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The Best Thing (Livro A_nico) Mariana Zapata-SCB

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The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
 
Disponibilização: 
Tradução e Revisão Inicial: 
, , , ,
Revisão Final e Leitura Final: 
Formatação: 
 
 
Abril/2020 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
 
 
 
 
 
 
 
ALGUMAS COISAS SÃO FACILMENTE PERDOADAS. 
OUTRAS COISAS... NEM TANTO. 
 
Lenny DeMaio fez uma promessa a si mesma: ela estava farta. 
Farta de pensar nele. 
Farta de se preocupar com ele. 
Farta de tentar entrar em contato com um homem que 
claramente não queria ser encontrado. 
 
Pena que ninguém entregou esse memorando a 
Jonah Collins. 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
Para o meu anjo da guarda, 
minha abuelita 
 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
CAPÍTULO 1 
“Ei, sou eu, Lenny. Onde diabos você está?” 
Eu sabia que seria uma péssima ideia clicar no link na 
minha tela inicial. 
Mas cliquei de qualquer maneira. 
Porque, como aprendi ao longo da minha vida, gosto de 
me irritar. 
Não tinha acabado de dizer a mim mesma para limpar os 
malditos cookies e o histórico no meu 
computador? Sim. Eu sabia que tinha. Fiz isso apenas 
algumas semanas atrás, quando o último artigo apareceu na 
minha página inicial, e acabou me forçando a pular em uma 
bicicleta ergométrica para não acabar fazendo algo estúpido. 
Exceto que daquela vez, tudo que fiz foi mostrar meu dedo 
médio para a tela e clicar em um artigo diferente para ler... 
xingando baixinho o tempo todo. 
Infelizmente para mim, estou irritada, mesquinha e um 
pouco entediada, e por isso sigo o link pela primeira vez em um 
tempo, vendo a tela do meu computador piscar por um 
segundo antes de me direcionar para um site que no passado 
visitei muito mais vezes do que jamais estarei disposta a 
admitir. 
…Meses antes. Um ano atrás. Não ultimamente. Não há 
muito tempo. 
Pelo menos isso. 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
Não é uma péssima ideia ter uma noção do que esse idiota 
está planejando, digo a mim quando a mesma manchete que 
me fisgou reaparece na tela em grandes letras em negrito. Leio 
o título do artigo e depois leio novamente. 
As palavras na tela não vão me afetar de maneira alguma, 
mesmo que meu estômago esteja doendo e meus dedos estejam 
agarrando o mouse embaixo da palma da minha mão, porque 
de repente quero jogá-lo em alguém que está do outro lado do 
oceano. Eu não farei nada disso, porque não me importo. 
Os últimos meses facilitaram a leitura do nome 
mencionado na manchete, sem sentir o desejo de quebrar 
nada. Na verdade, tudo o que sinto é a menor sugestão de 
dissabor. Apenas a mínima sugestãozinha de um leve dissabor. 
JONAH COLLINS ABANDONA CLUBE EM PARIS 
Honestamente, estou realmente orgulhosa da minha 
pálpebra não tremer. Pelo menos não como na primeira vez que 
vi esse nome depois de um ano na escuridão. Felizmente, 
estava em casa apenas com Mo, e ela nunca me denunciou 
pelo modo como eu disse “filho da puta” ao ver aquilo. 
Ou contou a alguém sobre como coloquei um travesseiro 
sobre meu rosto e gritei “FODA-SE” nele. 
E se estou engolindo um pouco em seco enquanto leio 
mais algumas palavras no site de notícias da Nova Zelândia, é 
apenas porque não bebi água suficiente e minha garganta está 
meio seca. 
Jonah Hema Collins confirmou que está deixando o Racing 
Club de Paris, mas não informou nenhum plano futuro. 
O ex-All Black Collins acaba de concluir um contrato de 
dois anos com o famoso clube de Paris... 
E, para o bem do resto do meu dia e a vida do meu 
mouse, clico no ícone vermelho no canto superior esquerdo da 
janela e saio da página, encarando a tela novamente com uma 
lista de artigos de notícias que realmente têm importância. 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
Então ele não está na França. Quem se importa? Isso não 
significa nada. 
Imbecil do caralho. 
Afasto esse pensamento instantaneamente, sentindo 
meus dentes de trás se apertarem e me concentro na lista de 
notícias em que deveria estar focando. Notícias que realmente 
afetam minha vida e a vida de meus entes queridos e 
amigos. Esta notícia é trabalho. 
MACHIDO DE VOLTA À UFL 238 
Mas leva apenas um segundo para decidir que não dou a 
mínima se Machido vai voltar para a United Fighting League — 
ou para qualquer outra notícia no, indiscutivelmente, mais 
popular site de MMA — artes marciais mistas — que visito 
todos os dias. Eu deveria me importar. MMA é da minha conta, 
da minha família, mas naquele momento não dou a 
mínima. Minha mente volta ao maldito artigo sobre o Idiota não 
assinar um novo contrato em Paris. 
E assim, acontece. 
Meu olho começa a tremer. 
Não preciso nem olhar para a minha mesa para abrir a 
gaveta superior, pegar a bola de estresse que meu melhor 
amigo me deu um ano atrás e espremê-la com toda a força. 
Toda ela. 
Eu posso sentir a tensão em meu cotovelo com a força que 
estou sufocando a inocente bola que nunca fez nada para mim, 
mas provavelmente salvou de assassinato mais de duas 
pessoas na academia quando elas estragaram tudo ou estavam 
completamente nuas. Idiotas. A bola amarela macia, 
honestamente, foi um dos presentes mais atenciosos que 
alguém já me deu. É uma substituta decente para as bolas 
verdadeiras que desejo poder espremer quando alguém me 
irrita. 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
Há oito meses, prometi a mim mesma que bastava 
daquilo. Que superei essa merda. Que minha vida seria 
diferente. 
Seis meses atrás, quando vi aquele nome completo na tela 
do meu tablet e minha pressão arterial subiu, 
confirmei novamente que estaria cagando e andando — depois 
de gritar no travesseiro e socar meu colchão algumas vezes. 
Eu fiz tudo o que pude. 
Chega de perder tempo e energia ficando irritada. 
E não tem qualquer problema se fiquei torcendo para 
alguém tropeçar e cair de cara em um monte de merda de 
cachorro quente e fresco em algum momento em um futuro 
próximo, não é? Se acontecer, beleza. Se não acontecer, sempre 
tem o amanhã. Tudo o que fiz foi cruzar a porra dos dedos e 
torcer para que eventualmente chegasse o dia, e eu descobrisse 
que isso aconteceu, e se houvesse prova visual, fabuloso. 
Tudo ia bem. Eu não preciso olhar em volta do escritório 
em que estou trabalhando para saber disso. O escritório que foi 
o equivalente ao trono do meu avô. O mesmo avô que é dono do 
prédio em que estou e o prédio ao lado. O mesmo prédio que 
tem nosso sobrenome estampado em uma placa gigante do 
lado de fora. 
CASA MAIO 
FITNESS E MMA 
O nosso legado familiar. 
Só essa placa já me faz sorrir todos os dias que a 
vejo. Aqui é um lar, e tem amor. Pode não ser o mesmo prédio 
em que cresci antes do vovô mudar seus negócios, mas ainda é 
um lugar diretamente ligado ao meu coração e guarda mais da 
metade das melhores lembranças da minha vida. Agora eu 
dirijo esse ginásio de MMA, e sempre será assim. 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
Inspiro fundo pelo nariz, não seguro por mais de um 
segundo e depois solto de novo. 
Foda-se. 
O que esse merda faz com a vida dele não é da minha 
conta e nunca foi... nunca. Ele pode ir aonde quiser e fazer o 
que quiser e com quem quiser. Em resumo: ele pode ir se foder. 
Idiota. 
Esse pensamento mal entra no meu cérebro quando o 
telefone do escritório toca com uma chamada de outro telefone 
no prédio. Eu nem tenho a chance de dizer uma palavra antes 
que uma voz familiar diga: “Lenny, preciso de sua ajuda.” 
Esqueço instantaneamente o artigo, o nome do filho da 
puta, Paris, e tudo associado à tela do meu 
computador. Suspiro, sabendo que há apenas algumas razões 
pelas quais Bianca, a funcionária em tempo integral da 
recepção, precisaria de mim, e eu não estou com disposição 
para lidar com nenhuma delas. Qualquer motivo advém de 
apenas uma verdade: alguém está agindo como um idiota. 
Quandocriança, passei o que parecia metade da minha 
vida no edifício original da Casa Maio. Era pequeno, escuro e 
um pouco bruto. E eu adorava aquela merda — desde o cheiro 
depois de um longo dia de corpos suados e almiscarados até o 
cheiro que ficava depois que o vovô me colocasse para 
trabalhar, não dando a mínima para a legislação sobre 
trabalho infantil, limpando o chão e os equipamento. Naquela 
época, eu não era capaz de imaginar um emprego melhor do 
que aquele que vovô Gus possuía, ser dono de uma academia, 
administrá-la, me envolver com o treinamento dos 
lutadores. Parecia tão legal e descontraído, especialmente 
depois que ele comprou um computador que veio com 
paciência instalado, e eu podia jogar por horas enquanto 
esperava para ir para casa se não houvesse mais nada a 
fazer. Quando fiquei mais velha e descobri as salas de bate-
papo, ficou muito melhor. Passar tempo com pessoas que eu 
amava ou brincar no computador foi o melhor. 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
Esperava administrar a Casa Maio quando era mais 
jovem. 
Por alguma razão, meu cérebro optou por bloquear a 
maioria das outras coisas que acompanham o trabalho — 
especificamente, os momentos em que eu seria chamada para 
interromper uma discussão ou uma briga entre dois homens 
adultos. Ou ter que agir como se me importasse quando os 
membros reclamam ou ameaçam cancelar por motivos 
realmente básicos, como quando o aparelho de musculação 
para trabalhar os glúteos estava sem funcionar. 
“O que houve?” Pergunto, me sentindo quase exausta, 
mesmo depois de dormir seis horas inteiras. 
“John apareceu e me disse que estava no vestiário do seu 
prédio e viu dois caras do MMA se estranhando”, diz Bianca, 
sem se importar em explicar o que isso implica, porque nós 
duas sabemos muito bem o que significa. 
Alguém tem que parar com aquilo, e nenhum dos 
funcionários ganha o suficiente para querer se envolver com 
dois homens crescidos discutindo. 
Esse é o meu trabalho. 
Eu simplesmente não entendo por que John, o zelador, 
não passou no meu escritório e me contou. Não fui uma idiota 
com ele ou qualquer coisa naquela manhã... acho que 
não. Mais tarde, teria que arranjar tempo para conversar com 
ele e garantir as coisas fiquem bem, quando não tivesse dois 
idiotas para lidar. 
“Tudo bem, Bianca, obrigada. Eu entendi”, digo a ela com 
outro suspiro enquanto me levanto. 
“Desculpe! Boa sorte!” Ela responde com sua voz feliz e 
agradável que me conquistou quando a entrevistei, há quatro 
meses. 
Quem diabos é burro o suficiente para discutir agora e 
sobre o quê? Saio do escritório e vou para o andar 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
principal. Procuro uma pista, observando o mar vazio de 
tapetes azuis. Há quatro caras rondando a gaiola, mas eles 
estão em seus próprios mundos. Quase todo mundo da sessão 
da manhã já se foi. 
Chego à porta que dá para o corredor que leva aos 
chuveiros e armários e não diminuo o ritmo ao gritar: 
“Escondam seus ding-dongs. Estou entrando!” 
Não estou com vontade de ver nenhum pau batendo ao 
redor ou nádegas de alguém piscando para mim. Posso muito 
bem passar o resto da minha vida sem flagrar alguém pelado e 
curvado. Se for ver algum demônio careca e de olhos 
castanhos, quero escolher de quem. 
Ninguém diz nada em resposta. Tudo bem então. 
Talvez seja meu dia de sorte e eles tenham ido embora, 
mas eu ainda tenho que verificar para ter certeza de que 
ninguém está no chão nocauteado. Felizmente, isso nunca 
aconteceu, mas é apenas porque as regras da Casa Maio são 
tão rígidas quanto à luta. Os espertos sabem que é melhor não 
fazer algo tão estúpido, e mesmo os idiotas arrogantes 
geralmente podem ser dissuadidos antes de fazerem algo que 
se arrependerão. 
Geralmente. 
Eu mal checo o pequeno corredor para os vestiários 
quando imediatamente localizo os dois rapazes em pé um na 
frente do outro, silenciosamente, cara a cara. Mais como testa 
com testa. Sério isso? 
Tem muitas coisas que eu sempre amei que fizessem 
parte da minha vida na Casa Maio. O lugar está no meu 
coração. Em meu sangue. Saber que é tanto meu quanto do 
vovô Gus. Como príncipes e princesas que conhecem os reinos 
que herdam, eu sempre soube que um dia aquilo se tornaria 
meu também. Então, mesmo quando tinha mais ou menos a 
