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Doenças transmitidas por protozoários II APRESENTAÇÃO Há diversas doenças causadas por protozoários. Nesta Unidade de Aprendizagem, serão abordadas três: giardíase, amebíase e tricomoníase. As formas de transmissão, as possibilidades de tratamento e prevenção dessas doenças serão as principais questões que você encontrará a seguir. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Caracterizar as doenças causadas por protozoários, especificamente, giardíase, amebíase e tricomoníase. • Identificar as principais manifestações destas doenças no ser humano.• Sintetizar formas de transmissão, tratamento e prevenção a estas patologias.• DESAFIO A giardíase e a amebíase são doenças causadas por protozoários e que afetam o aparelho digestório, mais especificamente os intestinos. Constituem-se em um problema de saúde pública no Brasil e em países com baixo IDH (índice de desenvolvimento humano). A parasitose afeta principalmente crianças, tendo relação direta com com as condições socioambientais. A contaminação ocorre pelo contato direto da pele com solo e dejetos, via oral-fecal, através da ingesta de água e alimentos contaminados, e práticas sexuais (anal-oral). Seu desafio será trabalhar com orientações para prevenção! Você deverá pesquisar e elaborar um material, em uma página, contendo orientações acerca de Tradução Cláudio M. Rocha-de-Souza Pesquisador visitante do Instituto de Tecnologia de Imunobiológicos Bio-Manguinhos — FIOCRUZ. Doutor em Microbiologia Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Revisão técnica desta edição José Procópio Moreno Senna Pesquisador da vice-diretoria de desenvolvimento tecnológico do Instituto de Tecnologia de Imunobiológicos Bio-Manguinhos — FIOCRUZ. Professor da disciplina de Bacteriologia do Mestrado Profissional em Tecnologia de Imunobiológicos Bio-Manguinhos — FIOCRUZ. Doutor em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). M626 Microbiologia médica de Jawetz, Melnick e Adelberg [recurso eletrônico] / Geo. F. Brooks ... [et al.] ; [tradução: Cláudio M. Rocha-de-Souza ; revisão técnica: José Procópio Moreno Senna]. – 26. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2014. Editado também como livro impresso em 2014. ISBN 978-85-8055-335-2 1. Microbiologia. I. Brooks, Geo. F. CDU 579 Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB10/2052 CAPÍTULO 46 Parasitologia médica 719 forma penetrante; um sistema digestório completo, que está bem adaptado para a ingestão de conteúdo intestinal, células, sangue ou produtos de degradação celular do hospedeiro; e um sistema reprodutivo sexuado altamente desenvolvido. Apre- sentam uma dura cutícula (muda), durante o desenvolvimen- to de larvas para adultos, e os ovos e estágios larvais são bem adaptados para a sobrevivência no ambiente externo. A maio- ria das infecções humanas é adquirida pela ingestão de ovos ou do estágio larval, mas as infecções por nematódeos também podem ser adquiridas a partir de insetos vetores e penetração da pele. (2) Os platelmintos são vermes dorsoventralmente achatados em seção transversal e são hermafroditas, com al- gumas exceções. Todas as espécies de importância clínica per- tencem a duas classes: Trematoda (vermes) e Cestoda (vermes em forma de fita). Os trematódeos são tipicamente achatados e em forma de folha, com duas ventosas musculares. Têm um sistema diges- tório bifurcado e possuem músculos circulares e longitudinais; falta-lhes a cutícula característica dos nematódeos, mas pos- suem um epitélio sincicial. Trematódeos são hermafroditas, com exceção dos esquistossomas (vermes do sangue), que têm vermes dos sexos masculino e feminino que existem acoplados dentro dos pequenos vasos sanguíneos de seus hospedeiros. O ciclo de vida dos trematódeos humanos é geralmente ini- ciado quando os ovos são passados através da água doce, por meio de fezes ou urina. Os ovos incubam e desenvolvem-se, e liberam um miracídio ciliado, que infecta um