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1 Sociologia Émile Durkheim Teoria Quem foi Émile Durkheim? Émile Durkheim é considerado, ao lado de Karl Marx e Max Weber, um dos arquitetos da Sociologia. Acreditava que a sociedade tinha natureza e dinâmica próprias, características de um objeto de estudo e uma ciência específica. Compreendia que os fenômenos sociais eram mais que experiências individuais, possuíam externalidade e alcance em relação aos indivíduos. Auguste Comte foi uma grande influência para Durkheim, e podemos ver essa influência em seu pensamento. Comte entendia que a sociedade deveria ser analisada sob o método e o espírito das ciências naturais, que ela apresentaria regularidade e previsibilidade, possibilitando a formulação de leis gerais. As metáforas de Durkheim apontam nessa direção. A sociedade é sempre pensada pelo autor como um organismo vivo. Seu foco de estudo foi a ordem social. Sua questão principal era definir o que mantinha a sociedade coesa, apesar das grandes transformações pelas quais passava. No seu arcabouço teórico encontraremos conceitos como instituições sociais, coesão social, consenso, consciência individual e coletiva etc. Também se preocupou com a relação entre o indivíduo e a estrutura social e como se dá o comportamento no seu interior. Sociologia como ciência A forte influência das ciências naturais na produção de conhecimento sobre a sociedade resulta na utilização de seus métodos, verificação de dados e informações, admitir leis gerais, buscar teorias abrangentes e afirmar certezas sobre a realidade. Mas como fazer isso, se a sociedade se manifesta de forma tão distinta da realidade dos fenômenos naturais? O positivismo pressupõe que conhecimento objetivo e verdade absoluta são equivalentes. O que é produzido pelos parâmetros teórico-metodológicos das ciências alcança estatuto de verdade. Apesar disso, fenômenos sociais são conjunturais, marcados pela interação com uma infinidade de outros fenômenos, o que torna cada um único. A sociedade acontece numa realidade concreta, que demanda um método específico para captar sua complexidade. Durkheim é o primeiro a propor um método científico específico para a análise da sociedade. Sua proposta é tornar um grupo de fenômenos sociais, chamados “fatos sociais”, o objeto de estudo, considerado como “coisa” a ser identificada e estudada. Seus métodos buscavam comprovar a existência dos fatos sociais como externos aos indivíduos, impostos e de grande alcance na sociedade. 2 Sociologia Método O método de Durkheim ficou conhecido como método comparativo ou funcionalista. Dos três métodos consagrados pelos clássicos, o método durkheimiano é o que mais se aproxima da metodologia das ciências naturais. Para Durkheim, a legitimidade da Sociologia como ciência dependia de demonstrar que existe um campo da produção de conhecimento humano específico que deve ser analisado através de métodos próprios. Sua corrente, o funcionalismo, atribui uma função para cada componente social, tal qual os órgãos de um corpo. Não admite irracionalidade ou falta de significado na ação humana. Os elementos sociais são interdependentes, assim como os órgãos, porque cada um cumpre uma função, alcançando a situação de organização social pela correta distribuição e equilíbrio de suas atividades. Por isso, qualquer fenômeno deve ser tomado a partir de sua integração no conjunto social. É uma teoria holística, onde analisar fenômenos individualmente não permitirá sua compreensão, já que a sociedade em si ocorre a partir dessa integração. Seu método é comparativo, porque classifica diferentes sistemas sociais. Por último, para construção de seu arcabouço teórico-metodológico, Durkheim defende uma postura imbuída do espírito científico. Afirma que, no meio social, circulam vários saberes sobre a sociedade. No entanto, para fazer Sociologia, é preciso abandonar esses saberes, chamados pelo autor de “prenoções”. Recorrendo a Descartes, Durkheim afirma que a intenção da dúvida metódica proposta pelo filósofo (recurso metodológico que propõe colocar tudo que sabemos em dúvida, para, a partir daí, produzir conhecimento) é fundar as bases da proposta da ciência moderna. Abandonar as prenoções é utilizar, na ciência, apenas o conhecimento produzido através de seus métodos, que garantem, em algum nível, segurança e verificabilidade. O Objeto O objeto da Sociologia, para Durkheim, são os fatos sociais. É através da comprovação da existência deles que Durkheim funda sua defesa da Sociologia como ciência. Próximo das ciências naturais, o sociólogo defende que os fatos sociais sejam encarados como coisas. Assim, ele os caracteriza e classifica conforme sua manifestação. Mas o que são fatos