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DESCRIÇÃO Apresentação dos sistemas dispersos e dos fatores relacionados ao seu preparo e aplicação. Diferenciação das formas farmacêuticas de aplicação tópica e apresentação de sistemas transdérmicos. PROPÓSITO Conhecer diferentes formas farmacêuticas e suas particularidades é de fundamental importância para o desenvolvimento e manipulação de produtos com características e estabilidade adequadas. PREPARAÇÃO Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos papel, caneta e uma calculadora ou use a calculadora de seu smartphone/computador. OBJETIVOS MÓDULO 1 Definir os fatores que interferem no preparo e estabilidade das suspensões, bem como os excipientes adequados para esta forma farmacêutica MÓDULO 2 Descrever o conceito de emulsões, seus métodos de fabricação e o sistema EHL, bem como suas características e os excipientes farmacêuticos adequados MÓDULO 3 Reconhecer as particularidades dos géis, pomadas e pastas, bem como suas aplicações e métodos de preparo MÓDULO 4 Identificar as aplicações de formulações transdérmicas, bem como suas características e os fatores que interferem na absorção do fármaco pela pele INTRODUÇÃO Neste tema, conheceremos um pouco mais sobre os sistemas dispersos. Uma dispersão é uma formulação que contém uma fase dispersa na forma de partículas ou gotículas em uma fase contínua, de modo que o fármaco não se encontre solubilizado, mas uniformemente distribuído em um veículo adequado. Uma dispersão pode ser fina, grosseira ou coloidal. Veremos essas definições com mais calma nos módulos a seguir, bem como as particularidades de cada uma dessas formas farmacêuticas, suas aplicações e os cuidados que precisamos ter ao formulá-las. Um fator de grande importância para sistemas dispersos é a estabilidade da formulação. Estudaremos, portanto, as estratégias que podemos adotar para garantir essa estabilidade pelo maior tempo possível. Vamos lá? MÓDULO 1 Definir os fatores que interferem no preparo e estabilidade das suspensões, bem como os excipientes adequados para esta forma farmacêutica Foto: Shutterstock.com CARACTERÍSTICAS DAS SUSPENSÕES Suspensões são dispersões grosseiras constituídas por partículas sólidas insolúveis de fármaco ((fase interna da formulação)) dispersas em um meio líquido, chamado de fase externa da formulação. Ao contrário das soluções, aqui o fármaco não está dissolvido no veículo e, portanto, esta forma farmacêutica é útil para a administração de fármacos pouco solúveis ou insolúveis. A principal diferença entre uma suspensão farmacêutica e uma dispersão coloidal é o tamanho das partículas dispersas: nas dispersões coloidais o tamanho das partículas é de 1 nm a 1 µm, enquanto nas suspensões, as partículas são maiores que 1 µm (normalmente entre 1 e 50 µm). Idealmente, uma suspensão adequada é aquela cujas partículas permanecem uniformemente distribuídas, sem decantarem. No entanto, na prática, isso não é possível e, assim, ao formular uma suspensão, devemos cuidar para que, após depositadas no fundo do recipiente, as partículas sejam facilmente redispersas, por meio de agitação, e formem novamente uma mistura uniforme por tempo suficiente para que a dose adequada seja administrada. Além disso, a viscosidade da formulação deve permitir a sua remoção da embalagem, e o tamanho de partícula deve se manter constante por períodos prolongados. Algumas suspensões estão disponíveis já prontas para uso, ou seja, com as partículas de fármacos dispersas em um veículo líquido. Outras, no entanto, precisam ser disponibilizadas na forma de pós secos, que serão redispersos em veículo adequado, geralmente, água purificada, apenas no momento da sua administração. Essas suspensões são chamadas de extemporâneas (Figura 1) e são recomendadas para fármacos instáveis se mantidos na presença de líquidos por um período prolongado. Prednisona e rifampicina, por exemplo, têm indicação para esse tipo de preparo. Foto: Shutterstock.com Figura 1. Suspensão extemporânea. O Quadro 1 apresenta as vantagens e desvantagens dessa forma farmacêutica. Permitem a administração de fármacos pouco solúveis ou insolúveis. Permitem o mascaramento de sabores indesejáveis. Permitem a administração a pacientes com dificuldade de deglutição. Permitem a liberação controlada de fármacos. São naturalmente instáveis, exigindo um cuidado extra no desenvolvimento da formulação. Podem conter grande volume, sendo de difícil transporte pelo paciente. A via de administração mais comum das suspensões é a oral, mas elas também podem ser utilizadas para administração parenteral, oftálmica e tópica. ESTABILIDADE DAS SUSPENSÕES Termodinamicamente, um sistema disperso pode ser considerado estável sempre que não houver interação entre as partículas. As suspensões são, por natureza, fisicamente instáveis, isto é, devido ao tamanho das partículas, existe uma tendência natural à sedimentação pelo efeito da força da gravidade. Diversos fatores estão envolvidos nesse processo de sedimentação, e a velocidade com que ele ocorre pode ser definida pela Lei de Stokes (Equação 1). Apesar de essa não ser a realidade de muitas suspensões farmacêuticas, podemos usar esta equação para entender o efeito de cada fator na sedimentação das partículas. Equação 1. Lei de Stokes. ΔV ΔT = D2 ΡS -ΡT G 18Ր1 Fonte: Jones (2008, p. 32). LEI DE STOKES A lei de Stokes é válida para suspensões ideais, em que não há interação entre as partículas em suspensões que contêm, no máximo, 2% p/p de fármaco. Onde: δv/δt é a velocidade de sedimentação; d é o diâmetro médio de partícula; ρs e ρt referem-se às densidades das partículas sólidas e do veículo, respectivamente; ր1 é a viscosidade do veículo; g é a gravidade. ( ) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Vamos agora entender a influência de cada um dos fatores presentes na fórmula! DIÂMETRO MÉDIO DE PARTÍCULA Quanto maior o diâmetro das partículas de fármaco, maior será sua velocidade de sedimentação. Isso porque, quanto maior a partícula, maior a influência da gravidade sobre ela e mais rapidamente ela tende a sedimentar. DENSIDADE DAS PARTÍCULAS SÓLIDAS E DO VEÍCULO Quanto maior a densidade das partículas de fármaco, maior será sua velocidade de sedimentação. Isso porque, quanto mais densa a partícula, maior será a influência da gravidade sobre ela e mais rapidamente ela tende a sedimentar. VISCOSIDADE DO VEÍCULO Quanto maior a viscosidade do veículo, menor será a velocidade de sedimentação das partículas. Isso porque, quanto mais viscoso o veículo, mais difícil é a locomoção das partículas por ele, de modo que elas demoram mais tempo para atingir o fundo do recipiente. Assim, sabemos que, ao formular uma suspensão, precisamos prestar atenção no tamanho e na densidade das partículas e na viscosidade da fase externa (veículo). Ou seja, para reduzir a velocidade de sedimentação, precisamos reduzir o diâmetro médio das partículas e aumentar a viscosidade do veículo. A redução do tamanho de partícula pode ser obtida, em escala laboratorial, por meio de trituração com gral ou pistilo ou, em larga escala, por meio do processo de micronização. Já o aumento da viscosidade do meio pode ser alcançado pela adição de polímeros hidrofílicos na formulação. Falaremos mais sobre isso no tópico de formulação de suspensões. MICRONIZAÇÃO Moagem ultrafina por choques entre as partículas do próprio produto, em alta velocidade. Para esse tipo de processo, utiliza-se o moinho de ar comprimido. O ar comprimido pode chegar a até 500 m/s, e carreia, nesta velocidade, as partículas dos produtos. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) ATENÇÃO Um parâmetro importante para a estabilidade das suspensões e que estará relacionado com a capacidade das partículas de se atraírem ou se repelirem é o potencial zeta. Ele pode ser determinado experimentalmente e, como reflete a carga superficial nas partículas,está relacionado à repulsão eletrostática entre elas e com a estabilidade da suspensão. A especialista Patrícia Dias fala sobre o conceito de potencial zeta e sua influência na estabilidade das suspensões. FLOCULAÇÃO CONTROLADA Já vimos que as suspensões são, por natureza, instáveis, de modo que haverá sempre uma tendência a sedimentação das partículas. Temos duas possibilidades para essa sedimentação. 1. As partículas formam um sedimento compacto, rígido, que não é possível redispersar (caking). Isso acontece quando as partículas vencem a barreira repulsiva e começam a sedimentar umas sobre as outras. Conforme vão se depositando no fundo do recipiente, elas se comprimem pelo peso das partículas de cima, diminuindo a distância entre elas e interagindo em um nível em que as forças coesivas são extremamente fortes e irreversíveis. Isso ocorre quando temos uma redução, em módulo, no valor do potencial zeta, capaz de fazer as forças atrativas predominarem. 