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Programas de qualidade de vida no trabalho SST Fernandes, A.; Programas de qualidade de vida no trabalho / Autor: Aurivar Fernandes Local: Florianópolis, 2019; . nº de p. : 11 páginas Copyright © 2019. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Programas de qualidade de vida no trabalho 3 Apresentação A fim de aprofundarmos as questões a respeito do design dos Programas de Qualidade de Vida no Trabalho, as seguintes perguntas serão de fundamental importância para guiar nosso estudo: Qual o procedimento adotado na escolha de um programa de qualidade de vida? Existem modelos diferenciados? Quais são e quais os seus propósitos/impactos para a organização e colaboradores? Você terá a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos acerca da QVT, suas modelagens e o impacto desses programas na produtividade e bem-estar na organização. Vamos juntos nesta jornada. Bom estudo! O capital humano e a qualidade de vida no trabalho: qual a relação? Como pessoas, temos a necessidade de nos sentirmos valorizados por aqueles com quem mantemos contato, não é verdade? Mais que isso, o reconhecimento faz com que nos sintamos importantes para o outro. No campo organizacional não é diferente. Diante disso, os produtos e serviços, os processos, as marcas, a gestão, a venda e o marketing, como fatores importantes para o sucesso nas organizações são realizados por pessoas. Nesse sentido, o fator humano é essencial para uma organização funcionar e se tornar um diferencial competitivo no mercado econômico/comercial. Segundo Chiavenato (2009) na era industrial o sucesso das organizações era medido pela quantidade acumulada de bens (edifícios e máquinas, por exemplo) representando seu capital financeiro e sucesso – ou mais importante; entretanto, com a era da informação, outros “ativos tangíveis e invisíveis” têm assumido esse papel, tais como: 4 Capital interno: refere-se à estrutura interna, cultura, modelos e sistemas administrativos, informática etc.; Capital externo: relações entre organização e fornecedores, clientes, marcas, patentes etc. Além disso, Chiavenato (2009, p. 38-39) faz referência a um terceiro ativo pelo qual as organizações reconheceram sua importância como um potencial competitivo no mercado: o capital humano; você já ouviu falar? Vamos compreender do que se trata! Segundo Paiva (2001), o conceito de Capital Humano, amplamente conhecido e divulgado no Brasil pelo livro de Theodore Schultz chamado O valor econômico da educação (1962), retorna ao cenário empresarial e econômico nos anos de 1980 resgatando a importância da educação e formação de profissionais; além disso, estabelece o intelecto como o modo mais importante de reconhecimento do trabalho, associado aos aspectos individuais, personalidade e capacidade de articular os conhecimentos adquiridos com o mundo real, na era da informação. Além disso, podemos verificar outro conceito do tema em questão, trazido por Chiavenato que nos esclarece que o capital humano: [...] é o capital de gente, talentos e competências. A competência de uma pessoa envolve a capacidade de agir em diversas situações, tanto para criar ativos tangíveis como intangíveis [...] basicamente constituído de talentos e competência das pessoas (CHIAVENATO, 2010, p. 188). A partir desse conhecimento, perceba que uma organização tem como capitais: sua estrutura, suas relações e o seu pessoal – dotado de conhecimento e competências para produzir, gerar lucro e evoluir no mercado. Desse modo, temos a percepção 5 acerca do valor – pois, não se trata mais de olhar para as pessoas como um recurso, mas como um capital que deve circular e trazer benefícios organizacionais. Ainda assim, Sandroni (1994, p. 41), confirma as definições citadas e conceitua de modo peculiar o termo, afirmando que: [...] capital humano é o conjunto de investimentos destinados à formação educacional e profissional de determinada população. [...] O termo é utilizado também para designar as aptidões e habilidades pessoais que permitem ao indivíduo auferir uma renda. Esse capital