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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Os capilares glomerulares filtram 120-180 litros por dia de água plasmática contendo vários solutos, que deverão ser recuperados ou expelidos pelos túbulos. A maioria das grandes proteínas e todas as células são excluídas da filtração por uma barreira físico-química, determinada pelo tamanho dos poros e pela carga eletrostática negativa. A gama de doenças que acometem o glomérulo é extensa, visto que o microambiente que suporta os capilares glomerulares pode ser lesionado de várias maneiras, culminando em lesões bastante distintas. MORFOFISIOLOGIA DOS GLOMÉRULOS Glomérulos são tufos de capilares situados entre as arteríolas aferentes e as arteríolas eferentes. Esses capilares estão dispostos em lóbulos e são sustentados por pedículos formados por células mesangiais e por matriz extracelular. A membrana dos glomérulos é formada por 3 camadas estruturais: ❖ Uma camada de células endoteliais, que reveste a superfície mais interna do capilar. ❖ Uma membrana basal, constituída por uma rede de proteínas matriciais. ❖ Uma camada de células epiteliais, que circunda a superfície mais externa do capilar e recobre a superfície mais interna da Cápsula de Bowman. As células epiteliais estão ligadas à membrana basal por prolongamentos longos, conhecidos como podócitos. Essa membrana tem permeabilidade seletiva, ou seja, possibilita que água e que partículas pequenas (eletrólitos e moléculas dissolvidas, inclusive glicose e aminoácidos) deixem o sangue e entrem no Espaço de Bowman, ao mesmo tempo que impedem que partículas maiores (proteínas plasmáticas e células sanguíneas) saiam do sangue. DOENÇA GLOMERULAR Glomerulonefrite é um processo inflamatório que envolve as estruturas glomerulares. A glomerulonefrite pode ser um distúrbio primário, no qual uma anormalidade glomerular é o único problema existente, ou pode ser uma condição secundária, na qual uma anormalidade glomerular resulta de uma outra doença. ETIOLOGIA DA LESÃO GLOMERULAR Os agentes ou eventos causadores de lesão glomerular incluem mecanismos imunológicos, mecanismos não imunológicos e mecanismos hereditários. Muitos casos de doença glomerular primária e de doença glomerular secundária, provavelmente, têm origem imune. Embora várias doenças glomerulares sejam suscitadas por eventos imunológicos, inúmeros estressores não imunológicos metabólicos (diabetes), hemodinâmicos (hipertensão arterial) e tóxicos (drogas ilícitas e fármacos), podem ocasionar uma lesão glomerular. Doenças glomerulares hereditárias, como uma Síndrome de Alport, apesar de, relativamente, raras, são uma importante categoria de doença glomerular, por conta da sua associação com uma perda progressiva da função renal e com sua transmissão para futuras gerações. PATOGÊNESE DA LESÃO GLOMERULAR 2 tipos de mecanismos imunes foram implicados na patogênese da doença glomerular: ❖ Lesão resultante de anticorpos que reagem com antígenos glomerulares fixos ou com antígenos depositados dentro do glomérulo. ❖ Lesão resultante de vários complexos (antígenos-anticorpos) circulantes retidos na membrana glomerular. Os antígenos responsáveis pelo desenvolvimento da reação imune podem ter origem endógena, como autoanticorpos contra o DNA no LES, ou podem ser exógenos, como os antígenos da membrana na glomerulonefrite pós-estreptocócica. Em muitos casos, a origem do antígeno não é conhecida. As alterações glomerulares podem ser: ❖ Difusas -> envolvendo todos os glomérulos e todos os seus componentes. ❖ Focais -> quando apenas glomérulos são afetados. APG 19 - SÍNDROME NEFRÍTICA Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Segmentares -> quando há envolvimento apenas de determinado segmento de cada glomérulo. ❖ Mesangiais -> quando