Prévia do material em texto
Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Toda mulher tem direito ao atendimento na gravidez, no parto e após o parto, e pode contar com cuidados seguros, de qualidade e humanizados na Rede de Atenção Materna e Infantil (Rami), ação de saúde do SUS que fortalece os direitos das mulheres e crianças. O MS elaborou a Caderneta da Gestante para os profissionais de saúde anotarem todos os dados do pré-natal e consultas, exames, vacinas e o que mais for importante para um bom acompanhamento pré-natal. Na Caderneta, a gestante encontra: ❖ Direitos antes e depois do parto. ❖ Cartão de consultas e exames, com espaço para anotar dúvidas. ❖ Dicas para uma gravidez saudável e sinais de alerta. ❖ Informações e orientações sobre a gestação e o desenvolvimento do bebê, alguns cuidados de saúde, o parto e pós-parto. ❖ Informações e orientações sobre amamentação. ❖ Como tirar a Certidão de Nascimento de seu filho. DIREITOS DAS GESTANTES Direitos Trabalhistas -> licença-maternidade. Direitos Sociais -> guichês e caixas especiais/prioridade nas filas para atendimento em instituições públicas e privadas (bancos, supermercados, lojas). Assento prioritário para gestantes e mulheres com crianças de colo em ônibus e metrô. Entrega em adoção -> a Lei nº 12.010/2009 garante à gestante o direito de receber atendimento psicossocial gratuito se desejar, precisar ou decidir entregar a criança em adoção. Deve procurar a Vara da Infância e Juventude da cidade. Estudantes -> a Lei nº 6.202/1975 garante à estudante grávida o direito à licença-maternidade sem prejuízo do período escolar. Direitos nos Serviços de Saúde -> ser atendida com respeito e dignidade pelas equipes de saúde, sem discriminação de cor, raça, orientação sexual, religião, idade ou condição social. Lei do Direito de Acompanhante no Parto Contra a Violência Obstétrica Portadoras do vírus HIV ou HTLV -> não devem amamentar seu bebê e tem o direito de receber leite em pó, gratuitamente, pelo SUS, até o bebê completar 6 meses ou mais. OBJETIVOS DO PRÉ-NATAL O objetivo do acompanhamento pré-natal é assegurar o desenvolvimento da gestação, permitindo o parto de um RN saudável, sem impacto para a saúde materna, inclusive abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventivas. Segundo a OMS, o número ideal de consultas seria igual ou superior a 6. As consultas deverão ser mensais até a 28ª semana, quinzenais entre a 28ª e 36ª e semanais no termo. Segundo a FEBRASGO: ! Não existe alta do pré-natal. Quando o parto não ocorre até a 41ª semana, é necessário encaminhar a gestante para a avaliação do bem-estar fetal, incluindo avaliação do índice do líquido amniótico e monitoramento cardíaco fetal. Logo, são objetivos do pré-natal: ❖ Manter a integridade das condições de saúde materna e fetal. ❖ Identificar e prevenir intercorrências clínicas, cirúrgicas e obstétricas. ❖ Oferecer informações (orientação alimentar, atividade física, hábitos de vida, parto, aleitamento materno). ! A assistência ao pré-natal é o primeiro passo para o parto e nascimento humanizados. DIAGNÓSTICO NA GRAVIDEZ O diagnóstico é feito de forma rápida e simples, desconsiderando o exame físico e a anamnese; no entanto, devido à importância de o diagnóstico ser confirmado por um médico, inicialmente deve ser feito o diagnóstico clínico. Logo, o diagnóstico pode ser realizado por: PROPEDÊUTICA CLÍNICA Sintomas de presunção -> são sintomas que a paciente apresenta e que podem surgir em várias outras situações, sendo pouco específicos para utilizar como diagnóstico de gravidez. ❖ Náuseas e vômitos. ❖ Sialorreia. ❖ Alterações do apetite. ❖ Aversão a certos odores que provocam náuseas e vômitos. ❖ Lipotimia e tonturas. ❖ Polaciúria e nictúria. ❖ Sonolência. ❖ Alterações psíquicas variáveis na dependência de a gestação ser desejada ou não. Sinais de presunção: CADERNETA DA GESTANTE Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Melasma facial (coloração escura dos zigomáticos, fronte e nariz). ❖ Linha nigra (aumento da produção de melanina durante a gestação). ❖ Aumento do volume abdominal. Sintomas