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Aula 3 – Bem vindos 1981 Rosa grena Kliass2013 Jan Gehl – obras iniciadas em 2019 Breve histórico do paisagismo no mundo até a renascença A linha do tempo nos ajuda a ver de forma seriada os acontecimentos, mas cuidado, a história não é linear O paisagismo trata da organização do espaço externo, buscando a harmonia entre as construções e a natureza. Está baseado em critérios estéticos e na relevância que assumem os elementos naturais, em especial a vegetação. O projeto paisagístico deve atender aos anseios, exigências e necessidades dos usuários, através de uma distribuição qualitativa e funcional dos espaços. O termo “arquiteto da paisagem” foi usado pela primeira vez em 1858 por Olmsted, que projetou o Central Park, de Nova York. Em 1901 surge o primeiro curso de Arquitetura da Paisagem, na Universidade de Harvard, nos EUA. Soeni Bellé, 2013. A paisagem é vista como um reflexo dos sistemas climáticos, naturais e sociais, interagindo entre si. São considerados elementos integrantes da paisagem todos os componentes espaciais de um determinado território apreendidos por um espectador. Soeni Bellé, 2013. Lila Donato, 2014. Paisagem artificial pode-se dividir em duas Paisagem urbana x Paisagem cultural Sem a dialética, elas se hibridizam Cuidado com a palavra complementar, nosso entendimento do ato de intervir e projetar a paisagem é outro Ocupação dos espaços intersticiais que a cidade produz Planeta Vermelho é uma intervenção destinada a promover interações, atrair clientes e melhorar a experiência comercial. O Life Hub @Daning, um empreendimento de uso misto com shopping center. Xangai, China. City Thread / SPORTS Chattanooga, EUA Mas não se limita aqui, podemos chegar até a escala da calçada, da esquina, do pequeno vazio urbano, etc... No mito de criação judaico- cristão, o Jardim do Éden, também chamado de Paraíso, é o "jardim de Deus" descrito no Livro do Gênesis e no Livro de Ezequiel. O Jardim do Éden com a Queda do Homem, de Jan Brueghel, o Velho e Peter Paul Rubens. O conceito de Jardim vem do hebreu gar (defender) e eden (prazer), dando a ideia de que o jardim é um local agradável e protegido. Este conceito tem evoluído ao longo da história, de acordo com a evolução do paisagismo. Na Antiguidade o jardim possuía um significado + religioso, sendo que algumas espécies como a oliveira, figueira e a videira apresentavam um simbolismo, sendo veneradas por representarem fertilidade, vitalidade e alimento. O conceito de jardim evolui de acordo com a relação do homem com a natureza, refletindo a condição social, o sentido estético e os costumes de cada época. Atualmente, é fundamental que o paisagismo sirva à coletividade, estimulando as relações sociais. Soeni Bellé, 2013. Os jardins sempre estiveram presentes como testemunha do momento cultural, das riquezas e da religiosidade dos povos. Localizados no interior ou no entorno de palácios, em áreas planas ou em patamares. Frutas, legumes, plantas medicinais e flores. Alimentação e também para a celebração de rituais. Para que servem os jardins? Tipos de jardins Público x Privado x Privado de uso público ou coletivo Ligado a rituais As primeiras influências históricas sobre a jardinagem e o paisagismo surgem na China e em torno do rio Nilo, no Egito. A importância de se conhecer a história do paisagismo é a influência que até hoje esta exerce sobre os estilos paisagísticos. Histórico Mesopotâmia Babilônios e Persas 3500a.c. – 500a.c. Atual Síria, Turquia, Iraque, Iran, Arábia Saudita... Pegava grande parte do atual oriente médio. Situada entre os rios Tigre e Eufrates, a história das civilizações relata que os assírios foram os mestres das técnicas de irrigação e drenagem, criando vários pomares e hortas formados pelos canais que se cruzavam. Mas este trabalho foi abandonado em razão da invasão árabe. Sendo assim, a forma e a distribuição do jardim se identificavam inicialmente com a prática da agricultura, onde a horta rodeada por um muro podia ser um protótipo de jardim. Os textos mais antigos sobre jardins datam do terceiro milênio a.C., escritos pelos babilônicos, descrevendo os "jardins sagrados", onde os bosques sagrados eram plantados sobre os zigurats. É na própria Babilônia que se encontra a obra mais marcante da jardinagem nesta época, sendo considerada pela humanidade como uma de suas maravilhas: os Jardins Suspensos da Babilônia que se caracterizavam pela supremacia dos elementos arquitetônicos Os jardins