitiba, 18 jun. 2013. Disponível em: <http://www.crcpr.org.br/new/content/publicacao/mai- ling/html/2013_06_17_informativoFiscalizacao. html>. Acesso em: 5 ago. 2016. FERRARI, Ed Luiz. Contabilidade Geral: teoria e mais de 1.000 questões. 14. ed. Niterói: Impetus, 2016. FERREIRA, R. J. Contabilidade básica: teoria e mais de 1.600 questões comentadas. 10. ed. Rio de Janeiro: Ferreira, 2013. VELTER, Francisco; MISSAGIA, Luiz R. Manual de Contabi- lidade: teoria e mais de 650 questões. 5. ed., Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2011. 206 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste livro inicial da contabilidade creio ter sido possí- vel ao leitor entender a importância do estudo das Ciên- cias Contábeis nos dias atuais. Foi possível conhecer uma breve história da evolução e a fixação de alguns de seus principais conceitos, objeto e objetivos. Outros aspectos importantes inicialmente abordados dizem respeito aos usuários da informação contábil e à estrutura conceitual para a elaboração do relatório contábil, este constituin- do um tema muito atual e merecedor de destaque na har- monização das normas internacionais de contabilidade. Também foram inicialmente apontados temas importan- tes, como as possibilidades de mercado de trabalho para o profissional da área contábil e a técnica contábil da es- crituração. Pontos estruturais das Ciências Contábeis também foram abordados no início deste livro: o primeiro contato com a ideia do que seja patrimônio e suas situações possíveis, permeado com o entendimento da ideia de conta e com- plementado com a concepção de um plano de contas, que certamente ajudarão em muito a compreensão da prática contábil. Também foram abordados os princípios contábeis, cujo entendimento pelos alunos tem importância vital no uni- verso contábil. 207 Para que fosse possível colocar os conhecimentos iniciais estudados em prática foram apresentados alguns temas decisivos. A diferença entre atos e fatos administrativos, os livros utilizados para o registro dos fatos adminis- trativos e o primeiro contato com o secular Método das Partidas Dobradas, que se tornou a base da contabilidade desde seu descobrimento até os dias de hoje, e, acredito, assim permanecerá por longo tempo. Apresentados esses pontos essenciais, foi iniciada a apli- cação prática dos conceitos inicialmente apresentados, começando pela técnica da escrituração, praticando-a uti- lizando o livro diário por meio dos razonetes, inicialmente utilizando contas patrimoniais. Ampliando os conceitos de conta contábil, buscando en- tender como é efetuada a apuração dos resultados das en- tidades, foram abordadas as contas de resultado de forma mais aprofundada, adicionando aos registros contábeis os conceitos de reconhecimento de receitas, de apropriação de despesas incorridas e não pagas ou reconhecimento de despesas, balancete de verificação com a posterior apura- ção do resultado do exercício. Finalmente, foram abordadas as demonstrações contábeis obrigatórias, com destaque para o balanço patrimonial e seu detalhamento e para a DRE, com sua nova estrutu- ra. As demais demonstrações foram apenas mencionadas com o apontamento de suas funções básicas. Espero que este conteúdo seja útil na sua caminhada no universo contábil.