as células mesangiais são afetadas. As alterações celulares que ocorrem na doença glomerular aumentam as contagens finais de células inflamatórias (proliferativas ou hipercelulares), causam um espessamento da membrana basal (membranosa) e acarretam alterações dos componentes não celulares do glomérulo (esclerose e fibrose). AUMENTO DAS CÉLULAS Caracteriza-se por 1 ou mais das seguintes alterações: ❖ Proliferação das células endoteliais ou das células mesangiais. ❖ Infiltração dos leucócitos (neutrófilos, monócitos e linfócitos). ❖ Formação de crescentes no Espaço de Bowman. ESPESSAMENTO DA MEMBRANA BASAL Consiste em deposição de material acelular denso na superficie endotelial e na superfície epitelial da membrana basal, ou dentro da própria membrana. ESCLEROSE Aumento da quantidade de material extracelular em tecidos mesangiais, tecidos subendoteliais ou tecidos subepiteliais do glomérulo. FIBROSE Consiste na deposição de fibras de colágeno. TIPOS DE DOENÇAS GLOMERULARES As manifestações clínicas dos distúrbios glomerulares, geralmente, são classificadas em 5 grupos: ❖ Síndromes Nefríticas ❖ Glomerulonefrite rapidamente progressiva ❖ Síndrome Nefrótica ❖ Distúrbios assintomáticos do sedimento urinário ❖ Glomerulonefrite crônica As síndromes nefríticas desencadeiam uma resposta inflamatória proliferativa, enquanto uma síndrome nefrótica aumenta uma permeabilidade do glomérulo. Como uma maioria das doenças glomerulares pode causar uma síndrome nefrítica e uma síndrome nefrótica mistas, o diagnóstico definitivo, geralmente, depende de biópsia renal. SÍNDROME NEFRÍTICA Síndrome nefrítica aguda é o correspondente clínico da inflamação glomerular aguda. Em sua forma mais grave, caracteriza-se por início súbito de hematúria, graus variáveis de proteinúria, redução da TFG, oligúria e sinais de disfunção renal. As síndromes nefríticas agudas se manifestam, classicamente, com hipertensão, hematúria, cilindros hemáticos, piúria e proteinúria leve ou moderada. O dano inflamatório extenso dos glomérulos causa uma queda da TFG e, por fim, produz sintomas urêmicos, com retenção de sal e de água, resultando em edema e em hipertensão. EPIDEMIOLOGIA A epidemiologia da síndrome nefrítica varia, de forma considerável, de acordo com a glomerulopatia causadora. De forma geral, a mais prevalente é a glomerulonefrite pós-estreptocócica, predominando na população masculina dos 6-10 anos. Entretanto, a faixa etária mais prevalente depende da doença específica, variando entre a 1ª década de vida e após os 50 anos. ETIOLOGIA É causada por processos inflamatórios, que obstruem os lúmens dos capilares glomerulares e lesam uma parede capilar. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Com essa lesão da parede capilar, as hemácias entram na urina, causando alterações hemodinâmicas e reduzindo uma TFG. ❖ Um acúmulo extracelular de líquidos, com hipertensão e com edema, ocorre em consequência de uma TFG reduzida e de uma reabsorção tubular aumentada de sal e de água. BACTÉRIAS A etiologia é composta, principalmente, por agentes infecciosos, como bactérias estreptocócicas. Além disso, uma endocardite que é causada por Staphylococcus aureus e por Streptococcus viridans, também, pode acarretar uma síndrome nefrítica. IMUNOCOMPLEXOS Também, pode ser causada pela deposição de imunocomplexos em doenças autoimunes, como LES, nefropatia por IgA e pelo efeito de anticorpos circulantes direcionados contra uma membrana basal glomerular, como na Síndrome de Goodpasture. LESÃO DIRETA A lesão direta pela ativação de leucócitos na vigência de ANCA, também, pode levar à síndrome nefrítica. FISIOPATOLOGIA Mesmo com patogênese variável, uma lesão glomerular resultante ocorre, principalmente, por mecanismo imunomediado, que pode ocorrer por: ❖ Deposição de imunocomplexos circulantes