mais famosos da Antiguidade foram os Jardins Suspensos da Babilônia (605-652 a.C.), foi construído pelo rei Nabucodonosor em oferecimento a sua esposa. Este jardim foi considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo pelo fato de representar uma ousada obra de engenharia, pois era composto por uma sucessão de terraços que eram irrigados. Os terraços dispunham-se em patamares ascendentes na encosta de um morro até a altura de 100 metros, de onde se descortinava a paisagem circundante. Claudia Mattiuz, s/d. Algumas espécies utilizadas eram a tamareira (com a finalidade de fornecer um microclima favorável a outras espécies), o jasmim, as rosas, as malva-rosas, as tulipas e também álamos e pinos que não suportariam viver num clima tão árido e quente, mas só foi possível devido ao complexo sistema de irrigação desenvolvido. O sentimento religioso estava presente e intrinsicamente ligado à arte dos jardins, onde se acreditava que os jardins dependiam da vontade dos deuses. Os jardins persas eram influenciados pelo islamismo e apresentavam elementos da natureza como, terra, fogo, ar e água, representados em quatro quadrantes e cortado por dois canais. Nestes jardins cultivavam-se frutíferas, plantas ornamentais e aromáticas. O jardim persa, mais tarde, influencia o jardim árabe e, no século XIII, aparece na Espanha um estilo originário de ambos, o jardim hispano- árabe, doméstico, íntimo, com vegetação graciosa e generosamente distribuída, água em repuxos, pisos elaborados mas de aparência natural. Jardins da Praça Naghsh-i Jahan em Isfahan, Iran Jardim Chehel Souton O Taj Mahal é um mausoléu situado em Agra, na Índia, sendo o mais conhecido dos monumentos do país. Encontra-se classificado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Foi anunciado em 2007 como uma das sete maravilhas do mundo moderno. Construção em 1600 O tapete persa como representação do pensamento de construção dos jardins. Simetria, proporção e regularidade Histórico Egito 3500a.c. – 500a.c. As características dos jardins egípcios seguiram os mesmos princípios utilizados na arquitetura deste povo. Eles só surgiram quando as condições de prosperidade no antigo império permitiram às artes (arquitetura e escultura) um notável desenvolvimento. De um modo geral, o jardim egípcio desenvolvido de acordo com a topografia do Rio Nilo era constituído de grandes planos horizontais, sem acidentes naturais ou artificiais. As características dos monumentos egípcios - com a rigidez retilínea e a geometria - fizeram com que os jardins tivessem uma simetrização rigorosa. Tudo de acordo com os 4 pontos cardeais. As plantas utilizadas eram: palmeiras, sicômoros, figueiras, videiras e plantas aquáticas. O jardim regular era símbolo da fertilidade, sintetizava as forças da natureza e era a imagem de um sistema racional e arquitetural baseado no monoteísmo. Osíris para os egípcios era o deus da vegetação. Histórico Grécia antiga Séc. VII a.c. – séc. V a.c. Na Grécia antiga os jardins eram locais sagrados, com vegetação nativa e sem interferência humana. Os gregos não aprovavam os jardins do oriente e cultivavam jardins utilitários, com legumes para o consumo, trigo para o pão, frutíferas, oliveiras e algumas flores. Apesar do predomínio do pensamento racional, as formas dos jardinsbuscavam sempre a natureza. Claudia Mattiuz, s/d. As raízes fundamentais da cultura ocidental se encontram na civilização desenvolvida na Grécia Antiga. O cuidado com as plantas provavelmente foi fruto do amor à vida em pleno ar livre, obrigando a uma constante aproximação com a natureza. Os jardins gregos, apesar de fortemente influenciados pelos jardins egípcios, apresentaram diferenças notáveis em razão da topografia acidentada da região e o tipo de clima. Os jardins possuíam características próximas das naturais, fugindo da simetria dos egípcios. Desenvolviam-se em recintos fechados, onde eram cultivadas plantas úteis, principalmente maçãs, peras, figos, romãs, azeitonas, uva e até horta. A introdução de colunas e pórticos fazia uma transição harmoniosa entre o exterior e interior e o jardim era um prolongamento das partes da casa, às quais ele se ligava. A sua principal característica era a simplicidade. Os jardins também ficaram marcados por possuir esculturas humanas e de animais mais próximas da realidade. Histórico Roma antiga Séc. I a.c. – séc. III d.c. O império romano se estendia da Espanha (oeste) até a Mesopotâmia (leste) e do Egito (sul) até a Inglaterra (norte). Compreendia variedade de paisagens. A casa romana repetiu basicamente o modelo grego, sendo construída no nível da rua, com as habitações voltadas para dentro, comunicando-se por uma colunata, e abertas a uma praça anterior. Os jardins foram objetos de atenção, mas apesar disso, são falhos quanto à originalidade. Como características, pode-se ressaltar, a grandiosidade e a magnificência da composição, as perspectivas vastas, que empregaram como prioridade, a decoração pomposa, a valorização para fins exclusivamente recreativos. Os jardins eram principalmente santuários sociais, onde se desfrutava de proteção frente o sol, vento, poeira e ruído das ruas. A sombra projetada pelas galerias com arcos reduzia necessidade de arvoredo. As plantas, quando existiam, eram colocadas em maciços elevados e os pátios se ornamentavam com tanques de pedra para água, mesas de mármore e estátuas. Os romanos quando saquearam Grécia carregaram consigo também seus monumentos e estátuas, assim a ornamentação se generalizou nos jardins romanos da época. Em consequência, tais jardins são metódicos e ordenados, integrando-se às moradias. como exemplo temos as cidades de Pompéia e Herculano. As plantas utilizadas eram: coníferas, plátanos, frutíferas como amendoeira, pessegueiro, macieira, videira e outras. Ciprestes, buxos e louros-anão recebiam "topiarias“, que se caracterizavam por moldar arbustos em formas de figuras de variados formatos e nomes. A maioria dos jardins romanos também possuíam uma pequena horta. Talvez por isso, a irrigação era planejada. A interpenetração casa-jardim podia ser visualizadas nas vilas romanas localizadas nas proximidades de Roma. Dentre elas, destacou-se a "Vila Laurentina", construída por Plínio, o Jovem, onde plantou-se predominantemente figueiras e amoreiras, havia também uma horta e terraço com flores perfumadas, próximo das águas para assim se conseguir temperaturas mais agradáveis. Outra de semelhante importância foi a "Vila Adriana", construída em Tívoli para o Imperador Adriano, que perdurou até antes da guerra de 1939. Estas vilas darão um impulso definitivo para o estilo italiano. Vila Laurentina Vila Adriana Peristilo romano A fronteira interior/exterior da arquitetura Peristilo romano A representação da natureza no materiais de acabamento Histórico Idade Média 500d.c. – 1500d.c Na idade média a concepção de jardins foi marcada pela simplicidade. Os jardins eram cultivados nos mosteiros e castelos, em espaços planos e fechados. Neles se cultivavam plantas úteis para alimentação, medicinais e floríferas para a ornamentação de altares. Geralmente estes jardins eram contornados por cercas revestidas por trepadeiras ou espécies arbustivas. Os caminhos cortavam- se em ângulos retos, evocando a cruz cristã. Nos mosteiros o pensamento religioso aproximava os monges do ideal de paraíso encontrado na natureza e os próprios religiosos cultivavam as plantas. A construção de labirintos nos jardins de castelos são relatados neste período, assim como a arte de dobrar ramos para formar alamedas. Claudia Mattiuz, s/d. Representava uma reação ao luxo da tradição romana. Era dividido em 4 partes: o pomar, a horta, o jardim de plantas medicinais e o jardim de flores. Existiam áreas gramadas cercadas e arbustos, viveiros de peixes e pássaros, além de local para banho O jardim monástico representado através da arte. Registro para a contemporaneidade. O emprego de canais, fontes e pequenos regatos formavam um aspecto hidráulico para a irrigação e para amenizar o calor, além do aspecto de ornamentação destes jardins. A cerâmica e o azulejo eram bastante utilizados. A praça seca do comércio medieval A praça seca do comércio medieval A praça da igreja, visadas e celebrações Histórico Renascença Séc. XIV d.c – XVI d.c O período do Renascimento na Europa, depois da Idade Média, influenciou fortemente o estilo dos jardins. O culto da forma fazia com que as plantas fossem interpretadas como esculturas que se integravam à imponência das construções. Os jardins europeus do século XV ao século XVIII são suntuosos e elaborados, e incluíam elementos como estátuas e fontes. Esses jardins assumem características próprias em cada país. Na Itália, são mais volumosos e opulentos; na França predominava a vegetação de porte baixo, de modo a revelar totalmente a grandiosidade das construções. Neste período as formas geométricas e a simetria predominam e a arquitetura é muito valorizada. O estilo denominado clássico iniciou com o renascimento