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ESTRATÉGIA DE MARKETING Cláudio V. S. Farias Caroline Duschitz Gustavo M de Carvalho Marketing de serviços I Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os conceitos de serviços. � Escrever sobre as características que compõem o serviço e suas empresas. � Expressar sobre o papel do marketing de serviços para mercados e consumidores. Introdução Neste texto, você vai aprender sobre a importância do marketing para as empresas prestadoras de serviços. Para isso, você estudará os conceitos do marketing de serviços, suas principais características e como ele é essencial tanto para o mercado quanto para o público. Caracterização dos serviços Os serviços são de extrema importância para a economia brasileira e mundial. Por esse motivo, é necessário fazer mais uso das noções de marketing para essa atividade econômica. Ao entender a dinâmica desse mercado, a empresa pode obter vantagens competitivas. Bancos, restaurantes, hotéis, consultorias, salões de beleza, escolas, com- panhias aéreas, empresas de logística, hospitais, clínicas e consultórios mé- dicos são exemplos de empresas de serviços. Serviço não é um bem tangível, é algo imaterial, que traz os benefícios sem a propriedade. Está vinculado à locação: pagamento para o uso ou acesso a algo, por um determinado período de tempo, em vez da compra. O serviço pode ser a combinação de dois ou mais itens: locação de produ- tos, locação de mão de obra e experiência, locação de lugares, acesso a am- bientes físicos compartilhados, acesso e uso de sistemas e redes. Por meio das empresas de serviço e da troca de dinheiro, tempo e esforço, o cliente espera obter acesso a bens, mão de obra, utilidades, habilidades profissionais, redes e sistemas. As empresas de serviço sofrem o impacto de forças e pressões do ambiente como: Estrategia_Marketing_U1_C03.indd 29 08/07/2016 17:11:30 Políticas governamentais: novos serviços estimulados por privatizações ou por mudanças na legislação para proteção aos clientes, aos empregados e/ ou ao ambiente. Mudanças sociais: os tempos atuais são marcados pelo rápido acesso à informação e pelo desejo que os consumidores têm de adquirir novas experi- ências de compra, não apenas novos bens. Isso gera carências de mercado, que são percebidas como oportunidades pelas empresas. A evolução no mercado pet, por exemplo, que conta com serviços como creche, hotéis e de babá, é um dos exemplos de como a mudança de comportamento das pessoas abre oportunidades de negócios. Tendências de negócios: fabricantes agregam valor ao bem pela oferta de serviços. Há um maior foco na qualidade e na satisfação do cliente, bem como um crescimento do número de franquias. Avanço das tecnologias da informação (TI): crescimento da internet móvel e das redes de comunicação sem fio (wireless). Globalização e internacionalização: mais companhias operam com ba- ses transnacionais, até mesmo por meio de fusões e alianças internacionais. Cresce o número de viagens internacionais. Aumenta a terceirização de servi- ços de atendimento ao consumidor (especialmente para empresas americanas e europeias, que passaram a utilizar centrais de call center instaladas na Índia e China). A concorrência internacional invade os mercados domésticos. Essas forças e pressões do ambiente acabam estimulando a transformação do mercado de serviços, gerando incremento de demanda, novos negócios e intensificando a competição. Um exemplo concreto da ação dessas forças é a inovação em serviços de entrega decorrentes do avanço da tecnologia. Veja algumas características importantes das empresas que prestam ser- viços e dos serviços: � São organizações baseadas em conhecimento. Empresas de serviço aten- dem diretamente ao público, por isso sua equipe necessita de treinamento e qualificação. � As empresas de serviços não oferecem aos clientes a posse dos serviços, diferentemente do que acontece com bens físicos adquiridos. � Os serviços devem ser compreendidos a partir da perspectiva de processo, isto é, podem ser entendidos como um ciclo ou uma ação que avança e tem um método e um conjunto de passos a serem seguidos com um objetivo comum. � Embora os serviços geralmente incluam elementos tangíveis, como o as- sento em um voo ou o conserto de um equipamento danificado, a perfor- Estratégia de marketing30 Estrategia_Marketing_U1_C03.indd 30 08/07/2016 17:11:30 mance dos serviços propriamente dita é intangível. Serviços não podem ser vistos, tocados ou embrulhados. Você já sabe que a locação de um automóvel não é a mesma coisa que a compra de um – poder usufruir o bem a qualquer momento é a principal diferença entre as ações de comprar e locar. Consequentemente, os esforços de marketing para a locação são diferentes daqueles para a venda. Esse é um exemplo de performance intangível. Para tornar mais palpável esse negócio, é importante enfatizar as indicações físicas e ima- gens que representem adequadamente o serviço. Exemplo � Os serviços são heterogêneos, pois a presença de funcionários e clientes na operação dificulta a padronização e controle de variação das perfor- mances. Bens físicos podem ser produzidos sob condições de controle, mas os serviços dependem da interação entre cliente e equipe de atendi- mento. Assim, os resultados podem variar em cada situação, o que pode não agradar ao público. � Os serviços são perecíveis, pois são atos ou desempenhos em vez de um item tangível que o cliente mantém. Portanto, não podem ser estocados para venda posterior. Você sabe que as instalações, os equipamentos e a mão de obra necessários devem estar disponíveis para gerar o serviço; porém, esses fatores representam apenas a capacidade produtiva, e não o produto/resultado em si. A empresa deve gerenciar a capacidade de atendi- mento e usar questões de precificação, promoção e reservas para suavizar a demanda, adequando a velocidade da operação dos serviços e, talvez, oferecendo horários estendidos. Um exemplo da perecibilidade é o serviço de urgência de um hospital, no qual a ca- pacidade de atendimento é limitada. Ou seja, se não houver pacientes em uma noite, não haverá leitos extras na noite seguinte. Se houver pacientes em demasia, não haverá como atender a todos ao mesmo tempo, e as pessoas terão de esperar, o que pode causar insatisfação. Exemplo Marketing de serviços I 31 Estrategia_Marketing_U1_C03.indd 31 08/07/2016 17:11:30 � O consumo não pode ser separado da produção, visto que muitos serviços são entregues em tempo real. Os clientes devem estar fisicamente presentes para receber os serviços de organizações como companhias aéreas, hospi- tais, cabeleireiros e restaurantes. Há um grande envolvimento dos clientes no processo de produção. Assim, a empresa deve desenvolver equipamentos e sistemas de fácil utilização para o atendimento, treinar equipe e clientes, reforçando o conceito do serviço, e fornecer um bom suporte. A concepção do marketing de serviços integra outras áreas da administração, como gestão de operações (processos) e gestão de recursos humanos (pessoas). Saiba mais 1. Cada vez mais as empresas de serviços estão ocupando espaço no mercado. Hoje representam aproximadamente 70% do produto interno bruto do nosso país. E, com essa ascensão, os profissionais de marketing precisam estar atentos a esses serviços e a suas principais características. Sobre a caracterização do marketing de serviços, você pode afirmar que: a) é preciso entender como esse mercado de serviços funciona para se planejar frente aos concorrentes. b) para o sucesso, a organização deve oferecer apenas um serviço, mostrando qualificação e exclusividade. c) uma das vantagens das empresas prestadoras de serviço é que, por oferecerem algo intangível, sofrem pouca influência do ambiente. d) o acesso às informações dos clientes, por meio da internet, pode ser um agravante para as empresas prestadorasde serviços. e) o marketing é pouco utilizado nas organizações de serviços, uma vez que é uma área já dominante no mercado. 2. As organizações que oferecerem serviços buscam oportunizar aos seus clientes atividades que facilitem o seu dia a dia nos mais variados aspectos: transporte, mão de obra, entregas e outros. Uma das questões que mais influencia o mercado e faz com que esse tipo de organização esteja em constante evolução é o ambiente em que se encontra Exercícios Estratégia de marketing32 Estrategia_Marketing_U1_C03.indd 32 08/07/2016 17:11:30 inserida. A respeito dos elementos que influenciam o ambiente das organizações de serviços, é CORRETO afirmar que: a) As empresas prestadoras de serviços sofrem influência de práticas como as privatizações. b) Dificilmente os prestadores de serviços serão atingidos pelas mudanças sociais, já que elas alteram a vida da sociedade, mas não dos consumidores. c) As tendências de negócios modificam o ambiente somente quando não há avanços tecnológicos. d) As tendências de negócios, nesses ambientes, são lucrativas apenas para as empresas de bens e produtos. e) Os negócios baseados nos serviços têm mais chances de darem certo se agirem de forma local. 3. Forças e pressões do ambiente são responsáveis por incentivar a transformação constante do mercado de serviços. Os profissionais de marketing precisam estar atentos a importantes características dos serviços e das empresas que prestam serviços, se quiserem oferecer estratégias que impactarão positivamente nas organizações. Sobre essas características, pode-se dizer que: a) Como não trabalham com público, os funcionários impactam pouco nos resultados dessas empresas. b) A qualificação do serviço acontece basicamente com os conhecimentos adquiridos pelo prestador de serviço. c) Uma das vantagens das organizações que trabalham com serviços é que esses podem ser repassados como uma posse aos clientes. d) A inexistência de um ciclo é umas das características marcantes das empresas que comercializam serviços e não produtos. e) Os serviços prestados precisam ser sempre independentes da relação com algum produto para terem sucesso. 4. Sabe-se que o ambiente e os elementos que o compõem são responsáveis por influenciar o mercado e, consequentemente, os tipos de serviços que serão oferecidos aos consumidores. Além disso, a relação com os produtos tangíveis ajudam para constantes mudanças no mercado. Por isso, é CORRETO afirmar que: a) A relação entre os bens tangíveis e os serviços mostra a crescente valorização dos bens em relação aos serviços. b) Existe uma relação entre o tangível e o inatingível, em qualquer tipo de prestação de serviços. c) As variações do ambiente, que costumam afetar os mercados, são sempre nocivas aos negócios de serviço. d) Uma das dificuldades das empresas prestadoras de serviços é alcançar sempre a padronização e o controle da variação dos serviços. Marketing de serviços I 33 Estrategia_Marketing_U1_C03.indd 33 08/07/2016 17:11:30 e) Os serviços são todos duradouros, e isso faz com que a relação entre a empresa e o cliente esteja fortalecida. 5. É muito importante que as organizações que buscam trabalhar na prestação de serviços saibam trabalhar as capacidades daqueles que serão os prestadores da atividade proposta aos clientes. Para isso, a empresa precisa estar alinhada em busca de prestar o melhor serviço. O profissional de marketing é essencial para conduzir os processos relativos ao serviço. Isso porque: a) O profissional de marketing passa a ser o controlador dos outros setores da empresa, que não precisam decidir, apenas aplicar o método escolhido. b) Como os serviços não têm tempo para ser encerrados, o profissional de marketing precisa ter estratégias para finalizá-lo. c) O profissional de marketing precisa trabalhar o consumo junto à produção quando se trata de serviços. d) Sempre que houver um ciclo do serviço, é preciso que esteja alinhado com o ciclo do produto. e) O consumidor irá basear suas impressões finais sobre o serviço somente na performance do prestador de serviço. AGÊNCIA SEBRAE DE NOTÍCIAS. Inovação é o segredo de sucesso de pizzarias. PEGN, São Paulo, 09 jul 2014. Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Noticias/no- ticia/2014/07/inovacao-e-o-segredo-do-sucesso-de-pizzarias.html>.Acesso em: 14 ago. 2014. CID, T. Sistema identifica a satisfação do cliente por meio de reconhecimento facial. PEGN, São Paulo, 11 jul. 2013. Disponível em: <http://revistapegn.globo.com/Startups/ noticia/2013/07/sistema-identifica-satisfacao-do--cliente-por-meio-de-reconheci- mento-facial.html>. Acesso em: 14 ago. 2014. JAKITAS, R. Serviços como creche, hotéis e até agências de babás sustentam avanço do mercado pet. Estadão PME, São Paulo, 26 set. 2012. Disponível em: <http://pme.es- tadao.com.br/noticias/noticias,servicos-como-creche-hoteis-e-ate-agencia-de-babas- -sustentam-avanco-do-mercado-pet,2259,0.htm>. Acesso em: 14 ago. 2014. KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de Marketing. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Bra- sil, 1998. LOVELOCK, C.; WIRTZ, J. Services marketing: people, technology, strategy. 6th ed. New Jersey: Pearson Prentice Hall, 2007. Referências Estratégia de marketing34 Estrategia_Marketing_U1_C03.indd 34 08/07/2016 17:11:30 230 MÓDULO 4 | Criação de Valor OA12.1 Como o marketing de serviços difere do marketing de bens? MARKETING DE SERVIÇOS DIFERE DO MARKETING DE BENS O marketing de serviços difere do mar- keting de bens por causa das quatro di- ferenças fundamentais envolvidas nos serviços: os serviços são intangíveis, in- separáveis, variáveis e perecíveis.8 (Ver Figura 12.2.) Esta seção examina essas diferenças e discute como elas afetam as estra- tégias de marketing. Intangíveis Como sugere o título deste capítulo, a diferença mais funda- mental entre um bem e um serviço é que os serviços são intangíveis – eles não podem ser tocados, saboreados ou vis- tos como um bem puro. Quando você faz uma consulta, você vê e ouve o médico, mas o serviço em si é intangível. Essa característica prova ser altamente desafiadora para os profis- sionais de mar keting. Por exemplo, ela dificulta a transmissão de benefícios dos serviços – tente descrever se a experiência da visita ao seu dentista foi boa ou ruim e por quê. Os fornecedo- res de serviços de saúde (por exemplo, médicos, dentistas) oferecem certos confortos para ajudar seus clientes a experi- mentar e perceber seus serviços mais positivamente, como salas de espera repletas de televisores, bebidas e cadeiras con- fortáveis para criar uma atmosfera que atraia o mercado -alvo. Do mesmo modo, o IPic Theaters realça sua oferta de servi- ços ao proporcionar uma reviravolta na experiência do cinema. A experiência de luxo em um cinema da IPic funciona para criar um ambiente de “uma noitada” para casais acima de 21 anos de idade. Em vez de vender assentos separados, o IPic encheu seus cinemas com sofás amplos para duas pessoas. Os filmes que eles mostram são os mesmos; só o servi- ço mudou. E a rede de cinemas tem visto suas vendas explodirem.9 Ao focar em tornar a experiência no ci- nema um evento de luxo agradável para os casais em vez de apenas um indivíduo, os cinemas IPic se diferen- ciaram de seus concorrentes. Cada bilhete inclui uma pipoca como cor- tesia, uma “namoradeira para 2” confortável e espaçosa e comida pre- parada em restaurante durante os filmes exibidos após as 18h00, mais cerveja, vinho ou martínis.10 Por causa da intangibilidade dos serviços, as imagens que os profissio- nais de marketing usam reforçam o benefício ou o valor que um serviço proporciona. Os fornecedores de serviços profissionais, como médi- cos, advogados, contadores e con- sultores, dependem muito das per- cepções dos consumidores sobre sua integridade e confiabilidade. Ainda assim, as campanhas promo- cionais que algunsdesses profissio- nais usam têm sido criticadas pelos seus companheiros e pelos grupos de bem -estar dos consumidores. O O IPic oferece muito mais do que simplesmente um filme. F I G U R A As diferenças centrais entre serviços e bens Fatores que diferenciam os serviços dos bens Inseparável Intangível Variável Perecível CAPÍTULO 12 | Serviços: O Produto Intangível 231 A rede Choice Hotels garante a satisfação total do hóspede. “Dilema ético e social 12.1” discute a tensão criada quando os fornecedores de serviços usam táticas de marketing para atrair clientes para seus serviços, mas ainda assim tentam manter uma percepção de integridade e confiabilidade. Produção e consumo inseparáveis Outra diferença entre serviços e bens é que os serviços são pro- duzidos e consumidos ao mesmo tempo; isto é, serviço e consu- mo são inseparáveis. Porque a produção de serviços não pode ser separada do consumo, os profissionais de marketing de ser- viços astutos proporcionam oportunidades para que seus clien- tes se envolvam diretamente no serviço. Os fornecedores da área de saúde descobriram, por exemplo, que quanto mais controle eles permitirem aos seus pacientes na determinação do curso de tratamen- to, mais satisfeitos eles ficam.11 Pelo fato de o serviço ser insepará- vel de seu consumo, os clientes rara- mente têm a oportunidade de experi- mentar o serviço antes de comprá -lo. E depois que o serviço foi realizado, ele não pode ser devolvido. Imagine falar para seu dentista que você quer uma obturação de “teste” na sua cárie antes de ele começar a perfurar um dente. Pelo fato de o risco de compra nesses cenários poder ser relativa- mente alto, as empresas de serviços, algumas vezes, proporcionam garan- tias estendidas e garantias de 100% de satisfação. A rede Choice Hotels, por exemplo, declara: “Garantimos a INTANGÍVEL Uma característica de um serviço: ele não pode ser tocado, saboreado ou visto como um bem puro. INSEPARÁVEL Uma característica de um serviço: ele é produzido e consumido ao mesmo tempo, isto é, o serviço e consumo são inseparáveis. H Dilema ético e social 12.1: para quem você vai ligar? Houve uma época em que os advogados em muitos estados norte -americanos eram proi- bidos de anunciar seus serviços, pois muitos acreditavam que esse marketing subestima- ria a integridade da profissão. Com o passar do tempo, as leis foram revogadas. Mas, em face dos anúncios que se sucederam, muitos têm questionado se as táticas de marketing para alguns advogados passaram do limite. O termo “perseguidor de ambulância” ge- ralmente é usado pejorativamente para se referir aos advogados que solicitam clientes quando eles estão estressados ou com sua habilidade para tomar decisões racionais li- mitada, como, por exemplo, logo após um aci- dente de carro. O termo foi cunhado quando alguns advogados literalmente perseguiam as ambulâncias e ofereciam serviços legais para as pessoas afetadas. Os críticos dos advogados que comercializam seus servi- ços apontam para a propaganda agressiva e programas promocionais de que se utiliza e que geralmente exploram as vulnerabilida- des dos clientes potenciais depois de um acidente ou depois de terem sido, de certa maneira, impactados negativamente pelas ações dos outros. Os advogados que comer- cializam seus serviços dessa maneira ale- gam que proporcionam um serviço valioso para a sociedade. Para responder à necessidade por dire- cionamento ético, muitas associações pro- fissionais oferecem diretrizes e exemplos para ajudar os membros a determinar quais tipos de anúncios podem ser considerados antiéticos pelos colegas e outras partes interessadas. Por exemplo, a Ordem Ame- ricana de Advogados (ABA) elaborou um conjunto de regras que seus membros preci- sam seguir quando criam seus anúncios. Ela também oferece uma variedade de recur- sos para ajudar os advogados a determinar quais tipos de anúncios são apropriados. Entre esses recursos, a ABA oferece um site na internet dedicado às “Informações sobre o profissionalismo e ética em anún- cios de advogados”, decisões judiciais sobre os anúncios e links para as regras de divul- gação da associação de advogados espe- cíficas de cada estado.13 Por exemplo, uma das regras que se espera que os advogados certificados pela ABA sigam proíbe o uso de anúncios de pop -up ou o uso de atores quando anunciam serviços advocatícios.14 Para os advogados praticantes e outros profissionais, o dilema ético permanece: como equilibrar sua necessidade de obter clientes por meio do marketing com sua necessidade de manter uma imagem de profissionalismo e integridade? O marketing pode ser usado para comunicar os benefí- cios dos serviços legais sem explorar as vulnerabilidades dos clientes? ❖ satisfação total dos hóspedes nos hotéis Comfort Inn, Comfort Suites, Quality, Sleep Inn, Clarion e MainStay Suites. Se você não estiver satisfeito com suas acomodações ou nosso serviço, favor comunicar o problema imediatamente à recepção e dê-lhes a oportunidade de corrigir a situação. Se os funcioná- rios do hotel não conseguirem satisfazê -lo, eles lhe darão a es- tadia de uma noite grátis”.12 232 MÓDULO 4 | Criação de Valor serviços por todo os Estados Unidos e, para esse fim, propor- ciona treinamento extenso aos seus associados. Vá até qual- quer agência da Enterprise em qualquer aeroporto, e as chances são de que você seja recepcionado da mesma maneira persona- lizada. Os motoristas dos ônibus para o aeroporto carregarão e descarregarão suas malas. Quando você desce do ônibus, será cumprimentado pelo nome e seu carro estará pronto em alguns minutos. Essa transação tranquila e satisfatória de ser- viço é o resultado dos padrões bastante específicos da empresa e de seu excelente programa de treinamento. Os profissionais de marketing podem usar a natureza variá- vel dos serviços a seu favor. Uma estratégia de segmentação do micromarketing pode customizar um serviço para satisfazer exatamente as necessidades dos clientes (ver Capítulo 8). A Geek Housecalls tem uma estratégia de segmentação de mi- cromarketing e virá até sua residência ou seu escritório para consertar ou fazer a manutenção no seu computador – montar uma rede, limpar o HD ou mesmo ensiná -lo sobre a operação de um programa específico. A empresa es- colhe os “geeks pessoais” com base nas necessidades de cada cliente, permitin- do a oferta de serviço totalmente perso- nalizada. Outra empresa que construiu muito de seu sucesso em uma perspectiva de micromarketing é a The Charles Schwab Corporation. Fundada em 1973, a The Charles Schwab Corpo- ration obteve seu sucesso ao trabalhar bem próximo aos clientes para criar planos de investimentos e poupanças customizados que certamente os preparariam para a aposentadoria. A Schwab atualmente administra mais de US$ 1,4 trilhão em investimen- tos para 8,4 milhões de clientes.15 Pelo fato de a necessidade de cada cliente ser diferente, a Schwab personaliza totalmente cada oferta de serviço. Quando cria um portfólio para os clientes, os corretores da Schwab tentam elaborar um mix cauteloso de corretagem, banco, negociações de títulos, anuidades, contas poupança e hipotecas que melhor se adéquem a cada cliente.16 Em uma abordagem alternativa, alguns fornecedores de serviços abordam a questão da variabilidade ao substituir as pessoas por máquinas. Para transações simples, como sacar dinheiro, o uso do caixa eletrônico é geralmente mais rápido e mais conveniente – e menos variável – do que esperar na fila por uma caixa. Muitos varejistas estão instalando quiosques com acesso a internet banda larga em suas lojas. Além de ofe- recer aos clientes a oportunidade de comprar mercadorias online indisponíveis na loja, eles proporcionam um atendi- mento ao cliente rotineiro, deixando os funcionários livres para lidar com solicitações de consumidores mais exigentes e problemas, reduzindo, assim, a variabilidade de serviço.Por exemplo, os clientes podem usá -los para localizar mercado- rias na loja e determinar se certos produtos, marcas e tama- nhos estão disponíveis. Os quiosques também podem ser usados para automatizar os serviços da loja, como a adminis- tração da lista de casamento, cartões para presente, impressora de fotografias, formulários para cartão de crédito e serviço de encomenda de bolos e sanduíches. A seção “Agregando valor 12.1” descreve como alguns varejistas e outros fornecedores As necessidades dos clientes diferem e é por isso que a empresa de investimentos, Charles Schwab, personaliza suas ofertas. O computador quebrou? A rede caiu? Chame o Geek Housecalls. Variável Quanto mais pessoas são ne- cessárias para proporcionar um serviço, mais provavel- mente haverá variabilidade na qualidade deste. Uma ca- beleireira poderá fazer um corte de cabelo ruim pela ma- nhã porque ela saiu na noite anterior. Ainda assim, ela ofe- rece um serviço melhor do que a cabeleireira novata que trabalha na cadeira ao lado. Um restaurante, o qual oferece uma com- binação de serviços e produtos, geralmente consegue controlar a qualidade de seus alimentos, mas não a variabili- dade no preparo da comida ou en- trega. Se um consumidor tem um problema com um bem, ele pode ser substituído, refeito, destruído ou, se ele já estiver na cadeia de suprimen- to, devolvido. Em muitos casos, o problema pode ser consertado antes de o bem chegar às mãos dos consumidores. Mas um serviço inferior não pode ser chamado de volta; quando a empresa re- conhece um problema, o dano já foi feito. Como observamos na vinheta de abertura, a Enterprise Rent -A -Car tem trabalhado para padronizar a entrega de seus VARIABILIDADE Uma característica de um serviço: sua qualidade pode variar porque ela é proporcionada por seres humanos. PERICIBILIDADE Uma característica de um serviço: ele não pode ser armazenado para ser usado no futuro. CAPÍTULO 12 | Serviços: O Produto Intangível 233 quiosques na loja proporcionam informações, preços, disponi- bilidade e informações dos produtos para os clientes. Eles representam um suplemento útil para os vendedores, os quais não conseguem conhecer todas as características de muitos produtos high -tech que a empresa possui. Perecíveis Os serviços são perecíveis porque não podem ser armazena- dos para serem usados no futuro. Você não pode estocar sua filiação ao Gold’s Gym como faria com seu suco de tomate, por exemplo. A perecibilidade dos serviços proporciona desafios e oportunidades para os profissionais de marketing sobre a tare- fa crítica de combinar a demanda com a oferta. Contanto que a demanda e a oferta do serviço sejam combinações perfeitas, não há problemas, mas, infelizmente, essa combinação perfeita raramente ocorre. Uma estação de esqui, por exemplo, pode ficar aberta contanto que haja neve, mesmo à noite, mas a de- manda alcança o pico nos fins de semana e feriados, de forma que as estações de esqui oferecem ingressos mais baratos du- rante os períodos que estão fora do pico para estimular a de- manda. As empresas aéreas, os navios de cruzeiros, os cinemas de serviços estão reduzindo a variabilidade do serviço com máquinas de autosserviço. A entrega tecnológica dos serviços pode causar problemas adicionais. Alguns clientes desgostam da ideia de substituir um ser humano por uma máquina para as interações comer- ciais ou têm problemas em usar a tecnologia. Em outros casos, a tecnologia pode não funcionar adequadamente, como os escâneres nos caixas de autosserviço que falham ao ler toda a mercadoria, ou os caixas eletrônicos que ficam sem dinheiro ou apresentam defeitos. A internet reduziu a variabilidade do serviço em várias áreas. Antes de meados dos anos 1990, os clientes se envolve- ram em interações de um para um quando compraram itens para viagens (por exemplo, passagens aéreas, hotéis, aluguel de carros), ingressos para shows e filmes, seguro, hipotecas e mercadorias. Hoje, essas compras podem ser feitas direta- mente pela internet, e se o cliente quiser mais informações do que as que se encontram disponíveis online, a maioria dos sites proporciona meios para contatar a equipe de atendimento ao cliente por e -mail ou por telefone. Além dos benefícios online, a internet também reduziu a variabilidade de serviços na loja. Na Staples, por exemplo, os OS SERVIÇOS SÃO PERECÍVEIS PORQUE NÃO PODEM SER ARMAZENADOS PARA SEREM USADOS NO FUTURO. V Agregando valor 12.1: adicionando conveniência por meio de caixas de autosserviços17 Vistos como uma engenhoca quando foram introduzidos pela primeira vez em 1995, os caixas de autosserviço ganharam transfor- mações e estão se direcionando para mais arenas. Os caixas estão se multiplicando nos supermercados e nas lojas de descon- tos em uma velocidade estonteante. O Wal- mart, Kroger, Home Depot, Best Buy, Costco e IKEA já os usam. Mesmo as bibliotecas em todo o país estão instalando caixas de autosserviço para seus livros. Eles são bem-sucedidos e aumentam a lealdade dos clientes porque atraem aqueles que querem se movimentar rapidamente e acreditam que poderão passar suas compras pelos caixas com mais agilidade. Alguns peri- tos dizem que essa impressão se dá porque esses consumidores são mais ativos quando os usam, diferentemente de ter que esperar por um caixa, que os deixa sem ter o que fazer e faz parecer que o tempo está se arrastando. Outros alegam que o autosserviço realmente economiza entre 15 segundos e 15 minutos, dependendo do tamanho do pedido. O uso difundido de caixas eletrônicos abriu caminho para os caixas de autosser- viço e outros quiosques de autosserviço. Muitos clientes agora veem o autosserviço como uma maneira normal e rápida de passar suas compras pelo caixa. Se os clientes gostam dos caixas, os vare- jistas os adoram. Os quiosques substituem os funcionários no ponto de vendas e assim diminuem os custos de mão de obra. Nos aeroportos, os passageiros agora normal- mente fazem o check-in neles. Em compara- ção aos US$ 3 por cliente que custa para as empresas aéreas um agente para ajudar a fazer o check-in dos passageiros, o custo de um quiosque é muito mais baixo: US$ 0,14. Entre as melhores empresas do setor, 47% atingiram retorno de seus investimentos com os quiosques em três anos após a instalação. Espere encontrar quiosques em mais seto- res, como as redes de fast-food, e não apenas em aeroportos e filas de supermercados. Os clientes ficam mais satisfeitos e expressam maior lealdade para com a marca como resul- tado do aumento nas opções de autosserviço para pagamentos, pedidos e assistência. De acordo com o diretor de marketing e estraté- gia da IBM para as lojas de varejo, todas as vezes que você vê uma porta, há uma oportu- nidade para um quiosque ser instalado.18 ❖ Os caixas de autosserviço aumentam ou dimi- nuem a percepção de serviço dos consumidores? 