sociais? Eles são maneiras coletivas de pensar, agir e sentir, consolidadas num determinado grupo. Para que sejam fatos sociais, essas maneiras devem constituir padrões de comportamento. Daí as características observadas por Durkheim: Generalidade – o fato social deve ser de conhecimento de um grande grupo de indivíduos (não como fato social). Deve ser uma forma de se comportar que tenha alcance na sociedade. Externalidade – o fato social não é uma intenção da consciência de cada indivíduo, ele é formulado e existe fora das pessoas. Se uma pessoa deixar de agir tal qual o fato social, ele não deixará de existir. No final das contas, é a sociedade que define como o indivíduo agirá. Coercitividade – fechando o grupo de características que configuram o fato social como um padrão, temos seu caráter impositivo. Indivíduos que não agem tal qual essas maneiras sofrem alguma sanção. O grupo social ao qual esse indivíduo desviante pertence espera que ele se comporte seguindo o padrão, e o desvio comumente tem um efeito negativo. Zombaria, reprovação e até ostracismo podem ser as consequências às quais o indivíduo desviante será submetido, além de sanções penais para padrões de comportamento que se configuraram como lei. 3 Sociologia Instituições sociais e os indivíduos Como observamos, a análise de Durkheim foca na sociedade. Para ele, os fenômenos sociais estudados de forma individual não são capazes de traduzir a realidade social. A sociedade sempre prevalece sobre o indivíduo, dispondo de padrões de comportamento impostos. Esses padrões visam a sua manutenção, ordem e estrutura. Durkheim acredita que, sem esses padrões, a ordem social ruiria. Essas regras, normas e costumes formam uma consciência coletiva, um conjunto de conhecimentos e características compartilhado que faz com que os indivíduos ajam de maneira minimamente parecida. Isso dá sentido à integração social e permite a convivência. A língua, a moral, a compreensão do mundo etc. são exemplos de componentes dessa consciência coletiva. A vida em sociedade só é possível com um mínimo de comunhão entre os indivíduos e a forma como são e estão no mundo. As fronteiras entre a consciência coletiva e individual não são claras, e, muitas das vezes, acreditamos estar nos comportamos tal qual nossa vontade, quando, na verdade, estamos seguindo o padrão imposto socialmente. Esses componentes da consciência coletiva se realizam em instituições sociais, que são a base da sociedade e correspondem às crenças e comportamentos instituídos pela coletividade. Família, escola, sistema judiciário, Estado, igreja etc. são exemplos de instituições sociais. Sua função é reproduzir a consciência coletiva (o conjunto de regras, normas e costumes que dão sustentação à vida coletiva) de maneira tal que formem e mantenham a estrutura social. Se você pensar bem, perceberá que é no interior da sua família que você aprende a estar em família, assim como é no interior da escola que aprendemos o modo de estar na escola. É frequentando determinado culto e professando qualquer fé que reproduzimos seus valores. As instituições sociais produzem a sociedade,tanto que, para Durkheim, a Sociologia é “a ciência das instituições sociais, de sua gênese e de seu funcionamento”. Esse processo de aprendizado no interior das instituições sociais é o processo de socialização, onde aprendemos as regras do jogo social, os limites e as expectativas de ação e comportamento. As gerações mais velhas ensinam as futuras sobre o funcionamento da sociedade, e a possibilidade de mudança só se concretiza lentamente na mudança da instituição em si. Durkheim chega a afirmar que revoluções são prováveis tanto quanto milagres. Solidariedade e coesão O trabalho é central para o pensamento de Durkheim. Para ele, a vida social faz circular a atividade profissional. Mas como? Ora, pela solidariedade! A solidariedade é um senso de pertencimento e obrigação para com o grupo que gera coesão social. Já coesão social é a adesão do indivíduo ao grupo, o que mantém a sociedade de pé. Durkheim identifica que, em sociedades pré-capitalistas, onde a divisão do trabalho era simples, a coesão social surgia por um tipo de solidariedade baseada na semelhança entre os indivíduos. Há um compartilhamento de valores, visão de mundo, cultura, etnia e até aspectos físicos. Assim, a solidariedade classificada como mecânica é caracterizada por funções sociais semelhantes, mecanismos de coerção e direito punitivo e pouca divisão social do trabalho. Mas Durkheim observa que as revoluções pelas quais as sociedades estavam passando produziram profundas alterações no ordenamento social. Como a coesão social se mantinha com o adensamento moral produzido por essas revoluções? Como