altura dos quadris do vovô, já sabia o que aconteceria quando 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
você se metesse em uma briga que não fosse para fins de 
treinamento. 
Uma e outra vez, ele me fez sentar no minúsculo sofá-
cama que tinha no canto de seu escritório no antigo prédio 
onde a Casa Maio nasceu, enquanto suspendia uma pessoa 
após a outra por violar as regras. As regras que estão postadas 
em frente às portas principais pelas quais todos passam para 
entrar no prédio. As mesmas regras que existem desde antes 
de eu nascer. 
1. SEM BRIGAS 
2. SEM DROGAS 
3. SEM GOLPES BAIXOS (SEMPRE DEIXAR GENITAIS 
E PESCOÇOS/ COLUNA DE FORA) 
*** A violação das regras é motivo de suspensão ou 
rescisão. 
Sempre pareceu fácil o suficiente para mim e para a 
maioria das pessoas que vem e vão ao longo dos anos seguir 
essas regras. São senso comum. Não lute sem uma razão —e 
qual é, olá, você tem que ser um idiota para cruzar essa 
linha. Não tomar medicamentos nas instalações que não 
tenham prescrição ou analgésicos de venda livre. Deixar os 
ding-dongs e colunas uns dos outros de fora das 
lutas. Queremos que as pessoas possam sair da academia e se 
reproduzir, se quiserem. Merda básica. 
É raro alguém quebrar as regras, mas acontece. Apenas 
duas semanas atrás, tive que suspender um dos caras por 
acertar de propósito as bolas do cara com quem estava 
lutando. Desnecessário dizer que ele ficou fodidamente 
chateado e tentou se fazer de bobo. 
Eu realmente não quero ter que suspender outra pessoa 
novamente, não tão cedo. 
Reconheço o menor dos dois como sendo um garoto de 
dezenove anos com tranças, chamado Carlos. Ele está 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
estufando o peito. O outro homem é Vince, que supera o sujeito 
mais jovem em cerca de vinte quilos, uns dez centímetros e 
deve ter cinco ou seis anos mais. Ele não é membro da Casa 
Maio há muito tempo. E ambos estão olhando amorosamente 
nos olhos um do outro. 
Não. 
“Vocês dois estão brincando?” Pergunto sinceramente 
decepcionada com os dois. Por que diabos eles podem ter 
ficado tão bravos para estarem no vestiário a milímetros de 
distância, quase podendo se beijar? “Pelo menos um de vocês 
pode parar?” 
É Vince quem pisca primeiro, talvez seja o primeiro a 
recobrar alguma razão. 
“Agora, por favor.” 
Vince pisca novamente, mas ainda não dá um passo 
atrás, e Carlos, se alguma coisa, estufa o peito ainda mais. 
Reviro os olhos. Esses dois idiotas podem ganhar a vida 
lutando contra as pessoas, ou pelo menos ganhar a vida 
fazendo isso, mas já estive em mais brigas do que qualquer um 
deles... mesmo que as minhas tivessem sempre um árbitro e 
eram por pontos, não porque alguém me deixou brava ou 
porque eu quero provar alguma coisa. Obrigada, judô. 
“Olha só”, digo a eles, estendendo a mão para puxar o 
canto do meu olho, de tão irritante esses dois estão sendo, “Eu 
não dou a mínima se brigam um com o outro. Realmente, não 
estou nem aí, mas não vou me sentir mal por suspender 
qualquer um, se vocês chegarem às vias de fato. E a pena será 
de um mês e, Carlos, você tem uma luta chegando, e Vince, 
você tem uma em dois meses. Então o que querem fazer?” 
É Vince quem reage primeiro. Sendo um peso pesado, fico 
aliviada por ele desistir, dando um passo para trás e abrindo a 
boca, afrouxando a mandíbula. Enquanto isso, Carlos fica 
exatamente onde está, erguendo o queixo mais alto do que 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
antes e basicamente pedindo para ser espancado. Sua escolha 
quanto a amigosde repente faz muito sentido. 
Deus precisa me dar alguma força. Logo. 
“Eu preciso perguntar o que aconteceu ou vocês dois 
estão bem?” Pergunto, não dando a mínima para qual deles vai 
responder. 
“Nós estamos bem, desde que ele cale a boca e cuide de 
seus próprios assuntos”, responde Carlos, e não posso deixar 
de perceber como Vince balança a cabeça com um pouco do 
que parece ser descrença. “Não preciso do seu 
conselho, Vince.” 
É isso? Puxo o canto do meu olho novamente. “Vince?” 
O cara maior sorri presunçosamente, e depois de um 
momento, balança a cabeça e olha para mim, seu rosto 
intenso. Seus olhos deslizam para Carlos mais uma vez antes 
de novamente se voltarem para mim. “Estou bem”, ele 
responde depois de um segundo. “Vou manter meu conselho 
para mim mesmo na próxima vez, Carlos.” 
Deus me ajude. 
“Vocês têm certeza de que ambos terminaram 
então?” Pergunto novamente. 
Carlos não olha para mim, mas a mão segurando o 
telefone treme quando ele murmura: “Sim”. 
Vince assente. 
Bom o suficiente para mim. Com isso, me viro e volto para 
o meu escritório, ouvindo-os trocarem palavras abafadas entre 
si e não darem um único foda-se. Talvez eu devesse ficar 
escutando, mas... realmente não importa, importa? 
Eu precisarei contar a Peter sobre aquela pequena cena 
para que ele fique de olho neles. 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
Quando volto ao escritório e sento na cadeira, me 
convenço a tentar me concentrar novamente. Empurrando o 
resto dos meus pensamentos e sentimentos sobre tudo que não 
seja trabalho, atualizo a página do site de notícias do MMA em 
que estava antes e me arrependo instantaneamente. 
POLANSKI SOLICITA REVANCHE, ESTÁ PRONTO PARA 
RECUPERAR O TÍTULO 
Noah. 
Ugh. 
Já tinha esquecido que ele havia perdido a luta há três 
dias. Caí no sono assistindo, e a única razão para eu saber que 
ele perdeu foi porque meu avô mencionou — com um olhar 
alegre em seus olhos malignos. 
Eu amo esse homem. 
Rio com a lembrança e clico em outro link, sem vontade 
de ler o nome de Noah, e me obrigo a ler o próximo post na 
lista na página inicial do site de MMA. Então me obrigo a lê-lo 
novamente, porque não consigo me lembrar de uma palavra 
depois de terminar. Algo sobre um próximo evento entre dois 
lutadores conhecidos com os quais eu não tenho história ou 
me envolvi. 
É no final da segunda leitura que uma batida suave na 
porta me faz olhar para cima e sorrir para o homem que já 
entra, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça preta. Posso 
perceber instantaneamente, pela expressão no rosto de Peter, 
que ele já ouvido falar dos dois idiotas no vestiário. Nenhuma 
surpresa aí. Ele tem um radar para coisas assim. 
Torço o nariz para o homem que basicamente é meu 
segundo pai. “Pelo menos nada aconteceu”, digo a ele, sabendo 
exatamente o que está pensando. 
Seu rosto, sua pele morena, ainda jovem, com mais de 
sessenta anos, contorce-se em uma expressão de repugnância. 
“Sobre o que foi?” Pergunta o homem que regularmente 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
enfatiza a importância da disciplina e do controle. Ele para 
atrás de uma das cadeiras em frente à mesa que vovô e eu 
compartilhamos. 
Dou de ombros, sentindo um aperto familiar no meu 
ombro novamente. Droga. “Vince disse algo para Carlos. Carlos 
ficou ofendido.” Reviro os olhos. 
Isso me chama a atenção para o homem enganosamente 
sério. Há um punhado de rugas em cada um de seus olhos e 
nos lados da boca, mas ele ainda está quase tão em forma 
quanto estava quase trinta anos atrás quando entrou em 
nossas vidas, sem saber que iria se tornar a terceira perna da 
nossa família. “Não sei o que fazer com essas crianças às 
vezes.” 
“Vamos ligar para suas mães e contar tudo.” 
Peter bufa daquela maneira descontraída que é só 
dele. Você nunca imaginaria que esse homem quase esbelto, 
um pouco acima da média, seria capaz de derrubar a bunda de 
qualquer homem, se quisesse. Eu sempre penso nele como 
uma espécie de Clark Kent. Calmo, gentil e descontraído, 
parece a última pessoa que teria um cinturão coral do sétimo 
grau — preto e vermelho na verdade — no jiu-jitsu brasileiro 
durante o dia e me ajudaria com meu dever de matemática à 
noite. 
“Você viu Gus esta manhã?” Peter pergunta. 
“Só por um segundo. Ele estava no telefone com alguém, 
falando sobre participar de um torneio de basquete para 
idosos.” 
Meu segundo pai sorri e balança a cabeça antes que a 
expressão desapareça e ele pergunte: “Você está bem?” 
Dou de ombros. 
A maneira como Peter estreita os olhos me diz que sabe 
que eu não estou exatamente mentindo ou dizendo a verdade, 
mas não se intromete. Ele nunca bisbilhota demais. É uma das 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
minhas coisas favoritas sobre ele. Se eu quisesse lhe contar 
uma coisa, contaria, e ele sabe disso. E há muito, muito 
poucas coisas que não conto a ele. 
Apenas a merda grande. 
Eu acabo de pegar minha bola de estresse de onde estava, 
ao lado do teclado, para poder guardá-la de volta na gaveta 
quando Peter estala os dedos de repente. “Recebi um recado na 
recepção há um minuto, dizendo que você o indicou para mim”, 
ele diz enquanto fica lá. “Mas eu nunca ouvi falar desse cara.” 
“Qual o nome?” Levanto o ombro novamente e rolo para 
trás, sentindo aquele beliscão de novo. Desde quando sofro 
todas essas dores aleatórias por dormir mal? É isso que 
acontece quando você chega aos trinta anos? Preciso começar a 
ir ao meu fisioterapeuta. Talvez procurar um quiroprático 
também. 
Peter não hesita em enfiar a mão no bolso e puxar um 
post-it rosa brilhante. Ele afasta o pedaço de papel do rosto 
antes de apertar os olhos. “É... Jonah Collins?” 
Coloco o ombro de volta no lugar e olho para ele. 
Porra de merda. 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
CAPÍTULO 2 
“Oi, é Lenny de novo. Onde diabos você está? Eu fui ao seu apartamento e 
bati na porta por meia hora. Só quero saber se está vivo, ok? Estou 
preocupada com você.” 
Quando acordei naquela manhã não sabia que minha 
vida estava prestes a mudar com esse nome saindo da boca de 
Peter. 
Mas aconteceu. 
E ele deve saber quando o encaro em silêncio, me 
sentindo quase a ponto de desmaiar provavelmente pela 
segunda vez na minha vida. 
Eu não tenho ideia do que dizer. O que pensar. Como 
reagir. 
Aparecer um pênis mágico do nada no meu corpo seria 
menos surpreendente do que Peter dizer o nome do filho da 
puta. 
Mas o que mais me atinge — o mais duro— é saber que o 
tempo finalmente acabou. 
Reagir do jeito que reage é uma prova de quão bem Peter 
me conhece. Cuidadosamente, vigilante, ele puxa a cadeira em 
frente à mesa e senta-se, ordenadamente, um exemplo do 
controle sem esforço que tem sobre o corpo. Eu duvido que seja 
minha imaginação que ele parece quase se preparar. 
“Você não gosta dele?” 
Como se fosse assim tão fácil. Gosta ou não gostar. 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
Eu nem percebo que levantei as mãos até o rosto antes 
que elas estejam esfregando minhas bochechas e testa, 
deslizando para trás pelo rabo de cavalo que fiz no meu cabelo 
naquela manhã porque não estava com vontade de fazer 
qualquer outra coisa. Não apreciei todos os anos em que 
priorizei dormir oito a dez horas por noite; isso com certeza. 
O “Elena” que sai da boca de Peter é o desafio lançado 
entre nós. 
Não Lenny. Não Len. 
Peter usou Elena , usando a cartada de pai que ele 
raramente usava. 
Estou fodida. 
A opção de mentir para ele nem me vem à cabeça. Nós 
não fazemos isso. Nenhum de nós. Há coisas que nós... não 
contamos um ao outro. Não fazemos algumas perguntas um ao 
outro porque há um ponto subjacente: sabemos que não 
mentimos. Se você não pergunta, você não sabe. E se 
queremos que você saiba, contamos. É assim que vovô Gus, 
Peter e eu sempre nos tratamos. Nós nunca precisamos dizer 
isso, masa confiança entre nós é reforçada com quilômetros de 
vergalhões e concreto. 
Porque em trinta anos, houve apenas um punhado de 
coisas que não contei a eles. E tenho certeza de que deve haver 
um punhado de coisas que eles não me contaram também. 
Lentamente, afasto as mãos do rosto e me endireito na 
cadeira giratória, empurrando os ombros para trás e 
encontrando o olhar marrom escuro de Peter. Encaro o rosto 
que torceu por mim em quase todas as competições de judô de 
que participei — exceto quando ele teve pneumonia e outra vez 
quando sua irmã morreu e ele não quis que eu perdesse o 
torneio. O rosto de Peter foi o que me colocou na cama por 
anos incontáveis, junto com o do vovô Gus. O rosto que me 
tranquilizou mais vezes do que eu jamais poderia contar; que 
 