234 MÓDULO 4 | Criação de Valor OA12.2 Por que é importante que os profissionais de marketing de serviços saibam o que os clientes esperam? PROPORCIONANDO UM SERVIÇO EXCELENTE: O MODELO DE LACUNAS Os clientes têm certas expectativas sobre como um serviço deve ser entregue. Quando a entrega desses serviços não satisfaz essas expectativas, o resultado é uma lacuna no serviço. O Modelo de Lacunas (Figura 12.3) foi elaborado e restaurantes enfrentam desafios similares e os combatem de maneiras parecidas. Como temos visto, não é fácil proporcionar um excelente serviço, e é preciso haver esforço para analisar cuidadosa- mente o processo de serviços parte por parte. Na próxima seção, examinaremos o que é conhecido como o Modelo de Lacunas, o qual foi elaborado para realçar as áreas onde os clientes acreditam que estão recebendo menos serviço ou um serviço inferior ao que eles deveriam receber (as lacunas) e como essas lacunas podem ser fechadas. Como os serviços são perecíveis, os fornecedores de serviços como as estações deesqui oferecem ingressos mais baratos à noite para estimular a demanda. 1. Quais são os quatro elementos de marketing que distinguem os serviços dos bens? 2. Por que não conseguimos separar as empresas em apenas vendedores de serviços e apenas vendedo- res de bens? 3. Quais são algumas das questões éticas associadas ao marketing de serviços profissionais? autoavaliação LACUNA NO SERVIÇO Resulta quando um serviço falha em satisfazer as expectativas que os clientes têm sobre como este deve ser entregue. LACUNA NO CONHECIMENTO Um tipo de lacuna no serviço; reflete a diferença entre as expectativas dos clientes e a percepção da empresa sobre tais expectativas. LACUNA NOS PADRÕES Um tipo de lacuna no serviço; pertence às diferenças entre as percepções da empresa sobre as expectativas dos clientes e os padrões de serviço que ela estabelece. LACUNA NA ENTREGA Um tipo de lacuna no serviço; a diferença entre os padrões de serviços da empresa e o serviço real que ela proporciona para os clientes. LACUNA NA COMUNICAÇÃO Um tipo de lacuna no serviço; refere-se à diferença entre o serviço real proporcionado aos clientes e o serviço que as ações de comunicação da empresa promete. para encorajar o exame sistemático de todos os aspectos do processo de entrega de serviços e prescreve as etapas necessá- rias para desenvolver uma estratégia de serviço ótima.19 Como mostra a Figura 12.3, existem quatro lacunas de serviços: 1. A lacuna no conhecimento reflete a diferença entre as expectativas dos clientes e a percepção da empresa sobre as expectativas desses clientes. As empresas conseguem preencher essa lacuna ao combinar as expectativas dos clientes com o seu serviço por meio de pesquisas. 2. A lacuna nos padrões pertence às diferenças entre as percepções da empresa sobre as expectativas dos clientes e os padrões de serviço que ela estabelece. Ao estabelecer padrões de serviços apropriados e medir seu desempenho, as empresas podem tentar preencher essa lacuna. 3. A lacuna na entrega é a diferença entre os padrões de serviços da empresa e o serviço real que ela proporciona para os clientes. Essa lacuna pode ser preenchida quando os funcionários satisfazem ou exce- dem esses padrões de serviços.20 4. A lacuna na comunicação refere -se à diferença entre o serviço real propor- cionado aos clientes e o serviço que as ações de comunicação da empresa promete. Se as empresas conseguem ser mais realistas sobre os serviços que podem proporcionar e ao mesmo tempo administrar as expectativas dos clien- tes de maneira eficaz, elas geralmente conseguem preencher essa lacuna. À medida que discutimos as quatro lacunas subsequente- mente, iremos aplicá -las à experiência que Marcia Kessler teve CAPÍTULO 12 | Serviços: O Produto Intangível 235 o piano muito bem. O café da manhã continental devia ter vin- do do continente, porque tudo estava velho e sem sabor. A Marcia não via a hora de ir para casa. A lacuna no conhecimento: buscando o que os clientes querem Uma primeira etapa importante em proporcionar um bom servi- ço é saber o que o cliente quer. Por exemplo, o hotel ofereceu ser- viços de babá, mas a maioria de seus clientes não tinha fi- lhos, não os trouxeram para a viagem ou simplesmente não queriam usar o serviço. Se o hotel soubesse que nin- guém iria aproveitar esse serviço, talvez tivesse trei- nado as babás para que lim- passem os quartos antes da chegada de seus hóspedes. Para reduzir a lacuna no conhecimento, as empresas devem entender as expecta- tivas dos clientes. Para en- tender essas expectativas, as empresas empreendem pes- quisas com os clientes e au- mentam a interação e co- municação entre gerentes e funcionários. com um hotel no Maine. Ela viu um anúncio para um pacote de fim de semana que cotava uma diária bastante razoável e listava os serviços grátis disponíveis no Paradise Motel: servi- ços gratuitos de babá, música ao vivo no piano do bar todas as noites, um café da manhã continental grátis, uma piscina aquecida e quartos recém -decorados. Quando reservou o quarto, Marcia descobriu que o preço anunciado não estava disponível durante o fim de semana, e era necessária uma esta- dia mínima de três dias. Após fazer o check -in com uma pes- soa sisuda na recepção, ela e seu marido descobriram que o quarto parecia datar de 1950 e não havia sido lim- po. Quando reclamou, tudo que recebeu foi indife- rença do gerente -assistente. Conformada com o fato de que eles estavam condena- dos a passar o fim de sema- na, ela resolveu ir nadar. In- felizmente, a água era aquecida por Booth Bay e a temperatura era de aproxi- madamente 50 graus. Nin- guém estava usando os ser- viços de babá porque havia poucas crianças pequenas no resort. O cantor no pia- no do bar era primo em se- gundo grau do proprietá- rio, e ele não conseguia cantar, muito menos tocar Quais lacunas de serviço a Marcia experimentou nas suas férias no Paradise Motel em Maine? F I G U R A Modelos de lacunas para melhorar os serviços FONTES: Michael Levy e Barton Weitz, Retailing Management. 7. ed. (Burr Ridge, IL: McGraw-Hill, 2009). Adaptado de Valarie Zeithaml, A. Parasu- raman e Leonard Berry, Delivering Quality Customer Service (New York: The Free Press, 1990); e Valarie Zeithaml, Leonard Berry e A. Parasuraman, “Communication and Control Processes in the Delivery of Service Quality”. Journal of Marketing, 52, n. 2, abr. 1988, p. 35-48. Lacunas em serviços Lacuna no conhecimento Lacuna nos padrões Lacuna na entrega Lacuna na comunicação Expectativas dos clientes pela qualidade dos serviços Percepções da administração sobre as expectativas dos clientes Padrões que especificam o serviço a ser entregue Serviço real entregue Percepções dos clientes sobre a qualidade do serviço Comunicação sobre a qualidade dos serviços 236 MÓDULO 4 | Criação de Valor principal, um quarto limpo com uma cama confortável e uma TV, no mínimo. As expectativas das pessoas também variam de acordo com a situação. Contanto que eles entreguem os serviços esperados, a Marcia poderá ficar satisfeita com ambos os hotéis, depen- dendo das circunstâncias. Se ela estivesse viajando a negócios, o Motel Paradise seria ótimo (se o quarto fosse pelo menos limpo e moderno), mas se ela estivesse celebrando seu décimo aniversário de casamento, ela provavelmente preferiria o Ritz. Assim, o fornecedor de serviços precisa não apenas saber e entender as expectativas dos clientes no seu mercado -alvo, mas também ter alguma ideia das ocasiões de uso dos serviços. avaliar a qualidade do ser- viço usando métricas de marketing bem estabele- cidas Para satisfazer ou exceder as expectativas dos clientes, os profissionais de marketing devem determinar quais são essas expectativas. Ainda assim, por causa de sua intangibilidade, muitas vezes é di- fícil para os clientes avaliar a qualidade do serviço, ou as percepções dos clien- tes sobre quão bem um serviço satisfaz ou excede suas expectativas.22 Os clientes ge- ralmente usam cinco dimensões distintas de serviços para determinar a qualidade do serviço em geral: confiabilidade, capa- cidade de resposta, garantia, empatia e atributos tangíveis (Figura 12.4). entender as expec- tativas dos clientes As expectativas dos clientes são baseadas em seus conhecimentos e experiências.21 As expectativas da Marcia eram de que seu quarto no hotel em Maine estaria pronto quando ela chegasse lá, a piscina estaria aquecida, o cantor conse- guiria cantar e o café da manhã seria fresco. Se o resort nunca en- tendeu suas expectativas, é impro- vável que eles conse- guiriam satisfazê -las. As expectativas va- riam de acordo com o tipo de serviço. As ex- pectativas da Marcia seriam mais altas, por exemplo, se ela tives- se ficado no Ritz -Carl- ton e não no Paradise Motel. No Ritz, ela es- peraria que os funcio- nários a chamassem pelo nome, estivessem cientes de suas preferênciasdietéticas e colocassem frutas frescas da sua esco- lha e flores recém -cortadas em seu quarto antes que chegasse. No Paradise Motel, ela esperava um check -in/check -out simples, fácil acesso à rodovia QUALIDADE DO SERVIÇO As percepções dos clientes de quão bem um serviço satisfaz ou excede suas expectativas. PROGRAMA PARA OUVIR O CLIENTE (VOC) Um sistema de pesquisa de marketing contínuo que coleta as opiniões dos clientes e os integra nas decisões administrativas. ZONA DE TOLERÂNCIA A área entre as expectativas dos clientes a respeito de seus serviços desejados e o nível mínimo de serviços aceitáveis – isto é, a diferença entre o que o cliente realmente quer e o que ele aceitará antes de ir a outro lugar. Por causa de sua intangibilidade, muitas vezes é difícil para os clientes avaliar a qualidade do serviço, ou as percepções sobre quão bem um serviço satisfaz ou excede suas expectativas. F I G U R A Blocos de construção da qualidade dos serviços CAPACIDADE DE RESPOSTA: A disposição de ajudar os clientes e proporcionar serviços imediatos. CONFIABILIDADE: A habilidade de realizar o serviço de forma confiável e precisa. EMPATIA: A atenção carinhosa, individualizada, proporcionada aos clientes. ATRIBUTOS TANGÍVEIS: A aparência de instalações físicas, equipamentos, pessoal e materiais para comunicação. GARANTIA: O conhecimento e cortesia dos funcionários e suas habilidades em transmitir confiança e convicção. CAPÍTULO 12 | Serviços: O Produto Intangível 237 Se você fosse aplicar as cinco dimensões de serviços ao seu próprio processo de tomada de decisão ao selecionar uma faculdade – a qual proporciona o serviço de educação –, você poderia encontrar resultados como esses na Figura 12.5. Se suas expectativas incluem uma experiência individuali- zada em uma instituição de vanguarda, talvez a Universidade B seja a melhor alternativa para você. Mas se você depende pesa- damente do desempenho acadêmico e da colocação de carreira da sua experiência na universidade, então a Universidade A tal- vez seja uma escolha melhor em termos das cinco dimensões de serviços. Se uma cultura sólida e tradição são importantes para você, a Universidade A oferece esse tipo de ambiente. Suas expectativas têm muito a ver com sua percepção de como a sua universidade se encaixa nessas dimensões de serviços. A pesquisa de marketing (ver Capítulo 9) proporciona um meio para melhor entender as expectativas de serviços dos consumidores e suas percepções da qualidade do serviço. Essa pesquisa pode ser adicional e cara, ou pode ser integrada nas interações diárias da empresa com os clientes. Hoje, a maioria refere à área entre as expectativas dos clientes a respeito de seus serviços desejados e o nível mínimo do serviço aceitá- vel – isto é, a diferença entre o que o cliente realmente quer e o que ele aceitará antes de ir para outro lugar.23 Para definir a zona de tolerância, as empresas fazem uma série de pergun- tas sobre cada dimensão de qualidade do serviço que está relacionada: • Ao nível de serviço desejado e esperado para cada dimensão, de baixo para cima. • Às percepções dos clientes de quão bem o serviço em questão desempenha e quão bem um serviço concorrente desempenha, de baixo para cima. • A importância de cada dimensão de qualidade do serviço. A Figura 12.6 ilustra os resultados de tal análise para o Lou’s Local Diner, um restaurante familiar. As classificações na esquerda são baseadas em uma escala de 9 pontos, na qual 1 é baixo e 9 é alto. A extensão de cada boxe ilustra a zona de tolerância para cada dimensão de qualidade do serviço. Por exemplo, de acordo com a extensão do boxe de confiabilidade, A zona de tolerância é a diferença entre o que o cliente realmente quer e o que ele aceitará antes de ir para outro lugar. Universidade A Universidade B Confiabilidade Oferece um currículo sólido com serviços extensos de colocação e estágios. Currículo cobre todos os cursos básicos, mas os cursos importantes nem sempre estão disponíveis. A colocação de carreira é, na melhor das hipóteses, caótica. Capacidade de resposta Lento para responder às inscrições. Política de visitação bem estruturada. Bastante inflexível com respeito a perguntas pessoais ou reuniões adicionais. Resposta rápida durante o processo de matrícula. Política de visitação aberta. Oferece uma variedade de recursos no campus para ajudar na tomada de decisão. Garantia Equipe parece bastante confiante na sua reputação e nos serviços. Uma equipe informal que transmite entusiasmo para a instituição. Empatia Parece lidar com o corpo estudantil como um todo, e não de acordo com as necessidades ou preocupações individuais. Muito interessada em proporcionar uma experiência singular para cada estudante. Tangíveis Campus bastante tradicional com aparência antiga. As instalações são bem cuidadas. Os quartos dos alojamentos são grandes, mas os banheiros são um pouco antigos. Campus renovado, com arquitetura moderna. Campus é menos cuidado. Os quartos dos alojamentos são espaçosos e com banheiros novos. F I G U R A Dimensões de serviços da universidade os clientes esperam um nível razoavelmente alto de confiabili- dade (parte superior do box) e só aceitarão o mesmo nível tam- bém (parte inferior do box). Na outra extremidade da escala, os clientes esperam um nível alto de garantia (parte superior do box), mas aceitarão um nível razoavelmente baixo (parte inferior do box). Essa diferença é esperada, pois também foi pedido que os clientes atribuíssem uma classificação de im- portância para as cinco dimensões de qualidade do serviço de forma que o total seja igual a 100%. Examinando a média de das empresas de serviços desenvolve programas para ouvir os clientes e contrata pesquisas de marketing contínuas para avaliar quão bem elas satisfazem as expectativas de seus clien- tes. Um programa para ouvir o cliente (VOC) sistemá- tico coleta as opiniões dos clientes e os integra nas decisões administrativas. Uma métrica de marketing importante para avaliar quão bem as empresas realizam as cinco dimensões de qualidade dos serviços (Figura 12.4) é a zona de tolerância, a qual se 238 MÓDULO 4 | Criação de Valor sempenho acima da zona de tolerância na dimensão de capacidade de resposta – tal- vez até muito. O restaurante local talvez queira conduzir mais pesquisa para verificar quais aspectos da capacidade de resposta está desempe- nhando muito bem, e, em seguida, considerar a possibi- lidade de cortar esses aspec- tos. Por exemplo, ser recepti- vo aos desejos dos clientes por um restaurante que sirva café da manhã 24 horas por dia pode ser caro e não adicionar mais valor ao Lou’s Diner, pois os consumidores aceitariam horários mais limitados. Um método bastante di- reto e barato para coletar as percepções dos consumido- res sobre a qualidade do ser- viço é coletá -las no momento da venda. Os fornecedores podem pergun- tar aos clientes como eles gostaram do ser- viço – embora muitas vezes os clientes se sintam reticentes em fornecer um feedback negativo diretamente para a pessoa que forneceu o serviço – ou distribuírem um questionário simples. A Starbucks aleato- riamente seleciona clientes para classifi- car suas experiências ao imprimir um en- dereço na internet na parte inferior dos recibos. Usando esse método, um cliente com uma reclamação não precisa fazê -la diretamente para o atendente que pode ter causado o problema, mas a Starbucks ain- da recebe um feedback quase que instan- tâneo. Independentemente de como as informações são coleta- das, as empresas tomam cuidado para não perdê -las, o que pode acontecer se não houver um mecanismo efetivo para filtrá -las para as pessoas -chave que tomam as decisões. Além disso, em alguns casos os clientes não conseguem avaliar de maneira eficaz o serviço até vários dias ou semanas depois. Por exemplo, as concessionárias de carros muitas vezesligam para seus clientes uma semana depois que um serviço foi realizado, como uma troca de óleo, para avaliar a qualidade oferecida. Outro método excelente para avaliar as expectativas dos clientes é fazer uso eficaz de seu comportamento de reclama- ção. Mesmo que as reclamações sejam tratadas de maneira efi- caz para resolver os problemas dos consumidores, sua essência é muitas vezes perdida nos gerentes. Por exemplo, um grande varejista de computadores respondeu às reclamações sobre a carência da oferta de serviço dos vendedores e sobre questões com os produtos por meio de um endereço de e -mail pelo qual as pessoas podiam contatar o departamento responsável. Esse contato provou ser bastante difícil quando o problema estiver no próprio funcionamento do computador.24 classificação de importância, concluímos que a confiabilidade é relativamente im- portante para esses clientes, mas a garan- tia não. Assim, os clientes têm uma zona de tolerância bastante estreita para as di- mensões de serviços que são bastante im- portantes para eles, e uma zona de tole- rância mais extensa para as dimensões de serviços que são menos importantes. Ob- serve, também, que o Lou’s Local Diner sempre tem uma classificação mais alta do que seu concorrente primário, Well -Know National Chain, em cada dimensão. Observe que a Well -Known National Chain pontua abaixo da zona de tolerân- cia na dimensão dos tangíveis, o que significa que os clientes não estão dispostos a aceitar a aparência e o cheiro do restau- rante. O Lou’s Local Diner, em contrapartida, tem um de- O Lou’s Local Diner sempre tem uma classificação mais alta do que seu principal concorrente, Well-Know National Chain, em cada dimensão de qualidade do serviço. Mesmo as empresas com as melhores técnicas formais de pesquisas devem, ocasionalmente, colocar os gerentes na linha de frente para que eles interajam diretamente com os clientes. Avaliações dos clientes sobre a qualidade dos serviçosF I G U R A Escala de 9 pontos 3 5 7 9 Lou’s Local Diner Concorrência: Well-Known National Chain Zona de tolerância dos clientes Confiabilidade Pontuações de importância Garantia EmpatiaCapacidade de resposta Atributos tangíveis Dimensões da qualidade dos serviços Nota: A escala varia de 9 – o qual indica uma qualidade bastante alta dos serviços em certa dimensão de qualidade do serviço – a 1 – o qual indica uma qualidade bastante baixa dos serviços. CAPÍTULO 12 | Serviços: O Produto Intangível 239 Os fornecedores de serviços geralmente querem fazer um bom trabalho, contanto que saibam o que se espera deles.25 Por exemplo, deve ser mostrado aos funcionários do hotel exata- mente como os gerentes esperam que eles limpem um quarto e quais tarefas específicas espera -se que realizem. No geral, mais funcionários aceitarão um processo voltado para a qualidade se estiverem envolvidos no estabelecimento de metas. Por exemplo, suponha que uma funcionária do hotel se recuse a limpar os copos de vidro nos quartos porque acredita que os copos plásticos descartáveis são mais ecológicos e mais higiê- nicos. Se a administração ouvi -la e fizer a mudança, a funcio- nária se sentiria mais comprometida com as outras tarefas envolvidas na limpeza dos quartos. Para os funcionários de serviços da linha de frente, as inte- rações prazerosas com os clientes nem sempre vêm natural- mente. Embora as pessoas possam ser ensinadas sobre tarefas específicas relacionadas ao seu emprego, simplesmente não é suficiente dizer aos funcionários para que sejam “simpáticos” ou “façam o que o cliente quiser”. Uma meta de qualidade deve ser específica: cumprimente cada cliente/hóspede que encon- trar dizendo “Bom dia/boa tarde/boa noite, senhor ou senhora”. Tente cumprimentá -los pelo nome. Mesmo as empresas com as melhores técnicas formais de pesquisas devem, ocasionalmente, colocar os gerentes na linha de frente para que eles interajam diretamente com os clientes. A menos que esses profissionais, os quais tomam as decisões sobre a qualidade dos serviços, saibam o que os fornecedores de serviços enfrentam diariamente e a menos que possam con- versar diretamente com os consumidores com os quais esses fornecedores de serviços interagem, qualquer programa de atendimento ao cliente criado por eles não será tão bom quanto deveria ser. A lacuna nos padrões: estabelecendo padrões de serviços Voltando ao nosso exemplo do Paradise Motel em Maine, suponha que ele tenha tentado determinar as expectativas de serviço de seus clientes e obteve uma boa noção delas. Seu tra- balho ainda está longe de terminar; a próxima etapa é estabele- cer seus padrões de serviços e desenvolver sistemas para garantir serviços de alta qualidade. Como ele pode se certifi- car de que todos os quartos estarão limpos até as 14h00? Que o Os fornecedores de serviços, assim como esta governanta de hotel, geralmente querem fazer um bom trabalho, mas eles precisam ser treinados para saber exatamente o que envolve um bom trabalho. café da manhã será checado todos os dias para garantir o fres- cor e a qualidade? O gerente precisa dar o exemplo dos altos padrões de serviços, os quais serão imbuídos em toda a organi- zação, e os funcionários devem ser totalmente treinados não apenas para completar suas tarefas específicas, mas também sobre como tratar os hóspedes. alcançar metas de serviço por meio do treinamento Para proporcionar um serviço de quali- dade consistentemente alta, as em- presas devem estabelecer metas es- pecíficas e mensuráveis com base nas expectativas dos clientes; para ajudar a garantir essa qualidade, os funcionários devem estar en- volvidos no estabelecimento de metas. Por exemplo, para o Para- dise Motel, o processo mais efi- ciente seria começar a limpar os quartos às 8h00 e acabar às 17h00. Mas muitos hóspedes querem dormir até mais tarde, e aqueles que acabaram de chegar querem entrar no quarto imediatamente, muitas vezes, antes das 17h00. As- sim, um padrão voltado para o cliente exigiria que os quartos fos- sem limpos entre 10h00 e 14h00. compromisso com a qualidade do ser- viço Os fornecedores de serviços seguem os exemplos da administração. Se os gerentes se esforçam para proporcionar um serviço excelente, tratar bem os clientes e exigir as mes- mas atitudes de todas as pessoas na empresa é provável que os funcionários façam o mesmo. Pegue, por exemplo, o Whole Foods Market, o supermercado de alimentos orgânicos no Texas. O Whole Foods é lendário pelo seu foco no atendi- mento ao cliente – que o tornou uma das redes de supermer- cado mais bem -sucedi das do mundo. O Whole Foods baseia sua filosofia em três esferas: “Whole Foods, Whole People, Whole Planet (Alimentos Inte- grais, Todas as Pessoas, o Planeta Todo)”.26 Ao recompensar os ex- celentes funcionários e promovê- -los internamente, a rede estimu- lou um ambiente no qual as lojas competem para melhor cuidar de seus clientes. Por exemplo, em um incidente no nordeste dos Es- tados Unidos, durante uma tem- pestade de neve, o novo sistema de registro de TI caiu. Em vez de se recusarem a vender alimentos para os clientes de Hartford, Connecticut, que desafiaram a Os fornecedores de serviços geralmente querem fazer um bom trabalho, contanto que saibam o que se espera deles. 