pré-formados. ❖ Formação de complexos imunes in-situ. ❖ Reações anti-MBG. ❖ Pauci-imune. LESÃO SUBEPITELIAL (MBG) Maior deposição de complexos com carga positiva e detamanho menor, que desencadeiam uma resposta inflamatória mais branda, com um pequeno infiltrado celular, mas com grande alteração na permeabilidade e com maior proteinúria. LESÃO SUBENDOTELIAL Maior deposição de complexos de carga negativa e de maior tamanho, desencadeando uma resposta inflamatória com infiltrado de leucócitos e de plaquetas, com uma liberação hematogênica de mediadores inflamatórios. Depois da deposição do imunocomplexo, ocorre uma ativação de complemento, com quimiotaxia de células inflamatórias, como neutrófilos, monócitos e linfócitos T, que auxiliam na ativação de macrófagos. Essas células, junto com as células mesangiais ativadas, produzem proteases, agentes oxidantes, citocinas e interleucinas, além de haver uma ativação dos fatores de coagulação, responsáveis pelos depósitos de fibrina. De início, o infiltrado é celular. Posteriormente, há proliferação do endotélio e das células mesangiais, em decorrência da liberação de fatores de crescimento no local. ❖ Quando tal processo ocorre de maneira suficientemente intensa, pode ocorrer uma formação de crescentes, que são estruturas no formato de lua crescente, em resposta à ruptura do endotélio, ao extravasamento de fibrina e aos elementos inflamatórios dentro do Espaço de Bowman, onde fibroblastos iniciam uma produção de matriz extracelular e uma crescente deixa de ser celular e começa ser fibrosa. Em função do infiltrado inflamatório e da proliferação das células residentes, o fluxo plasmático e uma taxa de filtração glomerular caem. Isso se agrava com uma liberação de substâncias vasoconstritoras, como leucotrienos, tromboxanos, endotelinas e PDGF, que acabam predominando em relação às vasodilatadoras, como NO e prostaciclinas. ❖ Além disso, decorrente dessa queda de filtração, há um aumento do volume do líquido extracelular, ocasionando edema e hipertensão. Ocorrem hemácias dismórficas (passagem estreita na fenda de filtração), leucócitos e proteinúria subnefrótica (lesão inflamatória na parede do capilar). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Pacientes, frequentemente, apresentam quadro nefrítico caracterizado pela diminuição da TFG, azotemia, oligúria, hipertensão arterial e sedimento urinário ativo. Os pacientes podem notar urina escura, esfumaçada ou cor de Coca-Cola, associada com um sedimento urinário ativo, que é composto de eritrócitos, de leucócitos e de vários tipos de cilindros, incluindo cilindros eritrocitários. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Embora muitos pacientes apresentem proteinúria, às vezes até na faixa nefrótica, uma maioria apresenta graus menores de albuminúria, especialmente, quando uma taxa de filtração glomerular está muito reduzida. DIAGNÓSTICO Pacientes que apresentem um edema, hipertensão, hematúria, acompanhadas ou não de alteração da função renal, devem ser investigados quanto à presença de glomerulopatia. Inicialmente, essa investigação consiste em um exame de urina I, acompanhado de creatinina sérica. A presença de proteinúria, hematúria ou cilindrúria favorece o diagnóstico de lesão glomerular. ❖ A ocorrência de hematúria, especialmente, macroscópica, obriga uma abordagem dos possíveis diagnósticos diferenciais, como doenças neoplásicas do trato urinário e litíase renal. ❖ O achado de hematúria dismórfica direciona para uma investigação glomerular. Outro diagnóstico diferencial importante é pielonefrite aguda. ❖ Nesses casos, a clínica de disúria e de polaciúria, associada com um exame físico com Sinal de Giordano positivo, corrobora para uma hipótese de pielonefrite aguda, confirmada pela urocultura. BIÓPSIA RENAL A biópsia renal é um procedimento simples, normalmente, guiado por ultrassonografia e que é realizado por nefrologistas, urologistas e radiologistas. Os principais riscos são: sangramentos locais e regionais, devendo- se suspender previamente qualquer medicação que possa interferir na hemostasia (anti-agregantes plaquetários e anticoagulantes) e realizar um coagulograma antes do procedimento. Se tratando de glomerulopatias, é importante que seja realizado um diagnóstico morfológico, para uma tomada de decisões terapêuticas. 