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Indaial – 2021 EmprEEndEdorismo Profª. Liliane de Souza Vieira da Silva 1a Edição inovação E Elaboração: Profª. Liliane de Souza Vieira da Silva Copyright © UNIASSELVI 2021 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: S586i Silva, Liliane de Souza Vieira da Inovação e empreendedorismo. / Liliane de Souza Vieira da Silva – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 176 p.; il. ISBN 978-65-5663-859-1 ISBN Digital 978-65-5663-854-6 1. Criatividade nos negócios. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 330 Olá, acadêmico, vamos iniciar nossa jornada? A partir de agora você vai aden- trar no universo do empreendedorismo e da inovação. No decorrer desta leitura, você vai compreender a importância desses dois temas bem como suas contribuições para economia. Este livro foi construído com o objetivo de apresentar os conceitos, defini- ções, desenvolvimento e difusão dos temas empreendedorismo e inovação, também visa apresentar a inter-relação desses dois temas. Você vai perceber que o empreendedorismo e a inovação são temas indissociáveis, ou seja, mantêm uma relação recíproca em que um depende do outro. O empreendedorismo está para além da criação de uma empresa, significa criar algo novo e útil para o mercado, essa ação é alcançada por meio da inovação, que representa a introdução de um novo método, um novo produto, um novo mercado, uma nova estrutura, responsável por promover uma “destruição criadora” em determinado mercado, essa ação dinâmica é que impulsiona o desenvolvimento econômico. A fim de alcançar tais objetivos, este livro está estruturado da seguinte forma: Na Unidade 1 apresentam-se os conceitos sobre empreendedorismo, suas vertentes, também trata do modelo de negócio com ênfase no Business Model Canvas (BMC). Em seguida, na Unidade 2, estudaremos sobre inovação e inovatividade, vamos aprender sobre Arranjo Produtivo Local (APL), sistema de inovação e os agentes que cooperam na construção de um ambiente de inovação. Na Unidade 3, aprenderemos sobre gestão empreendedora, vamos conhecer os conceitos alusivos às metodologias ágeis, como SCRUM, SAQUADS, SMART, KABAN e Lean Startup. No segundo tópico da Unidade 3, vamos aprender sobre economia do empreendedorismo, economia colaborativa e os desafios e oportunidades que se apresentam na atual era do conhecimento. O conteúdo aqui disposto foi preparado a fim de te auxiliar no esclarecimento de dúvidas, contribuir com a construção do conhecimento, e, claro, acreditamos também que este livro possa te inspirar a empreender. Qualquer dúvida estamos à disposição. Bons estudos! Profª. Liliane de Souza Vieira da Silva APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! SUMÁRIO UNIDADE 1 - EMPREENDEDORISMO E MODELO DE NEGÓCIO ............................................ 1 TÓPICO 1 - EMPREENDEDORISMO ....................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO .................................................................................3 3 EMPREENDEDORISMO FEMININO ................................................................................... 12 4 EMPREENDEDORISMO SOCIAL ....................................................................................... 16 5 CARACTERÍSTICAS DOS NEGÓCIO COM IMPACTOS SOCIAIS – NIS ............................. 19 6 EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO – INTRAEMPREENDEDORISMO ...................... 24 7 EMPREENDEDORISMO VERDE ........................................................................................ 28 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 32 TÓPICO 2 - MODELO DE NEGÓCIO ..................................................................................... 35 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 35 2 MODELO DE NEGÓCIO ..................................................................................................... 35 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................................ 38 AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 39 TÓPICO 3 - CANVAS ............................................................................................................ 43 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 43 2 BUSINESS MODEL CANVAS ............................................................................................ 43 3 PROPOSTA DE VALOR ...................................................................................................... 44 3.1 SEGMENTO DE CLIENTES ..................................................................................................................45 3.2 RELACIONAMENTO COM CLIENTE .................................................................................................46 3.3 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO ...............................................................................................................46 3.4 ATIVIDADE-CHAVE ............................................................................................................................ 48 3.5 RECURSOS PRINCIPAIS ................................................................................................................... 48 3.6 PARCEIRIA-CHAVE ........................................................................................................................... 48 3.7 FONTES DE RECEITA ..........................................................................................................................49 3.8 CUSTO ...................................................................................................................................................50 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 52 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 53 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 56 UNIDADE 2 — EMPREENDEDORISMO INOVAÇÃO E INOVATIVIDADE ............................... 61 TÓPICO 1 — INOVAÇÃO E INOVATIVIDADE ........................................................................ 63 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 63 2 INOVAÇÃO E INOVATIVIDADE ......................................................................................... 63 2.1 IDEIA E INVENÇÃO ...............................................................................................................................70 2.2 CRIATIVIDADE ...................................................................................................................................... 72 2.3 INOVATIVIDADE ................................................................................................................................... 77 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................79 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 80 TÓPICO 2 - TRÍPLICE HÉLICE ............................................................................................ 83 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 83 2 MODELO TRÍPLICE HÉLICE ............................................................................................. 83 2.1 GOVERNO ..............................................................................................................................................85 2.2 UNIVERSIDADE ...................................................................................................................................86 2.3 EMPRESA ..............................................................................................................................................89 RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................................... 91 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 92 TÓPICO 3 - ARRANJO PRODUTIVO LOCAL – (APL) ...........................................................95 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................95 2 APLs E REGIÕES CLUSTERIZADAS .................................................................................95 3 SISTEMAS DE INOVAÇÃO ................................................................................................ 98 3.1 SISTEMA DE INOVAÇÃO ....................................................................................................................98 3.2 INCUBADORAS DE EMPRESAS .....................................................................................................102 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................105 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................108 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................109 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 112 UNIDADE 3 — GESTÃO EMPREENDEDORA ........................................................................117 TÓPICO 1 — ORIENTAÇÃO EMPREENDEDORA .................................................................. 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 119 2 MÉTODOS ÁGEIS ............................................................................................................. 