240 MÓDULO 4 | Criação de Valor tempestade para chegar à loja, o gerente permitiu que esses consumidores, cansados, com frio e molhados, levassem os alimentos para casa sem pa- gar. Os caixas simplesmente embalavam suas compras e lhes desejavam boas festas. Na mente do gerente, não era certo “puni -los” por um erro que o departamento de TI do Whole Foods havia cometido. Isso é que é atendimento ao cliente!27 OA12.3 O que as empresas podem fazer para ajudar os funcionários a proporcionar serviços melhores? A lacuna na entrega: entregando qualidade de serviço A lacuna na entrega é “a horada verdade”, quando o cliente interage diretamente com o fornecedor do serviço. Mesmo se não houver nenhuma outra lacuna, uma lacuna na entrega resulta em falha em serviços. A Marcia passou por várias lacu- nas na entrega do Paradise Motel: o quarto sujo, a atitude do gia também pode ser empregada para reduzir as lacunas na entrega. (Ver Figura 12.7.) dando autonomia aos fornecedores de serviços Neste contexto, autonomia significa permi- tir que os funcionários tomem decisões sobre como o serviço é proporcionado aos clientes. Quando os funcionários da linha de frente têm autonomia para tomar decisões que ajudem seus clientes, a qualidade do serviço geralmente melhora. A Nords- trom determina um objetivo geral – satisfazer as necessidades dos clientes – e então encoraja seus funcionários a fazer o que for necessário para alcançá -lo. Por exemplo, um vendedor de calçados da Nordstrom decidiu separar dois pés de sapatos, um tamanho 37 e outro tamanho 38, para um cliente que não con- segue encontrar sapatos que lhe sirvam. Embora os outros dois sapatos não possam ser vendidos, o cliente comprou cinco pares naquele dia e, como resultado, tornou -se um cliente fiel da Nordstrom. Porém, dar autonomia aos fornecedores de ser- viço com apenas uma regra como “Use seu bom senso” (como faz a Nordstrom) poderá causar o caos. Na Nordstrom, os gerentes de departamento evitam abusos ao instruir e treinar os vendedores sobre o que significa “use seu bom senso”. No entanto, a autonomia dos fornecedores de serviços tam- bém pode ser difícil e onerosa. Nos casos em que o serviço é bastante repetitivo e rotineiro, como nos restaurantes fast -food, talvez seja mais eficiente e mais fácil seguir algumas regras básicas. Por exemplo, se um cliente não gosta de seu hambúr- guer, pergunte a ele o que ele gostaria ou lhe ofereça o dinheiro de volta. Se surgir uma circunstância excepcional que não se encaixe na regra, então o gerente deve lidar com a questão. A autonomia se torna mais importante quando o serviço é mais individualizado. Suponha que um homem tenha com- prado um caro relógio de pulso e, acidentalmente, o deixou cair antes mesmo de sair da loja. O vendedor que o atendeu deveria ter a autonomia de fazer o que fosse necessário para satisfazê -lo e assumir a responsabilidade pelo problema, em vez de passá -lo para outra pessoa. O “Poder da internet 12.1” examina um fabri- cante de camisetas que dá autonomia aos seus funcionários para que melho- rem seu atendimento ao cliente. proporcionando supor- te e incentivos O trabalho de um fornecedor de serviços muitas vezes pode ser difícil, especialmente quando os clientes são rabugentos ou gerente -assistente, a piscina sem aquecimento, o péssimo can- tor e a comida estragada. As lacunas na entrega podem ser reduzidas quando os fun- cionários têm autonomia para agir para o melhor interesse dos clientes e da empresa e seus esforços são sustentados para que possam entregar seus serviços de maneira eficaz.28 A tecnolo- AUTONOMIA No contexto de entrega de serviços, significa permitir que os funcionários tomem decisões sobre como o serviço é proporcionado aos clientes. APOIO EMOCIONAL Preocupação pelo bem-estar dos outros e apoio às suas decisões em um ambiente de trabalho. Mesmo se não houver nenhuma outra lacuna, uma lacuna na entrega resulta em falha em serviços. F I G U R A Métodos para reduzir as lacunas na entrega Reduzir as lacunas na entrega Autonomia aos funcionários Uso da tecnologia Proporcionar suporte e incentivos CAPÍTULO 12 | Serviços: O Produto Intangível 241 bremesa grátis – nesse caso, o gerente deve entender a decisão do garçom, e não puni -lo por dar comida de graça. A cadeia de fast -food Wing Zone entende o estresse que os clientes irritados podem causar aos garçons, e elaborou um método para proporcionar apoio emocional. Seus funcioná- rios novatos, que são na maioria estudantes universitários, não têm a experiência necessária para lidar com esses clien- tes. Dessa maneira, eles foram treinados para passar os clientes muito exigentes imediatamente para o gerente. Os gerentes da Wing Zone devolvem as reclamações para os clientes, per- guntando -lhes como gostariam que a empresa lidasse com o problema. Quando ambas as partes não conseguem encon- trar um meio -termo, esses profissionais encaminham o con- sumidor para o número de telefone gratuito da central cor- porativa e o site na internet para protocolar uma reclamação formal.30 insensatos. Mas o fornecedor de serviços não pode ser rude ou ofensivo apenas porque o cliente o é. O antigo clichê “Serviço com um sorriso” continua sendo a melhor abordagem. Para garantir que o serviço será entregue apropriadamente, a admi- nistração precisa dar suporte ao fornecedor de serviços de vá- rias maneiras. Primeiro, os gerentes e os colegas de trabalho devem pro- porcionar apoio emocional para o fornecedor de serviços ao demonstrar preocupação pelo seu bem -estar e apoiar suas decisões. Por exemplo, como pode ser bastante constrangedor quando um garçom sofre o abuso de uma cliente que acredita que sua comida foi preparada inadequadamente, os gerentes do restaurante devem dar apoio e ajudá -lo a superar sua reação emocional para a experiência de ser repreendido.29 Esse supor- te pode ser dado na forma de autorização para que o garçom corrija a situação dando ao cliente um novo prato ou uma so- OS GERENTES E OS COLEGAS DE TRABALHO DEVEM PROPORCIONAR APOIO EMOCIONAL PARA O FORNECEDOR DE SERVIÇOS AO DEMONSTRAR PREOCUPAÇÃO PELO SEU BEM-ESTAR E APOIAR SUAS DECISÕES. B Poder da internet 12.1: funcionários e clientes – serviço em todos os lados Baseado em Chicago, o fabricante de cami- setas Threadless exemplifica a concessão de autonomia e serviço do funcionário/ cliente. Não há “autonomia do funcionário e atendimento ao cliente”; no site da Thread- less na internet e na filosofia de sua empresa, não há a separação dos dois.31 A empresa de roupas toma um caminho diferente daquele da maioria dos fabricantes por todo o processo de produção de suas ofertas. Primeiro, o design vem dos consumidores. Uma comunidade online apaixonada, dedi- cada à ideia de um design de camiseta underground, submete ideias e esboços do que seria uma camiseta perfeita. Para ali- mentar a criatividade, os designers vence- dores recebem um pagamento em dinheiro de US$ 2 mil e um crédito de US$ 500 em mercadorias no site. O site proporciona um meio simples para apresentar ideias, incluindo um kit de submissão, que pode ser baixado e oferece aos futuros designers um template simples, instruções para impres- são direta e uma lista de razões para a recusa dos designs. Segundo, as decisões do produto também vêm da comunidade. Os 500 mil membros registrados (35 mil em 2005 )32 da Threadless votam no design postado, permitindo-lhes que expressem suas preferências em uma contagem de votos como a do American Idol. Usando o total dos votos e suas próprias impressões, os executivos da empresa selecionam cuidadosamente alguns designs para produzir, como “Ataque dos Toupeiras”, “Ziggy Stardog” e “Tyger, Tyger”. Terceiro, o varejista online proporciona um meio para os membros comprarem novas camisetas nesses mesmos designs que ajudaram a desenhar e selecionar. O site organiza sua variedade de ofertas em várias catego- rias a fim de que os clientes possam procurar por dispo- nibilidade, tamanho, estilo ou linha (por exemplo, Type- Tees, Select ou Kids). Os verdadeiros amantes de camisetas podem se regis- trar para o Clube dos 12, garantindo-lhes que recebam uma camiseta exclusiva, de edição limitada, uma vez por mês. Durante os sete anos de operação da em- presa, ela recebeu 200 mil submissões de designs, mas apenas mil foram escolhidos como vencedores. A Threadless tam- bém adicionou uma seção de crítica ao seu site, com a esperança de propor- cionar um serviço a fim de evitar que aqueles que sempre perdem se sin-tam desencorajados e levem seus negócios de camisetas – seja o design ou a compra – para ou- tro lugar. A seção de críticas dão aos designers antigos e aos clientes fiéis um meio para submeter um trabalho em progresso e obter um feed back da comunidade mais ampla. Assim, os membros po- dem participar da comunidade da Threadless, se assim quise- rem, sem ter de entrar na competição ferrenha. Por último, para garantir que os designers e os usuá- rios saibam quem se junta a eles em seus interesses, a Threadless solicita submissões de fotos dos membros vestindo suas camisetas ins- tantaneamente reconhecíveis. Sua seção de “Threadspotting” também apresenta amostras públicas, geralmente identifica- das pelos membros animados. ❖ A Threadless autoriza seus clientes a desenhar camisetas. expressem suas preferências em uma American . Usando o total dos votos e suas próprias impressões, os executivos da empresa selecionam cuidadosamente alguns designs para produzir, como “Ataque dos Toupeiras”, “Ziggy como vencedores. A Threadless tam- bém adicionou uma seção de crítica ao seu site, com a esperança de propor- cionar um serviço a fim de evitar que aqueles que sempre perdem se sin- tam desencorajados e levem seus negócios de camisetas – seja o 242 MÓDULO 4 | Criação de Valor área de saúde, que alguns deles acabaram buscando trabalho fora da área médica. As metas de serviços conflitantes também podem ocorrer em uma organização.33 Por exemplo, os gerentes do estoque podem restringir os níveis de compras para baixar os investi- mentos da empresa em estoque, mas essa tentativa de ser mais eficiente causa muito estresse nos vendedores, pois estes ficam sem o estoque de mercadorias que seus clientes precisam. Os gerentes, portanto, devem equilibrar as necessidades algumas vezes conflitantes dos gerentes de estoque e dos vendedores, proporcionando uma diretriz clara e supervisão no atendi- mento das expectativas dos clientes. Quarto, uma parte importante do programa de atendi- mento ao cliente é recompensar os funcionários pelo exce- lente serviço prestado. O Home Depot tem iniciativas de atendimento ao cliente que incluem um programa “Suco de Laranja”, em homenagem aos aventais alaranjados dos fun- cionários, que aloca até US$ 25 mil por trimestre para as lojas que proporcionam o melhor atendimento ao cliente.34 Os funcionários individuais podem receber bônus de até US$ 2 mil por mês ou US$ 10 mil por trimestre. O Home Depot determina qual loja é premiada ao examinar vários fatores: avaliações pelos colegas e gerentes, grupos de foco e pesqui- sas para ouvir os clientes. Entre 150 mil e 250 mil consumi- dores ligam para o 0800 da empresa todas as semanas ou O Home Depot aloca aproximadamente US$ 25 mil por trimestre para as lojas que proporcionam o melhor atendimento aos clientes. Segundo, os fornecedores de serviços requerem apoio ins- trumental – os sistemas e equipamentos – para realizar o ser- viço adequadamente. Muitos varejistas proporcionam apoio instrumental de ponta para seus fornecedores de serviços. Os quiosques nas lojas ajudam os vendedores a fornecer informa- ções mais detalhadas e mais completas sobre os produtos e lhes permitem fazer a venda de mercadorias que não são encontradas na loja ou estão temporariamente sem estoque. Terceiro, o apoio que os gerentes proporcionam deve ser constante e coerente por toda a organização. Os pacientes esperam que os médicos proporcionem um tratamento exce- lente, usando procedimentos e medicamentos de vanguarda, mas, como eles estão ligados aos sistemas de saúde administra- dos (organizações de manutenção da saúde ou OMSs), muitos deles precisam atender mais pacientes em seus consultórios e prescrever tratamentos não tão bons e mais baratos. Essas metas conflitantes podem ser tão frustrantes e emocional- mente desgastantes para os médicos e outros fornecedores da visitam seu site na internet – impresso na parte inferior do recibo – para classificar sua experiência quanto ao atendi- mento ao cliente. A lacuna na comunicação: comunicando as promessas de serviços A comunicação ruim entre os profissionais de marketing e seus clientes resulta em incompatibilidade entre as promessas de uma campanha publicitária e do vendedor e o serviço que a empresa pode realmente oferecer. O anúncio do Paradise Motel prometia tarifas razoáveis e muitos serviços grátis. Ainda assim, Marcia Kessler descobriu que a tarifa anun- ciada referia -se apenas aos dias de semana, e os serviços dei- xavam a desejar. O anúncio levantou as expectativas dos clientes para um nível não realista, preparando o Paradise para falhas nos serviços. Metas conflitantes podem ser tão frustrantes e emocionalmente desgastantes para os médicos e outros fornecedores da área de saúde que alguns deles acabaram buscando trabalho fora da área médica. CAPÍTULO 12 | Serviços: O Produto Intangível 243 As expectativas dos clien- tes podem ser administradas quando o serviço é entregue. Mensagens gravadas dizem aos clientes que ligaram para uma empresa quantos minu- tos eles terão de esperar até que o próximo operador este- ja disponível. Os vendedores de empresa–empresa (B2B) au- tomaticamente informam os clientes online sobre os muitos itens que não estão no estoque. Seja online ou nas lojas, os varejistas podem alertar seus clientes para que comprem mais cedo durante uma liquidação, porque o fornecimento dos itens de liquidação é limitado. As pessoas geralmente são razoáveis quando são alertadas de que alguns aspectos do serviço podem estar abaixo do padrão. Elas apenas não gos- tam de surpresas! Embora as empresas tenham dificuldades em controlar a qualidade do serviço, pois esta pode variar de um dia para o outro e de atendente para atendente, elas têm controle sobre como comunicam seu pacote de serviços para seus clientes. Se uma empresa promete mais do que pode entregar, as expecta- tivas dos clientes não serão satisfeitas. Um anúncio poderá atrair um cliente para uma situação de serviço uma vez, mas se o serviço não atendê -lo de acordo com o que prometeu, o cliente não retornará. Os clientes insatisfeitos provavelmente também contarão a outras pessoas sobre o serviço ruim, usando o boca a boca ou, cada vez mais, a internet, a qual tem se tornado um canal importante para os clientes insatisfeitos descarregar suas frustrações. A lacuna na comunicação pode ser reduzida ao administrar as expectativas dos clientes. Suponha que você precise de uma cirurgia, e o cirurgião explica, “Você sairá do hospital em cinco dias e voltará à sua rotina normal em um mês”. Você faz a cirurgia e se sente suficientemente bem para deixar o hospi- tal três dias depois. Com mais duas semanas, você está jogando tênis novamente. Está claro que você tem a tendência de acre- ditar que o cirurgião é um gênio. No entanto, independente- mente do sucesso da operação, se você tivesse de ficar no hospital por dez dias e levasse dois meses para se recuperar, ficaria, sem dúvida, chateado. Prometer apenas o que você pode proporcionar, ou possi- velmente um pouco menos, é uma maneira importante de con- trolar a lacuna na comunicação.35 Por exemplo, quando o Fe- deral Express emitiu pela primeira vez sua garantia de entrega no dia seguinte – “absolutamente, categoricamente no destino às 10h30” ele alcançou uma vanta-gem competitiva até que outras pessoas copiaram sua promessa. Agora, o Federal Express, muitas vezes, concede a entrega no dia seguinte quando o clien-te pagou apenas pelo serviço no segundo dia. Se a encomenda chegar no segundo dia, suas expectativas foram satisfeitas. Se ela chegar um dia antes, as expectativas foram excedidas. Uma maneira relativamente fácil de administrar as expectativas dos clien-tes é coordenar o mecanismo pelo qual a expectativa é criada e os meios pelos quais o serviço é proporcionado. As expectativas normalmente são criadas por meio de promoções, propaganda e venda pessoal. Aentrega é outra fun-ção completamente diferente. Se um vendedor promete a um cliente que o pedido será entregue em um dia, e essa entrega levar uma semana, ele ficará decepcionado. No entanto, se o vendedor coordenar o pedido com as pessoas responsáveis pela sua entrega, as expec-tativas dos consumidores provavel-mente serão satisfeitas. APOIO INSTRUMENTAL Proporciona os equipamentos ou sistemas necessários para realizar uma tarefa em um ambiente de trabalho. 1. Explique as quatro lacunas em serviços identifica- das pelo Modelo de Lacunas. 2. Liste pelo menos duas maneiras de superar cada uma das quatro lacunas em serviços. autoavaliação Produtividade dos serviços Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer técnicas de controle e melhoria da qualidade em serviços de saúde. Definir ações que propiciem a garantia da efetividade dos processos. Verificar aspectos que influenciam o resultado final da qualidade e da produtividade. Introdução A produtividade dos serviços de saúde é necessária para dar conta da demanda existente e está diretamente relacionada à qualidade da assis- tência, com a qual as instituições buscam sintonizar a oferta e a procura pelos serviços de forma a satisfazer as necessidades de ambos. Acredita- -se que quanto maior for o investimento da instituição em melhorias e qualidade, maior será sua produtividade e, por isso, a qualidade deve ser um compromisso de todas as pessoas envolvidas com as atividades da organização. A busca pela qualidade nos serviços de saúde tem o objetivo de garantir que o cliente será atendido da melhor maneira possível dentro de um contexto estrutural e organizacional adequado e que produzirá bons resultados para a comunidade e para a organização. Para a orga- nização, pelo fato de que, quando oferta um serviço de qualidade, fica bem reconhecida na sociedade e em uma boa posição no mercado; para a comunidade, pelo fato de receber um cuidado de excelência. Para isso, é necessário, portanto, investir em avaliações que permitam a análise de métodos de melhoria. Neste capítulo, você vai conhecer algumas técnicas utilizadas pelos gestores para o controle de qualidade em serviços de saúde, vendo que ações podem contribuir para a efetividade dos processos e que aspectos podem influenciar a qualidade e a produtividade dos serviços e, portanto, os seus resultados. 1 Técnicas de controle e melhoria da qualidade em serviços de saúde Em geral, a avaliação da qualidade é realizada como termômetro da efi ciência do serviço e da aceitação pelos usuários. Na saúde, esse é um parâmetro recente, utilizado pelos gestores para identifi car pontos de melhorias em seus serviços de acordo com as exigências dos clientes. A partir das técnicas de controle e melhoria de qualidade, os serviços procuram medir as condições de infraestrutura, equipamentos, recursos humanos e os resultados obtidos por meio deles (BÁO et al., 2019). Segundo Deus (2016), Avedis Donabediam foi o médico pioneiro no estudo e na investigação da qualidade dos serviços de saúde, na década de 1970, e abordou a qualidade por meio de três parâmetros: a estrutura, o processo e o resultado, o que se tornou um clássico dos estudos da qualidade nos ser- viços de saúde. A estrutura corresponde aos aspectos físicos, aos recursos humanos, materiais e financeiros, aos sistemas de informação e aos aspectos organizacionais. O processo diz respeito à assistência prestada, e avalia se são seguidos os padrões científicos estabelecidos pelos órgãos de saúde. Já os resultados representam as consequências positivas ou negativas tanto da estrutura quanto do processo e são validados pelo profissional, pelo usuário e pelo gestor. Cabe destacar, ainda, que a qualidade deve ser analisada em seus aspectos de efetividade e eficiência, relacionados a assistência — aperfeiçoamento dos processos e diminuição dos riscos —, infraestrutura e custos, além de ser um fator subjetivo, que dependerá dos valores e critérios de cada indivíduo. Para as instituições de saúde, preocupadas com seu desenvolvimento social e econômico, o referencial de qualidade está em responder ou superar as expectativas dos clientes (SILVA; SILVA; PEREIRA, 2016). O sucesso é consequência das instituições que criam alternativas para seus problemas com agilidade e assertividade, identificando de forma precoce as fragilidades em seus processos e criando mecanismos de correção e prevenção de falhas com inovação. Além disso, é imprescindível aos gestores a identi- ficação das potencialidades da concorrência e os meios de lidar com ela. O controle e a melhoria da qualidade de um serviço de saúde devem basear-se na manutenção dos padrões atuais e no investimento em produtos e serviços melhores e mais competitivos, que buscam a produtividade e o equilíbrio da organização (BÁO et al., 2019). Produtividade dos serviços2 A qualidade não é fruto somente da execução de um serviço de forma exemplar, mas depende do cenário, da produtividade e do comprometimento da organização com seus clientes. Também está relacionada ao bem-estar do cliente, aos conhecimentos científicos dos profissionais, às tecnologias aplicadas e pode ser caracterizada por sete pilares que estruturam a qualidade, conforme Avedis Donabedian (BÁO et al., 2019): eficácia; efetividade; eficiência; otimização; aceitabilidade; legitimidade; equidade. A avaliação da qualidade é uma forma de mensurar a eficiência dos serviços e, por isso, é muito utilizada pelos gestores. A instituição hospitalar, especial- mente, possui uma estrutura complexa, com vários serviços diferenciados e com uma equipe multiprofissional que detém alto grau de autonomia e desenvolve ações de prevenção, cura e reabilitação tanto em regime ambulatorial quanto de internação (SOLLER; REGIS FILHO, 2011). Para o controle de melhoria da qualidade em serviços de saúde, os gestores utilizam indicadores de desempenho institucional, o que possibilita uma tomada de decisão mais acertada. Outra forma de controle está baseada na Organização Nacional de Acreditação (ONA), que oferece uma metodologia de avaliação externa da qualidade dos estabelecimentos de saúde, avaliando os recursos da instituição (estrutura, processo e resultados), conforme padrões preestabelecidos, validados pela vigilância sanitária e realizados por peritos técnicos (PERTENCE; MELLEIRO, 2010). A vigilância sanitária tem papel importante na verificação dos ambientes e dos insumos utilizados pela instituição de saúde para a identificação dos possíveis danos e para a orientação técnica e científica das medidas de proteção dos indivíduos e coletividades. Os gestores podem solicitar essa acreditação de forma voluntária e periódica, como uma oportunidade de melhorar a qualidade e a segurança do cliente, ampliar o padrão de excelência dos processos e o padrão dos procedimentos. 3Produtividade dos serviços A inovação da organização, o gerenciamento dos riscos, a criação de comitês de excelência e qualidade, a garantia de canais de comunicação eficientes com os clientes e a avaliação constante dos indicadores são medidas imprescindíveis para melhorar o padrão de qualidade de instituição. Entre alguns desafios para essa prática, estão a cultura organizacional e estrutural, a adaptação e o envolvimento da equipe. Se a equipe e a direção não comprarem a ideia da importância de transformar estruturas e processos para entregar um serviço de maior qualidade para o cliente, as chances de atingir bons resultados diminui consideravelmente (BONATO, 2011). Segundo Bittar (2001), alguns indicadores hospitalares de qualidade são: taxa bruta de infecções; taxa de cesáreas; taxa de cirurgias desnecessárias; taxa de complicações ou intercorrências; taxa de infecção hospitalar (geral/sistêmica/topográfica, respiratória, urinária); taxa de mortalidade geral hospitalar; taxa de mortalidade institucional; taxa de mortalidade materna hospitalar; taxa de mortalidade operatória; taxa de mortalidade pós-operatória; taxa de mortalidade por anestesia; taxa de mortalidade transoperatória; taxa de remoção de tecidos normais. No entanto, é importante destacar que a análise dos indicadores de qua- lidade depende da comunicação organizacional. Assim, investir e valorizar a comunicação também é uma técnica eficaz para melhorar a qualidade dos processos da organização. A comunicação com clareza e objetividade contribui para o envolvimento dos funcionários na missão da organização em atingir um grau de excelência de atendimento aos seus clientes, assim como um ambiente confortável e equipamentos inovadores (SOLLER; REGIS FILHO, 2011). Produtividade dos serviços4 2 Ações para a garantia da efetividade dos processos As instituições de saúde, por exercerem suas atividades com pessoas em situ- ação de vulnerabilidade, precisam garantir que a assistência ofertada seja de qualidade por meio de ações de prevenção de agravos, recuperação e promoção da saúde, de forma descentralizada, tendo como objetivo o cuidado integral e a corresponsabilização do cliente. O cliente empoderado com informações claras e precisas é capaz de decidir conscientemente sobre aspectos de seu tratamento e seus cuidados — com isso, obtém-se um grau maior de efi cácia no tratamento realizado e, consequentemente, uma maior satisfação do usuário. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), por exemplo, entende o setor saúde como um local de produção de saúde; por isso a importância de estabelecer padrões de qualidade sobre o modelo de atenção de saúde ofertado aos beneficiários (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, [20--?]). As operadoras de planos de saúde, por sua vez, buscam seu reco- nhecimento como promotoras e gestoras dos cuidados a partir da priorização das tecnologias leves na sua atuação e da otimização da relação entre custos e qualidade. Já o setor público busca a oferta de uma atenção integral, equi- tativa e universal aos brasileiros por meio da atuação da saúde da família e dos demais serviços que compõem a atenção primária à saúde e que possuem como foco a prevenção de agravos e a promoção da saúde. Silva, Silva e Pereira (2016) destacam que, para garantir a efetividade dos processos, é necessário investir em treinamento profissional, otimização dos recursos, organização da assistência por meio de fluxos bem definidos e uma eficiente avaliação. O treinamento profissional é importante para desenvolver uma equipe de excelência, com um grupo motivado, capacitado do ponto de vista de inteligência emocional, alinhado ao perfil institucional e capaz de promover um clima organizacional e uma assistência de qualidade. Otimizar os recursos é uma forma inteligente de melhorar os processos e manter uma boa saúde financeira na instituição, pois facilita o processo de tomada de decisão de forma segura sobre os investimentos em melhorias. A definição de fluxos também favorece a eficácia da assistência ofertada, pois minimiza falhas no processo e aumenta as chances de bons resultados. Além disso, um bom recurso de avaliação da qualidade por meio de um sistema de vigilância contínua é imprescindível para a identificação de pontos que podem 5Produtividade dos serviços ser melhorados dentro da instituição. A avaliação é um processo intencional, técnico e político que se utiliza de diversas áreas do conhecimento e das experiências prévias do avaliador. De acordo com a D'innocenzo, Adami e Cunha (2006), a qualidade e a efetividade dos processos dizem respeito a: competência profissional; eficiência na utilização dos recursos; um mínimo de riscos aos clientes e profissionais; um alto nível de satisfação dos clientes; garantia de acessibilidade e equidade; conhecimento técnico-científico; continuidade do cuidado; comunicação assertiva entre os profissionais e entres os profissionais e os clientes. A efetividade e a eficácia andam juntas e servem de parâmetro para avaliar o quanto os resultados alcançados estão próximos daqueles esperados. Esses elementos permitem analisar as relações custo-efetividade e custo-utilidade dos recursos disponíveis e identificar se os custos adicionais justificam os benefícios adicionais alcançados. No entanto, como na área da saúde é difícil atribuir valor monetário a um cuidado ou assistência, preconiza-se a utilização dos indicadores de saúde (SOLLER; REGIS FILHO, 2011). Ao avaliar um serviço de saúde, percebe-se que a estrutura está diretamente relacionada à efetividade dos processos de assistência à saúde, o que, por sua vez, impacta no nível de saúde da população que dela se beneficia. É uma cadeia de codependência em que, mesmo que a avaliação da infraestrutura de uma instituição seja a que menos fornece subsídios para avaliação da qualidade da atenção à saúde, tem, ainda assim, influencia no fluxo dos processos, no bem-estar dos trabalhadores e na qualidade da hotelaria hos- pitalar (BÁO et al., 2019). Produtividade dos serviços6 3 O resultado final da qualidade e da produtividade: aspectos importantes Como vimos, a qualidade é um fator subjetivo, que depende dos valores, experiências e do conhecimento de cada indivíduo. Contudo, a instituição de saúde que está atenta às exigências dos clientes e às mudanças no mercado realiza adequações constantes em seu estabelecimento, visando a oferta de um serviço de excelência em um ambiente acolhedor, com equipamentos sofi sticados e efi cientes. As transformações no mercado da saúde, principal- mente relacionadas às tecnologias, são ininterruptas, e os profi ssionais, assim como as instituições, precisam estar atentos a elas, mantendo-se atualizados. A produtividade, por sua vez, depende da capacitação da equipe, do de- senvolvimento de suas habilidades, do bom relacionamento interpessoal e intersetores, dos fluxos de processo bem definidos, da infraestrutura ade- quada e do comprometimento da instituição. O profissional precisa entender qual é o motivo de fazer o que faz e a importância de sua função dentro do organograma da instituição. O gestor deve mostrar os motivos, oferecer as ferramentas necessárias, envolver os membros da equipe no planejamento das ações e compartilhar as decisões com todos — isso gera motivação e compro- metimento dos trabalhadores com os resultados alcançados pela organização. Mesmo que a saúde seja um bem essencial à vida humana, o setor que a representa não deve ficar estagnado e seus gestores não devem pensar que o pa- ciente deve adequar-se ao que a instituição tem para ofertar (BRASIL, 2014). O termo “paciente”, que, segundo o Dicionário Michaelis (PACIENTE..., c2020), representa aquele que tem paciência, que é conformado, que sabe esperar, no âmbito da saúde, passou a ser substituído por “cliente”, “[...] indivíduo que contrata serviços ou adquire mercadorias mediante pagamento” (VENTURA, 2019, p. 70). O pagamento, nesse caso, pode ser por meio dos seus impostos, como é o caso no Sistema Único de Saúde (SUS), ou por espécie, ao plano de saúde ou diretamente à instituição, e a mercadoria é o serviço prestado — um procedimento, um cuidado ou uma consulta, por exemplo. É natural do indivíduo avaliar todas as mercadorias que adquire ou serviços que contrata — assim, um cliente satisfeito divulga sua experiência para outras pessoas, sejam elas amigos, conhecidos ou familiares. Esse é o termômetro das instituições para identificar se seus investimentos estão condizentes com 7Produtividade dos serviços as necessidades dos seus clientes. A avaliação, nesse caso, tem o potencial de aumentar o engajamento e a eficiência dos serviços, bem como possibilitar que os gestores tomem decisões de forma mais segura e eficaz. Por isso, envolve a coleta de informações, de forma sistemática, tanto de seus usuários quanto de seus trabalhadores (DEUS, 2016). Aavaliação, portanto, é uma ferramenta de trabalho da gestão, pois sua apli- cação interfere diretamente no processo decisório mais racional, que permite propor soluções para os problemas que podem interferir no bom desempenho do serviço. Cada instituição de saúde, dessa forma, precisa estabelecer seus parâmetros de qualidade dentro dos padrões e critérios estabelecidos pela sociedade sobre aquilo que se espera de um local que produz saúde. Algumas podem priorizar o conforto, outras a ambiência, outras a tecnologia e até mesmo os lucros — no entanto, todas precisam estar atentas aos resultados e à produtividade. A gestão da qualidade e produtividade pode utilizar algumas ferramentas, como as que você confere a seguir (BONATO, 2011). Metodologia 5S: tem como objetivo aumentar a produtividade, reduzir despesas desnecessárias, otimizar a utilização de materiais, reduzir glosas, melhorar a quali- dade e a satisfação das pessoas no ambiente de trabalho. Método PDCA: busca o controle e a melhoria dos processos e dos produtos por meio de planejamento, execução, checagem e ajustes constantes. Diagrama de controle: propõe-se a visualizar os processos e suas possíveis va- riações, identificando alterações não planejadas que podem impactar na produ- tividade ou nos resultados. Brainstorming: técnica que busca explorar a criatividade de um grupo e oportunizar a participação de mais pessoas na busca por soluções inovadoras para os entraves que impedem a realização de um projeto. Independentemente da ferramenta de gestão utilizada, todas as instituições buscam o aumento da qualidade e da produtividade dos seus serviços, fatores que interferem no desempenho da organização. Essas ferramentas auxiliam na visualização, no planejamento e na execução das condições necessárias à implantação de melhorias estruturais, organizacionais e financeiras, colo- cando a instituição em um nível de competitividade no mercado da saúde — o Produtividade dos serviços8 resultado será a melhora no estado de saúde da população e o reconhecimento da instituição pela comunidade. A probabilidade de conquistar resultados favoráveis está diretamente relacionada ao uso correto da tecnologia combinado a um atendimento hos- pitaleiro e a uma hotelaria diferenciada. Além disso, a austeridade da gestão em reconhecer as arestas e corrigi-las precocemente contribui para o aumento da eficiência, da produtividade e da qualidade do serviço ofertado ao cliente. A avaliação da qualidade dos serviços de saúde é necessária para identificar fragilidades e visualizar oportunidades de melhorias por meio dos resultados e com base em evidências científicas. A relação direta entre processo e resultado é um campo de grande interesse de pesquisadores da área de avaliação da qualidade em saúde, e os indicadores podem auxiliar na mensuração e na análise das ações desenvolvidas pelo serviço. Por meio deles, a gestão consegue definir caminhos mais eficazes de conduta e monitorar os desfechos individuais dos clientes, identificando a relevância de cada processo no alcance dos resultados da organização (PORTELA, 2000). Internacionalmente, o uso de indicadores para mensurar a performance de um serviço hospitalar é considerado padrão. Da mesma forma, no Brasil, essa já é uma prática recorrente de gestores preocupados com a qualidade e a segurança dos serviços prestados pela instituição. Indicadores de processo e resultado, nesse sentido, podem ser usados para garantir decisões efetivas e racionais. Uma vez que o objetivo dos serviços de saúde é proporcionar melhores condições de saúde para a população, um bom indicador é aquele que consegue medir o cumprimento deste objetivo. Em outras palavras, a assistência em saúde é o objeto central de todos os indicadores de processos e resultados. Segundo Soller e Regis Filho (2011), os indicadores de resultados incluem mortalidade, morbidade, incapacidade e desconforto. Como exemplo, temos a proporção de internações que evoluíram para óbito e os anos de sobrevida devido ao uso de uma tecnologia médica. Os indicadores de processo dizem respeito à assistência ofertada ao cliente, como o tempo médio de espera para avaliação médica, por exemplo. Além disso, cabe destacar os indicadores de estrutura, que estão relacionados à qualidade e à quantidade de materiais, equipamentos e infraestrutura, como a disponibilidade de leitos na UTI, por exemplo. Portanto, quando os indicadores de processo e de resultado evidenciam a existência de áreas com problemas, devem ter sua análise complementada por indicadores de estrutura, de modo a torná-la mais fidedigna e para que 9Produtividade dos serviços seja possível identificar os motivos de manutenção destas áreas (BÁO et al., 2019). A construção de causa e efeito pode ser válida nesse processo; para isso, quanto mais informações, maior será a capacidade de avaliar a necessidade de manutenção do processo/área ou de alterações de ações para a melhoria dos resultados. O gestor em saúde, portanto, precisa esforçar-se para manter a produtivi- dade da instituição e contemplar os diferentes atores envolvidos no processo de produção de saúde e as mudanças tecnológicas, econômicas e sociais, a fim de construir uma vantagem competitiva no mercado. Reconhecer que o profissional precisa estar motivado para exercer suas atividades exige do gestor o investimento em um ambiente de trabalho com condições adequadas e em treinamentos para o desenvolvimento das habilidades individuais e coletivas dos trabalhadores. Para conquistar bons resultados na qualidade e na produtividade da sua instituição, desenvolva um clima organizacional em que as relações interpessoais possam se manifestar de forma saudável. Além disso, estimule a produção de conhecimentos e o desenvolvimento de novas competências, ou seja, foque na gestão de pessoas, para potencializar o crescimento e a inovação da instituição. AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Quem somos. [20--?]. Disponível em: http://www.ans.gov.br/aans/quem-somos. Acesso em: 2 jun. 2020. BÁO, A. C. P. et al. Indicadores de qualidade: ferramentas para o gerenciamento de boas práticas em saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 72, nº. 2, p. 360–366, abr. 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- -71672019000200360&tlng=en. Acesso em: 2 jun. 2020. BITTAR, O. J. N. V. Indicadores de qualidade e quantidade em saúde, RAS, v. 3, nº. 12, p. 21–28, jul./set. 2001. Disponível em: http://sistema4.saude.sp.gov.br/sahe/documento/ indicadorQualidadeI.pdf. Acesso em: 2 jun. 2020. Produtividade dos serviços10 Conceitos, evolução e perspectivas do marketing Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Explicar o que são serviços e identificar as principais tendências no setor. � Analisar o impacto da tecnologia sobre os serviços. � Descrever o mix expandido do marketing de serviços. Introdução Atualmente, os serviços são de grande importância na vida de todos. Aplicativos e sites dinâmicos, além da comunicação de valor por meio das redes sociais, ganham cada vez mais relevância. Os segmentos de saúde e beleza acompanham as tendências tecnológicas e inovadoras para comunicar valor a sua clientela, explorando as últimas tendências de marketing para serviços. Neste capítulo, você vai estudar sobre o conceito de serviços e as tendências de marketing no setor. Você também vai analisar qual é o impacto da tecnologia sobre os serviços e ainda conhecer o mix expan- dido de marketing. Serviços e principais tendências no setor Para conceituar serviços, é fundamental compreender as diferenças entre eles e os produtos. Os serviços são atividades realizadas no intuito de servir clientes. Eles se distinguem dos produtos pois são intangíveis, ou seja, não é possível tocá-los. Os serviços, atualmente, representam uma grande fatia do mercado em arrecadação de valores. Segundodados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (OLIVEIRA, 2019), em 2018, o setor de serviços foi responsável por 75,8% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e apresentou amplo crescimento. Esse crescimento é amparado, entre outros elementos, pela evolução do marketing e pelas formas modernas de agregar valor a serviços de modo perceptível para os clientes. Neste capítulo, você vai conhecer alguns elementos, como a evolução do marketing, que vão ajudá-lo a compreender as principais tendências do setor. No Quadro 1, a seguir, você pode ver as diferenças entre marketing 1.0, 2.0 e 3.0. Fonte: Adaptado de Arantes (2017). Marketing 1.0 Marketing 2.0 Marketing 3.0 Foco Produto Clientes Valores Objetivo Vender produtos Satisfazer e fidelizar o cliente Fazer do mundo um lugar melhor Cliente padrão Comprador massivo com necessidades físicas Consumidor inteligente com mente e coração Ser humano completo com mente, coração e espírito Força habilitadora Revolução Industrial Informação tecnológica Tecnologia new wave Conceito-chave do marketing Desenvolvimento de produto Diferenciação Corporação, visão e valores Gerenciamento de marketing nas empresas Especificação do produto Posicionamento corporativo e de produto Valores Proposição de valor Funcional Funcional e emocional Funcional, emocional e espiritual Interação com o consumidor Transações de um para muitos Relacionamento de um a um Colaboração de muitos para muitos Quadro 1. Diferenças entre marketing 1.0, 2.0 e 3.0 Conceitos, evolução e perspectivas do marketing2 A evolução do marketing A utilização do marketing foi transformadora para o avanço industrial. Ao passo que o marketing evoluiu em suas estratégias, a indústria também evoluiu em volume de vendas e formas de captar novos clientes, transformando seus desejos em necessidades. O marketing se desenvolveu em três fases distintas, em que se alteraram suas características, seus objetivos e suas formas de interagir com o consumidor. Na década de 1960, o marketing era centrado em produtos, ou seja, a ideia era apresentar o maior número de características positivas de um produto ao consumidor para despertar seu desejo de compra. Nessa fase, não se levava em conta a noção de que a demanda deveria ser criada. Além disso, não havia uma concorrência tão grande como há atualmente em qualquer segmento de mercado. Essas eram as principais características do marketing 1.0. A evolução para o marketing 2.0 parte do princípio de que existe uma con- corrência muito acirrada no mercado consumidor e de que o cliente já possui muitas informações sobre os produtos disponíveis. É papel do consumidor estipular o que deseja e como quer que os produtos sejam ofertados. Essa fase do marketing caracteriza-se pela capacidade de despertar emoções no público consumidor. O marketing 2.0 ainda se define pela segmentação do mercado e pela adequação de produtos de acordo com a real necessidade dos clientes, visando a sua satisfação. O marketing 3.0 deixa de interpretar o consumidor apenas como um mero receptor de mensagens das campanhas publicitárias. A internet modificou a forma como as empresas se relacionam com os clientes. Com o advento das redes sociais e o seu grande alcance, a opinião do público passou a ser ouvida de forma mais efetiva, tornando a comunicação com os clientes muito mais impactante. Outra característica que se destaca no marketing 3.0 é a preocupação das empresas com a construção de um mundo melhor. Dessa forma, os consu- midores podem optar por marcas que propagam valores com os quais eles se identifiquem. Para Kotler, Kartajaya e Setiawan (2012), a evolução do marketing dá conta das mudanças ocorridas ao redor do mundo criando novos conceitos, como marketing emocional, marketing experiencial e valor de marcas. Atual- mente, já se fala do marketing 4.0, cujo foco principal é o marketing digital, que inclui as mídias sociais e a inteligência artificial. 3Conceitos, evolução e perspectivas do marketing Principais tendências no setor de serviços O setor de serviços tem parcela significativa no mercado consumidor. A prestação de serviços cresce apesar da instabilidade e da estagnação econô- mica no País. Esse crescimento é altamente positivo no caso de pequenas e microempresas. As inovações tecnológicas sempre andaram lado a lado com a prestação de serviços. Considere, por exemplo, os aplicativos de mobilidade urbana, os serviços de streaming de vídeos, os cursos on-line, etc. Assim, é correto afirmar que a tecnologia é uma tendência no setor de serviços. Além dela, pode-se destacar como principais tendências do setor as listadas a seguir (FONSECA, 2018). � Sustentabilidade: os aspectos relativos à sustentabilidade estão em alta. Investimentos como o uso da energia solar podem gerar grande economia para empresas e representam uma das tendências para o setor de serviços. � Economia colaborativa: obter vantagens econômicas e reduzir gastos por meio da economia colaborativa são tendências do setor. Aplicativos como Airbnb e Uber são exemplos dessa tendência. A economia colaborativa adquire um sentido especial para as comunidades que aderem a ela. � Gerar experiências significativas: uma experiência significativa para os consumidores é um diferencial no ramo de serviços. A capacidade de associar serviços ou produtos a bons momentos representa um atrativo para os clientes. Estar atento às tendências no setor de serviços pode gerar vantagem com- petitiva e maior capacidade de reter e captar clientes. Não basta ter uma página no Facebook para ingressar no marketing 4.0. Deve-se ter em mente alguns conceitos importantes: � exclusão de barreiras geográficas; � comunidades globais; � influência da comunidade digital nas decisões das organizações. Conceitos, evolução e perspectivas do marketing4 Impacto da tecnologia sobre os serviços O mercado de serviços e o seu potencial de crescimento têm ligação direta com o comportamento do consumidor, com o marketing e com as suas novas tendências. As tendências do marketing, como economia colaborativa, susten- tabilidade e geração de experiências significativas, podem propiciar grandes ganhos para as empresas. Os avanços tecnológicos nos segmentos de saúde e beleza, em clínicas estéticas e empresas de cosméticos, vão muito além dos procedimentos e aparelhos novos e modernos. Eles também estão ligados ao marketing e a sua relação com as novas tecnologias. Ferramentas de marketing digital O marketing 3.0 caracteriza-se pela utilização irrestrita das mídias sociais e do marketing digital, bem como pela participação dos consumidores no processo de decisão das organizações. Para Kotler, Kartajaya e Setiawan (2012), um dos elementos do marketing 3.0 é o fator colaborativo: as empresas tencionam mudar o mundo e não conseguirão fazer isso sozinhas, necessitando do auxílio de parceiros e clientes. Para o sucesso das organizações, é fundamental que elas utilizem os conceitos do marketing 3.0 em qualquer segmento de mer- cado, inclusive nos de saúde e beleza, como em clínicas estéticas e empresas de cosméticos. A seguir, veja alguns exemplos práticos do uso dos conceitos do marketing 3.0. � Marketing de conteúdo: gerar conteúdo relevante e significativo para clientes é uma das formas de investir no marketing 3.0. É possível, por exemplo, criar vídeos ou postagens que ensinem algo, como tutoriais para maquiagens, e-books que dão dicas de negócios, bem como con- teúdos e storytelling que contem histórias. A ideia é imergir os clientes em um contexto que os conduza à realidade de determinado segmento. � Site dinâmico e atrativo: ter um site é de extrema importância, mas isso não basta. O leiaute da página também é fundamental: a forma como os conteúdos estão dispostos pode favorecer ou não a navegação dos visitantes. Além disso, o conteúdo disponível é importante; ele deve ser atrativo o suficientepara que haja desejo de conhecer as áreas do site. 5Conceitos, evolução e perspectivas do marketing � Mídias sociais: gerenciar as mídias sociais tornou-se uma obrigação para qualquer empresa. As redes sociais representam uma forma de alcançar muitas pessoas. O importante é identificar onde estão os clientes e o que eles querem ouvir em cada um dos canais de comunicação. � Inteligência artificial: a customização de produtos e principalmente de serviços, de acordo com os desejos e as necessidades dos clientes, deve se intensificar nos próximo anos. Apesar de a expressão “inteligência artificial” remeter a elementos futuristas, ela já está presente em nossa realidade. Esse conceito pode ser utilizado para prever o comportamento do consumidor e até mesmo para a automação de tarefas. � Internet das coisas: representando um dos maiores avanços do marketing, a internet das coisas já é uma realidade. Um dos usos dessa tecnologia é o recebimento de alertas via smartphone. É possível, por exemplo, informar o cliente sobre compras para a casa quando ele passa em frente a um supermercado. � Bussines intelligence: por meio de grandes bases de dados de clientes, os conceitos de bussines intelligence possibilitam tomadas de decisões mais assertivas. É possível, por exemplo, analisar a sazonalidade do mercado consumidor da área de cosméticos, mapeando quais são os produtos mais consumidos em determinadas épocas do ano. � Ferramentas do Facebook e do Google: utilizar os recursos do Facebook, como impulsionamento pago de postagem, pode impactar um número muito maior de clientes, já que as postagens orgânicas não possuem um alcance tão grande. Outro recurso são as ferramentas do Google que possibilitam que um site seja mais relevante do que outros nas buscas. O setor de serviços precisa valer-se do uso das tendências tecnológicas como recurso de marketing a fim de captar, reter e fidelizar clientes. Benefícios de investir em tecnologia e marketing A possibilidade de investir em tecnologias pode gerar diversas vantagens para o segmento de serviços. As melhorias apresentadas podem ser tanto em questões estruturais como no mapeamento de processos. Apesar de representar um alto custo para as empresas, o marketing deixou de ser um luxo para tornar-se uma realidade — e não apenas para grandes organizações. Empresas de pequeno e médio porte também precisam realizar investimentos em marketing. Conceitos, evolução e perspectivas do marketing6 O uso adequado das tecnologias no setor de serviços pode acarretar um aumento considerável nas vendas, auxiliando na compreensão do comporta- mento e dos desejos dos clientes. Isso leva ao aumento da competitividade. Para Torres (2009), o uso das tecnologias, principalmente da internet, acaba com as barreiras entre consumidores e fornecedores. Atualmente, muitos empreendedores, em especial aqueles que empreen- deram por meio de pequenas empresas, têm dúvidas sobre realizar ou não investimentos em tecnologia e marketing. Contudo, como você viu, tais in- vestimentos geram grandes vantagens para as organizações. O Google apresenta ferramentas de negócios que podem ajudar a potencializar vendas e alcançar mais clientes. A seguir, veja as principais dessas ferramentas. � Google Analytics: ferramenta que serve para realizar a análise de campanhas de marketing, gerando relatórios com o número de visitantes em um site, o seu tempo de permanência e os recursos acessados. A ferramenta é totalmente gratuita. � Google Shopping: quando são realizadas buscas por algum produto ou serviço, essa ferramenta apresenta opções de compra entre os resultados. Ela tem fácil utilização e pode potencializar os negócios. Mix expandido do marketing de serviços O conceito de marketing evoluiu ao longo dos anos. Entretanto, o marketing ainda busca despertar desejos e necessidades nos clientes. Em síntese, o ma- rketing mobiliza uma série de ferramentas e recursos para que as organizações atinjam seus objetivos, ou seja, a maximização dos lucros. Uma dessas ferra- mentas é o mix expandido de marketing, também conhecido como a estratégia dos 7 Ps. Para compreender esse conceito, você deve entender primeiro como funcionam os 4 Ps e os 4 Cs do marketing. Os 4 Ps do marketing O mix de marketing é uma ferramenta que possibilita formular estratégias a partir de quatro pilares básicos. Para Gonçalves e outros autores (2008), o mix de marketing engloba as decisões relativas ao produto, como a identificação de oportunidades de negócio, o preço (no sentido de agregar vantagem com- 7Conceitos, evolução e perspectivas do marketing petitiva), a praça e as promoções. Ele elenca as estratégias de comunicação do produto e os locais em que ele estará disponível. Cada P representa um elemento relativo a atividades do marketing: produto, preço, praça e promoção. Cada um desses elementos possui um significado distinto, como você pode ver a seguir. � Produto: esse elemento representa as principais características que agregam valor a um produto. Elas podem gerar um fator diferencial em um produto ou serviço ofertado, em detrimento de outros. � Preço: é o valor, ou seja, aquilo que será cobrado por um produto ou serviço. Esse elemento é muito importante, pois está ligado aos indi- cadores de viabilidade financeira. � Praça: esse pilar apresenta o local onde o produto ou serviço será ofere- cido aos clientes. Representa também a forma de comercialização — loja física ou on-line —, além de estar diretamente ligado à distribuição de um produto ou serviço. � Promoção: é o pilar que está ligado à comunicação e ao modo como os consumidores ficam sabendo de seus serviços e produtos, bem como das possíveis novidades. Os 4 Ps de marketing representam muito mais do que uma lista de elemen- tos. Eles são o norte para que a empresa organize a oferta de seus produtos ou serviços. Os 4 Cs do marketing O método dos 4 Cs foi desenvolvido na década de 1990 como forma de enri- quecer a estratégia dos 4 Ps. Robert Lauterborn (KOTLER; ARMSTRONG, 2003) criou uma estratégia para analisar os 4 Ps de marketing sob a perspectiva do consumidor, criando então os 4 Cs: cliente, custo, conveniência e comu- nicação. Veja a seguir. � Cliente: aborda as questões relativas aos desejos e às necessidades dos clientes de uma organização, por meio de um profundo conhecimento do público consumidor. � Custo: assim como o preço, o custo tem ligação direta com a sobrevi- vência da empresa. Ele representa todo o valor gasto pela organização para o cliente adquirir ou usufruir seus produtos ou serviços. Conceitos, evolução e perspectivas do marketing8 � Conveniência: relacionado ao P de praça, esse elemento diz respeito ao modo como o cliente adquire seu produto ou serviço — on-line, em lojas físicas, no varejo ou no atacado, entre tantas outras opções. � Comunicação: ligado ao P de promoção, esse elemento se relaciona à forma como cada consumidor fica sabendo dos produtos ou serviços da empresa, que pode personalizá-los conforme o cliente. O uso dos 4 Cs de marketing é extremamente vantajoso, pois possibilita às empresas conhecer melhor os seus clientes. O Quadro 2, a seguir, apresenta os 4 Cs e os 4 Ps, bem como a relação entre eles. Fonte: Adaptado de Souza (2015). 