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Andragogia e Educação Profissional Lisiane Lucena Bezerra Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autor LISIANE LUCENA BEZERRA A AUTORA Lisiane Lucena Bezerra Olá! Meu nome é Lisiane Lucena Bezerra. Sou Licenciada em Ciências Agrarias, mestre em Fitotecnia e doutora em Agronomia/ Fitotecnia, com experiência técnico-profissional na área de licenciatura há mais de nove anos. Passei por empresas como a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Tendências Pedagógicas .........................................................................12 Pedagogia liberal ............................................................................................................................. 13 Tendência tradicional ................................................................................................ 14 Tendência Renovada Progressivista .............................................................. 15 Tendência renovada não diretiva ..................................................................... 16 Tendência liberal tecnicista ................................................16 Pedagogia progressista .............................................................................................................. 17 Tendência progressista libertadora ................................................................ 18 Tendência progressista libertária ..................................................................... 19 Tendência progressista crítico-social dos conteúdos ..................... 20 Pensamento Político-Pedagógico sobre Educação de Jovens e Adultos ............................................................................................................ 22 Educação de Jovens e Adultos .............................................................................................22 Pensamento político-pedagógico sobre a educação de jovens e adultos .....................................................................................................................................................25 Projeto de Educação para Currículo Andragógico ....................... 30 Projeto educativo ............................................................................................................................ 31 Visões norteadoras para a construção curricular na andragogia ................35 Construção de um Currículo Andragógico ...................................... 39 Currículo andragógico ................................................................................................................ 39 Conteúdos do EJA e seu papel curricular .................................................................... 41 Conteúdos a serem selecionados ......................................................................................42 Os conteúdos e suas dimensões ........................................................................................43 Conteúdos conceituais ...........................................................................................44 Conteúdos procedimentais .................................................................................44 Conteúdos atitudinais ...............................................................................................45 Conteúdos curriculares e sua organização................................................................. 46 9 UNIDADE 02 Andragogia e Educação Profissional 10 INTRODUÇÃO Você sabia que as tendências pedagógicas são de grande importância para a educação, especialmente para a prática docente e para as propostas pedagógicas? Dessa forma, o conhecimento dessas tendências e perspectivas de ensino contribuem para um trabalho direcionado. Assim, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino para os indivíduos que não concluíram o Ensino Fundamental ou Ensino Médio e para os que não conseguiram ter acesso à escola no período apropriado, conforme a Educação Básica do Brasil. A escola para jovens e adultos além de ser garantida através da constituição como um direito apresentado ao aluno, deve também ter tanto o processo referente ao ensino como também aprendizado fornecidos e com qualidade. O currículo EJA, ao ser discutido, é considerado relevante sobre a percepção de que os valores implícitos das práticas utilizadas na escola pelos professores assumem uma postura em que define e impera sobre os conteúdos a serem escolhidos. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo! Andragogia e Educação Profissional 11 OBJETIVOS Olá! Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 1. Descrever as tendências pedagógicas; 2. Interpretar o pensamento político-pedagógico sobre a educação de jovens e adultos; 3. Identificar a construção de um currículo direcionado à andragogia; 4. Entender como pode ser construído um currículo andragógico. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Antes vamos com a frase do grande pensador Paulo Freire: “O mundo não é. Ele está sendo!”. Andragogia e Educação Profissional 12 Tendências Pedagógicas INTRODUÇÃO: Ao término do estudo deste capítulo você será capaz de entender as tendências pedagógicas. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver essa competência? Então vamos lá. Avante! As tendências pedagógicas são de grande importância para a educação, especialmente para a prática docente e para as propostas pedagógicas. Dessa forma, o conhecimento dessas tendências e perspectivas de ensino contribuem para um trabalho direcionado. Diante das dificuldades para se estabelecer a síntese das tendências pedagógicas, ainda hoje emprega-se a teoria classificada por José Carlos Libâneo (1990) em dois grupos: pedagogia liberal e pedagogia progressistas, onde as liberais incluem as tendências tradicional, renovada progressista, renovada não diretiva e tecnicista; e as progressistas incluem as tendências libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos. Sendo assim, as tendências pedagógicas se classificam como: Quadro 1: Classificação das tendências pedagógicas conforme José Carlos Libâneo (1990) TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS Pedagogia liberal Pedagogia progressivistaTradicional Libertadora Renovada progressivista Libertária Renovada não diretiva Crítico social dos conteúdos Tecnicista Fonte: Elabora pela autora com base em Libâneo (1990). Assim sendo, vamos conhecer cada uma dessas tendências. Andragogia e Educação Profissional 13 SAIBA MAIS: José Carlos Libâneo é educador e escritor bastante conhecido no meio educacional, pois suas reflexões sobre didática e prática de ensino e sobre sua perspectiva crítico-social dos conteúdos o colocam entre os mais importantes teóricos progressistas da educação. Nasceu em 1945 na cidade de Angatuba/SP. Quer saber mais sobre as publicações de Libâneo? Recomendamos o acesso ao seu currículo lattes, disponível em: https://bit.ly/2QAETsa. Acesso em: 01 mar. 2021. Pedagogia liberal Na pedagogia liberal a escola tem papel fundamental na preparação dos indivíduos, pois é preciso preparar, de acordo com as habilidades individuais, de maneira que desempenhe seu papel social. Sendo assim, pressupõe-se que o indivíduo necessita adaptar-se tanto aos valores, como às normas que vigoram na sociedade de classe, e isso se dá devido ao desenvolvimento cultural individual. A ênfase no aspecto cultural esconde a realidade das diferenças de classes, pois, embora difunda a ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta a desigualdade de condições. Historicamente, a educação liberal iniciou-se com a pedagogia tradicional e, por razões de recomposição da hegemonia da burguesia, evoluiu para a pedagogia renovada (também denominada escola nova ou ativa), o que não significou a substituição de uma pela outra, pois ambas conviveram e convivem