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The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Disponibilização: Tradução e Revisão Inicial: , , , , Revisão Final e Leitura Final: Formatação: Abril/2020 The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A ALGUMAS COISAS SÃO FACILMENTE PERDOADAS. OUTRAS COISAS... NEM TANTO. Lenny DeMaio fez uma promessa a si mesma: ela estava farta. Farta de pensar nele. Farta de se preocupar com ele. Farta de tentar entrar em contato com um homem que claramente não queria ser encontrado. Pena que ninguém entregou esse memorando a Jonah Collins. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Para o meu anjo da guarda, minha abuelita The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A CAPÍTULO 1 “Ei, sou eu, Lenny. Onde diabos você está?” Eu sabia que seria uma péssima ideia clicar no link na minha tela inicial. Mas cliquei de qualquer maneira. Porque, como aprendi ao longo da minha vida, gosto de me irritar. Não tinha acabado de dizer a mim mesma para limpar os malditos cookies e o histórico no meu computador? Sim. Eu sabia que tinha. Fiz isso apenas algumas semanas atrás, quando o último artigo apareceu na minha página inicial, e acabou me forçando a pular em uma bicicleta ergométrica para não acabar fazendo algo estúpido. Exceto que daquela vez, tudo que fiz foi mostrar meu dedo médio para a tela e clicar em um artigo diferente para ler... xingando baixinho o tempo todo. Infelizmente para mim, estou irritada, mesquinha e um pouco entediada, e por isso sigo o link pela primeira vez em um tempo, vendo a tela do meu computador piscar por um segundo antes de me direcionar para um site que no passado visitei muito mais vezes do que jamais estarei disposta a admitir. …Meses antes. Um ano atrás. Não ultimamente. Não há muito tempo. Pelo menos isso. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Não é uma péssima ideia ter uma noção do que esse idiota está planejando, digo a mim quando a mesma manchete que me fisgou reaparece na tela em grandes letras em negrito. Leio o título do artigo e depois leio novamente. As palavras na tela não vão me afetar de maneira alguma, mesmo que meu estômago esteja doendo e meus dedos estejam agarrando o mouse embaixo da palma da minha mão, porque de repente quero jogá-lo em alguém que está do outro lado do oceano. Eu não farei nada disso, porque não me importo. Os últimos meses facilitaram a leitura do nome mencionado na manchete, sem sentir o desejo de quebrar nada. Na verdade, tudo o que sinto é a menor sugestão de dissabor. Apenas a mínima sugestãozinha de um leve dissabor. JONAH COLLINS ABANDONA CLUBE EM PARIS Honestamente, estou realmente orgulhosa da minha pálpebra não tremer. Pelo menos não como na primeira vez que vi esse nome depois de um ano na escuridão. Felizmente, estava em casa apenas com Mo, e ela nunca me denunciou pelo modo como eu disse “filho da puta” ao ver aquilo. Ou contou a alguém sobre como coloquei um travesseiro sobre meu rosto e gritei “FODA-SE” nele. E se estou engolindo um pouco em seco enquanto leio mais algumas palavras no site de notícias da Nova Zelândia, é apenas porque não bebi água suficiente e minha garganta está meio seca. Jonah Hema Collins confirmou que está deixando o Racing Club de Paris, mas não informou nenhum plano futuro. O ex-All Black Collins acaba de concluir um contrato de dois anos com o famoso clube de Paris... E, para o bem do resto do meu dia e a vida do meu mouse, clico no ícone vermelho no canto superior esquerdo da janela e saio da página, encarando a tela novamente com uma lista de artigos de notícias que realmente têm importância. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Então ele não está na França. Quem se importa? Isso não significa nada. Imbecil do caralho. Afasto esse pensamento instantaneamente, sentindo meus dentes de trás se apertarem e me concentro na lista de notícias em que deveria estar focando. Notícias que realmente afetam minha vida e a vida de meus entes queridos e amigos. Esta notícia é trabalho. MACHIDO DE VOLTA À UFL 238 Mas leva apenas um segundo para decidir que não dou a mínima se Machido vai voltar para a United Fighting League — ou para qualquer outra notícia no, indiscutivelmente, mais popular site de MMA — artes marciais mistas — que visito todos os dias. Eu deveria me importar. MMA é da minha conta, da minha família, mas naquele momento não dou a mínima. Minha mente volta ao maldito artigo sobre o Idiota não assinar um novo contrato em Paris. E assim, acontece. Meu olho começa a tremer. Não preciso nem olhar para a minha mesa para abrir a gaveta superior, pegar a bola de estresse que meu melhor amigo me deu um ano atrás e espremê-la com toda a força. Toda ela. Eu posso sentir a tensão em meu cotovelo com a força que estou sufocando a inocente bola que nunca fez nada para mim, mas provavelmente salvou de assassinato mais de duas pessoas na academia quando elas estragaram tudo ou estavam completamente nuas. Idiotas. A bola amarela macia, honestamente, foi um dos presentes mais atenciosos que alguém já me deu. É uma substituta decente para as bolas verdadeiras que desejo poder espremer quando alguém me irrita. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Há oito meses, prometi a mim mesma que bastava daquilo. Que superei essa merda. Que minha vida seria diferente. Seis meses atrás, quando vi aquele nome completo na tela do meu tablet e minha pressão arterial subiu, confirmei novamente que estaria cagando e andando — depois de gritar no travesseiro e socar meu colchão algumas vezes. Eu fiz tudo o que pude. Chega de perder tempo e energia ficando irritada. E não tem qualquer problema se fiquei torcendo para alguém tropeçar e cair de cara em um monte de merda de cachorro quente e fresco em algum momento em um futuro próximo, não é? Se acontecer, beleza. Se não acontecer, sempre tem o amanhã. Tudo o que fiz foi cruzar a porra dos dedos e torcer para que eventualmente chegasse o dia, e eu descobrisse que isso aconteceu, e se houvesse prova visual, fabuloso. Tudo ia bem. Eu não preciso olhar em volta do escritório em que estou trabalhando para saber disso. O escritório que foi o equivalente ao trono do meu avô. O mesmo avô que é dono do prédio em que estou e o prédio ao lado. O mesmo prédio que tem nosso sobrenome estampado em uma placa gigante do lado de fora. CASA MAIO FITNESS E MMA O nosso legado familiar. Só essa placa já me faz sorrir todos os dias que a vejo. Aqui é um lar, e tem amor. Pode não ser o mesmo prédio em que cresci antes do vovô mudar seus negócios, mas ainda é um lugar diretamente ligado ao meu coração e guarda mais da metade das melhores lembranças da minha vida. Agora eu dirijo esse ginásio de MMA, e sempre será assim. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Inspiro fundo pelo nariz, não seguro por mais de um segundo e depois solto de novo. Foda-se. O que esse merda faz com a vida dele não é da minha conta e nunca foi... nunca. Ele pode ir aonde quiser e fazer o que quiser e com quem quiser. Em resumo: ele pode ir se foder. Idiota. Esse pensamento mal entra no meu cérebro quando o telefone do escritório toca com uma chamada de outro telefone no prédio. Eu nem tenho a chance de dizer uma palavra antes que uma voz familiar diga: “Lenny, preciso de sua ajuda.” Esqueço instantaneamente o artigo, o nome do filho da puta, Paris, e tudo associado à tela do meu computador. Suspiro, sabendo que há apenas algumas razões pelas quais Bianca, a funcionária em tempo integral da recepção, precisaria de mim, e eu não estou com disposição para lidar com nenhuma delas. Qualquer motivo advém de apenas uma verdade: alguém está agindo como um idiota. Quandocriança, passei o que parecia metade da minha vida no edifício original da Casa Maio. Era pequeno, escuro e um pouco bruto. E eu adorava aquela merda — desde o cheiro depois de um longo dia de corpos suados e almiscarados até o cheiro que ficava depois que o vovô me colocasse para trabalhar, não dando a mínima para a legislação sobre trabalho infantil, limpando o chão e os equipamento. Naquela época, eu não era capaz de imaginar um emprego melhor do que aquele que vovô Gus possuía, ser dono de uma academia, administrá-la, me envolver com o treinamento dos lutadores. Parecia tão legal e descontraído, especialmente depois que ele comprou um computador que veio com paciência instalado, e eu podia jogar por horas enquanto esperava para ir para casa se não houvesse mais nada a fazer. Quando fiquei mais velha e descobri as salas de bate- papo, ficou muito melhor. Passar tempo com pessoas que eu amava ou brincar no computador foi o melhor. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Esperava administrar a Casa Maio quando era mais jovem. Por alguma razão, meu cérebro optou por bloquear a maioria das outras coisas que acompanham o trabalho — especificamente, os momentos em que eu seria chamada para interromper uma discussão ou uma briga entre dois homens adultos. Ou ter que agir como se me importasse quando os membros reclamam ou ameaçam cancelar por motivos realmente básicos, como quando o aparelho de musculação para trabalhar os glúteos estava sem funcionar. “O que houve?” Pergunto, me sentindo quase exausta, mesmo depois de dormir seis horas inteiras. “John apareceu e me disse que estava no vestiário do seu prédio e viu dois caras do MMA se estranhando”, diz Bianca, sem se importar em explicar o que isso implica, porque nós duas sabemos muito bem o que significa. Alguém tem que parar com aquilo, e nenhum dos funcionários ganha o suficiente para querer se envolver com dois homens crescidos discutindo. Esse é o meu trabalho. Eu simplesmente não entendo por que John, o zelador, não passou no meu escritório e me contou. Não fui uma idiota com ele ou qualquer coisa naquela manhã... acho que não. Mais tarde, teria que arranjar tempo para conversar com ele e garantir as coisas fiquem bem, quando não tivesse dois idiotas para lidar. “Tudo bem, Bianca, obrigada. Eu entendi”, digo a ela com outro suspiro enquanto me levanto. “Desculpe! Boa sorte!” Ela responde com sua voz feliz e agradável que me conquistou quando a entrevistei, há quatro meses. Quem diabos é burro o suficiente para discutir agora e sobre o quê? Saio do escritório e vou para o andar The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A principal. Procuro uma pista, observando o mar vazio de tapetes azuis. Há quatro caras rondando a gaiola, mas eles estão em seus próprios mundos. Quase todo mundo da sessão da manhã já se foi. Chego à porta que dá para o corredor que leva aos chuveiros e armários e não diminuo o ritmo ao gritar: “Escondam seus ding-dongs. Estou entrando!” Não estou com vontade de ver nenhum pau batendo ao redor ou nádegas de alguém piscando para mim. Posso muito bem passar o resto da minha vida sem flagrar alguém pelado e curvado. Se for ver algum demônio careca e de olhos castanhos, quero escolher de quem. Ninguém diz nada em resposta. Tudo bem então. Talvez seja meu dia de sorte e eles tenham ido embora, mas eu ainda tenho que verificar para ter certeza de que ninguém está no chão nocauteado. Felizmente, isso nunca aconteceu, mas é apenas porque as regras da Casa Maio são tão rígidas quanto à luta. Os espertos sabem que é melhor não fazer algo tão estúpido, e mesmo os idiotas arrogantes geralmente podem ser dissuadidos antes de fazerem algo que se arrependerão. Geralmente. Eu mal checo o pequeno corredor para os vestiários quando imediatamente localizo os dois rapazes em pé um na frente do outro, silenciosamente, cara a cara. Mais como testa com testa. Sério isso? Tem muitas coisas que eu sempre amei que fizessem parte da minha vida na Casa Maio. O lugar está no meu coração. Em meu sangue. Saber que é tanto meu quanto do vovô Gus. Como príncipes e princesas que conhecem os reinos que herdam, eu sempre soube que um dia aquilo se tornaria meu também. Então, mesmo quando tinha mais ou menos a altura dos quadris do vovô, já sabia o que aconteceria quando The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A você se metesse em uma briga que não fosse para fins de treinamento. Uma e outra vez, ele me fez sentar no minúsculo sofá- cama que tinha no canto de seu escritório no antigo prédio onde a Casa Maio nasceu, enquanto suspendia uma pessoa após a outra por violar as regras. As regras que estão postadas em frente às portas principais pelas quais todos passam para entrar no prédio. As mesmas regras que existem desde antes de eu nascer. 1. SEM BRIGAS 2. SEM DROGAS 3. SEM GOLPES BAIXOS (SEMPRE DEIXAR GENITAIS E PESCOÇOS/ COLUNA DE FORA) *** A violação das regras é motivo de suspensão ou rescisão. Sempre pareceu fácil o suficiente para mim e para a maioria das pessoas que vem e vão ao longo dos anos seguir essas regras. São senso comum. Não lute sem uma razão —e qual é, olá, você tem que ser um idiota para cruzar essa linha. Não tomar medicamentos nas instalações que não tenham prescrição ou analgésicos de venda livre. Deixar os ding-dongs e colunas uns dos outros de fora das lutas. Queremos que as pessoas possam sair da academia e se reproduzir, se quiserem. Merda básica. É raro alguém quebrar as regras, mas acontece. Apenas duas semanas atrás, tive que suspender um dos caras por acertar de propósito as bolas do cara com quem estava lutando. Desnecessário dizer que ele ficou fodidamente chateado e tentou se fazer de bobo. Eu realmente não quero ter que suspender outra pessoa novamente, não tão cedo. Reconheço o menor dos dois como sendo um garoto de dezenove anos com tranças, chamado Carlos. Ele está The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A estufando o peito. O outro homem é Vince, que supera o sujeito mais jovem em cerca de vinte quilos, uns dez centímetros e deve ter cinco ou seis anos mais. Ele não é membro da Casa Maio há muito tempo. E ambos estão olhando amorosamente nos olhos um do outro. Não. “Vocês dois estão brincando?” Pergunto sinceramente decepcionada com os dois. Por que diabos eles podem ter ficado tão bravos para estarem no vestiário a milímetros de distância, quase podendo se beijar? “Pelo menos um de vocês pode parar?” É Vince quem pisca primeiro, talvez seja o primeiro a recobrar alguma razão. “Agora, por favor.” Vince pisca novamente, mas ainda não dá um passo atrás, e Carlos, se alguma coisa, estufa o peito ainda mais. Reviro os olhos. Esses dois idiotas podem ganhar a vida lutando contra as pessoas, ou pelo menos ganhar a vida fazendo isso, mas já estive em mais brigas do que qualquer um deles... mesmo que as minhas tivessem sempre um árbitro e eram por pontos, não porque alguém me deixou brava ou porque eu quero provar alguma coisa. Obrigada, judô. “Olha só”, digo a eles, estendendo a mão para puxar o canto do meu olho, de tão irritante esses dois estão sendo, “Eu não dou a mínima se brigam um com o outro. Realmente, não estou nem aí, mas não vou me sentir mal por suspender qualquer um, se vocês chegarem às vias de fato. E a pena será de um mês e, Carlos, você tem uma luta chegando, e Vince, você tem uma em dois meses. Então o que querem fazer?” É Vince quem reage primeiro. Sendo um peso pesado, fico aliviada por ele desistir, dando um passo para trás e abrindo a boca, afrouxando a mandíbula. Enquanto isso, Carlos fica exatamente onde está, erguendo o queixo mais alto do que The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A antes e basicamente pedindo para ser espancado. Sua escolha quanto a amigosde repente faz muito sentido. Deus precisa me dar alguma força. Logo. “Eu preciso perguntar o que aconteceu ou vocês dois estão bem?” Pergunto, não dando a mínima para qual deles vai responder. “Nós estamos bem, desde que ele cale a boca e cuide de seus próprios assuntos”, responde Carlos, e não posso deixar de perceber como Vince balança a cabeça com um pouco do que parece ser descrença. “Não preciso do seu conselho, Vince.” É isso? Puxo o canto do meu olho novamente. “Vince?” O cara maior sorri presunçosamente, e depois de um momento, balança a cabeça e olha para mim, seu rosto intenso. Seus olhos deslizam para Carlos mais uma vez antes de novamente se voltarem para mim. “Estou bem”, ele responde depois de um segundo. “Vou manter meu conselho para mim mesmo na próxima vez, Carlos.” Deus me ajude. “Vocês têm certeza de que ambos terminaram então?” Pergunto novamente. Carlos não olha para mim, mas a mão segurando o telefone treme quando ele murmura: “Sim”. Vince assente. Bom o suficiente para mim. Com isso, me viro e volto para o meu escritório, ouvindo-os trocarem palavras abafadas entre si e não darem um único foda-se. Talvez eu devesse ficar escutando, mas... realmente não importa, importa? Eu precisarei contar a Peter sobre aquela pequena cena para que ele fique de olho neles. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Quando volto ao escritório e sento na cadeira, me convenço a tentar me concentrar novamente. Empurrando o resto dos meus pensamentos e sentimentos sobre tudo que não seja trabalho, atualizo a página do site de notícias do MMA em que estava antes e me arrependo instantaneamente. POLANSKI SOLICITA REVANCHE, ESTÁ PRONTO PARA RECUPERAR O TÍTULO Noah. Ugh. Já tinha esquecido que ele havia perdido a luta há três dias. Caí no sono assistindo, e a única razão para eu saber que ele perdeu foi porque meu avô mencionou — com um olhar alegre em seus olhos malignos. Eu amo esse homem. Rio com a lembrança e clico em outro link, sem vontade de ler o nome de Noah, e me obrigo a ler o próximo post na lista na página inicial do site de MMA. Então me obrigo a lê-lo novamente, porque não consigo me lembrar de uma palavra depois de terminar. Algo sobre um próximo evento entre dois lutadores conhecidos com os quais eu não tenho história ou me envolvi. É no final da segunda leitura que uma batida suave na porta me faz olhar para cima e sorrir para o homem que já entra, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça preta. Posso perceber instantaneamente, pela expressão no rosto de Peter, que ele já ouvido falar dos dois idiotas no vestiário. Nenhuma surpresa aí. Ele tem um radar para coisas assim. Torço o nariz para o homem que basicamente é meu segundo pai. “Pelo menos nada aconteceu”, digo a ele, sabendo exatamente o que está pensando. Seu rosto, sua pele morena, ainda jovem, com mais de sessenta anos, contorce-se em uma expressão de repugnância. “Sobre o que foi?” Pergunta o homem que regularmente The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A enfatiza a importância da disciplina e do controle. Ele para atrás de uma das cadeiras em frente à mesa que vovô e eu compartilhamos. Dou de ombros, sentindo um aperto familiar no meu ombro novamente. Droga. “Vince disse algo para Carlos. Carlos ficou ofendido.” Reviro os olhos. Isso me chama a atenção para o homem enganosamente sério. Há um punhado de rugas em cada um de seus olhos e nos lados da boca, mas ele ainda está quase tão em forma quanto estava quase trinta anos atrás quando entrou em nossas vidas, sem saber que iria se tornar a terceira perna da nossa família. “Não sei o que fazer com essas crianças às vezes.” “Vamos ligar para suas mães e contar tudo.” Peter bufa daquela maneira descontraída que é só dele. Você nunca imaginaria que esse homem quase esbelto, um pouco acima da média, seria capaz de derrubar a bunda de qualquer homem, se quisesse. Eu sempre penso nele