italiano. A cidade de Florença (séc. XIV) era a capital da pintura e dos jardins. Neste período muitos elementos da Antiguidade, como divindades pagãs eram elementos de destaque nos jardins. A diferença morfológica entre jardins franceses x ingleses O jardim italiano, no período renascentista, teve forte presença em propriedades situadas no campo. Foi neste período que os arquitetos começaram a fazer intervenções na arte dos jardins, tornando-os ordenados e opulentos. O acesso as residências era feito por meio de uma sucessão de escadarias, rampas e terraços. O eixo central da residência permanecia em destaque, localizando-se na parte mais alta do terreno. A água era um elemento constante e de destaque nos projetos. Em terrenos acidentados eram instaladas escadarias de pedra com corredeiras de água, e em locais planos era comum a presença de fontes monumentais. Outros adereços como estátuas, pórticos, pergolados, colunas e belvederes destacavam-se nos jardins. O jardim se tornava mais verde e com áreas sombreadas à medida que se afastava da casa. Ainda se tem a topiaria na vegetação. Jardim italiano Na França, no período do Renascimento os reis e senhores de posse também tiveram seus jardins. O estilo italiano predominava nas principais características dos jardins, mais aos poucos a tradição francesa foi se impondo. O jardim clássico francês era caracterizado por plantações baixas, permitindo maior destaque e visibilidade das construções. De maneira geral, a composição predominante era constituída por topiarias, que podiam conter canteiros com plantas floríferas. O uso da perspectiva em grandes espaços tinha o objetivo de causar admiração, mostrar o poder e a superioridade do proprietário. Os jardins eram construídos com um plano geométrico preciso e metódico, sendo orientado por caminhos em dimensões monumentais. Jardim do Palácio de Versalles Neste período o paisagista mais famoso foi Andrè Le Nôtre que inicialmente ficou conhecido pelo jardim do castelo Vaux-le-Vicomte. Le Nôtre foi influenciado pelo estilo italiano, mas tinha um estilo próprio voltado paraa exuberância e admiração. O rei Luís XIV ao visitar o castelo Vaux-le-Vicomte ficou enciumado, e contratou Le Nôtre para projetar um jardim ainda mais magnífico, em Versalhes. O Jardim de Versalhes contemplou uma área de 732 hectares, com 3km de comprimento. Nesses jardins a grandiosidade era exaltada pela perspectiva e rigoroso traçado simétrico. A construção de urnas, vasos e imagens eram feitas inicialmente em gesso e depois da aprovação do rei, eram esculpidas em mármore. Em Versalhes, os jardins foram estruturados em uma série de terraços abertos onde eram construídos canteiros elaborados com topiaria em buxinhos. No século XVIII, paralelamente ao aparecimento do Romantismo, surge o jardim inglês que busca a volta à natureza. O jardim inglês diferenciava-se do francês em vários aspectos, incluindo a diversidade de plantas. A princípio o jardim inglês parecia ser informal, pelo cultivo livre e de grande variedade de flores, mas era muito detalhado com relação as espécies e a composição em si. O planejamento era formal, mas a implantação era informal. No jardim inglês a delimitação dos espaços, por muros e sebes, era muito utilizada. As espécies herbáceas anuais e as perenes arbustivas se misturavam com bulbosas, flores silvestres e forrações. O destaque da composição poderia ser uma árvore, um lago ou uma vista panorâmica. Este estilo paisagístico incluía gramados extensos e bem cuidados. O jardim seguia uma orientação assimétrica, o que permitia aos usuários o efeito de descoberta e surpresa. Jardim inglês Os holandeses, no início, também não fugiram das influências francesas e italianas. Porém, devido à sua topografia plana, o hábito de cultivo das plantas bulbosas (especialmente a tulipa) e o seu gosto pelas cores, criaram jardins mais compactos e graciosos. São divididos em múltiplos recintos e apresentam túneis sombreados por trepadeiras. As partes centrais são formadas por intrincados grupos florais; fontes douradas baixas que jorram suas águas em pequenos tanques rodeados de cercas vivas de bordadura baixa. Os ciprestes recebiam podas, formando círculos sobrepostos. Portões de ferro fundido fechavam os jardins. Jardim holandês Referências da aula: 1. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1880778/mo d_resource/content/1/Texto%20Alunos%20Evoluc%CC %A7a%CC%83o%20Paisagismo-1.pdf 2. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1880778/mo d_resource/content/1/Texto%20Alunos%20Evoluc%CC %A7a%CC%83o%20Paisagismo-1.pdf 3. https://pt.slideshare.net/liladonato/breve-histrico-do- paisagismo-no-mundoparte-01 4. Escola Estadual de Educação Profissional – EEEP, Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, Curso Técnico em Paisagismo - História do paisagismo – Governo do Ceará. JARDINS DO SÉCULO XX E O MODERNISMO “(...) quem entra nos jardins por estes meses de primavera mádida volta ao paraíso primitivo, por isso, os jardins encravados na cidade são como as escapadas da natureza, as peias da civilização”. É no Séc. XIX que surgem os grandes parques urbanos abertos ao público, fruto da necessidade de lazer, educação e de hábitos higienistas que se faziam sentir nos grandes centros industriais urbanos e desempenhando um importante papel terapêutico por promoverem o bem-estar do indivíduo. O Central Park, em Nova Iorque, projetado por Olmsted e Vaux, terá sido o precursor de muitos destes parques até à presente época. Em Inglaterra, surge no jardim o conceito de bordadura vivaz, no qual o elemento flor se assume importante, utilizando-se mistura entre espécies de épocas de floração diferentes e de fácil manutenção (herbácea, de bolbo ou rizomas). O ritmo de plantação associa-se ao contraste flores–folhas-cor-forma (prímulas, lírios, peónias, etc.) em maciços e bordaduras, dentro de um traçado bem definido. Neste contexto, destacaram-se os trabalhos de William Robinson e Gertrude Jekyll. O ecletismo no Brasil Surge a praça eclética no Brasil e no mundo Praça Santos Andrade, Curitiba, PR Em direção ao modernismo... Na virada do século XIX para o século XX, enquanto os arquitetos buscavam novas teorias, ideais e materiais em um esforço de produzir uma arquitetura condizente com o momento cultural e artístico, muitos paisagistas ainda se baseavam no passado propondo jardins com influência inglesa e suas variantes italianizantes. Não havia uma discussão ou mesmo experimentos comparáveis aos que surgiam no campo da arte e da arquitetura. Segundo JeanPierre Le Dantec, “Impressionismo, japonismo, Nabis e art nouveau não encontram eco jardinístico na França senão nos jardins de Monet, em Giverny, ou nos de Albert Kahn em Boulogne-Billancourt. (...) Willian Robinson e Gertrude Jekyll inventam uma versão inglesa do impressionismo em torno dos conceitos de wild garden e de coloridas mixed borders (...)” No campo das artes, no início do século XX são realizadas experimentações relacionadas a concepção de um espaço contínuo, inseparável das coisas circundantes. Era a concepção cubista do espaço plástico: a arte deixa de ser a representação do mundo, e passa a se tornar uma ação que se realiza. O quadro, por sua vez, deixa de ser a superfície sobre a qual se projeta a representação da realidade, e se torna o plano plástico em que a realidade se organiza. Assim, a obra deveria demonstrar um procedimento que renovasse a própria experiência da realidade. A partir daí, o sujeito moderno tinha condições de reconstruir um ambiente ao redor de si mesmo, podendo criar mundos inteiros. A forma é reconstruída a cada visada, num contínuo processo de atualização. Consequentemente se instaura uma nova relação entre espaço e objeto. Em Viena e na França, antes da 1º Guerra Mundial, surgiam conceitos de arte de jardim que esboçavam um esforço de instituir uma linguagem moderna, se abrindo a novas sensibilidades e propondo uma ruptura com o passado. O jardim é concebido de acordo com as regras estruturais e geométricas, mais do que as demandas naturais. Era uma tentativa de negação da natureza selvagem através de um “jardim que seguia princípios arquiteturais que fortaleciam a expressão da ilusão humana” Era da razão, da ciência, da fé na máquina, da casa de morar, do maquinicismo... Estes trabalhos experimentais mostravam um esforço em refletir na paisagem as novas tendências constatadas na pintura e na escultura. Tratava-se de tentativas cubistas que, no entanto, davam aos jardins características extremamente pictóricas e resultavam, por consequência, demasiadamente estáticos, ou seja, continuava presente o espírito clássico. Eram tentativas de adaptar o projeto de jardins à nova estética, estruturando uma composição plástica de linhas e superfícies como um quadro, no entanto composto por matéria viva. Destacaram-se paisagistas modernos franceses como André Vera e Paul Vera, Robert Mallet-Stevens (1886- 1945), Pierre Legrain (1889- 1929) e principalmente Gabriel Guevrékian (1892-1970), com o “Jardin d’eau et Lumiere”, apresentado na Exposição de Artes Decorativas de 1925. “o jardim de Guevrékian permanece uma espécie de pintura cubista em relevo, uma tela de terra, flores e água que o artista havia aplainado, geometrizado e transformado em mais luminoso possível”. André Vera e Paul Vera Robert Mallet-Stevens (1886-1945) Villa Cavrois. Arquiteto. Robert Mallet- Stevens. Ano de Construção. 