e sinais de probabilidade -> são os mais evidentes, no entanto, sem caracterizá-la com certeza. ❖ Atraso menstrual (é o sintoma mais importante). ❖ Aumento do volume uterino. ❖ Alterações da forma em que o útero se torna globoso (sinal de Noblé-Budin). ❖ Diminuição da consistência do istmo (sinal de Hegar). ❖ Diminuição da consistência do colo (sinal de Goodel). ❖ Aumento da vascularização da vagina, do colo e vestíbulo vulvar (sinal de Jacquemier-Kluge). ❖ Aréola mamária secundária (sinal de Hunter). ! Os sinais de probabilidade são mais evidentes a partir de 8 semanas de gestação. Sinais de certeza: ❖ Ausculta fetal -> a presença de batimentos cardíacos fetais no abdome somente está presente na vigência de gestação. ❖ Palpação de partes fetais no abdome materno é também exclusivo de gestação. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL É realizado pela identificação do hCG (hormônio coriogonadotrófico), um indicativo de gravidez. O tipo do exame a ser solicitado dependerá de ser realizado na urina/sangue, assim como do tempo de atraso menstrual. Pregnosticon-Planotest -> é um dos testes mais antigos de gravidez, que representam inibição da aglutinação. A sensibilidade do teste é de 1500 Ul de hCG (15 dias de atraso menstrual). Dosagem urinária da fração beta do hCG -> é outro teste realizado na urina, com sensibilidade de mµ/mL e se torna reagente com atrasos menstruais em torno de 5 dias. Dosagem plasmática da fração beta do hCG -> é realizado no sangue. A sensibilidade do exame é de 5 mµ/mL. Tem a vantagem de ser quantitativo e também útil no diagnóstico de gravidez ectópica e no acompanhamento de doença trofoblásticas gestacional, após esvaziamento uterino. ❖ Pode estar presente antes mesmo do atraso menstrual, porém, é recomendado aguardar o atraso menstrual de 3-5 dias para que sejam detectados valores mais altos que não deixem dúvidas. ULTRASSONOGRAFIA É frequentemente utilizado no diagnóstico de certeza, pois é de simples realização, não deixa dúvidas e fornece várias outras informações sobre a gestação, como: ❖ IG embrionária e/ou fetal. ❖ Identificar se a gestação é única/gemelar. ❖ Identificar se a gestação é tópica/ectópica. ❖ Auscultar batimentos cardíacos embrionários e fetais. Até a 12ª semana de gestação é utilizada a técnica transvaginal, e, a partir dessa IG, a técnica transabdominal. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Os dados clínicos dos exames e resultados laboratoriais devem ser, em cada consulta, cuidadosamente anotados e arquivados em fichas na instituição ou consultório e repassado ao cartão da gestante. APÓS CONFIRMAÇÃO DA GRAVIDEZ Após a confirmação da gravidez, em consulta médica ou de enfermagem, dá-se início do acompanhamento da gestante, com seu cadastramento no SisPreNatal, registrando-se os seguintes aspectos: ❖ Nome, idade e endereço da gestante. ❖ Data da última menstruação (DUM). ❖ IG. ❖ Trimestre da gravidez no momento em que se iniciou o pré- natal (1º trimestre é até 13 semanas, 2º entre 14-27 semanas e 3º trimestre acima de 28 semanas). ❖ Avaliação nutricional -> utiliza-se a curva de peso/IG e/ou medida do perímetro braquial. Deve ser oferecida à gestante as orientações necessárias: ❖ Acompanhamento pré-natal. ❖ Sequência de consultas, visitas domiciliares e reuniões educativas. ❖ Fornecer o cartão da gestante, com identificação preenchida. ❖ Calendário de vacinas e orientações. ❖ Solicitação de exames de rotina. ANAMNESE É de extrema importância rastrear processos patológicos latentes: cardiopatia, endocrinopatias e erros posturais. Sabe-se que a presença do parceiro sexual na primeira consulta trazsignificativo diferencial qualitativo a esse atendimento. Não havendo possibilidade da presença do parceiro, um familiar também ajuda sobremaneira, dando confiança à gestante, a qual se sente amparada no cenário da consulta pré-natal. IDENTIFICAÇÃO Nome -> Deve ser salientada a importância do nome correto da paciente em toda a documentação do prontuário. No entanto, é importante verificar qual é a forma preferencial de identificação da gestante, utilizando-a durante os