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4 - ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO TRABALHADOR

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ATENÇÃO INTEGRAL À 
SAÚDE DO TRABALHADOR
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Luciane Eloisa Brandt Benazzi
Indaial - 2020
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2020
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
B456a
 Benazzi, Luciane Eloisa Brandt
 Atenção integral à saúde do trabalhador. / Luciane Eloisa Brandt 
Benazzi. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
 220 p.; il. 
 ISBN 978-65-5646-152-6
 ISBN Digital 978-65-5646-153-3
1. Saúde e trabalho. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da 
Vinci.
CDD 613.62
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
Relação entre Trabalho, Saúde e Adoecimento .......................7
CAPÍTULO 2
A Saúde do Trabalhador no contexto do Sistema Único 
de Saúde ........................................................................................77
CAPÍTULO 3
Assistência À Saúde do Trabalhador .....................................151
APRESENTAÇÃO
Prezado pós-graduando! Você iniciará a disciplina Atenção Integral à Saúde 
do Trabalhador e este material didático, o qual foi elaborado com muita dedicação, 
aborda assuntos pertinentes à temática Saúde do Trabalhador, considerando a 
transversalidade entre saúde e trabalho como um dos determinantes do processo 
saúde-doença e das condições de vida.
Cabe ressaltar que o trabalho, além de ser fonte de renda, ocupa papel 
primordial na vida do ser humano, e a saúde do trabalhador, enquanto campo de 
conhecimento, está voltada a analisar, avaliar e interceder na imbricada relação 
entre a saúde e o mundo do trabalho. No Brasil, a Saúde do Trabalhador constitui 
um campo da Saúde Coletiva e da Saúde Pública e, portanto, é interdisciplinar e 
multiprofissional.
Nesta perspectiva, a atenção integral à saúde dos trabalhadores, de forma 
conceitual, viabiliza ações de promoção, proteção, vigilância da saúde, assistência 
e reabilitação nos mais distintos níveis de atenção e gestão no âmbito do Sistema 
Único de Saúde (SUS), em articulação intra e intersetorial (MATTOS et al., 2019, 
p. 3).
Assim, a disciplina tem como objetivo principal qualificar diferentes 
profissionais para atuar com a temática Saúde do Trabalhador, a fim de promover 
a atenção integral aos agravos e problemas de saúde relacionados ao trabalho, 
colocando você em contato com aspectos históricos e teóricos, com as políticas 
públicas de saúde do trabalhador e com a discussão sobre os aspectos mais 
relevantes relacionados à saúde desta população.
Os conteúdos apresentados visam instrumentalizar você, profissional 
de saúde, a ter um olhar mais crítico, refinado e reflexivo sobre as múltiplas 
dimensões da Saúde do Trabalhador no Brasil, contribuindo para a melhoria da 
qualidade de vida do trabalhador, garantindo, desta forma, o seu direito à saúde.
O processo de construção deste livro está desenhado em três capítulos, a 
saber: o Capítulo 1, denominado Relação entre Trabalho, Saúde e Adoecimento, 
de caráter mais geral, apresenta o percurso histórico e conceitual da área da 
saúde do trabalhador necessário para a compreensão da relação entre trabalho 
e saúde. Assim, está formado por três tópicos: Aspectos históricos e conceituais 
sobre trabalho e saúde do trabalhador; Principais agravos à saúde do trabalhador 
no Brasil; e Atenção à saúde mental do trabalhador.
O conteúdo do Capítulo 2 se concentra nos principais componentes das 
políticas públicas de saúde do trabalhador e sua relação com o Sistema Único de 
Saúde (SUS), tendo sido denominado de “A Saúde do Trabalhador no contexto 
do Sistema Único de Saúde”, composto por três tópicos: Políticas Públicas em 
Saúde do Trabalhador; RENAST E CEREST e Saúde dos trabalhadores da área 
da saúde.
Já o Capítulo 3, designado “Assistência à Saúde do Trabalhador”, é dividido 
em três tópicos: Vigilância em saúde do trabalhador; Saúde do trabalhador na 
Atenção Básica; e Promoção da Saúde e Qualidade de vida: interfaces com a 
Saúde do Trabalhador.
Como se pode observar, os conteúdos são amplos, bastante teóricos e o 
material foi elaborado de forma que possibilite um estudo mais dinâmico e 
prazeroso, utilizando referencial teórico diversificado e atualizado.
Faz-se necessário esclarecer que será utilizada sempre a noção de 
trabalhadores contemplando sua dimensão de gênero, como trabalha dores e 
trabalhadoras.
No decorrer da disciplina, você será convidado a assistir e analisar filmes 
e documentários, acessar sites, bem como ler artigos científicos pertinentes e 
complementares aos temas desenvolvidos.
É de suma importância que você explore sua rotina de estudo, atendendo 
às demandas da disciplina, o que inclui a participação nos fóruns e atividades de 
ensino disponibilizadas ao final de cada tópico.
Esperamos que os conteúdos aqui tratados sejam úteis, que você incorpore 
no seu fazer diário todo este aprendizado e que seu estudo seja bastante 
produtivo.
Bons estudos e vá em frente!
Professora Luciane Eloisa Brandt Benazzi.
CAPÍTULO 1
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, 
SAÚDE E ADOECIMENTO
A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 proporcionar uma visão global e abrangente sobre o mundo do trabalho, 
oferecendo elementos conceituais acerca da noção de trabalho no contexto 
contemporâneo e as implicações do processo de trabalho sobre a saúde 
física e mental do trabalhador, a fi m de estimular um olhar crítico e refl exivo, 
possibilitando o reconhecimento da centralidade do trabalho na vida do ser 
humano e sua relação com a saúde e o adoecimento;
 estabelecer associação entre processo de trabalho, ambiente laboral e a saúde 
dos trabalhadores;
 oportunizar conhecimentos abrangentes relacionados ao mundo do trabalho, 
oferecendo elementos conceituais acerca da noção de trabalho no contexto 
contemporâneo e as implicações para as intervenções relacionadas à saúde;
 conhecer a evolução histórica e conceitual da medicina do trabalho, saúde 
ocupacional e saúde do trabalhador;
 compreender a estruturação do campo da saúde do trabalhador no Brasil;
 identifi car os principais agravos relacionados à saúde do trabalhador e suas 
relações com o processo saúde-doença;
 reconhecer os principais agravos à saúde mental que acometem de modo 
mais frequente a população trabalhadora e seus fatores desencadeantes, 
objetivando auxiliar os profi ssionais da área da saúde no combate ao fenômeno 
do crescimento dos transtornos mentais.
8
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
9
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Os temas relacionados a este capítulo serão apresentados em três tópicos, 
contemplando os aspectos históricos e conceituais sobre trabalho e saúde do 
trabalhador, em seguida, sobre os principais agravos à saúde do trabalhador no 
Brasil e, na sequência, serão tecidas considerações sobre a atenção à saúde 
mental do trabalhador.
Desta forma, é importante relembrarmos que o trabalho tem papel 
preponderante na vida humana, se tornando cada vez mais central, sendo 
que esta centralidade, por vezes, pode trazer consequências paradoxais para 
a integridade física, social e psíquica do trabalhador, se constituindo como 
eminente determinante no processo saúde-doença. Além disso, a maneira como 
desenvolvemosas atividades laborais, o modo como o trabalho é realizado, seja 
ele qual for, é denominado de processo de trabalho.
O trabalho é essencial para a sobrevivência, além de ser fator de inclusão 
social e reconhecimento. Possui duplo sentido, ou seja, proporciona satisfação, 
prazer, contentamento, estruturando o processo de identidade das pessoas, 
contribuindo para o desenvolvimento da sociedade, porém pode ser fonte 
inesgotável de adoecimento, produzindo enfermidades que comprometem a 
saúde do trabalhador.
Assim, o nexo entre trabalho, saúde e adoecimento é histórico, evidenciado 
desde Hipócrates (400 a.C.), considerado pai da medicina, passando por 
Ramazzini (1700), considerado precursor da medicina do trabalho, por muitos 
estudiosos, até chegar aos dias atuais com Mendes, Dias, Minayo-Gomez e 
Thedim-Costa, Vasconcellos, dentre outros estudiosos.
O mundo do trabalho, nas últimas décadas, sofreu inúmeras transformações, 
avanços e alguns retrocessos na conquista de direitos sociais e trabalhistas, 
tornando-se complexo, multifacetado e dinâmico. Sob esse prisma, novas formas 
de ver e de fazer o trabalho foram se moldando, se confi gurando à realidade e se 
adaptando às exigências da modernidade.
Já o campo da Saúde do Trabalhador, tema central da disciplina, é 
interdisciplinar, pois reúne estudos e práticas da saúde pública, dos setores 
sindicais e acadêmicos visando compreender os determinantes sociais do 
processo saúde-doença, os quais estão relacionados ao trabalho, bem como 
é interinstitucional por ser construído por atores de lugares sociais diversos e 
congruentes a objetivos comuns.
10
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
Portanto, falar em saúde do trabalhador e atenção integral a sua saúde 
implica se envolver na saúde pública, na prática médica e na de outras 
profi ssões da área da saúde e na saúde coletiva, abrangendo temas amplos e 
multidimensionais como trabalho, trabalhador, ambiente, tecnologia, saúde, 
doença, processo saúde-doença, dentre outros.
Não se pode deixar de reconhecer o caráter psicossocial do trabalho, pois é 
parte integrante da estrutura psíquica do homem por ser algo importante na vida, 
podendo ser uma fonte de saúde ou de doença, dependendo de como ocorre o 
processo de interação entre o trabalhador e o trabalho.
Assim, cabe aos profi ssionais que atuam no campo da saúde do trabalhador 
conhecer as conexões entre os processos de trabalho, saúde e adoecimento, 
dentro da perspectiva de múltiplos olhares.