2. As partículas formam um sedimento frouxo, que ocupa um grande volume, facilmente redispersível. Para evitar a formação de agregados compactos com altas forças de coesão, que não têm a capacidade de se redispersar, pode-se utilizar a estratégia de floculação controlada. Essa consiste na indução intencional de um processo de floculação, pelo qual as partículas se unirão por meio de interações fracas, formando uma espécie de rede, também chamada de flóculos (Figura 2). Nesse caso, as partículas interagem de modo a formar uma estrutura frouxamente associada, que precisa de pouca energia para ser desfeita. Assim, com a agitação é possível obter a redispersão e a homogeneidade da formulação. A taxa de floculação depende do número de partículas presente, de modo que, quanto maior o número de partículas, mais colisões haverá e mais provável será a floculação. Imagem: Pixabay, adaptado por Flávio Borges. Figura 2. Suspensão floculada. ATENÇÃO Portanto, a floculação controlada induz à formação de flóculos que, por sua vez, possuem interações fracas, que são facilmente quebradas com a agitação, permitindo a redispersão do fármaco no veículo. Como agentes floculantes, pode-se utilizar certos eletrólitos, como cloreto de cálcio ou alumínio que, ao serem adicionados à formulação, reduzem a barreira elétrica entre as partículas e funcionam como uma espécie de ponte entre elas, mantendo-as unidas. Alguns tensoativos também podem exercer essa função. Por fim, a variação do pH da formulação também é capaz de induzir o processo de floculação. Um parâmetro usado para avaliar a sedimentação das suspensões é o volume de sedimentação, ou seja, a proporção entre o volume de sedimento e o volume inicial da suspensão. Em suspensões floculadas, o volume de sedimentação será alto, enquanto em suspensões defloculadas (com formação de caking), com sedimento compacto, esse volume será baixo. FORMULAÇÃO DE SUSPENSÕES E EXCIPIENTES FARMACÊUTICOS A formulação das suspensões farmacêuticas visa, principalmente, à estabilidade do produto. Como já vimos, segundo a Lei de Stokes, quanto maior o tamanho das partículas, maior é a sua velocidade de sedimentação. Assim, tamanhos reduzidos de partículas são preferidos. Para isso, pode-se realizar processos de micronização como, por exemplo, a moagem. No entanto, ao reduzir o tamanho de partícula, sua energia livre superficial aumenta consideravelmente e um fenômeno de instabilidade que pode ocorrer é a maturação de Ostwald. Ele ocorre quando partículas muito pequenas se unem à superfície de partículas maiores, gerando partículas com diâmetros muito grandes (Figura 3). Imagem: Bfigura / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0 Figura 3. Representação do processo de maturação de Ostwald. Vejamos a seguir os adjuvantes farmacêuticos comumente empregados em suspensões. Agentes suspensores/Estabilizantes estéricos Para evitar a maturação de Ostwald, pode-se utilizar como excipiente polímeros hidrofílicos, chamados estabilizantes estéricos. Eles adsorvem nas partículas de fármaco, impedindo que uma partícula se una a outra. À medida que duas partículas ((revestidas com polímero)) se aproximam uma da outra, haverá repulsão estérica devido a uma sobreposição das cadeias de polímero adsorvidas. Isso evitará que as partículas tenham contato muito próximo ((no mínimo primário)) . A concentração de polímero hidrofílico deve ser suficiente para aumentar a repulsão, mas não impedir a interação fraca das partículas para o processo de floculação (Figura 4). Imagem: Aulton (2016) Figura 4. Impedimento estérico causado por polímeros. Cabe ressaltar que a adição de polímeros hidrofílicos geralmente aumenta a viscosidade da formulação, o que reduz a velocidade de sedimentação e aumenta a estabilidade física da suspensão. Os polímeros mais utilizados são os derivados de celulose (metilcelulose, hidroxietilcelulose etc.), alginato de sódio, polivinilpirrolidona ((PVP)) , entre outros. Agentes molhantes Um dos problemas encontrados na dispersão de materiais sólidos em água é que o pó ((hidrofóbico)) eventualmente não é facilmente molhável pelo veículo ((hidrofílico)) . Isso dificulta a sua distribuição homogênea na formulação e a retirada da dose correta do fármaco, além de aumentar as chances de agregação entre as partículas. A molhabilidade de um pó pode ser descrita em termos de um parâmetro chamado ângulo de contato (θ) (Figura 5). Quanto mais baixo ele for, menor serão as tensões interfaciais e, portanto, mais fácil é a incorporação da partícula sólida no líquido. Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges. Figura 5. Ângulo de contato entre partícula de pó e veículo líquido. SAIBA MAIS Na prática, podemos usar um agente molhante para melhorar essa propriedade. Enquadram-se nessa categoria os tensoativos, cuja função é diminuir a tensão interfacial entre veículo e fármaco, como os polissorbatos, e algumas moléculas hidrofílicas, como a glicerina e o sorbitol. Eles funcionam deslocando o ar que envolve as partículas de sólido, permitindo a penetração do meio de dispersão no pó. AGENTES FLOCULANTES Como vimos anteriormente, a floculação controlada é uma estratégia importante para evitar a formação de caking. Para isso, são adicionados eletrólitos, cuja função é reduzir o potencial zeta e, consequentemente, a repulsão elétrica entre as partículas. Assim, elas tenderão a se juntar, formando flóculos que tendem a sedimentar, gerando um alto volume de sedimentação, facilmente redispersível. Tensoativos também podem exercer a função de reduzir o potencial zeta e aumentar a floculação, podendo também se enquadrar na classificação de agente floculante. CONSERVANTES Uma vez que as suspensões são, na maioria das vezes, veiculadas em embalagens multidose, a utilização de conservantes se faz necessária. Como exemplos, podemos citar os parabenos e ácidos orgânicos (como ácido benzoico). EDULCORANTES / FLAVORIZANTES Quando a formulação é de uso pediátrico, é normal a adição de edulcorantes e flavorizantes, de modo que o medicamento seja mais facilmente aceito pelas crianças. Por ser uma base altamente aromatizada, adoçada e colorida, muitas vezes essas suspensões pediátricas são confundidas com xaropes. Como exemplos, citamos a sacarose e o sorbitol. ANTIOXIDANTES A fim de evitar a oxidação do fármaco e aumentar sua estabilidade química, antioxidantes podem ser adicionados à formulação. Como exemplos, há o metabissulfito de sódio, o sulfito de sódio e o ácido ascórbico. VEÍCULO O veículo mais utilizado para o preparo de suspensões é a água purificada. A utilização de soluções-tampão também é uma possibilidade, caso seja necessário controlar o pH da formulação. O ácido cítrico e o citrato de sódio são comumente usados como um sistema tampão para suspensões orais. MÉTODOS DE PREPARO As suspensões farmacêuticas geralmente são preparadas por incorporação direta. Para isso, primeiramente os componentes solúveis são dissolvidos em umvolume pequeno de diluente. Em seguida, o fármaco sólido é disperso no veículo, sob agitação, para evitar a agregação das partículas. Por fim, o volume da suspensão é corrigido para o volume final de formulação. No caso em que o fármaco não é facilmente molhado no veículo, antes da sua dispersão, é importante umedecê-lo com um agente molhante para, em seguida, incorporá-lo ao diluente. Pode-se utilizar glicerina, propilenoglicol, entre outros. Em escala laboratorial, esse processo pode ser feito em gral e pistilo, enquanto, em maior escala, pode-se utilizar um moinho coloidal, por exemplo. Em relação ao tamanho de partícula do fármaco, ele pode ser reduzido antes ou depois da incorporação no veículo. Antes da incorporação pode-se fazer uma moagem a seco. Após a incorporação pode-se fazer uma moagem úmida, como em moinho coloidal. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE A ESTABILIDADE É UM FATOR CRÍTICO PARA A FORMA FARMACÊUTICA SUSPENSÃO. SOBRE OS FATORES QUE AFETAM A ESTABILIDADE DAS SUSPENSÕES, ASSINALE A AFIRMAÇÃO CORRETA: A) Quanto menor o tamanho das partículas, maior é a sua velocidade de sedimentação. B) Quanto menor a viscosidade do veículo, menor é a velocidade de sedimentação das partículas. C) Quanto menor a densidade das partículas, maior é sua velocidade de sedimentação. D) Quanto maior o tamanho das partículas, maior é sua velocidade de sedimentação. E) O tamanho das partículas não influencia na sua velocidade de sedimentação. 2. VIMOS QUE A SEDIMENTAÇÃO DAS PARTÍCULAS DE UMA SUSPENSÃO PODE OCORRER DE DIFERENTES FORMAS. SOBRE ESSE PROCESSO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) Suspensões defloculadas formam sedimento mais rápido e mais compacto, dificultando sua redispersão. B) Suspensões floculadas possuem menor volume de sedimento, facilitando sua redispersão. C) Deve-se evitar a produção de suspensões floculadas, pois a formação de flóculos acelera o processo de sedimentação e dificulta sua redispersão. D) Suspensões floculadas formam sedimento mais rápido e mais compacto, dificultando sua redispersão. E) Suspensões floculadas possuem maior volume de sedimento, facilitando sua redispersão. GABARITO 1. Vimos que a estabilidade é um fator crítico para a forma farmacêutica suspensão. Sobre os fatores que afetam a estabilidade das suspensões, assinale a afirmação correta: A alternativa "D " está correta. A velocidade de sedimentação das partículas pode ser descrita pela Lei de Stokes. De acordo com ela, quanto maior o tamanho e a densidade das partículas, maior é sua velocidade de sedimentação. Por outro lado, quanto maior a viscosidade da fase externa, menor é a velocidade de sedimentação das partículas. 