como uma espécie de Clark Kent. Calmo, gentil e descontraído, parece a última pessoa que teria um cinturão coral do sétimo grau — preto e vermelho na verdade — no jiu-jitsu brasileiro durante o dia e me ajudaria com meu dever de matemática à noite. “Você viu Gus esta manhã?” Peter pergunta. “Só por um segundo. Ele estava no telefone com alguém, falando sobre participar de um torneio de basquete para idosos.” Meu segundo pai sorri e balança a cabeça antes que a expressão desapareça e ele pergunte: “Você está bem?” Dou de ombros. A maneira como Peter estreita os olhos me diz que sabe que eu não estou exatamente mentindo ou dizendo a verdade, mas não se intromete. Ele nunca bisbilhota demais. É uma das The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A minhas coisas favoritas sobre ele. Se eu quisesse lhe contar uma coisa, contaria, e ele sabe disso. E há muito, muito poucas coisas que não conto a ele. Apenas a merda grande. Eu acabo de pegar minha bola de estresse de onde estava, ao lado do teclado, para poder guardá-la de volta na gaveta quando Peter estala os dedos de repente. “Recebi um recado na recepção há um minuto, dizendo que você o indicou para mim”, ele diz enquanto fica lá. “Mas eu nunca ouvi falar desse cara.” “Qual o nome?” Levanto o ombro novamente e rolo para trás, sentindo aquele beliscão de novo. Desde quando sofro todas essas dores aleatórias por dormir mal? É isso que acontece quando você chega aos trinta anos? Preciso começar a ir ao meu fisioterapeuta. Talvez procurar um quiroprático também. Peter não hesita em enfiar a mão no bolso e puxar um post-it rosa brilhante. Ele afasta o pedaço de papel do rosto antes de apertar os olhos. “É... Jonah Collins?” Coloco o ombro de volta no lugar e olho para ele. Porra de merda. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A CAPÍTULO 2 “Oi, é Lenny de novo. Onde diabos você está? Eu fui ao seu apartamento e bati na porta por meia hora. Só quero saber se está vivo, ok? Estou preocupada com você.” Quando acordei naquela manhã não sabia que minha vida estava prestes a mudar com esse nome saindo da boca de Peter. Mas aconteceu. E ele deve saber quando o encaro em silêncio, me sentindo quase a ponto de desmaiar provavelmente pela segunda vez na minha vida. Eu não tenho ideia do que dizer. O que pensar. Como reagir. Aparecer um pênis mágico do nada no meu corpo seria menos surpreendente do que Peter dizer o nome do filho da puta. Mas o que mais me atinge — o mais duro— é saber que o tempo finalmente acabou. Reagir do jeito que reage é uma prova de quão bem Peter me conhece. Cuidadosamente, vigilante, ele puxa a cadeira em frente à mesa e senta-se, ordenadamente, um exemplo do controle sem esforço que tem sobre o corpo. Eu duvido que seja minha imaginação que ele parece quase se preparar. “Você não gosta dele?” Como se fosse assim tão fácil. Gosta ou não gostar. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Eu nem percebo que levantei as mãos até o rosto antes que elas estejam esfregando minhas bochechas e testa, deslizando para trás pelo rabo de cavalo que fiz no meu cabelo naquela manhã porque não estava com vontade de fazer qualquer outra coisa. Não apreciei todos os anos em que priorizei dormir oito a dez horas por noite; isso com certeza. O “Elena” que sai da boca de Peter é o desafio lançado entre nós. Não Lenny. Não Len. Peter usou Elena , usando a cartada de pai que ele raramente usava. Estou fodida. A opção de mentir para ele nem me vem à cabeça. Nós não fazemos isso. Nenhum de nós. Há coisas que nós... não contamos um ao outro. Não fazemos algumas perguntas um ao outro porque há um ponto subjacente: sabemos que não mentimos. Se você não pergunta, você não sabe. E se queremos que você saiba, contamos. É assim que vovô Gus, Peter e eu sempre nos tratamos. Nós nunca precisamos dizer isso, masa confiança entre nós é reforçada com quilômetros de vergalhões e concreto. Porque em trinta anos, houve apenas um punhado de coisas que não contei a eles. E tenho certeza de que deve haver um punhado de coisas que eles não me contaram também. Lentamente, afasto as mãos do rosto e me endireito na cadeira giratória, empurrando os ombros para trás e encontrando o olhar marrom escuro de Peter. Encaro o rosto que torceu por mim em quase todas as competições de judô de que participei — exceto quando ele teve pneumonia e outra vez quando sua irmã morreu e ele não quis que eu perdesse o torneio. O rosto de Peter foi o que me colocou na cama por anos incontáveis, junto com o do vovô Gus. O rosto que me tranquilizou mais vezes do que eu jamais poderia contar; que The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A sempre me dizia que era amada, que podia fazer qualquer coisa e que sempre seria capaz de fazer melhor. Então digo a ele as duas palavras que precisam ser suficientes. Duas palavras que não quero deixar escapar, mas preciso. Porque acabou o tempo. Uma coisa é se esforçar ao máximo e fingir que alguém não existe, e outra coisa totalmente diferente é mentir para manter essa farsa. “É ele.” As sobrancelhas dele se franzem. Ele não está entendendo. Ainda não pelo menos. Mas precisa entender, porque não quero exatamente entrar em detalhes. Não com a porta aberta. Aqui não. Então levanto as sobrancelhas e olho para ele, tentando projetar as palavras em sua cabeça. É ele. É ele, é ele, é ele. Eu vejo o momento em que ele compreende. O momento em que percebe o que diabos estou tentando transmitir. É ele. Ele. Peter se mexe em seu assento, cruzando uma perna sobre a outra e se inclinando para trás enquanto pergunta com um olhar engraçado no rosto, como se não quisesse acreditar: “Ele?” “Sim.” Ele. Os olhos castanhos escuros de Peter se movem sobre a parede verde azulada atrás da minha cabeça enquanto processa ainda mais o que estou dizendo, realmente pensando sobre a questão e o que diabos tudo isso significa. Porque eu já sei o que isso significa para mim, pelo menos até certo ponto. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Significa que preciso começar a economizar o dinheiro da fiança para o vovô Gus, quando ele for preso por agressão agravada, assédio, conspiração para cometer assassinato ou qualquer que seja a acusação de bancar um tolo em público. Essa ideia não deveria me divertir, mas sim. Realmente me diverte. Pelo menos até a outra metade do que isso realmente significa me atinja. Terei que ver aquele idiota no tribunal quando apresentar queixa contra o meu avô. Terei que olhar para o maldito homem que desapareceu por um ano, apenas para reaparecer subitamente novamente no mesmo país em que eu o vi da última vez. O idiota que me deixou pendurada. Que nem teve coragem de me ligar, enviar uma mensagem ou me enviar um e-mail de resposta. Nem uma vez depois das trezentas vezes que tentei entrar em contato com ele. Claro, logo depois que deu o fora, ele enviou quatro cartões postais no total, com sua assinatura neles — mas apenas isso. Não houve um endereço de retorno. Não tinha merda nenhuma neles. Nem mesmo uma mensagem. Nem mesmo algum tipo de código que eu pudesse ter decifrado. Apenas sua assinatura rabiscada, um selo e o carimbo da Nova Zelândia, meu nome e endereço anterior na França. Pego minha bola de estresse novamente, imediatamente apertando com força. E se estou imaginando que são as bolas de alguém... tanto faz. “O que…?” Ele nem sabe o que dizer. Eu me pergunto se ele tinha desistido de descobrir sobre ele. “Ah...eu...ele... faz MMA?” Peter finalmente solta. Balanço a cabeça. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Peter pensa nisso por um momento, mas deve estar se fazendo a mesma pergunta que eu: por que Jonah estaria ligando para ele? Peter não entende tão bem quanto eu que essa é uma ligação aleatória. Ele não sabe quem é Jonah ou o que ele faz da vida. Mas o que Peter sabe é que nós somos uma família. E ele prova isso para mim instantaneamente. “O que você quer que eu faça?” Ele pergunta. “Ele... ligou para você?” Fico lá, ainda pendurada no fato de que o nome dele saiu da boca de Peter. Quais são as chances? Sério, por que ele está ligando para Peter? Porque agora? Aperto a bola um pouco mais. “Não. Eu bloqueei o número dele.” As perguntas saltam no meu crânio. Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Não posso deixar de coçar a garganta e observar a foto emoldurada ao lado do monitor do meu computador. Não importava o porquê. Tudo o que importa é que ele ligou. “Eu não sei por que ele está entrando em contato com você em vez de falar comigo”, digo a ele, ainda olhando a foto no porta retratos. “Mas falei sobre você o suficiente quando nós... nos conhecíamos. Ele sabe quem você é. Sabe meu sobrenome. Sabe que o vovô é dono deste lugar. Não é uma coincidência.” Quando nos conhecíamos. Deus, eu quase começo a rir disso. E só posso rir da ideia dele entrar em contato com Peter por acidente. Não tem como isso ser possível. Esfregando os dedos sobre o rosto novamente, seguro um suspiro. Peter se inclina para frente em seu assento, com o rosto ainda mais sério do que o habitual — pelo menos enquanto estamos dentro dessas paredes. Quando sairmos da Casa Maio, será uma história diferente. Esse é o Peter que eu The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A conheço; aquele que cresci amando desde o momento em que bateu na porta do escritório do vovô Gus, pedindo um emprego. Todos nos apaixonamos por ele. De acordo com o vovô Gus, deixei o homem estranho ficar sentado sozinho por dois minutos antes de subir no seu colo aos três anos de idade e desmaiar contra ele, segurando sua mão. Nenhum de nós sabia naquela época que seria a primeira de muitas e muitas vezes eu faria a mesma coisa ao longo dos anos. Amo esse homem tanto quanto amo meu avô, e Deus sabe — todos sabem— que acho que essa velha criatura de demônios ancestrais é a melhor coisa que existe mesmo quando está me deixando louca, e isso sempre acontece. “Porque agora?” Meus dedos fazem círculos contra os ossos da testa. “Eu não sei. Ele não ligou ou mandou um e-mail desde a última vez que o vi.” Idiota. “Parei de tentar entrar em contato com ele oito meses atrás.” Tenho que limpar a garganta, porque de repente parece muito apertada e seca. “No último e-mail que enviei, disse a ele que era a última vez, e estava falando sério. Não estendi a mão novamente.” Prefiro cortar minhas duas mãos. Costurar minha vagina fechada. Desistir de cafeína pelo resto da minha vida. Mas não digo isso a Peter. Não quando até seu silêncio é pensativo enquanto processa essa merda que estou jogando em cima dele. “Você quer que eu ligue de volta? Podemos descobrir o que ele quer”, ele diz depois de um tempo. Porra. “A menos que você prefira esperar e ver o que ele faz.” Peter abaixa a voz, sabendo muito bem que eu não quero que mais ninguém ouça ou junte as peças. “Ou se você preferir ligar para ele.” Eu não quero fazer nada. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Tudo o que quero é dizer a Jonah Collins que se enfie em outra galáxia. Mas não farei isso. Mesmo que me mate. Mesmo que seja contra todos os instintos do meu corpo. Já basta de querer gritar com ele. Basta de querer bater nele. Dizer que ele é um pedaço de merda. Rasgar suas bolas e mergulhar em seu sangue. Amaldiçoar o dia em que nos conhecemos naquela turnê. Mas eu não farei. Olho para o porta retratos novamente. Eu não vou fazer merda. Nem sempre conseguimos o que queremos , vovô me disse uma vez quando eu estava agindo como uma pirralha depois de perder uma luta. E ele está totalmente certo. Saber tudo isso, no entanto, não alivia nemum pouco a frustração e o aborrecimento que acampam no meu peito. “Eu tentei entrar em contato com ele, Peter. Não uma ou duas vezes, mas repetidamente. A escolha foi dele; não minha”, explico. Peter olha para mim por tanto tempo que não faço ideia do que diabos ele pode estar pensando. “Então não fazemos nada”, ele finalmente diz. “Vamos ver se liga de volta. Veremos o que ele quer.” Ver o que ele quer. Eu sei o que ele não quer. Peter e eu sabemos. Quase todo mundo na minha vida sabe, aliás. “Se ele ligar de novo... se vier aqui, nós cuidaremos disso. Você está bem assim?” Aperto com muita força a bola de estresse novamente, mas assinto. Nós teremos que lidar com isso, de um jeito ou de outro. Eu não tenho exatamente uma escolha. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Isso me faz receber um pequeno sorriso de Peter, que ainda parece diferente do habitual. Eu não posso culpá- lo. Mas, felizmente, é Peter e não meu avô. Deus, eu não estou ansiosa por aquela conversa. “Podemos esperar antes de contar ao vovô?” Eu pergunto, balançando a perna debaixo da mesa. Porque agora? Por que e ponto? Eu sei que sou uma idiota egoísta por pensar assim, mas não posso evitar. Por que hoje? Deus, e desde quando sou tão chorona? Eu me enojo, droga. Porque, porque, por quê? Buá. Ugh. Posso ver a discussão nos olhos de Peter com meu pedido, mas, felizmente, sua mente rápida chega à mesma conclusão que a minha chegou. Nós precisamos de dinheiro para fiança se Jonah Hema Collins vier até aqui — não que eu esteja esperando que ele venha. Tudo o que ele fez foi ligar. Por alguma razão, que não consigo nem começar a entender. E se o pensamento dele vir aqui levanta minha pressão sanguínea — e meu dedo médio — preciso bancar a adulta e engolir. Isso não é sobre mim. Então me concentro no tópico meu avô. “Eu não quero que ele saiba a menos que seja necessário”, digo a Peter. “Ele não precisa se irritar sem motivo. Finalmente acabou superando”, explico, sabendo que essa é uma daquelas coisas que caem na área cinzenta de não mentir um para o outro. O aceno de Peter é mais rígido do que deveria ser, mas eu também entendo. Claro, que entendo. E odeio colocar qualquer um deles nessa posição em primeiro lugar. Eu odeio estar nessa posição, para começar, mas aqui estamos nós. Não é culpa de mais ninguém, a não ser minha. “Ok”, ele concorda, claramente um pouco dividido. Mas nós dois sabemos qual é o maior dos dois males. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Nenhum de nós diz nada por tanto tempo que quase fica estranho. Depois de três ou dez minutos, Peter se levanta de novo e me lança um olhar intenso que imediatamente me faz apertar os lábios e exibir algo próximo a um sorriso. “Está tudo bem”, afirma ele, calmamente, projetando o pensamento em mim. “Eu sei.” Seus olhos se voltam para a parede atrás de mim, onde imagino que ele provavelmente esteja olhando para uma foto emoldurada de nós três no meu décimo oitavo aniversário, amontoados em torno de um bolo de aniversário com velas que poderiam ter sido fogos de artifício. Seu peito esbelto se expande e volta a descer quando ele aceita o que quer que seja que o estivesse preocupando. Tudo, provavelmente. Aqueles olhos demoram a se mover da parede para mim, mas quando me encaram, ele consegue me dar um sorriso que definitivamente é um pouco tenso. “Venha trabalhar com a equipe por uma hora. Você precisa tirar esse olhar do seu rosto.” “Que olhar?” Ele ergue as sobrancelhas. “Esse aí.” Aperto os lábios, temporariamente empurrando o porquê, por que, por que de lado. “Vou pensar sobre isso. Meu ombro está muito dolorido hoje.” Peter me dá um meio sorriso conhecedor quando sai da sala, sem precisar insistir. Nós dois sabemos que ele está certo. Estou muito tensa, com dor no ombro ou sem dor no ombro. Não brinca. Jonah ligou para Peter. Por que ele faria isso? E isso realmente tem que me fazer sentir quase fodidamente enjoada? The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Com uma respiração profunda pelo nariz e pela boca, inclino a cabeça em direção ao teto e tento aliviar a tensão do meu corpo. Eu odeio não saber o que vai acontecer. Odeio surpresas. Há uma razão pela qual o idiota ligou para Peter. Eu cresci em torno de homens com quantidades insanas de testosterona. Quando eles querem algo, geralmente conseguem. E quando não querem algo... bem, não querem, e às vezes desaparecem sem deixar vestígios. Eu sou muitas coisas, mas não sou burra ou covarde. Se aquele cara de merda ligou, ele ligou. O que quer que tenha acontecido, posso muito bem lidar com isso. As chances são de que ele mude de ideia e continue com seu ato de desaparecer, e eu poderei continuar a viver minha vida exatamente da mesma maneira que venho vivendo. Eu vou malhar, talvez andar de bicicleta, para não agravar mais meu ombro. E vou me acalmar. Independentemente do que mais aconteça, se eu tivesse que matar alguém, tenho pessoas para ajudar. Não há como impedir que nada aconteça, mas eu posso e vou lidar com isso. Jonah Collins não tem ideia de onde ele estará se enfiando, se aparecer. Se, se, se. Se ele for se enfiar em alguma coisa em primeiro lugar. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A CAPÍTULO 3 “Sou eu. De novo. Lenny. Eu fui ao seu apartamento. Akira me disse que eles também não tiveram notícias suas. Olha, um Aquiles rompido não é o fim do mundo, mesmo que pareça assim, ok? E tenho certeza que seu rosto ficará bem quando o inchaço diminuir. Não seja vaidoso e tal. Pelo menos me mande uma mensagem de volta. Eu sei que nem estou tentando esconder meu mau humor quando a segunda pessoa em menos de uma hora entra no escritório, olha para mim e depois se vira e sai de novo, sem dizer uma palavra. É uma merda. Nunca, eu nunca fui o tipo de pessoa que engarrafa merda e deixa apodrecer em primeiro lugar. Desde que me lembro, o vovô Gus me fez falar sobre as coisas para tirar tudo de dentro de mim. Se isso não funcionava, havia outras coisas que eu poderia fazer para me acalmar novamente. Para recuar. Para me centrar. A pressão faz tudo aflorar, ele dizia. Mas, apesar de ter plena consciência de que a meditação me ajuda a relaxar e me concentrar — alguns dias me ajuda a não pensar, e outros dias me ajuda a pensar em coisas que estão me incomodando, mas sem fúria — eu não medito. Também não acordei e pulei na bicicleta ergométrica para escapar da minha cabeça. Sei que não funcionaria. Eu me mexi e revirei a noite inteira, olhando para o teto e depois ouvindo um podcast sobre crimes verdadeiros porque não quis ligar a televisão ou descer as escadas porque não queria me arriscar a encontrar vovô Gus, e correr o risco de ele The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A ver que algo — alguém — estava na minha bunda e se acabar me perguntando sobre isso. Porque ele sempre sabe quando algo está acontecendo. Sempre. E não estou pronta para lhe contar as coisas que ele precisa saber. Ainda não. Não enquanto não estiver completamente convencida de que poderei ser racional. Mas eu culparia esconder as coisas dele como a razão do meu humor ruim no dia seguinte. Isso e uma noite de sono ruim, misturada com antecipação, raiva e mágoa, causam essa pedra desconfortável que não quer passar pelo meu sistema. Pegando o telefone celular, ignoro a planilha na tela da área de trabalho e envio uma mensagem de texto que deveria ter mandado no dia anterior. Se não posso contar ao vovô, tem alguém com quem preciso conversar. Alguém mais jovem, menos peludo e muito melhor. Eu: Você está ocupada hoje? Demora dez minutos para receber uma resposta. Luna: Não. :] O que está acontecendo? Balanço o pé embaixo da mesa, pensando no que tenho que dizer à minha melhor amiga dos últimos onzeanos. Eu: Nada de ruim, mas preciso lhe contar uma coisa, e será mais fácil pessoalmente. Dessa vez, apenas um minuto de atraso na resposta. Luna: Diga-me agora, por favor. Eu: eu não fiz xixi na calça de novo, se é isso que está prestes a perguntar. Eu me arrependi apenas parcialmente de dizer a ela que fiz xixi em mim um mês atrás porque espirrei muito forte depois de segurar por muito tempo. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Apenas trinta segundos se passam antes que eu receba outra mensagem. Luna: Eu tinha certeza que era isso! Eu: Mas qual é o motivo para esse ponto de exclamação hein, vaca? Não pareça tão decepcionada. Luna: Tem sido um longo dia. Uma garota pode sonhar. Luna: Eu posso ir hoje à noite. Eu: [emoji do dedo médio] Eu: você está bem? Luna: [emojirindo] Vou te mandar uma mensagem quando Rip chegar em casa para ficar meu docinho. Vou levá- la ao médico em uma hora. Ela está puxando a orelha e chorando. Eu me sinto muito culpada por ela estar se sentindo mal, é tudo. O fato de estarmos conversando sobre a bebê dela, planejando em torno de uma coisinha chamada Ava, é apenas mais um lembrete de quão rapidamente a vida pode mudar. Apenas dois anos atrás, tudo era normal. Ou pelo menos o normal para nós naquele momento. Ela agora tem um cara em sua vida — não que seu marido agora seja um cara; ele é um homão da porra— mas as coisas mudaram. Uma vez, eu tinha dezenove anos, talvez com duas amigas, e Luna, dezoito anos, que sorriu para mim durante uma aula de autodefesa que ministrei na Casa Maio. Por um pouco de dinheiro extra. Eu a convidei para comer porque gostei de como ela foi legal com as outras mulheres da classe. Eu não gostava de pessoas cheias de julgamentos, e foi por isso que a convidei. Eu era competitiva o suficiente, mas não dava a mínima para o que as outras pessoas faziam ou não, e Luna não me deu uma única vibração que dissesse que ela era tudo menos descontraída. E, como aprendi, ela realmente é a pessoa mais descontraída possível. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Eu me apaixonei por ela em um mês. Ela era gentil, paciente, otimista e tão tranquila que me relaxava. Luna era um monte de merda que eu não era. Passamos os próximos oito anos navegando pela vida juntas. Duas garotas com muito em comum, mas ao mesmo tempo nada em comum, tentando sobreviver e crescer. Então ela arranjou um namorado — e, novamente, não que houvesse algo de menino nele — e, nessa época, tudo mudou. A próxima coisa que soube foi que eu tinha trinta e um anos e a única coisa na minha vida que ainda continuava igual era meu avô e Peter. Até o meu relacionamento com Luna mudou um pouco. Eu não sabia mais quem diabos era essa nova pessoa dentro do meu corpo e na minha mente. Não que isso fosse ruim ou que eu não gostasse de mim, mas... eu estava apenas diferente. Tudo estava diferente. As circunstâncias haviam mudado. Eu tinha mudado. Tudo na minha vida também. Como quando você perde ou ganha peso e não tem mais certeza de como se encaixa na sua própria pele. Você não é quem costumava ser. E não tem certeza de como isso aconteceu ou quando aconteceu, mas aconteceu. E isso deveria ser ok. Pelo menos esse é o conselho sensato do meu avô. Deus sabe que ele inventa coisas o tempo todo, mas faz sentido... de certa forma. Assim como, a cada sete anos, todas as células do seu corpo são substituídas por novas. Você é diferente. Você deveria ser. É inevitável. É natural. A vida continua evoluindo, quer você queira ou não. E eu não vou reclamar disso. Eu: Ok. Vou mandar uma mensagem quando chegar em casa, mas deve ser mais ou menos no mesmo horário. Espero que minha afilhada melhore e relaxe. Não é sua culpa que ela esteja doente. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Empurro todos esses pensamentos de lado: sobre precisar contar a verdade, sobre ser diferente, sobre minhas preocupações, sobre meus malditos arrependimentos e lanço um último olhar para o porta-retratos que está em minha mesa. Concentro-me novamente na planilha que preciso ler para poder enviá-la ao contador da academia até o final da semana. Jonah Collins vai ligar, ou não vai. Ele virá aqui, ou não. Não há nada que eu possa fazer para impedir isso, além de ligar para alguém na imigração e alegar que ele está contrabandeando drogas em seu traseiro. Então… Olho para a foto na minha mesa e volto ao trabalho, ligando a playlist no meu telefone, que se conecta a um pequeno alto-falante via Bluetooth. Em algum lugar no fundo, ouço o som de vozes voltando para a academia. O som de corpos colidindo. Penso se eu deveria descer para o salão e tirar proveito de Peter estar trabalhando nas habilidades de jiu- jitsu hoje, já que meu ombro não está doendo mais do que o normal, ao contrário do dia anterior. Faz pelo menos algumas semanas desde a última vez que entrei em uma luta com alguém, e mesmo assim, levou apenas quinze minutos para mostrar a uma das novas garotas como se faz uma finalização por estrangulamento que ela vinha tendo dificuldades em fazer. Meh. Ou talvez eu simplesmente pule em um elíptico mais tarde e faça alguns quilômetros de HIIT — treinamento intervalado de alta intensidade — para deixar meu batimento cardíaco legal e elevado e queimar algumas calorias. Sim, isso parece uma ideia melhor. Volto ao trabalho de catalogar despesas. Tudo familiar e usual, ou pelo menos é o que penso. Estou com a cabeça cheia de números enquanto copio algumas despesas para o computador e estou resmungando levemente junto com minha playlist dos anos 90 quando ouço o toc, toc na porta aberta. Duas batidas leves e preguiçosas. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Nada especial. Nada para me sobressaltar. “Entre”, grito, tentando segurar um suspiro, porque, para ser justa, não é culpa de ninguém que estou com um humor de merda. Então, quando os passos soam no chão, eu ainda estou tentando me convencer a sair do inferno. Talvez não precise estar de bom humor, mas também não preciso estar de mau humor. Ninguém merece eu estar sendo uma cadela hoje. Nem mesmo meu próprio corpo merece esse tipo de estresse. As coisas vão acontecer, ou não. É simples assim, e sei disso. Eu simplesmente não consigo convencer o resto de mim que esse é o caso. Então, quando os passos param e a garganta é limpa, levo um bom tempo olhando para longe da tela do computador para reconhecer o pobre idiota que está sendo corajoso de entrar no escritório. E é aí que tudo dá errado. Pelo menos é o que parece. Como se alguém me visse vivendo minha própria vida, cuidando do meu próprio nariz, tentando o meu melhor e então decidisse pegar tudo e jogar no fogo, apenas para ver queimar. Eu não estou pronta para os grandes ombros ocupando a largura do corredor que separa o escritório do resto dessa parte da academia. Não estou pronta para as pernas longas e fortes, que levam a um corpo envolto em nada além de camadas de músculo, no meu espaço. Aquele corpo que, dentre tantos, muitos que eu vi ao longo dos anos, fez algo em meus órgãos internos — incluindo meu coração, se eu for honesta. Eu vi tantos homens seminus na minha vida que me tornei insensível a abdômen sarado, braços musculosos e rostinhos bonitos. Nunca dei importância para beleza física, honestamente. Lembro-me de uma vez, quando tinha uns quinze ou dezesseis anos, e disse a Peter que estava The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A preocupada com o quanto realmente não me importava com garotos. Ou garotas. Eu sabia que alguns caras eram atraentes, mas isso não causava nada em mim. Eu não tinha me encontrado desejando um maldito namorado. A maioria das pessoas que conhecia queria estar em relacionamentos, e eu simplesmente não dava a mínima. Peter, no entanto, me disseque não havia nada errado comigo. Você é perfeita do jeito que é, ele disse, como se não fosse grande coisa. Não é como se eu fosse solitária. Eu tinha amigos. Tinha coisas para me manter ocupada. Era uma adolescente saudável que uma noite ficou curiosa, colocou a mão sobre a calcinha e descobriu que realmente gostava de se masturbar. E foi isso que fiz com frequência. Mas naquela época nunca senti desejo de ter alguém me dando um orgasmo quando eu era muito bem capaz de me conseguir um. Tive interações físicas não sexuais suficientes com outras pessoas que não era como se sentisse falta de carinho ou qualquer coisa assim. Quando geralmente pensava em homens, pensava em como eles cheiravam mal quando seus desodorizantes tinham vencido e em como ficavam mal- intencionados quando as coisas davam errado, mas eu gostava de treinar com eles porque eram mais fortes do que eu e me ajudavam a me preparar melhor para competir contra outras mulheres. E se lá houve um curto período em que pensei que poderia ter sentimentos por um amigo, isso foi só uma coisa, mas aceitei bem rápido e desisti dessa ideia ainda mais rápido. Quando fiquei mais velha, não esperava encontrar ninguém. Não foi algo sobre o que pensei, ponto. Nem mesmo para sexo, porque duvidava que algo pudesse se comparar aos meus vibradores, minha mão ou a almofada que eu escondia em uma prateleira do meu closet. Não tive meu primeiro beijo até os vinte anos. Só fiz sexo na mesma idade, porque beijar era bom e estava curiosa para The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A saber se o sexo valia toda a propaganda. Transei com um amigo da faculdade que era um ano mais novo que eu e que também era virgem. Sexo foi como a época em que comecei a escalar por curiosidade durante alguns meses. Feito e repetido poucas vezes depois dessa. E então, eu o conheci. Se fechar os olhos, tenho 99% de certeza de que ainda sou capaz de me lembrar daqueles ombros enormes cobertos por músculos arredondados. O bíceps maior que minha cabeça. Os antebraços que faziam minhas panturrilhas parecerem insignificantes. Eu nunca serei capaz de esquecer o quão sólido seus peitorais eram de perfil, ou quão perfeitos seus abdominais musculosos eram quando desciam para uma cintura tão fina, que a maioria das pessoas dificilmente acreditaria na quantidade de comida que conseguia fazer desaparecer. Mais importante, porém, aquele sorriso maldito. O sorriso foi o principal. Aquele merda... aquele filho da puta... foi um despertar que me atingiu do nada na primeira vez em que o vi. Como aquelas crianças em vídeos que colocam seus aparelhos auditivos e podem ouvir pela primeira vez, e você testemunha a mudança de suas vidas. Ou pessoas daltônicas que colocam óculos e finalmente conseguem ver todas as cores que você acha que é natural, porque não sabe dar o devido valor para algo que parece tão natural. Foi assim que olhar para ele pela primeira vez. E se isso não bastasse, aquele corpo de mais de cem quilos estava conectado ao rosto que me fez olhar duas vezes. Uma testa pontilhada com inúmeras cicatrizes minúsculas, um nariz que ainda estava em ótima forma, considerando que havia me dito que foi quebrado várias vezes. Então, a pele bronzeada esticada sobre maçãs do rosto altas, os mais claros olhos cor de mel, quase amendoados e uma boca quase falsa de tão rosados que eram seus lábios. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Um ano atrás, quando estava tendo uma noite péssima, procurei Jonah Traidor Collins on-line e, no processo, encontrei uma lista dos vinte e dois jogadores de rúgbi mais sexy do mundo. Claro, ele estava nela. Talvez eu não soubesse quem ele era quando nos conhecemos, mas eu era uma exceção. Não havia nenhuma razão para reconhecê-lo. E quando o encaro naquele momento, me ocorre o quão familiar seu rosto é para mim. Quão familiares são suas feições, especialmente os olhos e a cor da pele. E tenho que prender a respiração por um segundo, de tão forte que aquilo me atinge. Mas esse é um rosto que eu não vejo há dezessete meses. Aquela mistura de ossos robustos e bonitos com olhos brilhantes desapareceu. Aquela boca nunca me ligou de volta. O rosto olhando para mim no meu escritório não gosta de mim tanto quanto eu penso. Esse rosto está em uma pessoa que me fez chorar de fúria e decepção, porra. Esse rosto que foi o segundo a fazer eu me sentir usada e idiota. Eu sonhei, literalmente, sonhei, dar um soco na porra do rosto olhando para mim. Pare. Eu sei o que é importante. Eu sei o que importa. Eu sei o que disse a mim mesma que faria, mesmo que fosse difícil como o inferno. Mais importante, porém, não sou uma cadela fracote. Demora um segundo, mas consigo. Eu me concentro e me apego aquilo, mas aceito e processo a verdade: esse rosto estúpido me deu prazer... e amor — e não um pouco, mas muito. Tanto que não vou instantaneamente atirar meu grampeador em cima dele como The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A se realmente quero e nem vou gritar “desconhecido perigoso” para que alguém possa bater nele por mim. Eu supero a estrutura óssea à minha frente. Não dou a mínima para os olhos claros, cor de mel, colocados nas cavidades abaixo daquelas sobrancelhas grossas e escuras. Não sinto nada agradável pelo homem, ali, de repente no meu escritório, vestindo jeans e um moletom verde-oliva que abraça todas as partes daquele tronco que não perdeu sequer um quilo de músculo desde a última vez que o vi. Não vou ficar brava. Não vou xingá-lo ou fazer qualquer outra coisa estúpida. Vou lidar com isso. Prometi a mim mesma que, se esse dia chegasse, faria o que fosse necessário. Com alguma honra. Com algum orgulho. Mas isso não significa que tenho que ser legal. E é porque não sinto mais nada por essa pessoa específica — porque odiar suas entranhas realmente não conta — que nem sequer levanto as sobrancelhas diante de seu aparecimento aleatório depois de dezessete meses, mesmo que parte do meu cérebro tenha se assustado com o fato de Peter literalmente ter falado comigo sobre ele ontem. Ontem. No mesmo dia em que eu havia acabado de ler sobre ele não assinar seu contrato. Ele está aqui, entre todos os lugares de Houston, quando me disse antes que só tinha estado nos Estados Unidos apenas duas vezes e as duas, por causa do trabalho. Deus, eu não posso acreditar que esse filho da puta realmente tem coragem de estar aqui. Respiro fundo pelo nariz e expiro de novo. Dezessete meses. Faz dezessete meses desde a última vez que o vi, lembro a mim mesma. Eu dou conta disso. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A “Jonah.” Deixo aquela sensação de que não dou a mínima para você fluir sobre meus braços e subir para minha garganta, tornando mais fácil dizer seu nome. Olhar para ele. Não há nada que ele possa fazer que eu não seja capaz de combater. Não há nada que possa dizer que possa me machucar. Eu me preparei para isso. Eu me avisei que isso poderia acontecer... um dia, talvez daqui a dez anos, quando, tinha esperanças, eu estivesse gostosa como o inferno e vivendo o melhor da minha vida, para que pudesse esfregar na cara dele que estava melhor do que nunca. Que não tinha perdido ou precisado de sua bunda por um só segundo. O imbecil com aqueles olhos cor de mel tem a coragem de ficar parado ali, me observando, com todos aqueles músculos e aquele rosto, aquele moletom verde e aquele jeans e aquele cabelo bem cortado e o queixo suavemente barbeado, e de dizer, todo macio e quase tímido, e usando aquela possa de sotaque que foi a segunda coisa a chamar minha atenção: “Oi, Lenny.” Oi Lenny. Ele disse oi, Lenny para mim. Depois de toda essa porra de tempo e ele está jogando um “Oi, Lenny”, como se tivéssemos nos visto há uma semana no supermercado? Eu possofazer isso, repito para mim mesma. Se pudesse alcançar minha bola de estresse, faria isso, mas como não posso, pelo menos não sem ele perceber, e não vou dar a ele o presente de me ver apertando uma bolinha para não perder a cabeça em sua presença. Isso não é sobre mim. Idiota. Bundão do caralho. Eu nem desvio o olhar porque foda-se. Esse é o meu lugar, e não fiz nada errado. Ele mentiu quando me The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A beijou dezessete meses atrás e prometeu me ver depois da partida. “O que diabos você está fazendo aqui?” Pergunto antes que seja capaz de me impedir. O imbecil está lá, os dedos ao seu lado se mexendo, remexendo enquanto ele me observa. Um momento se passa, depois outro com a gente apenas olhando um para o outro. Por que diabos ele finalmente está aqui? Porque agora? Espero por uma resposta, mas não recebo nada. Como sempre. Por que esperaria algo diferente? Ok. Ele não quer responder minha pergunta? Não quer assumir suas ações? Bem. Isso é com ele. Eu não vou mais assumir a liderança. Prometi a mim mesma que não faria. Eu também posso me fazer de boba o dia inteiro, se é isso que ele quer. “Se você está procurando por Peter, ele está no prédio ao lado”, digo a ele, mantendo os dedos dobrados e engolindo cada palavrão que conheço. Agindo como se não fosse grande coisa, ele está aqui. Não é grande coisa que ele tenha ligado para Peter. Porra, eu realmente gostaria de ter minha bola de estresse na mão. A testa do filho da puta franze; ela tem rugas por causa de anos ao sol. Então aquela boca rosada forma uma expressão que não é um sorriso ou uma careta, mas algo no meio. As próximas palavras que deixam sua boca — na mesma voz baixa e suave que lançou algum tipo de magia vodu em mim uma vez — tentam ao máximo me conquistar novamente. “Eu não vim por causa do Peter”, diz Jonah Collins, olhando diretamente para mim com aquele sorriso de careta no rosto... como se não pudesse ter certeza de como se sente. Feliz ou nervoso. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A É preciso todo meu esforço para não fazer cara feia com a besteira dele. O que faço, é ficar sentada quieta e observo as duas covinhas piscando por uma fração de segundo. Porque é claro que tem uma covinha em cada bochecha bronzeada. Ele não veio atrás de Peter. Sim, certo. Sim, porra, certo. Deus. Tenho que passar por isso o mais rápido possível. Agora, agora, agora. Não interrompo o contato visual com aquelas íris cor de mel enquanto olho para ele. Eu posso jogar este jogo. “Não sei o que você sabe sobre Peter”, digo, certificando-me de manter minhas feições estudadas, “mas ele não é um personal trainer. Se quiser uma visita pela academia, posso pedir que o gerente assistente a mostre a você.” Ele sabe o que Peter faz na academia. Eu contei a ele. Ele é um filho da puta, mas me ouviu. Tenho certeza disso. Não tem como ele ter se confundido em sua cabeça. Mas Jonah não diz uma palavra enquanto continua parado ali, então nem parece que ele está respirando. Que idiota. Se ele quer falar sobre... outras coisas, é com ele. Eu desperdicei meu último telefonema e e-mail com ele oito meses atrás. Não estou mais procurando qualquer merda em relação a ele. “Se você estiver procurando por um treinador, posso entrar em contato com alguém que se concentre em atletas como você”, digo, ouvindo-me oferecer a ele um personal trainer e me encolhendo por dentro. Mesmo? É isso que estou fazendo? Eu sou melhor que isso. Posso ficar na frente dele. Posso falar com ele. Claro, posso fazer isso. Por que pensei que não podia? Eu sou capaz de olhar nos olhos dele, ouvir sua voz e ignorar aquelas lembranças de um ponto, quando eu gostava daquelas duas coisas. Minha boca The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A continua. “Ninguém com experiência em rúgbi, provavelmente, mas com futebol.” Quando o vi pela primeira vez, inicialmente assumi que