4 Cs 4 Ps Cliente: a empresa se concentrará nas necessidades e nos desejos dos consumidores, vendendo especificamente o que eles buscam. Produto: a empresa determinará que produtos irá desenvolver, com base na sua estratégia. Custo: o ponto de partida para a definição do preço final parte do quanto o cliente está disposto/ pode paga. Além disso, deve-se considerar o tempo necessário para a aquisição do bem e se haverá um “custo de consciência na transação”. Preço: o preço ao consumidor será o resultado da equação custos fixos + custos variáveis + margem de lucro. Conveniência: o gestor deverá conhecer onde seu público-alvo prefere comprar, como chega nesse lugar e em quemomento. A preocupação é tornar o produto/ serviço acessível — conveniente ao cliente, portanto. Praça: a empresa determinará os canais de distribuição onde os clientes podem encontrar seus produtos e serviços. Comunicação: o foco da comunicação será criar diálogo com o público- alvo. A ideia é desenvolver a empatia para que surjam negócios do relacionamento com os clientes. Promoção: a comunicação se concentrará na perspectiva das vendas, de fechar negócios, comunicando e vendendo ao mesmo tempo. Quadro 2. Estratégia dos 4 Ps e dos 4 Cs 9Conceitos, evolução e perspectivas do marketing Os 7 Ps do marketing O mix expandido de marketing é composto pelos 7 Ps do marketing. Esses 7 Ps reúnem sete características fundamentais para o ganho de competitividade em marketing na prestação de serviços. O mix expandido de marketing serve como base de análise para a elaboração de estratégias e surge em decorrência da evolução do marketing, bem como dos questionamentos relativos à capacidade de os 4 Ps satisfazerem os objetivos organizacionais. Como você viu, os 4 Ps representam os seguintes elementos: preço, produto, praça e promoção. O mix expandido de marketing agrega outros elementos ao composto de marketing: são mais três pilares que sustentam a estratégia dos 7 Ps. Segundo Lovelock e Wirtz (2011), a prestação de serviços exige um aumento nos 4 Ps, que passam a agregar outros elementos relacionados à entrega dos serviços. A seguir, você pode ver esses outros elementos. � Pessoas: são aqueles profissionais envolvidos no processo de prestação de serviços, bem como os stakeholders de uma organização. A interação entre eles afeta a qualidade do serviço prestado. � Evidências físicas: estão relacionadas à estrutura ou ao leiaute de uma prestação de serviço. Representam as características que evidenciam que o serviço prestado tem qualidade, ou que há credibilidade por parte da empresa que presta o serviço. � Processo: representa todo o processo de prestação de um serviço, desde a pré-venda até a pós-venda. Como você sabe, o sucesso na prestação de um serviço pode levar à retenção de um cliente. É evidente que o mix expandido de marketing, utilizado como ferramenta de marketing, representa a possibilidade de agregar vantagem competitiva às organizações. Os elementos do mix expandido possibilitam o aprimoramento do marketing para serviços, dado que esse setor possui algumas caraterísticas específicas, como a intangibilidade. Conceitos, evolução e perspectivas do marketing10 Marketing de serviços II Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar o mix de marketing. Construir os ciclos dos serviços. Estabelecer a relação entre a satisfação e o serviço. Introdução Entender a importância de criar ações e estratégias que possam fidelizar a clientela é fundamental hoje em dia, com mercados cada vez mais dispu- tados. Primando pela qualidade nos serviços e pelo bom atendimento, é preciso entender o ciclo de serviços e identificar o momento da verdade dos clientes e como eles experimentam os processos dentro das empresas para que, assim, tenham suas necessidades satisfeitas. Neste capítulo, você vai conhecer os sete elementos do mix de marke- ting, do mix de marketing tradicional ao mix de marketing expandido de serviços. Além disso, você vai entender como funciona o ciclo de serviços e, por fim, vai aprender a estabelecer uma relação entre a satisfação e o serviço prestado. Mix de marketing de serviços O mix de marketing é formado por componentes essenciais para que as em- presas possam atingir seus objetivos. Para Kotler e Armstrong (2007, p. 42), o mix de marketing “[...] é o conjunto de ferramentas de marketing táticas e controláveis que a empresa combina para produzir a resposta que deseja”. A noção de mix signifi ca que todas as variáveis estão relacionadas e dependem umas das outras até certo ponto (ZEITHAML; BITNER, 2014). Além dos quatro elementos já trabalhados nos compostos do marketing tradicional — produto, preço, praça e promoção —, alguns autores, como Zeithaml e Bitner (2014), consideram ainda mais três elementos importantes para as empresas, o chamado mix expandido do marketing de serviços: as pessoas, as evidências físicas e os processos, como exemplificado no Quadro 1. Nesse sentido, é importante lembrar que as estratégias para os quatro P’s iniciais (produto, preço, praça e promoção) requerem modi- ficações sempre que aplicadas a serviços. Assim, os 7 P’s mencionados representam um conjunto de variáveis de decisões inter-relacionadas que “[...] têm como propósito oferecer auxílio às empresas para que elas pos- sam alcançar seus objetivos e, atrelado a isso, satisfazer e fidelizar seus clientes” (SOUZA; SILVA, 2015, documento on-line). Produto Ponto Promoção Preço Características físicas do produto Tipo de canal Combinado de promoções Flexibilidade Nível de qualidade Exposição Pessoal de vendas Nível de preço Acessórios Intermediários Seleção Termos Embalagem Locais das lojas Treinamento Diferenciação Garantias Transporte Incentivos Descontos Linhas de produto Armazenagem Propaganda Abatimentos Branding Gestão de canais Tipos de mídia Tipos de anúncio Promoção de vendas Publicidade Estratégias para a internet/Web Quadro 1. Mix de marketing de serviços (Continua) Marketing de serviços II2 Zeithaml e Bitner (2014, p. 26) afirmam que: Em função de os serviços serem produzidos e consumidos simultaneamente, os clientes muitas vezes estão presentes na fábrica da companhia, interagem diretamente com seus funcionários e, na verdade, fazem parte do processo de geração de serviços. Além disso, visto que os serviços são intangíveis, os clientes frequentemente procuram pontos tangíveis que os auxiliem a entender a natureza da experiência do serviço. O primeiro item que vamos conhecer melhor é o produto. Para Kotler e Armstrong (2007), produto é algo que pode ser oferecido a um mercado para apreciação, aquisição, uso ou consumo e para satisfazer um desejo ou uma necessidade dos consumidores. É composto por atributos tangíveis, no caso bens de consumo, como cores, embalagem e design, e intangíveis, referentes aos serviços, como a reputação da marca da empresa e a prestação de serviços pós-venda. Ainda pode haver Fonte: Adaptado de Zeithaml e Bitner (2014). Pessoas Evidência Processo Funcionários Projeto das instalações Fluxo de atividades Recrutamento Equipamentos Padronizado Treinamento Sinalização Customizado Motivação Vestuário dos funcionários Número de etapas Recompensas Outros tangíveis Simples Trabalho em equipe Relatórios Complexas Clientes Cartões de visita Envolvimento do cliente Educação Balanços Treinamento Garantias Quadro 1. Mix de marketing de serviços (Continuação) 3Marketing de serviços II uma combinação dos dois atributos, que pode ser oferecido a um mercado, para sua apreciação e aquisição, uso ou consumo e que pode satisfazer um desejo ou uma necessidade (GRIFFIN, 2001). Para tanto, o produto é considerado parte palpável do serviço. Nesse sentido, é preciso focar em criar uma marca forte e que possa competir no mercado. É a partir da marca que a empresa consegue espelhar credibilidade e referência, fazendo o consumidor escolher seu produto ou serviço pela confiança passada pela marca. O preço, segundo ponto que veremos, normalmente é atribuído para se gerar receita, lucro. No contexto de serviços, os consumidores atrelam ao preço uma forma de mensurar a qualidade. Cabe lembrar que os preços são diferentes na percepção de cada consumidor, pois as pessoas têm vários desejos, mas as condições financeiras para saciá-los não são as mesmas; assim, só comprarão se constarem satisfação em função do preço cobrado (LAS CASAS, 2000). O preço tem significados ou sentidos distintos no mix de marketing. Alguns elementos têm o poder de criar valor para o cliente e implicam desembolsos paraa empresa; com o preço, recupera-se parte do valor investido (URDAN; URDAN, 2011). Além disso, é importante ressaltar que o preço pode ser um fator determinante na escolha do consumidor. A praça, também chamada de canais de distribuição, é responsável pela distribuição física (do armazenamento dos produtos ao transporte) e também pela coleta e distribuição de informações relevantes, obtenção de financia- mentos, entre outros. Para Urdan e Urdan (2011, p. 126), “[...] os profissionais administram o composto de marketing para realizar trocas com o mercado. Eles começam cuidando do produto. Mas a troca só acontece se o produto estiver no lugar, momento e forma que o consumidor espera”. É correto destacar que, antes de iniciar um negócio ou até mesmo na decisão de escolha da sua localização, é preciso saber o que você quer do seu e para o seu negócio. Definir as suas características, conhecer o mercado-alvo que se pretende alcançar, os tipos de produtos que serão ofertados, a cultura local, dis- ponibilidade de transporte, o nível de concorrência, localização dos fornecedores e até mesmo a leis que estão diretamente ligadas ao seu negócio é essencial. No que se refere à promoção, a comunicação é fundamental. Segundo Kotler (2007, p. 30), “[...] promoção é a parte da comunicação que se compõe das mensagens destinadas a estimular as pessoas a tomar consciência dos vários produtos e serviços da empresa, interessando-se por eles e comprando-os”. A ideia é buscar estímulos que fixem as informações na mente dos consumi- dores, principalmente nos novos, que as empresas precisam cativar, a fim de influenciar na decisão de escolha. Marketing de serviços II4 De acordo com Urdan e Urdan (2011, p. 253), “[...] para alcançar os objetivos de comunicação, existem as ferramentas: propaganda, marketing direto, venda pessoal, promoção de vendas e relações públicas”. Cada ferramenta tem pontos fortes e fracos, e cabe ao profissional definir a que melhor se aplica ao negócio. Concluído o mix de marketing tradicional, agora podemos analisar os 3 P’s do mix expandido do marketing de serviços: as pessoas, evidências físicas e os processos. Como já sabemos, por ser uma das características dos serviços a intangibilidade, os clientes frequentemente procuram pontos tangíveis que os auxiliem a entender a natureza da experiência do serviço, como, por exemplo, a aparência, a empatia e o atendimento dos funcionários, a limpeza, entre ou- tros. Tudo pode influenciar nas percepções, escolhas e satisfação dos clientes. Zeithaml e Bitner (2014) descrevem bem as características desses três últimos P’s a serem estudados. Pessoas: “[...] todos os atores humanos que desempenham um papel na execução do serviço e que, por isso, influenciam as percepções do comprador: o quadro de pessoal da empresa, o cliente e outros clientes no ambiente de serviços” (ZEITHAML; BITNER, 2014, p. 343). As atitudes, os comportamentos, o modo de vestir e a aparência física dos atores são elementos que influenciam nas percepções dos clientes em relação ao serviço. Além disso, os clientes não apenas alteram os desfechos de seus próprios serviços, mas também influenciam os de outros clientes. Evidência física: “[...] ambiente em que o serviço é consolidado e em que a empresa e o cliente interagem, do qual fazem parte muitos com- ponentes tangíveis que facilitam o desempenho ou a comunicação do serviço” (ZEITHAML; BITNER, 2014, p. 27). Aqui são incluídos todos os elementos tangíveis do serviço, como brochuras, papel timbrado, cartões de visita, relatórios, sinalização e equipamentos, evidências físicas a partir das quais a empresa pode enviar mensagens fortes e consistentes sobre a finalidade da organização, os mercados almejados e a natureza do serviço. Processo: “[...] processos, mecanismos e fluxo de atividades reais pelos quais o serviço é executado — a concretização do serviço e os sistemas operacionais” (ZEITHAML; BITNER, 2014, p. 27). Pode ser necessária uma extensa série de ações por parte do cliente para completar o processo quando os serviços são complexos. Logo, o que o cliente vivencia, isto é, o fluxo operacional do serviço, também oferece elementos para a avaliação de um serviço. 5Marketing de serviços II Esses três novos elementos no mix de marketing são especialmente visíveis nos serviços, nos quais “[...] estão sob o controle da empresa e qualquer um ou todos eles têm a capacidade de influenciar a decisão inicial do cliente de adquirir um serviço, o nível de satisfação deste cliente e as decisões de recompra” (ZEITHAML; BITNER, 2014, p. 29). Além disso, podem ser capazes de fazer com que os clientes influenciem outras pessoas na decisão de compra. Veja uma síntese dos 7 P’s do marketing no link a seguir, que apresenta um vídeo de Ju Tôledo, CEO e proprietária e diretora de relacionamento da Cookie Tecnologia e Marketing. https://qrgo.page.link/Cn2Mw Os ciclos de serviços Como já se sabe, a satisfação do cliente deve ser o foco de qualquer empresa que pretenda oferecer um serviço de qualidade, e essa qualidade deve estar relacionada à satisfação dos desejos, necessidades e expectativas da clientela que busca esses serviços. Para tanto, devemos ter ciência de que qualidade é uma medida da extensão do valor de algo ou experiência que satisfaz as expectativas e necessidades, resolve um problema ou adiciona valor para alguém (ALBRECHT, 1998). Levando em consideração o que já estudamos até agora e a relação entre qualidade e satisfação dos clientes, devemos entender, agora, como se dá o processo de experiência do cliente com a empresa que presta serviços e, para isso, conceituaremos o ciclo de serviços. O ciclo de serviços é a sequência completa de “momentos da verdade” que o cliente experimenta para ter satisfeita uma necessidade. O denominado “momento da verdade”, acentuado pelos autores Albrecht (1998) e Machado, Queiroz e Martins (2006), pode ser observado na Figura 1 e refere-se ao momento em que o consumidor mantém relacionamento com algumas áreas da organização e forma o seu julgamento quanto à qualidade dos serviços então adquiridos — pois o cliente analisa não apenas o resultado final, mas o sistema como um todo. Marketing de serviços II6 Figura 1. O clico dos serviços. Fonte: Adaptada de Albrecht (1998). Segundo Albrecht (1998), esse ciclo de serviços é a cadeia contínua de eventos pela qual o cliente passa à medida que experimenta o serviço prestado por uma empresa. Sendo assim, é uma configuração natural e inconsciente que está na cabeça do cliente e que pode não ter coisa alguma a ver com o enfoque “técnico” estabelecido pela empresa. Observando essa configuração, Gianesi e Corrêa (2006) afirmam que podem existir três estados distintos nesse ciclo de serviços: o de qualidade excelente, quando o serviço supera o desejo ou a expectativa do consumidor; o de qualidade inadmissível, quando o serviço oferecido é inferior à expectativa do cliente; e o de qualidade gratificante, quando o serviço prestado satisfaz a expectativa do cliente. São momentos em que a empresa que presta serviços e o cliente se encontram frente a frente e que o cliente tem a oportunidade de experimentar a qualidade do serviço. Observando como se concretizam os diferentes momentos que constituem um ciclo de serviços, a empresa pode repensar inúmeros aspectos da gestão internos e externos, visto que um ciclo constitui ferramenta de auxílio tanto para o planejamento quanto para o controle de um serviço. Assim, é possível nortear decisões gerenciais do ciclo capazes de construir uma estratégia de serviço solidificada e válida. Qualidade na relação entre satisfação e serviço A satisfação é um dos principais elementos capazes de fi delizar um cliente e está intimamente ligada à qualidade do serviço prestado e à experiência viven- ciada pelo cliente junto a empresa. Ou seja, para o cliente, toda a experiência 7Marketing de serviços II adquirida durantea prestação do serviço infl uirá na determinação de sua percepção de qualidade, e a satisfação quase sempre está ligada às questões de comunicação e atendimento ao consumidor. Segundo Las Casas (2000, p. 225) “[...] comunicação e relacionamento formam a base da interpretação entre a empresa e seus clientes”. Quando os clientes sabem que são “ouvidos” e suas opiniões melhoram os processos, sentem-se gratifi cados e mantêm relação com a empresa, pois acreditam que serão atendidos quanto às suas necessidades e desejos. Segundo Kotler e Keller (2006, p. 139), “[...] a probabilidade de satisfação e repetição da compra depende de a oferta atender ou não a essa expectativa de valor” que o cliente busca. Essa relação entre satisfação e prestação de serviços deve ser muito bem observada pelos profissionais de marketing que atuam nas organizações, principalmente nos dias atuais, em que os clientes estão cada vez mais exigentes, que perdoam menos e têm poder de voz — sem falar que são abordados por mais concorrentes com ofertas iguais ou melho- res. Reconhecer que a satisfação dos clientes é um dos objetivos centrais da empresa é essencial. Para Gummesson (2005), é o momento, então, de as organizações volta- rem-se ao básico, de entender que o seu ponto central é o atendimento das necessidades humanas, sejam elas quais forem. No entanto, é necessário que as empresas vejam seu negócio do ponto de vista do consumidor, com foco no cliente e orientado para o mercado. Não podemos esquecer que a satisfação deve ser um processo contínuo, cíclico, pois os consumidores sempre buscam informações sobre o produto ou serviço antes mesmo de entrar numa loja física ou site. Por isso, também é importante que os funcionários detenham conhecimento da sua atividade, de modo a passar segurança ao cliente e satisfazer de forma rápida e eficaz as dúvidas desses clientes em potencial, conquistando-os e fidelizando-os. Essa relação entre o funcionário e o cliente, dentro da proposta do marketing de serviço, mostra-nos que a satisfação é largamente influenciada pelos valores dos serviços percebidos pelos consumidores e que, por consequência, tanto tem o poder de gerar maior lealdade dos consumidores na compra de seus produtos ou serviços quanto pode aumentar as vendas e lucratividade das empresas (HESKETT et al., 1994) (Figura 2). Marketing de serviços II8 Figura 2. Cadeia dos serviços. Fonte: Heskett et al. (1994, documento on-line). Grönroos (2003) também destaca que, nesse novo paradigma, o ponto central da diferenciação passa a ser a criação de valor para o consumidor, e esse valor não está necessariamente no produto ou serviço entregue, mas, sim, nos processos e nas interações, ou seja, nos encontros entre o cliente e seu fornecedor ou provedor de serviço. Kotler e Keller (2006, p. 139) contribuem ainda afirmando que: De modo geral, a satisfação é a sensação de prazer ou desapontamento re- sultante da comparação entre o desempenho (ou resultado) percebido de um produto e as expectativas de um comprador. Se o desempenho não alcançar as expectativas, o cliente ficará insatisfeito. Se alcançá-las, ele ficará satisfeito. Assim, devemos entender que o grande desafio do marketing de serviços não é deixar apenas seus clientes satisfeitos, mas, acima de tudo, tornar seus clientes fiéis, já que eles são termômetros de suas ações e estratégias. “Para empresas centradas no cliente, a satisfação de seus clientes é ao mesmo tempo uma meta e uma ferramenta de marketing” (KOTLER; KELLER, 2006, p. 144). 9Marketing de serviços II Os clientes fiéis serão aqueles que também divulgarão a marca e a empresa e, por meio do buzz marketing, farão o que chamamos de marketing boca a boca, disseminando sua satisfação em relação à empresa até que outras pessoas sejam influenciadas e impactadas por eles, já que a fidelidade cria um compromisso de comprar e recomendar repetidamente certos produtos e serviços. ALBRECHT, K. Revolução nos serviços: como as empresas podem revolucionar a maneira de tratar os seus clientes. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1998. GIANESI, I. G. N.; CORRÊA, H. L. Administração estratégica de serviços. 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Marketing de serviços II10 Qualidade dos serviços Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar o conceito de qualidade dos serviços e sua posição estratégica. � Listar as lacunas que compreendem a qualidade de serviços. � Reconhecer a qualidade dos serviços como norteadora para resultados estratégicos. Introdução Compreender os fatores determinantes de qualidade na visão estratégica da organização e na percepção do cliente é fundamental para garantir percepção de valor, satisfação e lealdade dos clientes em curto, médio e longo prazo. Neste capítulo, você vai estudar o modelo de lacunas na qualidade dos serviços, o que engloba a visão do cliente quanto aos serviços prestados e a visão da empresa que presta serviços ao cliente. O conceito de qualidade dos serviços e sua posição estratégica A palavra qualidade é ampla e utilizada em infinitas situações. Podemos obser- var, contudo, que sempre que nos referimos à qualidade, em qualquer situação, esta vai depender inevitavelmente de vários fatores, que, modificados, podem alterar a percepção de qualidade. A noção de qualidade varia em cada pessoa ou setor, que tem ou cria seu próprio conceito. Pode-se dizer, resumidamente, que qualidade é a ausência de qualquer defeito. Tecnicamente, qualidade pode ter dois significados, as características de um serviço ou produto, que dão suporte na satisfação de requisitos específicos ou implícitos, ou, ainda, um serviço ou produto sem deficiências. Na maioria dos casos, o conceito recai na perspectiva do cliente, dizendo que a qualidade percebida correspondeu ou mesmo superou sua expectativa inicial, ou seja, está diretamente relacionada com o nível de satisfação do cliente. Sua satisfação é função e reação ao desempenho percebido e das expectativas criadas. A qualidade percebida pelo cliente está diretamente relacionada ao seu nível de satisfação em função do desempenho percebido e das expectativas geradas. Há três possibilidades nas relações entre expectativas e percepções: a expectativa é menor que sua percepção; a qualidade percebida éboa, quando a expectativa é igual à percepção da qualidade percebida, é aceitável; e, por fim, quando a expectativa é maior que a percepção, a qualidade percebida é muito pequena. O serviço ao cliente é um processo que tem por finalidade fornecer benefícios significativos de valor agregado. Um programa de serviço ao cliente deve identificar e priorizar todas as atividades destinadas a atingir objetivos e, além disso, deve incorporar medidas de monitoramento e desempenho. É preciso implementar uma política de melhoria permanente, sem acomodação, para não ser ultrapassado pelo crescimento e pela evolução da concorrência. O que sabemos por estratégia, ou, ainda, o que sabemos sobre a capaci- dade das empresas para alcançar um desempenho superior e competir? Em primeiro lugar, sabemos que para se ter uma estratégia adequada, é preciso ter uma meta adequada e plausível, nada mais nada menos que ter um excelente retorno. Ao desenvolver sua estratégia de serviços ao cliente, deve observar qual segmento pretende alcançar, especificamente na prestação de serviços, em que os empregados desempenham um papel fundamental, porque são aqueles que criam o produto e se comunicam com o consumidor diretamente. Os indicadores de desempenho têm importância fundamental na gestão da empresa. É primordial entender o planejamento estratégico e ter objetivos definidos de maneira clara no momento da definição das metas a serem al- cançadas. Partindo disso, a elaboração e a gestão dos indicadores de desem- penho podem e devem estar direcionadas ao monitoramento da evolução dos resultados e servir como parâmetro no processo de tomada de decisões e/ou na elaboração de um melhor rendimento. Existem outros indicadores que são relevantes e que devem ser considerados, como o de produtividade, qualidade, capacidade e estratégia, que orientam e dão a real situação da empresa com relação aos objetivos traçados e alcançados. O êxito na gestão de qualidade está ligado diretamente ao esforço e ao trabalho de equipe. É importante selecionar no mercado de trabalho os recursos humanos daqueles profissionais mais preparados e com maior potencialidade Qualidade dos serviços2 e aptidão para exercer funções na organização. A gestão da qualidade deve ser um processo ininterrupto, por meio de manutenção, procura e permanente atualização dos seus profissionais, gerando vantagem de competitividade e maior sustentabilidade. As características básicas dos serviços, a intangibilidade, a heterogeneidade e a inseparabilidade, necessitam ser estudadas e consideradas para se ter um entendimento conclusivo do que seja realmente qualidade de um bem. “Na simultaneidade, serviços são consumidos quase que simultaneamente ao mo- mento em que são produzidos, tornando difícil ou quase impossível detectar e corrigir as falhas antes que elas ocorram e afetem o cliente” Parasuraman, Zeithaml e Berry (1988 apud FREITAS, 2005, p. 4). “A produção e o consumo dos serviços são inseparáveis” (CARMAN; LANGEARD, 1980). Por isso, a qualidade dos serviços não pode ser arquitetada na fábrica e depois entregue intacta ao consumidor. Em serviços intensivos em trabalho, por exemplo, a qualidade ocorre durante a prestação do serviço, normalmente numa interação entre o cliente e a pessoa de contato da empresa prestadora (CARMAN; LANGEARD, 1980). A empresa prestadora também pode ter menos controle administrativo sobre a qualidade dos serviços nos casos em que a participação do consumidor seja intensa (por exemplo, cortes de cabelo e consultas médicas), porque o cliente afeta o processo. Nessas situações, o input do consumidor (descrição do resultado do corte de cabelo e descrição dos sintomas) passa a ser crítico para a qualidade da prestação de serviços. A intangibilidade dos serviços diz respeito àqueles que têm um caráter não tangível, ou seja, que se possa medir ou tocar, não é um produto físico, que pode ser armazenado. A maioria dos serviços é intangível (LOVELOCK; WRIGHT, 2002). Serviços não são objetos, mas são prestados, envolvendo o desempenho dos prestadores de serviço. Por isso, raramente é possível estabelecer especificações de fabricação precisas quanto a uma qualidade uniforme. Os serviços, em sua maioria, não podem ser contados, medidos, inventariados, testados e verificados antes da venda para garantir a qualidade. Por causa da intangibilidade, a empresa pode ter dificuldades para entender como os consumidores percebem seus serviços e avaliam a sua qualidade. A heterogeneidade dos serviços é aquela que contém muito trabalho e o forte relacionamento do fator humano; sua prestação varia de um produtor para outro, assim como de cliente para cliente ou mesmo de um dia para outro. Não se pode garantir uma qualidade que seja uniforme, ou seja, a sua realização varia em cada momento e de cliente para cliente. 