2. Vimos que a sedimentação das partículas de uma suspensão pode ocorrer de diferentes formas. Sobre esse processo, assinale a alternativa correta. A alternativa "E " está correta. A floculação controlada é o processo em que induzimos a floculação de uma formulação para que o sedimento formado tenha um maior volume de sedimento, a interação entre as partículas seja mais fraca e sua redispersão seja mais fácil. Suspensões defloculadas demoram mais a formar sedimentos, mas elas são mais compactas e, portanto, mais difíceis de redispersar. MÓDULO 2 Descrever o conceito de emulsões, seus métodos de fabricação e o sistema EHL, bem como suas características e os excipientes farmacêuticos adequados Imagem: Shutterstock.com CARACTERÍSTICAS DAS EMULSÕES Emulsões são dispersões grosseiras constituídas por duas fases líquidas imiscíveis. A fase dispersa ou fase interna da formulação está distribuída na forma de finas gotículas pela fase dispersante (também chamada contínua ou fase externa da formulação) (Figura 6). Imagem: Shutterstock.com Figura 6. Representação esquemática da junção de água e óleo, dois líquidos imiscíveis. Uma vez que essas fases são imiscíveis entre si, para que seja possível estabilizar esse sistema, precisamos adicionar um terceiro componente, chamado de agente emulsificante. Os agentes emulsificantes, também chamados agentes estabilizantes, são substâncias que possuem em sua molécula características tanto polares quanto apolares e, por isso, permitem a interação entre as duas fases e a manutenção da estabilidade da emulsão. As emulsões são geralmente constituídas por uma fase aquosa e uma fase oleosa, podendo ser classificadas em água em óleo (A/O) ou óleo em água (O/A), de acordo com a natureza do componente da fase contínua. Assim, para formulações cuja fase contínua é oleosa e a fase dispersa é aquosa, teremos uma emulsão do tipo A/O. Para emulsões em que a fase contínua é aquosa e a fase dispersa é oleosa, teremos uma emulsão do tipo O/A, a mais comum em formulações farmacêuticas. Um esquema representativo desses tipos de emulsões pode ser visto na Figura 7. Existem, ainda, as emulsões múltiplas, como A/O/A, em que temos uma fase aquosa dispersa em uma fase oleosa que, por sua vez, está dispersa em uma fase aquosa. Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges. Figura 7. Tipos de emulsões. Além do volume de cada fase, o tipo de emulsão irá depender da natureza do agente emulsificante adicionado, que abordaremos adiante. Uma vez que a fase dispersa está fragmentada em pequenas gotículas envoltas pela fase externa, as emulsões podem ser utilizadas com o objetivo de proteger/mascarar a fase interna. Por exemplo, em situações em que um fármaco oleoso tem um sabor desagradável, ele poderia ser veiculado em uma emulsão do tipo O/A, na qual ficaria na fase interna ((oleosa)) , envolto pela fase externa ((aquosa)) . Essa estratégia também pode ser utilizada para proteger um fármaco de determinado agente. O quadro 2 apresenta as principais vantagens e desvantagens das emulsões. Permitem a administração concomitante de fármacos solúveis e insolúveis. Permitem o mascaramento de sabores indesejáveis de fármacos. Permitem a proteção de fármacos de agentes/ambientes agressivos. Permitem a liberação controlada de fármacos (emulsões múltiplas principalmente). Permitem veicular agentes com certo potencial irritante na fase interna da emulsão. São naturalmente instáveis, exigindo um cuidado extra no desenvolvimento da formulação. COMENTÁRIO Dentre as características desejáveis de uma emulsão, citamos a estabilidade física que, assim como nas suspensões, é um desafio tecnológico importante. Vamos agora entender os fatores que afetam a estabilidade e como podemos fazer para evitar problemas na formulação. TEORIAS DA ESTABILIZAÇÃO DAS EMULSÕES Como dito anteriormente, além das fases aquosa e oleosa, a adição de um agente emulsificante se faz necessária para que seja possível formar a emulsão. Ao exercer um efeito mecânico ((como a agitação)) para tentar misturar as duas fases imiscíveis sem a presença desse agente, observamos a seguinte sequência de acontecimentos: Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges. Figura 8. Fase aquosa e oleosa sem a presença de um agente emulsificante. Formação de pequenas gotículas da fase dispersa, que resulta em uma grande área superficial e, consequentemente, em um aumento na energia livre interfacial do sistema. Temos, nesse caso, um sistema termodinamicamente instável. Gotículas da fase dispersa começam a se juntar, num processo chamado de coalescência, a fim de tentar reduzir a energia livre interfacial do sistema. Ocorre a separação total das duas fases, voltando ao formato original, no qual a energia livre interfacial do sistema é mínima e, portanto, ele é termodinamicamente estável. Ao adicionar um agente emulsificante, tornamos possível a mistura dessas duas fases e a formação de uma emulsão com aparência uniforme. O mecanismo pelo qual isso acontece pode ser explicado por diversas teorias, as teorias de estabilização das emulsões. Vejamos abaixo cada uma delas. TEORIA DA TENSÃO SUPERFICIAL Quando óleo e água existem como duas fases totalmente separadas, a energia livre do sistemaé mínima e, portanto, ele está estável. A força que impede que os dois líquidos formem gotículas pequenas e se misturem para formar a emulsão é chamada tensão superficial. A adição de um agente emulsificante (como um surfactante) reduz a atração de cada fase pelas suas próprias moléculas, facilitando a fragmentação em gotas e reduzindo a tensão interfacial. Imagem: Shutterstock.com Imagem Ilustrativa para teoria da tensão superficial. TEORIA DA CUNHA ORIENTADA Os agentes emulsificantes serão preferencialmente mais solúveis em uma das fases de uma emulsão. A teoria da cunha orientada diz que esses agentes irão se orientar na superfície e para dentro da fase com a qual ele tem mais afinidade em maior intensidade do que na outra. Em geral, a fase pela qual o agente emulsificante tem mais afinidade tenderá a ser a fase externa ((ou contínua)) da emulsão. Assim, geralmente um agente emulsificante com caráter mais hidrofílico que lipofílico irá contribuir para a formação de emulsões do tipo O/A, enquanto agentes emulsificantes com caráter mais lipofílico que hidrofílico favorecerão a formação de emulsões do tipo A/O. Essa generalização é conhecida como Regra de Bancroft. Imagem: Shutterstock.com TEORIA DOS FILMES INTERFACIAIS Segundo esta teoria, os agentes emulsificantes são capazes de formar, na interface entre óleo e água, uma fina camada de filme ao redor das gotículas, impedindo sua coalescência. Esse filme pode também ser formado por grupos eletricamente carregados, gerando repulsão entre gotículas que se aproximam, impedindo a coalescência. Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges. Tipos de emulsões. COMENTÁRIO Uma única teoria não é capaz de explicar o mecanismo de ação dos diversos agentes emulsificantes disponíveis para a manipulação de uma emulsão. Portanto, as três teorias são aplicáveis no desenvolvimento e estabilidade das emulsões. FENÔMENOS DE INSTABILIDADE DE EMULSÕES Como vimos anteriormente, para as emulsões se manterem estáveis, precisamos que as pequenas gotículas da fase dispersa permaneçam nesta configuração por um longo período, superando a tendência de se juntarem umas às outras, gerando gotículas maiores. A estabilização de uma emulsão pode ocorrer por meio da criação de cargas ao redor das gotículas, que alteram o potencial zeta, ou por um impedimento estérico, quando algum componente localizado ao redor das gotículas dificulta a aproximação entre elas e a sua coalescência. O primeiro tipo de estabilização é geralmente alcançado pela utilização de tensoativos iônicos, que possuem carga positiva ((tensoativos catiônicos)) ou negativas ((tensoativos aniônicos)) . Já a estabilização estérica ocorre geralmente com componentes não iônicos, mas com cadeias grandes o suficiente para dificultar a aproximação das gotículas. Alguns polímeros podem exercer essa função. No entanto, de acordo com a natureza do filme interfacial formado, com a quantidade de agente emulsificante utilizada, com outros componentes da formulação que podem ser incompatíveis e com fatores externos, alguns fenômenos de instabilidade podem acontecer (Figura 9). Vejamos um pouco mais sobre eles a seguir. Imagem: Elaborado por Patricia Cardoso e Adaptado por Flávio Borges. Figura 9. Fenômenos de instabilidade das emulsões. CREMAGEM FLOCULAÇÃO COALESCÊNCIA SEPARAÇÃO OU QUEBRA DA EMULSÃO INVERSÃO DE FASE CREMAGEM https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps1 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps1 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps2 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps2 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps3 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps3 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps4 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps4 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps5 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps5 Quando a diferença entre as densidades das fases dispersa e contínua é grande, as gotículas da fase dispersa tendem a sedimentar (se forem mais densas) ou flutuar (se forem menos densas), formando uma espécie de “nata” na formulação. Isso pode ser observado com o leite, que é uma emulsão O/A, quando a nata sobe e cria uma camada na superfície. Esse processo é reversível e pode ser contornado com a agitação. Apesar disso, sua ocorrência deve ser evitada, uma vez que o aspecto pode gerar desconfianças por parte do paciente, além de dificultar a retirada correta da dose de ativo. Além disso, a possibilidade de coalescência fica aumentada devido à proximidade das gotículas. A velocidade com que as gotículas se movimentarão seguirá a Lei de Stokes, que vimos anteriormente. Assim, sabemos que, ao aumentar a viscosidade da fase contínua, a velocidade das gotículas será reduzida. Isso pode ser feito com agentes espessantes como, por exemplo, os derivados de celulose. A diminuição do tamanho das gotículas, que pode ser feita utilizando um moinho coloidal, também tende a diminuir a sua velocidade. FLOCULAÇÃO A floculação está relacionada a forças coesivas e repulsivas existentes entre as partículas. Mesmo com filmes interfaciais bem formados, é possível que haja uma interação capaz de gerar a floculação, ou seja, a associação fraca e reversível entre as gotículas da emulsão, que pode ser revertida com agitação. No entanto, se essa aproximação entre as partículas for capaz de gerar um enfraquecimento do filme interfacial, pode haver a coalescência. COALESCÊNCIA A coalescência é um processo irreversível no qual as gotículas se fundem para formar gotículas