119 2.1 SCRUM ................................................................................................................................................. 124 2.2 SQUADS .............................................................................................................................................. 127 2.3 SMART ................................................................................................................................................. 133 2.4 KANBAN .............................................................................................................................................. 135 RESUMO DO TÓPICO 1 .......................................................................................................138 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................139 TÓPICO 2 - UNIVERSO STARTUP .......................................................................................143 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................143 2 STARTUP .........................................................................................................................143 2.1 STARTUP ENXUTA .............................................................................................................................148 2.2 MÍNIMO PRODUTO VIAVEL – MVP ................................................................................................150 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................154 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................155 TÓPICO 3 - ECONOMIADO EMPREENDEDORISMO ..........................................................159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................159 2 DA ECONOMIA DA GESTÃO PARA A ECONOMIA DO EMPREENDEDORISMO ...............159 2.1 ECONOMIA COLABORATIVA ............................................................................................................ 162 2.2 A NOVA ECONOMIA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES ............................................................... 165 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................... 167 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................170 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................171 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 174 1 UNIDADE 1 - EMPREENDEDORISMO E MODELO DE NEGÓCIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • aprender os conceitos sobre empreendedorismo e inovação; • diferenciar o empresário do empreendedor; • descrever o perfil empreendedor; • reconhecer os tipos de empreendedorismo; • identificar as caracteristicas do empreendedor social; • distinguir o empreendedor do intraempreendedor e os tipos de modelo de negócios; • conhecer o CANVAS; • criar um modelo de negócio com o auxilio do CANVAS. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – EMPREENDEDORISMO TÓPICO 2 – MODELO DE NEGÓCIO TÓPICO 3 - CANVAS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 EMPREENDEDORISMO 1 INTRODUÇÃO Olá acadêmico, foi a partir das últimas décadas que passamos a ouvir com mais frequência o termo empreendedorismo, seja na TV, nas redes sociais, ou em demais veículos de comunicação, o termo vem galgando lugar de destaque. Esse movimento vem sendo fomentado por diversos fatores, como abertura da economia (a partir da década de 1990), criação de projetos governamentais para incentivar a cultura empreendedora e, claro, iniciativas impulsionadas pelo SEBRAE. O crescente interesse pelo tema se deve ao fato do importante papel que os empreendedores exercem na promoção do desenvolvimento econômico, já que a criação de empresas fomenta o desenvolvimento da economia gerando emprego, inovação e o aumento de riqueza (GASPAR, 2001). Este tópico tem como propósito apresentar os conceitos, definições e classificações sobre empreendedorismo, desejo a você uma ótima leitura. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 2 EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO Há décadas, empresários e executivos movimentam a economia global, inaugu- rando empresas, desenvolvendo produtos, mas atualmente as atenções têm se voltado a um grupo denominado empreendedores. Isso se deve ao fato de que a ação empreen- dedora tem sido apontada como responsável pelo desenvolvimento econômico, como consequência não só da geração de emprego e renda, mas, sobretudo, da inovação. Em uma análise histórica pode-se perceber que os conceitos e teorias sobre o empreendedor se alteraram com o tempo, Dornelas (2011, p. 20) sintetiza que: • Idade média: na Idade Média, o termo empreendedor foi utilizado para definir aquele que gerenciava grandes projetos de produção. Esse indivíduo não assumia riscos excessivos, e apenas geren- ciava os projetos, utilizando os recursos disponíveis, geralmente provenientes do governo do país. 4 • Século XVII: os primeiros indícios de relação entre assumir riscos e empreendedorismo ocorreram nessa época, em que o empreendedor estabelecia um acordo contratual com o governo para realizar algum serviço ou fornecer produtos. Como geralmente os preços eram prefixados, qualquer lucro ou prejuízo era exclusivo do empreendedor. • Século XVIII: nesse século, o capitalista e o empreendedor foram finalmente diferenciados, provavelmente devido ao início da industrialização que ocorria no mundo. • Séculos XIX e XX no final do século XIX e início do século XX, os empreendedores foram frequentemente confundidos com os gerentes ou administradores (o que ocorre até os dias atuais), sendo analisados meramente de um ponto de vista econômico, como aqueles que organizam a empresa, pagam os empregados, planejam, dirigem e controlam as ações desenvolvidas na organização, mas sempre a serviço do capitalista. No quadro a seguir, adaptado de Hisrich e Peters (2004) é possível acompanhar o desenvolvimento do tema no decorrer da história, veja seguir. QUADRO 1 – ANÁLISE HISTÓRICA DO DESENVOLVIMENTO DO EMPREENDEDORISMO FONTE: Adaptado de Hisrich e Peters (2004) Na Idade Média, a atividade empreendedora referia-se à ação de um partici- pante ou administrador de grandes projetos de produção e obras. Nesse contexto, o empreendedor não corria risco, pois somente administrava os recursos recebidos e, geralmente, era contratado pelo governo. A ligação do termo empreendedor ao risco desenvolveu-se a partir do século XVII, quando o empreendedor passou a ingressar em um acordo contratual de valor fixo com o governo para desempenhar um serviço ou fornecer produtos predeterminados; assim, o lucro ou prejuízo era do empreendedor (HISRICH; PETERS, 2004). A partir da análise do Quadro 1 é possível observar ainda que independente do período os empreendedores sempre buscaram formas, métodos, tec- nologias que viabilizasse suas ideias. Para os empreendedores, as boas ideias são adquiridas a partir das observa- ções que todos veem, mas que somente os visionários conseguem transformá-las em oportunidades através de dados e informações; o empreendedor é um exímio identifi- cador de oportunidades é uma pessoa curiosa e atenta, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta. 5 Isso nos leva ao conceito apresentado por Shane e Venkataraman (2000) que sin- tetizam que o empreendedorismo é a análise de como, por quem e com que efeitos, as oportunidades para criar bens e serviços futuros são descobertas, avaliadas e exploradas. Vale ressaltar as contribuições do economista Joseph Schumpeter (1883- 1950), comumente aceito como o primeiro autor a associar o empreendedorismo à inovação. Schumpeter reintroduziu a figura do empresário/empreendedor na teoria econômica, ao afirmar que o desenvolvimento econômico não era exógeno ao siste- ma capitalista, e sim fruto da ação de empresários/empreendedores que inovavam, criando produtos, novos mercados, novos métodos de produção etc. (SCHUMPETER, 1985). “Schumpeter não só associou os empreendedores à inovação, mas também mostrou, em sua significativa obra, a importância dos empreendedores na explicação do desenvolvimento econômico” (FILION,1999, p. 7), fortalecendo a ideia de que o em- preendedorismo é fundamental para a promoção do desenvolvimento econômico de uma nação. O que justifica o crescente interesse pelo tema, posto que a criação de empresas fomenta o desenvolvimento das economias diante da criação do emprego, da inovação e do aumento de riqueza, contribuindo com o desenvolvimento e trans- formação da sociedade e o desenvolvimento econômico do país (GASPAR, 2001). Para Schumpeter (apud DORNELAS, 2011, p. 27), “o empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais”. É importante compreendermos que a ação empreendedora está para além da criação de um novo negócio, assim “a essência do empreendedorismo está na percepção e no aproveitamento das novas oportunidadesno âmbito dos negócios, sempre tem a ver com criar uma nova forma de uso dos recursos nacionais, em que eles sejam deslocados de seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações” (SCHUMPETER, 1928 apud FILION,1999). Há diversas formas