as estruturas se mantinham com a convivência tão próxima de indivíduos tão diferentes em vários aspectos? A resposta está no próprio conceito de coesão social! A integração produzida pela coesão se baseia no compartilhamento de objetivos, metas e crenças. Indivíduos compartilham necessidades e vontades e interagem com determinado fim. As mudanças observadas por Durkheim mudaram a solidariedade porque puderam alterar esse compartilhamento. Enquanto nas sociedades tradicionais a coesão se dava pela adesão a crenças religiosas e morais, nas sociedades 4 Sociologia modernas a adesão era à organização da divisão social do trabalho complexa. Assim a solidariedade orgânica se caracteriza por causar uma profunda diferenciação profissional e, ao mesmo tempo, uma grande interdependência funcional. Os indivíduos agora não compartilhavam mitos fundantes, mas o senso de que todos dependiam de todos, o reconhecimento da importância de cada indivíduo nessa estrutura social complexa e o consenso em torno de regras gerais para reger essa nova organização social (direitos e deveres). Durkheim defende ainda que essa classificação forma um espectro, indo de solidariedade totalmente mecânica para solidariedade totalmente orgânica. Assim, dependendo do nível de complexidade da divisão do trabalho, as sociedades podem ter diferentes níveis de solidariedade. Compreendemos então a importância da divisão do trabalho no pensamento durkheimiano. Tanto que o sociólogo compreende que os grupos funcionais e profissionais (organização dos trabalhadores e empregadores, como sindicatos) são entidades decisivas na formação da sociedade. A formação profissional e a especialização são vistas como positivas, pois possibilitam o desenvolvimento das sociedades. Cabe a essas corporações mediar a relação entre empregadores e empregados, para afastar do processo elementos que impeçam o desenvolvimento normal da divisão do trabalho. E quando tudo isso não funciona? Em algumas situações, Durkheim observa um desvio no processo de desenvolvimento social. Quando a diferenciação de atividades ocorre de maneira muito abrupta, produz-se um desequilíbrio. Em vez do reconhecimento da interdependência, os indivíduos perdem a noção de que compõem um todo maior. Vendo- se isolados, esses indivíduos priorizam suas vontades, afastando-se do conjunto de normas, regras e valores que limitam as ações no interior da sociedade. Essa configuração de ausência ou afastamento de limitadores é chamado de anomia, um momento de desorientação e dissenso entre os indivíduos e um desequilíbrio entre a consciência coletiva e a individual. Durkheim usa os momentos iniciais da Revolução Industrial e Francesa, os primeiros tempos do capitalismo, quando uma nova forma de organização econômica não encontrava respaldo legal e moral, causando inúmeros conflitos. Suicídio Por que Durkheim estuda o suicídio? Na verdade, é uma ideia brilhante. Na tentativa de consolidar a Sociologia como ciência, ele usa o senso comum e as outras ciências a seu favor. Quando falamos de suicídio, um exame racional, porém não tão profundo sobre o assunto, pode nos levar a crer que é um ato individual, pessoal e subjetivo. Durkheim, em sua pesquisa, busca provar que o suicídio tem um aspecto social, configurando-se como fato social, e que, por isso, deveria ser estudado também sob a luz das ciências sociais. Ele começa delimitando que considera suicídio como qualquer morte resultante da atuação positiva ou negativa do indivíduo (fazer ou deixar de fazer alguma coisa), onde esse indivíduo conhece as consequências de seu comportamento. Estudando as religiões como componente de produção de valores e normas de conduta, Durkheim conclui que sociedades majoritariamente protestantes têm taxas de suicídio maiores que as de sociedades católicas. Assim, o autor conecta códigos de conduta padronizados (fatos sociais) com o fenômeno estudado. Em sua teoria, encontramos as seguintes categorizações de suicídio: 5 Sociologia Egoísta: ocorre quando a consciência individual (o ego) supera a coletiva, tornando esse indivíduo “grande demais” ante a sociedade. A vida perde o sentido pelo descolamento desse ego da relação com a consciência coletiva. Altruísta: É o processo contrário. A consciência coletiva se dilata tanto que se torna insuportável para o ego. Ele se misturou a algo fora de si, deixou de ser individual. A barreira que o continha como consciência foi desfeita e está disposto a abandonar a vida pelo grupo. Anômico: Ocorre em momentos de anomia social, ou seja, a ausência ou afastamento dos padrões e regras morais de uma sociedade. Aqui a ordem é desfeita, e os indivíduos têm dificuldade de lidar com esse processo. Processo de degradação da