na prática escolar. (LUCKESI, 1994, p. 55) Com relação ao aspecto cultural, não são consideradas as diferenças entre as classes sociais, uma vez que não leva em conta a desigualdade existente, mesmo a escola transmitindo a ideia de que todos têm oportunidades iguais. Para Oliveira (2017, p. 18), “as tendências liberais visam a reprodução dos modelos sociais, atentando para as necessidades do mercado Andragogia e Educação Profissional 14 capitalista, com a finalidade de formar trabalhadores que ocupem as vagas pré-definidas pelo mercado”. Tendência tradicional Nessa tendência, o principal personagem é o professor, ele é o centro e autoritário. Suas aulas são dispositivas, tendo como principal foco o conhecimento intelectual e moral. A repetição e a memorização mecânica são os métodos utilizados. Dessa forma, todos os alunos são passivos, já que o conhecimento não se relaciona com a realidade e/ou cotidiano do aluno. Assim, o aluno é como uma folha em branco que será preenchida pelos conhecimentos repassados pelo professor, e esse tem a obrigação de reproduzi-los. A capacidade de memorização dos alunos é testada através de exames. Com início no período do Brasil Colônia, pautada nos princípios da Igreja Católica Apostólica Romana. Além de utilizar a educação para disseminar os dogmas da Igreja, os padres jesuítas ministravam aulas que faziam uso da memorização, centralização da figura do professor e reprodução dos modelos sociais. (OLIVEIRA, 2017, p. 18) Figura 1: Pedagogia tradicional Papel da escola Preparação intelectual e moral dos alunos Pensadores Comenius Herbart Aprendizagem Receptiva e mecânica Professor x aluno Autoridade do professor que exige atitude receptiva do aluno Conteúdos Verdades absolutas Métodos Exposição e demonstração por meio de modelos Fonte: Elaborada pela autora, 2021. O educando deve alcançar, por meio do seu esforço, sua realização plena como pessoa, sendo que isso se dá pela preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. Os conteúdos Andragogia e Educação Profissional 15 não têm qualquer relação com o dia a dia do aluno e muito menos com as realidades sociais, pois é intelectualista e enciclopédica. Os exercícios têm ênfase na repetição de conceitos ou fórmulas para memorização. A autoridade do professor exige atitude receptiva dos alunos e a aprendizagem é receptiva e mecânica. Tendência Renovada Progressivista Conforme Oliveira (2017, p. 18), essa tendência surgiu no século XIX, nas décadas de 1920 e 1930, foi influenciada pelas concepções do Movimento da Escola Nova e defendia uma educação acessível a todas as camadas sociais, dentre outras ideias. Ainda, para o mesmo autor, essa tendência pretendia preparar o aluno para a vida, bus- cando o aprendizado por meio de descobertas, colocando o educando no centro do processo de ensino-aprendizagem. Essa vertente defende o conceito da cultura como desenvol- vimento das habilidades individuais, preconizando uma edu- cação que enfoque a autoeducação (o educando como sujeito do conhecimento). (OLIVEIRA, 2017, p. 18) Figura 2: Pedagogia renovada progressivista Papel da escola Adequar as necessidades individuais ao meio social Pensadores Montessori; Decroly, Dewey; Piaget; Lauro de Oliveira Lima Aprendizagem Baseada na motivação e estimulação de problemas Professor x aluno O professor é auxiliador no desenvolvimento livre da criança Conteúdos Experiências vividas pelo aluno frente à situações- problema Métodos Soluções de problemas Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Andragogia e Educação Profissional 16 Na tendência liberal renovada, a escola adapta as necessidades do educando ao seu meio social, preparando o aluno para assumir seu papel na sociedade. Dessa forma, a tendência tradicional está voltada para o professor como centro, e na tendência renovada progressivista, a ideia defendida é centrada no aluno, onde ele aprende fazendo, considerando seus interesses. Tendência renovada não diretiva Essa tendência preocupa-se mais com os aspectos psicológicos do que com os intelectuais. Ela é permeada por objetivos voltados para a autorrealização e para as relações interpessoais, com suas bases nas teorias do psicólogo norte-americano Carl Rogers, tendo sido descoberta no processo de ensino-aprendizagem, o aspecto mais relevante (OLIVEIRA, 2017, p. 19). Figura 3: Pedagogia renovada não diretiva Papel da escola Formação de atitudes Pensadores Carl Rogers Aprendizagem Aprender a modificar as percepções da realidade Professor x aluno Educação centralizada no aluno Conteúdos Busca do conhecimento pelos próprios alunos Métodos Facilitação da aprendizagem Fonte: Elaborada pela autora, 2021. A tendência liberal renovada não diretiva é orientada para os objetivos de autorrealização (desenvolvimento pessoal) e para as relações interpessoais (LUCKESI, 1994, p. 55). Tendência liberal tecnicista Essa tendência teve origem no século XX, com a chegada do governo militar e a influência norte-americana na educação brasileira, tendo como objetivo formar pessoas com a capacidade de atuar em Andragogia e Educação Profissional 17 determinadas funções no mercado de trabalho. Devido a isso, passou- se a valorizar a utilização da tecnologia na educação e a transmissão e assimilação de conhecimentos. A tendência liberal tecnicista subordina a educação à sociedade, tendo como função a preparação de “recursos humanos” (mão de obra para a indústria). A sociedade industrial e tecnológica estabelece (cientificamente) as metas econômicas, sociais e políticas, a educação treina (também cientificamente) nos alunos os comportamentos de ajustamento a essas metas. (LUCKESI, 1994, pp. 55-56) Figura 4: Pedagogia tecnicista Papel da escola Modelar atráves de técnicas específicas Pensadores Skinner; Watson; Pavlov Aprendizagem Baseada no desempenho Professor x aluno O professor transmite informações e o aluno deve fixá-las Conteúdos Informações ordenadas numa sequência lógica e psicológica Métodos Procedimentos e técnicas para a transmissão e recepção de informações Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Nessa tendência, o professor atua fazendo uma ponte entre o aluno e a ciência, sendo transmissor de conhecimentoe cumpridor de ordens técnicas. Pedagogia progressista As tendências progressistas tornaram-se um instrumento de luta dos docentes junto de outras práticas sociais, tendo como objetivo alcançar a transformação social e econômica. Assim, Luckesi (1994) cita que: Andragogia e Educação Profissional 18 A pedagogia progressista tem-se manifestado em três tendências: a libertadora, mais conhecida como pedagogia de Paulo Freire; a libertária, que reúne os defensores da autogestão pedagógica; a crítico-social dos conteúdos, que, diferentemente das anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as realidades sociais. (LUCKESI, 1994, p. 64) Tendência progressista libertadora Tendo como base a obra do educador Paulo Freire, a tendência progressista libertadora passou a ter forma na década de 1960 por meio do desenvolvimento de um processo de alfabetização com jovens e adultos. Esse processo foi desenvolvido por Paulo Freire a partir da situação social dos alunos vindos da periferia do Recife (OLIVEIRA, 2017, pp. 26-27). SAIBA MAIS: Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997) foi um educador, escritor e filósofo pernambucano. Tendo sua formação inicial em Direito, Freire desistiu da advocacia e atuou durante o início de sua carreira como professor de Língua Portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz, instituição em que o professor havia concluído o Ensino Básico. Freire também trabalhou para o Serviço Social da Indústria (SESI) como diretor do setor de educação e cultura, além de ter lecionado Filosofia da Educação na então Universidade de Recife. Para saber mais, recomendamos a leitura do artigo de Paulo