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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Aline Alves dos Santos Giro de contas a pagar (GCP) e prazo médio de pagamento (PMP) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir o conceito e a utilização do giro de contas a pagar (GCP). � Descrever o cálculo do prazo médio de pagamento (PMP). � Aplicar o prazo médio de pagamento (PMP). Introdução Neste capítulo, você vai adquirir conhecimentos sobre o giro de contas a pagar (GCP). Aqui, será evidenciado o conceito desse relevante indicador, como também será apresentado o cálculo do prazo médio de pagamento (PMP). Serão demonstradas situações práticas para que se consiga en- tender qual o prazo ideal para que a empresa seja beneficiada, sem que ocasione efeitos negativos na sua gestão financeira. Giro de contas a pagar Conforme Blatt (2001), o índice de rotação ou giro de contas a pagar (GCP) busca mensurar a velocidade com que a empresa paga seus fornecedores. Esse indicador depende muito do prazo estimado do giro das contas a receber (GCR), que visa medir a rapidez com que a empresa recebe as vendas dos seus clientes. Quando o índice GCP de uma empresa decresce de um período para o outro, pode significar que a mesma está passando por dificuldades financeiras. Já se o PMP aumentar de um período para o outro, pode significar vantagens ou melhoria na situação financeira da empresa, pois se entende que a empresa possui prazos mais longos para quitar suas obrigações, prazos esses que devem ser superiores aos de recebimento. Quando o GCP está em desequilíbrio, ou seja, em atraso, a empresa acaba sendo forçada a realizar empréstimos de curto prazo que terão taxas de juros altas. O descontrole do GCP também poderá fazer com que a empresa deixe de ter credibilidade diante de seus fornecedores, o que dificultará no fornecimento dos produtos aos clientes. O crédito concedido pelos fornecedores é voluntário e, em princípio, re- novável. Geralmente não possui encargos, sendo assim, quanto maior for o prazo, melhor será para a empresa. O PMP evidencia a qualidade das contas a pagar da empresa. A partir do PMP, a empresa obtém a informação se está pagando suas dívidas de forma rápida ou lenta. Através de uma gestão finan- ceira equilibrada, a empresa conseguirá saldar suas contas dentro do prazo definido (BLATT, 2001). Se a empresa tem obrigações com fornecedores cujo vencimento é muito antes do recebimento de seus clientes, ela está comprometendo a atividade empresarial, já que suas operações passam a ser financiadas até o momento do recebimento das vendas realizadas. De acordo com Blatt (2001), a rotação das contas a pagar, como também é denominado o GCP, aparece com relação entre o montante das compras líquidas pelo valor médio das contas a pagar aos fornecedores que podem ser analisados através das demonstrações contábeis. Em se tratando das empresas comerciais, o primeiro elemento pode ser adquirido através da decomposição do custo das vendas, que se refere à dife- rença de estoques mais as compras líquidas. Quanto menor for o GCP, melhor será para a empresa. O GCP representa o PMP das compras, sendo considerado um relevante indicador utilizado pela empresa para um melhor entendimento sobre a quan- tidade que a empresa leva para realizar seus pagamentos. As informações que devem ser consideradas para a aplicação da fórmula, são encontradas através das demonstrações contábeis apresentadas pela em- presa, assim, o valor relativo às compras pode ser analisado na demonstração do resultado do exercício (DRE) e nas contas a pagar no balanço patrimonial. Fórmula: Giro de contas a pagar (GCP) e prazo médio de pagamento (PMP)2 GCP = compras / contas a pagar (média) De acordo com Marques, Carneiro Júnior e Kühl (2015), é necessário que a empresa gerencie seus prazos, pois os mesmos refletirão diretamente no GCP, sendo que o prazo médio de recebimento (PMR) deve ser sempre menor que o PMP para que a empresa já tenha recebido os valores das suas vendas e possa quitar os compromissos com os fornecedores. Buscando minimizar a possibilidade de ter um PMR maior que o PMP, a empresa poderá executar algumas ações: � ajustar maiores prazos com seus fornecedores; � conceder descontos que motivem seus clientes a realizar os pagamentos de forma antecipada para a empresa; � administrar o vencimento dos seus clientes, evitando assim atrasos nos recebimentos. O ciclo financeiro representa o período transcorrido entre o pagamento da compra da mercadoria realizada pela empresa e a conversão da venda efetuada, avaliando empresas que possuem atividade