2 situações especiais dispensam o diagnóstico histológico por biópsia renal: ❖ Casos de síndrome nefrótica pura em crianças. ❖ Síndrome nefrítica pós-estreptocócica. A principal hipótese diagnóstica é a doença por lesões mínimas, esperando-se que haja complemento sérico normal, ausência de hematúria e de hipertensão, além de boa resposta ao corticosteroide. A hipótese de glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica se confirma com complemento sérico consumido inicialmente, com posterior recuperação, além do achado sorológico de infecção prévia por estreptococo, com melhora clínica espontânea, em cerca de 2 semanas, e o tratamento apenas sintomático. Indicações de biópsia renal: ❖ Anúria/oligúria importante por mais de 72hs. ❖ Proteinúria nefrótica por mais de 4 semanas. ❖ Hipertensão/hematúria macroscópica por mais de 6 semanas. ❖ C3 baixo por mais de 8 semanas. ❖ Azotemia acentuada/prolongada. ❖ Evidência de GNRP ou de doenças sistêmicas. ABORDAGEM CLÍNICA E LABORATORIAL Buscar evidências de doenças sistêmicas que possam evoluir com dano glomerular. ❖ As principais doenças para serem excluídas são: LES, doenças virais (hepatite B e C, além de HIV), infecções subagudas, infecções crônicas bacterianas (endocardite, sífilis e hanseníase), doenças autoimunes, neoplasias ginecológicas, neoplasias do trato gastrointestinal e neoplasias hematológicas. GLOMERULOPATIAS ASSOCIADAS À SÍNDROME NEFRÍTICA GLOMERULONEFRITE P ÓS-INFECCIOSA AGUDA ETIOLOGIA Em geral, a glomerulonefrite pós-infecciosa aguda ocorre depois da infecção por algumas cepas de estreptococos beta-hemolíticos do grupo A, sendo causada pela deposição de imunocomplexos de anticorpos e de antígenos bacterianos. Também, pode ocorrer depois de infecções por outros microrganismos, como estafilococos, vírus (vírus da hepatite) e vários parasitas. Embora essa doença seja encontrada, principalmente, nas crianças, todas as faixas etárias podem ser afetadas. PATOGENIA Caracteriza-se por crescimento difuso e por hipercelularidade dos glomérulos, que é causada por infiltração de leucócitos (neutrófilos e monócitos) e pela proliferação das células endoteliais e das células mesangiais. Há edema das células endoteliais e, com isso, uma combinação de proliferação, edema e infiltração por leucócitos fecha os lúmens dos capilares glomerulares. Além disso, pode haver edema e inflamação do interstício. Por fim, os túbulos, comumente, contêm hemácias. Nas primeiras semanas, um teste de imunofluorescência, geralmente, mostra depósitos granulares de IgG e do componente C3 do complemento no mesângio e ao longo da membrana basal. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA QUADRO CLÍNICO Os casos clássicos começam depois de uma infecção estreptocócica 7-12 dias antes, que é o intervalo necessário à produção dos anticorpos. ❖ Piodermite -> 2-6 semanas. ❖ Faringite -> 1-3 semanas. Em geral, a infecção primária afeta a faringe, mas a pele, também, pode ser afetada. Uma das primeiras manifestações clínicas é oligúria, que ocorre à medida que uma TFG diminui. Proteinúria e hematúria são consequentes do aumento da permeabilidade das membranas dos capilares glomerulares. As substâncias na urina destroem as hemácias e o aparecimento de uma urina marrom-escura pode ser o 1º sinal dessa