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CONCEITOS: EPILEPSIA: Predisposição persistente do cérebro para gerar crises epilépticas recorrentes. (uma doença em sí). CRISE EPILÉPTICA: Ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas (fenômenos anormais súbitos e transitórios, como alterações de consciência, eventos motores, sensitivos/sensoriais, autonômicos ou psíquicos) percebidos pelo paciente ou um observador, decorrentes de atividade neuronal síncrona ou excessiva no cérebro. CONVULSÃO/ CRISE CONVULSIVA: alteração anormal da atividade elétrica cortical causada pela hiper sincronização neuronal, podendo ocorrer localmente ou difusamente. Nem toda crise convulsiva é uma crise epiléptica. (Podem ser provocadas (insulto agudo; exemplo: AVC, drogas) ou não provocadas (espontânea)). SÍNDROME EPILÉPTICA: conjunto de alterações clínicas e achados eletroencefalográficos com características semelhantes. Ex.: Sd. de West, Sd. de Dravet. CRISES DE AUSÊNCIA: tipo de crise epilética que podem ser identificadas quando há perda súbita de consciência e olhar vago, ficando-se quieto e parecendo que se está olhando para o espaço, durante cerca de 10 a 30 segundos. CONVULSÃO FEBRIL OCORRE: de 3 meses a 5 anos de idade, com pico antes dos 2 anos. Pode ocorrer com vigência de febre, porém com ausência de infecção do SNC. FATORES DE RISCO FATORES DE RISCO MENORES: Histórico familiar de crises febris; História familiar de epilepsia; Crise febril com perda de consciência; Sexo masculino; Sódio sérico baixo. FATORES DE RISCO MAIORES: Primeira crise antes dos 12 meses; Duração de febre menor que 24h antes da crise; Febre 38/39 graus. CLASSIFICAÇÃO: • Com perda de consciência (Sinais neurológicos focais pós- ictais presentes; > 15 minutos, recorrem nas primeiras 24h. Tem maior risco de desenvolver epilepsia.) • Sem perda de consciência (85% dos casos) ETIOLOGIA/ FISIOPATOLOGIA: Sistema nervoso prematuro, com grande excitabilidade neuronal. Quando ocorre uma infecção há maior liberação de neurotransmissores excitatórios, hipertermia, citocinas. Há tendência genética. Levando a vulnerabilidade e crise. SINTOMAS: Presença de abalos musculares generalizados. Em menores de 1 ano ocorre arresponsividade, hipotonia e olhar fixo. NA EMERGÊNCIA: Considerar história clínica (vômitos, diarreia e desidratação), hemograma completo, dosagem de eletrólitos e glicemia, Não é indicado EEG em crises sem perda de consciência. TRATAMENTO: Na maioria dos casos não é indicado drogas antiepilépticas, apenas o controle rigoroso da febre. ESTADO DE MAL EPILÉPTICO DEFINIÇÃO: Presença de ≥ 2 crises sem a completa recuperação da consciência entre elas ou uma crise com mais de 30 minutos de duração. TEMPO PARA ATENDIMENTO: Crises por mais de 5 minutos de duração têm baixa probabilidade de cessarem espontaneamente → necessita de intervenção (tratadas como estado epiléptico) → essa situação caracteriza emergência médica (mortalidade pode chegar a 20%). SÃO ETIOLOGIAS RELACIONADAS COM ESSE QUADRO: • Má aderência ao tratamento • Lesão estrutural • Metabólica (hipo ou hipernatremia e hipo ou hiperglicemia) • Tóxica • Uso ou overdose de drogas e síndromes de abstinência • Sepse DIAGNÓSTICO: Clínica (convulsão por mais de 5 minutos) Pode-se fazer Eletroencefalograma para o diagnóstico (estado de mal epiléptico não convulsivo). Identificar a causa base (causas mais comuns: lesões estruturais, infecções, tumores cerebrais, má aderência, síndrome de abstinência, alterações metabólicas, sepse e uso ou overdose de drogas). TRATAMENTO: *FLUXOGRAMA DE MANEJO DE CRISES CONVULSIVAS* DEFINIÇÃO: Predisposição persistente do cérebro para gerar crises epilépticas recorrentes. (uma doença em sí). EPIDEMIOLOGIA • Estima-se que há mais de 50 milhões de pessoas com epilepsia no mundo. (relação com países subdesenvolvidos: qualidade de vida é pior e a incidência de infecções do SNC é maior. • PREVALÊNCIA MUNDIAL: 1,5 – 30 casos para cada 1000 habitantes FATORES DE RISCO • Uso de contrastes e medicamentos como flumazenil, cloroquina, aciclovir, tramadol, quinolonas, psicotrópicos e agentes alquilantes. • Adultos: apenas 1/3 tem os fatores identificados • Doença de Alzheimer • Abstinência de álcool e drogas • Distúrbios tóxico-metabólicos • TCE • AVC • Doenças infecciosas • Na infância: TCE, TDAH, Crises febris, Infecções do SNC, Paralisia cerebral e Retardo mental CLASSIFICAÇÃO *ANEXO 1* - Classificação ILAE - 2017 FOCAIS: Distúrbios unifocais e multifocais bem como (CRISES ENVOLVENDO UM HEMISFÉRIO) GENERALIZADAS: complexos da espícula-onda generalizada no EEG (crises envolvendo os dois hemisférios) FOCAIS E GENERALIZADAS COMBINADAS: o EEG interictal pode mostrar tanto espícula-onda generalizada como descargas epileptiformes focais DECONHECIDAS: paciente tem epilepsia, mas é incapaz de determinar seu tipo ETIOLOGIA ESTRUTURAL: Presença de lesão estrutural (alteração visível na neuroimagem) → As etiologias estruturais podem ser adquiridas - como uma encefalopatia hipóxico-isquêmica, acidente vascular cerebral, trauma e infecção - ou genéticas - como a esclerose tuberosa GENÉTICA: Resultado de uma mutação genética conhecida ou presumida. Baseada em história familiar sugestiva de hereditariedade autossômica dominante. INFECCIOSA: etiologia mais comum em todo o mundo. Resulta de uma infecção conhecida, em que as crises são um sintoma da doença. Exemplos: neurocisticercose, tubérculos, HIV, malária cerebral, toxoplasmose cerebral, infecções congênitas, Zika e citomegalovírus. METABÓLICA: Resultado de um distúrbio metabólico conhecido ou presumido, em que as crises são o sintoma principal. Exemplos: hipoglicemia, uremia, ↓Na+, ↓Ca2+, porfiaria. IMUNOLÓGICA: Perturbação imunológica em que as crises são o sintoma principal, como inflamação do SNC imunologicamente mediada. DESCONHECIDA: causa indeterminada. FISIOPATOLOGIA • EXCESSIVAS DESCARGAS NEURONAIS → ocorrem por da excitação neuronal ( de glutamato → receptores NMDA e AMPA) • FALTA DE INIBIÇÃO NEURONAL ( do GABA) • ALTERAÇÕES DE CANAIS IÔNICOS: GLUTAMATO → influxo de cálcio; receptores GABA A não fazem influxo de cloro e receptores GABA B não fazem efluxo de K (levando a despolarização prolongada) • Quando atinge SARA → perda da consciência QUADRO CLÍNICO CRISES FOCAIS: perceptivas (sem perda de consciência) disperceptivas (com perda de consciência) INÍCIO MOTOR: AUTOMATISMO: movimentos coordenados e repetitivos, mimetizando movimentos voluntários. ATÔNICAS: ausência do tônus muscular TÔNICA: aumento do tônus muscular CLÔNICA: abalos rítmicos focais mantidos, estereotipados e regulares MIOCLÔNICA: abalos focais leves irregulares HIPERCINÉTICA: movimentos bruscos de membros ESPASMOS EPILÉPTICOS: flexão e extensão dos MMSS, flexão do tronco INÍCIO NÃO-MOTOR: COGNITIVAS: Déficit de linguagem, pensamento de funções corticais superiores, manifestações ictais, fenômenos cognitivos, induzidos e anormais (dijavu, alucinações, ilusões, pensamentos forçados. EMOCIONAIS: medo, ansiedade, agitação, paranoia, prazer SENSORIAIS: parestesia, hipoestesia AUTONÔMICOS: rubor, sudorese PARADA COMPORTAMENTAL: arresponsivo e olhar vago CRISES GENERALIZADAS MOTORAS: TÔNICO-CLÔNICAS: perda súbita da consciência, contração tônica e depois clônica dos 4 membros, apneia, liberação dos esfíncteres, sialorreia CLÔNICA: abalos rítmicos focais mantidos, estereotipados e regulares TÔNICA: aumento do tônus muscular MIOCLÔNICA: abalos focais leves irregulares MIOCLÔNICA- TÔNICA- CLÔNICA: abalos focais leves irregulares, seguido de aumento de tônus seguido de abalos rítmicos focais mantidos, estereotipados e regulares. MIOCLÔNICA- ATÔNICA: abalos focais leves irregulares