 The Best Thing 
M A R I A N A Z A P A T A 
sempre me dizia que era amada, que podia fazer qualquer coisa 
e que sempre seria capaz de fazer melhor. 
Então digo a ele as duas palavras que precisam ser 
suficientes. Duas palavras que não quero deixar escapar, mas 
preciso. Porque acabou o tempo. 
Uma coisa é se esforçar ao máximo e fingir que alguém 
não existe, e outra coisa totalmente diferente é mentir para 
manter essa farsa. 
“É ele.” 
As sobrancelhas dele se franzem. 
Ele não está entendendo. Ainda não pelo menos. Mas 
precisa entender, porque não quero exatamente entrar em 
detalhes. Não com a porta aberta. Aqui não. Então levanto as 
sobrancelhas e olho para ele, tentando projetar as palavras em 
sua cabeça. 
É ele. É ele, é ele, é ele. 
Eu vejo o momento em que ele compreende. O momento 
em que percebe o que diabos estou tentando transmitir. É 
ele. Ele. 
Peter se mexe em seu assento, cruzando uma perna sobre 
a outra e se inclinando para trás enquanto pergunta com um 
olhar engraçado no rosto, como se não quisesse acreditar: 
“Ele?” 
“Sim.” Ele. 
Os olhos castanhos escuros de Peter se movem sobre a 
parede verde azulada atrás da minha cabeça enquanto 
processa ainda mais o que estou dizendo, realmente pensando 
sobre a questão e o que diabos tudo isso significa. 
Porque eu já sei o que isso significa para mim, pelo menos 
até certo ponto. 
 
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Significa que preciso começar a economizar o dinheiro da 
fiança para o vovô Gus, quando ele for preso por agressão 
agravada, assédio, conspiração para cometer assassinato ou 
qualquer que seja a acusação de bancar um tolo em público. 
Essa ideia não deveria me divertir, mas sim. Realmente 
me diverte. Pelo menos até a outra metade do que isso 
realmente significa me atinja. 
Terei que ver aquele idiota no tribunal quando apresentar 
queixa contra o meu avô. 
Terei que olhar para o maldito homem que desapareceu 
por um ano, apenas para reaparecer subitamente novamente 
no mesmo país em que eu o vi da última vez. O idiota que me 
deixou pendurada. Que nem teve coragem de me ligar, enviar 
uma mensagem ou me enviar um e-mail de resposta. Nem uma 
vez depois das trezentas vezes que tentei entrar em contato 
com ele. 
Claro, logo depois que deu o fora, ele enviou quatro 
cartões postais no total, com sua assinatura neles — mas 
apenas isso. Não houve um endereço de retorno. Não 
tinha merda nenhuma neles. Nem mesmo uma mensagem. Nem 
mesmo algum tipo de código que eu pudesse ter 
decifrado. Apenas sua assinatura rabiscada, um selo e o 
carimbo da Nova Zelândia, meu nome e endereço anterior na 
França. 
Pego minha bola de estresse novamente, imediatamente 
apertando com força. 
E se estou imaginando que são as bolas de alguém... 
tanto faz. 
“O que…?” Ele nem sabe o que dizer. Eu me pergunto se 
ele tinha desistido de descobrir sobre ele. “Ah...eu...ele... faz 
MMA?” Peter finalmente solta. 
Balanço a cabeça. 
 
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Peter pensa nisso por um momento, mas deve estar se 
fazendo a mesma pergunta que eu: por que Jonah estaria 
ligando para ele? Peter não entende tão bem quanto eu que 
essa é uma ligação aleatória. Ele não sabe quem é Jonah ou o 
que ele faz da vida. Mas o que Peter sabe é que nós somos uma 
família. E ele prova isso para mim instantaneamente. 
“O que você quer que eu faça?” Ele pergunta. “Ele... ligou 
para você?” 
Fico lá, ainda pendurada no fato de que o nome dele saiu 
da boca de Peter. Quais são as chances? Sério, por que ele está 
ligando para Peter? Porque agora? 
Aperto a bola um pouco mais. “Não. Eu bloqueei o 
número dele.” As perguntas saltam no meu crânio. Por quê? Por 
quê? Por quê? Por quê? Por quê? 
Não posso deixar de coçar a garganta e observar a foto 
emoldurada ao lado do monitor do meu computador. 
Não importava o porquê. Tudo o que importa é que ele 
ligou. 
“Eu não sei por que ele está entrando em contato com 
você em vez de falar comigo”, digo a ele, ainda olhando a foto 
no porta retratos. “Mas falei sobre você o suficiente quando 
nós... nos conhecíamos. Ele sabe quem você é. Sabe meu 
sobrenome. Sabe que o vovô é dono deste lugar. Não é uma 
coincidência.” 
Quando nos conhecíamos. Deus, eu quase começo a rir 
disso. E só posso rir da ideia dele entrar em contato com Peter 
por acidente. Não tem como isso ser possível. 
Esfregando os dedos sobre o rosto novamente, seguro um 
suspiro. 
Peter se inclina para frente em seu assento, com o rosto 
ainda mais sério do que o habitual — pelo menos enquanto 
estamos dentro dessas paredes. Quando sairmos da Casa 
Maio, será uma história diferente. Esse é o Peter que eu 
 
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conheço; aquele que cresci amando desde o momento em que 
bateu na porta do escritório do vovô Gus, pedindo um 
emprego. Todos nos apaixonamos por ele. De acordo com o 
vovô Gus, deixei o homem estranho ficar sentado sozinho por 
dois minutos antes de subir no seu colo aos três anos de idade 
e desmaiar contra ele, segurando sua mão. 
Nenhum de nós sabia naquela época que seria a primeira 
de muitas e muitas vezes eu faria a mesma coisa ao longo dos 
anos. 
Amo esse homem tanto quanto amo meu avô, e Deus sabe 
— todos sabem— que acho que essa velha criatura de 
demônios ancestrais é a melhor coisa que existe mesmo 
quando está me deixando louca, e isso sempre acontece. 
“Porque agora?” 
Meus dedos fazem círculos contra os ossos da testa. “Eu 
não sei. Ele não ligou ou mandou um e-mail desde a última vez 
que o vi.” Idiota. “Parei de tentar entrar em contato com ele oito 
meses atrás.” Tenho que limpar a garganta, porque de repente 
parece muito apertada e seca. “No último e-mail que enviei, 
disse a ele que era a última vez, e estava falando sério. Não 
estendi a mão novamente.” Prefiro cortar minhas duas 
mãos. Costurar minha vagina fechada. Desistir de cafeína pelo 
resto da minha vida. Mas não digo isso a Peter. Não quando até 
seu silêncio é pensativo enquanto processa essa merda que 
estou jogando em cima dele. 
“Você quer que eu ligue de volta? Podemos descobrir o 
que ele quer”, ele diz depois de um tempo. 
Porra. 
“A menos que você prefira esperar e ver o que ele 
faz.” Peter abaixa a voz, sabendo muito bem que eu não quero 
que mais ninguém ouça ou junte as peças. “Ou se você preferir 
ligar para ele.” 
Eu não quero fazer nada. 
 