atendimentos. Idade -> é pesquisada neste item, considerando gestantes de risco gestacional: ❖ <19 anos -> uso de drogas, maiores taxas de processos hipertensivos e prematuridade, bem como menor adesão ao pré-natal. ❖ >35 anos -> aumento do risco de alterações fetais ligadas às alterações genéticas e cromossômicas, além da predisposição à HAS. Raça -> algumas complicações clínicas e gestacionais apresentam maior incidência de acordo com a cor da pele e descendência racial. ❖ Negras -> pré-eclâmpsia e anemia falciforme. ❖ Amarelas -> degeneração trofoblásticas. Atividades laborais -> precisam ser averiguadas, já que, algumas delas são consideradas de risco gestacional e fetal (ex.: manuseio de produtos tóxicos). Situação conjugal -> é importante saber o grau de segurança emocional que o relacionamento proporciona à mulher. Detectar o grau de conforto e segurança da gestante com o relacionamento atual, se há aceitação da gravidez, sustentabilidade financeira do casal e da família. ❖ Neste item, questionar as condições de moradia e o número de dependentes que vivem no mesmo domicílio. Escolaridade -> espera-se maior entendimento das orientações pré-natais entre mulheres com mais anos de escolaridade. O risco de haver dificuldades no entendimento dessas orientações pode ser maior entre aquelas com menor escolaridade. Aspectos religiosos -> alguns líderes religiosos não acreditam em resultados positivos de algumas iniciativas médicas durante o pré- natal, alegando que a fé pode substituir algumas delas. Naturalidade e procedência -> contém informações relevantes principalmente no que se refere às infecções e infestações. ❖ Aqui, deve-se perguntar o eventual tipo de assistência pré- natal recebida até o momento e as intervenções que já foram iniciadas. QUEIXAS ATUAIS OU MOTIVO DA CONSULTA História atual -> perguntar sobre a percepção da paciente a respeito de sua saúde atual, sua certeza de gravidez e buscar eventuais queixas. Havendo queixas, devem ser registradas e pesquisadas ao longo da consulta. ❖ Grande parte das queixas da gestante está ligada às adaptações e modificações do organismo materno por causa da gravidez. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Se houver queixas, é preciso caracterizá-las -> início, tempo de duração, intensidade, ciclicidade e fatores predisponentes. ANTECEDENTES MÓRBIDOS PESSOAIS E HÁBITOS É preciso averiguar condições de nascimento e infância, desenvolvimento puberal, doenças comuns da infância, vacinações, alergias, cirurgias (gerais e pélvicas), transfusões de sangue, anestesias, tratamentos clínicos prévios à gestação e no decorrer da gravidez atual, doenças infectocontagiosas, desvios nutricionais, alergias, reações medicamentosas, uso crônico de medicamentos prescritos e hábitos nocivos à saúde. O início tardio do pré-natal, as dificuldades para adesão ao seguimento e orientações pré-natais, o medo excessivo da gravidez e a insegurança podem indicar transtorno psiquiátrico. Aqui também se devem avaliar o nível de estresse do casal, a aceitação da gravidez e sinais indicativos de depressão. Identificar também o uso de drogas lícitas e ilícitas. ANTECEDENTES DE VIOLÊNCIA Reconhecer marcas de violência em seus mínimos detalhes: ❖ Comportamentais -> o desvio do olhar quando é convidada a falar sobre violência e indecisão para responder às perguntas referentes à violência. ❖ Físicos -> contusões, arranhões, sinais de defesa nos braços, entre outros. ANTECEDENTES GINECOLÓGICOS Averiguar o passado ginecológico da gestante, que dará informações importantes sobre a possibilidade de caracterizar eventuais riscos ao processo gestacional. ❖ Cirurgias prévias no útero -> atentar-se para cirurgias que deixam cicatriz uterina, fragilizando o útero para um novo processo gestacional (leiomioma, cesárea, rafia). ❖ Insuficiência lútea. ❖ Perdas gestacionais prévias. ❖ Insuficiência cervical. ❖ Trabalho de parto pré-termo. ❖ Pré-eclâmpsia. Características do ciclo menstrual -> na dependência dessa informação é possível validar com elevada confiabilidade a DUM como marco balizador no cálculo da IG e DPP. Uso de métodos anticonceptivos e programação da gravidez -> também são importantes, pois podem indicar uma gravidez não programada. Parcerias sexuais -> pode ser um indicativo da necessidade de aprofundar os questionamentos sobre IST’s e os tratamentos realizados. Há necessidade de complementar esse item com a história de tratamento do parceiro sexual. ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS Informações importantes sobre o passado obstétrico: ❖ DUM. ❖ Número de gestações e intervalo entre elas. ❖ Evolução do pré-natal (aborto, DM, parto pré-termo, restrição de crescimento intrauterino ou baixo peso ao nascer, pré- eclâmplsia/eclampsia, anomalias congênitas no RN, óbito fetal ou neonatal). ❖ Via do parto (se cesárea, qual foi a indicação e quanto tempo foi realizada, tempo do trabalho de parto, condições do RN e evolução neonatal). ❖ Aspectos psicológicos e sociais (gravidez programada ou não, medos e tabus). Nos casos de gestação repetida, questionar também sobre a evolução do puerpério, tentando identificar informações sobre depressão puerperal, infecções e a experiência com a amamentação. Considerando a gravidez atual, o interrogatório foca o desenvolvimento até o momento, se existiu alguma anormalidade e se esta já foi corrigida. Complementa-se questionando sobre o uso de medicamentos ou exposição a raios X. CÁLCULO DA IG E DPP Regra de Naegele -> considera que a gravidez tenha duração média de 280 dias, e baseia-se na informação fundamentada da DUM. ❖ IG -> é calculada somando-se o número de dias decorridos entre a DUM e a data na qual se quer avaliar essa idade. Dividindo-se esse número por 7, obtém-se a IG em semanas. ❖ DPP -> soma-se 7 ao dia da DUM e 9 ao número referente ao mês em que ela ocorreu. Quando a DUM ocorre entre abril e dezembro, para o cálculo do mês da data provável do parto, é preciso lembrar que o parto ocorrerá no ano seguinte. Quando a DUM ocorre de janeiro a março, fica mais fácil diminuir em 3 o número correspondente ao mês de sua ocorrência. Exemplos: DUM: 13/09/04 ❖ DPP: 20/06/05 (13 + 7 = 20/9 - 3 = 6) DUM: 10/02/04 ❖ DPP: 17/11/04 (10 + 7 = 17/2 + 9 = 11) DUM: 27/01/04 ❖ DPP: 03/11/04 (27 + 7 = 34/34 - 31 = 03/01 + 9 + 1 = 11) Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ANTECEDENTES FAMILIARES Deve-se tentar identificar se existem familiares hipertensos, diabéticos, com doenças autoimunes, cardiopatas, parentes de 1º grau que apresentaram pré-eclâmpsia/eclampsia, gemelaridade, distócias no parto e doenças infectocontagiosas. ❖ Algumas infecções apresentam claro potencial de transmissão vertical e, nesses casos, a gestante deve ser vista como potencial vítima dessa forma de disseminação da infecção. INFORMAÇÕES SOBRE OS DIVERSOS APARELHOS E SISTEMAS Questiona-se a gestante sobre o funcionamento de diversos aparelhos, relacionando queixas às modificações e adequações fisiológicas à gravidez. ❖ Digestório -> azia, refluxo e obstipação intestinal. ❖ Urinário -> nictúria, polaciúria. ❖ Musculoesquelético -> dor lombar e câimbras. ❖ Neurológicas -> cefaleia e distúrbios do sono. ! Explicar à gestante que essas mudanças são fisiológicas a deixará mais tranquila. Porém, mesmo sendofisiológicas, elas precisam ser dimensionadas quanto à intensidade. Queixas respiratórias e cardíacas -> devem ser registradas e, se possível, avaliadas por um especialista. Queixas obstétricas -> as mais comuns são as perdas vaginais e as cólicas. É importante indagar sobre movimentação fetal. EXAME FÍSICO Na 1ª consulta do pré-natal, o exame físico tem 2 papéis básicos: ❖ Buscar anormalidades não mencionadas durante a anamnese. ❖ Conferir as alterações indicadas no interrogatório. Dividir o exame físico na 1ª consulta pré-natal em geral, especial e gineco-obstétrico deve nortear sua sistematização considerando seus aspectos práticos. Por ser invasivo para algumas mulheres, é prudente explicar os objetivos do exame físico e como serão realizados. Também é adequado contar com a presença de outro profissional de saúde e acompanhante da gestante. EXAME FÍSICO GERAL Avalia-se estado nutricional, peso e altura (IMC). Após o