de empreender, a criação de uma empresa é apenas uma delas, podemos empreender criando novos modelos de negócio, novos produtos, novos layouts, novas formas de fazer as coisas. Você se identifica como empreendedor? Pretende ser um? Faça o teste do consultor Carlos Martins e descubra se possui um perfil empreendedor. Basta clicar em: https://www.carlosmartins.com.br/_ private/testempreendedor2.htm. IMPORTANTE 6 Agora que você já conheceu os conceitos presentes na literatura sobre empreendedorismo, chegou a hora de conhecer os principais autores que desenvolvem trabalhos na área suas tendências e abordagens. Observe o quadro a seguir: Autor Abordagem Conceitual Nota sobre as tendências de cada autor Knight (1921) Analisou os fatores subjacentes ao lucro do empreendedor. Lucro Schumpeter (1936) Enfatizou o papel do empreendedor como impulsionador da inovação e, por conseguinte, do crescimento econômico. Inovação McClelland (1961) Estudou as motivações dos empreendedores quando começam um novo negócio ou desenvolvem negócios existentes. Concluiu que os empreendedores se caracterizam por ter altos níveis de realização (achievement). Motivação e perfil psicológico. Pesquisa baseada nas características. Mayer e Goldstein (1961) Analisaram a performance de 81 empresas durante os primeiros dois anos de vida. Performance/ambiente externo. Collins e Moore (1964) Estudaram histórias pessoais e o perfil psicológico dos empreendedores que criaram pequenas empresas na região de Detroit. Podem não nascer empreendedores. Pode haver um objetivo a perseguir que os torne empreendedores. Nem todos os estudos provaram que os empreendedores tinham características distintivas. Pesquisa baseada nas características. Kirzner (1973) Alerta para um conjunto de pessoas que conseguem identificar oportunidades, prossegui-las e obter lucros. Identificação de oportunidades. Fast (1978) Como novos empreendimentos podem ser desenvolvidos em empresas já existentes, ou de forma mais ampla, como essas empresas podem se tornar mais inovadoras. Empreendedorismo empresarial. QUADRO 2 – EVOLUÇÃO DO TERMO EMPREENDEDORISMO 7 Brockhaus (1980) A propensão para a “tomada de risco” é igual entre empreendedores, gestores e população em geral. Não se nasce empreendedor. Pesquisa baseada nas características. Gartner (1988) Deve-se colocar o foco no comportamento e não nas características. Comportamento. Kanter (1983) Estudos que analisam as estruturas organizacionais e administrativas, como essas geram empreendedorismo interno. Intraempreendedorismo. Burgelman (1973) Processo como as novas ideias são desenvolvidas e sua experimentação e desenvolvimento dentro das grandes empresas. Intraempreendedorismo. Empreendedorismo empresarial. Covin e Slevin (1989) Encontraram uma postura empresarial que relaciona a alta performance de pequenas empresas que operam em ambientes hostis. Empreendedorismo Empresarial. Birch (1987) Empresas orientadas para o crescimento dão grande contribuição para a criação de emprego nos Estados Unidos. Empreendedorismo/criação de emprego. Hannan e Freeman (1984); Aldrich (1999) Algumas organizações estão mais preparadas para competir. Sociólogos organizacionais. Nascimento e morte de empresas/competição. Acs e Audretsch (1990) As pequenas empresas contribuem com percentagem substancial para inovação. Inovações tecnológicas e pequenas empresas. MacMillanet et al. (1987); Sahlman (1992) Analisaram a estrutura e os investimentos das empresas. Recursos/estrutura. Larson (1992) Como empreendedores desenvolvem e utilizam as networks para acessarem a informação, para aumentarem o capital e para aumentarem sua credibilidade. Redes e capital social. 8 Bruderlet et al. (1992) Estudaram 1.984 startups, recorrendo a uma análise multivariada e verificaram que a probabilidade de sobrevivência era maior se tivessem mais empregados, mais capital inicial, mais capital humano e estratégias dirigidas ao mercado nacional. Performance. Bygrave e Timmons (1992) Analisaram, em detalhes, as operações de aplicação e retorno de capital de risco. Análise de fatores de criação de empresas, identificação das oportunidades, procura de informação, formação de equipe, acesso aos recursos e formulação de estratégias. Nesse caso, o principal enfoque é no acesso aos recursos. Palich e Bagby (1995) Comparam os empreendedores aos gestores, atendendo à forma como ambos reagem a situações ambíguas de negócio e concluem que os empreendedores percebem mais as oportunidades do que problemas. Empreendedor diferente de gestor na percepção de oportunidades. Gimeno, Folta, Cooper e Woo (1997) O nível de threshold (começo) é função dos custos de oportunidade, switchingcosts (custos de encerramento) e dos valores pessoais. Performance/permanência nos negócios. Shane e Venkataramann (2000) Exploração de oportunidades. Explorar oportunidades. Stuart (2000) As redes de ligações com entidades reputadas podem aumentar a legitimidade e conduzir a um aumento das vendas. Redes e capital social. FONTE: Sarkar (2008 p. 43-45) Observa-se que diversas áreas de estudos (economia, sociologia, psicologia) contribuíram com a definição do tema, e que os conceitos e teorias sobre o empreende- dorismo se alteram com tempo. 9 Agora vamos responder a uma das perguntas feitas no início deste tópico, se todo empresário é também um empreendedor. Aprofundando esse debate vamos di- ferenciar as atividades de um administrador/gerente das atividades executadas pelo empreendedor, destacando as intenções que movem as ações de cada um. Primeira- mente, vejamos, as atividades executadas por gerentes e as atividades desenvolvidas pelos empreendedores. QUADRO 3 – DIFERENÇA NOS SISTEMAS DE ATIVIDADES DE GERENTES E EMPREENDEDORES Gerentes Empreendedores Trabalham com a eficiência e o uso efetivo dos recursos para atingir metas e objetivos. Estabelecem uma visão e objetivos e identifi- cam os recursos para torná-los realidade. A chave é adaptar-se às mudanças. A chave é iniciar as mudanças. O padrão de trabalho implica análise racional. O padrão de trabalho implica imaginação e criatividade. Trabalho centrado em processos que levam em consideração o meio em que ele se desenvolve. Trabalho centrado na criação de processos re- sultantes de uma visão diferenciada do meio. FONTE: Filion (2000, p. 3) Como você pode perceber, há diferenças significativas nos métodos operacio- nais de gerentes e empreendedores. Segundo Martes (2010, p. 260), “adaptar, crescer, administrar eficientemente a rotina de uma empresa não significa empreender”. Posto que tal gerenciamento está associado à racionalidade. Empreender é, portanto, um ato mais criativo do que administrar, pois está relacionado à intuição e imaginação, o indivíduo empreendedor possui uma análise macro de um mercado específico, o que permite inferir nesse mercado criando um novo produto ou uma nova forma de produção. Por terem uma visão sistêmica os empreendedores não apenas definem situações, mas também imaginam visões sobre o que desejam alcançar (FILION, 2000). Segundo Dornelas (2011, p. 20), “todo empreendedor necessariamente deve ser um bom administrador, no entanto, nem todo bom administrador é um empreendedor. O empreendedor tem algo mais, algumas características e atitudes que o diferenciam do administrador tradicional”. Analise no quadro a seguir, as diferenças existentes quanto às funções exerci- das por gerentes e empreendedores sobre diferentes temas. 10 QUADRO 4 – COMPARAÇÃO ENTRE GERENTES TRADICIONAIS E EMPREENDEDORESTemas Gerentes Tradicionais Empreendedores Motivação principal Promoção e outras recompensas tradicionais da corporação, como secretaria, status, poder etc. Independência oportunidade para criar algo novo, ganhar dinheiro. Referência de tempo Curto prazo, gerenciando orçamentos semanais, mensais etc. E com horizonte de planejamento anual. Sobreviver e atingir cinco a dez anos de crescimento do negócio. Atividade Delega e supervisiona. Envolve-se diretamente. Status Preocupa-se com status e como é visto na empresa. Não se preocupa com status. Como vê o risco Com cautela. Assume riscos calculados. Falhas e erros Tenta evitar erros e surpresas. Aprende com os erros e falhas. Decisões Geralmente concorda com seus supervisores. Segue seus sonhos para tomar decisões. A quem serve Aos outros (supervisores). A si próprio e a seus clientes. Histórico familiar Membros da família trabalham em grandes empresas. Membros da família possuem pequenas empresas ou já criaram algum negócio. Relacionamento com outras pessoas A hierarquia é a base do relacionamento. As transações e acordos são a base do relacionamento. FONTE: Hisrich e Peter (1998 apud DORNELAS, 2001 p. 36) Observa-se que, enquanto o executivo e o administrador tradicional trabalham com processos, controles padronizados em estruturas hierarquizadas e burocráticas, o empreendedor teria muita dificuldade em trabalhar nesse ambiente, visto que é dinâmico, flexível e está sempre à procura de oportunidades. Sobre isso, observe a figura a seguir. 