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Infecções odontogênicas Cirurgia Bucomaxilofacial – UFPE Larissa Albuquerque *As infecções odontogênicas podem variar de infecções bem localizadas e de baixa intensidade a infecções graves que se disseminam pelos espaços fasciais e atingem áreas distantes do foco original. Microbiologia *As infecções odontogênicas são causadas pelas bactérias da própria flora da cavidade bucal (placa bacteriana, presentes na mucosa e sulco gengival) que causam a cárie e doença periodontal em situações de normalidade. Quando essas bactérias conseguem acesso aos tecidos subjacentes mais profundos por meio da polpa necrótica ou de bolsas periodontais profundas, tornam-se mais patogênicas e causam as infecções odontogênicas. *As bactérias que causam essas infecções são principalmente os cocos aeróbios gram-positivos (65%), cocos anaeróbios gram-positivos (65%) e bastonetes anaeróbios gram-negativos (75%). A natureza das infecções é polimicrobiana, pois é possível identificar em média 5 espécies bacterianas. *Um fator importante a se levar em consideração é a tolerância ao oxigênio das bactérias: • Somente anaeróbias: 50% • Anaeróbias e aeróbias mistas: 44% • Aeróbia somente Edema, celulite e abscesso *As infecções odontogênicas podem passar por 4 estágios: inoculação (edema), celulite (a infecção ultrapassa as barreiras ósseas corticais e se difunde para os tecidos adjacentes), abscesso e resolução. *O edema (inoculação) surge nos primeiros três primeiros dias, com consistência mole, dor leve e difusa, tamanho variável, cor normal, com progressão aumentada, sem secreção purulenta, predominância de bactérias aeróbias e de baixa gravidade. *A celulite surge entre o primeiro e o quinto dia, tem dor e bordas difusas, tamanho grande, coloração avermelhada, consistência endurecida, progressão aumentada, sem secreção, flora bacteriana mista e de gravidade alta. É um processo agudo e tem risco de sepse e de obstrução das vias aéreas. *O abscesso surge de 5 a 10 dias após o edema, tem dor e bordas localizadas, tamanho pequeno, centro de coloração brilhante, consistência do centro mole, progressão reduzida, secreção purulenta, flora bacteriana anaeróbia e de gravidade menor. Progressão *Após a inoculação dos tecidos profundos pelas bactérias, a infecção está ativa e se dissemina principalmente ao longo das linhas de menor resistência . A localização da infecção é determinada pela espessura da cortical óssea adjacente ao dente envolvido e a relação do local de perfuração do osso com as várias inserções musculares na maxila e mandíbula. *Ao chegar ao osso medular, a infecção se disseminará pelo ponto de menor resistência para conseguir perfurar a cortical óssea. Então, a perfuração será por vestibular quando o ápice do dente estiver mais próximo da vestibular e será por lingual ou palatina quando o ápice dental estiver mais próximo da cortical lingual ou palatina. *Na maxila, na maioria dos casos, o local de drenagem é a cortical óssea vestibular. A relação do ápice do dente com a inserção muscular determina se a drenagem ocorrerá em fundo de vestíbulo intra-oral ou externamente no espaço bucal. *Na mandíbula, as infecções dos incisivos, caninos e pré-molares resultam em abscessos vestibulares. Já infecções nos molares inferiores drenarão para a cortical lingual com mais frequência. Gravidade da infecção *Será determinada pela anamnese e exame físico. Deve-se observar a história clínica e evolução da infecção (quando iniciou, duração da infecção, tempo de evolução), se há presença de sinais sistêmicos da infecção (sinais vitais alterados, aspecto clínico alterado, febre, calafrio, sudorese, anorexia, desidratação, indisposição), estágio da infecção (auxilia no diagnóstico), história médica (se há alguma doença prévia que reduza a defesa do hospedeiro, doença metabólica não controlada, se há uso de drogas supressoras), fatores que influenciam a instalação e disseminação das infecções (quantidade e virulência das bactérias) e avaliar a gravidade da infecção (progressão rápida, dificuldade respiratória, dificuldade de deglutição, envolvimento dos espaços Cirurgia Bucomaxilofacial Larissa Albuquerque fasciais, temperatura acima de 39º, trismo acentuado). Espaços fasciais primários *Maxilares: bucal, canino e infratemporal. *Mandibulares: bucal, submentoniano, submandibu- lar e sublingual. Espaço bucal *Ocorre quando há perfuração da cortical vestibular pelas infecções dos molares superiores abaixo da inserção do bucinador, gerando a drenagem no fundo de vestíbulo intrabucal para o espaço bucal. Espaço canino *Localiza-se entre a parede anterior maxilar e o músculo elevador do lábio superior. Clinicamente, causa o aumento de volume flutuante do canto interno do olho. Ocorre quando a drenagem do canino ocorre para extrabucal. Espaço infratemporal *Raramente é infectado, mas quando ocorre é devido à infecção do terceiro molar superior. Espaço submentoniano *Na mandíbula, infecções originados nos incisivos, caninos e pré-molares geralmente drenam pela cortical óssea vestibular acima da inserção do músculo mentoniano, com drenagem vestibular. Caso a infecção se aprofunde pelo músculo, irá romper a cortical lingual, atingindo o espaço submentoniano, com drenagem extrabucal. Espaço sublingual *As infecções