caramujo hos- pedeiro que em geral é altamente específico para esta espécie de verme. Dentro do caramujo, o miracídio desenvolve-se em um esporocisto, que contém células germinais que, em última análise, desenvolvem-se na fase final das larvas — as cercárias. Estas nadam para fora do caracol e encistam-se como meta- cercárias em um segundo hospedeiro intermediário ou na ve- getação, dependendo da espécie. A maioria das infecções por vermes é adquirida pela ingestão de metacercárias. As cercárias de esquistossomos, no entanto, penetram diretamente na pele de seus hospedeiros e não se encistam como as metacercárias. Os cestódeos, ou tênias, são planos e possuem uma cadeia em forma de fita, de segmentos (proglótides) dos sexos mascu- lino e feminino, contendo estruturas reprodutivas. Os vermes adultos podem atingir 10 m de comprimento e têm centenas de segmentos, cada qual liberando milhares de ovos. Na ex- tremidade anterior de uma tênia adulta situa-se o escólex, que geralmente é elaborado com ventosas musculosas, ganchos ou estruturas que ajudam na sua capacidade de aderir à parede intestinal. Os vermes adultos não possuem boca nem intestino e absorvem seus nutrientes diretamente do hospedeiro através de seu tegumento. O ciclo de vida dos cestódeos, assim como o dos trema- tódeos, é geralmente indireto (com um ou mais hospedeiros intermediários e uma série final). Os ovos são eliminados com as fezes e ingeridos por um hospedeiro intermediário (inver- tebrado, como uma pulga, ou vertebrados, como um mamífe- ro); as larvas desenvolvem-se em formas determinadas que são peculiares a cada espécie dentro do hospedeiro intermediário (p. ex., cisticercose, no caso da Taenia solium, ou cisto hidáti- co com Echinococcus granulosus). As larvas dos cestódeos ge- ralmente são ingeridas, e a larva se desenvolve em um verme adulto no intestino do hospedeiro definitivo. INFECÇÕES POR PROTOZOÁRIOS INTESTINAIS Os principais conceitos relacionados com protozoários parasi- tos e os protozoários incluídos neste capítulo estão listados nos Quadros 46.2 e 46.3. Uma sinopse das infecções por protozoá- rios parasitos é apresentada no Quadro 46.1. GIARDIA LAMBLIA (FLAGELADO INTESTINAL) Microrganismo Giardia lamblia (também conhecida como Giardia duodena- lis ou Giardia intestinalis) é o agente causador da giardíase e é o único protozoário patogênico comum encontrado no duo- deno e no jejuno de seres humanos. Giardia existe em duas formas: trofozoíto e cisto. O trofozoíto de G. lamblia é um microrganismo em forma de coração, com quatro pares de flagelos, e cerca de 15 µm de comprimento (Fig. 46.1A). Um grande disco côncavo sugando na face ventral ajuda o micror- ganismo a aderir às vilosidades intestinais. Como os parasitos passam para o colo, normalmente encistam, e os cistos são eliminados nas fezes (Fig. 46.1B). São elipsoides, de paredes espessas, altamente resistentes, e têm 8 a 14 µm de compri- mento; contêm dois núcleos como formas imaturas e quatro como cistos maduros. QUADRO 46.2 Conceitos-chave: protozoários parasitos Os protozoários parasitos abordados neste capítulo estão agrupados em flagelados, amebas, esporozoários e ciliados Os flagelados e amebas multiplicam-se por fissão binária; os esporozoários reproduzem-se por um processo conhecido como merogonia (também chamado esquizogonia), no qual o núcleo replica previamente à citocinese Os esporozoários também sofrem recombinação sexual, que leva a variação genômica e antigênica Os protozoários podem multiplicar-se rapidamente (em algumas horas) no hospedeiro e podem causar o rápido início dos sintomas As infecções intestinais são adquiridas pela ingestão de cistos (ou oocistos) resistentes do ambiente; as infecções da corrente sanguínea são mediadas por vetores As infecções por protozoários intracelulares (Trypanosoma cruzi, espécies de Leishmania, Cryptosporidium, Toxoplasmae Plasmodium) são difíceis de tratar porque os fármacos precisam atravessar as membranas plasmáticas. Não existem