maiores. Esse fenômeno geralmente ocorre quando o filme interfacial não é forte o suficiente, ou seja, os agentes emulsificantes usados não são os ideais para a formulação em questão. SEPARAÇÃO OU QUEBRA DA EMULSÃO Fenômeno irreversível, que consiste na separação total das fases constituintes de uma emulsão. A quebra da emulsão é consequência da coalescência. Isso porque, quando todas as gotículas de cada fase estão juntas, podemos enxergar as duas fases completamente separadas, como água e óleo, caracterizando a quebra. Esse fenômeno pode acontecer, por exemplo, devido à adição de algum componente incompatível com o agente emulsificante, como agentes tensoativos de cargas opostas, devido a mudanças de temperatura ou ao crescimento bacteriano. INVERSÃO DE FASE Ao tentar aumentar muito o volume da fase dispersa, é possível que ocorra uma inversão de fase, ou seja, a conversão de uma emulsão O/A em A/O e vice-versa. Outro fator capaz de induzir à inversão de fases é a alteração das características dos agentes emulsificantes, que pode ocorrer devido à adição de algum componente, como eletrólitos, ou, por exemplo, com o aquecimento, como acontece com emulsões estabilizadas com agentes emulsificantes não iônicos. SISTEMA EHL E A ESCOLHA DOS AGENTES EMULSIFICANTES De acordo com a intenção de uso e a via de administração, diferentes tipos de emulsão podem ser desejáveis. Emulsões administradas por via intravenosa devem ser do tipo O/A. Já emulsões destinadas à aplicação tópica podem ser de ambos os tipos, de acordo com a solubilidade do fármaco e com a consistência e grau de oclusão/hidratação desejados. Emulsões do tipo A/O são geralmente mais gordurosas e têm maior poder de fixação e de hidratação que as do tipo O/A. Uma das etapas mais importantes para garantir a estabilidade da formulação é a seleção dos agentes emulsificantes. Isso deve ser feito a partir do sistema chamado EHL ((Equilíbrio Hidrofílico-Lipofílico)) no qual as características de lipofilia e de hidrofilia dos emulsificantes são representadas por um valor numérico. Para que a emulsificação aconteça, é necessário que ocorra um equilíbrioentre a parte hidrofílica e a lipofílica do agente emulsificante, ou ele seria totalmente absorvido por uma das fases, não formando a película interfacial que estabiliza a emulsão. COMENTÁRIO Na maioria dos casos, um único tensoativo não apresenta um equilíbrio perfeito entre hidrofilia e lipofilia, sendo necessário utilizar uma combinação deles. O valor do EHL é utilizado, então, para saber a quantidade necessária de cada agente emulsificante. O valor de EHL representa a força da parte polar ((hidrofílica)) da molécula em relação à força da parte apolar ((lipofílica)) . Assim, quanto maior o EHL, mais hidrofílico será o tensoativo e, portanto, maior tendência de formar emulsões do tipo O/A. Por outro lado, quanto menor o EHL, mais lipofílico será o tensoativo, tendendo a formar emulsões do tipo A/O. É importante destacar que os valores de EHL são característicos para cada substância emulsificante. Vamos ver a seguir o passo a passo para calcular a quantidade necessária dos agentes emulsificantes para estabilizar uma formulação. CALCULAR O EHL REQUERIDO PELA FASE OLEOSA Cada componente da fase oleosa (FO) vai precisar de um tensoativo com certa característica de polaridade para estabilizá-lo. Como a fase oleosa não é composta por apenas um componente, precisamos fazer o cálculo para saber o valor de EHL necessário para estabilizar a fase como um todo. Para conhecer o EHL requerido pela fase oleosa, fazemos uma média ponderada, que considera a contribuição individual de cada componente, de acordo com a quantidade dele na mistura. Veja abaixo: TEORIA NA PRÁTICA Como exemplo, vamos calcular o EHL requerido pela FO na formulação abaixo: Imagem: Michelle Alvares Sarcinelli. ETAPA 1 ETAPA 2 Primeiro precisamos saber a porcentagem de cada óleo na FO. Esse cálculo pode ser feito da seguinte forma: Conhecendo as porcentagens de cada componente, podemos multiplicar pelo EHL requerido de https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps6 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps6 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps7 https://stecine.azureedge.net/repositorio/01972/index.html#collapse-steps7 cada óleo, fazendo uma média ponderada, da seguinte forma: CALCULAR AS QUANTIDADES DE CADA TENSOATIVO NO SISTEMA EMULSIFICANTE Uma emulsão é estável quando o EHL do sistema emulsificante é igual ou muito próximo ao EHL requerido pela fase oleosa (FO). Como o sistema emulsificante geralmente é formado por mais de um tensoativo, precisamos novamente fazer a média ponderada, que considera a contribuição individual de cada componente, de acordo com a quantidade dele na mistura. Veja abaixo: TEORIA NA PRÁTICA Vamos seguir resolvendo o mesmo exemplo. Consideremos que temos disponíveis no laboratório os seguintes tensoativos, com seus respectivos EHL: ETAPA 1 Sabemos que a soma dos dois componentes é igual a 100% do sistema emulsificante. Assim, podemos montar a seguinte equação: ETAPA 2 Podemos agora aplicar essas incógnitas na fórmula abaixo para descobrir as frações de cada tensoativo no sistema emulsificante: ETAPA 3 Agora que conhecemos a proporção necessária de cada tensoativo, vamos voltar à formulação do nosso exemplo. Perceba que são necessários 5 g do sistema emulsificante. Sabendo dessa informação, podemos calcular agora a massa a ser pesada de cada tensoativo, da seguinte forma: RESULTADO Ou seja, para atingir o EHL requerido pela FO do exemplo dado, são necessários 2,1 g de Spam 80 e 2,9 g de Tween 80. A especialista Patrícia Dias fala sobre os cálculos de EHL com exemplos de exercícios. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) FORMULAÇÃO E EXCIPIENTES A seleção adequada do agente emulsificante ou dos agentes emulsificantes é essencial para a manutenção da estabilidade de uma emulsão. Já vimos que isso pode ser feito pelo cálculo do EHL. Dentre os agentes emulsificantes mais comuns estão os tensoativos: Tipo Característica Exemplo Aniônicos Se ionizam assumindo carga negativa. Lauril sulfato de sódio Catiônicos Se ionizam assumindo carga positiva. Cloreto de benzalcônio Não iônicos Não possuem tendência à ionização. Polissorbatos Anfotéricos Se ionizam formando cargas positivas ou negativas, de acordo com o pH. Lecitina Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Por possuírem cargas opostas, tensoativos aniônicos e catiônicos são considerados incompatíveis (Figura 10). Imagem Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges. Figura 10. Tipos de tensoativos. Os tensoativos aniônicos perdem sua atividade em pHs muito baixos, assim como na presença de cátions di e trivalentes. Os catiônicos, por sua vez, perdem a atividade em pHs mais altos e na presença de ânions di e trivalentes. Os tensoativos não iônicos são os mais utilizados em emulsões farmacêuticas e toleram melhor as variações de pH e a presença de eletrólitos. Geralmente, a porção hidrofóbica da molécula é composta de um ácido graxo ou álcool graxo, enquanto a porção hidrofílica é composta de um álcool. Os álcoois de alto peso molecular, como o álcool estearílico, o álcool cetílico e o monoestearato de glicerila (Figura 11 a, b e c), são muito utilizados na formulação de emulsões por sua capacidade de espessar e, consequentemente, estabilizar as emulsões. Geralmente são utilizados em combinação com tensoativos hidrofílicos, interagindo com esses e aumentando a viscosidade da fase externa. Isso dificulta a movimentação das gotículas da fase interna, aumentando a estabilidade da formulação. Imagem: Michelle Alvares Sarcinelli. Figura 11 a. Estrutura química do álcool cetílico. Imagem: Michelle Alvares Sarcinelli. Figura 11 b. Estrutura química do álcool estearílico. Imagem: Michelle Alvares Sarcinelli. Figura 11 c. Estrutura química do monoestearato de glicerila. Além dos tensoativos, dos quais já falamos bastante, outros componentes podem ser utilizados na formulação de uma emulsão, conforme o Quadro 3. Classe farmacotécnica Exemplo Função Veículo Fase aquosa – Água purificada Fase oleosa – óleos vegetais Incorporar os componentes da formulação Agentes reguladores de pH Tampão citrato e fosfato Manter o pH dentro de uma faixa desejada Antioxidantes Fase aquosa – metabissulfito de sódio Fase oleosa – butil hidroxi tolueno (BHT) Proteger os óleos, que são altamente suscetíveis a oxidação Agente de viscosidade Polímeros hidrofílicos (derivados de celulose) Aumentar a estabilidade, uma vez que sistemas mais viscosos dificultam a movimentação das gotículas Conservantes Fase aquosa – Nipagin (Metilparabeno) Fase oleosa – Nipazol (Propilparabeno) Impedir a proliferação microbiana na formulação Quadro 3: Excipientes utilizados em emulsões. Elaborado por Michelle Alvares Sarcinelli. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Para o preparo de emulsões, seguimos o processo descrito na Figura 12. Imagem: Pixabay, adaptado por Flávio Borges. Figura 12. Formação de emulsão O/A. Caso exista entre os componentes da formulação materiais sólidos ou semissólidos, como ceras, ambas as fases devem ser aquecidas, separadamente, para que o material sólido se funda, conforme Figura 13. Imagem: Pixabay e Rakibrg1971 / Wikimedia Commons / CC BY-SA 4.0, adaptado por Flávio Borges. Figura 13. Preparo de emulsão O/A. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE OS TENSOATIVOS SÃO COMPONENTES ESSENCIAIS DE UMA EMULSÃO E AUXILIAM NA SUA ESTABILIZAÇÃO. SOBRE OS DIVERSOS TIPOS DE TENSOATIVOS, ASSINALE A AFIRMAÇÃO CORRETA: A) Tensoativos com características mais polares tendem a formar emulsões do tipo A/O. B) Tensoativos com características mais hidrofóbicas tendem a formar emulsões do tipo O/A. C) Tensoativos altamente ionizados e com grupos fortemente polares favorecem a formação de emulsões O/A. D) Tensoativos pouco dissociados favorecema formação de emulsões O/A. E) A escolha do tensoativo influencia na estabilidade da emulsão, mas não no tipo de emulsão formada. 