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Tudo o que quero é dizer a Jonah Collins que se enfie em 
outra galáxia. Mas não farei isso. Mesmo que me mate. Mesmo 
que seja contra todos os instintos do meu corpo. Já basta de 
querer gritar com ele. Basta de querer bater nele. Dizer que ele 
é um pedaço de merda. Rasgar suas bolas e mergulhar em seu 
sangue. Amaldiçoar o dia em que nos conhecemos naquela 
turnê. 
Mas eu não farei. 
Olho para o porta retratos novamente. 
Eu não vou fazer merda. 
Nem sempre conseguimos o que queremos , vovô me disse 
uma vez quando eu estava agindo como uma pirralha depois de 
perder uma luta. E ele está totalmente certo. 
Saber tudo isso, no entanto, não alivia nemum pouco a 
frustração e o aborrecimento que acampam no meu peito. “Eu 
tentei entrar em contato com ele, Peter. Não uma ou duas 
vezes, mas repetidamente. A escolha foi dele; não minha”, 
explico. 
Peter olha para mim por tanto tempo que não faço ideia 
do que diabos ele pode estar pensando. 
“Então não fazemos nada”, ele finalmente diz. “Vamos ver 
se liga de volta. Veremos o que ele quer.” 
Ver o que ele quer. 
Eu sei o que ele não quer. Peter e eu sabemos. Quase todo 
mundo na minha vida sabe, aliás. 
“Se ele ligar de novo... se vier aqui, nós cuidaremos 
disso. Você está bem assim?” 
Aperto com muita força a bola de estresse novamente, 
mas assinto. Nós teremos que lidar com isso, de um jeito ou de 
outro. Eu não tenho exatamente uma escolha. 
 
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Isso me faz receber um pequeno sorriso de Peter, que 
ainda parece diferente do habitual. Eu não posso culpá-
lo. Mas, felizmente, é Peter e não meu avô. 
Deus, eu não estou ansiosa por aquela conversa. 
“Podemos esperar antes de contar ao vovô?” Eu pergunto, 
balançando a perna debaixo da mesa. Porque agora? Por que e 
ponto? Eu sei que sou uma idiota egoísta por pensar assim, 
mas não posso evitar. Por que hoje? 
Deus, e desde quando sou tão chorona? Eu me enojo, 
droga. Porque, porque, por quê? Buá. Ugh. 
Posso ver a discussão nos olhos de Peter com meu pedido, 
mas, felizmente, sua mente rápida chega à mesma conclusão 
que a minha chegou. 
Nós precisamos de dinheiro para fiança se Jonah Hema 
Collins vier até aqui — não que eu esteja esperando que ele 
venha. Tudo o que ele fez foi ligar. Por alguma razão, que não 
consigo nem começar a entender. 
E se o pensamento dele vir aqui levanta minha pressão 
sanguínea — e meu dedo médio — preciso bancar a adulta e 
engolir. Isso não é sobre mim. Então me concentro no tópico 
meu avô. 
“Eu não quero que ele saiba a menos que seja necessário”, 
digo a Peter. “Ele não precisa se irritar sem motivo. Finalmente 
acabou superando”, explico, sabendo que essa é uma daquelas 
coisas que caem na área cinzenta de não mentir um para o 
outro. 
O aceno de Peter é mais rígido do que deveria ser, mas eu 
também entendo. Claro, que entendo. E odeio colocar qualquer 
um deles nessa posição em primeiro lugar. Eu odeio estar 
nessa posição, para começar, mas aqui estamos nós. Não é 
culpa de mais ninguém, a não ser minha. “Ok”, ele concorda, 
claramente um pouco dividido. Mas nós dois sabemos qual é o 
maior dos dois males. 
 
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Nenhum de nós diz nada por tanto tempo que quase fica 
estranho. 
Depois de três ou dez minutos, Peter se levanta de novo e 
me lança um olhar intenso que imediatamente me faz apertar 
os lábios e exibir algo próximo a um sorriso. 
“Está tudo bem”, afirma ele, calmamente, projetando o 
pensamento em mim. 
“Eu sei.” 
Seus olhos se voltam para a parede atrás de mim, onde 
imagino que ele provavelmente esteja olhando para uma foto 
emoldurada de nós três no meu décimo oitavo aniversário, 
amontoados em torno de um bolo de aniversário com velas que 
poderiam ter sido fogos de artifício. Seu peito esbelto se 
expande e volta a descer quando ele aceita o que quer que seja 
que o estivesse preocupando. Tudo, provavelmente. 
Aqueles olhos demoram a se mover da parede para mim, 
mas quando me encaram, ele consegue me dar um sorriso que 
definitivamente é um pouco tenso. “Venha trabalhar com a 
equipe por uma hora. Você precisa tirar esse olhar do seu 
rosto.” 
“Que olhar?” 
Ele ergue as sobrancelhas. “Esse aí.” 
Aperto os lábios, temporariamente empurrando o porquê, 
por que, por que de lado. “Vou pensar sobre isso. Meu ombro 
está muito dolorido hoje.” 
Peter me dá um meio sorriso conhecedor quando sai da 
sala, sem precisar insistir. Nós dois sabemos que ele está 
certo. Estou muito tensa, com dor no ombro ou sem dor no 
ombro. Não brinca. 
Jonah ligou para Peter. Por que ele faria isso? E isso 
realmente tem que me fazer sentir quase fodidamente enjoada? 
 
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Com uma respiração profunda pelo nariz e pela boca, 
inclino a cabeça em direção ao teto e tento aliviar a tensão do 
meu corpo. 
Eu odeio não saber o que vai acontecer. 
Odeio surpresas. 
Há uma razão pela qual o idiota ligou para Peter. Eu 
cresci em torno de homens com quantidades insanas de 
testosterona. Quando eles querem algo, geralmente 
conseguem. 
E quando não querem algo... bem, não querem, e às vezes 
desaparecem sem deixar vestígios. 
Eu sou muitas coisas, mas não sou burra ou covarde. 
Se aquele cara de merda ligou, ele ligou. O que quer que 
tenha acontecido, posso muito bem lidar com isso. 
As chances são de que ele mude de ideia e continue com 
seu ato de desaparecer, e eu poderei continuar a viver minha 
vida exatamente da mesma maneira que venho vivendo. 
Eu vou malhar, talvez andar de bicicleta, para não 
agravar mais meu ombro. E vou me 
acalmar. Independentemente do que mais aconteça, se eu 
tivesse que matar alguém, tenho pessoas para ajudar. Não há 
como impedir que nada aconteça, mas eu posso e vou lidar 
com isso. 
Jonah Collins não tem ideia de onde ele estará se 
enfiando, se aparecer. Se, se, se. 
Se ele for se enfiar em alguma coisa em primeiro lugar. 
 
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CAPÍTULO 3 
“Sou eu. De novo. Lenny. Eu fui ao seu apartamento. Akira me disse que eles 
também não tiveram notícias suas. Olha, um Aquiles rompido não é o fim do 
mundo, mesmo que pareça assim, ok? E tenho certeza que seu rosto ficará 
bem quando o inchaço diminuir. Não seja vaidoso e tal. Pelo menos me 
mande uma mensagem de volta. 
Eu sei que nem estou tentando esconder meu mau humor 
quando a segunda pessoa em menos de uma hora entra no 
escritório, olha para mim e depois se vira e sai de novo, sem 
dizer uma palavra. 
É uma merda. 
Nunca, eu nunca fui o tipo de pessoa que engarrafa 
merda e deixa apodrecer em primeiro lugar. Desde que me 
lembro, o vovô Gus me fez falar sobre as coisas para tirar tudo 
de dentro de mim. Se isso não funcionava, havia outras coisas 
que eu poderia fazer para me acalmar novamente. Para 
recuar. Para me centrar. A pressão faz tudo aflorar, ele dizia. 
Mas, apesar de ter plena consciência de que a meditação 
me ajuda a relaxar e me concentrar — alguns dias me ajuda a 
não pensar, e outros dias me ajuda a pensar em coisas que 
estão me incomodando, mas sem fúria — eu não 
medito. Também não acordei e pulei na bicicleta ergométrica 
para escapar da minha cabeça. Sei que não funcionaria. 
Eu me mexi e revirei a noite inteira, olhando para o teto e 
depois ouvindo um podcast sobre crimes verdadeiros porque 
não quis ligar a televisão ou descer as escadas porque não 
queria me arriscar a encontrar vovô Gus, e correr o risco de ele 
 
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ver que algo — alguém — estava na minha bunda e se acabar 
me perguntando sobre isso. Porque ele sempre sabe quando 
algo está acontecendo. Sempre. 
E não estou pronta para lhe contar as coisas que ele 
precisa saber. 
Ainda não. Não enquanto não estiver completamente 
convencida de que poderei ser racional. Mas eu culparia 
esconder as coisas dele como a razão do meu humor ruim no 
dia seguinte. Isso e uma noite de sono ruim, misturada com 
antecipação, raiva e mágoa, causam essa pedra desconfortável 
que não quer passar pelo meu sistema. 
Pegando o telefone celular, ignoro a planilha na tela da 
área de trabalho e envio uma mensagem de texto que deveria 
ter mandado no dia anterior. Se não posso contar ao vovô, tem 
alguém com quem preciso conversar. Alguém mais jovem, 
menos peludo e muito melhor. 
Eu: Você está ocupada hoje? 
Demora dez minutos para receber uma resposta. 
Luna: Não. :] O que está acontecendo? 
Balanço o pé embaixo da mesa, pensando no que tenho 
que dizer à minha melhor amiga dos últimos onzeanos. 
Eu: Nada de ruim, mas preciso lhe contar uma coisa, e 
será mais fácil pessoalmente. 
Dessa vez, apenas um minuto de atraso na resposta. 
Luna: Diga-me agora, por favor. 
Eu: eu não fiz xixi na calça de novo, se é isso que está 
prestes a perguntar. 
Eu me arrependi apenas parcialmente de dizer a ela que 
fiz xixi em mim um mês atrás porque espirrei muito forte 
depois de segurar por muito tempo. 
 