3Qualidade dos serviços As lacunas que compreendem a qualidade de serviços Existe uma gama de discrepâncias, que podemos chamar de lacunas fun- damentais, que existem entre as percepções de qualidade de serviço pelos gestores e as tarefas relacionadas à prestação de serviço aos consumidores. Essas lacunas, se não observadas ou corrigidas, podem ocasionar grandes obstáculos nas tentativas de se prestar um serviço de reconhecida qualidade. A lacuna existe entre a expectativa do consumidor e a percepção da admi- nistração. Algumas observações de executivos sobre o que os consumidores esperam de um serviço de qualidade, em estudos e pesquisas realizados, foram convergentes ou iguais às expectativas dos consumidores. Porém, ocorreram discrepâncias importantes entre as percepções dos executivos e as expectativas dos consumidores, como em relação a privacidade, segurança, manutenção e reparos. A partir da aplicação do SERVQUAL, serviço versus qualidade, é possível desenvolver um modelo conceitual que identifica e explica as lacunas que originam as deficiências da qualidade, ou seja, diferenças entre as expectativas e a percepção. Portanto, a lacuna do cliente consiste na diferença existente entre as suas expectativas e as percepções com o serviço recebido. Em uma situação que seria perfeita, as expectativas e as percepções seriam iguais, em que o cliente perceberia que está recebendo exatamente o que ima- ginou que deveria receber. Isso na teoria, porque na prática não é bem assim que funciona. De uma maneira geral, o objetivo do empreendedor, baseado em informações sobre as expectativas e percepções do cliente, é diminuir ao máximo essa distância. Partindo de pesquisas e estudos, Lovelock e Wright (2002, p. 108-109) afirmam que: [...] a qualidade do serviço é o grau em que um serviço atendeu ou supera as expectativas do cliente. Se o cliente recebeu um serviço acima de sua expec- Qualidade dos serviços4 tativa, isto é, foi percebido abaixo do esperado o grau de satisfação será baixo. A qualidade é julgada de acordo com a satisfação percebida. Partindo desse estudo, é possível reunir em sete as lacunas e os principais desafios para quem administra a qualidade de serviços. Confira o Quadro 1. Fonte: Adaptado de Dettmer, Socorro e Katon (2002, p. 7-8). Lacuna no conhecimento A diferença entre o que os fornecedores de serviço acreditam que os clientes esperam e as necessidades e expectativas reais do cliente. Lacuna nos padrões A diferença entre percepções da administração sobre as expectativas do cliente e os padrões de qualidade estabelecidos para a entrega do serviço. Lacuna na entrega A diferença entre padrões de entrega especificados e o desempenho real do fornecedor de serviço. Lacuna nas comunicações internas A diferença entre aquilo que o pessoal de propaganda e vendas julga que são as características do produto, desempenho e nível de qualidade do serviço e aquilo que a companhia realmente é capaz de entregar. Lacuna nas percepções A diferença entre aquilo que é realmente entregue e aquilo que os clientes percebem ter recebido (porque são incapazesde avaliar acuradamente a qualidade do serviço). Lacuna na interpretação A diferença entre aquilo que as campanhas de comunicação de um fornecedor de serviço realmente prometem e aquilo que um cliente acha que foi prometido por essas comunicações. Lacuna no serviço A diferença entre o que os clientes esperam receber e suas percepções do serviço que é realmente entregue. Quadro 1. Lacunas e desafios para quem administra a qualidade de serviços. Os administrados de serviços devem ter em mente de que mesmo antes de adquirir um serviço, este já tem uma expectativa sobre sua qualidade. Depois de concretizado, ele inevitavelmente compara a qualidade esperada e quilo que lhe foi entregue. A diferença entre o desempenho do fornecedor e as suas expectativas forma uma lacuna da qualidade, que serve de alerta e 5Qualidade dos serviços impõe uma melhoria na qualidade do serviço, diminuindo, assim, a lacuna existente (SANTOS, 2012). Na identificação dos critérios ou componentes de avaliação utilizados pelo cliente para avaliar a qualidade do serviço, podem ser reunidas cinco categorias, a saber: resposta, que é a disposição em auxiliar o cliente e prestar um serviço rápido; garantia do conhecimento e amabilidade do funcionário, agregada à capacidade de gerar e transmitir segurança e confiança; tangíveis que se relacionam às aparências das instalações, dos meios, do pessoal e do material de comunicação; empatia no cuidado e atenção personalizada dedicada ao cliente; e, por último, confiabilidade, que reside na capacidade de executar e entregar um serviço de forma confiável e precisa, conforme lhe foi prometido. A empresa, ou o empreendedor, que está realmente comprometida e de- dicada em servir e apresentar serviços com qualidade deve obrigatoriamente atentar a vários fatores, sendo alguns deles o monitorar a opinião do cliente, identificar dificuldades e propor melhorias. Com o objetivo de orientar, per- mitindo-se identificar e preencher as lacunas, uma empresa deve dominar os aspectos descritos a seguir. Lacuna 1 Saber o que os clientes esperam. Providências: visualizar melhor qual o seu cliente; realizar pesquisas qualitativamente e quantitativamente sobre as expectativas do cliente periodicamente, porque as expectativas mudam; identificar o significado de qualidade do cliente, aquilo que os satisfazem, como segurança, flexibilidade, credibilidade, atendimento, entre outros; gerar canais de comunicação; aproximar o cliente, possibilitando dar sugestões e reclamar; excluir os elevados níveis de autoridades, os funcionários precisam estar próximos dos clientes para identificar seus desejos e ponderações; e investir em treinamento de pessoal, aumentando a comunicação do funcionário e do cliente. Lacuna 2 Estabelecer os padrões corretos para a qualidade do serviço. Medidas corretivas: enumerar todos os fatores relativos à necessidade do cliente, iden- tificando as secundárias com a devida atenção; e analisar todo o ciclo dos serviços, examinando suas etapas, do ponto de vista do cliente. Qualidade dos serviços6 Lacuna 3 Garantir que o desempenho do serviço atende aos padrões. Providências devidas: adaptar o processo às expectativas do cliente, identificando os ins- trumentos de contato com o cliente e adequando as suas expectativas; adaptar tecnologia ao trabalho, possibilitando sua satisfação; estabelecer padrões e modos de operação para orientar funcionários, não comprometendo a flexi- bilidade e a autonomia; estabelecer medidas de desempenho, com o objetivo de aumentar sua capacidade e atingir os objetivos com maior qualidade; e aplicar ferramentas de análise da qualidade, pelos quais se possa medir o nível de qualidade atingido. Lacuna 4 Assegurar que a entrega corresponde às promessas feitas. Medidas correti- vas: coordenar operações e marketing, em razão da comunicação direta com o cliente; criar expectativas racionais, não criando falsas expectativas, superiores às que as operações podem executar (a mídia responsável pela criação das expectativas do cliente com relação ao serviço, que deve corresponder ao que foi anunciado); comunicar no decorrer do processo; e ficar atento a possíveis falhas durante o processo, estimulando a comunicação entre prestador e cliente, possibilitando a correção das expectativas. Lacuna 5 Falha na percepção do cliente. Resulta das lacunas 1 a 4, em razão de o prestador falhar em não identificar de forma adequada e correta as expectativas do cliente. Determina, então, a melhor maneira que vai atender, desencorajando expectativas criadas. O cliente pode entender o serviço de forma diferente ao que foi prometido e anunciado. 7Qualidade dos serviços A qualidade dos serviços como norteadora para resultados estratégicos Com a ausência de evidências tangíveis, que embasariam a avaliação da qualidade, os clientes dependem de outras informações. Alguns autores su- geriram que o preço se torna um indicador importante e crucial de qualidade de serviço, na falta de outros parâmetros. Em razão da intangibilidade dos serviços, uma empresa pode ter maiores dificuldades em entender como os consumidores reagem e percebem os serviços e sua qualidade. “Quando um prestador de serviços souber como seu serviço será avaliado pelo consumidor, poderemos sugerir como influenciar essas avaliações numa direção desejável” (GRÖNROOS, 1993 apud PARASURAMAN; ZEITHAML; BERRY, 2006, documento on-line). Qualidade nada mais é do que uma comparação entre expectativas e de- sempenho (GRÖNROOS, 1993). A satisfação com os serviços está relacionada com a conformação ou a negação de suas expectativas. Segundo Churchill Junior e Surprenant o paradigma da “desconfirmação”, “a satisfação está relacionada ao porte e à direção da experiência da ‘desconfirmação’, onde a ‘desconfirmação’ está relacionada às expectativas iniciais da pessoa” (1982 apud PARASURAMAN; ZEITHAML; BERRY, 2006, documento on-line). Informações e pesquisas recentes demonstram que, num curto espaço de tempo, a oferta de uma qualidade superior vai melhorar a lucratividade ao possibilitar a prática de aplicar preços melhores. Em um longo prazo, a melhoria referente à qualidade é uma forma eficaz para conquistar mercados e aumentar sua participação. Administração. Conhecer as concorrências. Para ser mais rentável que os competidores somente há duas alternativas: ter preços mais altos que a concor- rência, ter custos mais baixos que o rival, e entregar um produto de qualidade e valor compatível. Isto é uma questão matemática simples, mas ao mesmo tempo é algo que muitas empresas não consideram. A maioria das indústrias sabe qual é a sua rentabilidade comparada, mas não conseguem entender bem por que a rentabilidade que possuem é maior ou menor (PORTER, 2018, p. 3). Vale sempre lembrar que um cliente satisfeito e bem atendido sempre retorna e vai consumir novamente. Fica fidelizado após uma experiência positiva e certamente vai recomendar a outras pessoas, futuros clientes, fazendo uma propaganda do serviço sem qualquer custo. Em face dos elementos que inte- gram a percepção de qualidade em serviço do cliente, estudiosos recomendam para as empresas que estas devem fortalecer a imagem e dar amostras claras Qualidade dos serviços8 de qualidade aos seus clientes e consumidores, combinando alguns fatores e desenvolvendo uma estratégia de qualidade na prestação de serviço pela empresa. Por exemplo, oferecer ao cliente serviços rápidos e eficientes, em um espaço curto de tempo, apresentando os principais atributos da qualidade a partir da visão do cliente considerados na sua avaliação referente ao serviço, possibilitando, assim, o desenvolvimento de um método capaz de mensurar suas expectativas e percepções em cada uma das dimensões, possibilitando também a identificação da qualidade observada pelo cliente nos serviços que lhe foram prestados. Quanto mais a concorrência e a competição entre as empresas aumentam, mais o cliente fica exigentee crítico em relação a padrões de qualidade de serviços e atendimento, que são determinados em função de o mercado estar cada vez melhor. Para evitar que os serviços sejam fornecidos com qualidade baixa, Grönroos (1993) indica cinco medidas que devem ser implementadas pelas organizações: � desenvolver instrumentos de pesquisa para entender as reais necessi- dades e expectativas (explícitas e implícitas) dos clientes; � transformar as necessidades e as expectativas do consumidor em projetos de serviços que possam realmente atendê-los; � transformar o projeto em especificações adequadas de serviço ou pa- drões que possam ser implementados (nesta etapa, benchmarking é uma técnica recomendada); � prestar os serviços em conformidade com as especificações estabelecidas; � não criar expectativas que não possam ser atendidas ou cumpridas (gap entre as expectativas do cliente e o atual serviço fornecido). Conforme as características dos serviços, um modelo de gerenciamento que busca a excelência pode ser composto por três elementos, sendo o cliente a peça fundamental para que a empresa alcance o sucesso. Segundo Albrecht (1998, p. 32 apud FREITAS, 2005, p. 7), tais elementos são: 9Qualidade dos serviços � Foco do serviço: consiste nos procedimentos e ações que devem ser planejados e implementados para que retratem os reais desejos e ne- cessidades do cliente. � Funcionários: são todas as pessoas pertencentes à organização e que, uma vez conhecido o foco do serviço, devem estar preparados para realizá-lo. � Suporte técnico: neste aspecto estão englobados sistemas, técnicas e procedimentos que auxiliam a prestação dos serviços. Para atingir os resultados esperados, é necessário planejamento e ação. Com estratégia, deve-se estabelecer o que deve ser feito para alcançar um objetivo. Por outro lado, o projeto revela como funcionará, na prática, a efetivação das medidas definidas por uma decisão estratégica. É no projeto que os recursos são definidos e destinados, para se atingir os resultados almejados. Os projetos são feitos e implementados pelas empresas, para possibilitar uma política de inovação ou de melhoria nos processos existente na organização, ou, ainda, de criação de novos projetos que propiciem mais valor e rentabili- dade para o negócio, sem desconsiderar que o investimento em qualidade dos serviços deve ser permanente, por ser fundamental nesse processo. Considerando todos os aspectos anteriores, para manter-se competitiva no mercado de trabalho, a empresa deve ter uma política voltada para a inovação, que faça parte da sua estratégia, nunca desconsiderando que é preciso investir na melhor qualidade dos serviços ou criar novos ambientes, que podem ser, por meio de novas formas ou canais de comunicação, que interajam com cliente, parceiros, fornecedores, sócios, etc. É preciso, ainda, investir em desenvolvi- mento e pesquisa, pois são fundamentais para atingir o topo ou se manter nele. Segundo Lovelock e Wright, os desempenhos de serviço que surpreendem e encantam os clientes por ficarem acima do esperado são vistos como de qualidade superior. O oposto traz insatisfação aos consumidores. Se o produto ou serviço for dentro do esperado, é considerado adequado. É justamente aí que o concorrente com qualidade superior vem fazer-lhe uma visita. Não se devem deixar lacunas na satisfação do cliente, pois isso afeta diretamente a qualidade percebida no que diz respeito à empresa. Ainda com base nos estudos de Lovelock e Wright (2001, p. 113-114) iden- tificamos os vários níveis de satisfação ou insatisfação experimentados pelos clientes após cada experiência com o serviço de uma empresa à medida que está atende ou ultrapassa suas necessidades. Os clientes são assim classificados: � 1= muito insatisfeito Qualidade dos serviços10 � 2= relativamente insatisfeito � 3= indiferente � 4= relativamente satisfeito � 5= muito satisfeito. Suas pesquisas demonstram que os clientes classificados entre 0 e 3 são muito inclinados a desertar da empresa, visto que suas expectativas quanto ao serviço não foram superadas. Os clientes com nota 4 foram parcialmente satisfeitos; o serviço é no mínimo adequado, isto é, suas expectativas foram iguais às suas percepções. Significa que a qualquer momento um serviço concorrente pode oferecer maiores vantagens e atrair o cliente. E, finalmente, os clientes classificados como 5 foram encantados e permanecerão fiéis à empresa. Provavelmente farão um boca a boca em seu favor. 11Qualidade dos serviços Z48m Zeithaml, Valarie A. Marketing de serviços [recurso eletrônico] : a empresa com foco no cliente / Valarie A. Zeithaml, Mary Jo Bitner, Dwayne D. Gremler ; tradução: Felix Nonnenmacher. – 6. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8055-362-8 1. Administração. 2. Marketing – Serviço ao consumidor. I. Bitner, Mary Jo. II. Gremler, Dwayne D. III. Título. CDU 658.818 Catalogação na publicação: Suelen Spíndola Bilhar – CRB 10/2269 Zeithaml_inicias_6ed_eletronica.indd iiZeithaml_inicias_6ed_eletronica.indd ii 31/03/14 11:5631/03/14 11:56 182 Parte III A compreensão das exigências do cliente O paradoxo da recuperação do serviço Há vezes em que uma empresa tem clientes que no início não se satisfazem com o serviço que recebem, mas que depois desfrutam de uma excelente recuperação – o que aparentemente au- menta sua satisfação e os torna mais propensos a fazer uma nova compra, em comparação com os clientes que não passam por problemas com a prestadora. Isso significa que aqueles clientes parecem mais satisfeitos após vivenciarem uma falha no serviço do que estariam se nenhuma falha tivesse acontecido!9 Por exemplo, consideremos um cliente de uma locadora de automó- veis que chega no balcão da companhia e descobre que não há automóveis disponíveis do tipo reservado e do preço solicitado. Em um esforço de recuperação, o funcionário da locadora ime- diatamente oferece um carro melhor para esse cliente, ao mesmo preço do modelo reservado. O cliente, feliz com esta compensação, relata que está extremamente satisfeito com a experiência e muito mais impressionado com a locadora do que jamais se sentira, jurando com isso manter- -se fiel a ela no futuro. Ainda que tais exemplos extremos sejam relativamente raros, esta noção – de que um cliente a princípio desapontado e que passou por uma experiência satisfatória de recuperação de serviço se torne mais fiel e satisfeito depois dela – recebeu o nome de paradoxo da recuperação. Assim, uma empresa deve “melar o serviço” só um pouquinho, para poder depois “dar um jeito no problema” de forma espetacular? Se isso de fato leva a clientes mais satisfeitos, vale à pena adotar a estratégia? A conclusão lógica – mas não muito racional – é a de que as empresas deveriam planejar desapontar seus clientes – de forma a promover uma boa recuperação do serviço e, se tudo der certo, obter maior fidelidade junto a seus clientes! Quais são os problemas com esta abordagem? • Conforme indicamos anteriormente neste capítulo, a vasta maioria dos clientes não reclama diante de um problema. A possibilidade de recuperação existe apenas em situações em que a companhia está ciente de um problema e é capaz de resolvê-lo com eficiência. Se os clientes não informam à companhia acerca da falha – e a maioria não o faz – a insatisfação é o resultado mais provável. • A solução de erros é um processo caro. A recriação ou o retrabalho de um serviço podem ser bastante dispendiosos para uma empresa. • Parece um tanto ridículo encorajar as falhas de um serviço – afinal, a confiabilidade (“fazer certo da primeira vez”) é o fator mais crítico da qualidade do serviço em diferentes setores. • As pesquisas sugerem que mesmo que a satisfação de um cliente com a empresa aumente como resultado de uma ótima recuperação de serviços, as intenções de recompra e as percep- ções da imagem da empresanão aumentam – isto é, os clientes não necessariamente formam uma opinião mais positiva da companhia no longo prazo.10 • Apesar de o paradoxo da recuperação indicar que um cliente pode acabar mais satisfeito após receber uma excelente recuperação, não há garantias de que este cliente de fato se sinta mais satisfeito. O paradoxo da recuperação depende muito do contexto e da situação. Embora um cliente ache mais fácil perdoar um restaurante que oferece a ele uma reserva garantida para outra data por ter perdido sua reserva para hoje, outro cliente, que havia planejado pedir a namorada em casamento em um jantar e que passa por esse problema, talvez não se sinta tão contente com este cenário de recuperação. O debate estimulado pelo paradoxo da recuperação fomentou pesquisas empíricas sobre o as- sunto. Apesar de as evidências práticas oferecerem algum apoio para o paradoxo da recuperação, as pesquisas parecem indicar que este fenômeno não está difundido. Em um dos estudos conduzidos, os pesquisadores descobriram que apenas as notas mais altas dadas à recuperação do serviço resul- tavam em maior fidelidade ou satisfação.11 Este estudo traz indícios de que os clientes conferem Zeithaml_07.indd 182Zeithaml_07.indd 182 29/01/14 15:1429/01/14 15:14 Capítulo 7 A recuperação do serviço 183 considerável peso a suas experiências mais recentes quando tomam a decisão de voltar ou não a comprar. Se a experiência mais recente foi negativa, os sentimentos sobre a companhia diminuem, e as intenções de recompra também decrescem expressivamente. A menos que o esforço de recupe- ração seja excelente, ele não será capaz de sobrepujar a impressão negativa da experiência inicial com intensidade suficiente para construir a intenção de recompra além do ponto em que estaria, no caso de o serviço ter sido executado corretamente da primeira vez. Outros estudos dão a entender que as condições sob as quais a recuperação do serviço tem mais chance de ocorrer são vistas quan- do a falha não é considerada grave pelo cliente, quando o cliente não sofreu os efeitos de falhas anteriores com a mesma empresa ou vê a falha como esporádica, ou ainda no caso de ele perceber que a empresa não tem controle absoluto sobre esta causa.12 Aparentemente, as condições precisam ser as corretas para o paradoxo da recuperação ocorrer. Diante das diferentes opiniões sobre até que ponto existe o paradoxo da recuperação, “fazer certo da primeira vez” continua sendo a estratégia mais adequada e segura a adotar no longo prazo. No entanto, sempre que ocorrer uma falha, é preciso se engajar nos melhores esforços por uma recuperação excelente, para mitigar os efeitos negativos da falha. Se for viável ultrapassar a falha no serviço por completo, se a falha não for tão grave, ou se o esforço de recuperação não deixar dúvidas sobre sua qualidade, então talvez seja possível observar as evidências do paradoxo da re- cuperação.13 COMO OS CLIENTES REAGEM ÀS FALHAS NO SERVIÇO Os clientes que presenciaram falhas no serviço reagem de modos variados, conforme ilustra a Figura 7.3.14 Após uma falha, um certo nível de insatisfação do cliente é esperado. Na verdade, as pesquisas mostram que diversas emoções negativas são vistas após uma falha, que incluem raiva, descontentamento, decepção, autopiedade, ansiedade e arrependimento.15 Estas reações negativas iniciais afetam a maneira como os clientes avaliam o esforço de recuperação de serviço e, presumi- velmente, suas decisões relativas a voltar ou não a utilizar os serviços da prestadora. Muitos clientes são muito passivos quanto à sua insatisfação, e simplesmente nada fazem ou dizem. Quer partam ou não para a ação, chega o ponto em que eles decidem se continuam com a mesma prestadora de serviços ou se procuram uma concorrente. Conforme já colocamos, os clien- tes que não reclamam não são muito propensos a retornar. Para as companhias, a passividade do cliente diante de uma insatisfação é uma ameaça a seu sucesso futuro. Por que as pessoas reclamam (ou não) Os clientes que não estão inclinados a tomar alguma atitude – a maioria dos clientes, na maioria das situações, conforme indica a Figura 7.1 – têm muitas razões para nada fazerem. Com frequência, este tipo de cliente interpreta uma reclamação como perda de tempo e de esforço.16 Eles não creem que algum resultado positivo ocorrerá para si ou para outras pessoas a partir destas ações. Há tam- bém situações em que estes clientes não sabem como reclamar – eles não compreendem o processo ou não percebem que os canais estão abertos para que verbalizem suas reivindicações. Em certos casos, estes clientes que não reclamam envolvem-se em um tipo de “resistência baseada nas emo- ções” para lidar com suas experiências negativas. Este tipo de mecanismo envolve culpa, negação e até a busca de apoio social.17 Eles sentem que o fracasso foi, de certo modo, culpa deles mesmos, e que não merecem qualquer desagravo. Zeithaml_07.indd 183Zeithaml_07.indd 183 29/01/14 15:1429/01/14 15:14 184 Parte III A compreensão das exigências do cliente Alguns clientes tendem a reclamar mais do que outros por vários motivos. Estes clientes acre- ditam na possibilidade de consequências positivas e de benefícios sociais serem gerados por uma reclamação. Além disso, suas regras pessoais respaldam a cultura da reivindicação. Estes clientes acreditam que algum tipo de compensação deveria e será dado por conta de uma falha no serviço, que merecem tratamento justo e serviço adequado e que, na ocorrência de falha, alguém precisa refazer o serviço do modo certo. Há casos em que eles sentem uma obrigação social de reclamar – o que auxiliaria outras pessoas a evitar situações semelhantes ou puniria a prestadora de serviços. Poucos clientes têm personalidades “queixosas” – isto é, que gostam de reclamar ou de causar problema. A relevância pessoal da falha influencia a possibilidade de uma reclamação se concretizar.18 Se a falha no serviço é de fato importante, se ela traz consequências graves para o cliente, ou se ele se envolve demais com a experiência