Freire, disponível em: https://bit.ly/3kwzLQI. Acesso em: 01 mar.2021. Essa tendência pedagógica centraliza o foco na cultura que o aluno já possui, e o professor necessita aprender a conhecer esse conhecimento em poder do aluno. Andragogia e Educação Profissional 19 Figura 5: Pedagogia libertadora Papel da escola Consciência da realidade em que vivem na busca da transformação social Pensadores Paulo Freire Aprendizagem Resolução da situação-problema Professor x aluno A relação é de igual para igual Conteúdos Temas geradores Métodos Dialogicidade do conhecimento Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Assim, para Oliveira (2017, p. 27) a tendência libertadora exibe características que se contrapõem ao modelo liberal de ensino, incentivando a participação ativa do educando através do contexto político-social no qual está inserido. Tendência progressista libertária Na tendência libertária, conforme Luckesi (1994), o professor tem a função de transformar a personalidade do educando, num sentido libertário e autogestionário, com o objetivo de promover mudanças na estrutura escolar, partindo de situações mais simples até as mais complexas, alcançando o sistema educacional como um todo. O professor também é concebido como uma espécie de conselheiro. Figura 6: Pedagogia libertária Papel da escola Transformar a personalidade num sentido libertário e de autogestão Pensadores C. Freinet; Miguel Gonçales; Arroyo Aprendizagem Informal, via grupo Professor x aluno O professor é orientador e os alunos livres Conteúdos As matérias são colocadas, mas não são exigidas Métodos Vivência grupal na forma de autogestão Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Andragogia e Educação Profissional 20 Conforme Oliveira (2017), no modelo de educação libertária o educando passa a ter liberdade para decidir quando participa ou não da aula e ao professor é concedido o direito de negar-se a responder, assim como aos próprios alunos, com a justificativa de que se possa promover uma reflexão e conclusão coletiva sobre determinada situação ou problema. É atribuição do grupo promover a participação de todos e se o professor não responde alguma dúvida pode ser para que os integrantes do grupo encontrem por si mesmos as respostas. (OLIVEIRA, 2017, p. 24) Tendência progressista crítico-social dos conteúdos Essa tendência preocupa-se com uma educação voltada para a transformação social e formação de consciência do educando. Surgiu no Brasil no final da década de 1970 e início dos anos 1980, período em que coincide com o fim da ditadura militar e o início da abertura política do país e tem como principal expoente o educador Dermeval Saviani (OLIVEIRA, 2017, p. 33). A tendência da pedagogia crítico-social dos conteúdos propõe uma síntese superadora, das pedagogias tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica enquanto inserida na prática social concreta. Entende a escola como mediação entre o individual e o social, exercendo aí a articulação entre a transmissão dos conteúdos e a assimilação ativa por parte de um aluno concreto (inserido num contexto de relações sociais); dessa articulação resulta o saber criticamente reelaborado. (LUCKESI, 1994, p. 64) Andragogia e Educação Profissional 21 Figura 7: Pedagogia crítico-social dos conteúdos Papel da escola Difusão dos conteúdos Pensadores Makarenko; B. Charlot. G. Snyders; Demerval Saviani Aprendizagem Baseada nas estruturas cognitivas já estruturadas nos alunos Professor x aluno Papel do aluno como participador e do professor como mediador entre o saber e o aluno Conteúdos Incorporados pela humanidade frente à realidade social Métodos Relação direta da experiência do aluno confrontada com o saber sistematizado Fonte: Elaborada pela autora, 2021. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que as tendências pedagógicas se classificam em dois grupos: a pedagogia liberal e progressista. Na pedagogia liberal, a escola tem por função preparar os indivíduos, de acordo com as habilidades individuais, para que desempenhem seu papel social. Essas tendências são: liberal tradicional, liberal renovada progressivista, liberal renovada não diretiva e liberal tecnicista. E a pedagogia progressista se tornou um instrumento de luta dos docentes junto de outras práticas sociais, tendo como objetivo alcançar a transformação social e econômica. Essas tendências são: progressista libertadora, progressista libertária e progressista crítico- social dos conteúdos. Andragogia e Educação Profissional 22 Pensamento Político-Pedagógico sobre Educação de Jovens e Adultos INTRODUÇÃO: Ao término do estudo deste capítulo, você será capaz de entender o pensamento político-pedagógico sobre a educação de jovens e adultos no Brasil. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Educação de Jovens e Adultos A educação de adultos é utilizada para designar todas aquelas atividades educativas destinadas especialmente às pessoas adultas (VOGT & ALVES, 2005). A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino para os indivíduos que não concluíram o Ensino Fundamental ou Ensino Médio e para os que não conseguiram ter acesso à escola no período apropriado, conforme a Educação Básica do Brasil. Dessa forma, o Estado é responsável por garantir que os indivíduos que não tiveram acesso à escola possam voltar a estudar e garantir sua participação diante da sociedade. Assim, a educação de adultos é de grande importância, pois é um dos principais serviços que favorecem o desenvolvimento socioeconômico do país e, consequentemente, tem papel decisivo no desenvolvimento da sociedade. Figura 8: Aprendizagem em todas as idades Fonte: Pixabay, 2017. Autor: OpenClipart-Vectors. Andragogia e Educação Profissional 23 Assim, cada vez mais o indivíduo está buscando se desenvolver para alcançar sua realização pessoal, se superar e estar preparado para enfrentar as diversas situações que surgem num mundo de constante transformações. Isso faz com que ele tenha a necessidadede se educar e ir em buscar de conhecimento. Vale lembrar que o adulto é um ser que está constantemente em busca de sua realização pessoal e que traz junto de si uma bagagem de informações que foram adquiridas na sua infância e adolescência. Dessa forma, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é um campo de práticas e reflexão que inevitavelmente transborda os limites da escolarização em sentido estrito. Isso acontece porque abrange processos formativos diversos, nos quais podem ser incluídas iniciativas, visando a qualificação profissional, o desenvolvimento comunitário, a formação política e um sem número de questões culturais pautadas em outros espaços que não o escolar. Figura 9: Pedagogia crítico-social dos conteúdos Questões culturais. Formação política. Desenvolvimento comunitário. Qualificação profissional. Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Ainda, mesmo quando se focalizam os processos de escolarização de jovens e adultos, o cânone da escola regular, com seus tempos e espaços rigidamente delimitados, imediatamente se apresenta como problemático. Trata-se, de fato, de um campo pedagógico fronteiriço, que bem poderia ser aproveitado como terreno fértil para a inovação prática e teórica. Andragogia e Educação Profissional 24 Para Di Pierro, Joia e Ribeiro (2001): Quando se adotam concepções mais restritivas sobre o fenômeno educativo, entretanto, o lugar da educação de jovens e adultos pode ser entendido como marginal ou secundário, sem maior interesse do ponto de vista da formulação política e da reflexão pedagógica. Quando, pelo contrário, a abordagem do fenômeno educativo é ampla e sistêmica, a educação de jovens e adultos é necessariamente considerada como parte integrante da história da educação em nosso país, como uma das arenas importantes onde vêm se empreendendo esforços para a democratização do acesso ao conhecimento. (DI PIERRO; JOIA; RIBEIRO, 2001, p. 58) A educação de jovens e adultos tem características de uma educação compensatória, tentando suprir a escolarização daqueles que não a tiveram na idade adequada, dessa forma, sendo direcionada aos mais pobres. Para Haddad (1992, p. 4), no Brasil, a educação de jovens e adultos se constituiu muito mais como produto da miséria social do que do desenvolvimento. É consequência dos males do sistema público regular de ensino e das precárias condições de vida da maioria da população, que acabam por condicionar o aproveitamento da escolaridade na época apropriada. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre a história da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, recomendamos a leitura do artigo: “Tendências históricas da educação dos jovens e adultos no Brasil: da subordinação a tentativas de emancipação” (PEREIRA, 2014). Disponível em: https://bit.ly/3bPFb5o. Acesso em: 01 mar. 2021. Andragogia e Educação Profissional 25 Pensamento político-pedagógico sobre a educação de jovens e adultos Diante de tanta desigualdade e insegurança, a educação de jovens e adultos sugere, como novo paradigma, que a aprendizagem seja não só um fator de desenvolvimento pessoal, como também é preciso que os indivíduos façam parte de uma sociedade mais justa, mais solidária, democrática pacífica e sustentável. Figura 10: Inclusão de todos os indivíduos Fonte: Pixabay, 2017. Autor: geralt. Aproveitando-se do descaso do Estado com os menos favorecidos e com sua educação, a escola libertária se mostra preocupada com a classe trabalhadora. Por meio do ensino formal, incluíam-se nessa clientela crianças, jovens e adultos; e por meio de Centros de Cultura Social, organizavam-se as palestras, os jornais operários, a panfletagem, as greves, os centros de estudos sociais, que serviam de suporte técnico. Desse modo, o conteúdo estava à disposição do aluno, incluindo as experiências vividas pelo grupo (TARTARI, 2013). Conforme Libâneo (2012 apud TARTARI, 2013, p. 41), o papel atribuído à escola é que ela proporcione ao aluno um perfil libertário e autogestionário. Sendo assim, tem o início com o movimento aos menos favorecidos, que se amplia como rede e, por fim, estendendo-se por todo o sistema. Nesse caso, com base na participação grupal, a escola estabelecerá mecanismos institucionais de mudança. Além da formação de grupos com perfis educativos com características autogestionárias. Andragogia e Educação Profissional 26 Figura 11: Mecanismos institucionais de mudanças Assembleias Conselhos Eleições Reuniões Associações Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Os adultos adquirem conhecimento em seu ambiente societário por meio das experiências vivenciadas no dia a dia e no ambiente educativo formal, o qual é sistematizado e planejado exclusivamente para os adultos. Para Galván (2004 apud VOGT; ALVES, 2005, p. 203): A educação de adultos não se constitui em si mesma em um instrumento de transformação social, uma vez que seu significado e sua intencionalidade dependem do marco ideológico-político-filosófico no qual se assenta a proposta pedagógica. Entretanto, o autor afirma que a ação educativa pode proporcionar mudanças nas estruturas sociais, no âmbito individual – pelo desenvolvimento para o trabalho, pela inserção social ou ocupação construtiva do tempo livre - ou como projeto político de transformação da sociedade – com a participação ativa de seus membros. (GALVAN, 2004 apud VOGT; ALVES, 2005, p. 203) Assim sendo, a construção curricular passa a ter papel de fundamental importância, pois é preciso fornecer aos educandos do EJA subsídios para que eles sejam indivíduos críticos, ativos, democráticos e criativos, para fortalecê-los e para que possam se instituir como seres sociais. Os educandos possuem uma grande diversidade e, nesse caso, essas diferenças atingem principalmente o meio social, portanto, é preciso que a Educação de Jovens e Adultos proporcione atendimento especializado para cada público cultural, pois é necessário que esses educandos conheçam outras formas de socialização dos conhecimentos e de outras culturas. Isso acontece porque existe a necessidade de adequação das condições. Andragogia e Educação Profissional 27 Figura 12: Indivíduo com pensamento crítico, ativo, criativo e democrático Fonte: Pixabay, 2018. Autor: Disponível em: mohamed_hassan. Sendo assim, a Educação de Jovens e Adultos precisa se adequar ao perfil desses educandos, já que isso implica na diversidade, como: diferença de idade, nível de escolaridade, situação socioeconômica, situação cultural, sua ocupação e o motivo que o levou a voltar a estudar. Paulo Freire começou com um método inovador que trazia a ideia de trabalhar com adultos um repertório que tivesse significados, questões que os educandos entendessem, que trouxesse a realidade, falasse do dia a dia, suas experiências, rompendo assim as premissas do ensino voltado para cartilhas, que eram utilizadas na alfabetização. Dessa forma, Paulo Freire utilizou suas experiências para aplicar esse método inovador com os adultos. SAIBA MAIS: Você sabia que Paulo Freire ensinou mais de 300 adultos a ler em apenas 45 dias? Isso mesmo! Isso aconteceu no Rio Grande do Norte. Para saber, recomendamos a leitura da reportagem: “1ª turma do método Paulo Freire se emociona ao lembrar das aulas”. Disponível em: https://glo.bo/3uIJoAr. Acesso em: 01 mar. 2021. Andragogia e Educação Profissional 28 Esse método é retratado muito bem na obra de Paulo Freire Pedagogia do Oprimido, que traz algumas situações do tipo: Figura 13: Situações do método inovador de Paulo Freire A educação não é neutra O processo educativo é ato político Pedagogia pautada na libertação Dialógica e dialética Levar o aluno à leitura de mundo Professor deve ser provocador de situações Professor deve ser um animador cultural Fonte: Elaborada pela autora, 2021. O pensador mostra que nada na educação é neutro, pois toda neutralidade tem uma intencionalidadee essa intenção é política. Não existe neutralidade na forma de lidar com um aluno, por exemplo, nem no conteúdo que o professor escolhe a ser apresentado para o aluno. Portanto, o processo educativo é ato político porque diz respeito a relacionamento, à vida social, à organização da sociedade, a direitos e deveres. Na sua obra, Paulo Freire entende que os processos educacionais trazem o sujeito para o campo da opressão. Passa a ser também conscientizadores de todas as situações vivenciadas pelo indivíduo, sendo ampliados a partir da dialógica com a dialética, sendo uma relação extremamente dialógica, pois se tem uma relação com o aluno voltada para o diálogo. Dialética: “Arte do diálogo; arte de, através do diálogo, fazer a demonstração de um tema, argumentando para definir e distinguir com clareza os assuntos e conceitos debatidos nessa discussão”. “Processo de busca da verdade por meio da argumentação e/ou da discussão racional, tentando demonstrar alguma coisa” (DICIO, 2021). Andragogia e Educação Profissional 29 EXEMPLO: É a questão da dialética que permite entender que algo que é hoje, amanhã pode não ser mais. Que a opinião sobre algo hoje pode ser transformada amanhã. Que uma opinião considerada certa pode ser considerada errada por outra pessoa. Isso pode acontecer em diversas possibilidades, sem certezas definitivas e absolutas. O trabalho realizado na escola deve levar ao aluno a leitura de mundo, fazer o aluno entender as relações estabelecidas. O professor é provocador de situações, que instiga e amplia a curiosidade dos alunos, para irem em busca do conhecimento. Além disso, ele deve ser um animador cultural, para colocar as culturas para serem vivenciadas e permitidas. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o pensamento político pedagógico sobre a educação de jovens e adultos é de grande importância para sociedade brasileira. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino para os indivíduos que não concluíram o Ensino Fundamental ou Ensino Médio e para os que não conseguiram ter acesso à escola no período apropriado, conforme a Educação Básica do Brasil. Isso faz com que o indivíduo tenha necessidade de educar-se e ir em busca de conhecimento. Como os educandos possuem uma grande diversidade, essas diferenças atingem principalmente o meio social, então é preciso que a EJA proporcione atendimento especializado para cada público cultural, sendo necessário que esses educandos conheçam outras formas de socialização dos conhecimentos e de outras culturas. Paulo Freire começou com um método inovador que trouxe a ideia de trabalhar com adultos um repertorio com significados, fazendo com que os educandos entendam trazendo-os para sua realidade, falando do seu dia a dia e das suas experiências. Andragogia e Educação Profissional 30 Projeto de Educação para Currículo Andragógico INTRODUÇÃO: Ao finalizar o estudo deste capítulo, você será capaz de entender como pode ser construído um currículo direcionado à andragogia. Isso será de fundamental importância para o exercício de sua profissão. Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! A escola para jovens e adultos além de ser garantida por meio da constituição como um direito apresentado ao aluno, deve também ter tanto o processo referente ao ensino como o aprendizado fornecidos e com qualidade. Diante disso, há uma exigência sobre o professor de jovens e adultos, de forma que devem ter um olhar criterioso em relação às questões que envolvem a ligação entre o professor, o aluno e o conhecimento, de maneira que o sucesso escolar pode ser interferido devido a essa relação. Para isso, fatores importantes devem ser considerados para um processo de ensino-aprendizagem de qualidade. Figura 14: Fatores para o processo ensino aprendizagem Contrato didático Gestão de tempo Organização do espaço Recursos didáticos Interação e cooperação Interação da escola com as práticas sociais Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Andragogia e Educação Profissional 31 Projeto educativo Em todas as escolas há o desenvolvimento de uma proposta educativa, porém nem sempre é explícita, e essa falta de clareza ou consciência resulta em dificuldades para que o trabalho em coletividade da equipe escolar seja realizado. Para que os princípios e as metas, que têm como objetivo orientar as ações da equipe escolar, sejam alcançados, faz-se necessário que os envolvidos em sua totalidade devem ter clareza sobre o que é proposto. Isso explica a grande importância de a proposta educativa ser concretizada para que esse projeto norteie o trabalho da equipe (MEC, 2002). Um dos aspectos que tem mais relevância no que tange ao EJA sobre o projeto educativo, está relacionado à forma isolada que esses cursos ocupam nas unidades escolares. No entanto, esses cursos não podem ser considerados apenas cursos paralelos dentro da escola, pois a educação de jovens e adultos também integra o projeto educativo proposto na escola. Assim, as oportunidades devem ser oferecidas aos professores que lecionam no EJA, para que possam participar diretamente, tanto na discussão como na elaboração do projeto educativo que será utilizado. Com isso, os alunos têm garantias, como as suas especificidades que serão consideradas como direitos iguais aos demais alunos no que se refere à utilização, tanto de espaços como de materiais, além de conseguir o respeito da equipe e ter interação com os outros. Para que um projeto educativo seja realizado, é necessário um processo de continuidade em que a prática pedagógica deve ser bem refletida. Para esse processo ocorrer, é de fundamental que a equipe realize: • Discussões; • Propostas; • Práticas do que foi proposto; • Acompanhamentos; Andragogia e Educação Profissional 32 • Avaliações; • Registro de ações. Essas atividades servirão para o desenvolvimento e alcance de objetivos que foram traçados de forma coletiva. Cotidianamente, ao trabalhar com seus alunos, o conhecimento pedagógico é construído e reconstruído, tanto em sala de aula como fora dela. Para a elaboração do projeto, ocorrem discussões e a coletividade dos valores é exposta pela escola, onde as prioridades são delimitadas, os resultados que se deseja alcançar são definidos e a autoavaliação sobre o seu trabalho é incorporado, tudo girando em torno do conhecimento existente na comunidade onde tem atuação, como também a responsabilidade a ela dedicada. De acordo com Rechlinski e Schwertner (2017), segundo os princípios andragógicos, o centro da aprendizagem está no aprendiz, em que há uma divisão no processo de aprendizado, ou seja, divide-se entre os que participam desse processo. Para as autoras: [...] O adulto com sua maturidade desenvolve a autonomia e o comprometimento com seu aprendizado, faz experiências para utilizar na vida prática, o conhecimento. Estuda porque é movido pela oportunidade de solucionar melhor os problemas que se apresentam em sua vida, por esse motivo, querem ter controle sobre o conteúdo do aprendizado [...]. (RECHLINSKI; SCHWERTNER, 2017, p. 2) Então, para a elaboração e o desenvolvimento de um projeto educativo serem conferidos na escola, não significa que as instâncias dos governos devam se omitir frente a isso, tanto no ponto de vista da pedagogia quanto em questões financeiras e administrativas. Dessa maneira, para se desenvolver e elaborar um projeto educativo, devem ser repensados a função, o papel, o foco, os valores e a finalidade da educação escolar. Andragogia e Educação Profissional 33 IMPORTANTE: Devem ser observados os pontos sobre a motivação dos alunos, se suas características são consideradas, seusanseios, suas necessidades como também da sociedade em que esse aluno está inserido e sua comunidade local. Com isso, variadas formas devem ser encontradas pela escola para mobilizar e organizar tanto os alunos quanto as comunidades, possibilitando a integração em vários espaços educativos existentes na sociedade e, principalmente, a criação de ambientes onde as atitudes criativas do cidadão possam ser reforçadas, como também ele participe de um maior leque de opções em relação à educação (BRASIL, 2002). Com isso, para que se desenvolva e se elabore um projeto educativo, alguns aspectos devem ser observados, segundo o MEC (2002), são eles: • O projeto educativo deve ter a perspectiva do presente: nesse ponto, deve-se levar em consideração que tanto o jovem quanto o adulto podem estar atravessando momentos considerados muito especiais referentes a sua existência, eles podem estar experimentando esses momentos da vida humana com especificidade. Por isso, deve-se dar a devida importância para que a vida desses alunos seja conhecida pelo professor, ao perceber que a escola busca interesse pelas suas necessidades, suas preocupações ou seus problemas, há desenvolvimento de autoconfiança no aluno, como também ele passa a confiar mais nos outros. Com isso, seu desempenho escolar pode ser melhorado. • O projeto deve ser caracterizado, dimensionando-o como futuro, em que as formas que os alunos devem ser inseridos no mundo que envolve as relações de trabalho, culturais e social devem ser feitas antecipadamente. Dessa forma, a escola apresenta uma proposta ainda inexistente, porém é uma possibilidade realista, que pode ser alcançada de forma gradativa. Andragogia e Educação Profissional 34 • O sistema de planejamento deve ser repensado, em que metas devem ser definidas para que possam ser atingidas, por meio do estabelecimento de cronogramas, assim havendo continuidade nas propostas. A utilização de recursos necessários deve ser prevista, sem desperdícios e devem ser usados funcional e plenamente, entre outros aspectos. • A elaboração e o desenvolvimento de um projeto