dos primeiros molares inferiores que rompem a cortical vestibular drenam para o fundo de vestíbulo (devido à inserção baixa do bucinador). Mas caso a infecção seja para lingual, se relacionará com o músculo miloioídeo que está inserido na linha oblíqua interna, ocorrendo a infecção no espaço sublingual. Espaço submandibular *Infecções dos segundos molares inferiores podem drenar para vestibular ou lingual. Caso drene para baixo do músculo miloioídeo irá atingir o espaço submandibular. Esse espaço também é atingido quando a infecção de terceiros molares verticalizados vai para lingual. Obs: quando os espaços submandibular, sublingual e submentoniano são atingidos bilateralmente em uma infecção, é chamado de angina de Ludwig. É uma celulite de evolução rápida que pode obstruir as vias aéreas e disseminar posteriormente para os espaços fasciais profundos do pescoço. Cirurgia Bucomaxilofacial Larissa Albuquerque Espaços fasciais secundários *Não é comum, mas quando ocorre pode ter sequelas graves, pois pode comprimir, desviar ou obstruir completamente as vias aéreas, invadir estruturas vitais e permitir a extensão da infecção para o mediastino e suas estruturas vitais. Infecções no mediastino (mediastinite) podem causar a morte em 20% dos casos. Espaço pterigomandibular *É atingido quando os terceiros molares inferiores estão horizontalizados e a infecção se localiza acima do músculo miloioídeo. Está localizado entre o músculo pterigóideo medial e a superfície medial do ramo ascendente. Geralmente, não há aumento de volume facial, porém o paciente apresenta trismo significativo. Espaço massetérico *Pode ser atingido quando as raízes dos terceiros molares inferiores estão em direção vestibular. Espaço temporal superficial (entre a fáscia temporal e o músculo temporal) e temporal profundo (entre o músculo temporal e o crânio) *Raramente são infectados. Espaço faríngeo lateral *A sua infecção causa trismo, aumento de volume lateral do pescoço, edema da parede faríngea lateral, dificuldade de deglutição, febre alta. A infecção é grave e pode progredir rapidamente. Espaço retrofaríngeo *Não fornece barreira para disseminação da infecção de um espaço faríngeo lateral para o outro, pois é formado de tecido conjuntivo frouxo e linfonodos. Espaço pré-vertebral *Raramente é envolvido em infecções odontogênicas. Tratamento *Tem a meta de obter suporte médico(proteção das vias aéreas e defesas comprometidas do hospedeiro), remoção da fonte de infecção, drenagem cirúrgica da infecção, antibioticoterapia e reavaliação quanto à resolução. *Caso seja possível, deve-se preservar o elemento dentário que causou a infecção (realizar tratamento endodôntico e periodontal). Quando não for possível, deve ser retirado o mais cedo possível, pois proporciona a remoção da causa, drenagem do pus e resíduos acumulados. *Pode ser necessário realizar incisão e drenagem cirúrgica para drenar a secreção purulenta e células necróticas. Isso reduz a tensão dos tecidos que estavam distendendo a região causando aumento de volume local e melhora o suprimento sanguíneo. *A técnica cirúrgica consiste em escolher o ponto de maior flutuação local (ponto mais superficial do abscesso). O local escolhido deve ser o mais inferior possível para a drenagem ser facilitada pela gravidade, deve se considerar também a questão estética. A incisão deve ser ampla o suficiente para a drenagem de todas as lojas do abscesso e deve haver uma incisão para casa espaço fascial envolvido. Cirurgia Bucomaxilofacial Larissa Albuquerque Incisões para drenagem extra oral: A- temporal superficial ou profundo; B- submentoniano ou submandibular; C- submandibular, submassetérico; D- espaço faríngeo lateral ou porção superior do retrofaríngeo; E- espaço retrofaríngeo ou bainha carotídea. *Após a incisão, o tecido deve ser divulsionado, irrigado e, após a drenagem, colocar um dreno. Antibiótico empírico recomendado *Paciente ambulatorial: • Amoxicilina e clindamicina. • Alergia à penicilina: azitromicina, clindamicina, moxifloxacina (maiores de 18 anos). *Paciente internado: • Ampicilina + sulbactam, clindamicina, ampicilina + metronidazol. • Alergia à penicilina: clindamicina, ceftriaxona, moxifloxacina, vancomicina + metronidazol. Recomendação AHA *Uso oral: amoxicilina 2g. *Uso intravenoso: ampicilina 2g IM ou IV; cefazolina ou ceftriaxone 1g IM ou IV. *Alergia à penicilina ou ampicilina – uso oral: cefalexina 2g; azitromicina ou claritromicina 500mg; doxiciclina 100mg. *Alergia à penicilina ou ampicilina – uso intravenoso: cefazolin ou ceftriaxona 1g IM ou IV. Recomendação ESC *Dose profilática 1 hora antes do procedimento com amoxicilina ou ampicilina 2g. Em caso de alergia, clindamicina 600mg. Substituição de antibióticos *Deve ocorrer a troca em caso de alergia, reação tóxica, TC pós-operatória com cirurgia adequada, cirurgia repetida mal sucedida, mínimo de 48 horas de antibiótico IV, pelo menos 72 horas de antibiótico oral, relatório de cultura e sensibilidade indicando resistência ao antibiótico, diagnóstico de fascite necrosante. Insucesso no uso dos antibióticos *Ocorre quando a cirurgia é inadequada, a defesa do hospedeiro é deprimida, há corpo estranho, tumor, obstrução de drenagem anatômica e problemas com antibiótico.
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