11 FIGURA 1 – ADMINISTRADOR X EMPREENDEDOR FONTE: <https://bit.ly/3tF2jvT>. Acesso em: 12 ago. 2021. Observando os quadros apresentados e de acordo com as atividades que você desenvolve em seu trabalho, você se considera gerente ou empreendedor? Pense nisso! INTERESSANTE Vale ressaltar que o ponto fundamental que diferencia os empreendedores dos demais executivos e administradores é a inovação. O empreendedor não é um executivo empresarial comum, nem sequer o proprietário ou principal executivo de uma empresa bem-sucedida, o empreendedor é obsessivamente empenhado na busca pela inovação. Assim Ries (2012, p. 13) conclui “o empreendedor deveria ser considerado um cargo em todas as empresas modernas que dependem da inovação para seu crescimento futuro”. É por meio da inovação que os empreendedores destroem a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e materiais. Assim, novos pro- dutos destroem empresas velhas e antigos modelos de negócios, cita-se o caso dos aplicativos com Uber e Pop99, que provocaram mudanças em um mercado dominado até em então pelos taxistas, essas inovações reduzem o monopólio de poder. Entre- tanto, o que é inovação? E como ela ocorre? Schumpeter (1985) aponta que a inovação ocorre pela: 12 • Introdução de um novo bem. • Introdução de novos métodos de produção ou de comercialização de mercadorias. • Abertura de novos mercados. • Conquista de uma nova fonte de matéria-prima. • Quebra de monopólio Os empreendedores podem ser classificados em diversos grupos, no subtópico a seguir você vai conhecer o empreendedorismo feminino, o empreendedorismo social, o intraempreendedor e, por fim, o empreendedorismo verde. 3 EMPREENDEDORISMO FEMININO Neste subtópico, nós vamos discorrer sobre empreendedorismo feminino que, como o próprio nome diz, representa o movimento que reúne ideias, negócios e projetos idealizados ou comandados por mulheres. FIGURA 2 – EMPREENDEDORISMO FEMININO FONTE: <https://fia.com.br/blog/empreendedorismo-feminino/>. Acesso em: 12 ago. 2021. No decorrer da história sempre existiram mulheres empreendedoras que transformaram o mundo em sua volta a partir de suas ideias e inovações, mas o estudo sobre mulheres empreendedoras surge na literatura acadêmica somente a partir da década de 1970, até então apenas os homens eram objeto de pesquisa nos estudos sobre empreendedorismo (AHL, 2006). Hodiernamente, há diversos estudos que abordam o tema, o volume de pesquisas cresceu substancialmente após os anos 1990, esse aumento pode ser explicado, pelo menos em tese, pelo crescimento da participação feminina no mercado de trabalho formal, não só como empregada, mas como empregadora e dona de seu próprio negócio (GOMES et al., 2014). 13 No estudo de Gomes et al. (2014), intitulado “Empreendedorismo Feminino como Sujeito de Pesquisa”, os autores analisaram que boa parte dos estudos sobre empreendedorismo feminino presentes na literatura investigaram temas relacionados à competência e ao comportamento da empreendedora, ao processo de criação de suas empresas e ao acesso a crédito e capital de risco. Também foram identificados artigos que trataram de questões relacionadas a representações sociais e identidade, a fatores que implicam o sucesso/fracasso do empreendimento, a grupos minoritários, a formação e educação empreendedora, a políticas públicas, entre outros. No Brasil, as pesquisas apontam que as mulheres enfrentavam mais barreiras que os homens para empreender, inclusive na hora de obtenção de crédito, há quem diga que isso ocorre devido à discriminação de gênero. As mulheres acessam, em média, R$ 13 mil a menos do que o valor liberado aos homens. Outro dado é que as mulheres têm índices de inadimplência mais baixos. Mesmo assim, elas pagam taxas de juros 3,5% maiores do que a dos empreendedores. FONTE: <https://bit.ly/39YLBSI>. Acesso em: 12 ago. 2021. INTERESSANTE INTERESSANTE Também há estudos que denotam que as mulheres obtinham menos recursos financeiros de instituições bancárias do que os homens, porque elas buscavam menos capital externo do que eles, e não por discriminação de gênero ‒ como manifesto por um grupo significativo de pesquisas (WILSON et al. 2007 apud GOMES, 2014). O que se pode perceber é que houve um crescimento no número de mulheres que empreendem no país. De acordo com o levantamento mundial Global Entrepreneurship Monitor 2017, que no Brasil é realizado em parceria com o Sebrae, mais da metade dos novos negócios abertos em 2016 foram fundados por mulheres. Elas são mais escolarizadas do que os homens empreendedores e atuam, principalmente, no setor de serviços. “A taxa de empreendimentos iniciados no país, desde 2007, oscila entre 47% e 54% para homens e mulheres. Em 2016, a taxa foi de 48,5% para homens e 51,5 % para mulheres”. 14 NA COMPARAÇÃO COM HOMENS, ELAS SÃO: FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/3Ei1xcZ>. Acesso em: 12 ago. 2021. Observa-se que o crescimento das atividades empreendedoras está cada vez mais fortalecido pelo equilíbrio de gênero e o avanço dos números de novos empreendimentos creditado também às mulheres, que apresentam alto índice de inserção no mundo dos negócios. No Brasil podem-se citar inúmeros exemplos de mulheres que alcançaram sucesso empreendendo, a mais expoente delas é Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues, considerada uma das mulheres mais poderosas do país. Luiza é presidente do Magazine Luiza, empresa fundada em 1957 e que atualmente está entre as 25 maiores varejistas do mundo. Também, pode-se citar o caso de Alcione Albanesi, fundadora da FLC. Assista ao vídeo que conta um pouco da história de uma empreendedora que aos 17 anos já tinha sob sua liderança 80 funcionários. Acesse: https:// www.youtube.com/watch?v=Hlk85sNyXvc&t=4s. DICAS As mulheres brasileiras têm participado ativamente no cenário empreendedor, de acordo com o SEBRAE (2018), a maioria das empreendedoras atua nas áreas de alimentação, serviços domésticos e comércio varejista de roupas e cabeleireiros. https://www.youtube.com/watch?v=Hlk85sNyXvc&t=4s https://www.youtube.com/watch?v=Hlk85sNyXvc&t=4s 15 Na série da Netflix "A Vida e a História de Madam C. J. Walker", você vai conhecer a história surpreendente da primeira mulher norte-americana, que se tornou milionária. A história deMadam C. J. Walker é um exemplo de empreendedorismo feminino. DICAS FONTE: <https://bit.ly/3CfbRk7>. Acesso em: 12 ago. 2021. INTERESSANTE Você sabia que desde 2014, o dia 19 de novembro foi estabeleci- do como o Dia do Empreendedorismo Feminino pela Organização das Nações Unidas (ONU)? O Dia do Empreendedorismo Feminino é uma das iniciativas coordenadas pela ONU Mulheres, braço da entidade que tem como objetivo unir, fortalecer e ampliar os esforços mundiais em defesa dos direitos humanos das mulheres. FONTE: <https://fia.com.br/blog/empreendedorismo-feminino/>. Acesso em: 12 ago. 2021. https://revistapegn.globo.com/Mulheres-empreendedoras/noticia/2014/11/onu-comemora-o-dia-do-empreendedorismo-feminino.html https://revistapegn.globo.com/Mulheres-empreendedoras/noticia/2014/11/onu-comemora-o-dia-do-empreendedorismo-feminino.html http://www.onumulheres.org.br/onu-mulheres/sobre-a-onu-mulheres/ https://fia.com.br/blog/direitos-humanos/ 16 4 EMPREENDEDORISMO SOCIAL Neste subtópico, trataremos de um tema muito oportuno o empreendedorismo social. Para Martin e Osberg (2007) o empreendedorismo social é tão vital para progresso das sociedades quanto o empreendedorismo para o progresso da economia. Neste subtópico, você vai descobrir por que os autores fizeram tal afirmação. Vamos conhecer as definições sobre o termo, as características do empreendedor social e alguns exemplos de iniciativas de impacto social. O conceito de empreendedor social foi durante muito tempo ignorado no setor não lucrativo, até que em 1980 quando se verificou um desenvolvimento de atividades comerciais pelas organizações não lucrativas e também quando, no panorama de maiores dificuldades financeiras, dada à diminuição do financiamento público, começaram a surgir discussões em torno da capacidade dos dessas organizações. Observa-se que o tema é novo em sua atual configuração, mas na sua essência já existe há muito tempo. Segundo Parente et al. (2011, p. 270): Apesar dos termos serem relativamente novos, empreendedores sociais e ações de empreendedorismo social podem ser encontrados ao longo da história (Nicholls, 2006). Na lista de pessoas historicamente identificadas com o fenómeno, quer pelo trabalho desenvolvido quer pelos impactos criados no sector de cidadania, destacam-se: a inglesa Florence Nightingale, fundadora da primeira escola de enfermagem que desenvolveu práticas de enfermagem modernas na Segunda Guerra Mundial através de reformas profundas nos hospitais do exército inglês (Strachey in Bornstein, 2007, p. 76; Nicholls, 2006); Michael Young, fundador do “Institute for Community Studies” em 1953 e da “School for Social Entrepreneurs” (SSE) em 1997, no Reino Unido, apontado como tendo desempenhado um papel central na promoção e legitimação do campo do empreendedorismo social (Leadbeater, 1996); Maria Montessori, a primeira médica italiana que, nos anos 1960 do século XX, criou um método de educação revolucionário que consistia