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COMPOSIÇÃO AULA 1 Profª Eliza Yukiko Sawada Timm CONVERSA INICIAL Nesta aula, conversaremos sobre os elementos básicos da comunicação visual, sobre o alfabetismo visual e os elementos que compõem esta linguagem, e de que forma articular esses elementos para criar composições belas e funcionais. CONTEXTUALIZANDO Embora a maioria das pessoas não perceba, estamos constantemente lendo e fazendo interpretações no mundo em que vivemos, não a leitura que aprendemos na escola quando somos alfabetizados, mas a leitura visual. Isso ocorre quando olhamos o céu antes de sair de casa para saber se vai chover ou fazer sol, quando pegamos o celular e escolhemos o aplicativo pelo ícone presente na tela, e até mesmo quando escolhemos uma roupa para uma ocasião especial (sim, porque nos comunicamos por meio do que vestimos). Essa comunicação não verbal é uma das principais bases das áreas do design, arquitetura e das artes, por isso a importância de se conhecer e dominar esta linguagem. TEMA 1 – FUNDAMENTOS DA LINGUAGEM VISUAL Nós, seres humanos, nos comunicamos de várias formas, que podem ser a escrita (palavra), sonora (sons), olfativa (cheiros), gustativa (sabores), tátil (braile, texturas), audiovisual (fusão de som e imagem), multimídias (fusão de texto, áudio, vídeo etc.) e hipermídias (fusão de sons, imagens, vídeos digitais e internet). No entanto, as linguagens mais utilizadas são a linguagem verbal, que é a palavra, seja ela falada ou escrita, e a linguagem visual, que é tudo que vemos como símbolos, cores, formas etc. Os primeiros contatos que uma criança tem com o mundo ao seu redor se dão por meio da consciência tátil, seguido pelo olfato, a audição e o paladar, que rapidamente são superados pela capacidade de enxergar, perceber o mundo pelas imagens e cores. Esse fato é tão natural que nem nos damos conta da quantidade de informações que armazenamos e absorvemos diariamente. De acordo com Dondis (1997), a evolução da linguagem começou com imagens, avançou rumo aos pictogramas chegando finalmente ao alfabeto. O 3 alfabetismo verbal, isto é, ler e escrever, é aprendido em etapas: primeiro reconhecemos símbolos que representam determinados sons, para posteriormente combinar letras formando palavras, até finalmente combinar palavras e formar textos. Está feita aí a comunicação verbal, que é lógica, precisa e tem regras definidas. Já a linguagem visual não é tão clara quanto a comunicação verbal, mas também pode ser aprendida. Assim como o alfabetismo verbal, o alfabetismo visual também tem elementos básicos como o ponto, a linha, o plano, a cor, o contraste, a harmonia, o equilíbrio, a proporção, entre outros. E com esses elementos é possível realizar a sintaxe visual em conjunto com técnicas manipulativas para a criação de mensagens visuais claras. Como posto anteriormente, a linguagem visual não é tão clara e simples, recebe influência da Gestalt, que estuda a teoria da forma. De acordo com Vaz e Silva (2016), as partes de uma composição visual são interligadas com o todo, assim como o todo depende de cada uma de suas partes. O conhecimento e o entendimento dos elementos da linguagem visual e as técnicas manipulativas são importantes para a criação de composições de qualidade. Conforme Dondis (1997), a comunicação visual casual tem interpretação livre, por exemplo, formas naturais das nuvens, que às vezes formam imagens reconhecíveis. Figura 1 – Comunicação visual casual Crédito: E. O./Shutterstock. 4 Na comunicação visual intencional, a interpretação deve coincidir com a intenção de quem produziu a imagem. Figura 2 – Comunicação visual intencional Crédito: Kemarin Sore/Shutterstock. É importante lembrar que, de acordo com a teoria da comunicação, ela só ocorre se houver a participação de três elementos: emissor, meio e receptor. Figura 3 – Teoria da comunicação Se um dos três componentes da comunicação não existir ou então não houver continuidade, a comunicação não acontece. Uma composição é realizada com a combinação de vários elementos, porém, de acordo com Munari (2001), é necessário separar cada elemento para facilitar o aprendizado. Na linguagem visual, podemos separar basicamente a representação em três modos: o representacional, o abstrato e o simbólico. No modo representacional, a imagem é a mais próxima da real possível, como a pintura realista ou as esculturas gregas. 