vacinas disponíveis para nenhuma doença parasitária humana Infecções latentes ocorrem com Toxoplasma (os cistos do parasito nos tecidos são chamados bradizoítos), Plasmodium vivax e P. ovale (parasitos no tecido hepático são chamados hipnozoítos) Em infecções disseminadas causadas por protozoários, febre e sintomas de gripe ocorrem e não são específicos Alguns protozoários parasitos são capazes de escapar da resposta imunológica do hospedeiro devido a suas características intracelulares e/ou por sofrerem variação antigênica 720 SEÇÃO VI Parasitologia Patologia e patogênese De forma geral, G. lamblia só é fracamente patogênica para o homem. Os cistos podem ser encontrados em grande quanti- dade nas fezes de pessoas inteiramente assintomáticas. Em al- gumas, no entanto, o grande número de parasitos aderidos à parede do intestino pode causar irritação e baixo grau de infla- mação do duodeno ou da mucosa intestinal, com consequente diarreia aguda ou crônica associada a hipertrofia das criptas, a atrofia ou achatamento das vilosidades, e danos às células epi- teliais. As fezes podem ser aquosas, semissólidas, gordurosas, volumosas e de mau cheiro em vários momentos durante o curso da infecção. Os sintomas de mal-estar, fraqueza, perda ponderal, cólicas abdominais, distensão e flatulência podem continuar por longos períodos. A coleta de múltiplas amostras de fezes por vários dias é recomendada para aumentar a proba- bilidade de detecção de cistos nos esfregaços. Epidemiologia G. lamblia ocorre em todo o mundo. Os seres humanos são infectados pela ingestão de água contaminada com fezes ou ali- mentos que contenham cistos de giárdia ou por contaminação fecal direta, que pode ocorrer em creches, campos de refugia- dos e em instituições, ou durante o sexo oroanal. Surtos epidê- micos têm sido relatados em estações de esqui nos EUA, onde a sobrecarga das instalações de esgoto ou de contaminação do abastecimento de água tem resultado em surtos repentinos de giardíase. Os cistos podem sobreviver na água por até 3 meses. Surtos entre campistas em áreas naturais sugerem que seres humanos podem ser infectados com várias giárdias de origem animal abrigadas por roedores, veados, bois, ovelhas, cavalos ou animais domésticos. ENTAMOEBA HISTOLYTICA (AMEBA INTESTINAL E DE TECIDOS) Microrganismo Os cistos de Entamoeba histolytica estão presentes apenas no lúmen do colo e em fezes moles ou formadas, e seu tama- nho varia de 10 a 20 µm (Fig. 46.2A). O cisto pode conter um vacúolo de glicogênio e corpos cromatoides (massas de ribo- nucleoproteína) com extremidades arredondadas característi- cas (em contraste com os fragmentos cromatoides presentes no desenvolvimento de cistos de Entamoeba coli). A divisão nuclear ocorre dentro do cisto, resultando em um cisto qua- drinucleado, com desaparecimento dos corpos cromatoides e vacúolos de glicogênio. O diagnóstico, na maioria dos casos, baseia-se nas características do cisto, uma vez que trofozoítos geralmente só aparecem em fezes diarreicas nos casos ativos e sobrevivem por poucas horas. O trofozoíto ameboide é uma forma presente apenas em tecidos (Fig. 46.2B). O citoplasma tem duas zonas, uma hialina na margem externa e uma região granular interna, que pode QUADRO 46.3 Protozoários parasitos Protozoários intestinais Giardia lamblia (flagelado) Entamoeba histolytica (ameba) Cryptosporidium hominis (esporozoário) Cyclospora cayetanensis (esporozoário) Infecções por protozoários transmitidas sexualmente Trichomonas vaginalis (flagelado) Protozoários causadores de infecções no sangue e nos tecidos Flagelados Trypanosoma brucei rhodesiense e Trypanosoma brucei gambiense Trypanosoma cruzi Leishmania donovani, Leishmania tropica, Leishmania mexicana Amebas Entamoeba histolytica (ver protozoários intestinais) Naegleria fowleri e Acanthamoeba castellanii Esporozoários Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum, Plasmodium ovale e Plasmodium malariae Babesia microti Toxoplasma gondii Microsporídeos FIGURA 