na defesa de que cada criança tinha um desenvolvimento único. O sucesso do seu método conduziu à criação de diversas Escolas Montessori. O empreendedorismo social é hoje um campo de análise e intervenção emer- gente em termos políticos e científicos, estando o fenômeno a expandir-se rapidamente e a atrair atenção crescente dos vários setores da sociedade (MARTIN; OSBERG, 2007). Observe, no quadro a seguir, as definições propostas na literatura internacional sobre o tema. 17 QUADRO 5 – CONCEITOS DIVERSOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL, VISÃO INTERNACIONAL Organização Entendimento School Social Entrepreneurship – SSE, Uk-Reino Unido "É alguém que trabalha de uma maneira empresarial, mas para um público ou um benefício social, em lugar de ganhar dinheiro. Empreendedores sociais podem trabalhar em negócios éticos, órgãos governamentais, públicos, voluntários e comunitários [...] Empreendedores sociais nunca dizem 'não pode ser feito.'" Canadian Center Social Entrepreneurship – CCSE, Canadá "Um empreendedor social vem de qualquer setor, com as características de empresários tradicionais de visão, criatividade e determinação, e empregam e focalizam na inovação social [...] Indivíduos que [...] combinam seu pragmatismo com habilidades profissionais, perspicácias." Foud Schwab, Suíça "São agentes de intercambiação da sociedade por meio de: proposta de criação de idéias úteis para resolver problemas sociais, combinando práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos procedimentos e serviços; criação de parcerias e formas/meios de autossustentabilidade dos projetos; transformação das comunidades graças às associações estratégicas; utilização de enfoques baseados no mercado para resolver os problemas sociais; identificação de novos mercados e oportunidades para financiar uma missão social. [...] características comuns aos empreendedores sociais: apontam ideias inovadoras e veem oportunidades onde outros não veem nada; combinam risco e valor com critério e sabedoria; estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, e trabalham 24 horas do dia para conseguir seu objetivo social." The Institute Social Entrepreneurs – ISE, EUA "Empreendedores sociais são executivos do setor sem fins lucrativos que prestam maior atenção às forças do mercado sem perder de vista sua missão (social) e são orientados por um duplo propósito: empreender programas que funcionem e estejam disponíveis às pessoas (o empreendedorismo social é base nas competências de uma organização), tornando-as menos dependentes do governo e da caridade." 18 Ashoka, Estados Unidos "Os empreendedores sociais são indivíduos visionários que possuem capacidade empreendedora e criativida- de para promover mudanças sociais de longo alcance em seus campos de atividade. São inovadores sociais que deixarão sua marca na história." Erwing Marion, Kauffman Foundation "Empreendimentos sem fins lucrativos são o reconhe- cimento de oportunidade de cumprimento de uma missão para criar e sustentar um valor social, sem se ater exclusivamente aos recursos." FONTE: Oliveira (2004, p. 4) Oliveira (2004) em sua tese de doutorado “Empreendedorismo social no Brasil: fundamentos e estratégias” detalham também os conceitos sobre o tema difundidos no Brasil, conforme é possível observar no quadro a seguir. QUADRO 6 – CONCEITOS DIVERSOS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL, VISÃO NACIONAL Autor Conceito Leite (2002) “O empreendedor social é uma das espécies do gênero dos empreendedores. [...] São empreendedores com uma missão social, que é sempre central e explícita”. Ashoka Empreendedores Sociais e Mackisey e Cia. INC (2001) “Os empreendedores sociais possuem características distin- tas dos empreendedores de negócios. Eles criam valores so- ciais pela inovação, pela força de recursos financeiros em prol do desenvolvimento social, econômico e comunitário. Alguns dos fundamentos básicos do empreendedorismo social estão diretamente ligados ao empreendedor social, destacando-se a sinceridade, paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal, valores centralizados, boa vontade de planejamento, capaci- dade de sonhar e uma habilidade para o improviso”. Melo Neto e Froes (2001) “Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando um novo paradigma. O objetivo não é mais o negócio do negócio [...] trata-se, sim, do negócio do social, que tem na sociedade civil o seu principal foco de atuação e na parceria envolvendo comunidade, governo e setor privado, a sua estratégia”. Rao (2002) “Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas experiências organizacionais e empresariais mais para ajudar os outros do que para ganhar dinheiro”. 19 Rouere e Pádua (2001) “Constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais inovadores cujo protagonismo na área social produz desenvolvimento sustentável, qualidade de vida e mudança de paradigmade atuação em benefício de comunidades menos privilegiadas”. FONTE: Oliveira (2004, p. 5) IMPORTANTE Boa parte dos novos negócios que prestam serviços sociais e geram desenvolvimento econômico são as Startups. Startup é uma empresa jovem com um modelo de negócios repetível e escalável, em um cenário de incertezas e soluções a serem desenvolvidas. Embora não se limite apenas a negócios digitais, uma Startup necessita de inovação para não ser considerada uma empresa de modelo tradicional. FONTE: <https://app.startse.com/artigos/o-que-e-uma-startup>. Acesso em: 12 ago. 2021. 5 CARACTERÍSTICAS DOS NEGÓCIO COM IMPACTOS SOCIAIS – NIS Este subtópico abordará as caracteristicas dos negócios com impactos sociais, vamos decobrir o que diferencia um negócio social dos demais negócios e quais são as suas vantagens. Sabemos que a obtenção de lucro é a base da pirâmide de responabilidades da empresa é ela que sustenta as demais responsabilidades da organização, por isso, em negócios tradicionais o foco principal é obtenção de lucro aos acionistas. Esse é um dos fatores que diferencia os negócios tradicionais dos Negócios com Impacto Social (NIS), enquanto as empresas tradicionais vendem produtos e serviços para gerar receita, sendo movidas pela maximização dos lucros, os NIS têm como objetivo a geração de valor social (MAIR; MARTÍ, 2006). Não que os NIS não busquem criação de valor econômico, mas nesse tipo de negócio a renda é um meio para o fim social, assim unifica-se a viabilidade financeira com a criação de valor social. Nesse aspecto, Dees (2004) afirma que qualquer empreendedor social que gera lucros, mas não consegue convertê-los em impacto social significativo, desperdiçou recursos valiosos. 20 O empreendedorismo social emerge a partir da identificação de problemas econômicos, sociais e ambientais, no Brasil pode-se citar como exemplos de empre- endimento social: • Gerando falcões. • Instituto chapada. • GRAAC. • ASID: existem 13 milhões de pessoas com diversos tipos de deficiência no Brasil. Cerca de 486 mil estão no mercado de trabalho. Apenas 340 mil são atendidas por instituições especializadas. ASID, Associação para Igualdade de Diferenças, surgiu para mudar esse cenário. O objetivo é desenvolver pessoas com deficiência, empoderar famílias e incluí-las no mercado de trabalho. Isso é feito por meio de uma metodologia administrativa, utilizada pelas entidades atendidas pela ASID. Em seu site, prestam contas e mostram resultados, com total transparência. • Rede Asta: a Rede Asta conecta, desde 2005, grupos de artesãs em todo o Brasil para criar e desenvolver soluções sustentáveis de reaproveitamento de resíduos, seguindo o conceito do upcycling, ou reutilização criativa, consiste em transformar resíduos e materiais indesejados em um produto de qualidade e valor ambiental. A produção é inteiramente feita por artesãs de áreas com baixo poder aquisitivo, gerando renda e inclusão econômica. • Litro de Luz: é um negócio social que tem como propósito levar iluminação para comunidades que não possuem acesso à energia elétrica, a organização opera em mais de 20 países levando luz a populações. Além de utilizar uma tecnologia econômica, a organização possui uma metodologia para capacitar moradores e mobilizar voluntários em prol de atender às necessidades dessas populações. Conheça mais dessa iniciativa assistindo ao vídeo: https://www.youtube.com/ watch?v=72mvS-TAZmw. Tais iniciativas buscam soluções ou minimização de nas áreas de educação, saúde, moradia e habitação, melhor acesso aos cuidados de saúde, educação mais eficaz, redução da pobreza, proteção de crianças etc. Conforme apontam Yunus, Moingeon e Lehmann-Ortega (2010), um negócio social, além de cumprir os objetivos sociais, têm de cobrir os custos de operação, pois não depende de doações nem deve ocorrer retirada de dividendos pelos acionistas/ proprietários, sendo os lucros excedentes reinvestidos no negócio. De acordo com Barki (2015), os chamados negócios sociais emergem a partir da premiação do Nobel da Paz, em 2006, na qual Yunus foi reconhecido pelo seu trabalho sobre microcrédito, buscando a redução da vulnerabilidade dos pobres em Bangladesh. 