comercial. Fórmula utilizada para o PMP De acordo com Bazzi (2016), o cálculo do PMP é uma importante ferramenta para a boa gestão financeira empresarial. Calculando o PMP Geralmente os prazos de pagamento que a empresa possui com os fornecedores são diversos, no entanto, o melhor para a empresa é possuir um prazo mais extenso para a realização dos pagamentos, pois desse modo é possível que a empresa receba primeiramente os valores de seus clientes para poder saldar suas dívidas com os fornecedores. Fórmula (para período anual): 3Giro de contas a pagar (GCP) e prazo médio de pagamento (PMP) PMP = (fornecedores [duplicatas a pagar] / compras [média das compras]) × 360 Para cálculos mensais, ao invés de multiplicar por 360 dias, basta multi- plicar por 30 dias. Para adquirir o resultado do PMP a partir da fórmula apresentada, é neces- sário obter as informações corretas e aplicá-las na fórmula. O valor da conta dos fornecedores pode ser adquirido através das demonstrações contábeis, no balanço patrimonial, de acordo com o período que está sendo analisado. Já o valor relativo às compras, necessita do uso de outra fórmula, ou seja, a do custo das mercadorias vendidas (CMV). A conta de estoques também pode ser analisada através do balanço patrimonial, no entanto, para usar seus saldos no cálculo do CMV é necessário considerar os saldos inicial e final do mesmo período. Cálculo das compras CMV = estoque inicial + compras – estoque final Ou CMV = EI + C – EF Assim, é necessário isolar o item “compras” para encontrar o valor espe- rado, conforme segue: Compras = CMV – EI + EF O cálculo do PMP deve ser aplicado de preferência mensalmente, a fim de controlar o tempo médio que a empresa leva para saldar suas obrigações diante dos seus fornecedores. Exemplo 1 — A empresa DDA Ltda. necessita calcular o PMP e apresenta os seguintes dados: CMV = R$ 4.560 Estoque inicial = R$ 490 Giro de contas a pagar (GCP) e prazo médio de pagamento (PMP)4 Como aplicar o PMP? De acordo com Marques, Carneiro Júnior e Kühl (2015), o PMP corresponde ao intervalo de tempo entre a compra da matéria-prima ou mercadoria realizada pela empresa e o pagamento da mesma ao fornecedor. Existe um prolongamento do PMP aos fornecedores, os quais acabam financiando as atividades da empresa, ou seja, a empresa estende os prazos de pagamento com fornecedores e utiliza os recursos que possui para financiar as operações, buscando assim obter mais recursos financeiros para saldar seus fornecedores. Se ocorrer uma rotação de quatro vezes ao ano das contas a pagar, a empresa renova essa obrigação, em média, a cada 90 dias. O crédito comercial, também conhecido como fonte operacional ou ainda por passivo circulante operacional, é utilizado como um tipo de fonte de recur- sos de curto prazo, que consiste no resultado da quantidade de atividades da empresa, ou seja, no volume de compras realizadas pela empresa e que estão inter-relacionadas com o prazo médio tratado junto aos seus fornecedores operacionais. Estoque final = R$ 588 Fornecedores a pagar = R$ 420 Primeiramente, calculam-se as compras: Compras = 4.560 – 490 + 588 Compras = 4.658 O valor encontrado para compras deve ser usado na fórmula do PMP. PMP = (fornecedores a pagar / compras) × 360 PMP = (420 / 4.658) × 360 = 32 dias 5Giro de contas apagar (GCP) e prazo médio de pagamento (PMP) Exemplo 2 — A empresa Publique.com realizou compras para o estoque do fornecedor SS Ltda. com pagamento previsto para 35 dias. O período de 35 dias é denominado de PMP ou prazo médio de contas a pagar. É preciso considerar que a empresa tem um PMR das vendas realizadas de 35 dias. Considere que a empresa apresenta os seguintes dados: Fornecedores a pagar = R$ 987 Compras = R$ 9.870 PMP = (fornecedores a pagar / compras) × 360 PMP = (987 / 9.870) × 360 = 36 dias Analisando a situação da empresa Publique.com, seria possível afirmar que o prazo de pagamento das compras seria o ideal para a empresa? Confrontando os prazos que a empresa Publique.com possui, o PMP é de 36 dias, no entanto, a empresa possui previsão de recebimento de clientes para 35 dias, ou seja, os prazos são praticamente iguais, tendo diferença de apenas um dia. Com base no exposto, o PMP das compras não seria o ideal para a empresa, mesmo que se tenha previsão de recebimento com prazo antecipado, conforme o exemplo, pois a diferença dos prazos é mínima e pode refletir em atrasos nas obrigações que a empresa possui. O prazo para o recebimento é de 35 dias e o de pagamento é de 36 dias, porém, a empresa não tem como prever se o cliente pagará em dia ou não e isso ocasionará um desequilíbrio