educativo devem ser feitos com suficiência de tempo para que ele possa ser analisado, discutido e reelaborado continuamente se necessário, incluído em um clima favorável na instituição e que seja elaborado com objetividade de condições. Destacando-se que não se atinge rapidamente essa prática coletiva de reflexão e que a escola apresenta complexidade em sua realidade, sem a possibilidade de tratar as questões de forma simplista e fáceis de resolver. • Por fim, ao realizar o projeto educativo de forma contínua, apresenta maior possibilidade de conhecimento sobre o desenvolvimento de ações feitas por professores diferentes, onde toda a equipe escolar reflete e tem o projeto como base para dialogar. Em relação aos professores, ao fazer e exercitar o projeto, veem o desenvolvimento de suas atividades com mais coerência e o mais importante é que fornece para sua formação profissional contribuições efetivas, com o favorecimento para que possam refletir e atuar dentro da realidade a qual estão compreendidos em seu ambiente de trabalho. A base para que haja reflexão e elaboração de um projeto educativo é o acúmulo de experiências dos profissionais que fazem parte da escola. Torna-se fundamental para a elaboração e o desenvolvimento que a equipe constituinte da escola conheça seus alunos, de forma a identificar aspectos como: • Suas necessidades; • Situações socioeconômicas; • Suas expectativas; Andragogia e Educação Profissional 35 • Seu dia a dia; • O que fazem fora da escola. Para que essas informações sejam obtidas, é necessário realizar a coleta de dados e organizá-los. No que se refere às discussões concretas sobre a construção de um projeto, torna-se fundamental que a equipe escolar tenha atenção sobre alguns pontos (Figura 15): Figura 15: Pontos de atenção sobre o projeto educativo Valorização do processo de planejamento, onde a tomada de decisões parte da consistência das reflexões realizadas e que há participação. Um tempo deve ser destinado de forma adequada para que o planejamento seja realizado e avaliado. Os trabalhos referentes ao planejamento devem ser organizados objetivando a garantia do tempo, como também de espaço, para que o grupo formado por professores faça suas reflexões. Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Visões norteadoras para a construção curricular na andragogia Para fundamentar uma proposta curricular direcionada à educação de jovens e adultos, busca-se a identificação de concepções, desse modo ganhando destaque o educador Paulo Freire e sua contribuição. O educador Paulo Freire tem como proposta o foco no aluno e no professor e a relação entre eles, como também entre o aluno e o conhecimento, que enfatiza o quanto é importante respeitar a experiência e a identidade cultural que fazem parte dos alunos e da construção dos saberes que foram obtidos devido a seus afazeres. De acordo com o MEC (2002): Andragogia e Educação Profissional 36 [...] Freire coloca o aluno como sujeito, e não como objetivo do processo educativo, afirmando sua capacidade de organizar a própria aprendizagem em situações didáticas planejadas pelo professor, num processo interativo, partindo da realidade desse aluno [...]. (BRASIL, 2002, p. 97) A partir dessa pressuposição é realizada uma crítica sobre os procedimentos utilizados na pedagogia, pois o professor está atuando como um transmissor de conhecimentos, considerando-se que apenas ele detém todo o conhecimento, enquanto o aluno apenas escuta como se não soubesse de nada. Em contrapartida, surge uma proposta para que entre o aluno e o professor prevaleça um novo tipo de relação, onde a verticalidade é deixada de lado e a prevalência da visão sobre o mundo que é imposta pelo professor é substituída por uma relação horizontal, possibilitando diálogos entre ambas as visões, tanto do professor quanto as dos alunos, remetendo igualdade, e dessa forma o conhecimento é efetivado. O educador Paulo Freire propunha que apenas o recebimento de conhecimentos não caracterizava um processo educativo dirigido aos alunos, onde são oferecidos conhecimentos ditos como prontos e acabados. Para ele, o estímulo deve refletir sobre os conhecimentos que estão circulando e se transformando constantemente; a produção cultural está presente tanto em professores quanto nos alunos, nesse caso, todos têm a possibilidade de ensinar e aprender, de forma que o processo de aprendizagem é permanente nos sujeitos que fazem parte da educação. Quando os alunos da escola de jovens e adultos chegam no ambiente escolar, eles já trazem vários conhecimentos que apesar de não serem os que a escola sistematizou, são conhecimentos adquiridos durante a sua vida, os quais devem ser respeitados e utilizados como o ponto o qual favorecerá o aluno a adquirir outros conhecimentos. O professor tem como desafio considerar e utilizar estratégias para associar o conhecimento a ser repassado junto ao conhecimento já existente do aluno. Essas estratégias devem ser explícitas e passíveis à comparação com outros algoritmos que foram construídos por antigas Andragogia e Educação Profissional 37 civilizações. A exemplo, temos as técnicas de operação, que são baseadas no sistema que engloba a numeração decimal, levando assim ao conhecimento do aluno que a construção do conhecimento oferecido pela escola está diretamente relacionada com os conhecimentos que já foram construídos pelo cotidiano de sua vida, vendo a grande utilidade que ambos têm ao serem ampliados e relacionados. As obras de Paulo Freire têm um aspecto que apresenta grande destaque, que se refere à educação e sua afirmação, apresentando caráter que proporcione para a realidade: Figura 16: Pontos para a afirmação da educação Libertação EmancipaçãoProblematização Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Esses pontos propostos por Freire para que uma educação possa ser afirmada atendendo os objetivos de aprendizado propostos sobre o aluno, se contrapõe a uma educação submissa. Com isso, tanto a opção quanto a ação educacional não apresentam neutralidade, estando sempre favorecendo um posicionamento político, repercutindo na relação entre: • Professor; • Aluno; • Conhecimento. Por consequência, reflete no modelo em que se pretende formar o ser. Ao acatar a opção pela educação que tem papel transformador, o professor deve utilizar uma educação que forneça problematização em sua essencialidade, tendo como pressuposição a reflexão e a criatividade no que se refere à realidade, assumindo desse modo um compromisso sobre sua mudança. Andragogia e Educação Profissional 38 SAIBA MAIS: Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos assistir ao vídeo: “Pedagogia libertadora de Paulo Freire”. Disponível em: https://bit.ly/2QDMV3t. Acesso em: 02 mar. 2021. Portanto, uma educação libertadora proposta por Freire refere-se ao ato de saber, o ato de conhecimento e um método de transformação da realidade que se busca conhecer, migrando de uma consciência envolta pela ingenuidade para uma consciência repleta de criticidade, e para que isso ocorra é necessário que o aluno vá além de escutar e obedecer, para que ele não se torne incapaz e ignorante. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre os pressupostos de um projeto educativo necessário para que um currículo direcionado à educação de jovens e adultos seja construído, como também observamos sobre pontos norteadores para essa construção através da educação libertadora proposta por Freire, pontos esses que abrangem a relação que envolve o professor, o aluno e suas relações sobre o conhecimento, indicando que esse conhecimento deve abranger tanto o fornecido pela escola no papel do docente como o conhecimento já existente no aluno que foi adquirido no decorrer de sua vida. Andragogia e Educação Profissional 39 Construção de um Currículo Andragógico INTRODUÇÃO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como pode ser construído um currículo andragógico. Isso será fundamental para você exercer sua profissão, uma vez que a educação de adultos de extrema importância. Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Currículo andragógico O currículo EJA, ao ser discutido, é considerado relevante sobre a percepção de que os valores implícitos das práticas utilizadas na escola pelos professores assumem uma postura em que define e impera sobre os conteúdos a serem escolhidos (SANTOS; PEREIRA, 2017, p. 6871). Para uma possível organização curricular direcionada, a educação de jovens e adultos consiste na identificação de suas capacidades, de competências ou de habilidades que intencionem construir e desenvolver nos jovens e adultos, as quais são tomadas como indicação por essa proposta pedagógica. Ela deve ser guiada, como também selecionar e organizar os conteúdos em vários campos de conhecimento, como os tempos e espaços serão destinados, entre outros. No que se refere à definição dos objetivos gerais para o Ensino fundamental, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) designam capacidades ligadas aos seguintes aspectos: Figura 17: Aspectos que designam capacidades Cognitivos Afetivos Físicos Éticos Estéticos Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Andragogia e Educação Profissional 40 Esses aspectos abrangem tanto sua inserção como sua atuação na sociedade, expressando assim uma formação que é básica, como também necessária para que a cidadania seja exercida, por isso, as abordagens didáticas e os conteúdos a serem selecionados devem ser norteados. Deve-se levar em conta que na atualidade há uma exigência sobre suas capacidades, onde as várias dimensões que fazem parte da vida devem se relacionar, como: família, trabalho, participação social e política, lazer e cultura. As mudanças que ocorrem na atualidade exigem a melhor compreensão do mundo, de forma que se tenha criticidade suficiente para poder atuar, ter responsabilidade e exercer transformação. É dentro desse contexto que a definição das capacidades deve ser desenvolvida na educação fundamental. As questões da sociedade, da cultura e economia devem ser tematizadas de forma profunda, não apenas focando no meio em que se insere os cursos de educação de jovens e adultos, o país e o mundo devem ter relações estabelecidas com uma amplitude de dimensões, pois de acordo com o MEC (2002) referentes a esse tipo de educação relata que: [...] os alunos do EJA conhecem bem a discriminação social de todas as ordens. As vivências de determinadas experiências os levam a esconder sua origem e a renegar ou desvalorizar aspectos de sua cultura, por considerá-los menores ou sem importância [...]. (BRASIL, 2002, p. 116) Baseando-se nisso, deve haver empenho do curso no intuito de construção e reconstrução por parte do aluno sobre: os saberes populares, as suas festas, os seus costumes e suas danças. De forma a valorizá-los e perceber o quão o patrimônio que envolve a sociedade e cultura do país são ricos. Outras questões que vêm ganhando destaque e sendo divulgadas através dos meios de comunicação está relacionada ao meio ambiente. Porém, mesmo apresentando sensibilização para essa problemática, os alunos do EJA não se veem como agentes que podem transformar Andragogia e Educação Profissional 41 a sociedade ou ter a percepção que por meio de suas ações, tanto de forma individual ou em coletividade, possivelmente possam realizar as mudanças que são necessárias. E é no decorrer do curso que essa capacidade deve passar por uma construção. Outro requisito considerado para que os alunos do EJA sejam inseridos socialmente é o uso de recursos tecnológicos de informação e comunicação, e essa capacidade só será desenvolvida se for oferecida pela escola oportunidade de acesso para os alunos. Conteúdos do EJA e seu papel curricular De acordo com uma parcela de educadores, a definição de aprendizado e estudo não se baseiam de uma ou outra área de conhecimentos, de um ou outro conteúdo, e sim em temas considerados relevantes para o aprendizado. Outra parcela pressupõe a necessidade de realizar um trabalho partindo-se do conhecimento já existente nos alunos, nos saberes que foram construídos no decorrer de sua vida, juntamente com acessibilidade a novos conhecimentos, tendo um cenário inclusivo e sem que ocorram episódios de discriminação. A proposta referente ao currículo direcionado ao EJA não pode apenas ser apenas a convivência de forma simplificada e o estudo de disciplinas separadas, mas também a interdisciplinaridade. Nela deve ser permitido o aprofundamento dos conhecimentos das disciplinas como uma tarefa exercitada permanentemente e junto realizar indagações se esses conhecimentos são relevantes e apresentam pertinência para os seguintes pontos: compreensão, planejamento, execução, avaliação de situações cotidianas e amplo sentido. No entanto, precisa-se debater e definir o grau em que se abrangerá e que serão aprofundados os conhecimentos ligados às disciplinas, visto a complexidade dessa tarefa. É importante destacar que a referência de uma proposta curricular é que as capacidades sejam desenvolvidas, e que sejam demandadas estratégias direcionadas à didática, que resultam em privilégios para que situações-problema contextualizadas sejam Andragogia e Educação Profissional 42 resolvidas, como também para realizar e formular projetos, em que a interdisciplinaridade se torne indispensável. Para finalizar, deve haver flexibilidade, diversificaçãoe participação, baseando-se nos interesses e nas necessidades dos indivíduos, de forma que as realidades sociais e culturais sejam levadas em consideração, como também a sua realidade, tanto científica quanto tecnológica, e a partir disso o saber terá reconhecimento. Conteúdos a serem selecionados A seleção de conteúdos passa por um processo, no qual é apresentado um desafio, a identificação de duas características entre os variados campos em diferentes áreas de conhecimento, são elas: • Quais conteúdos apresentam relevância social? • Quais contribuem para que o intelecto do aluno se desenvolva? Devem ser selecionados conteúdos que provoquem favorecimento, em que a coordenação do raciocínio seja desenvolvida, assim como sua intuição, capacidade de analisar criticamente e no que se refere à interpretação de fatos e fenômenos devem ser constituídos esquemas com logicidade de referência (BRASIL, 2002, p. 120). A seleção de conteúdos que irão ser trabalhados pode ser realizada de forma mais ampla. Porém, para que novos conhecimentos sejam produzidos e assimilados, faz-se necessário que sua identificação contemple formas e saberes culturais. Figura 18: Os conteúdos devem englobar Explicações Formas de raciocínio Linguagens Valores Sentimentos Interesses Condutas Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Andragogia e Educação Profissional 43 Os conteúdos se dimensionam nesta proposta, não somente em conceitos, mas também atitudes e procedimentos que se apresentam de duas formas baseando-se em cada área, sendo elas: blocos de conteúdo e eixos temáticos. Nessas formas, as especificidades dos conteúdos são distinguidas, tendo como resultado o objetivo do trabalho apresentado de maneira mais clara, tornando-se vantajoso tanto para o professor como para o aluno, sendo de fundamental importância conhecer o que se ensina e o que se aprende. Cabe ressaltar sobre a existência de diversidade no país, sugerindo que nas salas de aula os conteúdos a serem trabalhados devem ser alterados e adaptados, direcionando a localidade em que os alunos estão inseridos, tendo como base suas características econômicas, culturais e sociais. Com isso, as diferentes propostas curriculares servem como uma referência abrangente, para serem analisadas por professores e técnicos e, a partir daí, decidirem e fazerem