Ao longo deste capítulo, trataremos da dimensão trabalho, importante 
no processo saúde-doença, procurando aproximá-lo das principais questões 
do campo da saúde do trabalhador, apresentando conceitos e características 
marcantes do mundo do trabalho, bem como serão abordados os principais 
agravos físicos e mentais mais comumente encontrados nos trabalhadores 
brasileiros. Dessa forma, este capítulo oferece a você elementos conceituais 
e teóricos que podem auxiliar o seu entendimento sobre essa temática tão 
heterogênea que é a saúde do trabalhador.
 Após essa breve contextualização, iniciaremos abordando o trabalho e a 
saúde do trabalhador considerando os aspectos históricos e conceituais. Deste 
modo, esperamos que você aproveite bem os conteúdos apresentados e participe 
das atividades propostas.
2 ASPECTOS HISTÓRICOS E 
CONCEITUAIS SOBRE TRABALHO 
E SAÚDE DO TRABALHADOR
Inicialmente, se faz necessário esclarecer que não se pretende esgotar 
temas tão complexos como são os aspectos históricos e conceituais, tampouco 
trazer informações exaustivas sobre a relação trabalho e saúde humana. Nosso 
intuito é apresentar algumas considerações relevantes, objetivando a pluralização 
do seu olhar para que você identifi que as linhas de força que conformaram o 
campo das relações trabalho e saúde no passado, refl etindo, assim, sobre a 
11
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
estrutura produtiva e seus efeitos sobre os saberes e as práticas na saúde do 
trabalhador.
Para isso, serão referenciados alguns conceitos, bem como apresentada 
parte da história da instauração do campo da relação saúde e trabalho, com 
exposição sucinta das mudanças no mundo do trabalho para situar a Saúde do 
trabalhador no cenário atual.
Desta forma, como primeira aproximação com o tema, 
convidamos você a refl etir sobre:
• O que você entende por trabalho?
• Qual a importância que o trabalho tem na sua vida?
Agora que você já refl etiu, é importante revisitar o mundo do trabalho para 
que se possa compreender o processo de reestruturação produtiva que ocorreu 
ao longo dos últimos séculos, o qual gerou transformações signifi cativas na forma 
de trabalhar e de viver.
2.1 O MUNDO DO TRABALHO
Vamos viajar no tempo para entender um pouco sobre o mundo do trabalho 
e sua ressignifi cação?
Primeiramente, é oportuno destacar que a palavra “trabalho” tem sua 
origem etimológica no latim tripalium (tri = três e palium = madeira ou pau), que 
inicialmente era um instrumento utilizado na lavoura para a cultura de cereais 
e que mais tarde passou a ser um instrumento de tortura (DUTRA-THOMÉ; 
KOLLER, 2014), conforme se pode visualizar na fi gura a seguir, tendo como 
signifi cado principal castigo, sofrimento, esforço para alcançar ou conseguir algo, 
de acordo com diversos autores. 
12
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
FIGURA 1 – TRIPALIUM
FONTE: <https://pt.slideshare.net/dionatanmoura/chega-
de-trabalhar>. Acesso em: 2 fev. 2020.
Contudo, a palavra trabalho nem sempre foi designada como algo terrível 
ou como martírio, haja vista que em japonês, hataraku, signifi ca “trabalhar e dar 
conforto ao próximo”, conforme comprova a história. Portanto, o termo “trabalho” 
varia de acordo com o contexto cultural a que o ser humano está inserido, 
apresentando signifi cados distintos.
É oportuno frisar que mesmo antes de ser associado à tortura, trabalhar 
signifi cava perder a liberdade, pois para os gregos, o trabalho manual e físico era 
desempenhado pelos escravos, sendo considerado humilhante. Em contrapartida, 
consideravam o trabalho intelectual digno dos seres livres e racionais (ROSSATO, 
2001). Portanto, é lícito supor que o trabalho é tão antigo quanto o homem, uma 
vez que para o homem primitivo, o trabalho era apenas para a sua sobrevivência. 
A expressão bíblica “ganharás o pão com o suor do teu rosto” nos remete 
a uma compreensão do trabalho como sofrimento, esforço, expiação e castigo, 
corroborando com o signifi cado de tripalium e reiterando que o trabalho é 
coexistente ao homem.
Na Idade Média, São Tomás de Aquino afi rma que tanto o trabalho físico 
como o intelectual se equivalem, embora ainda nessa época predomine a visão 
grega. E é na Renascença que o trabalho se torna prolongamento do homem, 
pois é por meio dele que o homem se torna criador, sendo que a satisfação vem 
do trabalho, o qual tem valor em si. Entretanto, com a Reforma Protestante, o 
trabalho passa por profunda mudança, uma vez que é visto como caminho para a 
salvação e a profi ssão vista como uma vocação (ROSSATO, 2001).
A partir do século XVIII, o trabalho é visto como transformador da realidade 
e, para Marx, a essência do homem está no trabalho, pois é por meio dele que 
o homem transforma a si e a natureza. Segundo Dias (1994), coube a Marx 
13
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
revolucionar a compreensão do papel do trabalho na vida do homem, sob a égide 
do capitalismo.
Mas é com a Revolução Industrial, devido à expansão da industrialização, 
provocando mudanças sociais, em especial com a migração da zona rural para 
os centros de produção, que o mundo do trabalho se transverte drasticamente, 
enfatizando o trabalho e não o sujeito que realizava o trabalho (ROSSATO, 2001; 
DEJOUR, 1987).
Convém destacar que, nesta época, as instalações das fábricas eram 
precárias e improvisadas, com ventilação e iluminação inadequadas, sem as 
mínimas condiçõesde higiene, pois não havia preocupação com a saúde e 
segurança do trabalhador. Ademais, a mão de obra era explorada, inclusive 
crianças eram utilizadas como trabalhadores dessas fábricas, devido ao valor 
salarial ser mais baixo, por terem agilidade e baixa estatura, facilitando a sua 
inserção para a limpeza das chaminés.
A organização das primeiras fábricas proporcionou uma revolução social e 
econômica, bem como os primeiros acidentes de trabalho surgiram devido às 
precárias condições de trabalho e, conforme Dutra-Thomé e Koller (2014), o 
trabalho se personifi cou na fi gura do trabalhador.
Para relaxar, que tal uma sessão de cinema? Não deixe de 
assistir ao fi lme Tempos Modernos, de
Charles Chaplin. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=ieJ1_5y7fT8.
FONTE: <https://fi lmow.com/tempos-modernos-t3597/>. Acesso em: 7 fev. 2020.
14
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
A virada ocorre quando o indivíduo tem a percepção de que a subsistência 
está embasada no trabalho e é graças a ele que pode satisfazer as suas 
necessidades materiais, ter uma vida mais digna, criar uma identidade, pertencer 
a um grupo/sociedade, bem como ter um propósito de vida e se realizar de forma 
profi ssional.
O trabalho se tornou complexo no capitalismo contemporâneo, visto que 
existe uma dupla dimensão no processo de trabalho, que, segundo Antunes et al. 
(2009, p. 231), “ao mesmo tempo cria e subordina, emancipa e aliena, humaniza e 
degrada, oferece autonomia, mas gera sujeição, libera e escraviza”.
O homo laborans, traçado por Arendt, sofreu mutação, ou seja, a sociedade 
do século XXI não é mais uma sociedade de obediência; o sujeito de obediência 
se transformou em sujeito de desempenho devido à terceirização da economia 
e o trabalhador se tornou o prisioneiro e o vigia, a vítima e o agressor (BYUNG-
CHUL, 2015). 
O contexto laboral atual se encontra em ebulição, se caracteriza pelas 
tecnologias de ponta, pela inserção do trabalhador na era do conhecimento, 
requerendo habilidades e competência para lidar com um mundo complexo e 
instável. Ademais, os avanços tecnológicos, como a automatização, a robótica e a 
inteligência artifi cial, por exemplo, geram novos postos de trabalho, mas também 
extinguem alguns, bem como exigem a readaptação profi ssional.
Dessa forma, do seu sentido originário, ou seja, de sofrimento e tormento, 
o trabalho evoluiu, mas ainda temos questões pendentes, uma dimensão de 
limitação, pressão e constrangimento que perdura por meio da noção de esforço, 
pois ele é realizado para os outros, com os outros, subordinado a um objetivo 
coletivo, sendo objeto de enfrentamentos e de confl itos.
Neste momento, fazemos a você um convite para compreender 
o mundo do trabalho contemporâneo: assista ao documentário The 
True Cost (Direção Andrew Morgan) Parte 1 disponível em: https://
www.dailymotion.com/video/x3aztjb e Parte 2 disponível em: https://
www.dailymotion.com/video/x3aztjc.
15
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
Além da importância coletiva, o trabalho é uma atividade empreendida 
socialmente pelos sujeitos, é um aspecto relevante para o desenvolvimento 
humano, com signifi cado que perpassa distintos contextos históricos, econômicos 
e sociais e diferentes linhas teóricas.
O trabalho, todavia, pode ser perigoso, insalubre, assim como pode ser uma 
fonte de exclusão para aquele que não o consegue. Mundialmente, tem-se altos 
índices de desemprego, milhares de trabalhadores informais e inúmeras pessoas 
em escravidão moderna. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho 
(OIT, 2017), 40 milhões de pessoas no mundo vivem em regime de escravidão 
moderna. 
No Brasil, esse cenário não é diferente, em especial no que se refere ao 
trabalho escravo contemporâneo. Dados do sistema informatizado do Ministério 
Público do Trabalho (MPT) informam que 45.028 trabalhadores foram resgatados 
em condições análogas à de escravo, entre 2003 e 2018, e que em 2019 houve 
1.213 denúncias em todo o país (BRASIL, 2019a).
Para contextualizar e exemplifi car o acima citado, assista ao 
documentário Precisão, lançado em janeiro de 2020, em parceria 
com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Ministério 
Público do Trabalho (MPT), o qual retrata as histórias de vida de 
pessoas resgatadas de condições análogas à de trabalho escravo. 
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IGK_m8VKNsM.
Outro ponto a refl etir é que existe um número extremamente elevado de 
pessoas que cumprem longas jornadas de trabalho ou duplas/triplas jornadas, o 
surgimento de novas modalidades de trabalho como: autônomo, parcial, domiciliar 
(home offi ce), temporário e terceirizado, alterando a saúde do trabalhador. Sem 
esquecer, é claro, de um contingente de pessoas que morrem em virtude dos 
acidentes de trabalho e de doenças ocupacionais.