ele era um jogador de futebol americano. Então, realmente prestei atenção e notei as diferenças. Para sua altura, seu percentual de gordura corporal era baixo demais para quaisquer posições que ele pudesse desempenhar desde que era muito alto. A couve-flor em suas orelhas — uma deformidade, alguns chamam, que deixa a orelha de uma pessoa grumosa — é mais comum em boxeadores e pessoas que treinam na Casa Mayo do que nos jogadores de futebol americano; eles usam capacetes, suas orelhas nunca sofrem impactos diretos. Então, ele abriu a boca e confirmou minhas suspeitas. “Lenny”, Jonah Hema Collins — descobri seu nome completo depois que ele desapareceu — diz meu nome da mesma maneira que dizia antes: todo suave, quase alegre e envolto em seu sotaque da Nova Zelândia. Mas não estou apaixonada por isso. Nunca mais. Nah. “Tenha piedade”, Jonah continua como se eu não estivesse exibindo minha cara de não dou a mínima para você. Aquele peito em seu corpo de um metro e noventa e oito se expande quando ele inspira e segura. Aqueles olhos claros focam em mim, arregalados e nervosos, e se ele fosse outra pessoa, eu poderia pensar que há um traço de esperança neles também. “Diga-me como você está.” Eu posso sentir minhas narinas se dilatando o tempo todo que ele fala. Dizer a ele como eu estou depois de tanto tempo? Isso é o que ele quer ouvir? Preocupada. Irritada. Furiosa. Assustada. Aterrorizada. Te mperamental. Cansada. Exausta. Brava. Resignada. Ainda mais exausta. Determinada. Todas essas coisas em todas as combinações. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A A tensão floresce em meus ombros e pescoço, como se estivesse dizendo para me recompor antes de fazer algo que me arrependeria. “Você quer que eu arranje pra você o número de um treinador ou não?” Um treinador que facilmente ele poderia ter arranjado na França ou Nova Zelândia, ou na África do Sul, em qualquer outro país do mundo que não este, pensa meu cérebro. Até na porra da Antártica com base em como seu telefone e e-mail não funcionam há tanto tempo. Ele não é capaz de esconder a maneira como aquelas suas mãos grandes, bronzeadas e com cicatrizes se abrem e fecham ao seu lado. Mas Jonah Collins deve ter optado por uma audição seletiva dada a maneira como abordou minha pergunta e fez outra. “Você não pode me dizer como tem passado?” Ele realmente quer saber? Sorrio para ele. “Eu estou ótima. É isso que você quer ouvir? Como eu estive, não importa, não é?” Até mostro meus dentes para ele em meu próximo sorriso. “E preciso voltar ao trabalho. Vou anotar aqui os números de telefone de dois treinadores, se é por isso que você está aqui” — fazendo Deus sabe o que, do outro lado do mundo — “ou se você ainda quiser uma visita, posso arranjar alguém para lhe mostrar tudo por aqui.” O homem de cabelos castanhos, com os cabelos tão bem cortados quanto nos dias anteriores, me observa. O pomo de Adão dele balança. Suas narinas queimam com um suspiro. E eu não gosto. Também não gosto quando um de seus pés, que me lembro que são enormes, o aproxima um pouco mais da mesa. Em minha direção. Não hesitando exatamente, mas cauteloso. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Ele sabe que uma grande parte de mim — uma parte que estou tentando ignorar — de repente quer lhe dar uma surra, e é por isso que está tentando ser todo cauteloso e tal? “Fale comigo”, insiste, mesmo que eu tenha a sensação de que está bem ciente do que eu faria com ele se pudesse. “Você está bem?” O agora você quer conversar está lá, na minha garganta, na minha língua. Bem ali. E não deixo ele se mexer. Eu não deixo a frase ir a lugar algum. Aqueles olhos dourados cor de mel procuram e se movem sobre mim enquanto fico ali sentada, atrás da minha mesa, a tensão apertando tudo entre meu queixo e bochechas, e me pergunto por apenas um segundoo que ele vê. Se pareço mais velha. Mais cansada. Se ele pode ver quanto sono eu perdi nesse pedaço gigante do tempo que estivemos... separados. Eu me pergunto o que ele pensa sobre o peso que não perdi totalmente nos últimos meses, mas ainda estou tentando perder. Então me lembro de que não ligo para o que ele pensa ou o que vê. “Eu estou maravilhosa.” Odiando a maneira como as pontas dos meus dedos começam a formigar do nada, pego uma caneta do copo na mesa e puxo um dos meus blocos de notas. Pego o celular e começo a ler os contatos enquanto digo sarcasticamente: “Se você não quer um tour e quer continuar ignorando o que falo, preciso voltar ao trabalho. Não tenho tempo para essa merda, mas aqui estão dois números de treinadores, caso precise deles enquanto estiver aqui. Se quiser um passeio pela academia, informe Bianca na recepção e ela o levará ao gerente. Há uma academia muito boa a cerca de vinte minutos também, se esta for muito longe.” Maldito palhaço do caralho. Rasgo a folha do bloco e estendo para o homem que é honestamente tão alto e musculoso quanto minhas memórias The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A tentam me lembrar. É seriamente injusto que ele esteja mais bonito do que eu lembrava. Sua pele está com um tom mais rico por ter ficado exposto ao sol durante a estação, um presente de um pai que ele me dissera ser uma mistura de samoano, maori e europeu. Sim, herdei meu tamanho dele, ele me disse uma vez com um sorriso tímido, como se não tivesse culpa por ter aquele tamanho todo e isso o envergonhasse um pouco. Idiota. Jonah Hema Collins não diz nada ou pega o papel, então eu o levanto ainda mais alto, sacudindo. Ele quer parar? Bem. Eu posso parar. Encontro seu olhar com esperançosamente a expressão mais vazia que sou capaz de reunir. “Pegue. E só para que você saiba, Peter sabe sobre nós.” Isso parece senso comum, mas... aqui está o último homem que eu poderia esperar que viesse até a academia da minha família e perguntar como estou e me olhar como... como não sei como. Como se ele realmente quisesse falar comigo. Como se realmente se importasse em como estou e como havia passado. Besteira, besteira, besteira. Nós dois sabemos que ele não quer. Suas ações por tanto tempo confirmam tudo isso. Eu sei o quão inexistente é meu lugar em sua vida. E se ele está aqui pela razão que penso que está, ele precisa dar o próximo passo adiante. Ele só precisa saber desde já, que seja lá o que estiver planejando, eu não estou sozinha. Eu não estou mais a milhares de quilômetros de casa. “Eu não disse nada a ninguém. Como lhe contei na última vez em que lhe enviei um e-mail, não preciso nem quero nada de você. Não sei por que está aqui, mas não precisa fingir The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A nada.” Eu quase mordo meu lábio, mas por pouco consigo evitar. “Nós não precisamos fingir nada. Mas este lugar é minha família — minha casa — e se você bancar o idiota, não vai acabar bem, certo?” É na segunda frase que ele se encolhe. E uma grande, bem grande carranca surge no rosto bonito que não posso ignorar tanto quanto gostaria. Ele foi tão fodidamente bonito para mim uma vez, mesmo que fosse mais parecido com um vilão do que com um herói, esse homem que pode andar sobre outros homens como se fossem pinos de boliche, o que seria a última coisa que esperaria dele, com sua voz suave, aqueles olhos que acreditei — erroneamente — que eram gentis, aquelas sardas sobre o nariz e aquelas malditas covinhas. Mas ele não é mais, no entanto. Bonito, quero dizer. Ele é apenas um lembrete de que as aparências são apenas superficiais. Pessoas bonitas são boas. E não fazem o tipo de coisa que ele fez. Não aparecem para esfregar sal em uma ferida cicatrizada, na esperança de reabri-la. Porque isso é o que causa a presença dele aqui, independentemente de quais sejam suas razões. Besteira. É tudo pura besteira. As narinas naquele nariz quase perfeito alargaram-se, e aqueles vales minúsculos e finos na sua testa se formam ao mesmo tempo em que o cenho se franze. “Você acha que eu seria idiota com você?” Ele pergunta naquela voz maldita que uma vez me fez acreditar que seria incapaz de fazer algo errado. Ele realmente não quer que eu responda isso. O homem que uma vez me fez sorrir e rir não diz nada. Aquele peito largo sobe e desce sob o moletom, e as linhas na sua testa ficam ainda mais profundas. Sua mandíbula se move de um lado para o outro. Por um momento, The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A eu o vejo lutar com alguma coisa, e então ele se eleva ainda mais, como se fosse de alguma maneira possível. “Lenny... eu nunca quis machucá-la”, Jonah “Pedaço de merda” Collins afirma, com tanto cuidado, que eu poderia pensar que está sendo sincero se não tivesse experiência. “Você tem que acreditar em mim.” Eu não posso mais evitar. Levanto as sobrancelhas. O descaramento daquele idiota. Só dou uma rápida olhada no porta-retratos na minha mesa novamente para me ajudar a recuar, engolir as palavras feias e a súbita vontade de jogar a tela do computador nele como se fosse uma estrela ninja. Minha mão quer subir até minha pálpebra e segurá-la para evitar que se contorça, mas mantenho aquela otária abaixada. Fechando o punho, olho para ele, apertando os olhos enquanto faço isso. “Como esperava não me machucar? Quando não atendeu ao telefone nenhuma vez depois que te liguei várias vezes? Ou quando você não respondeu a nenhum dos e-mails que enviei? Porque houve muitos deles.” Eu posso ver os tendões em seu pescoço flexionarem enquanto ele fica ali, olhando para mim com aquela careta / carranca / sorriso, e tenho certeza que está pensando em qualquer desculpa que inventou em sua cabeça para justificar o que fez. Mas eu só o deixo pronunciar uma única frase. “Eu posso explicar.” O sorriso que lhe dou não parece tão frágil quanto imaginei que deveria. E quando estico a mão em direção ao meu mouse para me preparar para voltar ao trabalho, não me sinto mal pelo quão fria sei que minha expressão — toda a minha linguagem corporal — é em relação a ele. Ele merece. Merece isso e muito mais, e não tem ideia de quão sortudo é por eu não jogar sua bunda para fora e mandá-lo ir se foder até o fim dos tempos. Ele tem tanta sorte que já o superei; ele e sua merda, e sou bem mais madura do que antes. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A “Eu não me importo mais, Jonah. Decida o que quer e me avise. Eu não me importo de um jeito ou de outro. Isso é tudo o que importa para mim, e podemos partir daí”, digo a ele com cuidado, com tanto cuidado da porra, que vou me cumprimentar mentalmente por ser tão boa em lançar em sua direção um último sorriso falso e depois focar de volta na tela do meu computador, ignorando-o ali no meu escritório, em silêncio. Porque foi isso que ele faz. Fica ali, olhando para mim. Se ele está se xingando ou não, não faço ideia. Se ele está me xingando em sua cabeça, eu também não tenho ideia. Tudo o que sei é que ele demora lá, totalmente imóvel, me encarando em sua enorme glória imbecil, enquanto eu o ignoro. Dois minutos depois — minutos que conto perfeitamente na minha cabeça enquanto clico aleatoriamente na tela de tempos em tempos para parecer que realmente estou trabalhando em vez de tentar ficar calma — ele exala profundamente, me olha um pouco mais e antes de se virar e anunciar baixinho: “Quero falar com você, Len. Isso é o que eu quero.” Ele faz uma pausa, seu olhar pesado. “Eu sinto muito.” Ele vai embora então. Porque isso é o que ele faz: ir embora. Então, e só então pego a bola de estresse da gaveta, desejando ter outra para minha mão livre, porque apenas uma não é suficiente naquele momento, e aperto a porra dela, trocando de mãos quando a primeira começaa ter cãibra. Naquele momento, fico muito agradecida por não ter me decepcionado com a facilidade com que ele se foi. Mas é logo depois que troco de mãos que meu celular toca com o toque do vovô Gus. Juro por Deus que ele é um bruxo. Só vovô poderia cronometrar isso tão perfeitamente. Nós precisaríamos conversar. Muito antes do que eu esperava. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Aperto o botão de resposta e não me incomodo em tentar esconder a tensão na minha voz. “Vovô.” “Como está minha diabinha favorita?” ele responde como sempre faz quando estava de bom humor, e como sempre, isso me faz sorrir, mesmo sem estar com vontade. Aperto os olhos enquanto faço isso, sentindo um nó inchar na minha garganta de repente. “Todo mundo está me dando nos nervos hoje”, digo a ele honestamente, lutando para expressar essas palavras quando uma imagem mental do rosto de Jonah preenche minha cabeça com aquelas malditas sardas e careta / carranca / sorriso. “Todo mundo está sempre te dando nos nervos”, responde ele. “Quer sair daí e almoçar?” Nós precisamos conversar. Agora, aparentemente. Merda. Sei que deveria ter feito isso meses atrás...Até um ano atrás... mas... Eu não fiz. Pensei que teria mais tempo. Minha culpa novamente. “Você está com disposição para ir ao Palácio Pho?” Eu pergunto. “Posso encontrá-lo lá em quinze minutos.” “Te encontro lá em trinta”, ele concorda um segundo antes de desligar, sem esperar que confirme que trinta são ok e não se incomodar em dizer tchau. Ele nunca diz. Ele diz que a palavra começada com T soa muito definitiva. Isso e acho que ele apenas gosta de desligar na cara das pessoas. Abaixando minha mão sobre a mesa, fecho os olhos por mais um momento, empurro a cadeira para trás e me levanto. Foda-se. Eu me meti nessa bagunça, e terei que me livrar dela. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A CAPÍTULO 4 “Jonah, é Lenny novamente. Estou preocupada com você. Onde diabos está se escondendo?” Minha melhor amiga não diz nada por dois minutos inteiros. Nos primeiros sessenta segundos, ela estreitou os olhos, olhou para o teto, fez uma cara pensativa, olhou de volta para mim, estreitou os olhos mais um pouco e depois apertou os lábios, estreitando tanto os olhos que provavelmente não enxergava coisa alguma. Na mesma quantidade de tempo, cruzei os braços sobre o peito e esperei que fizesse um comentário. Ao longo do minuto seguinte, ela tirou seu telefone da bolsa, que ficou em cima da minha mesa desde que se sentou na cadeira à minha frente, e começou a cutucar a tela. Luna não me decepciona quando finalmente afrouxa os lábios, recosta-se na cadeira e respira fundo. Os olhos dela se arregalam um momento antes que aqueles olhos verdes se voltem na minha direção quando nos sentamos no meu escritório na manhã seguinte. Seu dedo indicador aparece um segundo antes de ela mostrar o telefone com a outra mão e apontar a tela para mim. “Este é ele?” A imagem na tela é de um homem de pele morena com shorts até o meio das coxas, uma camiseta verde de mangas curtas esticada com tanta força sobre o peito, que você se pergunta como diabos ele usa isso, parado em um campo com The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A os braços soltos ao lado do corpo. O homem tem bíceps tão grandes que parece que alguém enfiou uma bola embaixo de sua pele, coxas largas e fortes e alinhadas com músculos que se sobrepõe. A expressão ultra séria em seu rosto, as sobrancelhas franzidas, a boca ligeiramente entreaberta, me irritam profundamente. “Sim, esse é Jonah”, confirmo, olhando para o rosto de Luna porque não quero olhar para ele mais do que o necessário. Minha melhor amiga fica boquiaberta, literalmente boquiaberta, enquanto olha para a tela. Seu dedo começa a cutucar o telefone novamente, e não é preciso ser um gênio para adivinhar que ela está percorrendo outras fotos dele. Suspiro. “Você está prestes a dizer algo estúpido, não é?” A fodida Luna assente antes de fazer outra careta — ainda olhando para sua tela — e pergunta, com total descrença: “Você dormiu com ele?” “Não, nós apenas brincamos de bater palminhas”, respondo secamente. O telefone dela é baixado e tenho sua atenção total novamente. Até os cotovelos vão para suas coxas quando ela se inclina para frente e pergunta com muito cuidado “Não, Lenny, de verdade. Você. Fez. Sexo. Com. Ele?” Eu pisco. Não preciso desse lembrete. “Sim.” “Com ele?” Cutuco a parte interna da minha bochecha com a ponta da língua. “Eu realmente não estou ouvindo seu tom de voz agora.” A puta olha para a foto de Jonah Collins e balança a cabeça novamente como se não pudesse acreditar. “Eu só... quero dizer...” Ela está gaguejando. Está literalmente gaguejando, e quase reviro os olhos. The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A Quero dizer, sim, eu entendo. Jonah é... um filho da puta, é claro... um idiota, imbecil, desgraçado... mas ele é lindo. Bonito de uma maneira que apenas poucos homens podem ser, nada feminino, mas esculpido tão perfeitamente desde o cabelo até seu rosto grosseiramente marcante... e então há aquele corpo. Deus, odeio suas entranhas, não importa o que diga a mim mesma sobre não sentir nada. Ódio. O ódio é um sentimento. Mas também é um verbo às vezes. “Com ele?” Ela pergunta novamente, incrédula. “Acho que posso estar começando a ficar um pouco ofendida com o quão surpresa você está, Luna”, digo a ela, brincando, porque na verdade eu entendo. “Eu sempre... você nunca...” Ela continua parando e começando com suas palavras enquanto fica mais perturbada. “Você nunca disse nada sobre um cara antes, Len. Nem uma vez em dez anos. Eu apenas pensei que você fosse... assexuada ou algo assim na maior parte do tempo.” Suas bochechas ficam rosadas quando sussurra “Eu pensei que você fosse virgem até... você sabe.” Eu pisco para ela novamente, sabendo que tem razão. “Sim, não.” Ela ofega. “Você nunca disse nada! Por um tempo pensei que tinha alguma coisa acontecendo com aquele cara Noah, mas então nada aconteceu, e eu sei que, se realmente gostasse dele, aposto que teria aceitado e... você perdeu sua virgindade com ele?” Meu passado obscuro finalmente está vindo à tona. “Tenho trinta e um anos. Não perdi minha virgindade com Jonah, Luna. Jesus.” “Com quem então?” Há uma razão pela qual nunca mencionei isso antes: eu simplesmente não via motivo. Por outro lado, Luna me deu The Best Thing M A R I A N A Z A P A T A alguns detalhes íntimos dela e dos caras com quem namorou antes... é o mínimo que devo a ela. “Aquele cara de quem eu era amiga quando comecei a faculdade. Ele estava em algumas das minhas aulas.” Dou de ombros, pensando no cara que eu gostava como amigo. “Deixe-me ver uma foto dele.” Reviro os olhos com um bufo. “Perseguidora, não?” “Ele se parece com esse?” Ela pergunta, balançando o telefone para mim. Eu olho para ela. “Não. E pare de parecer tão surpresa. Você pode começar a magoar meus sentimentos.” Isso a faz gemer. “Você sabe o que quero dizer!” Dou de ombros, sinceramente aliviada por finalmente ter contado a história toda. Pelo menos 90% dela. Mesmo que seja minha melhor amiga, ela não precisa ouvir as partes ruins. Ninguém precisa. Eu sei que há muitas coisas que ela não compartilhou comigo ao longo dos anos. Da mesma forma que sei que há um punhado de outras coisas que nunca contei a ela também. “Então ele voltou?” Ela pergunta, voltando a atenção para a tela. “Sim.” Seus olhos verdes se arregalam quando se senta mais ereta na cadeira, os olhos voltando para o telefone enquanto processa minhas notícias. “O que você vai fazer?” Ela pergunta depois de um segundo. “Ver o que ele diz”, respondo simplesmente. “Eu realmente não tenho outra escolha.” Não é como se pudesse pegá-lo pelos
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