5 Figura 4 – Pintura renascentista – Menina com cerejas, por Ambrogio de Predis, 1491 Crédito: Everett Art/Shutterstock. O nível representacional é o mais elementar e pode ter algum grau de simplificação ou abstração, desde que seja possível fazer o seu reconhecimento. Figura 5 – Imagem representacional – Steve Jobs Crédito: Nina Design/Shutterstock. 6 No modo abstrato, a mensagem visual é pura. De acordo com Vaz e Silva (2016), sua compreensão está condicionada ao estudo dos elementos que a constituem. Nesse nível, o mais importante não é o tema, mas a mensagem visual pura, ou seja, a composição. O modo abstrato é o mais complexo e difícil de dominar. Figura 6 – Obra abstrata – Violett, por Vasily Kandinsky, 1923 Crédito: Everett Art/Shutterstock. No modo simbólico, a interpretação da imagem irá depender do repertório de cada indivíduo, seus aspectos culturais e históricos, por exemplo, pictogramas e ícones que muitas vezes são assimilados pelo seu uso. Figura 7 – Imagem simbólica – Pictogramas Crédito: Leremy/Shutterstock. 7 Figura 8 – Imagem simbólica – Ícones para celular Crédito: Twin Desgn/Shutterstock. O nível de entendimento e de interpretação de cada imagem sempre está atrelado aos fatores históricos, culturais e ao grau de repertório de cada indivíduo e sociedade. Por exemplo, uma imagem pode ser facilmente interpretada no Ocidente e não fazer sentido algum no Oriente por questões sociais e culturais. TEMA 2 – PONTO Elementos básicos do desenho: ponto, linha, plano e forma. Quando nos comunicamos de forma verbal, utilizamos a palavra e respeitamos certas regras gramaticais. Da mesma forma, a linguagem visual é constituída por uma gramática própria que pode ser lida e analisada. Os elementos básicos da linguagem visual, o ponto, a linha e a forma, são como os elementos da linguagem escrita como as letras que formam as palavras, as frases e os textos. 2.1 Ponto O ponto é a unidade mais simples do desenho. Quando marcamos o papel com um pingo de tinta, a ponta do lápis ou então furamos o papel com a ponta seca do compasso, pensamos nessa marca como um ponto de referência espacial. Qualquer ponto tem grande poder de atração sobre o olhar, seja ele natural ou artificial (Dondis, 1997). 8 De acordo com Vaz e Silva (2016), podemos representar o ponto de várias maneiras. Na geometria, o cruzamento de duas linhas indicam um ponto, assim como quando queremos marcar um lugar no mapa geralmente marcamos o local com um X, e essa marcação pode ser considerada um ponto. Nesses casos, o ponto é apenas conceitual, mas no momento em que se torna visível, passa a ser considerado um forma. Conforme Wong (1998), uma forma é um ponto de acordo com seu tamanho, proporcional ao seu entorno, considerando que a sua pequenez é relativa. Uma forma pode parecer grande quando confinada em um espaço de referência pequeno, porém, a mesma forma pode parecer pequena quando inserida em um espaço de referência maior. Figura 9 – Ponto em dois espaços de tamanhos diferentes Um ponto não necessariamente deve ser de forma circular, já que, de acordo com Wong (1998), o que o define como tal é o seu tamanho relativo. Figura 10 – Formas de representação de um ponto Os pontos, quando em grande número, podem dar a ilusão de forma. Esse fenômeno é amplamenteutilizado na arte aborígene, que valoriza a sensação de luz, forma e movimento. 9 Figuras 11 e 12 – Arte aborígene Crédito: Chameleons Eye/Shutterstock; Przemyslaw Reinfus/Shutterstock. Assim, quanto maior o número de pontos, maior será a percepção de forma ou direção. Figura 13 – Pontos organizados Quando temos três ou quatro pontos próximos, tendemos a vê-los agrupados, criando uma forma pela sensação de fechamento. Figura 14 – Agrupamento dos pontos 10 Dois pontos são ainda utilizados para definir espaços e notações de medidas com instrumentos de medição, amplamente utilizados em desenho técnico, nas engenharias e na arquitetura. É o ponto que define o início e o fim de uma linha. TEMA 3 – LINHA Pontos muito próximos entre si aumentam a sensação de forma e direção, podendo dar origem a outro elemento visual, a linha. Conceitualmente, podemos considerar a linha como o ponto em movimento (Dondis, 1997). Figura 15 – Pontos próximos entre si De acordo com Wong (1998), a linha gráfica apresenta um comprimento e uma espessura que define a sua materialidade, dependendo do material utilizado como o lápis, a caneta, o crayon, o pincel, entre outros, que criam formas distintas de linhas com texturas e espessuras próprias. Além de poderem ser classificadas com base em seus movimentos; retos, curvos, interrompidos etc. (Vaz; Silva, 2016). Figura 16 – Tipos de linhas Em muitos casos, a linha é um elemento invisível, uma abstração, já que a observamos no horizonte, nos objetos, nos animais e até no homem. Assim como a utilizamos como elemento construtivo nos mais variados tipos de desenhos. 