Em decorrência da competitividade e da globalização, as empresas no intuito 
da redução de custos acabam mudando seus processos gerenciais, intensifi cando 
o trabalho por meio do aumento da jornada, do ritmo acelerado e do acúmulo de 
funções de seus colaboradores, bem como a redução do quadro funcional.
Congruente a isso, há a fl exibilização das legislações, por parte 
16
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
governamental, em busca de mais competitividade para o país, reduzindo os 
direitos do trabalhador para atrair novos investimentos e incentivar a criação de 
novos empregos. 
Não se pode deixar de mencionar a Lei nº 13.429/2017, que institucionalizou 
a “terceirização irrestrita”, a qual agravou o acelerado e devastador processo 
de precarização do trabalho e de desproteção social, assim como a Lei nº 
13.467/2017, a qual institucionalizou o ‘desmanche’ da legislação trabalhista, 
atacando os princípios fundamentais que caracterizam o “trabalho decente” e o 
“trabalho seguro e saudável”. Mais recentemente, tem-se a Lei nº 13.846/2019, 
anunciada como medida para combater supostas irregularidades na concessão de 
benefícios previdenciários, constituindo, na verdade, em um perverso instrumento 
para eliminar ‘direitos previdenciários’, acidentários e de prestação continuada, 
como muito bem exposto por Mendes (2019).
Desse modo, todas essas transformações têm impactos sobre a saúde 
dos trabalhadores, em especial num país de dimensões e desigualdades como 
o Brasil, onde as formas antigas e modernas de trabalhar coabitam o mesmo 
espaço.
Mas, quem são os trabalhadores?
Trabalhadores (as) são todos (as), homens e mulheres que 
trabalham na área urbana ou rural, independentemente 
da forma de inserção no mercado de trabalho, formal ou 
informal, de seu vínculo empregatício, público ou privado, 
assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativado, 
aprendiz, estagiário, doméstico, aposentado e mesmo os 
desempregados (BRASIL, 2012, s.p.).
Partindo desse conceito, Mendes (2019) elucida que a ampliação e a 
universalização não são meramente semânticas ou teóricas e sim que estão 
no cerne da universalização dos direitos à saúde e ao seu acesso, rompendo 
com as delimitações formais vinculadas ao trabalhador com carteira assinada, 
contribuinte da Previdência Social.
E quantos são os trabalhadores no Brasil? De acordo com dados divulgados 
no fi nal de 2019, pelo IBGE por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de 
Domicílios (PNAD), a força de trabalho está estimada em 93,4 milhões de 
brasileiros, sendo que destes, 38,4 milhões estão atuando na informalidade 
(BRASIL, 2020).
Face ao exposto, podemos dizer que as relações entre trabalho e saúde 
formam um mosaico, coexistindo situações heterogêneas de trabalho, o qual é 
17
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
caracterizado por distintas formas organizacionais e de gestão, incorporações de 
tecnologias variadas e de múltiplos contratos trabalhistas, refl etindo, dessa forma, 
sobre o modo de vida do trabalhador, pois ao mesmo tempo que o trabalho é 
edifi cante,é determi nante para a produção de condições de saúde e adoecimento.
Por fi m, infere-se que o trabalho, ao longo da história, passou (e continuará 
passando) por metamorfoses tanto em seu modo de ser entendido como em 
decorrência das variações tecnológicas, tendo sido interpretado como castigo e 
sofrimento, valorizado como vocação, fonte de salvação até chegar nos moldes 
de precarização ou uberização, como alguns denominam, carregando polo 
negativo e positivo, com mutabilidade de sua signifi cação e representação para a 
sociedade, contribuindo para o desenvolvimento do indivíduo.
Convém ressaltar que, sobre essa temática, poderíamos 
discorrer muito mais, no entanto, nosso intuito foi apenas apresentar 
algumas considerações relevantes a fi m de contextualizar.
A partir desse pano de fundo, seguiremos para o próximo tema.
2.2 DA MEDICINA DO TRABALHO 
À SAÚDE DO TRABALHADOR: 
MOMENTO HISTÓRICO E 
CONCEITUAL
Agora que você já conheceu um pouco sobre o mundo do trabalho, vamos 
contextualizar as principais concepções teóricas e metodológicas em termos 
de saúde no âmbito das relações laborais – a Medicina do Trabalho, a Saúde 
Ocupacional e a Saúde do Trabalhador.
Serão discutidos a trajetória histórica como campo do conhecimento, as 
mudanças ocorridas, os fatores que impulsionaram tais mudanças e a visão 
contemporânea de saúde do trabalhador.
18
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
De antemão, cabe esclarecer que existem diferenças entre Medicina do 
Trabalho, Saúde Ocupacional e Saúde do Trabalhador, apresentando campos 
ideológicos específi cos, com determinações históricas concretas e, portanto, tais 
diferenças não são meramente semânticas, conforme Vasconcellos (2011). 
Vamos aprofundar a compreensão sobre o desenvolvimento dessas três 
nomenclaturas da área da saúde no trabalho e vermos as diferenças? Iniciaremos 
pela Medicina do Trabalho.
2.2.1 Medicina do Trabalho
De acordo com o clássico Hunter‘s Diseases of Occupations, o primeiro 
serviço médico em um local de trabalho é 1789, sendo que o Dr. Peter Holland 
era médico de uma indústria têxtil, em Quarry Bank (Inglaterra), havendo 
registros clínicos das suas consultas desde 1804 (MURRAY, 1987, p. 113 apud
HENRIQUES, 2004).
No entanto, coube à cidade de Leeds, a qual era o grande centro algodoeiro 
da Inglaterra, ser considerada “o berço da medicina do trabalho”, tendo como 
protagonista o Dr. Robert Backer, médico particular do empresário do setor têxtil 
Robert Dernham, que o aconselhou a criar um serviço médico na sua fábrica, 
instaurando-se, assim, o primeiro modelo de atenção à saúde do trabalhador, 
centrado na atividade médica (HENRIQUES, 2004; MENDES; DIAS, 1991).
Os serviços de Medicina do Trabalho logo se espalharam por outros países 
para controlar e atrelar o trabalhador e sua família à indústria e, posteriormente, 
esse modelo se expandiu para países de industrialização tardia como o Brasil 
(MENDES; DIAS, 1991).
Fundamentada nesses dados, a medicina do trabalho tem seu surgimento na 
primeira metade do século XIX, na Inglaterra, no contexto da Revolução Industrial, 
haja vista a crescente demanda pela força de trabalho, a qual era vendida pelo 
trabalhador para a empresa em que ele estava inserido.
Vale relembrar que com o advento da Revolução Industrial, os trabalhadores 
(homens, mulheres, jovens e crianças) se submetiam a um processo acelerado 
e desumano de produção, com jornadas de trabalho extenuantes, em espaços 
inadequados e aglomerados, o que propiciava a proliferação de doenças 
infectocontagiosas, além da periculosidade das máquinas que mutilavam e, em 
muitas ocasiões, levavam à morte (MENDES; DIAS, 1991; MINAYO-GOMEZ; 
THEDIM-COSTA, 1997). 
19
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
Evidentemente, segundo Henriques (2004), não se poderia denominar como 
medicina do trabalho, pois, nesta época, os serviços ofertados eram de forma 
curativa e individualizada, objetivando o diagnóstico e tratamento da doença, 
dentro do local de trabalho, com abordagem da clínica geral, sem interferir nos 
fatores causais. Não obstante, o serviço prestado ao trabalhador era de extrema 
importância, tendo em vista que não havia garantido o direito à saúde aos 
trabalhadores.
Na época, o objetivo da medicina do trabalho era assegurar a continuidade e 
reprodução do processo de produção industrial que estava sendo ameaçado pelas 
condições de trabalho insalubres a que os trabalhadores estavam submetidos. 
Para tanto, a inserção de um médico no interior da fábrica representava um 
esforço, por parte do empresário, em identifi car os processos danosos à saúde 
dos trabalhadores, além de possibilitar uma rápida recuperação daqueles que 
estavam doentes, visando ao retorno à linha de produção o mais breve (MENDES; 
DIAS, 1991; MINAYO-GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997). 
Sob esse prisma, o médico era um mediador competente para os embates 
decorrentes entre os trabalhadores e o empresariado, uma vez que a ênfase era 
a doença do trabalhador, fazendo com que seu corpo funcionasse conforme a 
norma, adequando-o ao trabalho, reduzindo-o a um objeto, sem considerar sua 
vida fora do ambiente laboral.
De acordo com Mendes e Dias (1991), a Medicina do Trabalho se constituiu 
como uma atividade médica, tendo sua prática dentro dos locais de trabalho, 
sendo que o médico, o qual era de confi ança do empresário, tinha a competência 
de controlar o absenteísmo, selecionar os trabalhadores hígidos conforme suas 
aptidões, recaindo sobre ele a responsabilidade dos problemas de saúde, ou 
seja, desresponsabilizando o empregador. Em síntese, pode-se dizer que não 
eram médicos do trabalho e sim médicos no trabalho.
Diante desse cenário, a Medicina do Trabalho apresenta uma visão altamente 
biologicista, individualizada, fundada na concepção positivista e mecanicista de 
saúde e orientada pela unicausalidade, buscando os fatores causais das doenças 
e dos acidentes no espaço restrito da fábrica (MINAYO-GOMEZ; THEDIM-
COSTA, 1997). 
Nesta acepção, segundo Cruz, Ferla e Lemos (2018), a preocupação com a 
saúde no trabalho tem sua gênese na medicina do trabalho, a qual tem um olhar 
direcionado ao diagnóstico e à medicalização do trabalhador, ou seja, numa linha 
de cuidado médico-centrada – o médico, protagonista da Medicina do Trabalho, 
tinha a incumbência de isolar riscos específi cos e medicalizar os trabalhadores.