síndrome. A retenção de sódio e de água causa edema (principalmente, da face e das mãos) e hipertensão. Entre as anormalidades laboratoriais significativas, observam-se um aumento dos títulos de anticorpo anti-estreptocócico (ASO), uma redução das concentrações séricas de C3 e de outros componentes do sistema complemento, além deuma formação de crioglobulinas, que são imunocomplexos grandes, no soro. GLOMERULONEFRITE RAPIDAMENTE PROGRESSIVA Glomerulonefrite rapidamente progressiva é uma síndrome clínica, que se caracteriza por sinais e sintomas de lesão glomerular grave, sem uma causa específica determinável. Como seu nome sugere, esse tipo de glomerulonefrite é rapidamente progressivo, em geral, no intervalo de alguns meses. ETIOLOGIA Apresenta 3 etiopatogenias distintas: ❖ Anti-MBG -> reação de autoanticorpos, que se dirigem ao colágeno IV da MBG e, eventualmente, para o pulmão (devido ao endotélio pulmonar fenestrado). ❖ Imunocomplexos -> nefropatia por IgA e púrpura de Henoch- Schonlein (PHS). ❖ Pauci-imune -> está relacionada com anticorpos circulantes ANCA, que são produzidos por linfócitos T, que interagem com antígenos PR3 e MPO de neutrófilos atraídos para uma lesão vascular, sendo uma característica das doenças que promovem vasculite sistêmica. Pode ser causada por algumas doenças imunes, condições sistêmicas e patologias limitadas aos rins. ❖ Entre as doenças associadas, estão distúrbios imunes complexos, como LES e vasculites de pequenos vasos, além de uma doença que é conhecida como Síndrome de Goodpasture. ! É predominante em indivíduos do sexo masculino com idade média entre 50 e 60 anos. Síndrome de Goodpasture -> é uma forma rara e agressiva, causada por anticorpos dirigidos contra as membranas basais dos glomérulos (MBG) e dos alvéolos. Os anticorpos anti-MBG têm uma reatividade cruzada com uma membrana basal dos alvéolos pulmonares e são responsáveis pela síndrome de hemorragia pulmonar associada à insuficiência renal. ❖ A alteração histopatológica típica causada por anticorpos anti- MBG é a coloração linear difusa das membranas basais para IgG. A etiologia dessa síndrome é desconhecida, embora tenham sido implicadas algumas infecções pelo vírus influenza, exposição aos hidrocarbonetos solventes (encontrados em tintas e em corantes), vários fármacos e câncer. Acredita-se que tenha predisposição genética, mas isso não está comprovado. PATOGENIA A doença consiste em proliferação focal e segmentar das células glomerulares, além de recrutamento de monócitos e de macrófagos, com formação de estruturas com configuração de crescentes, que fecham o Espaço de Bowman. Tem como lesão histológica característica a formação de crescentes em mais de 50% dos glomérulos, com rápida e intensa perda da função renal. Além disso, há uma correlação clínica entre o número de crescentes e a gravidade da doença. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA QUADRO CLÍNICO Sua manifestação clínica se dá através de hematúria, cilindrúria, hemácias dismórficas, edema, febre, astenia, perda de peso e dor articular. Nesses casos, a creatinina pode se encontrar elevada já nas primeiras consultas. GLOMERULONEFRITE PÓS-ESTREPTOCÓCICA EPIDEMIOLOGIA E ETIOLOGIA Acomete mais os homens, com idade variando entre 6 e 10 anos, podendo, no entanto, incidir em qualquer faixa etária. Em geral, os adultos acometidos são portadores de comorbidades, como diabetes e alcoolismo. PATOGENIA À microscopia óptica, a lesão glomerular é difusa, atingindo todos os glomérulos igualmente. Os glomérulos são grandes e hipercelulares, com luz capilar parcial ou completamente obstruída. Glomérulo hipercelular com exsudato de neutrófilos. Na microscopia de imunofluorescência, observam-se, na grande maioria dos casos, depósitos de IgG ou de C3, com padrão granular em alças