46.1 Giardia lamblia. (A) Trofozoíto (12 a 15 µm) (Utilizada, com autorização, de Sullivan J., A Color Atlas of Parasitology, 8th ed., 2009.). (B) Cisto (11 a 14 µm). (cortesia de D. Petrovic, Microbiology Sec- tion, Clinical Laboratories, UCSF). A B CAPÍTULO 46 Parasitologia médica 721 conter glóbulos vermelhos (patognomônicos), mas normal- mente não contém nenhuma bactéria. A membrana nuclear é revestida por finos grânulos de cromatina regulares, com um pequeno corpo central (endossomo ou cariossoma). Patologia e patogênese de amebas invasivas Estima-se que cerca de 50 milhões de casos de doença invasiva ocorram a cada ano, com até 100.000 mortes (Stanley, 2003). A doença surge quando os trofozoítos de E. histolytica invadem o epitélio intestinal e formam úlceras discretas, com uma região central do tamanho de uma cabeça de alfinete e bordas elevadas, pelo qual o muco, as células necróticas e as amebas podem passar. Os trofozoítos multiplicam-se e acumulam-se acima da mucosa muscular, muitas vezes espalhando-se lateralmente. Segue-se uma rápida multiplicação e propagação lateral das amebas, com- prometendo a mucosa e produzindo uma úlcera primária em forma de “balão”, característica da amebíase: um pequeno ponto de entrada, seguido de um estreito pescoço através da mucosa ligada a um espaço alargado de necrose na submucosa. Em geral não ocorre invasão bacteriana nesse momento, a reação celular é limitada, e o dano é causado por necrose lítica. A disseminação posterior pode coalescer as colônias de amebas, comprometendo grandes áreas da superfície da mu- cosa. Os trofozoítos podem penetrar nas camadas musculares e, ocasionalmente, na serosa, causando uma perfuração na ca- vidade peritoneal. O posterior alargamento da área de necrose produz alterações macroscópicas na úlcera, que pode desen- volver bordas peludas salientes, invasão bacteriana secundária e acúmulo de leucócitos neutrofílicos. Lesões intestinais secun- dárias podem desenvolver-se como extensões da lesão primária (geralmente no ceco, no apêndice ou na parte próxima do colo ascendente). Os microrganismos podem migrar para a válvula ileocecal e para o terminal íleo, produzindo uma infecção crô- nica. O colo sigmoide e o reto são locais privilegiados para as lesões posteriores. Uma inflamação amebiana ou uma massa granulomatosa semelhante a um tumor (ameboma) podem se formar na parede intestinal, às vezes crescendo suficientemen- te para bloquear o lúmen intestinal. Os fatores que determinam a invasão de amebas incluem os seguintes: o número de amebas ingeridas, a patogenicida- de da cepa do parasito, fatores do hospedeiro, tais como mo- tilidade intestinal e competência imunológica, e a presença de um número adequado de bactérias entéricas que aumentam o crescimento amebiano. A identificação rápida e correta das es- pécies de Entamoeba continua a ser um problema crítico. Os trofozoítos, especialmente com os glóbulos vermelhos no ci- toplasma, encontrados em fezes líquidas ou semiformadas, são patognomônicos. Os sintomas variam muito, dependendo do local e da inten- sidade das lesões. Extrema sensibilidade abdominal, disenteria fulminante, desidratação e incapacitação ocorrem na doença grave. Na doença mais aguda, o início dos sintomas geralmente é gradual, e com frequência inclui episódios de diarreia, dor abdominal, cãibras, náuseas e vômitos, e um desejo urgente de defecar. Mais frequentemente, haverá um período (uma semana, aproximadamente) de cãibras e de desconforto, falta de apetite e perda ponderal, com mal-estar geral. Os sintomas podem desenvolver-se dentro de 4 dias de exposição, podendo ocorrer até 1 ano depois, ou nunca ocorrer. A infecção extraintestinal é metastática e raramente ocorre por extensão direta do intestino. De longe a forma mais comum é a hepatite amebianaou abscesso do fígado (4% ou mais de in- fecções clínicas), que se supõe ser decorrente da microembolia causada por trofozoítos através do sistema de circulação por- tal. Supõe-se