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1 Nathália Brendler | Med. Vet. | Unidade do conhecimento 11: sistema cardiovascular e respiratório Anomalias do desenvolvimento a) Persistência do arco aórtico direito (PAAD) Anomalia em que há o desenvolvimento do arco direito ao invés do esquerdo, de forma que a aorta fica situada à direita do esôfago e da traqueia. Como consequência, é formado um ligamento fibroso sobre o esôfago, comprimindo-o sobre a traqueia e ocasionando disfagia, regurgitação e megaesôfago. Exame radiográfico contrastado de um canino mostrando dilatação esofágica no PAAD (seta). b) Persistência do ducto arterioso Após o nascimento, a conexão fetal (ducto arterioso) entre a aorta e a artéria pulmonar permanece, o que ocasiona um desvio de sangue da esquerda para direita. Os achados na necropsia contêm hipertrofia dos ventrículos em função de sua sobrecarga, além de congestão pulmonar, pois grande parte do sangue que sairia da aorta é lançada para a pequena circulação. Persistência do ducto arterioso em búfalo. A = aorta; P = artéria pulmonar; * = ducto arterioso. c) Estenose A presença de uma zona espessa de tecido fibroso na abertura da válvula aórtica ou pulmonar obstrui o fluxo sanguíneo para a artéria pulmonar ou aorta. A estenose aórtica é um estreitamento da abertura da válvula aórtica que bloqueia (obstrui) o fluxo de sangue do ventrículo esquerdo para a aorta. É muito vista em cães e a principal consequência é a hipertrofia do ventrículo acometido. Estenose da artéria pulmonar. d) Cordas tendíneas anômalas As cordas tendíneas estão inseridas em localizações anormais, como na parede livre dos ventrículos, septo interventricular ou de um músculo papilar a outro. Resultam em refluxo sanguíneo e consequente dilatação atrial, seguida ou não de insuficiência cardíaca. KKK e) Displasia de válvulas atrioventriculares A malformação da válvula mitral e/ou tricúspide não permite o seu fechamento correto, o que gera refluxo sanguíneo para o átrio durante a sístole ventricular. Seta: cordas tendíneas anômalas; ponta de seta: displasia da válvula mitral. 2 Nathália Brendler | Med. Vet. | Unidade do conhecimento 11: sistema cardiovascular e respiratório f) Displasia do miocárdio A substituição gradual dos cardiomiócitos por células adiposas ou tecido conjuntivo fibroso altera os impulsos elétricos e promove arritmias. É hereditário em cães na raça Boxer. Displasia de miocárdio com substituição de cardiomiócitos por adipócitos em um canino. Alterações circulatórias a) Hemorragias Quadros de septicemia, toxemia ou anoxia são causas frequentes de hemorragias no coração, principalmente subepicárdicas. É uma alteração intensa e marcante no carbúnculo sintomático em bovinos. Epicárdio de um equino com hemorragias petequeais e sufusões b) Hidropericárdio Acúmulo excessivo de transudato no saco pericárdico. O fluido é aquoso, claro, transparente ou ligeiramente amarelado, pobre em proteínas e não coagula ao ser exposto ao ar. Está associado a processos patológicos que levam ao aumento de pressão hidrostática, aumento de permeabilidade vascular, diminuição da pressão oncótica ou de drenagem linfática, como a insuficiência renal crônica, insuficiência cardíaca direita ou bilateral ou massas neoplásicas. Hidropericárdio em búfalo. c) Hemopericárdio Acúmulo de sangue no saco pericárdico. As causas mais comuns são ruptura de vasos ou átrios por trauma e ruptura de hemangiossarcoma. Pode levar à morte por choque cardiogênico associado à insuficiência cardíaca aguda. Na necropsia, os achados podem ser coágulos sanguíneos ou, em autólise avançada, sangue denso e viscoso. Hemopericárdio em cão. Alterações inflamatórias a) Endocardite Inflamação do endocárdio na região das válvulas (endocardite valvular) ou, com menor frequência, na parede dos átrios ou ventrículos (endocardite mural). Endocardite valvular: nas espécies domésticas acomete principalmente a válvula mitral. A causa principal é infecção bacteriana, sendo que o desgaste das válvulas favorece a aderência e a proliferação das bactérias. A lesão inicial consiste em pequenas ulcerações irregulares nas bordas valvulares, cuja evolução consiste em massas amareladas ou acinzentadas de 3 Nathália Brendler | Med. Vet. | Unidade do conhecimento 11: sistema cardiovascular e respiratório tamanho variável e extremamente friáveis conhecidas como “endocardite valvular vegetativa”. Nas lesões mais crônicas, os depósitos de fibrina dão aspecto verrugoso. Nódulos vegetativos de endocardite valvular em cão. Endocardite mural: geralmente é secundária à inflamação valvular. Macroscopicamente, a superfície atrial é irregular, rugosa, ulcerada e esbranquiçada devido à deposição de minerais. A endocardite mural pode se estender para as válvulas e miocárdio. Endocardite mural e valvular em caprino b) Miocardite Processo inflamatório do miocárdio que resulta, em geral, de infecções disseminadas via hematógena. Pode ser focal, multifocal ou difusa a depender do agente infeccioso envolvido, que pode ser vírus, bactéria, metazoário, protozoário ou fungo. No processo inflamatório focal, após a resolução pode-se observar fibrose. Casos mais difusos podem levar o animal à morte por insuficiência cardíaca aguda ou crônica. Miocardite supurada: causada por bactérias piogênicas. Macroscopicamente, observam-se áreas pálidas multifocais ou múltiplos abscessos no miocárdio. Miocardite supurada em cão c) Paricardite: processo inflamatório do pericárdio causado por diversos agentes, dentre eles a Pasteurella spp., Clostridium chauvoei e Brucella abortus. É classificada de acordo com o tipo de exsudato presente: seroso, fibrinoso ou supurado. Pericardite serosa: acúmulo de líquido rico em proteínas, conteúdo hemorrágico variável e pouca fibrina. Pericardite fibrinosa: a superfície do pericárdio é recoberta por quantidade variável de material filamentoso friável (fibrina) de coloração amarelo-acinzentada, que pode estar misturado com sangue. É o tipo mais comum. Pericardite supurada (ou fibrinopurulenta): exsudato purulento misturado com fibrina no saco pericárdico. A alteração causada por bactérias piogênicas e é comum em bovinos após reticulopericardite traumática causada por corpos estranhos. Coração de bovino com pericardite supurada. Alterações degenerativas a) Endocardiose valvular Degeneração das válvulas muito observada em cães idosos. A fisiopatologia envolve a deposição de glicosaminoglicanos e degeneração do colágeno da válvula. 4 Nathália Brendler | Med. Vet. | Unidade do conhecimento 11: sistema cardiovascular e respiratório Todas as válvulas cardíacas podem ser acometidas, contudo, sua ocorrência é mais elevada na válvula mitral. Macroscopicamente, observa-se espessamento nodular de consistência firme, coloração branca ou amarelada, com superfície lisa e brilhante nas bordas livres das válvulas. Se o processo degenerativo for intenso, leva a um quadro de insuficiência valvular que possibilita refluxo sanguíneo para dentro do ventrículo ou do átrio. Coração de cão com endocardiose na válvula mitral. Neoplasias cardíacas a) Neoplasias primárias Rara nos animais domésticos, exceto pelo hemangiossarcoma em cães e pelo neurofibroma em bovinos. Coração de cão com hemangiossarcoma no átrio direito. b) Neoplasias secundárias (metastáticas) Relativamente comuns, sendo o linfoma e os carcinomas os mais frequentes. Coração de bovino com linfoma. Insuficiência cardíaca Na insuficiência cardíaca, o coração é incapaz de bobear o sangue devido à falha na sua capacidade contrátil. Quando crônica, chama- se insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e pode ser causada por lesões inflamatóriasou