capilares e no mesângio. Depósitos de IgM e de IgA são encontrados mais raramente. QUADRO CLÍNICO Em geral, o aparecimento do quadro clínico é precedido, em 7-21 dias, por infecção estreptocócica (escarlatina, piodermite ou infecção de vias respiratórias superiores). A apresentação clínica é bastante variável e as principais síndromes clínicas apresentadas são: síndrome nefrítica aguda, síndrome nefrítica rapidamente progressiva e glomerulonefrite assintomática subclínica. Os quadros assintomáticos são 4-9x mais comuns que os sintomáticos. Com frequência, o paciente apresenta início súbito de edema (pré- tibial ou bipalpebral, de leve à moderada intensidade), hematúria macroscópica (quando é intensa, pode cursar com disúria), hipertensão arterial (leve) e, eventualmente, dor lombar. DIAGNÓSTICO Em 2/3 dos casos, é possível identificar uma presença de marcadores de infecção pregressa por estreptococos, como anti- estreptolisina O, anti-hialuronidase, anti-estreptoquinase e anti- DNase. A biópsia renal, frequentemente, mostra crescentes glomerulares ou necrose tubular aguda associados. O exame de urina revela hematúria, com hemácias dismórficas, cilindros hemáticos, leucocitúria e cilindros leucocitários. A glomerulonefrite pós-estreptocócica tem bom prognóstico, de modo geral. A maior parte dos pacientes apresenta remissão dos sinais e sintomas de 2-3 semanas após um início do quadro. Normalmente, em 1 ano, a urina I volta ao normal. GLOMERULONEFRITE ASSOCIADA COM INFEC ÇÕES Alguns agentes infecciosos podem ocasionar quadros associados de glomerulonefrites, com deposição de alguns imunocomplexos, principalmente, de IgA. Entre eles, pode-se citar os estafilococos, o Schistosoma mansoni, o HBV e o vírus do HIV. O principal agente envolvido nessa categoria é o estafilococo, que, diferentemente da glomerulonefrite pós-estreptocócica, apresenta um processo ativo de infecção, com antigenemia constante e com estimulação de linfócitos B. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O Staphylococcus aureus está envolvido em 48% dos casos, sendo os pacientes, na maioria, do sexo masculino (66%) e com idade média de 56 anos. O depósito de imunocomplexos ocorre, principalmente, no mesângio (87%) e na região subepitelial (63%). Na maioria dos casos, há consumo de C3 e de C4, mostrando, também, uma ativação da via clássica do complemento. O tratamento corresponde à erradicação do agente infeccioso. O prognóstico é melhor em pacientes sem diabetes e com idade menor que 65 anos, com remissão completa em 56% dos casos. NEFROPATIA POR I MUNOGLOBULINA A Também é conhecida como Nefropatia de Berger e Nefropatia Mesangial primária. EPIDEMIOLOGIA A nefropatia por IgA ocorre em qualquer faixa etária, sendo incomum em pacientes com idade menor que 10 anos e maior que 50 anos. A idade média ao diagnóstico é de 20-30 anos. Há predomínio em homens, sendo incomum em indivíduos de pele negra. ETIOLOGIA Na maioria dos casos, a nefropatia por IgA é primária. Entretanto, o clínico deve estar atento às causas secundárias mais frequentes associadas, como cirrose alcoólica, doença celíaca, dermatite herpetiforme, espondilite anquilosante, hemossiderose pulmonar, colite ulcerativa, Doença de Cohn, psoríase, hanseníase, micose fungoide e infecção pelo HIV. QUADRO CLÍNICO A apresentação clínica mais frequente corresponde com surtos de hematúria macroscópica associada com infecções de vias respiratórias superiores ou com exercício físico. O paciente pode apresentar um quadro de mal-estar generalizado, com dores musculares discretas, acompanhados ou não de disúria. Outra forma comum de apresentação é a síndrome hematúria microscópica e a proteinúria assintomáticas. DIAGNÓSTICO Proliferação de células mesangiais por microscopia óptica e deposição de IgA na imunofluorescência. A