20
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
No início do século XX, a Medicina do Trabalho permanecia estruturada na 
fi gura do médico do trabalho, o qual atuava sobre o trabalhador, sob a ótica da 
medicina do corpo, biológica e individual, com abordagem clínico-terapêutica, 
sendo que, no máximo, analisava o ambiente laboral e a ação patogênica 
de determinados agente. Eram desenvolvidas práticas assistenciais, tendo o 
trabalhador como objeto das ações, as quais estavam centralizadas no ambiente 
laboral (DIAS, 1994; DIAS; HOEFEL, 2005).
Outra característica relevante da Medicina do Trabalho é referente à busca 
por efi ciência produtiva e pela infl uência da racionalidade econômica, proposta 
por Townsend, em 1943, quando relatou que a medicina do trabalho deve se 
ocupar com cada estágio da saúde do homem que opera uma máquina, desde 
a poeira industrial respirada por ele até a comida em sua marmita, uma vez que 
o objeto é manter o trabalhador com boa saúde e apto para o trabalho, com a 
máxima efi ciência (TOWNSEND, 1943).
Após a Segunda Guerra Mundial, e com uma nova Revolução Industrial, 
a Medicina do Trabalho não estava mais atendendo às expectativas dos 
envolvidos, em especial dos trabalhadores, os quais demonstravam insatisfação, 
questionando sobre as condições insalubres a que eram submetidos, a respeito 
dos adoecimentos decorrentes do trabalho e em relação à forma como os serviços 
de medicina do trabalho estavam atuando, ou seja, centrada no adoecimento 
do trabalhador, necessitando, portanto, ganhar novos formatos, ampliandoseu 
espectro de ação. 
Nesse período, as relações entre trabalhadores e ambientes de trabalho 
foram intensifi cadas de forma negativa, assim como os próprios empresários 
começaram a perceber que as doenças ocasionadas pelo trabalho demandavam 
elevados custos, conforme Minayo-Gomes e Thedin-Costa (1997).
É preciso destacar que a oferta dos serviços médicos aos trabalhadores 
se tornou uma preocupação no âmbito internacional, fazendo parte da agenda 
da Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1919, conforme 
Mendes e Dias (1991). Desse modo, a OIT, em 1953, por meio da Recomendação 
nº 97 (Proteção da Saúde dos Trabalhadores) apregoou a conformação de 
serviços médicos nas corporações, sendo considerada uma conquista para 
os trabalhadores, assim como, em 1959, apresentou a Recomendação nº 112 
referente aos Serviços de Medicina do Trabalho de caráter privado.
Nessa perspectiva, o modelo da Medicina do Trabalho e a prática dos Serviços 
de Medicina do Trabalho, devido as suas limitações e relativa impotência para 
intervir sobre os problemas de saúde ocasionados pelos processos de produção, 
prejudicaram a concretização das propostas previstas na Recomendação nº 112, 
21
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
sendo necessário reavaliar e reestruturar o sistema vigente.
Antes de prosseguirmos para a Saúde Ocupacional, que tal refl etirmos um 
pouco?
A nomenclatura Medicina do Trabalho não traz o sujeito do 
trabalho, que é o trabalhador, assim como não se refere à saúde 
e sim ao termo medicina, que é uma ciência médica e que limita 
a atuação a um único profi ssional, o médico. Já o termo saúde, 
etimologicamente, signifi ca bem-estar, cura, conservação da vida, 
assim como amplia o espectro, abarcando outros profi ssionais, ou 
seja, profi ssionais da saúde. Seria, então, uma medicina do ambiente 
de trabalho e não do trabalhador?
Essa refl exão servirá para que você entenda melhor a afi rmação inicial e 
compreenda melhor as diferentes nomeações que vêm sendo construídas no 
decorrer da história.
Também é relevante apresentar a defi nição de Medicina do Trabalho dada 
pelo Glossário Temático de Saúde do Trabalhador do Mercosul:
Disciplina das ciências médicas que se encarrega de avaliar, 
controlar, proteger e recuperar a saúde dos trabalhadores 
ameaçada pelas condições de trabalho e pelos fatores de 
risco presentes no ambiente laboral. Preocupava-se quase 
exclusivamente com atendimento médico. Conceitualmente, 
hoje, suas missões e funções se ampliaram e o termo foi 
substituído por Saúde Ocupacional (BRASIL, 2014, p. 38).
2.2.2 Saúde Ocupacional
Como vimos anteriormente, o primeiro ciclo da Revolução Industrial ampliou 
a exploração da mão de obra, incorporando o trabalho da criança, jovem e mulher, 
aumentando o ganho dos empresários e, consequentemente, a degradação do 
trabalho.
No início do século XX, em decorrência das duas guerras mundiais, novos 
problemas e necessidades de saúde no trabalho surgiram, ocasionados pelas 
22
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
mudanças nos processos produtivos (DIAS; HOEFEL, 2005). Também ocorreu a 
implantação de modifi cações no processo de trabalho, com o fordismo (modelo 
de produção em massa, ou seja, linha de produção) e o taylorismo (fragmentação 
do processo de trabalho), os quais predominaram na maior parte da indústria 
capitalista, apresentando uma separação sistemática entre quem executa o 
trabalho e quem pensa.
Esse novo arranjo do trabalho e seus desdobramentos acabaram por 
demonstrar que a Medicina do Trabalho era insufi ciente para intervir sobre os 
agravos à saúde decorrentes desses processos de produção, conforme Mendes 
e Dias (1991).
Em virtude disso, surge a Saúde Ocupacional, tendo como principal estratégia 
a intervenção nos locais de trabalho por meio da atuação multiprofi ssional, com 
traços de interdisciplinaridade, com a fi nalidade de controlar os riscos ambientais 
e com ênfase na higiene industrial ou higiene do trabalho. 
Segundo Dias e Hoefel (2005), outros profi ssionais passaram a compor a 
equipe médica, evidenciando aspectos da segurança do trabalho, da higiene e 
da ergonomia, com abordagem multidisciplinar, ampliando o foco das ações de 
saúde, mas monopolizadas no ambiente de trabalho e atreladas aos parâmetros 
científi cos dos denominados “limites de tolerância”, mas mantendo o trabalhador 
como objeto das ações.
A Saúde Ocupacional incorpora a teoria da multicausalidade, considerando 
que a doença é produzida por um conjunto de fatores de riscos, devendo ser 
avaliada pela clínica médica por meio de indicadores biológicos e ambientais, 
utilizando os fundamentos teóricos a partir do modelo da História Natural da 
Doença de Leavell & Clark , a qual se torna insufi ciente para relação entre o 
homem e o trabalho (MINAYO-GO MEZ; THEDIM-COSTA, 1997).
Nesse sentido, a Saúde Ocupacional busca correlacionar o ambiente laboral 
com o corpo do trabalhador, analisando o adoecimento ou a lesão como multicausal 
por meio do olhar clínico e de indicadores de exposição, desconsiderando os 
aspectos culturais e biopsicossociais (CRUZ; FERLA; LEMOS, 2018).
Vale realçar que devido à atuação de equipes multiprofi ssionais e à 
incorporação da teoria da multicausalidade, a centralidade na fi gura do médico já 
não era mais a marca principal do serviço.
A Saúde Ocupacional introduziu modifi cações no campo da saúde, ampliou a 
atuação da Medicina do Trabalho que estava focada basicamente no tratamento 
do trabalhador doente, de forma individual, passando a avaliar grupos de 
23
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
trabalhadores expostos e não expostos a agentes de riscos, buscando minimizar 
os impactos negativos do processo laboral, visando à prevenção no ambiente de 
trabalho e à saúde do trabalhador.
De acordo com Cruz, Ferla e Lemos (2018), a Saúde Ocupacional está 
focada em procedimentos, diagnósticos e prevenção dos riscos no trabalho, 
pautada na Epidemiologia e numa linha de cuidado voltada ao administrativo 
medicalizante. 
De acordo com o Glossário Temático de Saúde do Trabalhador do Mercosul, 
Saúde Ocupacional é assim defi nida:
Saúde Ocupacional é uma atividade multidisciplinar que 
procura promover um trabalho seguro e saudável, como 
bons ambientes e organizações, eliminando ou minimizando 
eventuais riscos, distribuindo os trabalhadores de maneira 
adequada às suas aptidões físicas e psicológicas, adaptando o 
trabalho ao homem, respaldando-se no aperfeiçoamento e na 
manutenção de sua capacidade de trabalho, promovendo maior 
grau de bem-estar físico, mental e social nos trabalhadores de 
todas as profi ssões. Ao mesmo tempo em que tenta habilitar 
os trabalhadores para terem vidas sociais e economicamente 
produtivas, enquanto contribuem efetivamente com o 
desenvolvimento sustentável, a saúde ambiental permite o 
enriquecimento humano e profi ssional no trabalho (BRASIL, 
2014, p. 51).
Na esteira das concepções, a transição da Medicina do Trabalho para a 
Saúde Ocupacional sofreu infl uência da área da Saúde Pública, a qual explorava 
a saúde do trabalho e suas especifi cidades, priorizando a prevenção e a proteção 
da saúde do trabalhador representando uma evolução em relação à concepção 
curativa da Medicina do Trabalho. Outrossim, as práticas da Saúde Ocupacional 
privilegiavam o uso de equipamentos de proteção individual, com ações voltadas 
ao trabalho seguro, responsabilizando o próprio trabalhador pelo acidente ou 
doença que porventura viesse ocorrer e, portanto, resultando em uma prevenção 
simbólica.
Neste enfoque, a Saúde Ocupacional visava responder de forma científi ca 
e racional aos problemas de saúde instaurados pelos processos e ambientes de 
trabalho, assim como tentava quantifi car a reação ou resistência do trabalhador 
aos fatores de riscos ocupacionais/ambientais, por meio da Toxicologia e dos 
parâmetros preconizados como limites de tolerância.Assim, a Saúde Ocupacional, com ênfase na higiene industrial, tem por 
fi nalidade controlar os riscos ambientais, refl etindo a infl uência das escolas 
de saúde pública, sendo compreendida por Mendes e Dias (1991) como uma 
24
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
atividade da Saúde Pública dirigida aos trabalhadores, sejam eles empregados 
de um estabelecimento, trabalhadores de uma região ou pertencentes a uma 
categoria profi ssional.