que a microembolia hepática com trofozoítos é um acompanhamento comum das lesões do intestino, mas que essas lesões focais difusas raramente progridem. Um verdadei- ro abscesso amebiano é progressivo, não supurativo (a menos que secundariamente infectado), e destrutivo sem compres- são e formação de uma parede. Os conteúdos são necróticos e bacteriologicamente estéreis, com as amebas ativas estando confinadas às paredes. Uma característica “pasta de anchova” é produzida no abscesso e vista na drenagem cirúrgica. Mais de metade dos pacientes com abscesso hepático amebiano não apresenta história de infecção intestinal, e apenas um oitavo apresenta cistos nas fezes. Raramente, os abscessos amebianos ocorrem em outros lugares (p. ex., pulmão, baço, cérebro ou drenagem através da parede do corpo). Qualquer órgão ou tecido em contato com trofozoítos ativos pode tornar-se um local de invasão e abscesso. O abscesso hepático, geralmente mostrado como uma elevação da cúpula direita do diafragma, FIGURA 46.2 Entamoeba histolytica. (A) Cisto (12 a 15 µm) com 2 (de 4) núcleos e um corpo cromatoide. (B) Trofozoíto (10 a 20 µm). (Utilizada, com autorização, de Sullivan J., A Color Atlas of Parasitology, 8th ed., 2009.) A B 722 SEÇÃO VI Parasitologia pode ser observado por ultrassonografia, tomografia compu- tadorizada, ressonância magnética ou digitalização com ra- dioisótopos. Os exames sorológicos, nestes casos, em geral são fortemente positivos. OUTRAS AMEBAS INTESTINAIS E. histolytica invasiva ou patogênica é hoje considerada uma espécie distinta da E. dispar, espécie comensal não patogênica mais comum que habita o lúmen intestinal, sendo a denomina- ção E. histolytica reservada apenas para a forma patogênica. E. dispar e E. moshkovskii são, com base em isoenzimas e análises genéticas, espécies distintas, embora sejam microscopicamente idênticas. E histolytica deve ser diferenciada não só de E. dispar e E. moshkovskii, mas também de outros quatro microrganis- mos semelhantes a ameba que também são parasitos intesti- nais humanos: (1) Entamoeba coli, que é muito comum; (2) Dientamoeba fragilis (um flagelado), o único parasito intestinal além de E. histolytica que também é suspeito de causar diarreia e dispepsia mas é não invasivo; (3) Iodamoeba bütschlii; e (4) Endolimax nana. É necessária considerável experiência para se distinguir E. histolytica de outras formas, mas é preciso fazê-lo porque o diagnóstico equivocado muitas vezes leva a tratamen- tos desnecessários, supertratamento ou falha no tratamento. Kits imunoenzimáticos (Elisa) estão disponíveis comer- cialmente para o diagnóstico sorológico de amebíase quando as fezes são frequentemente negativas. Os testes de Elisa para detectar o antígeno amebiano nas fezes são também sensíveis e específicos para E. histolytica e podem distinguir entre as in- fecções patogênicas e não patogênicas. Epidemiologia E. histolytica ocorre no mundo todo, principalmente em paí- ses em desenvolvimento com condições sanitárias e de higiene precárias. As infecções são transmitidas por via orofecal; cistos são geralmente ingeridos por meio de água, vegetais e alimen- tos contaminados; moscas também estão ligadas a transmissão em áreas de poluição fecal. A maioria das infecções é assin- tomática, sendo os cistos assintomáticos uma fonte de conta- minação para os surtos onde ocorrem vazamentos de esgoto no abastecimento de água ou falhas de saneamento (como em instituições de tratamento mental, de idosos, de crianças ou em prisões). CRYPTOSPORIDIUM (ESPOROZOÁRIO INTESTINAL) Microrganismos As espécies de Cryptosporidium, tipicamente C. hominis, po- dem infectar o intestino em pessoas imunodeprimidas (p. ex., indivíduos com Aids) e causar diarreia grave, intratável. São co- nhecidas há muito tempo como parasitos de roedores, aves, ma- cacos rhesus, gado e outros herbívoros, e provavelmente foram uma causa não reconhecida de gastrenterite e diarreia autolimi- tadas e brandas em seres humanos. Oocistos medindo 