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Apenas trinta segundos se passam antes que eu receba 
outra mensagem. 
Luna: Eu tinha certeza que era isso! 
Eu: Mas qual é o motivo para esse ponto de exclamação 
hein, vaca? Não pareça tão decepcionada. 
Luna: Tem sido um longo dia. Uma garota pode sonhar. 
Luna: Eu posso ir hoje à noite. 
Eu: [emoji do dedo médio] 
Eu: você está bem? 
Luna: [emojirindo] Vou te mandar uma mensagem 
quando Rip chegar em casa para ficar meu docinho. Vou levá-
la ao médico em uma hora. Ela está puxando a orelha e 
chorando. Eu me sinto muito culpada por ela estar se sentindo 
mal, é tudo. 
O fato de estarmos conversando sobre a bebê dela, 
planejando em torno de uma coisinha chamada Ava, é apenas 
mais um lembrete de quão rapidamente a vida pode 
mudar. Apenas dois anos atrás, tudo era normal. Ou pelo 
menos o normal para nós naquele momento. Ela agora tem um 
cara em sua vida — não que seu marido agora seja um 
cara; ele é um homão da porra— mas as coisas mudaram. 
Uma vez, eu tinha dezenove anos, talvez com duas 
amigas, e Luna, dezoito anos, que sorriu para mim durante 
uma aula de autodefesa que ministrei na Casa Maio. Por um 
pouco de dinheiro extra. Eu a convidei para comer porque 
gostei de como ela foi legal com as outras mulheres da 
classe. Eu não gostava de pessoas cheias de julgamentos, e foi 
por isso que a convidei. Eu era competitiva o suficiente, mas 
não dava a mínima para o que as outras pessoas faziam ou 
não, e Luna não me deu uma única vibração que dissesse que 
ela era tudo menos descontraída. E, como aprendi, ela 
realmente é a pessoa mais descontraída possível. 
 
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Eu me apaixonei por ela em um mês. Ela era gentil, 
paciente, otimista e tão tranquila que me relaxava. Luna era 
um monte de merda que eu não era. Passamos os próximos 
oito anos navegando pela vida juntas. Duas garotas com muito 
em comum, mas ao mesmo tempo nada em comum, tentando 
sobreviver e crescer. Então ela arranjou um namorado — e, 
novamente, não que houvesse algo de menino nele — e, nessa 
época, tudo mudou. 
A próxima coisa que soube foi que eu tinha trinta e um 
anos e a única coisa na minha vida que ainda continuava igual 
era meu avô e Peter. Até o meu relacionamento com Luna 
mudou um pouco. Eu não sabia mais quem diabos era essa 
nova pessoa dentro do meu corpo e na minha mente. Não que 
isso fosse ruim ou que eu não gostasse de mim, mas... eu 
estava apenas diferente. Tudo estava diferente. As 
circunstâncias haviam mudado. Eu tinha mudado. Tudo na 
minha vida também. Como quando você perde ou ganha peso e 
não tem mais certeza de como se encaixa na sua própria pele. 
Você não é quem costumava ser. 
E não tem certeza de como isso aconteceu ou quando 
aconteceu, mas aconteceu. 
E isso deveria ser ok. Pelo menos esse é o conselho 
sensato do meu avô. Deus sabe que ele inventa coisas o tempo 
todo, mas faz sentido... de certa forma. Assim como, a cada 
sete anos, todas as células do seu corpo são substituídas por 
novas. Você é diferente. Você deveria ser. É inevitável. É 
natural. 
A vida continua evoluindo, quer você queira ou não. 
E eu não vou reclamar disso. 
Eu: Ok. Vou mandar uma mensagem quando chegar em 
casa, mas deve ser mais ou menos no mesmo horário. Espero 
que minha afilhada melhore e relaxe. Não é sua culpa que ela 
esteja doente. 
 
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Empurro todos esses pensamentos de lado: sobre precisar 
contar a verdade, sobre ser diferente, sobre minhas 
preocupações, sobre meus malditos arrependimentos e lanço 
um último olhar para o porta-retratos que está em minha 
mesa. Concentro-me novamente na planilha que preciso ler 
para poder enviá-la ao contador da academia até o final da 
semana. 
Jonah Collins vai ligar, ou não vai. Ele virá aqui, ou 
não. Não há nada que eu possa fazer para impedir isso, além 
de ligar para alguém na imigração e alegar que ele está 
contrabandeando drogas em seu traseiro. Então… 
Olho para a foto na minha mesa e volto ao trabalho, 
ligando a playlist no meu telefone, que se conecta a um 
pequeno alto-falante via Bluetooth. Em algum lugar no fundo, 
ouço o som de vozes voltando para a academia. O som de 
corpos colidindo. Penso se eu deveria descer para o salão e 
tirar proveito de Peter estar trabalhando nas habilidades de jiu-
jitsu hoje, já que meu ombro não está doendo mais do que o 
normal, ao contrário do dia anterior. Faz pelo menos algumas 
semanas desde a última vez que entrei em uma luta com 
alguém, e mesmo assim, levou apenas quinze minutos para 
mostrar a uma das novas garotas como se faz uma finalização 
por estrangulamento que ela vinha tendo dificuldades em fazer. 
Meh. 
Ou talvez eu simplesmente pule em um elíptico mais 
tarde e faça alguns quilômetros de HIIT — treinamento 
intervalado de alta intensidade — para deixar meu batimento 
cardíaco legal e elevado e queimar algumas calorias. Sim, isso 
parece uma ideia melhor. 
Volto ao trabalho de catalogar despesas. Tudo familiar e 
usual, ou pelo menos é o que penso. Estou com a cabeça cheia 
de números enquanto copio algumas despesas para o 
computador e estou resmungando levemente junto com minha 
playlist dos anos 90 quando ouço o toc, toc na porta 
aberta. Duas batidas leves e preguiçosas. 
 
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Nada especial. Nada para me sobressaltar. 
“Entre”, grito, tentando segurar um suspiro, porque, para 
ser justa, não é culpa de ninguém que estou com um humor de 
merda. 
Então, quando os passos soam no chão, eu ainda estou 
tentando me convencer a sair do inferno. Talvez não precise 
estar de bom humor, mas também não preciso estar de mau 
humor. Ninguém merece eu estar sendo uma cadela hoje. Nem 
mesmo meu próprio corpo merece esse tipo de estresse. 
As coisas vão acontecer, ou não. É simples assim, e sei 
disso. Eu simplesmente não consigo convencer o resto de mim 
que esse é o caso. 
Então, quando os passos param e a garganta é limpa, levo 
um bom tempo olhando para longe da tela do computador para 
reconhecer o pobre idiota que está sendo corajoso de entrar no 
escritório. 
E é aí que tudo dá errado. 
Pelo menos é o que parece. 
Como se alguém me visse vivendo minha própria vida, 
cuidando do meu próprio nariz, tentando o meu melhor e então 
decidisse pegar tudo e jogar no fogo, apenas para ver queimar. 
Eu não estou pronta para os grandes ombros ocupando a 
largura do corredor que separa o escritório do resto dessa parte 
da academia. Não estou pronta para as pernas longas e fortes, 
que levam a um corpo envolto em nada além de camadas de 
músculo, no meu espaço. Aquele corpo que, dentre tantos, 
muitos que eu vi ao longo dos anos, fez algo em meus órgãos 
internos — incluindo meu coração, se eu for honesta. 
Eu vi tantos homens seminus na minha vida que me 
tornei insensível a abdômen sarado, braços musculosos e 
rostinhos bonitos. Nunca dei importância para beleza física, 
honestamente. Lembro-me de uma vez, quando tinha uns 
quinze ou dezesseis anos, e disse a Peter que estava 
 
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preocupada com o quanto realmente não me importava com 
garotos. Ou garotas. Eu sabia que alguns caras eram 
atraentes, mas isso não causava nada em mim. Eu não tinha 
me encontrado desejando um maldito namorado. A maioria das 
pessoas que conhecia queria estar em relacionamentos, e eu 
simplesmente não dava a mínima. Peter, no entanto, me disseque não havia nada errado comigo. 
Você é perfeita do jeito que é, ele disse, como se não fosse 
grande coisa. 
Não é como se eu fosse solitária. Eu tinha amigos. Tinha 
coisas para me manter ocupada. Era uma adolescente 
saudável que uma noite ficou curiosa, colocou a mão sobre a 
calcinha e descobriu que realmente gostava de se masturbar. E 
foi isso que fiz com frequência. Mas naquela época nunca senti 
desejo de ter alguém me dando um orgasmo quando eu era 
muito bem capaz de me conseguir um. 
Tive interações físicas não sexuais suficientes com outras 
pessoas que não era como se sentisse falta de carinho ou 
qualquer coisa assim. Quando geralmente pensava em 
homens, pensava em como eles cheiravam mal quando seus 
desodorizantes tinham vencido e em como ficavam mal-
intencionados quando as coisas davam errado, mas eu gostava 
de treinar com eles porque eram mais fortes do que eu e me 
ajudavam a me preparar melhor para competir contra outras 
mulheres. 
E se lá houve um curto período em que pensei que 
poderia ter sentimentos por um amigo, isso foi só uma coisa, 
mas aceitei bem rápido e desisti dessa ideia ainda mais rápido. 
Quando fiquei mais velha, não esperava encontrar 
ninguém. Não foi algo sobre o que pensei, ponto. Nem mesmo 
para sexo, porque duvidava que algo pudesse se comparar aos 
meus vibradores, minha mão ou a almofada que eu escondia 
em uma prateleira do meu closet. 
Não tive meu primeiro beijo até os vinte anos. Só fiz sexo 
na mesma idade, porque beijar era bom e estava curiosa para 
 
 The Best Thing 
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saber se o sexo valia toda a propaganda. Transei com um 
amigo da faculdade que era um ano mais novo que eu e que 
também era virgem. Sexo foi como a época em que comecei a 
escalar por curiosidade durante alguns meses. Feito e repetido 
poucas vezes depois dessa. 
E então, eu o conheci. 
Se fechar os olhos, tenho 99% de certeza de que ainda 
sou capaz de me lembrar daqueles ombros enormes cobertos 
por músculos arredondados. O bíceps maior que minha 
cabeça. Os antebraços que faziam minhas panturrilhas 
parecerem insignificantes. Eu nunca serei capaz de esquecer o 
quão sólido seus peitorais eram de perfil, ou quão perfeitos 
seus abdominais musculosos eram quando desciam para uma 
cintura tão fina, que a maioria das pessoas dificilmente 
acreditaria na quantidade de comida que conseguia fazer 
desaparecer. 
Mais importante, porém, aquele sorriso maldito. O sorriso 
foi o principal. 
Aquele merda... aquele filho da puta... foi um despertar 
que me atingiu do nada na primeira vez em que o vi. Como 
aquelas crianças em vídeos que colocam seus aparelhos 
auditivos e podem ouvir pela primeira vez, e você testemunha a 
mudança de suas vidas. Ou pessoas daltônicas que colocam 
óculos e finalmente conseguem ver todas as cores que você 
acha que é natural, porque não sabe dar o devido valor para 
algo que parece tão natural. 
Foi assim que olhar para ele pela primeira vez. 
E se isso não bastasse, aquele corpo de mais de cem 
quilos estava conectado ao rosto que me fez olhar duas 
vezes. Uma testa pontilhada com inúmeras cicatrizes 
minúsculas, um nariz que ainda estava em ótima forma, 
considerando que havia me dito que foi quebrado várias 
vezes. Então, a pele bronzeada esticada sobre maçãs do rosto 
altas, os mais claros olhos cor de mel, quase amendoados e 
uma boca quase falsa de tão rosados que eram seus lábios. 
 