11 Figura 17 – Linha abstrata do horizonte e da estrada Crédito: Krivosheev Vitaly/Shutterstock. A linha também tem características expressivas, como no caso das hachuras e em seu próprio traçado que pode lhe conferir sensualidade, agressividade, leveza, movimento, entre outros. A linha não é estática, pode ser fluida e livre, mas também rigorosa e técnica. É o elemento essencial do desenho, e pode assumir as mais diversas formas, das mais delicadas às mais agressivas, e tão pessoal quanto a própria personalidade de cada indivíduo. Figura 18 – Hachuras Crédito: Romanya/Shutterstock. 12 Figura 19 – Linhas sensuais e leves Crédito: R. Wilairat/Shutterstock Figura 20 – Linhas duras e agressivas Crédito: Marinan/Shutterstock. 13 TEMA 4 – FORMA O ponto em movimento dá origem à linha, e a união das linhas horizontais, verticais e diagonais cria as formas básicas, que são o quadrado, o triângulo e o círculo. Figura 21 – Posições básicas da linha A rotação da linha dá origem às formas circulares. Figura 22 – Processo de formação do círculo De acordo com Vaz e Silva (2016), essas três formas, o quadrado, o triângulo e o círculo, seriam os fundamentos de todas as criações da escola alemã, a Bauhaus, berço do design. Kandinsky propôs que essas três formas correspondem à síntese cromática aditiva, na seguinte relação: o triângulo é amarelo, o quadrado é vermelho e o círculo é azul. Figura 23 – Formas básicas 14 Cada forma tem características específicas, tanto formais quanto conceituais. O quadrado tem quatro lados e ângulos iguais e psicologicamente remetem à seriedade, à honestidade, à exatidão e é estático. O triângulo equilátero tem três lados e ângulos iguais e psicologicamente remete à ação, à tensão e ao conflito, podendo ser equilibrado ou desequilibrado, dependendo da posição. A circunferência tem um ponto central e o mesmo raio em toda a sua extensão, e psicologicamente remete à proteção, ao aconchego, ao infinito e está em constante movimento. Figura 24 – Características das formas básicas Da combinação das três formas básicas do desenho, o quadrado, o triângulo equilátero e a circunferência derivam todas as outras formas naturais ou não. Conforme Wong (1998), as formas planas são limitadas por linhas conceituais que definem o seu formato e podem ser classificadas como: • Geométricas: construídas matematicamente; • Orgânicas: limitadas por formas curvas e fluidas; • Retilíneas: limitadas por linhas retas de construção não matemática; • Irregulares: limitadas por linhas retas e curvas de construção não matemática; • Feita à mão: caligráficas ou criadas sem o auxílio de réguas ou compasso; • Acidentais: obtidas por meio de efeitos de processos ou materiais, ou como o próprio nome diz, de forma acidental. 15 Figura 25 – Classificação das formas As formas planas são bidimensionais, isto é, são compostas por duas dimensões, o comprimento e a largura. O mundo bidimensional é essencialmente uma criação humana, a pintura, a fotografia e o desenho são alguns deles. Já o mundo que habitamos é tridimensional, tem comprimento, largura e profundidade física. Para entender um objeto, é necessário examiná-lo de diversos ângulos e recompor as informações em nossa mente para poder compreendê-lo em sua realidade tridimensional (Wong, 1998). Conforme Vaz e Silva (2016), as formas podem ser fechadas ou abertas. As formas fechadas são definidas pelo contorno, e as abertas pela articulação da área interior. Figura 26 – Forma fechada e forma aberta As formas fechadas criam um espaço interior e um exterior, que definem espaços positivos e negativos. A forma interior é chamada de positiva e a forma vazada de negativa. Figura 27 – Forma positiva e negativa 16 Essa relação de forma positiva e negativa é também conhecida como figura