Embora a Saúde Ocupacional tenha trazido novos olhares e novas 
perspectivas para a saúde do trabalhador, as práticas, apesar de ideologicamente 
mais avançadas, permaneciam as mesmas, ainda focada no aumento da 
produtividade, na conservação da força de trabalho e na redução dos custos 
relacionados à morbimortalidade no ambiente de trabalho, se mantendo na 
racionalidade mecanicista e positivista do modelo anterior, ou seja, da Medicina 
do Trabalho, conforme Mendes e Dias (1991).
A confi guração da Saúde Ocupacional se limita a intervenções pontuais 
sobre os riscos mais marcantes, considerando conceitos de limites de exposição 
e de tolerância, não favorecendo a apreensão de outras formas nocivas do 
trabalho, bem como não permitindo investigações de outras determinações para 
os problemas pertinentes aos processos de trabalho (LACAZ, 2007).
Nessa acepção, é plausível relacionar a Saúde Ocupacional a uma prática 
que se conforma por técnicas e conteúdos com as evidências científi cas, as quais 
têm como objetivo garantir trabalhadores saudáveis e produtivos para que a 
produção e/ou produtividade da empresa seja assegurada.
O conceito da Saúde Ocupacional, com a nova visão do caráter histórico do 
processo saúde-doença, passou a ser criticado, visto que o trabalho era entendido 
apenas como um problema ambiental, em que o trabalhador estava exposto a 
agentes químicos, físicos, biológicos e psicológicos.
Vale pontuar que, no fi nal dos anos 1960, novas mudanças sociais 
acontecem, sendo que questões trabalhistas começam a ser tratadas de uma 
nova forma, alicerçadas como direitos fundamentais dos trabalhadores. Atrelada 
a essas mudanças, se coloca em xeque o signifi cado do trabalho, o sentido da 
vida, os conceitos relativos ao trabalho, surgindo questionamentos e críticas ao 
modelo da Saúde Ocupacional, exigindo que os trabalhadores participassem de 
forma efetiva nas questões de saúde e segurança do trabalho.
2.2.3 Saúde do Trabalhador
Na metade da década de 1960, mais especifi camente em maio de 1968, 
movimentos operários e estudantis parisiense marcaram a história, sendo 
decisivos, uma vez que questionamentos sobre o sentido da vida, o signifi cado 
25
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
do trabalho na vida, o valor da liberdade, dentre outros, abalaram a confi ança do 
Estado, colocando em xeque o lado “místico e sagrado” do trabalho, fazendo com 
que a temática à saúde do trabalhador ganhasse reconhecimento entre os países 
industrializados.
Nesse mesmo período, mais especifi camente entre 1967 e 1969, surge 
o Modelo Operário Italiano (MOI), confi gurado como a experiência de luta das 
questões de saúde relacionadas ao trabalho mais avançada, depois da pós-
guerra, a qual infl uenciou a constituição da Saúde do Trabalhador.
Devido ao avanço dos movimentos sociais, a participação dos trabalhadores 
nas questões de saúde e segurança no trabalho se intensifi cam, surgindo novas 
políticas sociais, mudanças signifi cativas na legislação trabalhista e, em especial, 
nas questões de saúde e segurança do trabalho, como no caso da Itália, que 
cria o Estatuto dos Trabalhadores, em maio de 1970, por meio da Lei nº 300 
(MENDES; DIAS, 1991).
Na perspectiva histórica é difícil precisar o momento exato do surgimento da 
área temática da saúde do trabalhador, sendo fi xado este tempo nos anos 1970, 
coincidindo com os movimentos sociais e com a formulação do modelo explicativo 
da determinação social do processo saúde-doença.
Diante da organização capitalista do trabalho, a compreensão da relação 
entre saúde e trabalho se modifi ca, devido ao progressivo surgimento de acidentes, 
intoxicações, doenças e manifestações crônicas do desgaste dos trabalhadores, 
surgindo, então, a Saúde do Trabalhador, a partir dos questionamentos do caráter 
positivista e histórico do modelo médico tradicional provenientes de estudos da 
Medicina Preventiva, Medicina Social e da Saúde Pública (MINAYO-GOMEZ; 
THEDIM-COSTA, 1997).
Assim, entende-se que a Saúde do Trabalhador é um o conjunto de 
conhecimentos provenientes de várias disciplinas, associado ao saber do 
trabalhador sobre seu ambiente laboral e suas vivências, que propõe intervenção 
nos ambientes de trabalho, além de uma nova prática de atenção à saúde 
dos trabalhadores, que perpassa a promoção, prevenção, cura e reabilitação, 
incluindo ações de vigilância epidemiológica e sanitária (NARDI, 1997).
Nessa perspectiva, propõe uma visão mais ampliada do binômio trabalho-
saúde em relação aos modelos anteriores, privilegiando, desta vez, o trabalhador 
como protagonista, contrapondo-se à Medicina do Trabalho e à Saúde 
Ocupacional em que este (o trabalhador) é um objeto-paciente da atuação de 
especialistas, conforme preceitua Nardi (1997), evidenciando a saúde do trabalho 
e não o trabalhador em si, conforme propõe a Saúde do Trabalhador. 
26
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
Na Saúde do Trabalhador, o trabalhador é sujeito político coletivo, agente de 
transformação e não mais visto como paciente e objeto de intervenção profi ssional 
como na Saúde Ocupacional, de acordo com Minayo-Gomes (2011).
Esse novo modelo reconhece como fundamental a participação efetiva dos 
trabalhadores nas ações de saúde, tendo como elemento central e diferenciador o 
trabalhador, reconhecido como sujeito social partícipe da organização do trabalho, 
bem como a determinação social do processo saúde-doença, além de ampliar o 
campo de atuação e investigação em comparação aos modelos anteriores.
A Saúde do Trabalhador incorpora a lógica da Saúde Pública por meio 
da promoção da saúde, prevenção de riscos e participação do trabalhador em 
perspectiva coletiva, surgindo como crítica à Medicina do Trabalho e Saúde 
Ocupacional, em especial ao modelo trabalhista-previdenciário ligado a ambas 
concepções, com a fi nalidade de ultrapassar as visões reducionistas de causa e 
efeito, amparada pela unicausalidade entre doença e agente (MENDES; DIAS, 
1991; LACAZ, 2007).
Conforme Porto e Almeida (2002), a Saúde do Trabalhador é um campo 
multiprofi ssional e interdisciplinar, envolvendo as ciências sociais e hu manas 
(psicologia, assistência social e sociologia); as ciências biomédicas (a clínica e 
suas especialidades, a medicina do trabalho e a toxicologia); e áreas tecnológicas 
(higiene e engenharia de segurança do trabalho, engenharia de produção e er-
gonomia).
A abordagem em Saúde do Trabalhador, que ainda está em construção, 
busca os agentes causais do adoecer e do óbito dos trabalhadores decorrentes 
dos processos de trabalho, bem como compreender os níveis de complexidade 
da relação saúde e trabalho, resgatando o lado humano do trabalho.
Diante do exposto, infere-se que a Saúde do Trabalhador, por considerar o 
trabalho como fator determinante da saúde, busca o bem-estar, a qualidade de 
vida do trabalhador e integralidade do cuidado da saúde, embora possa provocar 
adoecimento e morte, não se limitando à prevenção ou ao enfrentamento dos 
problemas concernentes ao trabalho, mas assegurando melhores condições 
laborais por meio da promoção da saúde e do empoderamento do trabalhador.
O Glossário Temático de Saúde do Trabalhador do Mercosul (BRASIL, 2014, 
p. 50-51) aborda a Saúde do Trabalhador da seguinte forma:
Em muitos países, a população trabalhadora enfrenta os 
efeitos negativos provenientes das más condições de vida 
e de trabalho que favoreceram a aparição de um novo perfi l 
de exigências e múltiplos riscos; difíceis de detectar,eles 
27
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
causam deterioração física e mental e, consequentemente, o 
aumento da mortalidade. É imprescindível, então, identifi car 
tais riscos, avaliá-los, monitorá-los, oferecer informação e 
apoio técnico a seu respeito e buscar os meios adequados 
para limitá-los e eliminá-los. Essa gestão deve ser analisada 
levando em conta o paradigma econômico e social existente 
em cada país (em determinado momento) e considerando 
também as 24 horas da vida do trabalhador, uma vez que seu 
trabalho determinará sua vida familiar, sua vida cultural, seu 
tempo livre etc. Devem ser incorporadas outras disciplinas ao 
tema, e os trabalhadores devem estar presentes, somando 
suas experiências acumuladas e sua opinião direta. Daí vem 
a necessidade de tratar a Saúde do Trabalhador como um 
conceito mais amplo, em vez de apenas “saúde no trabalho” 
ou “saúde ocupacional”. 
Vale lembrar que a Saúde do Trabalhador não surge com cunho substitutivo, 
pois a Saúde Ocupacional coexiste ainda hoje e, segundo Vasconcellos (2011), a 
diferença entre elas está presente na ideologia e aspectos culturais, econômicos, 
sociopolíticos, normativos e institucionais.
Para Porto e Almeida (2002), um dos desafi os da Saúde do Tra balhador é a 
integração das ações com a Saúde Ambiental, se constituindo como um campo 
mais abrangente entre saúde, trabalho e ambiente. 
Para concluir, demarcadas as diferenças entre esses três modelos, se 
constata, a partir do percurso analítico, que a Medicina do Trabalho, a Saúde 
Ocupacional e a Saúde do Trabalhador são referenciais teórico-metodológicos e 
que não foram construídos de forma linear. 
Agora que você já conheceu os três modelos que historicamente 
têm orientado as práticas voltadas para as relações de saúde-
trabalho no âmbito internacional, está na hora de compreender e 
conhecer a Saúde do Trabalhador no Brasil. 
2.3 CONHECENDO A SAÚDE DO 
TRABALHADOR NO BRASIL
Para uma melhor apreensão da conjuntura atual, vale traçar uma linha 
28
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
histórica que demarque as principais fases relacionadas à evolução da saúde do 
trabalhador no Brasil até os dias de hoje.