hematúria é característica da nefropatia por IgA e ocorre em todos os casos, podendo variar de 6-8 hemácias por campo até incontáveis hemácias. A nefropatia por IgA é diagnosticada pelo encontro de depósitos granulares mesangiais de IgA pela imunofluorescência. Pode estar isolada ou, mais frequentemente, associada com depósitos de IgG, IgM e C3. GLOMERULONEFRITE MEMBRANOPROLIFERATIVA Caracteriza-se por alteração proliferativa mesangial, com inflamaçãoda alça capilar. Diferentemente das outras glomerulopatias, é secundária com outros processos sistêmicos, na grande maioria dos casos, caracterizando-se pelo consumo persistente de complemento. A GNMP é uma das glomerulonefrites que mais evoluem para insuficiência renal crônica, relatando-se uma sobrevida renal, em 10 anos, entre 54% e 64%. ETIOLOGIA Na GNMP tipo I, até 80% dos casos estão associados com uma doença de natureza infecciosa, merecendo destaque para hepatite C. Assim, no diagnóstico de GNMP, deve-se pesquisar as doenças que, frequentemente, se associam com essa patologia, como hepatite B, hepatite C, HIV, malária, endocardite, LES, leucemias e linfomas. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico tem bastante variação. A síndrome nefrótica é frequente e ocorre entre até 70% dos casos, enquanto cerca de 20% se apresentam com síndrome nefrítica. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA VASCULITE POR IGA (PÚRPURA DE HENOCH -SCHONLEIN) A vasculite por IgA é caracterizada por vasculite de pequenos vasos, com artralgias, púrpura cutânea e sintomas abdominais, bem como GN aguda proliferativa. QUADRO CLÍNCICO Incluem achados dermatológicos (erupção macular que se aglutina em lesões purpúricas em tornozelos, pernas, braços e nádegas), gastrointestinais (cólicas, diarreia, náuseas, vômitos, melena e diarreia com sangue), reumatológicos (artralgias de joelhos, punhos e tornozelos) e renais. DIAGNÓSTICO Assim como na nefropatia por IgA, os pacientes e seus familiares apresentam níveis elevados de moléculas de IgA circulantes, que são deficientes em galactose. As biópsias renais são idênticas às observadas na nefropatia por IgA. NEFRITE LÚPICA A nefrite lúpica é uma complicação comum e grave do lúpus eritematoso sistêmico (LES) e, ainda mais grave, em adolescentes negras. A nefrite lúpica resulta do depósito de imunocomplexos circulantes que ativam a cascata do complemento, levando à lesão mediada pelo complemento, infiltração de leucócitos, ativação de fatores pró coagulantes e liberação de várias citocinas. O sinal clínico mais comum de doença renal é a proteinúria, contudo, é possível observar uma presença de hematúria, hipertensão, graus variáveis de disfunção renal e sedimento urinário ativo com cilindros hemáticos. As manifestações extra-renais do lúpus são importantes para estabelecer um diagnóstico seguro de lúpus sistêmico, pois as anormalidades sorológicas não são diagnósticas, ainda que sejam comuns na nefrite lúpica. GLOMERULONEFRITE MESAN GIOPROLIFERATIVA Caracteriza-se pela expansão do mesângio, às vezes, associada com uma hipercelularidade mesangial, com paredes capilares finas, únicas e contornadas, além de imunodepósitos mesangiais. ETIOLOGIA Pode ser observada na nefropatia por IgA, na malária causada por Plasmodium falciparum, na glomerulonefrite pós-infecciosa em fase de resolução e na nefrite classe II devido ao lúpus. QUADRO CLÍNICO Por ser uma lesão renal imunomediada com depósitos de IgM, C1q e C3, a evolução clínica é variável. Clinicamente, pode manifestar- se com graus variáveis de proteinúria e, muitas vezes, hematúria. Os pacientes com hematúria isolada podem ter uma evolução muito benigna, enquanto aqueles com proteinúria maciça progridem, ocasionalmente, para doença renal crônica.
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