e fundo, em que a figura é sempre vista em relação ao que a rodeia. Por exemplo, uma forma preta em um fundo preto não é visível, pois sem contraste a forma desaparece (Lupton; Philips, 2014). Na imagem a seguir, só é possível identificar as formas pelo contraste entre a figura e o seu fundo. Figura 28 – Relação figura e fundo De acordo com Lupton (2014, citado por Vaz; Silva, 2016), a relação de figura e fundo pode ser apresentar três características distintas: a estável, a reversível e a ambígua. • Estável: a relação entre figura e fundo é bem delimitada, pois a figura é identificada de maneira direta; • Reversível: ocorre quando os elementos positivo e negativo atraem a atenção de forma igual. • Ambígua: quando não existe uma relação clara entre positivo e negativo. 17 Figura 29 – Relação figura e fundo estável, reversível e ambígua TEMA 5 – TEXTURA Com frequência, a textura é utilizada para representar as qualidades táteis de uma superfície ou dar a sensação visual de volume e claro e escuro. De acordo com Dondis (1997), onde há uma textura real, as qualidades táteis e óticas coexistem. Um exemplo posto por Vaz e Silva (2016) é o de imaginar passar a mão em um tronco de uma árvore. Para a maioria, esta parecerá áspera, mas se passarmos a mão em um tecido de cetim, este será liso. Essas sensações táteis são denominadas textura, característica do tato. Além da percepção tátil, a textura cria uma percepção visual, ao considerarmos que em nossa memória a árvore é áspera e o cetim é liso. Figura 30 – Tronco de árvore Crédito: AOD Photos/Shutterstock. 18 Figura 31 – Tecido de cetim Crédito: Morozova Oxana/Shutterstock. De acordo com Wong (1998), as texturas visuais são bidimensionais, embora possam passar a sensação tátil, e ele os separa em três tipos de texturas visuais: 5.1 Textura decorativa É um elemento acessório da forma, podendo ser retirado sem comprometer a superfície. Figura 32 – Textura decorativa Crédito: Sveta Aho/Shutterstock. 19 5.2 Textura espontânea Define a própria forma, não podendo ser dissociado do desenho, ou seja, a textura cria a forma. Figura33 – Textura espontânea Crédito: Relax Photography/Shutterstock 5.3 Textura mecânica Não é subordinada à forma e sua classificação se dá pelo processo, que pode ser mecânico, químico ou digital. Figura 34 – Textura mecânica Crédito: Smith002/Shutterstock. 20 Para Dondis (1997), a maior parte de nossa experiência com textura é visual e não tátil. As texturas não só são falsificadas de modo bastante convincente, mas também as suas imagens impressas, fotografadas e filmadas apresentam a aparência convincente de uma textura que ali não se encontra. A textura também é uma forma de sobrevivência: na natureza, animais, répteis, aves, insetos e peixes assumem a textura e as cores do ambiente para caçar e como forma de proteção dos seus predadores. Figura 35 – Camuflagem na natureza Crédito: Davem Hunt Photography/Shutterstock. 21 TROCANDO IDEIAS Agora que você tem a percepção da importância da comunicação visual, que tal trocar ideias com seus colegas e tentar identificar problemas que o design soluciona com a utilização da linguagem visual, seja por meio das formas, linhas, cores e texturas? NA PRÁTICA Para essa atividade, sugerimos que você releia o tema 1 (fundamentos da linguagem visual) e reflita sobre os três tipos de representações visuais: o representacional, o abstrato e o simbólico. A seguir, tente encontrar três exemplos diferentes de cada um deles: • representacional; • abstrato; • simbólico. FINALIZANDO Nesta aula, entramos em contato com a linguagem visual e todo o universo de possibilidades que a acompanha, assim como a necessidade de conhecer cada um dos seus elementos de forma separada, para posteriormente agrupá-las de forma a tirar o máximo de proveito de cada um deles, chegando a nosso objetivo, que é o da criação de composições eficientes e belas. 22 REFERÊNCIAS DONDIS, D A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997. LUPTON, E.; PHILIPS, J. C. Novos fundamentos do design. São Paulo: Cosac Naify, 2014. MUNARI, B. Design e comunicação visual. São Paulo; Martins Fontes, 2001. VAZ, A.; SILVA, R. Fundamentos da linguagem visual. Curitiba: InterSaberes, 2016. WONG, W. Princípios de Forma e Desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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