1929 - 1932 Pierre Legrain (1889- 1929) Tachard garden. La Celle-Saint- Cloud, France, 1924 Jardim para a Villa Noailles, em Hyéres, França, de Gabriel Guevrékian Jardin d’eau et de lumière, de Gabriel Guevrékian Jardin d’eau et Lumiere Apesar do esforço em construir um paisagismo abstrato, racional e visual, esses jardins não chegaram a estabelecer relações que constituíssem uma experimentação da forma moderna com maiores questionamentos sobre espaço e cor, e não foram capazes de serem incorporados no novo panorama da arquiteturamoderna. Estes jardins em geral eram pequenos e privados, não podiam se expandir visualmente para além de seus limites. Apresentavam-se como uma pintura para ser vista a partir de uma janela, ou seja, tinham uma presença estática e eram valorizados a partir de um ponto de vista único. Assim, o resultado era a bidimensionalidade, que gerava efeitos visuais imediatos, ou seja, o jardim era uma pintura desconectada do entorno, que deveria ser entendido por sua pura visualidade. Neste sentido, estes jardins levavam ao extremo a intenção artística formalmente, ignorando as leis da natureza e entendendo a vegetação como mera matéria doadora de cor e textura à composição. Consequentemente estas composições paisagísticas estavam presas à tentativa de criar uma aparência estética moderna, não investigando o potencial espacial cubista nos jardins Uma outra dimensão... Pauta-se basicamente pelo atendimento de novas formas de uso e, portanto, de organização morfológica do espaço livre urbano, no qual é introduzida uma nova figura – o automóvel, que exige uma reordenação dos tecidos urbanos existentes e a criação de outros especialmente tratados para a convivência veículo- pedestre. Ao espaço livre para a circulação de pedestre – calçadas e passeios e para lazer, são atribuídas novas configurações, agora de acordo com os padrões urbanístico-sociais em voga. A arquitetura paisagística se torna, então, funcionalista, com a determinação de áreas equipadas especialmente para o lazer, recreativo ou esportivo, nacionalista com o abandono do uso de vegetação, anódina e com ênfase na tropicalidade do país: simples, com a “proibição” do uso de elementos decorativos do passado – pitorescos e temáticos – sendo execradas as cenarizações, as topiárias e qualquer lembrança do Ecletismo recente: geométrica – inspiradas nas temáticas da pintura da época, no qual Burle Marx foi o mestre inspirador nacional – e colorida – com a introdução do uso intenso de pisos multicores. Como consequência desse mesmo contexto, surge o paisagismo de Mina Klabin no panorama do paisagismo no Brasil. Na Residência da Rua Santa Cruz (1927) e da Rua Itápolis (1930), projetadas por Gregori Warchavchik, utiliza algumas espécies da flora tropical, porém explora a composição purista do jardim de cactáceas, onde o elemento vegetal pontual - o cactus mandacaru – sobre o gramado liso assume um papel destacado na composição, como um código facilmente decifrável, ou ainda uma planta icônica, que representaria o Brasil, em contraposição aos volumes arquitetônicos neutros e universalizantes de Warchavchik. Mina, assim como os pintores modernistas paulistas, assumia o cactus como um elemento típico de modernidade e brasilidade, como símbolo de compromisso com a flora e as raízes brasileiras, tornando-o uma referência tropical. NASCIONALISMO – IPHAN, SEMANA DE 22, ANTROPOFAGIA... Residência da Rua Santa Cruz (1927) Edifício Mina Klabin (1937) Residência da Rua Santa Cruz (1927) Residência da Rua Santa Cruz (1927) Residência Luiz da Silva Prado, projetada por Gregori Warchavchik O nacionalismo e a vegetação na obra de Tarsila do Amaral O mandacaru Mandacaru quando fulora na seca É o sinal que a chuva chega no sertão Toda menina que enjoa da boneca É sinal que o amor já chegou no coração Gonzagão A bananeira O Em outra direção, Alfred Agache (1875-1959) no Rio de Janeiro trabalhava na transformação urbana segundo a moda do 2° Império Francês, com reformas urbanas que mudavam o perfil da cidade imperial, com desmontes e aterros, além da definição