21 DICAS Conheça mais sobre a história de Muhammad Yunus, que após ser laureado com o prêmio Nobel da Paz, ficou mundialmente conhecido como “banqueiro dos pobres”. Assista ao vídeo e saiba como essa inciativa mudou a vida de muitos indianos que viviam à margem da sociedade. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=QvzOnXektmw. FONTE: <https://bit.ly/3NrOSrn>. Acesso em: 13 ago. 2021. Para Yunus (2010, p. 10) negócio social é: [...] um empreendimento concebido para resolver um problema social, deve ser autossustentável, ou seja, gerar renda suficiente para cobrir suas próprias despesas. Depois de cobertos os custos e o investimento, toda a receita excedente é reinvestida no negócio social para expansão e melhorias. [...] o retorno do valor investido é devolvido sem juros ou correções. Ainda de acordo com Petrini, Scherer e Back (2016, p. 212), “NIS são organiza- ções que visam solucionar demandas relacionadas a problemas sociais, seja ofertando produtos e serviços, seja incluindo indivíduos ou grupos”. Essas organizações devem promover sua própria sustentabilidade financeira, sendo facultativa a distribuição de lucros. Pode-se constatar que os NIS possuem algumas particularidades que os diferenciam em relação a elementos como os (1) produtos ou serviços ofertados, (2) os clientes e (3) a estrutura de lucros. Veja no quadro a seguir: 22 QUADRO 7 – TAXONOMIA DOS NEGÓCIOS SOCIAIS FONTE: Petrini e Scherer (2016, p. 213) Como você pôde perceber o quadro apresenta três tipos de negócios com impactos sociais, o primeiro denominado “Base of the Pyramid” ou em português base da pirâmide representado por qualquer produto ou serviço para venda direta à população de baixa renda. De acordo com Comini, Barki e Aguiar (2012, p. 386), “[...] a base da pirâmide tem sido um campo fértil para o surgimento de um novo tipo de organização que reúne duas metas previamente vistas como incompatíveis: sustentabilidade financeira e geração de valor social”. O segundo negócio social busca soluções ligadas à porbreza, podemos citar vários exemplos como o da construtora Vivenda, proposta que atua no ramo housingpact (impacto social em habitação). A empresa tem como objetivo melhorar as condições de habitação das pessoas de menor renda, por meio de uma solução completa em reformas habitacionais. Conheça melhor essa proposta através do site https://www.novavivenda. com.br/. https://www.novavivenda.com.br/ https://www.novavivenda.com.br/ 23 O HousingPact é uma iniciativa de impacto social que reúne as empresas ArcelorMittal, Fundação Tide Setúbal, CBMM, Duratex, HM Engenharia, InterCement, Instituto InterCement, NeoAlfa e Vale. É uma aliança que acredita que atuando em rede é possível desenvolver e fomentar startups, empresas, produtos e serviços ligados ao setor de habitação focados na população de baixa renda. FONTE: <https://www.linkedin.com/company/housingpact/>. Acesso em: 20 ago. 2021. Na área financeira também há ótimos exemplos como o Banco Palmas, convidamos você a assistir à matéria a seguir, que relata a surpreendente economia de Palmas: https://www.youtube.com/watch?v=notDhUpuzhY. Nessa reportagem, você vai conhecer o Banco de Palmas e seu inovador sistema de microcrédito para produção e consumo em moeda local. INTERESSANTE DICAS Como exemplo de fintech com impacto social e que visam combater a desbancarização, podemos citar a Avante, fintech que oferece microcrédito para negócios de empreendedores em regiões de baixa renda do Nordeste. Como você pode perceber, os negócios inclusivos envolvem a população de baixa renda no processo de desenvolvimento econômico no âmbito da demanda, como clientes e consumidores, e no âmbito da oferta, como empregados, produtores e donos de negóciosem vários pontos da cadeia de valor. Trata-se de uma via de mão dupla em que se estabelecem elos entre os negócios e a população, gerando uma relação de benefício mútuo. Para os empresários, eles trazem inovação, criação de novos mercados e fortalecimento de canais de oferta. Por fim o terceiro negócio de impacto social apresentado no quadro, diz respeito aos negócios inclusivos. Como exemplo, podemos citar o projeto Favela Brasil Xpress startup, que visa sanar problemas de logística na Favela. https://www.linkedin.com/company/housingpact/ 24 Saiba mais sobre essa iniciativa assistindo à reportagem em: https://www. youtube.com/watch?v=GVbabHG2DtY&t=2s. DICAS Cinco livros sobre empreendedorismo social Criando um negócio social – de Muhammad Yunus – Na obra o autor oferece conselhos práticos para aqueles que querem criar seus próprios negócios sociais. Mude, você, o mundo: manual do empreendedorismo social – de Gabriel Cardoso – O livro é ágil e prático, oferece a possibilidade de iniciar, ainda durante a leitura, a ideia do próprio negócio social. De Dentro Para Fora: como uma geração de ativistas está injetando propósito nos negócios e reinventando o capitalismo – de Alexandre Teixeira – O autor defende o movimento de transformação do empreendedorismo. Não se trata mais do lucro pelo lucro, mas de organizações que dão peso para outros aspectos do dia a dia capitalista. Um Mundo sem Pobreza – Muhammad Yunus – Neste livro, Yunus descreve o lançamento das primeiras empresas sociais, ele aborda a parceria com a Danone para a venda de iogurtes nutritivos por preço acessível a crianças subnutridas em Bangladesh. Comece algo que faça a diferença – Blake Mycoskie – Mycoskie conta a história da TOMS, uma das empresas de calçados que mais cresce no mundo, além de partilhar ensinamentos que aprendeu com outras empresas inovadoras. FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/3I0kVgW>. Acesso em: 13 ago. 2021. 6 EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO – INTRAEMPREENDEDORISMO Você sabia que o sucesso organizacional de muitas empresas tem sido atribuído a capacidade delas em promover o empreendedorismo internamente? Neste subtópico, você vai aprender sobre intraempreendedorismo. Ao término da leitura, você vai aprender a diferença entre empresa empreendedora e a empresa tradicional e as distinções entre o empreendedor e o intraempreendedor. 25 O intraempreendedorismo ocorre quando a ação empreendedora é desen- volvida em ambiente intraorganizacional, também chamado de empreendedorismo corporativo, sendo a organização empreendedora aquela que possui a capacidade de promover o empreendedorismo entre os seus colaboradores, promovendo um am- biente colaborativo, criativo e inovador. Diferente das organizações empreendedoras, o ambiente nas organizações tradicionais é bem diverso, pois há intolerância em relação a riscos e fracassos, a cultura organizacional não apoia o surgimento de novas ideias, pune explícita ou implicitamente o erro e, assim, abafa qualquer possibilidade de surgimento de novos empreendedores. Além de uma cultura organizacional com alto nível de distância de poder, em que os membros no topo da hierarquia de comando possuem dificuldade em aceitar que boas ideias possam ser originadas da base (ANDREASSI, 2005). A intolerância da empresa em relação a riscos e fracassos é outra barreira característica. “Imagine um funcionário cujo colega tenha sido demitido porque um projeto que ele propôs acabou fracassando. A probabilidade desse funcionário propor um projeto inovador é praticamente nula, afinal é muito mais seguro seguir com o que já é aceito e conhecido do que propor novas formas de trabalhar ou pensar” (ANDREASSI, 2005, p. 66). Conclui-se que a organização empreendedora é aquela que possui a capacidade de promover o empreendedorismo entre os seus colaboradores. É nesse contexto que emerge a figura do intraempreendedor, que é aquele colaborador que opta por inovar, melhorar e dinamizar dentro da organização em que atua. Na literatura o termo intraempreendedor pode ser encontrado com ou- tras denominações, tais como intrapreneur ou empreendedor interno (PINCHOT, 1985; FILION, 2004). Ao contrário do que se possa imaginar, o termo intraempre- endedorismo foi cunhado há pelo menos duas décadas pelo norte-americano Guifford Pinchot. Para ele o intraempreendedor é aquele que assume a responsabilidade, e os desafios correspondentes, pela criação de inovações de qualquer espécie dentro de uma organização (ANDREASSI, 2005). O intraempreendedor, ao contrário do empre- endedor, utiliza os recursos da empresa em que trabalha para criar e inovar. Observe, a partir do quadro a seguir, as distinções entre o empreendedor e o intraempreendedor. QUADRO 8 – EMPREENDEDOR X INTRAEMPREENDEDOR EMPREENDEDOR INTRAEMPREENDEDOR Usa capital próprio ou de terceiros. Usa capital da empresa. Cria toda a estrutura operacional. Usa a estrutura operacional da empresa. Maior poder de ação sobre o ambiente. Maior dependência das características da cultura corporativa. 