2. VIMOS QUE AS EMULSÕES SÃO SISTEMAS TERMODINAMICAMENTE INSTÁVEIS E QUE PODEM SOFRER ALGUNS FENÔMENOS DE INSTABILIDADE. SOBRE ESSES FENÔMENOS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) A floculação é um processo irreversível, no qual as partículas unem-se umas às outras. B) A cremagem é um processo irreversível, no qual as partículas formam uma espécie de nata na superfície da emulsão. C) A quebra da emulsão é um fenômeno reversível e a emulsão pode ser restaurada com agitação. D) A floculação é um processo reversível, no qual as partículas formam uma espécie de nata na superfície da emulsão. E) A cremagem é um processo reversível, no qual as partículas formam uma espécie de nata na superfície da emulsão. GABARITO 1. Vimos que os tensoativos são componentes essenciais de uma emulsão e auxiliam na sua estabilização. Sobre os diversos tipos de tensoativos, assinale a afirmação correta: A alternativa "C " está correta. Agentes tensoativos carregados como oleatos de sódio e potássio, que são altamente ionizados e possuem grupos fortemente polares, favorecem emulsões O/A (nas quais a água é a fase contínua), tensoativos pouco dissociados tendem a produzir emulsões A/O. Da mesma forma, tensoativos não iônicos favorecem emulsões A/O (nas quais o óleo é a fase contínua) enquanto as emulsões O/A são produzidas por tensoativos mais hidrofílicos. 2. Vimos que as emulsões são sistemas termodinamicamente instáveis e que podem sofrer alguns fenômenos de instabilidade. Sobre esses fenômenos, assinale a alternativa correta. A alternativa "E " está correta. Floculação e cremagem são processos reversíveis, resolvidos com a agitação. Na floculação, as partículas unem-se frouxamente umas às outras e na cremagem elas flutuam, formando uma espécie de nata. A quebra da emulsão é um processo irreversível, no qual ocorre a separação total das fases. MÓDULO 3 Reconhecer as particularidades dos géis, pomadas e pastas, bem como suas aplicações e métodos de preparo Foto: Shutterstock.com GÉIS Os géis são sistemas semissólidos, constituídos por partículas coloidais ou por grandes moléculas dispersas em um veículo líquido. A interação entre esses dois componentes ocorre de modo que uma rede tridimensional é formada, na qual se tem o veículo (Figura 14). Imagem: Michelle Alvares Sarcinelli. Figura 14. Rede tridimensional de um gel formada por macromoléculas e um veículo líquido. O veículo pode ser aquoso, hidroalcoólico, alcoólico ou não aquoso. Já as partículas podem ser polímeros hidrofílicos ou sólidos inorgânicos dispersos, como argilas. Para os sólidos dispersos, a interação que ocorre entre as partículas para formar a rede tridimensional pode ser do tipo Van der Waals ou eletrostática. Veja no Quadro 4 as vantagens e desvantagens dos géis. Sensorial leve e agradável. Fácil aplicação. Fácil remoção. Podem ser aplicados em peles oleosas. Propiciam o crescimento microbiano. Ação mais superficial (baixa penetrabilidade cutânea). Os géis hidroalcoólicos tendem a ressecar a pele. TIPOS DE GÉIS Os géis formados por polímeros hidrofílicos são os mais comuns na área farmacêutica. As cadeias poliméricas, após dispersas no veículo, interagem entre si de forma irreversível ou reversível, originando géis, respectivamente, químicos (tipo 1) ou físicos (tipo 2). GÉIS QUÍMICOS (TIPO 1) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) As cadeias poliméricas unem-se umas às outras por ligações covalentes irreversíveis. O ponto em que as cadeiras poliméricas se cruzam é chamado de ligação cruzada ou reticulação (Figura 15). Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges. Figura 15. Ligações cruzadas ou retículações em polímeros. Dentre as características deste tipo de gel está a capacidade de suportar grandes quantidade de veículo líquido sem perder a estrutura tridimensional (até 100 vezes a sua massa original), a resistência à quebra e a boa flexibilidade. Devido às ligações covalentes, esse tipo de gel não flui ao receber energia. Dentre suas aplicações estão o uso como curativo em feridas e como implante para liberação controlada de fármacos. Um exemplo de gel químico são as lentes de contato gelatinosas. Imagem: Shutterstock.com GÉIS FÍSICOS (TIPO 2) Os géis físicos são os mais comuns em formulações farmacêuticas. Neles, as cadeias poliméricas interagem de forma reversível, por interações intermoleculares que são mais fracas que as ligações covalentes, como interação de Van der Waals, associação iônica ou interação de hidrogênio. Ao aplicarmos uma força, essas ligações são momentaneamente rompidas, permitindo que o gel flua. Após a remoção da força, as interações são restauradas e a viscosidade da formulação volta a ser como antes. Devido a esse comportamento, são chamados de sistemas pseudoplásticos. Dentre os polímeros mais utilizados nesses sistemas temos os derivados de celulose, como a hidroxietilcelulose, o poli (ácido acrílico) e os polissacarídeos derivados de fontes naturais, como o alginato de sódio. FORMULAÇÃO DOS GÉIS Vamos, agora, conhecer os fatores que influenciam as características das formulações e os javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) procedimentos para formulação dos géis. FATORES QUE INFLUENCIAM AS CARACTERÍSTICAS DAS FORMULAÇÕES Diversos fatores irão afetar as características da formulação. Vejamos alguns deles: 1. Massa molar do polímero 2. Natureza do solvente 3. pH da formulação 4. Força iônica 5. Temperatura Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal MASSA MOLAR DO POLÍMERO Quanto maior a massa molar do polímero hidrofílico, maior será a interação entre as cadeias e, consequentemente, a viscosidade da formulação será maior. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) NATUREZA DO SOLVENTE Quando utilizamos um solvente com o qual o polímero tem afinidade, temos uma expansão das cadeias poliméricas, a fim de permitir uma maior interação com o solvente. Por outro lado, quando utilizamos um solvente com o qual o polímero não tem afinidade, as cadeias poliméricas assumirão um estado enrolado, não expandido, e a gelificação não ocorrerá. PH DA FORMULAÇÃO O pH do solvente irá afetar a ionização dos polímeros, impactando a capacidade de expansão das cadeias poliméricas. No estado não ionizado, polímeros ácidos e básicos existem na conformação não expandida, e a gelificação não ocorrerá. Assim, a formulação deve estar em uma faixa de pH ótima em que obtemos a expansão máxima das cadeias poliméricas. Essa faixa será diferente para cada tipo de polímero. Já os polímeros não iônicos não serão tão impactados pela alteração de pH, resistindo a uma faixa mais ampla. FORÇA IÔNICA A presença de eletrólitos na formulação pode gerar uma blindagem da carga dos grupamentos de polímeros iônicos por um contra-íon, de modo que a interação entre polímero e solvente estará reduzida, diminuindo a viscosidade da formulação. TEMPERATURA A temperatura pode causar um processo de alteração de estado físico em alguns polímeros. Metilcelulose e hidroxipropilcelulose, por exemplo, sofrem um processo de gelificação em temperaturas de aproximadamente 60 °C. Uma vez que esta temperatura provavelmente nunca será atingida após a comercialização e armazenamento do produto, neste caso a situação não é crítica. Já no caso do Pluronic®, a transição ocorre em aproximadamente 40 °C. Abaixo desta temperatura o polímero é fluido e, acima, viscoso. Esse tipo de material é utilizado, por exemplo, em supositórios, quando é interessante que o produto assuma uma característica mais líquida quando em contato com o calor do corpo. PROCEDIMENTOS PARA FORMULAÇÃO DOS GÉIS De um modo geral,para formular géis, dissolvemos os componentes solúveis em água sob agitação. Em seguida, adicionamos, lentamente, o polímero até que ele se dissolva. É importante que esse processo não seja feito sob agitação vigorosa pois ela pode gerar o aprisionamento de ar, gerando bolhas e prejudicando a estética do gel. Foto: Shutterstock.com Imagem Ilustrativa para procedimentos para formulação dos géis. No entanto, as etapas para a formulação de géis irão variar em função do tipo de polímero utilizado. Como já vimos, de acordo com as características do agente gelificante ((polímero)) , diversos fatores poderão interferir na consistência e estabilidade do produto. Veremos então alguns dos exemplos mais utilizados na área farmacêutica. CARBOPOL® (CARBÔMERO 940) Os carbômeros são um grupo de polímeros de ácido acrílico solúveis em água. De acordo com o número que acompanha o nome (neste caso, 940), a massa molar varia, resultando em uma alteração também na viscosidade final do gel. O carbômero 940, mais conhecido como Carbopol®, é o mais utilizado por gerar uma viscosidade adequada. Geralmente é adicionado em uma concentração de 0,5% (p/v). Quando colocado em água, ele assume a configuração não expandida com um pH em torno de 3. Por isso, seu preparo exige o ajuste do pH da formulação para que a gelificação possa ocorrer. De uma forma geral, a transparência e a viscosidade máximas dos géis de carbômeros são alcançadas em pH 7, porém essas características começam a ficar aceitáveis em valores de pH javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) em torno de 5, estendendo-se até pH 11. SAIBA MAIS A trietanolamina ou o AMP ((amino metil propanol)) são geralmente utilizados para o processo de neutralização ((ajuste do pH)) , ionizando os grupos carboxila pendentes do polímero e resultando na expansão das cadeias, aumentando a viscosidade. Uma vez que este polímero não é capaz de manter a viscosidade em pHs muito baixos, não permite a incorporação de ativos ácidos. A especialista Patrícia Dias mostra na prática o preparo do gel de carbopol. NATROSOL® (HIDROXIETILCELULOSE) O Natrosol é um polímero não iônico, compatível com muitas substâncias solúveis em água. Ele forma dispersões claras, límpidas, lisas e viscosas. Além disso, forma um gel de fácil remoção, não oclusivo e com bom sensorial (sensação agradável ao toque). Ao contrário do gel de Carbopol®, permite a incorporação de ativos ácidos. Além dos polímeros, outros componentes são necessários para a formulação de géis, conforme mostrado no Quadro 5. Classe farmacotécnica Exemplo Função Veículo Água purificada Co-solventes: propilenoglicol e glicerina Os co-solventes auxiliam na dispersão do fármaco, quando necessário. Agentes reguladores de pH Tampão citrato e fosfato Manter o pH dentro de uma faixa desejada. Antioxidantes Metabissulfito de sódio Impedir a oxidação da formulação. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Corantes e essências Corante lilás e essência de lavanda Melhorar a estética da formulação. Conservantes Metilparabeno Impedir a proliferação microbiana na formulação. Quadro 5: Excipientes utilizados em géis. Elaborado por Michelle Alvares Sarcinelli. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal Foto: Shutterstock.com POMADAS Pomadas são formulações semissólidas destinadas ao uso externo, geralmente para aplicação na pele ou em mucosas, como olho, vagina, entre outras, com o objetivo de tratar infecções, inflamações ou coceiras. Elas podem conter substâncias medicamentosas ou não, como é o caso das pomadas que são empregadas como base para a incorporação futura de outros componentes. VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS POMADAS Facilidade de aplicação na pele, acompanhada de sua capacidade de formar uma camada, mantendo a hidratação. Ficam retidas no local por longos períodos, não exigindo a reaplicação constante e formando uma camada protetora. Boa formulação para fármacos susceptíveis à hidrólise, uma vez que sua quantidade de água geralmente é baixa. Sensorial gorduroso, não tão agradável e de difícil remoção com água. As pomadas são produtos altamente emolientes devido a sua composição, contendo, na maioria das vezes, grande quantidade de ceras e materiais oleosos. Existem diversas bases de pomadas e a escolha da base adequada deve considerar o local de aplicação, a velocidade necessária de liberação do fármaco da forma farmacêutica, a estabilidade do fármaco e a viscosidade desejada. Veja a seguir mais informações sobre cada um desses fatores. LOCAL DE APLICAÇÃO De acordo com o local de aplicação, diferentes características da pomada serão preferíveis. Se a região for seca e sem pelos, o ideal é uma base capaz de fazer uma oclusão, diminuindo a perda de água transepidérmica e aumentando a hidratação da região; por outro lado, se o local for úmido, como mucosas ou locais purulentos, ou com pelos, o ideal é que a base não seja oclusiva. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com Pomada aplicada em região seca e sem pelos. Foto: Shutterstock.com Pomada aplicada em região com pelos. VELOCIDADE DE LIBERAÇÃO DO FÁRMACO Para que o fármaco seja liberado da pomada e fique livre para agir na pele, ele precisa estar, em algum nível, solúvel na formulação para que possa se difundir através da base da pomada até atingir a superfície da pele. Assim, se o efeito desejado for imediato, devemos escolher uma base na qual o fármaco tenha maior solubilidade. Por outro lado, se desejamos um efeito prolongado, podemos utilizar uma base na qual o fármaco seja menos solúvel. ESTABILIDADE QUÍMICA DO FÁRMACO Para fármacos mais suscetíveis a hidrólise, devemos utilizar uma base não aquosa. VISCOSIDADE Em certas situações, a incorporação do fármaco em determinada base de pomada gera a alteração na sua viscosidade. Esse efeito será mais ou menos intenso de acordo com a concentração e as características do fármaco. O ideal é fazer testes de compatibilidade para saber se essa alteração ocorre e, em caso afirmativo, utilizar outra base de pomada. TIPOS DE BASES Conhecendo as características importantes para a seleção da base de pomada, vamos agora conhecer os quatro tipos de base existentes. Bases de hidrocarbonetos (hidrofóbicas) Bases removíveis/miscíveis em água Bases de absorção Bases solúveis em água/hidrossolúveis Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal BASES DE HIDROCARBONETOS (HIDROFÓBICAS) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) As bases de hidrocarbonetos são não aquosas, hidrofóbicas, geralmente constituídas de vaselinas. Por não terem afinidade com água, são boas para formar um filme oclusivo que impede a perda de água transepitelial, mantendo a região hidratada. Também por conta dessa característica, são de difícil remoção com água e suor e, assim, têm uma boa retenção e durabilidade na pele. As vaselinas utilizadas podem ser sólidas ou líquidas (óleo mineral). As formulações contendo vaselina líquida requerem a utilização de antioxidantes devido à sua maior tendência de sofrer oxidação. BASES DE ABSORÇÃO Ao contrário das bases de hidrocarbonetos, que não suportam água na formulação, as bases de absorção podem conter quantidades significativas de água. Apesar disso, continuam tendo características que geram oclusão, embora em menor grau que as de hidrocarbonetos, e que dificultam sua remoção com água, pois ainda possuem características hidrofóbicas. Dentre os componentes utilizados neste tipo de base, temos a lanolina, uma base emulsionada derivada da lã de ovelha, constituída por óleos vegetais e parafinas que tem a capacidade de absorver grandes quantidade de água. Geralmente, utiliza-se até 10% p/p de lanolina em uma pomada. BASES REMOVÍVEIS/MISCÍVEIS EM ÁGUAAs bases miscíveis em água já apresentam um pouco mais de polaridade quando comparadas às outras duas. Possuem componentes solúveis e insolúveis, que formam emulsões do tipo O/A para aplicações tópicas. Por serem menos apolares, permitem a incorporação de grandes volumes de água, não são oclusivas e são facilmente removidas com água. Além disso, seu sensorial é melhor podendo, inclusive, serem aplicadas nos cabelos. Um exemplo de base removível é a pomada hidrofílica, composta por vaselina branca e álcool estearílico. BASES SOLÚVEIS EM ÁGUA/HIDROSSOLÚVEIS As bases solúveis em água são formadas exclusivamente por componentes solúveis em água. Por isso, não são gordurosas, são fáceis de remover e compatíveis com a maior parte dos fármacos. Dentre os componentes utilizados temos os PEGs (polietilenoglicol) de diferentes massas molares, que permitem chegarmos à consistência desejada. Menores massas molares produzem formulações mais líquidas e maiores massas molares produzem formulações mais viscosas. Apesar da afinidade com a água, a incorporação de grandes quantidades de água nesse sistema é dificultada, pois isso pode dissolver a base da pomada. Assim, elas geralmente são usadas para incorporação de ativos sólidos. Foto: Shutterstock.com Além das bases, outros excipientes podem ser adicionados às pomadas para melhorar suas características e aumentar a estabilidade do fármaco. Vejamos alguns deles no Quadro 6. Classe farmacotécnica Exemplo Função Óleos vegetais Óleo de semente de uva Potencializar as propriedades emolientes e hidratantes da formulação. Ésteres orgânicos Miristato de isopropila Melhorar a espalhabilidade da formulação e aumentar a dissolução do fármaco na base. Antioxidantes Metabissulfito de sódio Impedir a oxidação da formulação, principalmente dos componentes oleosos. Corantes e essências Corante lilás e essência de lavanda. Melhorar a estética da formulação. Conservantes Metilparabeno Impedir a proliferação microbiana nas pomadas que possuem maior quantidade de água. Quadro 6: Excipientes utilizados em pomadas. Elaborado por Michelle Alvares Sarcinelli. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal PASTAS As pastas farmacêuticas são dispersões com grandes concentrações ((pelo menos 20%)) de substâncias insolúveis, numa base que pode ser oleosa ou aquosa. Em geral, são utilizadas em condições dermatológicas nas quais ocorre exsudação, pois a grande quantidade de pó auxilia na absorção de líquidos. Foto: Shutterstock.com Na pasta de Lassar, por exemplo, os pós correspondem a 50% da formulação, como podemos ver abaixo: VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS PASTAS Dentre as vantagens das pastas temos: Devido ao alto teor de sólidos, as pastas são capazes de reter umidade do local aplicado, sendo adequadas para regiões inflamadas e com pus. Sua alta concentração de pós e opacidade permitem seu uso como filtro solar físico de boa durabilidade, sendo usada por esportistas aquáticos. Permitem a incorporação de ativos susceptíveis à hidrólise devido ao baixo teor de umidade. Como desvantagens, podemos destacar: São de difícil remoção devido à baixa afinidade com a água. Devido ao alto teor de pó e à opacidade, mancham roupas com muita facilidade. Não têm um sensorial agradável. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE OS GÉIS PODEM SER FORMADOS POR PEQUENAS PARTÍCULAS OU GRANDES MOLÉCULAS DISPERSAS EM UM VEÍCULO LÍQUIDO. DE ACORDO COM O AGENTE GELIFICANTE UTILIZADO, DIFERENTES CUIDADOS SERÃO NECESSÁRIOS DURANTE O PREPARO. SOBRE OS DIFERENTES TIPOS DE GÉIS, ASSINALE A AFIRMAÇÃO CORRETA: A) O gel de Carbopol® é constituído por um carbômero que possui viscosidade máxima em pH 4, sendo necessário fazer o ajuste na formulação. B) O gel de Natrosol® é constituído de um polímero que possui viscosidade máxima em pH 4, sendo necessário fazer o ajuste na formulação. C) Géis de Carbopol® resistem melhor à incorporação de substâncias ácidas do que os géis de Natrosol®. D) Géis de Natrosol® resistem melhor à incorporação de substâncias ácidas do que os géis de Carbopol®. E) Géis de Carbopol® têm viscosidade máxima em pHs ácidos, enquanto géis de Natrosol® têm viscosidade máxima em pHs básicos. 