de jardins arquitetônicos geométricos, segundo os jardins franceses do século XVIII, como a Praça Paris de 1926 e os Jardins do Calabouço de 1929. Além disso, é importante citar a presença de alguns arquitetos que, a partir da década de 30, passaram a valorizar e dar certo tratamento em seus projetos para os espaços abertos. Entre eles, Lúcio Costa, Attilio Correa Lima, Francisco Bolonha, além de Rino Levi - neste caso, o próprio arquiteto fazia o desenho para os pátios e jardins de seus projetos arquitetônicos - entre outros. Residência Olivo Gomes / Rino Levi - São José dos Campos, 1951 A partir dos anos 40 chega ao país o playground, criação típica norte-americana, que consiste basicamente na concentração de conjuntos de brinquedos industrializados, em determinados locais dos espaços livres, em geral público, para lazer infantil. A crescente carência de espaços livres para lazer infantil populariza esse tipo de equipamento que se torna obrigatório nas escolas e pré-escolas de então, particularmente nos jardins de infância, nas praças públicas e parques. Aterro do Flamengo, em sua configuração atual, o parque foi inaugurado em 1965 Forma-se no período um verdadeiro arquétipo projetual sobre a figura da nova praça, que deve conter dentro do imaginário dos projetistas, e mesmo de muitos usuários, uma série de elementos padrão. Roberto Burle Marx Paisagista Formação: Escola Nacional de Belas Artes (São Paulo, 4 de agosto de 1909 – Rio de Janeiro, 4 de junho de 1994) O movimento moderno no paisagismo nacional veio a reboque do movimento moderno na arquitetura e no urbanismo brasileiro, que se instala nos anos 30. Nos anos 40, 50 e 60 difunde-se pelo país, sendo institucionalizado pelo novo Estado que se estabelece, sendo transformado em um dos produtos da modernidade e identidade nacional. A construção do projeto do Ministério da Educação e Saúde, citado como o marco da modernidade arquitetônica, urbanística e paisagística brasileira. O Palácio Gustavo Capanema foi inaugurado em 1946 (projeto de 1937), como sede do então Ministério da Educação e Saúde do Governo Vargas. Para sua concepção e realização, alguns dos grandes mestres da arquitetura e das artes dos anos de 1930 estiveram reunidos: Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernany de Vasconcelos e Jorge Machado Moreira, com a consultoria do francês Le Corbusier. As artes integradas: Roberto Burle Marx, Cândido Portinari, Bruno Giorgi, Adriana Janacópulus, Celso Antônio e Jacques Lipchitz. O edifício reuniu pela primeira vez alguns das características fundadoras da arquitetura moderna, com o uso de pilotis, planta livre, terraço-jardim, fachada livre e janela em fita. Burle Marx, muito atento aos movimentos culturais contemporâneos, percebe desde os anos 30, o anacronismo entre o desenho do jardim e a produção artística e arquitetônica da vanguarda, questionando-se sobre o que estava sendo proposto. Desde cedo teve contato com Lúcio Costa para quem desenvolveu seu primeiro projeto, em 1932, o terraço jardim da residência Alfredo Schwartz em Copacabana, projetada por Lúcio Costa juntamente com Gregori Warchavchik. Burle Marx, com a experimentação de seus jardins, vai além das tentativas cubistas da França e das tímidas e isoladas investidas de Mina Klabin, realizando um verdadeiro avanço e uma grande ruptura com o que se produzia até então. Seus projetos agregam conteúdos aos jardins modernos: levam em consideração as características do sítio, as demandas do cliente e a variedade das visadas. Burle Marx esboça uma estrutura estética auto-referenciada dos jardins, em termos da experiência visual e do corpo, uma vez que não busca uma representação de uma situação idealizada, uma natureza perfeita, simétrica ou natural: finalmente a forma se libera da figuração. Criou os principais parques do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília; praças e jardins de grandes corporações, museus, bancos, casas e prédios de apartamentos. Executou importantes projetos fora do país, como o Parque Del'Este, em Caracas - Venezuela - (1956) e o parque junto as Torres Patronas na Indonésia. O trabalho de Burle Marx sempre esteve ligado ao poder e às elites: são seus os jardins dos Palácios do Itamaraty (Relações Exteriores), do Exército em e outrosmais Brasília, o Aterro do Flamengo (Rio de Janeiro) e o Parque das Mangabeiras (Belo Horizonte). Parque Del'Este, Caracas - Venezuela (1956) Parque junto as Torres Patronas na Indonésia Jardins dos Palácios do