 The Best Thing 
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Um ano atrás, quando estava tendo uma noite péssima, 
procurei Jonah Traidor Collins on-line e, no processo, 
encontrei uma lista dos vinte e dois jogadores de rúgbi mais 
sexy do mundo. 
Claro, ele estava nela. 
Talvez eu não soubesse quem ele era quando nos 
conhecemos, mas eu era uma exceção. Não havia nenhuma 
razão para reconhecê-lo. E quando o encaro naquele momento, 
me ocorre o quão familiar seu rosto é para mim. Quão 
familiares são suas feições, especialmente os olhos e a cor da 
pele. E tenho que prender a respiração por um segundo, de tão 
forte que aquilo me atinge. 
Mas esse é um rosto que eu não vejo há dezessete 
meses. Aquela mistura de ossos robustos e bonitos com olhos 
brilhantes desapareceu. Aquela boca nunca me ligou de volta. 
O rosto olhando para mim no meu escritório não gosta de 
mim tanto quanto eu penso. 
Esse rosto está em uma pessoa que me fez chorar de fúria 
e decepção, porra. Esse rosto que foi o segundo a fazer eu me 
sentir usada e idiota. Eu sonhei, literalmente, sonhei, dar um 
soco na porra do rosto olhando para mim. 
Pare. 
Eu sei o que é importante. Eu sei o que importa. Eu sei o 
que disse a mim mesma que faria, mesmo que fosse difícil 
como o inferno. 
Mais importante, porém, não sou uma cadela fracote. 
Demora um segundo, mas consigo. 
Eu me concentro e me apego aquilo, mas aceito e 
processo a verdade: esse rosto estúpido me deu prazer... e 
amor — e não um pouco, mas muito. Tanto que não vou 
instantaneamente atirar meu grampeador em cima dele como 
 
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se realmente quero e nem vou gritar “desconhecido perigoso” 
para que alguém possa bater nele por mim. 
Eu supero a estrutura óssea à minha frente. Não dou a 
mínima para os olhos claros, cor de mel, colocados nas 
cavidades abaixo daquelas sobrancelhas grossas e 
escuras. Não sinto nada agradável pelo homem, ali, de repente 
no meu escritório, vestindo jeans e um moletom verde-oliva que 
abraça todas as partes daquele tronco que não perdeu sequer 
um quilo de músculo desde a última vez que o vi. 
Não vou ficar brava. Não vou xingá-lo ou fazer qualquer 
outra coisa estúpida. Vou lidar com isso. 
Prometi a mim mesma que, se esse dia chegasse, faria o 
que fosse necessário. Com alguma honra. Com algum orgulho. 
Mas isso não significa que tenho que ser legal. 
E é porque não sinto mais nada por essa pessoa específica 
— porque odiar suas entranhas realmente não conta — que 
nem sequer levanto as sobrancelhas diante de seu 
aparecimento aleatório depois de dezessete meses, mesmo que 
parte do meu cérebro tenha se assustado com o fato de Peter 
literalmente ter falado comigo sobre ele ontem. Ontem. No 
mesmo dia em que eu havia acabado de ler sobre ele não 
assinar seu contrato. 
Ele está aqui, entre todos os lugares de Houston, quando 
me disse antes que só tinha estado nos Estados Unidos apenas 
duas vezes e as duas, por causa do trabalho. 
Deus, eu não posso acreditar que esse filho da puta 
realmente tem coragem de estar aqui. 
Respiro fundo pelo nariz e expiro de novo. Dezessete 
meses. Faz dezessete meses desde a última vez que o vi, lembro 
a mim mesma. 
Eu dou conta disso. 
 
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“Jonah.” Deixo aquela sensação de que não dou a mínima 
para você fluir sobre meus braços e subir para minha 
garganta, tornando mais fácil dizer seu nome. Olhar para ele. 
Não há nada que ele possa fazer que eu não seja capaz de 
combater. Não há nada que possa dizer que possa me 
machucar. Eu me preparei para isso. Eu me avisei que isso 
poderia acontecer... um dia, talvez daqui a dez anos, quando, 
tinha esperanças, eu estivesse gostosa como o inferno e 
vivendo o melhor da minha vida, para que pudesse esfregar na 
cara dele que estava melhor do que nunca. Que não tinha 
perdido ou precisado de sua bunda por um só segundo. 
O imbecil com aqueles olhos cor de mel tem a coragem de 
ficar parado ali, me observando, com todos aqueles músculos e 
aquele rosto, aquele moletom verde e aquele jeans e aquele 
cabelo bem cortado e o queixo suavemente barbeado, e de 
dizer, todo macio e quase tímido, e usando aquela possa de 
sotaque que foi a segunda coisa a chamar minha atenção: “Oi, 
Lenny.” 
Oi Lenny. 
Ele disse oi, Lenny para mim. 
Depois de toda essa porra de tempo e ele está jogando um 
“Oi, Lenny”, como se tivéssemos nos visto há uma semana no 
supermercado? 
Eu possofazer isso, repito para mim mesma. 
Se pudesse alcançar minha bola de estresse, faria isso, 
mas como não posso, pelo menos não sem ele perceber, e não 
vou dar a ele o presente de me ver apertando uma bolinha para 
não perder a cabeça em sua presença. 
Isso não é sobre mim. 
Idiota. Bundão do caralho. 
Eu nem desvio o olhar porque foda-se. Esse é 
o meu lugar, e não fiz nada errado. Ele mentiu quando me 
 
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beijou dezessete meses atrás e prometeu me ver depois da 
partida. 
“O que diabos você está fazendo aqui?” Pergunto antes 
que seja capaz de me impedir. 
O imbecil está lá, os dedos ao seu lado se mexendo, 
remexendo enquanto ele me observa. Um momento se passa, 
depois outro com a gente apenas olhando um para o outro. Por 
que diabos ele finalmente está aqui? Porque agora? 
Espero por uma resposta, mas não recebo nada. Como 
sempre. Por que esperaria algo diferente? 
Ok. Ele não quer responder minha pergunta? Não quer 
assumir suas ações? Bem. Isso é com ele. Eu não vou mais 
assumir a liderança. Prometi a mim mesma que não faria. Eu 
também posso me fazer de boba o dia inteiro, se é isso que ele 
quer. 
“Se você está procurando por Peter, ele está no prédio ao 
lado”, digo a ele, mantendo os dedos dobrados e engolindo cada 
palavrão que conheço. Agindo como se não fosse grande coisa, 
ele está aqui. Não é grande coisa que ele tenha ligado 
para Peter. 
Porra, eu realmente gostaria de ter minha bola de estresse 
na mão. 
A testa do filho da puta franze; ela tem rugas por causa de 
anos ao sol. Então aquela boca rosada forma uma expressão 
que não é um sorriso ou uma careta, mas algo no meio. As 
próximas palavras que deixam sua boca — na mesma voz baixa 
e suave que lançou algum tipo de magia vodu em mim uma vez 
— tentam ao máximo me conquistar novamente. 
“Eu não vim por causa do Peter”, diz Jonah Collins, 
olhando diretamente para mim com aquele sorriso de careta no 
rosto... como se não pudesse ter certeza de como se sente. Feliz 
ou nervoso. 
 
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É preciso todo meu esforço para não fazer cara feia com a 
besteira dele. 
O que faço, é ficar sentada quieta e observo as duas 
covinhas piscando por uma fração de segundo. Porque é claro 
que tem uma covinha em cada bochecha bronzeada. 
Ele não veio atrás de Peter. 
Sim, certo. Sim, porra, certo. Deus. Tenho que passar por 
isso o mais rápido possível. Agora, agora, agora. 
Não interrompo o contato visual com aquelas íris cor de 
mel enquanto olho para ele. Eu posso jogar este jogo. “Não sei o 
que você sabe sobre Peter”, digo, certificando-me de manter 
minhas feições estudadas, “mas ele não é um personal 
trainer. Se quiser uma visita pela academia, posso pedir que o 
gerente assistente a mostre a você.” Ele sabe o que Peter faz na 
academia. Eu contei a ele. Ele é um filho da puta, mas me 
ouviu. Tenho certeza disso. Não tem como ele ter se confundido 
em sua cabeça. 
Mas Jonah não diz uma palavra enquanto continua 
parado ali, então nem parece que ele está respirando. 
Que idiota. 
Se ele quer falar sobre... outras coisas, é com ele. Eu 
desperdicei meu último telefonema e e-mail com ele oito meses 
atrás. Não estou mais procurando qualquer merda em relação 
a ele. 
“Se você estiver procurando por um treinador, posso 
entrar em contato com alguém que se concentre em atletas 
como você”, digo, ouvindo-me oferecer a ele um personal 
trainer e me encolhendo por dentro. Mesmo? É isso que estou 
fazendo? Eu sou melhor que isso. Posso ficar na frente 
dele. Posso falar com ele. Claro, posso fazer isso. Por que 
pensei que não podia? Eu sou capaz de olhar nos olhos dele, 
ouvir sua voz e ignorar aquelas lembranças de um ponto, 
quando eu gostava daquelas duas coisas. Minha boca 
 