26 Fracasso parcial significa perda de dinheiro. Fracasso parcial significa apenas erro e realinhamento do projeto. Fracasso total significa falência. Fracasso total significa aborto do projeto ou demissão. Ele é o chefe. Ele se reporta a um (ou mais) chefe(s). Monta sua própria equipe. É obrigado a se relacionar com quem já esta na empresa. O salário é incerto. Salário liquido e certo. FONTE: Adaptado de https://bit.ly/3lvZslr. Acesso em: 13 ago. 2021. O intraempreendedor é, portanto, o colaborador que desenvolve ações empreendedoras na organização. Pinchot (1985) em uma entrevista à revista Você, apontou seis pontos fundamentais para se tornar um intraempreendedor, a saber: • Encontre algo em que você realmente acredite, que esteja alinhado com seus valores e que você queira empreender. • Faça um plano de negócios para ajudá-lo a transformar sua ideia em realidade. • Tire suas dúvidas com outros empreendedores. • Esteja pronto para fazer qualquer trabalho necessário para que sua ideia dê certo. Se tiver de varrer o chão, faça-o. Muitas vezes, ninguém nos dá apoio quando fazemos algo novo, ou o que é pior, enfrentamos muita resistência. • Monte uma equipe. Você precisa vender bem sua ideia para deixá-la entusiasmada. Não deixe de ouvir as ideias dos outros. • Encontre alguém para “apadrinhar” sua ideia, para lhe dar suporte e até protegê-lo. Normalmente essa pessoa não é seu chefe, ela está em outros departamentos da empresa. Isso não significa que o suporte de seu chefe não seja importante. “O empreendedorismo interno traz diversos benefícios tanto para o empreendedor quanto para a organização, pois permite que ela aumente sua competitividade perante suas rivais, tanto nos produtos tradicionais quanto em novas áreas de atuação” (ANDREASSI, 2005, p. 67). Conforme enfatiza Andreassi (2005), a empresa que deseja ser competitiva terá de descobrir formas de reconhecimento legítimas para seus empreendedores, e estabelecer estratégias de como atrair e reter talentos empreendedores. O autor cita três principais ações: • Em primeiro lugar, desenvolver uma cultura interna forte de suporte. O empreendedor não pode ser deixado sozinho nessa tarefa, pois, muitas vezes, ele tem de lidar com estruturas estabilizadas e rígidas dentro da organização. 27 • Em segundo lugar, os funcionários de todos os níveis têm de sentir, por meio de exemplos de seus gestores, que todas as ideias são consideradas e realmente levadas adiante. O clima de abertura a novas ideias, com proteção para o caso de fracasso ou mesmo inviabilidade, é fundamental para a construção de confiança entre o empreendedor e a empresa. • Em terceiro lugar, estudos vêm demonstrando que a remuneração é uma destacada maneira de estimular o surgimento de ideias inovadoras. As organizações empreendedoras se distinguem das organizações tradicionais em inúmeros fatores, conforme evidencia-se na figura a seguir.FIGURA 3 – DIFERENÇAS ENTRE ORGANIZAÇÕES TRADICIONAIS E ORGANIZAÇÕES EMPREENDEDORAS FONTE: <https://bit.ly/3CINexs>. Acesso em: 13 ago. 2021. Muitas empresas têm investido em pesquisas de clima, treinamentos, cursos, palestras, a fim de construir uma cultura voltada ao empreendedorismo corporativo, mas a mudança de uma empresa tradicional para uma empresa empreendedora requer uma mudança na cultura organizacional, a começar pela alta diretoria, e isso não é uma tarefa simples, dada a complexidade dos fatores envolvidos. O primeiro passo é derrubar as barreiras que impedem a ação empreendedora, tais como: • processos inflexíveis de aprovação e decisão; • gerenciamento centralizador; • alto teor de formalidade nos processos de trabalho; • ausência de ambiente favorável ao trabalho em equipe; • restrições oriundas de uma descrição formal de cargo; • rígida disciplina para com as normas e padrões internos; • intolerância a erros e fracassos; • baixos orçamentos para as atividades empreendedoras de risco. 28 7 EMPREENDEDORISMO VERDE Neste subtópico você vai conhecer os conceitos relacionados ao empreendedorismo verde (Green entrepreneurship), que pode ser encontrado na literatura com outros nomes como empreendedorismo ambiental (environmental entrepreneurship). Koe e Majid (2013) apontam que como o termo empreendedorismo verde não é único, pode ser referido ainda como ecoempreendedorismo, empreendedorismo ambiental ou empreendedorismo sustentável. Vejamos os conceitos presentes na literatura sobre o tema. Para Uslu et al. (2015) o empreendedorismo sustentável é o desenvolvimento de um produto e/ou serviço que estabelece um interesse recíproco entre o ambiente e o empreendedorismo. Segundo Brunelli e Cohen (2012), caracteriza-se como empreendedor susten- tável aquele que possui a capacidade de buscar soluções para demandas sociais e am- bientais por meio da criação de novos negócios. Os negócios ambientais podem ser classificados em quatro categorias principais: (i) produtos ecoeficientes, (ii) turismo e lazer na natureza, (iii) agricultura orgânica e extrativismo e (iv) reciclagem e reutilização (LORDKIPANIDZE; BREZET; BACKMAN, 2005). Observe no quadro a seguir exemplos das quatro categorias. QUADRO 9 – TIPOS DE NEGÓCIOS AMBIENTAIS Catergoria Exemplo Produtos ecoeficientes Produtos mais eficientes energicamente ou com baixo impacto ambiental, como a fabricação e a instalação de equipamentos de energia solar e de recuperadores de calor, produção de móveis de bambu e construção de casas ecológicas. Turismo e lazer na natureza Viagens, atividades, atrativos e pousadas em ambientes naturais. Agricultura orgânica e extrativismo Produção de alimentos orgânicos, restaurante vegetariano, extrativismo de produtos florestais, como a castanha, ervas ou a madeira. Reciclagem e reutilização Reutilização de garrafas pet ou reciclagem de lâmpadas. FONTE: Adaptado de Lordkipanidze, Brezet e Backman (2005) 29 CASO DE SUCESSO NESTLÉ IMPLEMENTA PROGRAMA DE EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO A Nestlé Brasil sempre foi admirada por seu sucesso nos mercados nos quais atua, pela qualidade dos produtos que fabrica e por ser uma referência no mundo da administração dos negócios. Recentemente, a empresa resolveu en- fatizar em sua maneira de gerir os negócios a necessidade do comportamento empreendedor em todos os níveis organizacionais. Na entrevista a seguir, o presi- dente da Nestlé Brasil, Ivan Zurita, explica o porquê dessa ênfase e como a Nestlé tem desenvolvido seu programa de empreendedorismo corporativo. 1 O que fez a Nestlé priorizar o empreendedorismo corporativo e disseminá-lo junto aos seus funcionários? A Nestlé já não seria um exemplo de empreendedorismo corporativo por tudo o que tem feito nesses mais de 140 anos de existência? IZ: A Nestlé já nasceu empreendedora. O seu fundador, Henri Nestlé, era efetivamente um empreendedor. A maior descoberta de sua carreira ocorreu no auge dos seus 53 anos, fruto de sua preocupação com o alto índice de mortalidade infantil da época. O objetivo maior do seu “negócio” não era simplesmente capitalizar um produto e sim contribuir com a adaptação da sociedade às mudanças resultantes da Revolução Industrial. Sua descoberta fez tanto sucesso ao alcançar o seu objetivo inicial que, em cinco anos, a Farinha Láctea já estava presente em mais de 17 países do mundo. Essa presença em vários países em tão curto tempo também tem outra conotação: mesmo muito antes de se falar em globalização, a Nestlé já demonstrava, através de fatos, sua vocação de empresa global. Atualmente, os princípios de gestão e liderança e as principais orientações estratégicas do grupo são disseminados a todos os colaboradores por meio de documentos corporativos, que estimulam o espírito empreendedor. Face à competitividade existente no mundo empresarial atual, é imprescindível o constante questionamento dos produtos e processos existentes, bem como a prospecção de novas oportunidades que permitam garantir a perenidade e o crescimento dos negócios. 2 Fale um pouco de como se estruturou o programa de treinamento em empreende- dorismo corporativo na Nestlé, o que foi usado como referência e de como tem sido a aceitação/avaliação dos e pelos funcionários. IZ: Todas as ações de formação e desenvolvimento da Nestlé Brasil estão alinhadas à estratégia do negócio. O Programa de Desenvolvimento Gerencial está embasado na análise dos documentos estratégicos corporativos e na análise de uma pesquisa realizada com os gestores da sede e das unidades descentralizadas, que teve como objetivo priorizar os temas que seriam abordados no programa do treinamento. Esse 30 programa surgiu da necessidade de incentivarmos os gestores a adotarem uma postura proativa, “de verdadeiros homens e mulheres de negócio, dispostos a estar sempre inovando e renovando, levando em consideração os resultados gerais dos projetos da organização”. Essa postura é imprescindível nos nossos colaboradores de um modo especial, pois como sempre digo, na Nestlé “...os donos nunca estão”. Portanto, cada um dos nossos colaboradores tem de atuar como atuaria o dono do negócio. O programa tem uma aceitação extraordinária pelos participantes, com uma avaliação excelente. 3 A ideia é estender o programa por toda a empresa? IZ: O objetivo da Nestlé é disseminar a importância do espírito empreendedor para todos os níveis da organização. Nas unidades descentralizadas já existe, por exemplo, um processo denominado “Melhoria Contínua”, que depende basicamente da visão empreendedora dos colaboradores. Daí a necessidade de trabalharmos o conceito em toda a organização. 