reflexão, de forma a adequar os conteúdos às necessidades educacionais de aprendizado que os alunos apresentam. Os conteúdos e suas dimensões Para realizar a escolha dos conteúdos que serão trabalhados, é necessário ter consideração sobre uma visão mais ampla, levando em conta além dos conteúdos conceituais, os baseados em procedimentos e atitudes. Figura 19: Tipos de conteúdos Conteúdos de natureza conceitual Conteúdos de natureza atitudinal Conteúdos de natureza procedimental Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Andragogia e Educação Profissional 44 Conteúdos conceituais Eles englobam os conceitos e suas abordagens, os princípios e os fatos, neles a intelectualidade é construída de forma ativa, com o intuito de operações direcionadas a ideias, símbolos e signos, que é a realidade representadas por eles. Essa forma de aprendizagem ocorre por sucessividade de aproximação. A sucessividade de aproximação para que o aluno tenha melhor aprendizado refere-se ao fato de que o aluno pode aprender sobre qualquer tema referente a conhecimentos, fazendo-se necessária a aquisição de informações pelo aluno. Situações devem ser vivenciadas a fim de identificar os conceitos que estão dispostos, em que no decorrer de sua experiência possam ser construídas generalizações parcialmente, que com o tempo irão se abranger cada vez mais. Dessa forma, eles serão levados a compreender princípios em que a abstração apareça em um nível mais elevado (BRASIL, 2002, p. 121). Com isso, a depender da diversificação inserida nas atividades a serem realizadas, os alunos irão buscar: • Fatos e informações; • Regularidades; • Generalizações e produtos serão realizados. Dessa forma, mesmo sendo analisados parcialmente, pode-se haver verificação sobre o aprendizado do conceito, se ele está demonstrando satisfatoriedade. Conteúdos procedimentais Esse tipo de conteúdo tem expressividade sobre o saber fazer, envolvendo a tomada de decisões e realização de ações em série, sem aleatoriedade e de forma ordenada, no intuito de alcançar uma meta estabelecida. Esse tipo de conteúdo sempre é incluso nos projetos referentes ao ensino, onde geralmente nas salas de aula existem Andragogia e Educação Profissional 45 proposições como: a construção de uma maquete, o desenvolvimento de um resumo, a realização de uma pesquisa, entre outros. Os conteúdos procedimentais precisam ser levados em consideração, visto que, nesses conhecimentos que estão sendo excluídos de forma tradicional, são novamente incluídos, como: comparação de dados, argumentação, organização, revisão de textos, verificação, documentação, entre outros. Também abrangendo as formas relacionadas à produção de conhecimento, o modo de pensar, como também o de agir. Conteúdos atitudinais Nos conteúdos atitudinais são incluídas as atitudes, os valores e as normas, que por sua vez intervêm no conhecimento escolar de forma geral. Nesse sentido, a escola pode ser vista como um contexto para socialização, onde atitudes referentes ao conhecimento, ao relacionamento com os professores e colegas são geradas, além da conectividade dessa relação com as tarefas e disciplinas. Para que ocorra o aprendizado e o ensinamento de conteúdos de natureza atitudinal, exige-se uma posição clara sobre o que e a forma como esse conteúdo vai ser ensinado no meio escolar. A ocorrência desse posicionamento só é realizada ao se estabelecer o que é intencionado no projeto relacionado à educação, de forma que haja a seleção e adequação de conteúdos que são considerados básicos, recorrentes e necessários. Do ponto de vista pedagógico, a aprendizagem relacionada aos conteúdos de natureza atitudinal tem pouca exploração, com isso apresenta-se a necessidade de estar atentos ao dimensionar a cultura que está intrinsecamente ligada às práticas sociais, essas dimensões nunca devem passar por desqualificações ou serem descartadas, pois elas servem como ponto inicial para se debater e refletir sobre a educação no que envolve os padrões que são relevantes para identificação da coletividade. Assim, de acordo com o MEC (2002): Andragogia e Educação Profissional 46 [...] procedimentos e atitudes como conteúdo do mesmo nível que os conceitos não implica aumento na quantidade de conteúdos a serem trabalhados, porque eles já estão presentes no dia a dia da sala de aula: o que acontece é que, na maioria das vezes, não estão explicitados nem são tratados conscientemente. As diferentes naturezas dos conteúdos escolares devem ser contempladas de maneira integrada no processo de ensino e aprendizagem, e não em atividades específicas. (BRASIL, 2002, p. 125) Para que esses conteúdos tenham um tratamento que seja apropriado, é preciso que se faça uma conscientização sobre o quanto eles são importantes para o meio educacional no EJA. Além disso, assumindo o objetivo de amplificação como também harmonia e equilíbrio no desenvolvimento dos alunos, com o intuito de que ele seja vinculado à escola no que tange a sua função na sociedade. Conteúdos curriculares e sua organização Partindo-se de uma concepção baseada na linearidade (Figura 20), os conteúdos curriculares têm sua organização exposta ao modo que os conhecimentos são desencadeados, podendo ser expostos da seguinte forma: Figura 20: Conhecimentos desencadeados de forma linear Fonte: Elabora pela autora, 2021. De acordo com essa visão, os conteúdos exercem a função de base para o que virá em sequência, mesmo que eles nem sempre estejam relacionados, comisso os alunos têm a sensação de que cada conteúdo não apresenta relação com os passados anteriormente. Já em contrapartida ao modelo baseado na linearidade, alguns autores sugerem um modelo na forma de rede. Nessa forma, os pontos compõem de maneira plural o desenho do currículo, sendo formados por caminhos e ramificações ligados entre si. Andragogia e Educação Profissional 47 Figura 21: Proposta de conteúdos ramificados Fonte: Elaborada pela autora, 2021. Ao selecionar conteúdos, puxam-se os fios iniciais. Com isso, são iniciados os percursos que deverão ser seguidos através de suas significações, em que a equipe escolar em sua coletividade realiza essa tarefa partindo-se das escolhas e de um esboço da rede que dará início. Ao observar as propostas que são desenhadas para o bimestre inicial, por exemplo, são visualizadas as conexões pelos professores e então passam por estabelecimento, como também pode-se acrescentar ou eliminar temas. Portanto, é evidente que um desenho curricular que sirva como base pode ser imaginado, porém ele deve ter flexibilidade e ser maleável, onde as salas de aula individualmente possam ter de formas diferenciadas concretizações sobre suas especialidades. SAIBA MAIS: Você quer se aprofundar mais nesse tema? Recomendamos a leitura do livro: Orientações curriculares para a educação de jovens, adultos e idosos (EJAI) (EDUCAÇÃO, 2018). Disponível em: https://bit.ly/3bWT41s. Acesso em: 03 ago. 2020. Andragogia e Educação Profissional 48 RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido sobre a construção de um currículo andragógico e a forma com que se deve trabalhar o conhecimento do alunado que fazem parte da EJA, pudemos observar também como podem ser selecionados os conteúdos a serem trabalhados pela equipe escolar em sala de aula, como também o papel que esses conteúdos ocupam. Observamos como devem ser selecionados os conteúdos, sua natureza e as dimensões que eles ocupam no curso, por fim observamos as suas organizações. Andragogia e Educação Profissional 49 REFERÊNCIAS BARROS, R. Revisitando Knowles e Freire: Andragogia versus pedagogia, o diálogo como essência da mediação sociopedagógica. Educação e Pesquisa, 44. 2018. Disponível em: https://bit.ly/3eafhfB. Acesso em: 02 mar.2021. BRASIL. Ministério da Educação. Educação Profissional e Tecnológica (EPT). 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