financeiro que necessitará buscar recursos de outras formas para não perder credibilidade com seus fornecedores. Com base nos prazos médios apresentados no Quadro 1, percebe-se que a empresa precisa de 122 a 131 dias para praticar o processo de compra, os materiais estocados e a vendas. Considerando esse período, a empresa possui um período de 16 a 24 dias decorrentes das compras realizadas a prazo junto aos seus fornecedores, o que evidencia a necessidade de capital de giro referente a 105/106 dias de operação empresarial (PADOVEZE; BENEDICTO, 2010). Giro de contas a pagar (GCP) e prazo médio de pagamento (PMP)6 Fonte: Adaptado de Padoveze e Benedicto (2010, p. 174). Prazos médios Ano X1 (em dias) Ano X2 (em dias) Estoques de materiais 65,1 65 Estoques de produtos em processo 15,3 20 Estoques de produtos acabados 17 16 Subtotal — estocagem 97,5 101 Prazo médio de recebimento 24,5 30,2 = ciclo econômico 122 131,2 (–) PMP (16,6) (24,7) = ciclo financeiro 105,4 106,5 Quadro 1. PMP Quando uma empresa adquire matéria-prima de um fornecedor e negocia o pagamento em duas parcelas, significa que o seu PMP poderá ser de 50% à vista e 50% para um período de 30 dias, por exemplo, ou conforme acordado com o fornecedor. Exemplo 3 — A empresa Duplicatas Ltda. é uma instituição financeira que atua cedendo empréstimos para pessoa física e pessoa jurídica. Assim, como as demais empresas, ela necessita dos recebimentos das suas vendas para conseguir cumprir com suas obrigações. Com relação aos dados apresentados pela empresa Duplicatas Ltda., será aplicado o PMP e o PMR, devido à relação existente entre os dois indicadores. 7Giro de contas a pagar (GCP) e prazo médio de pagamento (PMP) Período 2015 Compras: R$ 680.890,90 Fornecedores: R$ 240.304,80 2015 Venda bruta: R$ 4.295.000 Clientes: R$ 720.534,30 2016 Compras: R$ 790.500,10 Fornecedores: R$ 228.721,60 2016 Venda bruta: R$ 4.650.240 Clientes: R$ 677.858,00 PMP = (fornecedores a pagar / compras) × 360 PMP (2015) = (240.304,80 / 680.890,90) × 360 = 127,05 dias PMP (2016) = (228.721,60 / 790.500,10) × 360 = 104,16 dias PMR = (clientes / Venda bruta) × 360 PMR (2015) = (720.534,30 / 4.295.000) × 360 = 60,39 dias PMR (2016) = (677.858,00 / 4.650.240) × 360 = 52,48 dias Interpretação: a partir do cálculo do índice PMP para os períodos de 2015 e 2016, ficou evidente que a empresa foi financiada, em média, 127 dias no período de 2015 e 104 dias no período de 2016. Através do resultado obtido, é correto afirmar que a empresa possui um bom prazo para o pagamento das obrigações com fornecedores, pois dentro desse período, a empresa receberá os valores oriundos das suas vendas, conforme foi apresentado para o PMR. Considerando os dois períodos, o melhor apresentado foi o de 2015, pois esse foi o maior prazo. O PMR para os mesmos períodos (2015 e 2016) demonstrou que a empresa recebeu o valor relativo às suas vendas antes do vencimento das suas obrigações. Os resultados para o PMR foram de 60 dias para 2015 e 52 dias para 2016, apresentando um melhor prazo de recebimento em 2016 por ser esse o menor prazo. BAZZI, S. Análise das demonstrações contábeis. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2016. BLATT, A. Análise de balanços: estruturação e avaliação das demonstrações financeiras e contábeis. São Paulo: Makrons Books, 2001. MARQUES, J. A. V. da C.; CARNEIRO JÚNIOR, J. B. A.; KÜHL, C. A. Análise financeira das empresas. 2. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2015. PADOVEZE, C. L; BENEDICTO, G. C. de. Análise das demonstrações financeiras. 3. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2010. Giro de contas a pagar (GCP) e prazo médio de pagamento (PMP)8 Leituras recomendadas ASSAF NETO, A; SILVA, C. A. T. Administração do capital de giro. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2011. BRUNI, A. L. A análise contábil e financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. v. 4. GARRISON, R. H; NOREEN, E. W; BREWER, P. C. Contabilidade gerencial. 14. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. MARION, J. C. Análise das demonstrações contábeis: contabilidade empresarial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. ROSS, S. A. et al. Administração financeira: versão brasileira de corporate finance. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. . Fundamentos de administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. SZABO, V. Gestão de estoques. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. 9Giro de contas a pagar (GCP) e prazo médio de pagamento (PMP) Conteúdo:
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