normalidade social, como crises econômicas, guerras, grandes tragédias etc. produzem esse efeito. Clique aqui para visualizar o PPT utilizado em aula https://d3uyk7qgi7fgpo.cloudfront.net/lms/modules/supportMaterials/Descomplica-Top-2021-Turma-de-Fevereiro/PPTs-professores/d75a1520-d476-4172-95e6-3e4dee4ee6c1-aprofundamento---ppt---turma-abr---Durkheim-10-05-2021.pdf 6 Sociologia Exercícios 1. Arrependimentos terminais Em Antes de partir, uma cuidadora especializada em doentes terminais fala do que eles mais se arrependem na hora de morrer. “Não deveria ter trabalhado tanto”, diz um dos pacientes. “Desejaria ter ficado em contato com meus amigos”, lembra outro. “Desejaria ter coragem de expressar meus sentimentos.” “Não deveria ter levado a vida baseando-me no que esperavam de mim”, diz um terceiro. Há cem anos ou cinquenta, quem sabe, sem dúvida seriam outros os arrependimentos terminais. “Gostaria de ter sido mais útil à minha pátria.” “Deveria ter sido mais obediente a Deus.” “Gostaria de ter deixado mais patrimônio aos meus descendentes.” COELHO, M. Folha de São Paulo, 2 jan. 2013. O texto compara hipoteticamente dois padrões morais que divergem por se basearem respectivamente em a) satisfação pessoal e valores tradicionais. b) relativismo cultural e postura ecumênica. c) tranquilidade espiritual e costumes liberais. d) realização profissional e culto à personalidade. e) engajamento político e princípios nacionalistas. 2. A sociologia ainda não ultrapassou a era das construçõese das sínteses filosóficas. Em vez de assumir a tarefa de lançar luz sobre uma parcela restrita do campo social, ela prefere buscar as brilhantes generalidades em que todas as questões são levantadas sem que nenhuma seja expressamente tratada. Não é com exames sumários e por meio de intuições rápidas que se pode chegar a descobrir as leis de uma realidade tão complexa. Sobretudo, generalizações às vezes tão amplas e tão apressadas não são suscetíveis de nenhum tipo de prova. DURKHEIM, E. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. O texto expressa o esforço de Èmile Durkheim em construir uma sociologia com base na a) vinculação com a filosofia como saber unificado. b) reunião de percepções intuitivas para demonstração. c) formulação de hipóteses subjetivas sobre a vida social. d) adesão aos padrões de investigação típicos das ciências naturais. e) incorporação de um conhecimento alimentado pelo engajamento político. 7 Sociologia 3. Leia o texto a seguir: O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de algum modo; o saber próprio dos homens e das mulheres, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão, o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos especialistas, envolve, portanto, situações pedagógicas interpessoais, familiares e comunitárias, em que ainda não surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas de seus profissionais de aplicação exclusiva. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação? São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 20. O tema discutido no texto é uma preocupação nos estudos da Sociologia desde a sua consolidação como ciência. Nos trabalhos de Émile Durkheim, esse tema ganhou um destaque por considerar uma forma de integração dos indivíduos e de perpetuação dos hábitos e costumes do grupo, ou seja, dos fatos sociais. Sobre isso, assinale a alternativa que NÃO indica uma característica do tipo de transmissão do conhecimento. a) A aprendizagem acontece sem que haja um planejamento específico e, muitas vezes, sem que os sujeitos se deem conta. b) O processo de construção do conhecimento é permanente, contínuo e não previamente organizado, desenvolvendo-se ao longo da vida. c) O conhecimento transmitido permite ao sujeito resolver situações referentes aos processos de socialização e àqueles relacionados às imposições da natureza para sobrevivência do grupo. d) A percepção gestual, a moral e a comportamental, provenientes de meios familiares de amizade, de trabalho e de socialização midiática, fazem parte do rol de aprendizagens e conhecimentos. e) O conhecimento e a habilidade são transmitidos por meio de um currículo pré-definido em ambientes especializados, num processo conhecido como escolarização. 