do serviço, então ele provavelmente apresentará alguma recla- mação. A situação vista no Doubletree Inn, descrita no Quadro 7.1, ilustra uma falha em um serviço que fora considerado especialmente importante pelos dois clientes. Nessas situações, quando as emoções do cliente são intensas, o resultado pode ser a raiva.19 Os clientes estão mais dispostos a reclamar sobre serviços caros, de alto risco, e em que eles se envolvem com intensidade (como pacotes de férias, viagens aéreas e serviços médicos) do que com serviços menos dispendiosos e adquiridos com mais frequência (o drive-thru de uma lanchonete, uma corrida de táxi, um telefonema a uma linha de suporte ao cliente). Estes serviços simplesmente não são importantes o bastante para merecerem o tempo gasto com a apresentação de uma queixa. Infelizmente, embora a experiência não seja importante para o cliente naquele instante, um contato insatisfatório poderá motivá-lo a trocar de empresa prestadora na próxima vez em que este mesmo serviço for necessário. Os tipos de ações envolvendo queixas dos clientes As possíveis atitudes que um cliente toma após uma falha no serviço são de diversos tipos. Um cliente insatisfeito pode decidir reclamar na mesma hora, o que dá à companhia a oportunidade Falha no serviço Insatisfação/ emoções negativas Nenhuma ação relativa à queixa Abandona/ troca Permanece Ação relativa à queixa Queixa junto à prestadora Ação de terceiros Abandona/ troca Permanece Boca a boca negativo Figura 7.3 As ações relativas às queixas dos clientes após uma falha no serviço. Zeithaml_07.indd 184Zeithaml_07.indd 184 29/01/14 15:1429/01/14 15:14 Capítulo 7 A recuperação do serviço 185 de reagir de imediato. Esta reação é muitas vezes o cenário de melhor caso para a companhia, porque ela tem uma segunda chance de satisfazer o cliente no mesmo momento e de conservar negócios futuros comele, evitando também uma provável publicidade boca a boca negativa. Os clientes que não se queixam logo talvez apresentem uma reclamação posterior, por telefone, carta ou Internet. Nestes casos, a empresa tem outra chance de recuperar o serviço. Os pesquisadores se referem a estes tipos proativos de comportamento queixoso como reação verbalizada ou busca por desagravo. Alguns clientes decidem não reclamar diretamente com a prestadora e passam a espalhar comentários negativos sobre a empresa a seus amigos, parentes e colegas de trabalho. Esta publi- cidade boca a boca negativa é extremamente danosa, pois reforça os sentimentos de negativismo no cliente e espalha estas impressões desfavoráveis para outros. Além disso, a empresa não tem chance de se recuperar, a menos que a publicidade negativa seja acompanhada por uma queixa feita diretamente à companhia. Recentemente, os clientes passaram a reclamar via Internet. Inú- meros sites, entre os quais estão plataformas em que o cliente expressa sua opinião, além de blogs e uma variedade de redes sociais (como o Twitter e o Facebook),20 hoje são veículos facilitadores da divulgação das queixas do cliente. Com isso, os clientes têm a possibilidade de espalhar pro- paganda negativa a um público muito maior. Alguns clientes se sentem tão insatisfeitos com uma falha em um produto ou serviço que desenvolvem sites dirigidos aos clientes atuais e potenciais da empresa. Nesses sites,21 os clientes irritados revelam seus ressentimentos contra a empresa de forma a convencer outros clientes da incompetência e maldade da organização.22 Por fim, os clientes também reclamam a terceiros, como o Better Business Bureau nos Estados Unidos (ou o Instituto de Defesa do Consumidor no Brasil, o Idec), a agências governamentais de assuntos de consumo, a um órgão competente, a uma associação de profissionais liberais ou até a um advogado particular. Não importa a ação (ou a falta dela); afinal, é o cliente quem decide se volta a fazer negócios com a prestadora ou se a troca por outra. Os tipos de reclamantes As pesquisas sugerem que os clientes podem ser agrupados em quatro categorias, com base nos tipos de reação a uma falha no serviço: os clientes passivos, os tagarelas, os irados e os ativistas.23 Apesar de a proporção dos tipos de reclamantes variar para diferentes contextos e setores de servi- ços, é provável que estas quatro classes sejam relativamente comuns e verificadas do mesmo modo em todas as companhias e setores. Os passivos Este grupo de clientes é o menos provável de adotar qualquer ação. As chances de eles se pronun- ciarem para a empresa prestadora são muito pequenas, e a probabilidade de espalharem propagan- da boca a boca negativa ou de reclamarem a terceiros é menor do que a apresentada pelas outras classes. Na maioria das vezes, esta classe de clientes duvida da eficácia da reclamação, e pensa que as consequências não merecem o tempo nem o esforço necessários para a apresentação de uma queixa. Além disso, seus valores e preceitos pessoais condenam a reclamação. Os tagarelas Estes clientes queixam-se ativamente à prestadora de serviços, mas não tendem a espalhar publi- cidade boca a boca negativa, nem a trocar de empresa ou recorrer a terceiros para se queixar. Estes clientes devem ser vistos como os melhores amigos da prestadora. Eles reclamam ativamente e, com isso, proporcionam à empresa uma segunda chance. Eles tendem a acreditar que uma recla- mação traz benefícios sociais e, portanto, não hesitam em revelar suas opiniões. Eles alimentam a convicção de que as consequências de uma queixa apresentada à prestadora podem ser bastante positivas, e não têm muita fé nos outros canais de reclamação, como a propaganda boca a boca negativa ou o contato com terceiros. Para os tagarelas, apresentar uma queixa está de acordo com seus preceitos pessoais. Zeithaml_07.indd 185Zeithaml_07.indd 185 29/01/14 15:1429/01/14 15:14 186 Parte III A compreensão das exigências do cliente Os irados Estes clientes, mais do que outros, ten- dem a se envolver em publicidade boca a boca negativa com amigos e parentes e a trocar de prestadora. Eles estão na média em termos de propensão a reclamar com a prestadora, mas não a terceiros. Con- forme sugere o nome, eles demonstram mais raiva contra a prestadora, apesar de acreditarem que reclamar à empresa pode trazer benefícios. Eles não demons- tram muita disposição de dar à prestado- ra uma segunda chance e, em vez disso, a trocam por uma empresa concorrente, informando esta troca a amigos e paren- tes. Estes clientes estão mais inclinados a engajarem-se na criação de blogs na In- ternet a fim de revelar suas frustrações a outras pessoas. Os ativistas Estes clientes são caracterizados por uma propensão acima da média de reclamar em todas as di- mensões: eles queixam-se junto à empresa prestadora do serviço, narram suas experiências a outras pessoas e tendem a reclamar junto a terceiros. As queixas fazem parte de suas disposições pessoais. Tal como acontece com os irados, estes clientes são os mais isolados do mercado, e nutrem noções bastante otimistas das prováveis consequências positivas de todos os tipos de reclamação. AS ESTRATÉGIAS DE RECUPERAÇÃO DO SERVIÇO: SOLUCIONANDO O CLIENTE Muitas companhias aprenderam a importância de apresentar uma excelente recuperação do serviço para clientes decepcionados. As duas seções a seguir analisam algumas estratégias e apresentam exemplos de empresas que as utilizaram para lidar com este problema. De fato, uma excelente recuperação do serviço é composta por uma combinação de estratégias, ilustradas na Figura 7.4, e que precisam funcionar em conjunto. Em termos gerais, as estratégias de recuperação do serviço são de dois tipos básicos. Um tipo inclui as ações iniciadas pela empresa para restaurar a relação com o cliente, isto é, “solucioná-lo”. O segundo tipo diz respeito às ações tomadas para corrigir o problema e, em uma situação ideal, impedir que ocorra outra vez; isto é, solucionar o problema. Sem dúvida, os dois tipos de ações são importantes, mas em muitas situações é preciso antes solu- cionar o cliente, para depois solucionar o problema. Por isso, começaremos com as estratégias que envolvem a solução do cliente. Sempre que reservam tempo e esforços para apresentar uma queixa, os clientes normalmente desenvolvem grandes expectativas. Eles não se limitam a aguardar uma resposta: eles também querem ver a empresa assumir suas responsabilidades. Eles esperam ser auxiliados com rapidez e compensados pelo incômodo e pelo ressentimento por terem sido mal atendidos. Além disso, os clientes contam com um tratamento adequado neste processo. O Quadro 7.2 exemplifica este tipo de recuperação do serviço. Os clientes irados têm maiores chances de compartilhar suas frustrações com outras pessoas. Zeithaml_07.indd 186Zeithaml_07.indd 186 29/01/14 15:1429/01/14 15:14 Capítulo 7 A recuperação do serviço 187 Responda com rapidez Os clientes reclamantes desejam receber respostas com rapidez.24 Assim, se a companhia teve fa- lhas ou recebe reclamações, ela deve estar preparada para agir com rapidez na busca de uma solu- ção. Conforme indica a Figura 7.5, uma pesquisa conduzida com clientes de serviço descobriu que mais da metade de todos os clientes que têm seus problemas resolvidos de imediato ou dentro de 24 horas da reclamação sentem-se “completamente satisfeitos” com a ação tomada pela companhia.25 Infelizmente, muitas empresas exigem que seus clientes contatem diversos funcionários (uma prá- tica conhecida como pingue-pongue) antes que seus problemas sejam resolvidos. Um estudo re- cente mostra que em média são necessários 4,7 contatos para que um problema seja resolvido.26 Outras pesquisas indicam que se um problema é resolvido no primeiro contato, então os clientes se sentem satisfeitos com a reação da companhia em 46% das vezes. Porém, quando três ou mais contatos são necessários, a porcentagem declientes satisfeitos com a resposta cai para 21%.27 Qual é a lição dada por estes números? A habilidade de oferecer respostas imediatas para uma falha tem muito poder para apaziguar um cliente descontente. A capacidade de oferecer respostas imediatas requer não apenas sistemas e procedimentos que permitam ações rápidas, mas também o poder de decisão dos funcionários. Isto é, para possibilitar a eles a capacidade de responder com rapidez, os funcionários precisam ser treinados e autorizados a resolver problemas no momento em que ocorrem. Um problema que permanece sem solução pode facilmente se agravar. Conforme já dissemos, é comum os clientes vivenciarem o pingue-pon- gue de funcionário a funcionário na ocorrência de uma falha. O poder de decisão dos funcionários, prática discutida detalhadamente no Capítulo 11, muitas vezes permite a apresentação de respostas rápidas e auxilia a aplacar clientes desgostosos. Por exemplo, o Ritz Carlton insiste que a primeira pessoa a escutar uma reclamação de um cliente é a “dona” desta queixa, até ela ter certeza de que o problema tenha sido resolvido. Se um funcionário da manutenção escuta uma reclamação de um cliente enquanto ele se encontra consertando uma luminária em um dos corredores do hotel, ele é o responsável pela queixa e se incumbe de certificar-se de que ela seja tratada do modo adequado, antes de retornar para sua tarefa. Outra possível maneira de tratar de situações adversas ou reclamações consiste na elaboração de sistemas que permitem que os próprios clientes resolvam suas próprias necessidades de serviço e problemas. Via de regra, esta abordagem é executada por meio da tecnologia. Os clientes intera- Solucione o cliente Excelente recuperação do serviço Garanta a oferta do serviço Responda com rapidez Propicie comunicações adequadas Trate os clientes com justiça Cultive relacionamentos com os clientes Solucione o problema Encoraje e acompanhe as queixas Aprenda com as experiências de recuperação Aprenda com a perda de clientes Torne o serviço à prova de falhas Figura 7.4 As estratégias de recuperação do serviço. Zeithaml_07.indd 187Zeithaml_07.indd 187 29/01/14 15:1429/01/14 15:14 Endomarketing Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir endomarketing. Explicar a importância do endomarketing para as empresas. Construir estratégias de marketing para o público interno das organizações. Introdução Com o intuito de fazer com que seus objetivos sejam alcançados e as metas superadas, as organizações empregam estratégias de comunicação com o seu público interno, isto é, funcionários e colaboradores, engajando-os em sua missão. Isso é o que se conhece como marketing interno ou endomarketing, com o qual é possível motivar a equipe na realização de seu trabalho, com melhor produtividade e resultado, e, ao mesmo tempo, colaborar para a qualidade de vida dos empregados no contexto profissional. Neste capítulo, você vai compreender a evolução do conceito de en- domarketing e os seus principais objetivos. Também vai aprender a relação do marketing interno com o marketing externo e a correspondência entre o composto de marketing externo (4 Ps) e o composto de endomarketing (4 Cs). Finalmente, você vai conhecer as etapas de desenvolvimento do plano de endomarketing, assim como os principais instrumentos de comunicação interna. O que é endomarketing? “Endo” provém do grego e quer dizer “ação interior ou movimento para dentro”. Endomarketing é, portanto, marketing para dentro, ou marketing interno; assim, é a utilização de estratégias e ferramentas de marketing, porém, dirigidas ao público interno das organizações. São ações estruturais que visam a ação para o mercado. Segundo França (2008), o marketing trabalha para atender às necessidades e aos desejos do seu público-alvo. Sabendo disso, a empresa tem que manter o melhor relacionamento possível com seus clientes, deixando-os satisfeitos com o produto/serviço. Por esse ângulo, o endomarketing trabalha a relação entre a empresa e seus funcionários, considerados clientes internos, cujas necessidades e desejos também precisam ser atendidos. Vários autores conceituaram o endomarketing, e nessa perspectiva, Costa (2010) elaborou uma compilação dos autores mais relevantes que escreveram sobre esse tema, indicando os conceitos em ordem cronológica, conforme apresenta o Quadro 1, a seguir. Fonte: Adaptado de Costa (2010). Autor Ano Conceito Leonard Berry 1976 Filosofia de tratamento dos empregados da mesma forma como clientes são tratados na qual o objetivo é atrair, desenvolver e manter funcionários qualificados. Wilson Cerqueira 1999 Os sistemas de endomarketing consistem em um conjunto de processos, projetos ou veículos de comunicação integrada que permitem a consolidação de uma imagem dentro da empresa. Saul Bekin 2004 Endomarketing é um processo pelo qual as empresas usam os mesmos métodos persuasivos de comunicação utilizados na propaganda de seus produtos e serviços, visando a dar aos empregados a mesma importância dada aos clientes a partir do sincronismo entre as ações internas e externas. Analisa Brum 2008 O endomarketing nada mais é do que a comunicação da empresa para com seus empregados executada com a sofisticação da propaganda bem feita. Daniel Costa 2010 Endomarketing é um processo gerencial, cíclico e contínuo, direcionado ao propósito da organização, que é integrado aos demais processos de gestão e utiliza eticamente ferra- mentas multidisciplinares de incentivo, com o objetivo de promover a motivação das pessoas com seu trabalho e ga- rantir seu compromisso com os objetivos estratégicos, contri- buindo para a obtenção de melhores resultados econômicos e humanos a partir de desempenhos superiores. Quadro 1. Conceitos de endomarketing Como podemos verificar no Quadro 1, quando surgiu, a estratégia de en- domarketing se resumia a apenas divulgar as campanhas de marketing externo primeiro para os colaboradores da empresa. Com a mudança comportamental Endomarketing2 das pessoas no ambiente de trabalho, em que os profissionais das gerações Y e Z já são maioria, o endomarketing precisou evoluir. Segundo Brum (2017), atualmente, o endomarketing abrange todos os esforços que a empresa faz para se comunicar com o seu público interno e produz o engajamento necessário para que seus objetivos sejam cumpridos e seus resultados, gerados. Além disso, engloba estratégias e ações utilizadas para atrair, integrar, engajar e reter talentos nas organizações (BRUM, 2017). Para o autor, a informação que engaja os funcionários é decorrente de um conteúdo estratégico que se refere ao negócio e que inclui as informações sobre índices de segurança, qualidade e produtividade, dados de mercado, como vendas, lançamentos de produtos, novas linhas de produção, além de programas e processos de recursos humanos. Os empregados desejam receber informações relevantes e consistentes, que não sejam abordadas de forma superficial e que deixem claro o nível de contribuição que a empresa espera deles. Objetivos de endomarketing Para Bekin (2012, p. 49), “o objetivo do endomarketing é tornar transparente ao funcionário os objetivos da organização, de forma a harmonizar o objetivo do funcionário com o objetivo global da empresa”. Nesse sentido, o objetivo do endomarketing seria fortalecer as relações entre empresa e funcionários para melhorar a imagem e o valor de mercado da organização. Na visão de Brum (2005, p. 22), “o endomarketing tem como objetivo dar valor e visibilidade à informação em todos os níveis da organização de forma estratégica”. Assim, configura-se como uma das principais estratégias de gestão de pessoas nas empresas que buscam liderança de mercado. Podemos afirmar, então, que o endomarketing tem como principais objetivos os descritos a seguir. Integrar a gestão de marketing com a gestão de recursos humanos, fortalecendoas relações internas da empresa. Fazer com que todos os funcionários tenham uma visão compartilhada sobre o negócio da empresa, incluindo itens como gestão, metas, resul- tados, produtos, serviços e mercados nos quais atua. Utilizar técnicas e ações de marketing como forma de motivar os fun- cionários, o que propicia melhorias tanto na qualidade dos produtos e serviços quanto na produtividade pessoal e na qualidade de vida no trabalho. 3Endomarketing O Citibank realizou uma campanha motivacional que visava expressar o orgulho, a con- fiança e o otimismo de seus funcionários. O projeto Sou Mais Citi, que, inicialmente, seria apenas no Brasil, teve tanto sucesso que se expandiu para outros países da América Latina. Sem revelar o motivo, a empresa fotografou cerca de 400 funcionários com a mão no peito e, depois, utilizou as fotos como material publicitário e para a comunicação interna. A medida alegrou os colaboradores, que ficaram positivamente surpresos em ver o reconhecimento de seus esforços valorizado pela empresa. Fonte: Araújo e Carvalho (2014, p. 12). A importância do endomarketing para as empresas Cerqueira (1999) entende o endomarketing como elemento que tem foco na construção de uma empresa voltada para a excelência no mercado. O autor apresenta os sistemas de endomarketing como um conjunto de processos que visam a consolidação de uma determinada imagem dentro da organização e a difusão de uma linguagem cultural homogênea para todos os funcionários. Para ele, a base dessa linguagem são os valores estabelecidos e aceitos que regulam a relação entre os funcionários e a empresa: “A não adequação dos sistemas de gestão aos colaboradores promove consequências em curto, médio e longo prazo, como baixa qualidade dos produtos e serviços, greves, desperdícios, excesso de faltas, alta rotatividade, entre outros” (CERQUEIRA, 1999, p. 3–4). O endomarketing faz com que os funcionários sintam-se motivados, tornem- -se mais comprometidos com a empresa e estejam orientados aos clientes. Além disso, também contribui significativamente na atração e na retenção de bons profissionais para a organização. Assim como o composto de marketing externo é determinante nos resultados de uma organização, também o composto de endomarketing tem um papel relevante nesse contexto. Sabemos que o composto de marketing é formado por um grupo de variáveis controláveis das quais a empresa se utiliza para Endomarketing4 atingir seu público-alvo e alcançar seus objetivos e também é conhecido como 4 Ps: produto, preço, praça (distribuição) e promoção (KOTLER, 2012). Segundo Bansal (2001 apud RAMEZANALI, 2003), para fidelizar o cliente externo e satisfazer suas necessidades, as atividades do endomarketing e do departamento de recursos humanos precisam se relacionar para delegar poder, reduzir as diferenças de hierarquia (status) dentro da organização, criar confiança na administração e, antes de tudo, fidelizar os clientes internos. A Figura 1 apresenta de que forma o marketing interno influencia nos resultados ocorridos no marketing externo, fazendo com que os funcionários ocupem um papel importante dentro da organização. Figura 1. Atividades de marketing interno e resultados no marketing externo. Fonte: Bansal (2001 apud RAMEZANALI, 2003, p. 24). Na visão de Hooley, Saunders e Piercy (2006, p. 401), o conceito relacionado aos 4 Ps do marketing externo pode se adequar ao contexto do endomarketing, criando a seguinte correspondência. Produto: no lugar de se analisar a venda de um produto tangível, os autores sugerem que este produto seja o resultado do trabalho dos empregados, ou seja, novas maneiras de atender os clientes, avaliações de desempenho e mudanças comportamentais. Preço: na visão de endomarketing, o preço não está diretamente relacio- nado com o custo do produto tangível, e, sim, com o comprometimento 5Endomarketing de todos os colaboradores, independentemente do nível hierárquico que possuem na organização. Comunicação: envolve todos os meios de comunicação necessários para a divulgação dos objetivos e metas de marketing interno, assim como projetos de comunicação interna. Distribuição: no contexto do endomarketing, a distribuição está rela- cionada com estratégias de elaboração de processos de recrutamento e seleção de pessoal, assim como com elaboração de planos de cargos e salários, campanhas de incentivos e benefícios. Por sua vez, Inkotte (2000) apresenta uma transformação dos 4 P’s do marketing voltados aos clientes externos em 4 Cs do endomarketing, direcionados ao público interno — companhia, custo, coordenação e comunicação. De forma resumida, pode-se verificar a correspondência dos elementos do composto de marketing para o composto de endomarketing, conforme apresentado no Quadro 2. Fonte: Adaptado de Inkotte (2000). Composto de marketing Compoto de endomarketing Produto Planejado para antender às necessidades e expec- tativas do consumidor, permitindo bons resulta- dos à empresa Companhia Adaptada para atender às necessidades e expectativas do cliente interno, como diferen- cial competitivo Preço Fixação de preços em função dos custos de produção e fatores de mercado Custos Investimentos em remuneração de fun- cionários, treinamentos e implementação do endomarketing Pontos de distribuição Seleção e controle das vias de distribuição para colocar o produto à dispo- sição em tempo e locais adequados Coordenadores Responsáveis por levar à prática o endomarketing Promoção Atividades promocionais que abrangem propa- ganda, promoção de vendas e força de vendas Comunicação Atividades diversifica- das de disseminação e coleta de informações Quadro 2. Correspondência entre os 4 Ps do marketing e os 4 Cs do endomarketing Endomarketing6 Segundo Cavallini e Zamberlan (2018, p. 4–5), a companhia é a própria empresa e está relacionada à imagem que a mesma transmite aos seus pú- blicos, bem como as suas características físicas — ambiente, infraestrutura, organização, equipamentos. Assim, pode-se ter diferentes percepções da mesma organização. Custos são todos os investimentos que a empresa realiza e que se direcionam às pessoas, como salários, participações nos lucros, benefícios, treinamentos, formações, entre outros. É possível direcionar os investimentos de acordo com a percepção de valor dos funcionários, a fim de motivá-los. A coordenação é composta pelos diretores e funcionários que exercem funções de gestão, chefias, supervisão e lideranças e são os responsáveis por alinhar os objetivos da empresa com o público interno e externo. Comunicação são as ferramentas, técnicas e os recursos que a organiza- ção utiliza para transmitir informações ao seu público, especialmente junto aos clientes internos (funcionários) para atingir ou melhorar os resultados da empresa. Dessa forma, o composto de endomarketing proporciona uma visão ampla do marketing interno da organização e, avaliando cada variável, é possível obter informações relevantes para as tomadas de decisões estratégicas da empresa. Em cada variável, é possível identificar os pontos positivos e os que precisam de maior atenção, avaliar a situação atual da organização e definir um planejamento com base nas ideias, necessidades, sugestões e colaborações dos funcionários. O endomarketing é, portanto, um processo que visa tornar a empresa mais competitiva no mercado a partir da integração de seus funcionários à estrutura organizacional. Conforme Bekin (2012), seu principal objetivo é estabelecer um processo permanente de motivação e engajamento do funcionário, conferindo-lhe dignidade, responsabilidade e liberdade de iniciativa. Esse processo motivacional deve ser algo integrado ao cotidiano da empresa. Acesse o link a seguir para ler sobre um estudo global da Towers Watson, que disserta sobre o engajamento da força de trabalho no Brasil. https://qrgo.page.link/kDW9z 7Endomarketing A construção de estratégiasde marketing para o público interno das organizações Hooley, Saunders e Piercy (2006, p. 403) determinam as principais análises críticas que podem indicar a necessidade de rever a forma de condução do marketing externo, migrando posteriormente para um pensamento gerencial de endomarketing. Detecção de falhas no atendimento aos clientes que comprometam a imagem de seriedade da organização. A empresa possui produtos de qualidade, mas, mesmo assim, existe um alto nível de insatisfação dos clientes. O conjunto de ideias e teorias de marketing evolui, demandando mais criatividade e um comportamento diferenciado em relação aos clientes. O mercado sofre transformações e os clientes passam a exigir novos produtos e serviços, porém a empresa continua com as mesmas práticas defasadas. Para esses autores, a aplicação do endomarketing pode ajudar principal- mente na identificação de possíveis talentos humanos que estariam sendo negligenciados em uma organização. Segundo Costa (2010), para o desenvolvimento do plano de endomarke- ting, quatro etapas devem ser atendidas: pesquisa, diagnóstico, projeto e continuidade. Pesquisa: etapa inicial de coleta de informações a fim de compreender a cultura de comunicação da empresa bem como as características do público interno. De acordo com Brum (2005), a pesquisa é a etapa que rege toda a criação do projeto de endomarketing, visto que é ela que identifica os pontos de ruptura e elabora os mecanismos que serão utilizados na criação do projeto. Essa fase tem como objetivo identificar o clima organizacional da empresa, ou seja, o sentimento do público interno. Essa etapa pode ser realizada por meio de aplicação de ques- tionários, entrevistas individuais e grupos de discussão. Diagnóstico: etapa de interpretação e revisão das informações coletadas. Segundo Azevedo Filho et al. (2010), é a etapa que analisa o ambiente interno da organização envolvendo uma avaliação do desempenho global e por setor, do nível de integração entre os funcionários e da relação com os clientes e suas expectativas, do perfil e potencial de cada funcionário, Endomarketing8 da imagem que cada um tem da empresa, do nível de motivação e de engajamento e da necessidade de treinamento e capacitação. Por meio dessa avaliação, obtêm-se os pontos fortes e fracos da empresa em relação ao seu ambiente interno e cultura organizacional. Projeto: etapa de definição das ações mais adequadas ao processo de implementação do plano de endomarketing na empresa. O objetivo é criar um ambiente cooperativo, inovador e propício para o atendimento das metas. Essa etapa fornece o suporte conceitual, motivacional e estra- tégico, estabelecendo onde, como e por que a organização quer chegar. Continuidade e avaliação dos resultados: etapa seguinte à imple- mentação do plano, quando a empresa usufrui do programa e obtém resultados. Conforme Brum (2005, p. 193) “a cada ano, ao realizar a avaliação dos resultados a empresa poderá rever seu posicionamento interno, os conceitos que estão sendo adotados e a eficácia de cada canal de comunicação interna a partir da percepção dos funcionários”. Conheça as 25 leis do endomarketing propostas por Vinícius Carvalho no link a seguir. https://qrgo.page.link/AdYGa Comunicação interna O endomarketing utiliza os instrumentos de comunicação interna para divulgar as estratégias e ações na empresa. Nesse sentido, é necessário selecionar o canal mais adequado conforme o perfi l do público interno e o tipo de conteúdo que será divulgado. Bekin (2012) considera relevante a utilização dos instrumentos de comunicação interna para promover o contato direto entre os diversos níveis hierárquicos da empresa, criando uma ampla rede de comunicação entre todos os funcionários. Ainda conforme Bekin (2012), para apresentar soluções mais eficazes, o endomarketing valoriza a comunicação de mão dupla (interativa com feed- back), em que a comunicação flui horizontalmente, permitindo ao funcionário manifestar sua opinião, seja por meio de ouvidoria interna ou pesquisa de clima organizacional. 