4 a 5 µm são passados pelas fezes em grande número e são imediatamente infecciosos. Quando oocistos em alimentos e água contamina- dos são ingeridos, os esporozoítos desencistam-se e invadem as células intestinais; os parasitos multiplicam-se assexuadamente no interior da porção apical das células intestinais, são liberados e infectam outras células intestinais, e começam um novo ciclo. Também se reproduzem sexuadamente, formando microga- montes masculinos e macrogamontes femininos que se fundem e desenvolvem os oocistos. Patologia e patogênese Cryptosporidium habita a borda escovada das células da mu- cosa epitelial do trato gastrintestinal, especialmente a superfí- cie das vilosidades do intestino delgado inferior (Fig. 46.3A). A principal característica clínica da criptosporidiose é diarreia aquosa, geralmente leve e autolimitada (1 a 2 semanas) em pessoas normais mas que pode ser grave e prolongada em pa- cientes imunodeprimidos, em muitos jovens ou em indivíduos idosos. O intestino delgado é o sítio mais comumente infecta- do, mas as infecções por Cryptosporidium também podem ser encontradas em outros órgãos, inclusive o trato digestório e os pulmões. FIGURA 46.3 Cryptosporidium. (A) Secção histológica de intestino com microrganismos (setas) na porção apical de células epiteliais. (Cor- tesia de Pathology, UCSF.) (B) Oocistos (4 a 5 µm), coloração rosa em amostra de fezes corada em álcool-ácido. (Utilizada, com autorização, de Sullivan J., A Color Atlas of Parasitology, 8th ed., 2009.) A B CAPÍTULO 46 Parasitologia médica 723 O diagnóstico depende da detecção de oocistos em amos- tras frescas de fezes. As técnicas de concentração das fezes por meio de coloração álcool-ácida modificada geralmente são necessárias (Fig. 46.3B). Testes baseados em anticorpos monoclonais podem detectar baixos níveis de infecção, e a microscopia fluorescente com coloração de auramina é útil. Testes de Elisa estão atualmente disponíveis para detecção de antígeno fecal. Epidemiologia O período de incubação da criptosporidiose é de 1 a 12 dias, e a doença é adquirida a partir de animais de fezes humanas in- fectados ou de água ou alimentos contaminados por fezes. Pa- ra pacientes de alto risco (imunocomprometidos, muito jovens ou idosos), é necessário evitar o contato com fezes de animais e observar sanitização cuidadosa. Os microrganismos estão disseminados e provavelmente infectam assintomaticamente uma parcela significativa da população humana. Surtos ocasio- nais, tais como o que ocorreu em Milwaukee no início de 1993, que afetou mais de 400.000 pessoas, podem ser o resultado de proteção, tratamento ou filtração da água de grandes centros urbanos inadequados. Nesse caso, o gado de uma grande fa- zenda leiteira aparentemente foi a fonte de contaminação do fornecimento de água. A capacidade de pouco mais de 30 pa- rasitos iniciarem uma infecção — e a habilidade do parasito de completar seu ciclo de vida, incluindo a fase sexuada, dentro de um mesmo indivíduo — torna possível a ocorrência de in- fecções fulminantes observadas com frequência em indivíduos imunossuprimidos. CYCLOSPORA (ESPOROZOÁRIO INTESTINAL) Microrganismo O ciclo de vida de Cyclospora é similar ao do Cryptosporidium e parece envolver somente um único hospedeiro. Cyclospora, entretanto, difere de Cryptosporidium porque seus cistos são imediatamente infecciosos quando presentes nas fezes. Dife- rentemente dos oocistos de Cryptosporidium, que são infeccio- sos nas fezes, os oocistos de Cyclospora levam dias ou semanas para se tornarem infecciosos. Devido a esta característica, a transmissão direta entre pessoas por meio da exposição fecal é improvável. A ciclosporíase tem sido associada a fontes de água ou alimentos infectados de váriostipos de produtos frescos, in- clusive framboesas e manjericão, desde os anos 1990 (Herwal- dt, 2000). Patologia e patogênese A arquitetura das mucosas alterada com encurtamento das vilosidades intestinais devido a edema difuso e infiltração de