deriva de aptidões naturais ou adquiridas no processo de aprendizagem. Nesse sentido, o conceito de capital humano corresponde ao de capacidade de trabalho (SANDRONI, 1994, p. 41). Assim, compreendendo a importância do capital humano, as organizações passaram a buscar alternativas que favorecessem a retenção e o desenvolvimento desses profissionais e que pudessem trazer inovação ao seu negócio, justamente por “[...] habilidade de se reinventar e desenvolver novas formas de desempenhar suas atividades” e, consequentemente, para a própria organização (CARMO; SANTANA; TRIGO, 2015, p. 143). Percebeu a mudança na percepção das organizações para as pessoas? Grande mudança, não é mesmo? Justamente por isso, algumas questões mereceram sérias considerações, por exemplo: de que modo podemos valorizar as pessoas? Como tornar o espaço de trabalho prazeroso e motivador para que o colaborador possa executar suas atividades? Como equilibrar as necessidades das organizações e dos colaboradores, trabalhando com qualidade de vida no ambiente organizacional? Por meio da QVT se pode melhorar as condições de trabalho (incluindo tarefas e espaço físico adequado), ressignificando o trabalho com a finalidade de produzir um ambiente em que seja possível um bom relacionamento entre os colaboradores; dito de outra forma, pode-se adotar os pressupostos da qualidade de vida na organização, entendida como a “[...] percepção de bem-estar, a partir das necessidades individuais, ambiente social e econômico e expectativas de vida” (LIMONGI-FRANÇA, 2011, p. 167). Considerando a valorização do capital humano, percebemos que a QVT busca formas de atender não somente às necessidades do seu cliente externo, mas primordialmente do cliente interno (colaboradores). 6 Com base nessas considerações, algumas questões merecem ser analisadas: quais fatores servem como análise para construção/organização de uma gestão da QVT em uma organização? Quais modelos são construídos a partir desses fatores? A gestão da qualidade de vida no trabalho: fatores e modelos de programas implantados nas organizações Seguindo a linha de pensamento até aqui apresentada, indicamos que o processo de gerir a Qualidade de Vida em uma organização envolve a construção de um projeto institucional que vise o respeito ao seu capital humano e o aumento da produtividade e qualidade como metas a serem alcançadas. Convém, contudo, entendermos o que significa a Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho (GQVT), não é mesmo? Segundo Limongi-França (2011, p. 167): a capacidade de administrar o conjunto das ações, incluindo diagnóstico, implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho alinhada e construída na cultura organizacional, com prioridade absoluta para o bem-estar das pessoas na organização (LIMONGI-FRANÇA, 2011, p. 167). Perceba que a preocupação com o bem-estar das pessoas na organização está ancorada em ações que a potencializem - a GQVT - como prioridade absoluta, justamente pela necessidade e retorno nesse investimento. Assim, para que essas ações aconteçam, alguns fatores são passíveis de discussão na construção de modelos/programas de QVT. Segundo Chiavenato (2010, p. 487-488): a satisfação com o trabalho executado; as possibilidades de futuro na organização; o reconhecimento pelos resultados alcançados; o salário percebido; os benefícios auferidos; o relacionamento humano dentro da equipe e da organização; o ambiente psicológico e físico de trabalho; a liberdade de atuar e responsabilidade de tomar decisões; as possibilidades de estar engajado e de participar ativamente (CHIAVENATO, 2010, p. 487-488). 