seguidos de ausência do tônus muscular ATÔNICA: ausência do tônus muscular ESPASMOS EPILÉPTICOS:flexão e extensão dos MMSS, flexão do tronco NÃO MOTORAS: CRISES DE AUSÊNCIA: breve perda de contato com o meio de curta duração, pode estar associado a automatismo discreto. TÍPICAS: curta duração, início e término abrupto, indivíduos neurologicamente normais, sem confusão pós ictal. ATÍPICAS: início e fim menos abruptos, maior duração, indivíduos neurologicamente comprometidos com confusão pós ictal. Sinais motores mais evidentes. MIOCLÔNICAS: abalos focais leves e irregulares. MIOCLÔNICAS PALPEBRAIS: abalos mioclônicos das pálpebras, desvio dos globos oculares para cima INÍCIO DESCONHECIDO MOTORAS: TÔNICO-CLÔNICAS: perda súbita da consciência, contração tônica e depois clônica dos 4 membros, apneia, liberação dos esfíncteres, sialorreia ESPASMOS EPILÉPTICOS: flexão e extensão dos MMSS, flexão do tronco NÃO MOTORAS (AUSÊNCIA) PARADA COMPORTAMENTAL: arresponsivo e olhar vago DIAGNÓSTICOS CLÍNICO: História bem detalhada, com exame físico geral e se possível uma testemunha ocular ANAMNESE: dados como idade de início, estado cognitivo, antecedentes pré, peri e pós-natais, fatores desencadeantes, antecedentes neurológicos, clínicos e psiquiátricos, história familiar de epilepsia (incluindo tipos de crise) e resposta prévia a medicamentos (quando houver), infecções, TCE ou intoxicações prévias. AVALIA-SE DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: com outros eventos paroxísticos, Identificar fatores precipitantes Decidir se é necessário o uso profilático de antiepilépticos CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS: • 2 crises não provocadas, em um intervalo >24hrs • Paciente com Alta chance de recorrência • Diagnóstico de Síndrome Epiléptica PASSOS PARA O DIAGNÓSTICO: 1º Passo: confirmação se o evento é uma crise epiléptica 2º Passo: classificação ILAE 3º Passo: Identificação de eventos desencadeantes ou relacionados ao início da epilepsia 4º Passo: pontuar os marcos do desenvolvimento da criança 5º Passo: determinar se é primária, ou oriunda de uma doença de base EXAMES COMPLEMENTARES: LABORATORIAIS: ROTINA (hemograma, eletrólitos, glicose, função renal e hepática, EAS) e conforme SUSPEITA CLÍNICA (Screening toxicológico, punção lombar [pacientes HIV+ e menores de 1 ano], culturas, dosagens hormonais, pesquisa de autoanticorpos relacionados a epilepsia autoimune). NEUROIMAGEM: Todos os pacientes com epilepsia devem ser submetidos a RM (padrão ouro) ou TC (identificar lesões depois da crise), EXCETO aqueles com formas típicas de epilepsia generalizada primária, EEG característico e resposta adequada a medicamentos. Exames de imagem como ressonância magnética (RM) do encéfalo e tomografia computadorizada (TC) de crânio devem ser solicitados na suspeita de CAUSAS ESTRUTURAIS (lesões cerebrais, tais como tumores, malformações vasculares ou esclerose hipocampal) → presentes na maioria dos pacientes com epilepsia focal. ELETROENCEFALOGRAMA: Registro da atividade elétrica cerebral. O primeiro exame pode não revelar alteração, deve-se fazer no mínimo 3. Oferece sinais de distúrbio epileptiforme causado por disfunção neuronal durante o período entre crises e durante o período ictal (registro de crises). • FOCAIS: Mais frequentes ondas agudas e complexos ondas agudas e ondas lentas (aparem em hemisfério único). • GENERALIZADAS: espícula onda e multiespícula ritmada. (afeta os 2 hemisférios) • ONDAS NÃO ELEPTIFORMES: simétricas • ONDAS ELEPTIFORMES: assimétricas DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Síncope, arritmia cardíaca, AIT, migrânea, ataques de pânico, distúrbios metabólicos e crises psicogênicas TRATAMENTO CONDUTA FARMACOLÓGICA: as crises agudas costumam ser breve e de resolução espontânea. MAL EPILÉPTICO: (crises com duração ≥ 