2. VIMOS QUE AS POMADAS PODEM SER MUITO ÚTEIS PARA ALGUNS CASOS, MAS QUE TAMBÉM TÊM ALGUNS INCONVENIENTES. SOBRE AS VANTAGENS E DESVANTAGENS DAS POMADAS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) Normalmente têm o sensorial gorduroso, não sendo muito agradáveis ao toque. B) Normalmente são fáceis de aplicar e de remover. C) São capazes de gerar oclusão e hidratação, mas exigem reaplicação constante. D) Não são adequadas para a veiculação de fármacos susceptíveis à hidrólise devido à quantidade de água na formulação. E) Devido à quantidade de água na formulação, são comumente de fácil remoção com água. GABARITO 1. Vimos que os géis podem ser formados por pequenas partículas ou grandes moléculas dispersas em um veículo líquido. De acordo com o agente gelificante utilizado, diferentes cuidados serão necessários durante o preparo. Sobre os diferentes tipos de géis, assinale a afirmação correta: A alternativa "D " está correta. O gel de Carbopol® exibe viscosidade máxima em pH 7, sendo tolerável a partir de 5. Por esse motivo, não resiste à incorporação de substâncias ácidas. Os géis de Natrosol®, por sua vez, não apresentam essa característica e, portanto, são os escolhidos para a incorporação de ativos ácidos. 2. Vimos que as pomadas podem ser muito úteis para alguns casos, mas que também têm alguns inconvenientes. Sobre as vantagens e desvantagens das pomadas, assinale a alternativa correta. A alternativa "A " está correta. Devido à grande quantidade de componentes oleosos, as pomadas costumam ser fáceis de aplicar, além de serem capazes de formar uma camada, mantendo a hidratação. Dessa forma, ficam retidas no local por longos períodos, não exigindo a reaplicação constante e formando uma camada protetora. São, também, uma boa formulação para fármacos susceptíveis à hidrólise, uma vez que a quantidade de água geralmente é baixa. Por outro lado, como desvantagens temos o sensorial gorduroso, não tão agradável e de difícil remoção com água. MÓDULO 4 Identificar as aplicações de formulações transdérmicas, bem como suas características e os fatores que interferem na absorção do fármaco pela pele Foto: Shutterstock.com A aplicação de produtos sobre a pele pode ser feita com o objetivo de uma ação local, como, por exemplo, uma pomada antipruriginosa, ou com o objetivo de ação sistêmica, quando o fármaco deve atingir a circulação sanguínea. Nesse caso, chamamos a formulação de transdérmica, e algumas características são extremamente importantes para que ocorra a absorção do fármaco. A pele é o nosso maior órgão e sua função é proteger o organismo de fatores ambientais que podem ser agressivos. Por isso, precisamos conhecer suas características e seus mecanismos de defesa para, então, entender as particularidades de formulações destinadas a esta região. Vamos lá? ANATOMOFISIOLOGIA DA PELE A principal função da pele é proteger nosso organismo dos agentes agressores externos. Além disso, ela realiza diversas outras funções fisiológicas, como regulação de temperatura, excreção e metabolismo. A pele é dividida em três camadas principais: epiderme, derme e hipoderme (Figura 16). Imagem Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges. Figura 16. Camadas da pele. Veja a seguir as características de cada uma dessas camadas. EPIDERME Camada mais externa de pele, composta por um epitélio estratificado, pavimentoso e queratinizado. Divide-se em epiderme viável ((com células vivas)) e epiderme não viável ((com células mortas)) , também chamada de estrato córneo (Figura 17). Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges. Figura 17. Epiderme. Estrato Córneo Queratinócitos Corneócitos Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagemhorizontal javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) ESTRATO CÓRNEO O estrato córneo é composto por aproximadamente 40% de queratina e 40% de água, e tem caráter lipofílico devido à presença de triglicerídeos, ácidos graxos livres, colesterol e fosfolipídeos. QUERATINÓCITOS Os queratinócitos compõem 80% da epiderme, e se proliferam na camada basal da epiderme, empurrando outros queratinócitos no sentido da superfície. Quando isso ocorre, eles se achatam e perdem seus núcleos, sofrendo diferenciação em corneócitos, as células mortas que formam o estrato córneo. A principal função dos queratinócitos é sintetizar queratina. CORNEÓCITOS Os corneócitos são células anucleadas e têm seu citoplasma preenchido por queratina, uma proteína impermeável à água. Eles se organizam dispostos um por cima dos outros e intercalados por substâncias glicolipídicas, semelhantes a tijolos e cimento (Figura 18), formando uma eficiente barreira à passagem de água e substâncias solúveis em água. Imagem: Shutterstock.com Figura 18. Organização dos corneócitos intercalados por substâncias glicolipídicas. Além dos queratinócitos e dos corneócitos, a epiderme também tem melanócitos (produção de melanina), células de Langerhans (função imunológica) e células Merkel (integradas ao sistema nervoso). DERME A derme é a camada intermediária da pele, que se apresenta grossa, elástica e mais firme. Seus principais componentes estruturais são o colágeno e a elastina, tecidos conjuntivos que dão força e flexibilidade à pele, sendo essenciais para a sua saúde e juventude (Figura 19). A matriz extracelular é rica em glicosaminoglicanos e ácido hialurônico. Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges Figura 19. Derme. Muitos cosméticos anti-idade tentam atingir e ficar retidos nesta camada. Já as formulações transdérmicas precisam alcançar a corrente sanguínea, o que já é possível nesta camada, que é vascularizada. HIPODERME A hipoderme é a camada mais interna da pele, que armazena energia, amortece impactos e isola termicamente o corpo. Assim, possui importante papel na termorregulação do organismo, na reserva de nutrientes e na proteção contra traumas mecânicos. Ela é composta principalmente por adipócitos (células adiposas que formam uma espécie de “almofada”), fibras especiais de colágeno (tecidos conjuntivos soltos e esponjosos que mantêm as células adiposas juntas) e vasos sanguíneos. COMENTÁRIO Além das camadas já citadas, também podemos encontrar o que chamamos de anexos, como os folículos pilosos, glândulas sebáceas e ductos sudoríparos. Eles não são muito relevantes para a absorção de fármacos porque estão presentes apenas em uma pequena proporção da superfície da pele (Figura 20). Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Flávio Borges Figura 20. Hipoderme. SISTEMAS TRANSDÉRMICOS A administração transdérmica de fármacos objetiva a passagem de substâncias ativas através da superfície da pele e de suas diversas camadas até atingir a circulação sistêmica. ATENÇÃO Apesar de também ter a pele como local de aplicação, as formulações tópicas visam um efeito local, retido na superfície (ex.: repelente) ou nas camadas superficiais da pele (ex.: cosméticos anti-idade), não atingindo a circulação sanguínea. Já vimos que o estrato córneo altamente queratinizado é a principal barreira ao transporte dos fármacos através da pele. Esse transporte pode ocorrer pela via transcelular ((através das células)) ou paracelular ((por entre as células)) , sendo este último o majoritário. Uma vez que as células são unidas entre si por material lipídico, formulações apolares apresentam maior sucesso nesse transporte. No entanto, se o fármaco for muito lipofílico, dificuldades poderão ser encontradas nas camadas mais profundas da pele, como na epiderme aquosa viável. FATORES QUE AFETAM A ABSORÇÃO PERCUTÂNEA Vejamos, agora, os fatores que afetam a absorção percutânea de fármacos. Peso molecular do fármaco Coeficiente de partição óleo/água Grau de dissociação Concentração do fármaco Área de aplicação Afinidade pelo veículo e pela pele Grau de hidratação da pele Região de aplicação Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal PESO MOLECULAR DO FÁRMACO Quanto maior o peso molecular do fármaco administrado, menor será a quantidade de fármaco absorvida. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) COEFICIENTE DE PARTIÇÃO ÓLEO/ÁGUA O coeficiente de partição O/A precisa ser adequado, pois, quanto maior a lipofilicidade do fármaco, maior a capacidade de ultrapassar o estrato córneo. Por outro lado, alguma solubilidade em água é necessária para o transporte nas camadas mais profundas da pele. GRAU DE DISSOCIAÇÃO Quanto maior o grau de ionização do princípio ativo, menor será a capacidade de ultrapassar o estrato córneo e ser absorvido, uma vez que moléculas não ionizadas têm maior facilidade de serem transportadas pela via paracelular, na qual predomina o conteúdo lipídico. CONCENTRAÇÃO DO FÁRMACO Em geral, quanto maior a concentração de fármaco no sistema transdérmico, maior será a quantidade de fármaco absorvida por intervalo de tempo. ÁREA DE APLICAÇÃO Quanto maior a área de aplicação, maior será a quantidade de fármaco absorvida por intervalo de tempo. AFINIDADE PELO VEÍCULO E PELA PELE É importante que o fármaco tenha mais afinidade pela pele do que pelo veículo da formulação em que se encontra. Caso contrário, o fármaco tenderá a permanecer associado na formulação e, assim, sua absorção será restrita. GRAU DE HIDRATAÇÃO DA PELE Quanto mais hidratada a pele estiver, maior será a absorção do fármaco, pois gera o intumescimento (inchaço) do estrato córneo, aumentando sua permeabilidade. REGIÃO DE APLICAÇÃO Regiões com uma camada córnea mais fina terão maior absorção do fármaco, enquanto regiões com camadas córneas mais espessas