degenerativas do miocárdio, alterações cardíacas congênitas, doenças pulmonares crônicas e estenose ou insuficiência valvulares. A ICC é classificada como direita ou esquerda, segundo o lado do coração afetado. É comum que a insuficiência de um dos lados resulte na insuficiência do outro também. a) ICC do lado esquerdo Diatação ou hipertrofia do ventrículo esquerdo, congestão e edema pulmonar. Histologicamente, os pulmões apresentam, além de congestão e edema acentuados, hemorragia, macrófagos repletos de hemossiderina e fibrose alveolar. Os sinais clínicos de ICC esquerda são tosse e dispneia. Coração e pulmões de cão com ICC esquerda. A dilatação do ventrículo esquerdo está associada a congestão e edema pulmonar. b) ICC do lado direito Lesão cardíaca do lado direito associada à congestão generalizada de órgãos abdominais e craniais, assim como anasarca. O fígado fica aumentado de volume e com aspecto de noz moscada decorrente de congestão e dilatação dos sinusoides, atrofia e necrose de hepatócitos da zona centrolobular. O processo pode progredir para fibrose. Aletrações nos vasos sanguíneos a) Inflamação Arterite é a inflamação das artérias; vasculite ou angiite trata-se da inflamação de mais de um tipo de vaso. São causadas por muitas doenças 5 Nathália Brendler | Med. Vet. | Unidade do conhecimento 11: sistema cardiovascular e respiratório infecciosas, autoimunes ou tóxicas. A trombose, devido à lesão endotelial, é uma consequência esperada. Aorta com arterite crônica e aneurisma causados por Spirocerca lupi. b) Aneurisma Dilatação localizada e permanente da parede de um vaso que acomete mais as artérias elásticas. O aneurisma resulta do enfraquecimento local da parede vascular, que está estendida além da sua capacidade de resistência. As causas de aneurisma são alterações inflamatórias ou degenerativas. c) Trombose Formação patológica de coágulo sanguíneo aderido à parede vascular. A lesão endotelial é a causa principal de trombose, pois a exposição do colágeno da túnica íntima leva à aderência de plaquetas e ativação da cascata de coagulação. A lesão pode ser causada por agentes infecciosos e produtos tóxicos. d) Arteriosclerose Alteração degenerativa caracterizada pelo espessamento da parede das artérias, com perda da elasticidade e proliferação de tecido conjuntivo na túnica íntima. A etiologia é pouco conhecida; parece estar relacionada com a maior turbulência sanguínea. A aterosclerose é um tipo específico em que há o acúmulo de lipídios, tecido fibroso e cálcio nas paredes musculares e elásticas de artérias de grande e médio calibre. Patologia Padrões lesionais macroscópicos Melanose Manchas escuras disseminadas pelo parênquima pulmonar que conferem aspecto semelhante ao de um tabuleiro de xadrez, já que há lóbulos afetados entremeados por lóbulos normais. Congestão Pulmões não estão totalmente colapsados, têm coloração vermelho-escura, e, ao corte, flui grande quantidade de sangue. Edema Pulmões úmidos, mais pesados, com superfície pleural lisa e brilhante. Flui líquido da superfície de corte do parênquima pulmonar. Há também líquido espumoso na traqueia e nos brônquios. Hemorragias Localizam-se sob a pleura e comumente são do tipo petequial. Broncopneumonia Ao corte, observa-se superfície úmida quando o processo é supurado, ou superfície ressecada quando o exsudato é do tipo fibrinoso. Trombose Os trombos tornam-se presos à vasculatura pulmonar. Infarto Os aspectos macroscópicos dos infartos variam consideravelmente, dependendo do estágio, e podem ser vermelhos a negros, intumescidos, firmes e em forma de cone ou cunha, particularmente nas margens do pulmão. No est Atelectasia Áreas deprimidas, com padrão mosaico de coloração vermelho-escura. Enfisema intersticial Bolhas de ar nos septos interlobulares.
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