7 Você deve ter observado que, muito mais do que aspectos diretamente ligados à saúde física, outros pontos foram abordados pelo autor, tais como: salário, carreira, relacionamento e possibilidades de atuação,por exemplo; isso está de acordo com a definição de saúde feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 1946) que em sua carta de constituição no ano de 1946, a define como um completo bem-estar físico, mental e social. Com base nessas considerações, fica claro que o fundamento para a construção de programas de QVT é o bem-estar do colaborador, considerado como “um profundo respeito pelas pessoas”, segundo Chiavenato (2010, p. 487). Desse modo, as atividades realizadas na organização, seu ramo de atividade, as necessidades dos colaboradores, a produtividade e o próprio ambiente de trabalho serão importantes na estruturação e no design de programas de QVT eficazes. Programas e ações: na prática Abordaremos alguns modelos de programas de QVT e os objetivos pelos quais foram criados, pensando na definição de QVT e o bem-estar do trabalhador. Acompanhe cada modelo, de acordo com Chiavenato (2010): Nadler e Lawler (Fatores/Dimensões) O modelo em questão se fundamenta nos seguintes fatores: • Participação dos colaboradores nas decisões. • Reestruturação do trabalho por meio do enriquecimento de tarefas e de gru- pos autônomos de trabalho. • lnovação no sistema de recompensas para influenciar o clima organizacional. • Melhoria no ambiente de trabalho quanto a condições físicas e psicológicas, horário de trabalho etc. Walton (Fatores/Dimensões) Segundo o autor, oito dimensões são importantes nesse modelo para a Qualidade de Vida no Trabalho: 8 Compensação justa e adequada: remuneração recebida com justiça, equilibrando o valor justo pelo trabalho realizado internamente e a remuneração oferecida pelo mercado de trabalho. Condições de segurança e saúde no trabalho: jornada de trabalho e ambiente físico que proporcione bem-estar. Utilização e desenvolvimento de capacidades: possibilidades de utilização das capacidades do colaborador na execução das tarefas, compreender o processo pelo qual realiza seu trabalho, obter autonomia e feedback. Oportunidades de crescimento contínuo e segurança: possibilidades de crescimento e desenvolvimento na carreira, bem como a segurança para continuar no emprego. Integração social na organização: apoio mútuo, eliminação das barreiras presentes nas hierarquias e preconceitos. Constitucionalismo: democracia no ambiente de trabalho, clareza dos direitos e deveres do trabalhador e possibilidade de recorrer das decisões arbitrárias, ou seja, um tratamento imparcial com os colaboradores e a gestão. Trabalho e espaço total de vida: equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, de modo que o primeiro não consuma todo o tempo do colaborador. 9 Relevância social da vida no trabalho: a organização deve ser comprometida com a responsabilidade social, trazendo orgulho ao colaborador em trabalhar nela. Você deve ter percebido que os modelos apresentados se preocuparam com os fatores/dimensões pelos quais a QVT assume um papel de relevância para pensar o bem-estar do colaborador. Com isso, podemos entender que, aspectos como: relações humanas, ambiente físico, responsabilidade social, autonomia, execução das tarefas, feedback etc. afetam psicologicamente e podem ser motivadores para que a produtividade esteja relacionada ao fator humano. Além dos modelos que você acabou de conhecer, somam-se os Programas de Bem- Estar do colaborador, cuja finalidade é prevenir problemas de saúde e reconhecê-lo como um ser que possui necessidades, além do salário, tais como: desenvolvimento intelectual, atividades culturais e físicas etc. Com isso, os impactos desses programas refletem na vida fora do trabalho, melhorando o padrão/comportamentos voltados para a saúde pessoal, como por exemplo: no incentivo à prática de exercícios físicos, escolha por uma alimentação saudável e conhecimento acerca de riscos de saúde referentes à pressão sanguínea, coração, obesidade, estresse etc. (CHIAVENATO, 2010). Podemos apontar outros programas e ações com foco na Qualidade de Vida no Trabalho e os resultados positivos, comumente desenvolvidos nas organizações, além daqueles já apontados. 