5 minutos): → Fluxograma para crises convulsivas TRATAMENTO CRÔNICO: *FLUXOGRAMA PARA TRATAMENTO DE EPILEPSIA* INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO ▪ Ausência de crise por 1-5 anos. ▪ Paciente apresenta um único tipo de crise. ▪ Exame neurológico e EEG normal. Se apresentar esses critérios realizar o desmame, a recidiva costuma aparecer após 3 meses do desmame. Crise convulsiva Ausência de resposta às medicações > 20 minutos Fenitoína, 15 a 20 mg/kg, IV, velocidade de 50mg/min Diazepam, 1 a 2 mg/min, IV – Máximo de 20 mg Até 5 minutos Monitorização, Oxigênio, Venóclise, exames gerais e HGT Estabilização > 5 min.: Status epilepticus Administrar entre 5-10 minutos Administrar entre 10-20 minutos Fenitoína extra, 5 a 10 mg/kg, IV OU Fenobarbital, 10 mg/kg, IV, velocidade de 50-75 mg/min Refratário → Preparar para IOT e monitorizar com EEG Anestesia geral Midazolam, 0,2 mg/kg, IV → 1-10 microg/kg/min Pentobarbital, 10-15 mg/kg, IV → 0,5-10 mg/kg/hora Propofol: 1-2 mg/kg, IV → 1-15mg/kg/hora Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas 256 FluxoGrama de TraTamenTo epilepsia Paciente com diagnóstico de epilepsia FLUXOGRAMA DE TRATAMENTO EPILEPSIA Possui critérios de inclusão Possui algum critério de exclusão? Não Sim Exclusão do PCDT Não Diagnóstico: clínico + eletroencefalográfico Critérios de inclusão: üdiagnóstico estabelecido de epilepsia (ocorrência de duas crises epilépticas com mais de 24h de intervalo) üeletroencefalograma em sono e vigília compatível com o diagnóstico üressônancia magnética do encéfalo é obrigatória para pacientes com epilepsias focais refratárias. Critérios de exclusão: ü pacientes com diagnóstico duvidoso de epilepsia ü suspeita de crises não epilépticas Não Paciente idoso ou psiquiátrico? Sim Idoso: Recomenda-se gabapentina ou lamotrigina; em casos de falha, tratar conforme tipo de crise, com restrição à politerapia. Psiquiátrico: prefere-se lamotrigina com restrição a fenobarbital e fenitoína. Carbamazepina, fenobarbital ou ácido valpróico (> 10 anos) Classificar conforme tipos de crises Crises focais simples Crises focais complexas Crises focais Tônico-Clônicas Generalizadas Carbamazepina, fenobarbital, fenitoína ou ácido valpróico (>10 anos) Carbamazepina (>1 ano), fenobarbital, fenitoína ou ácido valpróico (> 10 anos) Crises Generalizadas Terapia Intermitente: - clobazam - ácido valpróico mono ou adjuvante (> 10 anos) Crise astática: - etossuximida (adjuvante) - ácido valpróico mono ou adjuvante (> 10 anos) Prevenção e tratamento de crises após cirurgia: - fenitoína - ácido valpróico mono ou adjuvante (> 10 anos) Espasmos infantis: - vigabatrina - ácido valpróico mono ou adjuvante (> 10 anos) Síndrome de Lennox- Gastaut: - ácido valpróico mono ou adjuvante (> 10 anos) - topiramato adjuvante (> 2 anos) - fenitoína - lamotrigina para crises generalizadas (> 2 anos) Outros Tipos Fenobarbital, ácido valpróico (> 10 anos) ou etossuximida (somente crise de ausência em pacientes com mais de 3 anos de idade ou com mioclonias negativas Sim Paciente de alto risco para agravamento de crises quando em uso de anticonvulsivante de espectro estreito? Não Falha a, no mínimo, 2 fármacos em monoterapia? Sim Sim Atendimento por Neurologista em Hospital Terciário habilitado em Neurocirurgia e Neurologia Não Monitorar Terapia adjuvante (generalizada): - clobazam, etossuximida (para crises mioclônicas), topiramato (> 2 anos) e ácido valpróico (> 10 anos) Terapia adjuvante (focal): clobazam, topiramato (> 2 anos) e ácido valpróico (> 10 anos), vigabatrina, gabapentina (> 3 anos), carbamazepina (> 1 ano para crise TCG), lamotrigina (> 2 anos) Crise focal e controle insatisfatório? SimNãoMonitorar Tratamento cirúrgico Monoterapia com topiramato (> 10 anos), lamotrigina (> 12 anos) ou primidona Controle adequado das crises? Sim Não