Em 1888/1889, a revolução burguesa nacional se inicia com a abolição da 
escravatura e a Proclamação da República, sendo que na primeira fase se tem 
os primeiros passos rumo à industrialização – com o cultivo do café – e como 
segunda fase, a crise do pacto oligárquico republicano, em 1930, à entrada 
nacional no capitalismo monopolista, com a ditadura militar.
A partir desse processo é que no Brasil se pode falar na presença das 
classes (em formação) burguesa e trabalhadora, sendo que com o alvorecer da 
indústria brasileira é que se começa a pensar nas medidas de proteção social e 
de implantação dos modelos de Medicina do Trabalho/Saúde Ocupacional nas 
empresas.
Contudo, como bem vimos anteriormente, basicamente, o conceito de Saúde 
do Trabalhador surgiu por intermédio do Movimento Operário Italiano (MOI), o 
qual refutava os padrões estabelecidos pela Medicina do Trabalho e Saúde 
Ocupacional, se concentrando no protagonismo do trabalhador como sujeito ativo 
no processo saúde/doença.
Cabe salientar que o MOI infl uenciou várias iniciativas na saúde do trabalhador 
no Brasil, desde a articulação sindical em saúde (Comissão Intersindical de Saúde 
do Trabalhador – CISAT; Departamento Intersindical de Estudos de Saúde e dos 
Ambientes de Trabalho – DIESAT e do Instituto Nacional de Saúde no Trabalho 
da Central Única dos Trabalhadores – INST/CUT), perpassando pelo campo 
científi co, no âmbito da saúde coletiva, por meio das bases constitutivas da área 
de conhecimentos e práticas em saúde do trabalhador até as legislações e as 
ações da Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT), conforme Stotz e Pina 
(2017).
Um marco importante para a Saúde do Trabalhador foi a criação da Fundação 
Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), 
em 1966, a qual passou a realizar pesquisas e desenvolvimento de normas para 
regulação do trabalho.
Em meio à crise econômica, social e política, no fi nal de década de 1960 e 
início dos anos 1970, e com a baixa efi cácia da medicina curativista e hospitalar, 
ocorre uma renovação na Saúde Pública com o movimento da Saúde Coletiva, 
compreendendo que o processo saúde-doença é determinado socialmente e 
que as formas de viver e de trabalhar geram benefícios e riscos individuais e 
coletivamente.
29
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
Na década de 1970, no Brasil, ocorre a normatização do trabalhador, 
impondo que os locais de trabalho contassem com equipes multidisciplinares, com 
avaliações dos riscos ambientais. Em 1972, por meio do Plano de Valorização do 
Trabalhador, via Portaria nº 3.237, se torna obrigatória a existência de serviços 
médicos, bem como os serviços de higiene e segurança em todas empresas com 
cem (100) ou mais funcionários.
A exemplo do relatado, um fato importante é a publicação por meio da Portaria 
GM nº 3.214/1978, da Norma Regulamentadora 4 (NR 4), a qual normatiza os 
Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho 
(SESMT), com a fi nalidade de promover a saúde e proteger a integridade do 
trabalhador no local de trabalho (BRASIL, 1978). Vale salientar que essa portaria 
aprovou, na época, 28 Normas Regulamentadoras (NRs) do Ministério do 
Trabalho e Emprego, objetivando a proteção e segurança dos trabalhadores em 
diversos contextos produtivos e atividades específi cas, regulando as penalida des 
em caso de descumprimento destas. Atualmente, são 37 NRs vigentes que tratam 
de diversos assuntos relaciona dos ao trabalho.
Para conhecer todas as NRs, acesse o endereço: https://enit.
trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-
menu/sst-normatizacao/sst-nr-portugues ?view = default. 
Convém pontuar que, sob a visão da Saúde Ocupacional no Brasil, as 
estruturas formais não cobriam os trabalhadores informais e que na ditadura 
militar (Estado coercitivo e autoritário), esse modelo atinge seu ápice de caráter 
excludente, vertical e reparador, fazendo com que os sindicatos questionassem o 
seu alcance limitado.
Nesse contexto, as raízes da Saúde do Trabalhador, no Brasil, provêm do 
movimento da Medicina Social latino-americana, com infl uência da experiência 
operária italiana (MOI), ampliando o quadro elucidativo do processo saúde-
doença, articulando-o com o trabalho, introduzindo práticas de atenção à saúde 
do trabalhador na Saúde Pública no âmago das propostas da Reforma Sanitária 
Brasileira.
Faz-se importante ressaltar que, na década de 1980, várias lutas pela saúde 
ocorreram, dentre elas a do benzeno, tendo em vista a grande visibilidade por 
30
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
conta do caso da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em que mais de dois 
mil trabalhadores apresentaram quadro de leucopenia, sendo afastados de suas 
atividades laborais (REBOUÇAS et al., 1989). 
Nessa década, também, simultaneamente com os debates sobre a 
Reforma Sanitária brasileira, foi estimulada a criação de Programas de Saúde 
do Trabalhador (PST) nos serviços de saúde de algumas cidades brasileiras, os 
quais foram se multiplicando com o intuito de romper com o paradigma da saúde 
ocupacional clássica (VASCONCELLOS, 2011). Nessa perspectiva, os PST 
passaram a desenvolver ações, especialmente de vigilância de ambientes de 
trabalho, rompendo com as práticas vigentes, fazendo com que os trabalhadores 
assumissem o protagonismo na intervenção sobre a sua saúde.
Historicamente, no Brasil, o conceito de Saúde do Trabalhador vem sendo 
discutido desde a Reforma Sanitária, organizando-se como movimento ao longo 
da década de 1980 e materializando-se no relatório da 8ª Conferência Nacional 
de Saúde (CNS), realizada em 1986 e considerada como marco da saúde pública, 
que culminouna instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição 
Federal de 1988.
Assim, somente com a realização, em 1986, da 1ª Conferência Nacional de 
Saúde dos Trabalhadores (CNST), a qual enfatizou a abordagem de três temas: 
1) Diagnóstico de saúde e segurança dos trabalhadores; 2) Novas alternativas 
de atenção à saúde do trabalhador; 3) Política Nacional de Saúde e Segurança 
dos Trabalhadores (BRASIL, 1986a), como desdobramento proposto pela 8ª 
CNS, é que a expressão Saúde do Trabalhador (ST) ganhou contornos mais 
contundentes.
Cabe mencionar que o Relatório Final da 1ª CNST se opôs à exploração/
dominação sofrida pelas “classes dominadas”, bem como trouxe elementos sobre 
a precarização do trabalho e a situação dos trabalhadores rurais e das mulheres, 
propondo medidas de fortalecimento da Vigilância em Saúde do Trabalhador 
(VISAT) e a construção de canais de interação com os sindicatos, trabalhando 
conjuntamente a outros setores, para garantir saneamento, transporte, habitação, 
dentre outros, para os trabalhadores, vislumbrando um novo horizonte a ser 
alcançado (BRASIL, 1986a).
Em 1986, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) tomou a frente de 
questões relacionadas à saúde, em especial com a criação do Instituto Nacional 
de Estudos e Ação Sindical sobre as Condições de Trabalho (ISACT). Desta 
forma, “ao restringir sua atuação a sindicatos fi liados à CUT, a luta pela saúde 
do trabalhador perdia uma oportunidade histórica de se ampliar nacionalmente” 
(GAZE; LEÃO; VASCONCELLOS, 2011, p. 317).
31
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
Nesse ínterim, a Saúde do Trabalhador foi apresentada na Constituição 
Federal de 1988, no Art. 200, inciso II, como uma das competências do SUS para 
“executar as ações de saúde do trabalhador” e “colaborar na proteção do meio 
ambiente nele compreendido o do trabalho” (BRASIL, 1988, p. 130). Em suma, a 
Constituição Federal garantiu a atenção integral à saúde para todos trabalhadores 
independentemente do tipo de vínculo que possuem no mercado de trabalho.
Para Tambellini, Almeida e Camara (2013), a Saúde do Trabalhador pode 
ser dividida em dois momentos: a) o período de 1969 a 1979, tendo como foco 
a discussão da temática saúde nos meios acadêmicos e o surgimento, pela 
primeira vez, do debate da relação trabalho e saúde; b) o período de 1980 a 
1988, caracterizado pelo debate da saúde do trabalhador no Movimento da 
Reforma Sanitária, bem como pela criação do Centro de Estudos e Saúde do 
Trabalhador e Ecologia Humana, sendo realizadas pesquisas interdisciplinares 
sobre produção-trabalho-saúde, buscando incluir a discussão saúde-trabalho e 
vida do trabalhador das fábricas.
Na década de 1990, teve início a implantação do SUS após a promulgação 
da Lei Orgânica da Saúde (LOS) nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, a qual 
defi ne a Saúde do Trabalhador como:
um conjunto de atividades que se destina, através das ações 
de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção 
e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa 
à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores 
submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de 
trabalho (BRASIL, 1990, p. 1).
Desse modo, a Lei Federal nº 8.080/90 regulamentou as competências no 
campo da saúde do trabalhador, considerando o trabalho como determinante e 
condicionante da saúde dessa população.
Convém ressaltar que a atenção à saúde do trabalhador inserido no setor 
formal de trabalho, tradicionalmente, no Brasil, era atribuição dos Ministérios 
do Trabalho e da Previdência Social, sendo, posteriormente, incorporada 
ao organograma e práticas do Ministério da Saúde e aos níveis estaduais e 
municipais do SUS. Contudo, ao longo do período, a Saúde do Trabalhador tem 
sido colocada no âmbito da assistência ou da estrutura da vigilância, dependendo 
do formato institucional vigente, mas sempre avançando (DIAS; HOEFEL, 2005).
 De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2018), a Saúde do 
Trabalhador é o campo da Saúde Pública que tem como objeto de estudo e 
intervenção as relações produção-consumo e o processo saúde-doença das 
pessoas e, em particular, dos (as) trabalhadores (as).