10 Programas e Ações de QVT PROGRAMAS/AÇÕES RESULTADOS Musicoterapia Aumento da autoestima e desempenho na área profissional, melhoria nas relações interpessoais, auxílio na tolerância ao estresse e a prevenção de doenças. Controle de álcool e drogas Reduz os riscos de acidentes no trabalho, melhora a saúde e autoestima, diminuindo assim o número de faltas. Preparação para a aposentadoria Propicia a motivação e a satisfação profissional, melhoria da autoestima e os relacionamentos interpessoais, descoberta de novas habilidades e aceitação para outro momento de vida. Ginástica Laboral Auxilia na prevenção e reabilitação de doenças ocupacionais, com diminuição de acidentes de trabalho e absenteísmo, além do aumento da produtividade. Terapias Alternativas (Yoga, Meditação) Aumento da tolerância ao estresse, melhora no relacionamento interpessoal, aumento da produtividade. Programas Educacionais (Campanhas, palestras, autoconhecimento, integração e lazer) Diminuem o estresse e auxiliam na compreensão e conscientização sobre as possibilidades de mudanças de atitudes que instiguem à liberdade e responsabilidade pessoal no que tange à saúde, motiva o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Higiene e Segurança no Trabalho Diminui os riscos de acidente de trabalho, faltas e aumenta a produtividade. Avaliação de Desempenho Atua diretamente na satisfação pessoal do trabalhador que, ao ser reconhecido pelo trabalho executado - com um feedback adequado -, objetiva aumentar/melhorar seu desempenho pessoal. Ergonomia (Ambiente físico adequado) Torna o ambiente de trabalho eficiente e proporciona maior conforto, reduzindo acidentes. Fonte: Adaptado de Alves (2011) e Limongi-França (2011). Assim, as organizações podem contribuir de modo significativo no desenvolvimento e implantação de programas de QVT que atendam às necessidades dos colaboradores. Somam-se a isso, programas de prevenção ao HIV/Aids, câncer, riscos e acidentes de trabalho, melhoria da imagem do empregado, cidadania etc. (LIMONGI-FRANÇA, 2011). Podemos compreender que a escolha das ações e programas, como projeto institucional, prevê a retenção, desenvolvimento e possibilidades de melhoria na relação organização-empregador, valorizando seu bem/capital mais precioso: o humano. 11 Fechamento Você aprendeu a respeito do significado do termo capital humano e sua importância para as organizações, da relação entre qualidade de vida e capital humano na consolidação de um projeto de instituição para o bem-estar dos colaboradores, além de o entendimento do capital humano como diferencial competitivo, ao adotar programas de QVT. Conheceu também o conceito de QVT como profundo respeito aos colaboradores e sua relação com a produtividade, o conceito de Gestão de QVT para a administração dessas ações em uma organização, e os principais fatores estudados para criação/ design dos modelos de QVT. Identificou alguns dos principais modelos de QVT no trabalho: Nadler e Lawner, e Walton, os programas e ações comumente implementados nas organizações brasileiras e seu impacto, e a importância do olhar humanizado para a criação dos programas de QVT. Referências ALVES, E. F. Programas e ações em qualidade de vida no trabalho. Revista INTERFACEHS, v. 6, n. 1, abr. 2011. CARMO, D. R. do; SANTANA, L. C. de; TRIGO, A. C. Revista de Iniciação Científica – RIC Cairu, v. 2, n. 2, p. 133-155, jun. 2015. ______. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. ______. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. LIMONGI-FRANÇA, A. C. Práticas de recursos humanos PRH: conceitos, ferramentas e procedimentos. São Paulo: Atlas, 2011. ______. Qualidade de vida no trabalho – QVT: conceitos e práticas nas empresas da sociedade pós-industrial. 2. ed. São Paulo:Atlas, 2012. 12 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Constituição da Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO) – 1946. Disponível em: http://www.direitoshumanos.usp. br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/ constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html. Acesso em: 26 jan. 2020. PAIVA, V. Sobre o conceito de “capital humano”. Cadernos de Pesquisa, n. 113, p. 185-191, jul. 2001. SANDRONI, P. (Org). Novo dicionário de economia. 4. ed. São Paulo: Best Seller, 1994. http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html
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