4 Quais os resultados esperados a partir do treinamento e como/quando se imagina que eles aparecerão? IZ: O modelo de gestão que o mercado espera hoje em dia é aquele que dá re- sultados. O objetivo geral do Programa de Desenvolvimento Gerencial é aprimorar a capacidade dos gestores de ter uma atitude proativa, empreendedora e voltada a resultados, assim como liderar seus subordinados, assumindo uma postura que nos desafie constantemente a obter alto desempenho e desenvolvimento. No caso específico do empreendedorismo, o objetivo é proporcionar uma visão abrangente, através do conceito e definição de suas diferentes aplicações dentro do universo empresarial, para conscientizar quanto à sua importância na organização, estimu- lando-os a adotar uma postura empreendedora, capaz de fazer a diferença no atin- gimento dos objetivos e conquista de novas oportunidades. 5 Que outros tipos de empresas poderiam se beneficiar do empreendedorismo corporativo? IZ: Qualquer organização que pretenda sobreviver! FONTE: Adaptado de <https://bit.ly/39XcSFn>. Acesso em: 13 ago. 2021. RESUMO DO TÓPICO 1 31 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas deorganização ou pela exploração de novos recursos e materiais. • Todo empreendedor necessariamente deve ser um bom administrador, no entanto, nem todo bom administrador é um empreendedor. O empreendedor possui caracte- rísticas e atitudes que o diferenciam do administrador/gerente tradicional. • A organização empreendedora é aquela que possui a capacidade de promover um ambiente voltado ao empreendedorismo e a inovação. • A organização empreendedora é flexivel e dinâmica, já organização tradicional é engessada possui formas de controle padronizados, regulamentações e burocraticas. • O empreendedor social cria valor social de forma sustentável e com potencial de impacto em larga escala. • O intraempreededorismo ocorre quando a ação empreendedora é desenvolvida em ambiente intraorganizacional. • O empreendedor sustentável busca soluções para demandas sociais e ambientais por meio da criação de novos negócios. 32 1 Existem características significativas que diferenciam o empresário do empreendedor, pode-se citar três delas: inovação, risco e autonomia. Disserte sobre as características do empreendedor. 2 No decorrer da história sempre existiram homens e mulheres que com sua capacida- de empreendedora deram vida a ideias, construindo produtos, projetos e empreendi- mentos que transformaram a vida da sociedade. Esses foram identificados de modo distintos em cada período da história, tendo em vista esse contexto, associe os itens utilizando o código a seguir: I- Século XVII e XVIII. II- Século XIX e XX. III- Idade média. ( ) Nesse período há uma confusão quanto à definição do termo. ( ) Nesse período, o empreendedor era aquele que gerenciava grandes projetos de produção com capital de terceiros. ( ) Era aquele que assumia risco ao firmar acordos contratuais com o governo. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) I – II – III. b) ( ) II – I – III. c) ( ) III – II – I . d) ( ) I – III – II. 3 O termo empreendedorismo parece estar na moda a ponto de ser associado a toda criação de empresa ou algo novo, sabe-se, porém que no decorrer da história a ação empreendedora ganhou significados distintos. Tendo em vista esse contexto, associe os itens utilizando o código a seguir: I- Empreendedorismo feminino. II- Empreendedorismo social. III- Empreendedorismo verde. IV- Empreendedorismo corporativo. AUTOATIVIDADE 33 ( ) Esse tipo de empreendedorismo cria valor social de forma sustentável e com potencial de impacto à larga escala. ( ) Ocorre quando a ação empreendedora é desenvolvida em ambiente intraorganizacional. ( ) É representado pelo movimento que reúne negócios idealizados e comandados por uma ou mais mulheres. ( ) Esse tipo de empreendedorismo tem a capacidade de buscar soluções para demandas sociais e ambientais por meio da criação de novos negócios. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) IV – I – II – III. b) ( ) II – IV – I – III. c) ( ) IV – III – II – I. d) ( ) I – IV – III – II. 4 O empreendedorismo está para além da criação de uma empresa, empreender é uma opção de vida de quem decidiu inovar em suas práticas, seja empresa, seja um profissional. Dado esse contexto, descreva a diferença entre o intraempreendedor e a organização empreendedora. 5 O crescente interesse pelo tema empreendedorismo não é à toa, tendo em vista os diversos benefícios que a ação empreendedora promove. Dado esse contexto, disserte sobre a importância da ação empreendedora na busca pela competitividade organizacional. 34 35 MODELO DE NEGÓCIO 1 INTRODUÇÃO Você provavelmente já ouviu falar em “modelo de negócio” o termo surgiu há muito tempo, mas foi a partir de 1990 que passou a ser amplamente divulgado, sobre- tudo, com lançamento do livro Business Model Generation dos professores Osterwalder e Pigner. Uma empresa pode ser entendida como um sistema vivo composto por entra- das e saídas, o modelo de negócio busca justamente descrever de forma lógica como esse sistema se conecta. Para Osterwalder e Pigneur (2011) um modelo de negócio descreve a lógica de criação, entrega e captura de valor por parte de uma organização. De modo geral, pode-se afirmar que um modelo de negócio descreve de forma lógica como uma empresa cria, captura e gera valor, por isso, se você pensa em abrir um negócio, o primeiro passo é a construção de um modelo de negócio. UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 MODELO DE NEGÓCIO Você já ouviu a frase “preço é o que você paga, valor é o que você leva”, pois bem, o principal foco de um modelo de negócio é justamente o valor que ele entrega ao cliente, em outras palavras, a forma como o negócio ajuda a solucionar a dor do cliente. Vale notar que a definição de valor é complexa, sobretudo, quando se trata de serviços, para Osterwalder e Pigneur (2011), valor é a razão ou o motivo pelo qual pes- soas adquirem seus produtos e serviços. Você deve pensar se está atendendo a uma necessidade, resolvendo um problema ou melhorando alguma situação existente. Ainda conforme Osterwalder e Pigneur (2011), um modelo de negócios é uma ferramenta conceitual que contempla uma série de elementos e suas inter-relações, que permitem expressar a lógica do negócio de uma determinada empresa. É a descrição da proposição de valor que uma companhia entrega a um ou a vários segmentos de clientes, da forma pela qual a empresa se organiza e se relaciona com sua rede de parceiros para criar, ofertar e entregar valor e da relação da empresa com os recursos financeiros, para manter o negócio lucrativo e com um fluxo de receitas sustentáveis. Observe no quadro conceitual, a seguir, as diferentes definições sobre modelo de negócio existente na literatura. 36 QUADRO 10 – DEFINIÇÃO DE MODELO DE NEGÓCIO FONTE: Bonazzi e Zilber (2014, p. 622) Ao analisar o quadro é possível perceber um modelo de negócio visa à criação e captura de valor por parte da organização. É importante notar que existem vários tipos de modelos de negócios, tais como: • Franquia/ Microfranquias (Ex. McDonald’s; o Boticário; Chilli Beans). • Assinatura. • Freemium. • Marketplace. • Economia colaborativa. • Negócios sociais. • Permuta. Vale ressaltar que o modelo de negócios é diferente de um plano de negócios, enquanto o plano de negócios é um documento mais extenso que detalha as estratégias a serem adotadas a fim de atingir as metas e os objetivos traçados. O modelo de negócios é um documento feito em uma única folha (no caso do CANVAS) com foco no valor que uma organização cria, entrega e captura. Observe a figura a seguir: FIGURA 4 – PLANO DE NEGÓCIOS X MODELO DE NEGÓCIO FONTE: <https://bit.ly/3tJCISy>. Acesso em: 13 ago. 2021. 37 No filme Homem-Absorvente você vai conhecer a impressionante jornada de Arunacha- lam Muruganantham, um homem que buscou solucionar um problema feminino na Índia: A questão da higiene menstrual, onde apenas 12% das mulheres utilizavam absorventes higiênicos, por uma questão cultural e também porque o preço era elevadíssimo, visto que o produto era importado dos Estados Unidos. Assista o filme que traz importantes lições sobre empreendedorismo e inovação. DICAS FONTE: <https://www.netflix.com/br/title/81016191>. Acesso em: 8 set. 2021. 38 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Um modelo de negócios difere de um plano de negócios, em vários aspectos, o plano de negócios começa com uma ideia, é um documento mais extenso, possui em torno de 50 páginas e detalha as estratégias a serem adotadas a fim de atingir as metas e os objetivos traçados. • Um modelo de negócios descreve a racionalidade de como uma organização cria, entrega, e captura valor. • Existem vários tipos de modelos de negócios, tais como: Franquia/Microfranquias (Ex.McDonald’s; o Boticário; Chilli Beans); Assinatura; Freemium; Marketplace; Economia colaborativa; Negócios sociais e Permuta. 39 1 (ENADE, 2015) O investimento em pesquisa e desenvolvimento é um caminho importante
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