32
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
Na década de 1990, as ações para a saúde dos trabalhadores se expandiram, 
sendo que alguns programas de saúde do trabalhador (PST) se mantiveram 
e outros foram criados. Contudo, essas ações restringiram-se a uma prática 
assistencial, descaracterizando-se do foco original dos PST, fi cando isoladas e 
desarticuladas das demais ações do SUS.
Em 1991, a Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador (CIST), 
vinculada ao Conselho Nacional de Saúde, foi criada, tendo como tarefa 
concretizar o controle social no âmbito da Saúde do Trabalhador. Já em 1993, foi 
criado o Grupo Executivo Interministerial de Saúde do Trabalhador, na tentativa 
de articular os Ministérios da Previdência Social, do Trabalho e da Saúde, o que 
não alterou o cenário fragmentado da “Saúde do Trabalhador” (RIBEIRO; LEÃO; 
COUTINHO, 2013).
Nesse contexto, em 1994, aconteceu a 2ª Conferência Nacional de Saúde 
do Trabalhador, com o tema “Construindo uma Política de Saúde do Trabalhador”, 
num clima bem diferente da 1ª CNST e com um discurso mais eclético (recuo 
à postura anticapitalista). No entanto, pôde-se destacar alguns pontos positivos, 
como a tentativa de organizar e adequar as ações de “Saúde do Trabalhador” 
diante ao SUS, em especial com a criação de Programas Municipais de Saúde 
do Trabalhador, a fi m da descentralização dos serviços, a proposta de criação 
de Centros de Referência, o poder de fi scalização aos sindicatos e instâncias do 
SUS dos ambientes e processos de trabalho e a contextualização do trabalho com 
a questão ambiental, além de não ter sido omitido o protagonismo do trabalhador. 
A 3ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, realizada após 10 
anos da 2ª CNST, com o lema: “Trabalhar, sim! Adoecer, não!”, tendo como 
eixos principais a questão da integralidade e a transversalidade das ações; o 
desenvolvimento sustentável e o controle social. Além disso, teve como resolução 
a elaboração de protocolos de atenção à saúde do trabalhador, sendo defi nidos 
fl uxos de atendimento, bem como recomendações de que fossem instituídas 
comissões de saúde do trabalhador em cada local de trabalho, sendo eleitas 
pelos próprios trabalhadores, dentre outras resoluções (BRASIL, 2005). Contudo, 
para alguns estudiosos, mostrou-se repetitiva em relação à anterior, assim como 
foi considerada como um retrocesso à Saúde Ocupacional/Saúde do Trabalhador.
Em 2014, a 4ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador apresentou 
seu mote: “a saúde do trabalhador e da trabalhadora, direito de todos e todas 
e dever do Estado”, dando visibilidade à questão de gênero, por meio do termo 
“trabalhadora”, e como objetivo “propor diretrizes para a implementação da 
Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora – PNST”, sendo 
aprovadas 219 propostas (BRASIL, 2015).
33
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
Nas últimas décadas, consideráveis avanços ocorreram na normatização 
da proteção à saúde e segurança dos trabalhadores, no mundo e no Brasil, o 
qual conta com um amplo conjunto normativo, incluindo tratados internacionais e 
garantias constitucionais. 
O trabalhador brasileiro, na busca pela atenção a sua saúde, conta 
com diferentes espaços institucionais com objetivos e ações assistenciais 
diferenciadas, como: políticas públicas sociais e de saúde; organizações e 
sindicatos; planos de saúde e seguros suplementares; Normas Regulamentadoras 
(NRs) englobando principalmente os Serviços Especializados em Engenharia 
de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), as Comissões Internas de 
Prevenção de Acidentes (CIPA), o Programa de Controle Médico de Saúde 
Ocupacional (PCMSO) e o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais(PPRA); 
dentre outros.
Noentanto, um dos contratempos do modelo legal normativo 
brasileiro envolvendo a saúde e segurança do trabalhador é que os 
métodos de prevenção de acidentes e das doenças relacionadas ao 
trabalho é estabelecida pela empresa, assim como a proteção do 
trabalhador, fi cando a cargo da gestão privada, ou seja, o SESMT e a 
CIPA são contratados da empresa.
Após mais de 30 anos da promulgação da Constituição Federal, o campo da 
Saúde do Trabalhador no Brasil evoluiu, entretanto, com a reforma trabalhista e a 
lei da terceirização, recentemente decretadas, há, cada vez mais, a tendência de 
modifi cações relevantes nas relações de trabalho, impactando de forma negativa 
e intensa a saúde do trabalhador, devido à precarização do trabalho, assim como 
toda a organização coletiva dos trabalhadores, ou seja, Ministério do Trabalho, 
Justiça do Trabalho e Ministério Público do Trabalho, uma vez que a legislação 
trabalhista vigente amplia o poder das empresas, limitando e enfraquecendo a 
negociação coletiva dos trabalhadores (KREIN, 2018). 
Diante desse cenário, essas reformas concatenadas com as novas transições 
estruturais dos serviços e do setor produtivo, denominadas de “indústria 4.0”, vão 
de encontro a um dos principais pressupostos teórico-metodológicos do campo 
da Saúde do Trabalhador, que é a participação dos trabalhadores.
34
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
Mediante as considerações anteriores, é possível depreender que a 
participação ativa do trabalhador, como apregoa a Saúde do Trabalhador, ainda 
não se efetivou de fato em nosso país.
Por fi m, cumpre esclarecer que essa retrospectiva referente à Saúde do 
Trabalhador no Brasil não se encerra por aqui, visto que durante os demais 
capítulos retomaremos esse tópico.
Assim, chegamos ao fi nal desta seção, onde recuamos um pouco no tempo 
para nos apropriarmos sobre assuntos como: mundo do trabalho; medicina do 
trabalho; saúde ocupacional; saúde do trabalhador e saúde do trabalhador no 
contexto brasileiro. Agora, convidamos você a testar os conhecimentos adquiridos.
1) Com base na leitura e conhecimentos adquiridos até aqui, leia 
atentamente as afi rmativas e coloque “V” para as verdadeiras e 
“F” para as falsas.
( ) Diversos foram os fatos históricos que antecederam e contribuíram 
para o surgimento do campo da saúde do trabalhador no Brasil, 
dentre eles: o Movimento da Reforma Sanitária, a 1ª Conferência 
Nacional de Saúde dos Trabalhadores e a criação dos primeiros 
Programas de Saúde do Trabalhador. 
( ) A palavra trabalho deriva de tripallium, palavra do grego que 
designa uma espécie de instrumento de tortura de três paus e, 
desse modo, o aspecto etimológico da palavra nos leva a associar 
trabalho à ideia de sofrimento. 
( ) A saúde ocupacional possui uma proposta interdisciplinar, 
diferentemente da medicina do trabalho, procurando estabelecer 
uma relação entre o ambiente de trabalho e o corpo do trabalhador, 
adotando em sua prática a teoria da multicausalidade. 
( ) Diante das mudanças vivenciadas no mundo trabalho, pode-se 
afi rmar que há, atualmente, um grande índice de desemprego, 
levando o trabalhador a buscar trabalhos temporários, parciais e 
precários como alternativa a sua sobrevivência, os quais trazem 
sérios prejuízos a sua condição de vida refl etindo diretamente a 
sua saúde.
( ) Tanto a Medicina do Trabalho quanto a Saúde Ocupacional 
são importantes para a preservação da vida e saúde dos 
trabalhadores, sendo criadas para atender a uma necessidade da 
produção, assim, em relação aos trabalhadores, elas conseguem 
35
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
dar conta da complexidade existente na relação saúde-trabalho. 
( ) A participação ativa do trabalhador no processo saúde-doença 
e não apenas como coadjuvante da atenção à saúde é o que 
distingue o modelo teórico da Saúde do Trabalhador dos demais 
modelos. 
( ) A Constituição Federal de 1988 propiciou a legitimação do tema 
Saúde do Trabalhador, garantindo a todos os trabalhadores 
assalariados a atenção integral à saúde.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – F – V – V – F – V – F.
b) ( ) V – F – F - V – F – V – V.
c) ( ) F – F – V – V – V – F – F.
d) ( ) V – V – F – F – V – F – V.
e) ( ) V – V – V – V – V – V – V.
3 PRINCIPAIS AGRAVOS À SAÚDE 
DO TRABALHADOR NO BRASIL
Nesta seção, serão abordados os principais agravos à saúde do trabalhador, 
mas antes disso é necessário transitar entre a relação do processo saúde-doença 
e o trabalho.
3.1 PROCESSO SAÚDE/DOENÇA E 
SUA RELAÇÃO COM O TRABALHO
Para compreender o processo saúde/doença é essencial defi nir o conceito 
de saúde e de doença, mas sem fazer um detalhamento destes e sim enunciá-los 
para a compreensão do tema.
Para você, o que é saúde? Já parou para pensar a respeito?
36
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
Durante muito tempo, entendia-se que saúde era sinônimo de ausência de 
doenças, sendo elas físicas ou mentais, e podemos dizer que ainda faz parte da 
compreensão de muitas pessoas, haja vista que é só perguntarmos por aí, como 
defi nem saúde, que ouviremos: saúde é não estar doente!
Contudo, o conceito de saúde proposto pela Or ganização Mundial da Saúde 
(OMS), em 1947, “torna-a não só como ausência de doença, mas entende-a 
como um completo bem-estar físico, mental e social, rompendo com a concepção 
biomédica, anteriormente utilizada” (SOUZA E SILVA; SCHAIBER; MOTA, 2019, 
p. 2). Desta forma, esse conceito, o qual já foi ampliado pela OMS, permitiu que 
as dicotomias entre saúde e doença e corpo e mente fossem subjugadas. Em 
contrapartida, é utópico, inatingível, pois assumindo esse conceito, nenhum ser 
humano ou população será completamente saudável ou doente, uma vez que 
viverá, ao longo de sua existência, condições de saúde e de doença, consoante 
com suas condições de vida e de trabalho e suas potencialidades.