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continua. “Ninguém com experiência em rúgbi, provavelmente, 
mas com futebol.” 
Quando o vi pela primeira vez, inicialmente assumi que 
ele era um jogador de futebol americano. Então, realmente 
prestei atenção e notei as diferenças. Para sua altura, seu 
percentual de gordura corporal era baixo demais para 
quaisquer posições que ele pudesse desempenhar desde que 
era muito alto. A couve-flor em suas orelhas — uma 
deformidade, alguns chamam, que deixa a orelha de uma 
pessoa grumosa — é mais comum em boxeadores e pessoas 
que treinam na Casa Mayo do que nos jogadores de futebol 
americano; eles usam capacetes, suas orelhas nunca sofrem 
impactos diretos. Então, ele abriu a boca e confirmou minhas 
suspeitas. 
“Lenny”, Jonah Hema Collins — descobri seu nome 
completo depois que ele desapareceu — diz meu nome da 
mesma maneira que dizia antes: todo suave, quase alegre e 
envolto em seu sotaque da Nova Zelândia. 
Mas não estou apaixonada por isso. Nunca mais. Nah. 
“Tenha piedade”, Jonah continua como se eu não 
estivesse exibindo minha cara de não dou a mínima para 
você. Aquele peito em seu corpo de um metro e noventa e oito 
se expande quando ele inspira e segura. Aqueles olhos claros 
focam em mim, arregalados e nervosos, e se ele fosse outra 
pessoa, eu poderia pensar que há um traço de esperança neles 
também. “Diga-me como você está.” 
Eu posso sentir minhas narinas se dilatando o tempo todo 
que ele fala. Dizer a ele como eu estou depois de tanto 
tempo? Isso é o que ele quer ouvir? 
Preocupada. Irritada. Furiosa. Assustada. Aterrorizada. Te
mperamental. Cansada. Exausta. Brava. Resignada. Ainda 
mais exausta. Determinada. Todas essas coisas em todas as 
combinações. 
 
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A tensão floresce em meus ombros e pescoço, como se 
estivesse dizendo para me recompor antes de fazer algo que me 
arrependeria. 
“Você quer que eu arranje pra você o número de um 
treinador ou não?” Um treinador que facilmente ele poderia ter 
arranjado na França ou Nova Zelândia, ou na África do Sul, em 
qualquer outro país do mundo que não este, pensa meu 
cérebro. Até na porra da Antártica com base em como seu 
telefone e e-mail não funcionam há tanto tempo. 
Ele não é capaz de esconder a maneira como aquelas suas 
mãos grandes, bronzeadas e com cicatrizes se abrem e fecham 
ao seu lado. Mas Jonah Collins deve ter optado por uma 
audição seletiva dada a maneira como abordou minha 
pergunta e fez outra. “Você não pode me dizer como tem 
passado?” 
Ele realmente quer saber? 
Sorrio para ele. 
“Eu estou ótima. É isso que você quer ouvir? Como eu 
estive, não importa, não é?” Até mostro meus dentes para ele 
em meu próximo sorriso. “E preciso voltar ao trabalho. Vou 
anotar aqui os números de telefone de dois treinadores, se é 
por isso que você está aqui” — fazendo Deus sabe o que, do 
outro lado do mundo — “ou se você ainda quiser uma visita, 
posso arranjar alguém para lhe mostrar tudo por aqui.” 
O homem de cabelos castanhos, com os cabelos tão bem 
cortados quanto nos dias anteriores, me observa. O pomo de 
Adão dele balança. Suas narinas queimam com um suspiro. 
E eu não gosto. 
Também não gosto quando um de seus pés, que me 
lembro que são enormes, o aproxima um pouco mais da 
mesa. Em minha direção. Não hesitando exatamente, mas 
cauteloso. 
 
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Ele sabe que uma grande parte de mim — uma parte que 
estou tentando ignorar — de repente quer lhe dar uma surra, e 
é por isso que está tentando ser todo cauteloso e tal? 
“Fale comigo”, insiste, mesmo que eu tenha a sensação de 
que está bem ciente do que eu faria com ele se pudesse. “Você 
está bem?” 
O agora você quer conversar está lá, na minha garganta, 
na minha língua. Bem ali. E não deixo ele se mexer. Eu não 
deixo a frase ir a lugar algum. 
Aqueles olhos dourados cor de mel procuram e se movem 
sobre mim enquanto fico ali sentada, atrás da minha mesa, a 
tensão apertando tudo entre meu queixo e bochechas, e me 
pergunto por apenas um segundoo que ele vê. Se pareço mais 
velha. Mais cansada. Se ele pode ver quanto sono eu perdi 
nesse pedaço gigante do tempo que estivemos... separados. Eu 
me pergunto o que ele pensa sobre o peso que não perdi 
totalmente nos últimos meses, mas ainda estou tentando 
perder. 
Então me lembro de que não ligo para o que ele pensa ou 
o que vê. 
“Eu estou maravilhosa.” Odiando a maneira como as 
pontas dos meus dedos começam a formigar do nada, pego 
uma caneta do copo na mesa e puxo um dos meus blocos de 
notas. Pego o celular e começo a ler os contatos enquanto digo 
sarcasticamente: “Se você não quer um tour e quer continuar 
ignorando o que falo, preciso voltar ao trabalho. Não tenho 
tempo para essa merda, mas aqui estão dois números de 
treinadores, caso precise deles enquanto estiver aqui. Se quiser 
um passeio pela academia, informe Bianca na recepção e ela o 
levará ao gerente. Há uma academia muito boa a cerca de vinte 
minutos também, se esta for muito longe.” 
Maldito palhaço do caralho. 
Rasgo a folha do bloco e estendo para o homem que é 
honestamente tão alto e musculoso quanto minhas memórias 
 
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tentam me lembrar. É seriamente injusto que ele esteja mais 
bonito do que eu lembrava. Sua pele está com um tom mais 
rico por ter ficado exposto ao sol durante a estação, um 
presente de um pai que ele me dissera ser uma mistura de 
samoano, maori e europeu. Sim, herdei meu tamanho dele, ele 
me disse uma vez com um sorriso tímido, como se não tivesse 
culpa por ter aquele tamanho todo e isso o envergonhasse um 
pouco. 
Idiota. 
Jonah Hema Collins não diz nada ou pega o papel, então 
eu o levanto ainda mais alto, sacudindo. Ele quer 
parar? Bem. Eu posso parar. 
Encontro seu olhar com esperançosamente a expressão 
mais vazia que sou capaz de reunir. “Pegue. E só para que você 
saiba, Peter sabe sobre nós.” 
Isso parece senso comum, mas... aqui está o último 
homem que eu poderia esperar que viesse até a academia da 
minha família e perguntar como estou e me olhar como... como 
não sei como. Como se ele realmente quisesse falar 
comigo. Como se realmente se importasse em como estou e 
como havia passado. 
Besteira, besteira, besteira. 
Nós dois sabemos que ele não quer. Suas ações por tanto 
tempo confirmam tudo isso. Eu sei o quão inexistente é meu 
lugar em sua vida. 
E se ele está aqui pela razão que penso que 
está, ele precisa dar o próximo passo adiante. Ele só precisa 
saber desde já, que seja lá o que estiver planejando, eu não 
estou sozinha. Eu não estou mais a milhares de quilômetros de 
casa. 
“Eu não disse nada a ninguém. Como lhe contei na última 
vez em que lhe enviei um e-mail, não preciso nem quero nada 
de você. Não sei por que está aqui, mas não precisa fingir 
 
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nada.” Eu quase mordo meu lábio, mas por pouco consigo 
evitar. “Nós não precisamos fingir nada. Mas este lugar é 
minha família — minha casa — e se você bancar o idiota, não 
vai acabar bem, certo?” 
É na segunda frase que ele se encolhe. E uma grande, 
bem grande carranca surge no rosto bonito que não posso 
ignorar tanto quanto gostaria. Ele foi tão fodidamente bonito 
para mim uma vez, mesmo que fosse mais parecido com um 
vilão do que com um herói, esse homem que pode andar sobre 
outros homens como se fossem pinos de boliche, o que seria a 
última coisa que esperaria dele, com sua voz suave, aqueles 
olhos que acreditei — erroneamente — que eram gentis, 
aquelas sardas sobre o nariz e aquelas malditas covinhas. 
Mas ele não é mais, no entanto. Bonito, quero dizer. Ele é 
apenas um lembrete de que as aparências são apenas 
superficiais. 
Pessoas bonitas são boas. E não fazem o tipo de coisa que 
ele fez. Não aparecem para esfregar sal em uma ferida 
cicatrizada, na esperança de reabri-la. 
Porque isso é o que causa a presença dele aqui, 
independentemente de quais sejam suas razões. 
Besteira. É tudo pura besteira. 
As narinas naquele nariz quase perfeito alargaram-se, e 
aqueles vales minúsculos e finos na sua testa se formam ao 
mesmo tempo em que o cenho se franze. “Você acha que eu 
seria idiota com você?” Ele pergunta naquela voz maldita que 
uma vez me fez acreditar que seria incapaz de fazer algo 
errado. 
Ele realmente não quer que eu responda isso. 
O homem que uma vez me fez sorrir e rir não diz 
nada. Aquele peito largo sobe e desce sob o moletom, e as 
linhas na sua testa ficam ainda mais profundas. Sua 
mandíbula se move de um lado para o outro. Por um momento, 
 
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eu o vejo lutar com alguma coisa, e então ele se eleva ainda 
mais, como se fosse de alguma maneira possível. 
“Lenny... eu nunca quis machucá-la”, Jonah “Pedaço de 
merda” Collins afirma, com tanto cuidado, que eu poderia 
pensar que está sendo sincero se não tivesse experiência. “Você 
tem que acreditar em mim.” 
Eu não posso mais evitar. Levanto as sobrancelhas. O 
descaramento daquele idiota. 
Só dou uma rápida olhada no porta-retratos na minha 
mesa novamente para me ajudar a recuar, engolir as palavras 
feias e a súbita vontade de jogar a tela do computador nele 
como se fosse uma estrela ninja. Minha mão quer subir até 
minha pálpebra e segurá-la para evitar que se contorça, mas 
mantenho aquela otária abaixada. Fechando o punho, olho 
para ele, apertando os olhos enquanto faço isso. 
“Como esperava não me machucar? Quando não atendeu 
ao telefone nenhuma vez depois que te liguei várias vezes? Ou 
quando você não respondeu a nenhum dos e-mails que 
enviei? Porque houve muitos deles.” 
Eu posso ver os tendões em seu pescoço flexionarem 
enquanto ele fica ali, olhando para mim com aquela careta / 
carranca / sorriso, e tenho certeza que está pensando em 
qualquer desculpa que inventou em sua cabeça para justificar 
o que fez. Mas eu só o deixo pronunciar uma única frase. “Eu 
posso explicar.” 
O sorriso que lhe dou não parece tão frágil quanto 
imaginei que deveria. E quando estico a mão em direção ao 
meu mouse para me preparar para voltar ao trabalho, não me 
sinto mal pelo quão fria sei que minha expressão — toda a 
minha linguagem corporal — é em relação a ele. Ele 
merece. Merece isso e muito mais, e não tem ideia de quão 
sortudo é por eu não jogar sua bunda para fora e mandá-lo ir 
se foder até o fim dos tempos. Ele tem tanta sorte que já o 
superei; ele e sua merda, e sou bem mais madura do que 
antes. 
 