terão menor absorção. PROMOTORES DE ABSORÇÃO CUTÂNEA Existem algumas formas de aumentar a absorção percutânea. Geralmente, isso é feito por meio de promotores de absorção, que interagem com os componentes do estrato córneo, reduzindo, de forma reversível, a resistência cutânea à difusão do ativo. O promotor de absorção ideal é inerte, atua de maneira reversível, é atóxico, não irritante e compatível com a formulação. Eles podem ser classificados em físicos e químicos. PROMOTORES FÍSICOS DE ABSORÇÃO CUTÂNEA A massagem e a iontoforese são exemplos de promotores físicos. A massagem estimula a liberação de histamina e acetilcolina, gerando vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo, facilitando a absorção do fármaco. Já a iontoforese é um método eletroquímico, que cria um gradiente de potencial elétrico na pele por meio de corrente elétrica ou voltagem. Um fármaco carregado é colocado sob o eletrodo de mesma polaridade, de modo que, quando a corrente flui, ele é repelido em direção à pele. Foto: Shutterstock.com PROMOTORES QUÍMICOS DE ABSORÇÃO CUTÂNEA São compostos que reduzem a resistência do estrato córneo devido a alterações como na hidratação do estrato córneo, na mudança na estrutura dos lipídeos intercelulares, entre outros. Sua seleção deve considerar sua toxicidade dérmica e sua compatibilidade físico-química com os outros componentes do sistema. A água é o promotor químico de absorção mais usado porque, como já vimos, quanto maior a hidratação, maior a absorção dos fármacos. Além dela, álcoois de baixa massa molar também são utilizados, como o etanol, o propilenoglicol, entre outros. Imagem: Shutterstock.com ADESIVOS TRANSDÉRMICOS Os adesivos transdérmicos, também conhecidos como patches, são os produtos transdérmicos mais amplamenteconhecidos. Existem os sistemas simples, formados apenas pelo fármaco em um adesivo, ou sistemas mais elaborados, que podem ser de dois tipos: Sistemas transdérmicos reservatórios, que controlam a velocidade de liberação do fármaco para a pele. Sistemas transdérmicos matriciais, que permitem que a pele controle a velocidade de absorção. Foto: Shutterstock.com Independentemente do tipo, os adesivos precisam fazer a oclusão da pele para garantir o fluxo unilateral do fármaco no estrato córneo, não devem irritar ou sensibilizar a pele, e devem aderir bem à pele e ter tamanho e aparência adequados para aumentar a adesão do paciente. SAIBA MAIS Por serem destinados à absorção sistêmica do fármaco, alguns cuidados devem ser tomados com o uso de adesivos transdérmicos. Em primeiro lugar, sua aplicação deve ser feita na região recomendada pelo fabricante. Já vimos que a absorção é variável dependendo da região de aplicação, de modo que colocá-lo em uma região não recomendada pode resultar em doses erráticas. Além disso, o local de aplicação deve estar limpo e seco, para permitir a correta adesão do sistema. Sua remoção da embalagem deve ser feita de maneira cuidadosa, para não rasgar ou comprometer a dose de fármaco inicial. Por fim, é importante ressaltar que esses adesivos não devem ser cortados, ou a dosagem de fármaco será prejudicada. SISTEMAS SIMPLES DE ADESIVO E FÁRMACO Os adesivos de nicotina representam esse tipo de sistema. Para fabricá-lo, dissolvemos ou dispersamos o fármaco em uma substância adesiva e, em seguida, adicionamos uma camada de reforço. Por fim, uma película removível é aplicada. Foto: Shutterstock.com Esse tipo de sistema não suporta grandes quantidades de fármaco, sendo, geralmente, de uso diário. SISTEMAS RESERVATÓRIOS OU CONTROLADOS POR MEMBRANA Esses sistemas constituem um reservatório dentro do qual o fármaco está inserido na forma sólida, semissólida ou suspensa em um líquido. Imagem: DanielTahar / Wikimedia Commons / CC-BY-SA-4. As paredes do reservatório são impermeáveis de um lado e porosas ou microporosas do outro, que são responsáveis pelo controle da liberação do fármaco. Essa liberação ocorre em uma velocidade menor do que a capacidade de absorção na pele, de modo que a absorção é controlada pelo sistema transdérmico, e não pela pele. COMENTÁRIO Uma vantagem desse tipo de adesivo é que, enquanto a solução do fármaco no reservatório permanecer saturada, a velocidade de liberação do fármaco através da membrana permanecerá constante, devido ao gradiente de concentração entre o adesivo e a pele. Como desvantagem, podemos citar o fato de o fármaco se encontrar todo dentro do mesmo compartimento. Caso a membrana se rompa, o fármaco fica exposto e perde-se o controle de sua liberação. Uma vez que existe uma membrana que controla a liberação do fármaco, nesse tipo de sistema geralmente se adiciona um pouco de fármaco à camada adesiva para que o efeito comece antes. Além da membrana limitante da taxa, existem ainda a substância adesiva, a camada de reforço e a película removível (Figura 21). Imagem: Allen Jr.; Popovich; Ansel (2013, p. 349), adaptada por Flávio Borges. Figura 21: Estrutura do adesivo transdérmico reservatório Transderm-Nitro (summit). Para preparar esse tipo de sistema, iniciamos pela parte responsável pela liberação, enchemos o reservatório com o fármaco e, por fim, fazemos a selagem ou laminação. Foto: Shutterstock.com SISTEMAS MONOLÍTICOS OU MATRICIAIS Esses sistemas são os mais utilizados. Neles, o fármaco é disperso em uma matriz polimérica contendo uma camada adesiva, que controla a liberação do fármaco. Um lado da matriz permanece em contato com a pele, enquanto o outro lado é protegido por uma membrana laminada. O fármaco se difunde pela estrutura até o local de absorção. É possível que a matriz contenha ou não um excesso de fármaco em relação à solubilidade. Quando não tem excesso, o fármaco fica disponível para manter a saturação do estrato córneo apenas enquanto seu nível no dispositivo exceder o limite de solubilidade na pele. Conforme a concentração de fármaco no dispositivo diminui abaixo do limite de saturação da pele, o transporte de fármaco do dispositivo para a pele diminui. Por outro lado, quando trabalhamos com excesso, a reserva garante a continuidade da saturação contínua no estrato córneo. A velocidade de liberação diminui mais lentamente do que no sistema sem excesso. Ao contrário do sistema reservatório, a velocidade de fármaco liberada é maior do que a capacidade de absorção da pele, sendo esta última responsável pelo controle do processo. Para preparar esse tipo de sistema o fármaco e o polímero são misturados e submetidos a um processo de secagem, formando uma matriz gelificada. Esta será, então, incorporada entre a camada de reforço e a película removível. A especialista Patrícia Dias fala sobre diferença entre adesivos matriciais e reservatório. Teremos, então, a possibilidade das seguintes camadas para um sistema de liberação transdérmico: Película removível: para ser retirada pelo paciente antes da aplicação. Camada adesiva: para manter a adesão à pele após a aplicação. Membrana limitante/semipermeável: separam o reservatório da substância adesiva. Matriz ou reservatório: região onde o fármaco estará, de fato, dissolvido ou disperso para ser liberado para a pele. Camada de suporte: para manter a oclusão da pele, mantendo a hidratação e aumentando a absorção. Protege o sistema transdérmico de perdas para o ambiente. VANTAGENS E DESVANTAGENS O Quadro 7 resume as vantagens e desvantagens dos sistemas transdérmicos de fármacos. Evitam o metabolismo hepático de primeira passagem. Não são invasivos. Permitem tratamento prolongado com uma única aplicação. Fácil aplicação e remoção. Fácil interrupção do tratamento. Alta adesão dos pacientes. Fácil identificação em caso de emergências. Podem gerar dermatite de contato. Poucos fármacos têm características físico-químicas adequadas para esta via. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. VIMOS QUE DIVERSOS FATORES INFLUENCIAM A ABSORÇÃO DO FÁRMACO ATRAVÉS DA PELE. SOBRE ESSES FATORES, ASSINALE A AFIRMAÇÃO CORRETA: A) Quanto maior o peso molecular do fármaco administrado, menor será a quantidade de fármaco absorvida pela pele. B) Quanto menor a lipofilicidade do fármaco, maior será a capacidade de ultrapassar a pele. C) Quanto maior o grau de dissociação, maior será a capacidade de ultrapassar o estrato córneo e ser absorvido. D) O peso molecular do fármaco não interfere no processo de absorção. E) A lipofilicidade do fármaco não interfere no processo de absorção. 2. VIMOS QUE ALGUMAS RECOMENDAÇÕES SÃO IMPORTANTES PARA O USO DE ADESIVOS TRANSDÉRMICOS. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA. A) Para a utilização de adesivos transdérmicos, a região de aplicação é extremamente importante. Por isso, deve-se escolher uma região onde a pele seja mais fina. B) Para a utilização de adesivos transdérmicos, caso não desejemos a dose completa, o corte poderá ser realizado, desde que feito com cautela, exatamente no meio do adesivo. C) Para a aplicação de adesivos transdérmicos, o ideal é que a pele esteja úmida pois a presença de água aumenta a absorção do fármaco. D) A película removível dos adesivos deve ser removida e colada na pele. E) Para a aplicação de adesivos transdérmicos, o ideal é que a pele esteja seca para aumentar a adesão do adesivo. GABARITO 1. Vimos que diversos fatores influenciam a absorção do fármaco através da pele. Sobre esses fatores, assinale a afirmação correta: A alternativa "A " está correta. O estrato córneo é uma camada com características lipofílicas e o principal mecanismo de transporte dos fármacos é por difusão paracelular. Dessa forma, quanto maior o peso molecular, mais difícil será para esse transporte ser realizado e, portanto, menor a quantidade de fármaco absorvida através da pele. Além disso, quanto maior a lipofilicidade, maior a capacidade
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