9Endomarketing Segundo Brum (2005), a escolha entre os diversos canais e ferramentas de comunicação interna depende do tempo disponível, do perfil do público interno e do conteúdo da mensagem. Os principais estão descritos a seguir. Intranet: rede corporativa com acesso permitido somente aos fun- cionários da empresa. Interliga unidades e departamentos, publica informativos, divulga produtos e serviços, aumenta a produtividade dos colaboradores, entre outros. Rede social corporativa: canal de comunicação com características e recursos utilizados nas redes sociais tradicionais, o que aumenta o alcance das informações, a adoção, o engajamento e a integração por parte dos colaboradores. Cada colaborador conta com um perfil na ferramenta, no qual é possível publicar informações, vídeos, fotos, iniciar debates e criar vínculos com outros colaboradores — tal qual ocorre no Twitter ou no Facebook. Newsletter: é um tipo de revista da empresa que contém informações que poderão ser úteis e motivadoras. Tem como finalidade, além do papel educativo, a valorização dos colaboradores, pois pode ser um espaço em que o seu desempenho é destacado. Pode ser em formato impresso ou digital, de acordo com o perfil dos colaboradores e orçamento da empresa. Vídeo institucional: apresenta o histórico da empresa, sua missão, visão e seus valores, no que consiste o negócio, quem trabalha na empresa, enfim, tudo que possa interessar a um novo funcionário. Manuais técnicos e educativos: apresentam os produtos, serviços, lança- mentos e tendências relacionadas ao mercado atendido pela organização. Além disso, são usados, também, instrumentos tradicionais, como mural interno, palestras motivacionais, cartazes informativos, reuniões, rádio interna, videoconferências, e-mail, entre outros. Acesse o link a seguir e veja um exemplo prático de projeto de comunicação interna para a empresa Souza Cruz. https://qrgo.page.link/cLCui Endomarketing10 Concluindo, um bom projeto de endomarketing deve alcançar os seguintes resultados. Aumentar a fidelidade dos funcionários e reduzir a rotatividade. Incentivar a motivação interna com um bom ambiente de trabalho. Melhorar o clima organizacional ao incentivar o trabalho em equipe e o compartilhamento de informações. Melhorar a qualidade de vida no trabalho. Aumentar a produtividade e o engajamento dos funcionários. ARAÚJO, V. I.; CARVALHO, V. N. Endomarketing como ferramenta estratégica: a adequada utilização dos canais de comunicação aos níveis organizacionais no século XXI. 2014. 14 f. Artigo (Graduação em Gestão Design e Marketing) - Instituto Federal Fluminense. Campos dos Goytacazes: IFF, 2014. Disponível em: http://bd.centro.iff.edu.br/xmlui/ handle/123456789/91. Acesso em: 16 jun. 2019. AZEVEDO FILHO, E. T. et al. Endomarketing: uma ferramenta estratégica para o aumento da produtividade. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 30., 2010. Anais... São Carlos: ABEPRO, 2010. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/ enegep2010_TN_STO_113_739_15201.pdf. Acesso em: 16 jun. 2019. BEKIN, S. F. Endomarketing: como praticá-lo com sucesso. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. BRUM, A. M. Endomarketing como estratégia de gestão: encante seu cliente interno. Porto Alegre: L&PM, 2005. BRUM, A. M. Endomarketing estratégico: como transformar líderes em comunicadores e empregados em seguidores. São Paulo: Integrare, 2017. CAVALLINI, P.; ZAMBERLAN, L. Estudo de endomarketing em uma agência bancária. 2018. 21 f. Artigo (MBA em Coaching e Gerenciamento de Pessoas) - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Ijuí: UNIJUÍ, 2018. Disponível em: http:// bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/5247. Acesso em: 16 jun. 2019. CERQUEIRA, W. Endomarketing: educação e cultura para a qualidade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.COSTA, D. Endomarketing inteligente: a empresa pensada de dentro para fora. Porto Alegre: Dublinense, 2010. FRANÇA, A. C. L. Prática de Recursos Humanos: conceitos, ferramentas e procedimentos. São Paulo: Atlas, 2008. 11Endomarketing Assessoria de comunicação interna Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever a importância estratégica da comunicação interna. Definir endomarketing. Identificar os processos operacionais da comunicação interna. Introdução A comunicação empresarial interna é uma das formas de comunicação das empresas com um de seus públicos prioritários: os colaboradores. Ela é capaz de aumentar a motivação, incrementar a mobilização, melhorar o desempenho e construir um terreno fértil para o surgimento de ideias. Neste capítulo, você vai estudar a comunicação interna como uma fer- ramenta estratégica nas organizações. Também vai conhecer o conceito de endomarketing, um braço da comunicação interna que utiliza técnicas do marketing. Por fim, você vai conferir como funciona a comunicação interna na prática, como planejar e quais ferramentas são relevantes na execução de projetos nessa área. 1 Função estratégica da comunicação interna A comunicação interna, além de ser importante por oferecer canais de infor- mação e melhorar o fl uxo de notícias sobre a empresa, é também primordial na motivação dos funcionários. É determinante para desenvolver e manter um clima organizacional favorável, o que ajuda a cumprir metas e objetivos estratégicos, além de crescer em suas atividades, serviços e produtos (REGO, 1986). É comum que empresas de diferentes portes releguem a área de comunica- ção interna a um plano inferior, considerando-a como atividade acessória por departamentos de comunicação, assessorias ou recursos humanos. Na era da hiperinformação, no entanto, com a interdependência das organizações e de seus segmentos e com a multiplicidade de canais disponíveis, é importante que os colaboradores estejam bem informados. Precisam também se comunicar de forma adequada, potencializando a força do grupo, sempre se alinhando à visão, à missão e aos valores da empresa. Diante de tamanho desafio estratégico, com velocidade extrema no fluxo de informações e também da pulverização de mensagens, muitas delas difusas ou falsas, não basta apenas criar canais como jornais internos e intranet e padronizar mensagens. Como destaca Nassar (2006), o momento é de examinar a comunicação interpessoal e ouvir o que está sendo dito. Segundo o autor, há muitas questões ainda a serem resolvidas no que tange a comunicação interna. A principal é a falta de competência para se comunicar bem dos gestores. Por serem responsáveis pelo pensamento estratégico, que impacta o desenvolvimento das empresas, eles deveriam, acima de todos os outros funcionários, dominar a habilidade da boa comunicação. Bueno (2003) acrescenta que as organizações estão inseridas não apenas em transformações internas, mas também em um mercado competitivo, glo- balizado, com transformações tecnológicas e sociais cada vez mais aceleradas. A comunicação interna é importante por ajudar a circular novas informações, ajudar na discussão e na interação entre diferentes segmentos e departamentos de cada empresa e capacitar os colaboradores para diferentes desafios. Com esse cenário complexo, portanto, a comunicação interna deixa de ser periférica e passa a ser indispensável para que se pense em resultados nas organizações. Menezes (2011) avalia que, sendo um instrumento estratégico, é papel da comunicação interna contribuir para alavancar o desempenho e o sucesso financeiro da empresa, não apenas como propagadora de informações. A comunicação interna tem na sua essência a necessidade de compartilhar missão, visão e estratégia e alinhar objetivos, permitindo alcançar os públicos. Diante de tantas mudanças, não podemos falar de comunicação interna pensando apenas na transmissão de informações, mas considerando também que ela facilita o compartilhamento de ideias e diálogos construtivos. Isso significa que ela é uma forma de valorizar as experiências pessoais e profis- sionais dos colaboradores que podem ainda contribuir para o crescimento da empresa. Como aponta Kunsch (2002, p. 159), “A comunicação interna deve contribuir para o exercício da cidadania e para a valorização do homem”. Além disso, Bueno (2003) destaca que, atualmente, faz pouco sentido falar em público interno no singular. Isso porque há diferentes pessoas, com tam- bém distintas percepções e olhares. Para interagir com todos, então, deve-se Assessoria de comunicação interna2 conhecer os diferentes perfis e suas diversas necessidades “[…] para que se possam implementar canais e formas de relacionamento (inclusive formatos e discursos) que estejam em sintonia com eles” (BUENO, 2003, p. 87-88). Já que uma organização conta com vários objetivos, ela deve também satisfazer diferentes exigências de seus públicos. Essas exigências também estão em transformação, obrigando a empresa a se alinhar e até se antecipar a mudanças, compreendendo o público interno. Para Kunsch (2002, p. 159), o público interno, quando atendido, pode resultar em vantagens para as empresas, porque: […] é um público multiplicador. Na sua família e em seu convívio profissional e social, o empregado será um porta-voz da organização, de forma positiva ou negativa. Tudo dependerá de seu engajamento na empresa, na credibilidade que esta desperta nele e da confiança que ele tem em seus produtos ou serviços. Essa composição multifacetada, que passa a demandar um cuidado especial, mais segmentado, direcionado e específico, coloca as organizações em um constante desafio. Não basta apenas se preocupar com funções operacionais, vendas e marketing se os diferentes públicos que compõem a própria empresa não são atendidos, compreendidos e valorizados nas comunicações formal e informal. Bueno (2003, p. 96) explica que, atualmente, essa mudança de pensamento, sobretudo por parte dos gestores, deve ocorrer, para que as organizações possam ser bem-sucedidas. 2 Endomarketing É comum ler ou ouvir em diferentes sites, até mesmo de especialistas, a defi - nição de endomarketing como sinônimo de comunicação interna. No entanto, embora andem juntas, podemos entender endomarketing como um potencial para uma boa comunicação interna. Analisa Brum (2010) explica que comunicação interna é a informação transmitida por canais internos e lideranças, enquanto o endomarketing é a informação repassada usando técnicas e estratégias de marketing. Os dois conceitos são complementares. A autora acrescenta que o marketing interno ocorre quando a empresa “[…] utiliza apelos emocionais, como frases de efeito, imagem, fotografias e outros recursos visuais para comunicação com os seus empregados” (BRUM, 2005, p. 42). 3Assessoria de comunicação interna De acordo com Bekin (1995), o endomarketing direciona as ações de marketing aos funcionários da empresa, como se fossem clientes. Na mesma direção, Grönroos (2003, p. 404) afirma que “[…] o endomarketing parte do conceito de que os funcionários são um primeiro mercado, interno, para a organização”. Assim, antes mesmo de projetar o mercado externo, é necessário conquistar esse público, porque todo processo de comunicação de uma empresa afeta seu processo de venda ou atendimento final. Portanto, o endomarketing está diretamente ligado à ideia de desencadear comprometimento dos funcio- nários com a organização e seus projetos. Para Franco Neto (2009), o endomarketing é parte da sobrevivência das empresas e deve fazer parte de suas estratégias, sendo considerado inclusive na organização do sistema produtivo e de venda de produtos e serviços. Um conjunto cada vez mais consistente de instrumentos e ferramentas de endomarketing tem sido utilizado por organizações de portes variados. A adoção e a combinação de ferramentas estão presentesprincipalmente em setores de maior competição e disputa por participação de mercado. As aplicações de endomarketing possibilitam resultados diferenciados em ter- mos qualitativos e quantitativos no relacionamento com os clientes externos (FRANCO NETO, 2009). Dessa forma, também há um foco externo na estratégia. Isso porque, com a melhoria do ambiente interno, as empresas podem alcançar resultados externos. Boas ferramentas de endomarketing podem influenciar de forma determinante problemas como absenteísmo, rotatividade de pessoal, baixa produtividade, problemas de relacionamentos (GRÖNROOS, 2003). De acordo com Brum (2005), os líderes devem sempre buscar que as informações transmitidas por eles se traduzam em conhecimento e que esse conhecimento possa gerar resultados para as empresas. Precisam, então, estar abertos a opiniões, estimular trocas e permitir que funcionários sejam livres para sugerir ideias, criando uma cultura dinâmica. Bekin (1995) reforça que o marketing interno atua para envolver também os funcionários em ações sociais e posicionamentos da empresa. Wilson Cerqueira (1999, p. 51), por sua vez, entende que endomarketing envolve ações para engajar os funcionários, consolidando uma base cultural de comprometimento e tendo como objetivo: […] a prática dos valores estabelecidos como base da nova cultura; a manuten- ção de um clima ideal de valorização e reconhecimento das pessoas; a obtenção de índices maiores de produtividade e qualidade, com a consequente redução de custos; estabelecimento de canais adequados de comunicação interpessoal, Assessoria de comunicação interna4 que permitirão a eliminação de conflitos e insatisfações, que possam afe- tar o sistema organizacional; a melhoria do relacionamento interpessoal; o estabelecimento da administração participativa; a implantação de ações gerenciais preventivas. Não basta, portanto, emitir mensagens ou criar campanhas para as empre- sas. É necessário saber ouvir com atenção. É necessário assegurar o feedback aos colaboradores, fazendo com que eles se sintam confortáveis para revelar necessidades e expectativas. A segmentação de mercado é uma técnica apli- cável, pensando em segmentar grupos de funcionários para enviar mensagens específicas. Além disso, os clientes internos podem ser fontes de ideias para melhorar e criar novos produtos e serviços (BEKIN, 1995). Os debates sobre endomarketing como parte da comunicação interna e até comunica- ção interna como parte do endomarketing norteiam uma série de trabalhos acadêmicos, técnicos e debates mercadológicos. Enquanto os profissionais de marketing tendem a valorar mais a ideia de engajamento por meio de técnicas, os relações públicas e os jornalistas tendem a olhar de forma mais ampla para o processo de informação e comunicação. 3 Comunicação interna na prática Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Comunicação Em- presarial (Aberje) apontou que a comunicação interna ainda se divide entre departamentos de recursos humanos (44%) e setores de comunicação corpo- rativa (34%). Entre os canais digitais preferidos estão e-mail (93%) e intranet (84%), seguidos de aplicativos (30%) e rede social corporativa (23%) (REDE ABERJE, 2018). 58% dos respondentes dizem que há um planejamento estratégico norteando ações de comunicação interna, e 53% não conseguem priorizar a divulgação de mensagens relacionadas ao planejamento de comunicação interna (REDE ABERJE, 2018). Entre os temas mais abordados na comunicação com os funcionários estão benefícios e programas de recursos humanos, objetivos e estratégias da em- presa, mudanças, propósito, cultura e código de conduta. Quanto a campanhas 5Assessoria de comunicação interna de comunicação interna, 52% dizem que a quantidade delas é adequada para a empresa. Outro dado importante é que o presidente CEO valoriza muito ou valoriza a comunicação interna em 74% das respostas (REDE ABERJE, 2018). Na prática, a comunicação interna se dá via instrumentos para trazer relações e fluxos de informação e trocas com públicos internos. Essas ferramentas não são apenas fontes de dados e conhecimento, mas também influenciadores de opi- nião e determinantes na mudança de hábitos dos funcionários. A multiplicidade de ferramentas e canais deve ser aliada na comunicação com os colaboradores. Embora as empresas estejam recorrentemente atentas à comunicação interna formal, como em comunicados, informativos e boletins, a informal também é preponderante. Baldissera (2000) defende, inclusive, que haja canais para “escoar” a co- municação informal, já que é por meio de diálogos, conversas do cotidiano e discussões que podem surgir ideias, soluções e possibilidades. Funcionaria, segundo o autor, como “[…] um espécie de terapia” (BALDISSERA, 2000, p. 36) para que os colaboradores desabafassem sobre incômodos em relação à empresa, aos líderes e colegas. Desse modo, é possível pensar em meios de resolver problemas e permitir que: […] as soluções encontradas possam, mediante os sistemas de informações ascendentes, chegar aos níveis superiores e influenciar para a redefinição do planejamento de comunicação e informação ou, mesmo, do plano geral das estratégias e objetivos da organização. Com isso, a comunicação informal pode ser útil, isto é, fornecer subsídios para uma melhor compreensão da cultura dos públicos que deve ser considerada quando da comunicação formal (BALDISSERA, 2000, p. 36). Oliveira e Paula (2008) entendem que não é possível ignorar a comunicação informal, principalmente porque ela ocorre alheia à vontade das empresas. Para as autoras, existe um modelo de comunicação interna nas organizações. Confira a seguir as premissas e os requisitos desse modelo. Premissas Perspectiva da organização (alinhamento da comunicação com os ob- jetivos e as estratégias de negócio e gestão). Perspectiva dos atores internos. Processo balizador e mediador do ambiente interno e externo. Abordagem na dimensão estratégia. Assessoria de comunicação interna6 Requisitos Atores internos como produtores de mensagens. Contextualização de informações e cenários. Reconhecimento da preferência pela comunicação direta (face a face). Meios impressos e tecnológicos como suportes. Lideranças como agentes de comunicação. Exigência de conduta empresarial ética e responsável. Para Scroferneker (2008), alguns objetivos da comunicação interna são criar um ambiente de ganha-ganha, buscar o equilíbrio entre motivação interna e externa, além de estímulo à cooperação. Em algumas empresas, no entanto, há uma confusão entre a comunicação administrativa, que é mais pautada pela emissão de informação, apenas de forma unilateral. Essa diferenciação: […] pressupõe novas atitudes e novos posicionamentos, sobretudo dos gesto- res, de ouvir e querer escutar, de olhar e querer ver, de falar e deixar falar e, principalmente, de promover ações que evidenciem e materializam o reco- nhecimento e o respeito pela participação e interação efetivas, e não somente festivas (SCROFERNEKER, 2008, p. 209). Uma empresa com boa comunicação interna e fluxos ágeis de informação tende a ser melhor, no sentido de trabalhar mudanças organizacionais. Curvello (2012a, 2012b) afirma que uma mudança, seja ela estrutural seja ela cultural, ocorre quando todos envolvidos entendem sua importância e trabalham na mesma direção. Por isso, mudanças em comunicação interna precisam ser graduais, usando a comunicação interna para prevenir conflitos na empresas e gerar relaciona- mentos internos e externos na empresa. Em um contexto de multiplicação de informações, é importante que a empresa seja propositiva na comunicação, com estratégias precisas para tornar o colaborador um protagonista. Para Kunsch (2002), é necessário olhar para a comunicação interna como uma área estratégica nas políticas da organização. Dessa maneira, engaja-se o funcionário em acontecimentos da empresa, do país e do mundo.Com um olhar para dentro e outro para fora, ele acompanhará de forma cons- ciente a dinâmica da história. E será considerado não um mero número do cartão eletrônico que registra suas entradas e saídas, mas alguém que exerce suas funções em parceria com a organização e em sintonia com a realidade social vigente (KUNSCH, 2002, p. 159). 7Assessoria de comunicação interna Esse engajamento pode ser feito por meio dos diversos veículos de comuni- cação interna existentes, como caixa de sugestões, conversas informais, even- tos, house organ, intranet, manuais, newsletters, murais, relatórios, reunião, entre outros. Eles podem ser usados de diferentes formas, tendo diferentes resultados. Vamos analisar algumas ferramentas. Intranet: rede corporativa com acesso restrito aos funcionários, que per- mite ligar departamentos e áreas da empresa, divulgando informações, serviços e visando melhorar a produtividade e o fluxo comunicacional. Por ser universal, acessível a diferentes colaboradores, permite o envio massivo de mensagens e fluxo fácil de informação. Rede social corporativa: parecida com as redes sociais convencionais, permite troca de mensagens, em uma espécie de evolução da intranet. Por ter baixo custo e poder ser acessada na nuvem, é uma ferramenta importante por permitir o diálogo e a colaboração. E-mail: ainda bastante utilizado, permite agendar conversas, avisar funcionários sobre eventos e divulgações, relatar novidades e informar sobre processos e dinâmicas internas. Reuniões: a reunião presencial ainda é um canal mais objetivo e direto para traçar planejamentos, apresentar resultados, verificar questões e pendências, anunciar aspectos importantes e tirar dúvidas. Embora não deva ser usada exaustivamente, essa ferramenta ainda é essencial por seu caráter pessoal e próximo. Mural: muitas vezes usado para lembretes, apontamento de objetivos, estratégias e avisos. Normalmente em lugar visível, conta com conteúdo acessível, com estética bem-pensada e deve estar atualizado. Há versões digitais atualmente, que permitem colaboração das equipes. Manual do colaborador: uma espécie de documento com regras, benefícios e aspectos gerais da empresa, tendo o objetivo motivacional e informativo de forma simultânea. Jornal ou revista impressa: embora tenha perdido espaço, ainda é comum em empresas e conta com relatos e histórias, buscando agregar motivação e envolvimento. Os conteúdos podem contar com textos e imagens. Pode alcançar colaboradores sem conexão com a internet, ser móvel e ofertar uma espécie de cardápio de conteúdos corporativos. Newsletter: enviada com uma periodicidade fixa, contém novidades, informações importantes e recados para os funcionários. Pode chegar por e-mail ou estar conectada a uma página on-line. Assessoria de comunicação interna8 É claro que essas ferramentas só devem ser usadas em uma concepção de planejamento da comunicação interna, que envolve análise da situação da empresa, meios utilizados, potenciais conflitos, identificação de falhas, mapeamento do público, alinhamento dos objetivos, desenho de plano de ação, montagem de cronograma e desenvolvimento de indicadores e métricas para mensuração. BALDISSERA, R. Comunicação organizacional: o treinamento de recursos humanos como rito de passagem. São Leopoldo: Unisinos, 2000. BEKIN, S. F. Conversando sobre endomarketing. São Paulo: Makron Books, 1995. BRUM, A. M. Endomarketing de A a Z: como alinhar o pensamento das pessoas à estra- tégia da empresa. São Paulo: Integrare, 2010. BRUM, A. M. Face a face com o endomarketing: o papel estratégico das lideranças no processo da informação. Porto Alegre: L&PM, 2005. BUENO, W. C. Comunicação empresarial: teoria e pesquisa. Barueri: Monole, 2003. CERQUEIRA, W. Endomarketing: educação e cultura para a qualidade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. CURVELLO, J. J. A. A dimensão interna da comunicação na administração pública. In: DUARTE, J. Comunicação pública: estado, mercado, sociedade e interesse público. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2012a. CURVELLO, J. J. A. Comunicação interna e cultura organizacional. 2. ed. Brasília, DF: Casa das Musas, 2012b. FRANCO NETO, P. A importância do endomarketing na empresa moderna. Administrado- res, 18 jun. 2009. Disponível em: https://administradores.com.br/artigos/a-importancia- -do-endomarketing-na-empresa-moderna. Acesso em: 23 abr. 2020. GRÖNROOS, C. Marketing: gerenciamento e serviços. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. KUNSCH, M. M. K. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. 2. ed. São Paulo: Summus, 2002. MENEZES, W. Comunicação: para construir ou destruir. Ribeirão das Neves: Ribeirao- DasNeves, 2011. 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