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“Eu não me importo mais, Jonah. Decida o que quer e me 
avise. Eu não me importo de um jeito ou de outro. Isso é tudo o 
que importa para mim, e podemos partir daí”, digo a ele com 
cuidado, com tanto cuidado da porra, que vou me 
cumprimentar mentalmente por ser tão boa em lançar em sua 
direção um último sorriso falso e depois focar de volta na tela 
do meu computador, ignorando-o ali no meu escritório, em 
silêncio. 
Porque foi isso que ele faz. Fica ali, olhando para mim. Se 
ele está se xingando ou não, não faço ideia. Se ele está me 
xingando em sua cabeça, eu também não tenho ideia. Tudo o 
que sei é que ele demora lá, totalmente imóvel, me encarando 
em sua enorme glória imbecil, enquanto eu o ignoro. 
Dois minutos depois — minutos que conto perfeitamente 
na minha cabeça enquanto clico aleatoriamente na tela de 
tempos em tempos para parecer que realmente estou 
trabalhando em vez de tentar ficar calma — ele exala 
profundamente, me olha um pouco mais e antes de se virar e 
anunciar baixinho: “Quero falar com você, Len. Isso é o que eu 
quero.” Ele faz uma pausa, seu olhar pesado. “Eu sinto muito.” 
Ele vai embora então. 
Porque isso é o que ele faz: ir embora. 
Então, e só então pego a bola de estresse da gaveta, 
desejando ter outra para minha mão livre, porque apenas uma 
não é suficiente naquele momento, e aperto a porra dela, 
trocando de mãos quando a primeira começaa ter 
cãibra. Naquele momento, fico muito agradecida por não ter me 
decepcionado com a facilidade com que ele se foi. 
Mas é logo depois que troco de mãos que meu celular toca 
com o toque do vovô Gus. Juro por Deus que ele é um 
bruxo. Só vovô poderia cronometrar isso tão perfeitamente. 
Nós precisaríamos conversar. Muito antes do que eu 
esperava. 
 
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Aperto o botão de resposta e não me incomodo em tentar 
esconder a tensão na minha voz. “Vovô.” 
“Como está minha diabinha favorita?” ele responde como 
sempre faz quando estava de bom humor, e como sempre, isso 
me faz sorrir, mesmo sem estar com vontade. Aperto os olhos 
enquanto faço isso, sentindo um nó inchar na minha garganta 
de repente. 
“Todo mundo está me dando nos nervos hoje”, digo a ele 
honestamente, lutando para expressar essas palavras quando 
uma imagem mental do rosto de Jonah preenche minha cabeça 
com aquelas malditas sardas e careta / carranca / sorriso. 
“Todo mundo está sempre te dando nos nervos”, responde 
ele. “Quer sair daí e almoçar?” 
Nós precisamos conversar. Agora, 
aparentemente. Merda. Sei que deveria ter feito isso meses 
atrás...Até um ano atrás... mas... 
Eu não fiz. Pensei que teria mais tempo. Minha culpa 
novamente. 
“Você está com disposição para ir ao Palácio Pho?” Eu 
pergunto. “Posso encontrá-lo lá em quinze minutos.” 
“Te encontro lá em trinta”, ele concorda um segundo 
antes de desligar, sem esperar que confirme que trinta são ok e 
não se incomodar em dizer tchau. Ele nunca diz. Ele diz que a 
palavra começada com T soa muito definitiva. 
Isso e acho que ele apenas gosta de desligar na cara das 
pessoas. 
Abaixando minha mão sobre a mesa, fecho os olhos por 
mais um momento, empurro a cadeira para trás e me 
levanto. Foda-se. Eu me meti nessa bagunça, e terei que me 
livrar dela. 
 
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CAPÍTULO 4 
“Jonah, é Lenny novamente. Estou preocupada com você. Onde diabos está 
se escondendo?” 
Minha melhor amiga não diz nada por dois minutos 
inteiros. 
Nos primeiros sessenta segundos, ela estreitou os olhos, 
olhou para o teto, fez uma cara pensativa, olhou de volta para 
mim, estreitou os olhos mais um pouco e depois apertou os 
lábios, estreitando tanto os olhos que provavelmente não 
enxergava coisa alguma. 
Na mesma quantidade de tempo, cruzei os braços sobre o 
peito e esperei que fizesse um comentário. 
Ao longo do minuto seguinte, ela tirou seu telefone da 
bolsa, que ficou em cima da minha mesa desde que se sentou 
na cadeira à minha frente, e começou a cutucar a tela. Luna 
não me decepciona quando finalmente afrouxa os lábios, 
recosta-se na cadeira e respira fundo. Os olhos dela se 
arregalam um momento antes que aqueles olhos verdes se 
voltem na minha direção quando nos sentamos no meu 
escritório na manhã seguinte. 
Seu dedo indicador aparece um segundo antes de ela 
mostrar o telefone com a outra mão e apontar a tela para mim. 
“Este é ele?” 
A imagem na tela é de um homem de pele morena com 
shorts até o meio das coxas, uma camiseta verde de mangas 
curtas esticada com tanta força sobre o peito, que você se 
pergunta como diabos ele usa isso, parado em um campo com 
 
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os braços soltos ao lado do corpo. O homem tem bíceps tão 
grandes que parece que alguém enfiou uma bola embaixo de 
sua pele, coxas largas e fortes e alinhadas com músculos que 
se sobrepõe. A expressão ultra séria em seu rosto, as 
sobrancelhas franzidas, a boca ligeiramente entreaberta, me 
irritam profundamente. 
“Sim, esse é Jonah”, confirmo, olhando para o rosto de 
Luna porque não quero olhar para ele mais do que o 
necessário. 
Minha melhor amiga fica boquiaberta, literalmente 
boquiaberta, enquanto olha para a tela. Seu dedo começa a 
cutucar o telefone novamente, e não é preciso ser um gênio 
para adivinhar que ela está percorrendo outras fotos dele. 
Suspiro. “Você está prestes a dizer algo estúpido, não é?” 
A fodida Luna assente antes de fazer outra careta — ainda 
olhando para sua tela — e pergunta, com total descrença: 
“Você dormiu com ele?” 
“Não, nós apenas brincamos de bater palminhas”, 
respondo secamente. 
O telefone dela é baixado e tenho sua atenção total 
novamente. Até os cotovelos vão para suas coxas quando ela se 
inclina para frente e pergunta com muito cuidado “Não, Lenny, 
de verdade. Você. Fez. Sexo. Com. Ele?” 
Eu pisco. Não preciso desse lembrete. “Sim.” 
“Com ele?” 
Cutuco a parte interna da minha bochecha com a ponta 
da língua. “Eu realmente não estou ouvindo seu tom de voz 
agora.” 
A puta olha para a foto de Jonah Collins e balança a 
cabeça novamente como se não pudesse acreditar. “Eu só... 
quero dizer...” Ela está gaguejando. Está literalmente 
gaguejando, e quase reviro os olhos. 
 
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Quero dizer, sim, eu entendo. Jonah é... um filho da puta, 
é claro... um idiota, imbecil, desgraçado... mas ele é 
lindo. Bonito de uma maneira que apenas poucos homens 
podem ser, nada feminino, mas esculpido tão perfeitamente 
desde o cabelo até seu rosto grosseiramente marcante... e 
então há aquele corpo. 
Deus, odeio suas entranhas, não importa o que diga a 
mim mesma sobre não sentir nada. Ódio. O ódio é um 
sentimento. Mas também é um verbo às vezes. 
“Com ele?” Ela pergunta novamente, incrédula. 
“Acho que posso estar começando a ficar um pouco 
ofendida com o quão surpresa você está, Luna”, digo a ela, 
brincando, porque na verdade eu entendo. 
“Eu sempre... você nunca...” Ela continua parando e 
começando com suas palavras enquanto fica mais perturbada. 
“Você nunca disse nada sobre um cara antes, Len. Nem uma 
vez em dez anos. Eu apenas pensei que você fosse... assexuada 
ou algo assim na maior parte do tempo.” Suas bochechas ficam 
rosadas quando sussurra “Eu pensei que você fosse virgem 
até... você sabe.” 
Eu pisco para ela novamente, sabendo que tem razão. 
“Sim, não.” 
Ela ofega. “Você nunca disse nada! Por um tempo pensei 
que tinha alguma coisa acontecendo com aquele cara Noah, 
mas então nada aconteceu, e eu sei que, se realmente gostasse 
dele, aposto que teria aceitado e... você perdeu sua virgindade 
com ele?” 
Meu passado obscuro finalmente está vindo à tona. 
“Tenho trinta e um anos. Não perdi minha virgindade com 
Jonah, Luna. Jesus.” 
“Com quem então?” 
Há uma razão pela qual nunca mencionei isso antes: eu 
simplesmente não via motivo. Por outro lado, Luna me deu 
 
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alguns detalhes íntimos dela e dos caras com quem namorou 
antes... é o mínimo que devo a ela. “Aquele cara de quem eu 
era amiga quando comecei a faculdade. Ele estava em algumas 
das minhas aulas.” Dou de ombros, pensando no cara que eu 
gostava como amigo. 
“Deixe-me ver uma foto dele.” 
Reviro os olhos com um bufo. “Perseguidora, não?” 
“Ele se parece com esse?” Ela pergunta, balançando o 
telefone para mim. 
Eu olho para ela. “Não. E pare de parecer tão 
surpresa. Você pode começar a magoar meus sentimentos.” 
Isso a faz gemer. “Você sabe o que quero dizer!” 
Dou de ombros, sinceramente aliviada por finalmente ter 
contado a história toda. Pelo menos 90% dela. Mesmo que seja 
minha melhor amiga, ela não precisa ouvir as partes 
ruins. Ninguém precisa. Eu sei que há muitas coisas que ela 
não compartilhou comigo ao longo dos anos. Da mesma forma 
que sei que há um punhado de outras coisas que nunca contei 
a ela também. 
“Então ele voltou?” Ela pergunta, voltando a atenção para 
a tela. 
“Sim.” 
Seus olhos verdes se arregalam quando se senta mais 
ereta na cadeira, os olhos voltando para o telefone enquanto 
processa minhas notícias. “O que você vai fazer?” Ela pergunta 
depois de um segundo. 
“Ver o que ele diz”, respondo simplesmente. “Eu realmente 
não tenho outra escolha.” Não é como se pudesse pegá-lo pelos

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