8 Sociologia 4. Um dos livros muito conhecidos do sociólogo Emile Durkheim é o “Da divisão do trabalho social”, obra publicada em 1893. Nesse livro, o autor identifica o surgimento de um novo método de trabalho que conduzia a uma nova fonte de interação social. Sobre a função da divisão do trabalho em Durkheim, assinale V para as afirmativas verdadeiras e F, para as falsas. ( ) A especialização das profissões e a divisão do trabalho baseiam-se em uma ética asceta que leva os indivíduos a buscarem acumulação e eficiência e a evitarem o desperdício e a preguiça. ( ) Os resultados econômicos da divisão do trabalho são de menor importância, pois o efeito moral, o sentimento de solidariedade que essa produz é a sua verdadeira função. ( ) Um arranjo social com classes dominantes e classes dominadas em constante conflito entre si é uma das principais implicações da divisão social do trabalho. ( ) A divisão do trabalho possibilita a coesão social, garantindo o funcionamento harmônico do organismo social. A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a a) V V V F b) F V V V c) F V F F d) F V F V e) V F F F 5. No Brasil, entre abril e maio de 2017, uma espécie de jogo conhecido como “Baleia Azul” causou alvoroço nas redes sociais digitais. Trata-se de uma série de desafios que culmina no suicídio do “jogador”, geralmente um indivíduo jovem. As reações, principalmente das famílias e das escolas, alertavam para a necessidade de reforçar os laços sociais e as regras de convívio coletivo. Também se disseminaram opiniões sobre a necessidade de os jovens concentrarem-se nos estudos e no trabalho como forma de manutenção do equilíbrio social. Mas o assunto não é novo em Sociologia. Os aspectos sociológicos do suicídio foram analisados por um autor clássico, Émile Durkheim, que, em 1897, publicou a obra “O Suicídio: estudo de sociologia”. Com base na teoria de Durkheim, caracterize o “suicídio anômico” como um tipo de suicídio específico das sociedades modernas. 9 Sociologia Gabarito 1. A Como podemos observar, o enunciado aponta a mudança, no interior de uma sociedade, do conjunto de valores normativos que guiam a ação dos indivíduos. Apesar de acreditarmos que estamos conscientes e livres em nossas escolhas, os padrões apresentados na questão remontam à teoria durkheimiana, que afirma haver um padrão de comportamento imposto pela sociedade e que há um consenso entre os indivíduos em torno dos objetivos do grupo social. 2. D Durkheim foi fortemente influenciado por Comte e o positivismo, que defendia uma ciência social dotada de métodos e espírito semelhante ao das ciências naturais. Por isso, sua teoria funcionalista é caracterizada pela tentativa de formulação de leis gerais e teorias abrangentes, além da coleta metódica de dados e informações sobre os fenômenos estudados. 3. E Durkheim não limita a passagem de conhecimento à escola e ao ensino formal. Na verdade, podemos interpretar de sua teoria que essa modalidade de educação representa uma pequena parte de todo o conhecimento necessário para a socialização do sujeito. O conjunto de valores, normas e regras necessários para a integração dos indivíduos dá conta de um vasto repertório de imposições sociais. 4. D I. Falsa. Ascese é uma característica da ética protestante, parte da teoria weberiana não apontada por Durkheim. II. Verdadeira. A coesão social produzida pela divisão do trabalho é o que importa para Durkheim. Ela é a responsável por manter a estrutura social funcionando. III. Falsa. Mais uma vez temos uma teoria de outro clássico da Sociologia, e não de Durkheim. O conflito no arranjo social é parte da teoria marxiana, já que Durkheim compreende o conflito como sintoma da anomia, e o desenvolvimento social gerado pela divisão social do trabalho deve ser ordenado. IV. Verdadeira – Para Durkheim, a divisão social do trabalho é a organização que nos permite permanecer unidos. Seja pela semelhança, na solidariedade mecânica, ou pela diferença, na solidariedade orgânica, é o trabalho e a produção da vida que dá forma à estrutura social 5. Durkheim verifica, por meio de estatísticas, certa regularidade de taxas de suicídio em intervalos de tempo determinados. Por vezes, essas taxas aumentam, estabilizam-se ou diminuem. Sua hipótese é que as causas encontram-se na sociedade e, portanto, são exteriores às consciências individuais. No caso do suicídio anômico, é justamente o estado anômico a origem dos suicídios. Anomia, para Durkheim, refere-se ao enfraquecimento das regras morais, coercitivas e reguladoras das paixões individuais. Em um estado anômico, a sociedade deixa de funcionar como freio moral às paixões individuais. O desregramento social provocado por uma crise econômica, por exemplo, faz com que alguns indivíduos, cujas limitações de desejo eram menores, devido a uma condição econômica mais elevada, cometam suicídio. E é nas sociedades modernas, caracterizadaspela solidariedade orgânica, nas quais o freio moral (coercitivo) encontra-se equilibrado com a divisão do trabalho como forma de coesão social, que o suicídio anômico tende a surgir como uma espécie de manifestação do desequilíbrio social.
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