células inflamatórias leva a diarreia, anorexia, fadiga e perda ponderal. A duração dos sintomas entre pessoas não imunes e não tratadas é frequentemente prolongada, mas autolimitada, com sintomas remitente-recidivos permanecendo por várias semanas ou meses. O período de incubação para infecções por Cyclospora é de cerca de 1 semana, similar as infecções com Cryptosporidium. São necessárias requisições específicas para os testes laboratoriais de Cyclospora (o mesmo para Cryptospo- ridium) quando se analisam as fezes para a presença de oocis- tos (8 a 10 µm), que são álcool-ácido positivos (avermelhados). As infecções por Cyclospora são tratáveis com sulfametoxazol- trimetoprima (SMZ-TMP). INFECÇÕES POR PROTOZOÁRIOS SEXUALMENTE TRANSMITIDOS TRICHOMONAS VAGINALIS (FLAGELADO GENITURINÁRIO) Microrganismo Trichomonas vaginalis existe somente como trofozoíto (não existe o estágio de cisto); possui quatro flagelos livres que sur- gem a partir de um único caule e um quinto flagelo, que forma uma membrana ondulante. É piriforme, com aproximadamen- te 20 µm de comprimento e 10 µm de largura. Patologia e patogênese T. vaginalis é sexualmente transmissível e a maior parte das infecções é assintomática ou branda para ambos os sexos. Na mulher, a infecção é normalmente limitada à vulva, à vagina e cérvice, geralmente não se estendendo ao útero. A superfí- cie das mucosas pode estar sensível, inflamada, com erosão e revestida por um corrimento cor de creme ou amarelado. No homem, a próstata, vesículas seminais e uretra podem estar in- fectadas. Os sinais e sintomas na mulher, além de corrimento vaginal profuso, incluem sensibilidade local, prurido vulvar e sensação de queimação. Cerca de 10% dos homens infectados apresentam um corrimento uretral branco e fino. O período de incubação é de cerca de 5 a 28 dias. Epidemiologia T. vaginalis é um parasito comum em homens e mulheres. A transmissão ocorre pelo intercurso sexual, mas toalhas, duchas, instrumentos de exame e outros objetos contaminados podem ser responsáveis por algumas infecções. Os lactentes podem ser infectados durante o nascimento. O controle das infecções por T. vaginalis sempre exige tratamento simultâneo de ambos os parceiros sexuais. Proteção mecânica (preservativo) deve ser utilizada durante o intercurso sexual até que a infecção tenha sido erradicada em ambos os parceiros. PROTOZOÁRIOS DE INFECÇÕES DO SANGUE E TECIDOS HEMOFLAGELADOS Os hemoflagelados dos seres humanos incluem os gêneros Trypanosoma cruzi e Leishmania (Quadro 46.4). Existem dois tipos distintos de tripanossomas humanos: (1) africano, DICA DO PROFESSOR No vídeo a seguir, você conhecerá quais são os agentes causadores de cada uma das três doenças abordadas nesta Unidade de Aprendizagem: giardíase, amebíase e tricomoníase. Além disso, são abordadas as formas de transmissão dessas doenças, assim como as possibilidades de tratamento e prevenção. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Fármaco mais utilizado para tratamento das infecções causadas por protozoários, abordadas nessa unidade: A) Mebendazol B) Pantoprazol C) Miconazol D) Metronidazol E) Sulfametoxazol 2) Os fármacos antiprotozoários, como todos os medicamentos, possuem restrições quanto ao seu uso, as chamadas contraindicações. Assinale a alternativa que apresenta contraindicações específicas aos antiprotozoários: A) Gestantes e Cardiopatas B) Ingesta de bebida alcoólica e gestantes. C) Pacientes com insuficiência renal e Aids. D) Pacientes com insuficiência hepática e acometidos por AVC (acidente vascular cerebral). E) Nutrizes e pacientes anticoagulados. 3) No interior do intestino, os cistos amebianos produzem trofozóitos, que por sua vez causam doença extraintestinal, invadindo outros órgãos do corpo. O principal deles é: A) Ossos B) Rins C) Fígado D) Coração E) Pele 4) Sua transmissão ocorre principalmente por água e alimentos contaminados: A) Sífilis B) Malária C) Doença de Chagas
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