Para melhor compreensão do termo saúde, é importante considerarmos 
algumas contribuições da fi siologia, da psicossomática e da psicopatologia do 
trabalho, conforme apresentadas por Dejours, Dessors e Desriaux (1993). A 
fi siologia assegura que o organismo está em constante processo de desequilíbrio 
e homeostase, buscando o equilíbrio por meio dos dispositivos de regulação do 
corpo, mas sem remeter saúde a um estado estável; a psicossomática estabelece 
que as causas afetivas e psíquicas são fatores desencadeantes de uma doença 
física; e a psicopatologia do trabalho informa que o trabalho e/ou a sua ausência 
pode trazer danos à saúde, podendo ser fonte de adoecimento ou não.
O conceito de saúde utilizado nas políticas públicas de saúde e no SUS é o 
chamado Conceito Ampliado de Saúde:
Em um sentido mais abrangente, a saúde é o resultante das 
condições de alimentação, educação, renda, meio ambiente, 
trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso a posse 
da terra e acesso aos serviços de saúde. É assim, acima 
de tudo, o resultado das formas de organização social de 
produção, as quais podem gerar desigualdades nos níveis de 
vida (BRASIL, 1986b, p. 4).
Logo, considera que a saúde é infl uenciada por fatores condicionantes e 
determinantes, conceituando-a de maneira muito mais abrangente, levando em 
conta o fato de como o indivíduo vive, bem como suas condições de trabalho, 
materializando a saúde na vida das pessoas, colocando o trabalho em destaque.
Fica patente que o trabalho (ou a sua ausência) é um dos determinantes 
da saúde e bem-estar do trabalhador e da sua família, uma vez que gera 
37
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
renda, viabiliza condições materiais, permite inclusão social e tem dimensão 
humanizadora, que são importantes para a saúde, tendo efeito protetor e 
promotor da saúde. No entanto, o trabalho pode também agravar as iniquidades 
e a vulnerabilidade das pessoas, produzir degradação do ambiente e, sobretudo, 
causar sofrimento,mal-estar, adoecimento e morte dos trabalhadores.
Para saber mais sobre saúde, indicamos o livro O que é Saúde?,
autoria de Naomar de Almeida Filho. Editora Fiocruz, 2011.
E a doença, o que é? O vocábulo “dolentia”, de origem latina, signifi ca dor, 
padecimento. Assim, doença pode ser considerada um conjunto de sinais e 
sintomas específi cos que alteram o estado normal de saúde, afetando o ser vivo.
Na Antiguidade, supunha-se que a saúde era dádiva e a doença era castigo. 
Hipócrates, em seu tratado Ares, águas e lugares, considerado o primeiro 
tratado de Saúde Pública, correlacionava os sintomas através das observações 
(defi nição de quadro clínico), bem como relacionava a água, os ventos e os locais 
de moradia com a saúde e/ou a doença, considerando que o bem-estar ou mal-
estar da pessoa estava sob a infl uência do ambiente, dos locais que frequentava 
e da alimentação. Para ele, a doença era resultante do desequilíbrio entre os 
humores corporais (sangue, bílis negra e amarela e linfa ou fl euma), os quais 
eram constantemente renovados pela comida ingerida e digerida.
Séculos mais tarde, surge a teoria miasmática, que perdura até o século XIX, 
a qual depreende que as doenças eram resultantes de emanações resultantes do 
acúmulo de dejetos, consistindo na crença de que a doença era transmitida pela 
inspiração de “gases” de animais e dejetos em decomposição.
Com a descoberta da microbiologia, a ciência avançou, assim como a 
medicina, tendo como pioneiros os cientistas Louis Pasteur e Robert Koch, os 
quais defenderam a teoria microbiana das doenças, tendo as bactérias como 
protagonistas de diversas doenças. A visão unicausal (para cada doença um 
agente etiológico) impera.
Já a partir do século XX, identifi ca-se o predomínio da multicausalidade, 
atribuindo a gênese da doença a múltiplos fatores, os quais estão inter-
relacionados em redes de causalidade, com ênfase nos condicionantes 
individuais. 
38
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
Portanto, a doença, seu processo de desenvolvimento, suas causas e 
consequências, conquistam, desde os primórdios da civilização humana, o 
pensamento do homem no intuito de controlá-la ou evitá-la.
O artigo O indivíduo, a sociedade e a doença: contexto, 
representação social e alguns debates na história das doenças
complementa o tema e pode ser acessado em: http://www.revistas.
usp.br/khronos/article/download/150982/149951. 
Agora que já tecemos comentários acerca da saúde e da doença, vamos 
adentrar no processo saúde/doença e sua imbricação com o trabalho.
Primeiramente é relevante esclarecer que o termo processo saúde-doença 
é utilizado para fazer referência a todas as variáveis envolvidas na saúde e na 
doença, considerando que ambas estão interligadas e são resultados dos mesmos 
fatores, os quais são biopsicossociais, sendo que essa concepção permeia todas 
as políticas públicas de saúde.
Assim, o processo saúde-doença é um fenômeno biológico e social que 
possui infl uências históricas, culturais, sociais e econômicas, o qual é infl uenciado 
pela produção e distribuição de riquezas pela sociedade e, portanto, é um 
processo dinâmico e coletivo, pois depende das relações estabelecidas entre os 
homens, grupos e sociedades, bem como das relações com o meio ambiente.
Convidamos você a assistir ao vídeo Reaprendendo a olhar, o 
qual apresenta distintas formas de pensar e de promover a saúde. 
Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=qnugCPV6m2o. 
Há muito tempo, a relação saúde-trabalho-doença vem sendo objeto de 
estudos por conta da sua relevância para o homem e para a sociedade.
39
RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SAÚDE E ADOECIMENTO Capítulo 1 
O processo saúde-doença desencadeado pelo ambiente laboral requer uma 
ampla avaliação e carece de uma análise holística do indivíduo, pois muitas vezes 
o trabalhador pode estar doente sem apresentar sinais físicos de enfermidade, 
mas estar com sua saúde mental afetada. 
Cabe mencionar que para entender a relação existente entre a tríade saúde-
doença-trabalho e melhorar as condições de vida e laborais do trabalhador, tem-
se três formas de compreensão, as quais já foram evidenciadas anteriormente, 
ou seja, a Medicina do Trabalho (centrada no trabalhador doente), a Saúde 
Ocupacional (focada nos postos de trabalho) e a Saúde do Trabalhador (visando 
garantir a atenção integral ao trabalhador), conforme Codo e Jacques (2002).
Assim, o conceito saúde, no campo do trabalho, se relaciona com a Medicina 
do Trabalho, buscando as etiologias das doenças e dos acidentes de trabalho em 
riscos específi cos e de modo isolado, com predomínio de atuação no efeito e não 
na causa (MINAYO-GOMES; THEDIM-COSTA, 1997). Evidencia-se, assim, que a 
meta principal é o bom funcionamento do processo de trabalho e não a prevenção 
da saúde do trabalhador.
Como bem demonstrado em outros momentos do nosso texto, a articulação 
entre trabalho, saúde e doença dos trabalhadores tem sido objeto de estudo 
e refl exões, há séculos, tendo sido utilizadas diferentes lentes para olhar essa 
temática por parte de historiadores, médicos, fi lósofos, escritores e cientistas.
O estabelecimento entre a relação saúde-doença-trabalho não é tarefa 
simples, pois envolve a história de vida e de trabalho do indivíduo. Além do 
mais, por mais que se pense a saúde na dimensão coletiva, é o ser humano 
que adoece e esse processo é específi co e de forma individualizada. Desse 
modo, a saúde e o adoecimento são experiências subjetivas, intuitivas, de difícil 
descrição e mensuração e, conforme Minayo-Gomes e Thedim-Costa (1997), 
os trabalhadores, via de regra, vinculam a saúde com a capacidade de poder 
trabalhar e a doença com a impossibilidade.
Há que se considerar que é a descrição detalhada do ambiente e da situação 
de trabalho, assim como o relato por parte do trabalhador sobre a sua percepção 
quanto à infl uência do trabalho no seu processo de adoecimento, é primordial 
para estabelecer o nexo causal entre trabalho e doença. Ademais, é fundamental 
a contemplação de técnicas (questionários, entrevistas, teste etc.), observações 
do contexto e estudos epidemiológicos para a corroboração dessa relação.
O processo saúde-doença no âmbito do trabalho é mutável, assumindo 
formas históricas, pois os agentes causadores das doenças relacionadas ao 
trabalho e dos acidentes de trabalho são problemas sociais decursivos do 
40
 Atenção InteGral À Saúde do Trabalhador
ambiente, da organização e das relações sociais de trabalho. Nessa direção, o 
trabalho é um dos determinantes do processo saúde-doença, podendo signifi car 
saúde e equilíbrio físico e mental ou causar sofrimento e adoecimento advindos 
da exposição às condições de trabalho defi cientes e à organização do trabalho 
inadequada, as quais são permeadas por fatores de riscos ocupacionais.
Outro aspecto que merece atenção é o princípio da bidirecionalidade pessoa-
ambiente, pois se relacionam e se infl uenciam de forma recíproca e contínua, 
tendo em vista que não existe trabalhador sem meio ambiente de trabalho e não 
há meio ambiente de trabalho sem trabalhador. Portanto, seria leviano acreditar 
que somente o ambiente exerce infl uências positivas e negativas sobre a pessoa 
sem receber infl uência desta (ALMEIDA, 2013). 
Além disso, o trabalhador tem papel fora do seu ambiente laboral, isto é, há 
interação com outras dimensões que infl uenciarão o seu processo saúde-doença, 
assim como um ambiente familiar desarmônico pode ser prejudicial para o 
ambiente laboral e/ou um ambiente de trabalho desequilibrado poderá infl uenciar 
a vida familiar do trabalhador.
Para ampliar seus conhecimentos, acesse a Cartilha 
Adoecimento ocupacional: um mal invisível e silencioso, disponível 
em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Cartilhas/Cartilha-
doencas-ocupacionais.pdf.
Antes de discorrermos sobre os agravos relacionados ao 
trabalho, é necessário recordarmos brevemente sobre os riscos 
ocupacionais.

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