Itamaraty (Relações Exteriores) Aterro do Flamengo (Rio de Janeiro Parque das Mangabeiras (Belo Horizonte) Burle Marx assume ainda o caráter de exterioridade do jardim, relacionando-o com o espaço público e com o ambiente circundante. Surge assim, a possibilidade de incorporação do espaço exterior e da paisagem à arquitetura e desaparece a conotação “frente” e “fundos” relacionada à ideia tradicional de jardim de chácara - e presente ainda no jardim da Casa da Rua Itápolis. Escultura-chave de Yayoi Kusama, de 1966, 500 esferas brilhantes de aço flutuam nos espelhos d’água da cobertura do Centro Educativo Burle Marx, Inhotim. O projeto da residência Edmundo Cavanellas, em Pedro do Rio (1954), pressupõe não só o rompimento com a implantação e setorização tradicional do jardim, como também possibilita sua inversão através do processo de descoberta do jardim. O terreno se localiza em um vale e a arquitetura é implantada transversalmente a este, possibilitando a criação de duas áreas distintas: a parte oeste com canteiros sinuosos com traçados fluidos de cor e a parte leste com formas rígidas como as estruturas de tabuleiro em tons de verde e a piscina geométrica. Este percurso mostra a possibilidade de inversão na hierarquia frente-fundos, fazendo com que a arquitetura e a paisagem caminhassem juntos para o fim de uma espacialidade estática, centrada e simétrica, havendo uma colaboração dinâmica para a busca de uma plástica expansiva, liberada e dinâmica. “A minha conceituação filosófica de paisagem construída baseia-se na direção histórica de todas as épocas, reconhecendo, em cada período, a expressão do pensamento estético que se manifesta nas demais artes. Neste sentido, a minha obra reflete a modernidade, a data em que se processa, porém jamais perde de vista as razões da própria tradição, que são válidas e solicitadas”. Um design de capa para uma edição de 1953 da revista Rio. Burle Marx experimentou com novas formas, em diferentes formatos, incluindo obras de escultura, que ele integrou, muitas vezes, em seus projetos paisagísticos. Um modelo de um marco escultural para a Praça Sérgio Pacheco, a Câmara Municipal, o projeto de Uberlândia (1974). Um trabalho de colagem sem título, feito em 1967, ilustra diversas atividades artísticas de Burle Marx. Fazer jardim é fazer arte. Quando trabalho um jardim, penso nas leis que orientam os problemas artísticos: contrastes, textura, relação entre volumes, harmonia e oposição de cores. Apenas não quero fazer um jardim que seja pintura de uma maneira diferente. Nunca pensei em um jardim bidimensional, jardim sempre tem terceira dimensão. E outra coisa importantíssima é a quarta dimensão: o tempo necessário para se observar esse espaço. Quando planto uma aléia ou agrupamento de árvores em relação a uma horizontal, estou fazendo arte. Se pensar em floração roxa perto da floração branca ou rosa, estou pensando pictoricamente (...) Quando se faz um quadro, a cor depende da luz que incide, mas sempre se trabalha sobre uma superfície. No jardim, as cores e os volumes estão sujeitos às modificações climáticas. Num jardim, tenho de pensar que ele pode ser visto à noite num dia de tempestade, de chuva, ou ensolarado, e que a cor das plantas se modifica com as horas (...) Quando faço um projeto, tenho que conhecer o lugar: se tem clima tórrido, de montanha ou temperado; quais as plantas que nascem na região. É preciso conhecer também o usuário. Deve-se levar em conta tudo isso (...) Se existe um jardim, é porque existe uma composição estética. Le Corbusier defendia a arquitetura implantada em meio à natureza intocada, com base em um ingênuo idealismo que aceitava a visão sentimental da natureza de Rousseau, (um ambiente selvagem e natural extremamente abundante e acolhedor a ponto de parecer ter sido criado na medida exata para bem servir ao homem), Burle Marx desenvolvia um gesto estético acompanhado de uma forte intencionalidade, onde o jardim se torna uma obra de arte. REFERÊNCIAS: • http://www.fau.usp.br/depprojeto/gdpa/paisagens/artigos/ 2003SilvioM-Burle.pdf • https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/17068/17068_6.PDF • file:///C:/Users/Sandra/Desktop/Fundamentos%20Paisagis mo_Aula%202_Hist%C3%B3ria%20do%20Paisagismo.pdf • http://arquiteturaeprojetox.blogspot.com/2015/01/oscar- niemeyer-casa-cavanelas-uma.html • https://www.archdaily.com.br/br/792669/roberto-burle- marx-um-mestre-muito-alem-do-paisagista-modernista
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