cálculo, o resultado deve ser transcrito para o gráfico na ficha de pré-natal -> esse cálculo é fundamental na 1ª consulta, pois será o valor de referência para os próximos exames de avaliação nutricional. A aferição do pulso, da PA e da presença de edema é item obrigatório nessa fase do exame -> para medir a PA, a paciente deve estar sentada há pelo menos 5min, com o antebraço direito apoiado na altura do precórdio, com o manguito colocado de 3- 5cm acima da prega cubital. ❖ PAS corresponde ao 1º som de Korotkoff e PAD ao 5º som (desaparecimento das bulhas) -> se não houver desaparecimento, deve-se considerar a PAD um abafamento das bulhas ou 4º ruído. ❖ Cifras tensionais iguais ou >140 mmHg na PAS e iguais ou >90 mmHg na PAD exigem confirmação no final da consulta e após 30 minutos de repouso em decúbito lateral esquerdo. Caso se mantenha, afastando-se todas as causas emocionais, confirma-se que a paciente é hipertensa -> gestante de risco acrescido. EXAME FÍSICO ESPECIAL Sistema Tegumentar -> avalia-se a presença de alterações na pele. A maioria das alterações da pele durante a gravidez consiste em modificações funcionais decorrentes do processo gestacional. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Mesmo que essas alterações não ocorram, a gestante deve ser lembrada da possibilidade do surgimento. Em seguida, avalia-se mucosa ocular, presença de varizes nos MMII, ausculta cardíaca e ausculta pulmonar. ! Não pode esquecer da palpação da tireoide e da avaliação do aparelho locomotor, com ênfase em coluna e joelhos. Sistema Digestivo -> a paciente pode deitar-se, procedendo-se a inspeção da cavidade oral e palpação abdominal. ! Exame do ânus para verificar a presença de hemorroidas pode ser realizado no exame físico gineco-obstétrico. EXAME FÍSICO GINECO -OBSTÉTRICO EXAME DAS MAMAS Modificações importantes -> proliferação das glândulas, aumento do volume, edema, vasodilatação (rede venosa de Haller), aumento da pigmentação da aréola primária, aparecimento da aréola secundária e hipertrofia dos tubérculos de Montgomery. ❖ Avaliar se os mamilos estão invertidos ou não, pois vai ditar as orientações sobre cuidados com as mamas e amamentação. Deve-se verificar cicatrizes e fazer associação com as informações da anamnese. O exame das mamas inicia-se com inspeção estática, seguida da inspeção dinâmica. A palpação das glândulas mamárias e do segmento axilar é fundamental. Em seguida, procede-se a expressão mamária. EXAME PÉLVICO Inspeção -> verifica-se detalhes da anatomia genital (malformações, rupturas, cicatrizes), alterações de coloração, lesões vegetantes e ulcerações. Deve ser ampliada, avaliando também o períneo e a região anal. Exame com espéculo vaginal -> permite avaliar as paredes vaginais, características físicas do conteúdo vaginal e o colo uterino, verificando a eventual presença de lesões. Na sequência, orienta-se a coleta de exames, de acordo com os protocolos de cada serviço. Nesse caso, é necessário saber quais exames estão acordados com o gestor local. O único exame laboratorial cérvico-vaginal orientado pelo MS é o colpocitológico (Papanicolaou), para o qual não há restrição de coleta durante a gravidez. EXAME FÍSICO OBSTÉTRICO Faz parte do exame físico obstétrico o exame do abdome -> inspeção, palpação, mensuração da altura uterina e ausculta dos batimentos cardíacos fetais (BCF). Inspeção -> buscam-se alterações de coloração (linha nigrans), de estrias, cicatrizes, tensão (polidrâmnio) e outras alterações. Palpação -> completa-se o exame do aparelho digestivo tentando a palpação do fígado, do baço e de possíveis massas abdominais intestinais. MENSURAÇÃO DA ALTURA UTERINA Visa o acompanhamento do crescimento fetal e a detecção precoce de alterações. Reflete com relativa exatidão o desenvolvimento fetal intraútero após a 16ª-18ª semana. Para sua realização, a gestante deve permanecer em decúbito dorsal, com o útero na linha média e a bexiga vazia. A fita métrica deverá ser estendida do bordo superior da sínfise púbica até o fundo uterino, delimitado pela borda cubital da mão esquerda durante a 1ª manobra de Leopold-Zweifel (sem comprimir o fundo uterino). ❖ Durante esse tempo, é preciso cuidado para definir com exatidão o fundo uterino antes de sua mensuração. ❖ A anotação das medidas da AU em gráfico específico no cartão pré-natal proporciona uma visão do desenvolvimento fetal nas curvas dos percentis 10, 50 e 90. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Quando a data e o período do mês não forem conhecidos, a IG e a DPP serão inicialmente determinadas por aproximação, basicamente, pela medida da altura do fundo do útero e do toque vaginal, além da informação sobre a data de início dos movimentos fetais. Pode-se utilizar a altura uterina + toque vaginal, considerando os seguintes parâmetros: ❖ Até a 6ª semana -> não ocorre alteração do tamanho uterino. ❖ Na 8ª semana -> o útero corresponde ao dobro do tamanho normal. ❖ Na 10ª semana -> o útero corresponde a 3x o tamanho habitual. ❖ Na 12ª semana -> enche a pelve de modo que é palpável na sínfise púbica. ❖ Na 16ª semana -> o fundo uterino encontra-se entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical. ❖ Na 20ª semana -> o fundo do útero encontra-se na altura da cicatriz umbilical. ❖ A partir da 20ª semana -> existe uma relação aproximada entre as semanas da gestação e a medida de AU. Porém, esse parâmetro torna-se menos fiel a partir da 30ª semana. Consideram-se normais variações dos BCF entre 110-160 bpm, os quais não guardam nenhuma sincronia com os batimentos cardíacos maternos -> essas variações podem ser aferidas utilizando o sonar Doppler, que detecta BCF a partir da 12ª semana, exceto em obesas. ❖ Para aferição dos BCF em IG mais precoces, o exame ecográfico é o melhor recurso. Complementa-se o exame físico obstétrico com o toque vaginal (na maioria das vezes, bidigital), combinado com a palpação uterina. No início da gravidez ele permite detectar eventual encurtamento cervical e dilatação não detectada no exame com espéculo vaginal. REGISTRO DOS MOVIMENTOS FETAIS Objetivo -> avaliação clínica do bem-estar fetal na gravidez a partir da 34ª semana gestacional. Métodos: ❖ Método de registro diário de movimentos fetais (RDMF). ❖ Teste do estímulo sonoro simplificado (TESS). AVALIAÇÃO DO RISCO GESTACIONAL Para implementar as atividades do controle pré-natal, é necessário identificar os riscos a que cada gestante está exposta. A avaliação do risco gestacional deve ser feita na 1ª consulta pré-natal e em todos os retornos, na tentativa de detectar precocemente alguma anormalidade clínica ou obstétrica. BAIXO RISCO ❖ <15 anos e >35 anos. ❖ Ocupação -> esforço físico excessivo, carga horária extensa, rotatividade de horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos,estresse. ❖ Situação familiar insegura e não aceitação da gravidez, principalmente se tratando de adolescente. ❖ Situação conjugal insegura. ❖ Baixa escolaridade (<5 anos de estudo regular). ❖ Condições ambientais desfavoráveis. ❖ Altura <1,45m. ❖ IMC que evidencie baixo peso, sobrepeso ou obesidade. FATORES RELACIONADOS À HISTÓRIA REPRODUTIVA ❖ RN com restrição de crescimento, pré-termo ou malformado. ❖ Macrossomia fetal. ❖ Síndromes hemorrágicas/hipertensivas. ❖ Intervalo interpartal <2 anos ou >5 anos. ❖ Nuliparidade e multiparidade (>5). ❖ Cirurgia uterina anterior. ❖ 3 ou mais cesarianas. FATORES RELACIONADOS À GRAVIDEZ ATUAL ❖ Ganho ponderal inadequado. ❖ ITU. ❖ Anemia. VERIFICAÇÃO DA PRESENÇA DE EDEMAS Objetivo: detectar precocemente a ocorrência de edema patológico. Nos MMII: ❖ Posicione a gestante em decúbito dorsal ou sentada, sem meias; pressione a pele na altura do tornozelo (região perimaleolar) e na perna, no nível do terço médio, face anterior (região pré-tibial). ❖ O edema fica evidente mediante presença de depressão duradoura no local pressionado. Na região sacra: ❖ Posicione a gestante em decúbito lateral ou sentada; pressione a pele, por alguns segundos, na região sacra, com o dedo polegar. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA MANOBRAS DE LEOPOLD Consistem em uma das partes mais importantes do exame físico. Possuem objetivo de determinar a posição do feto no abdome gravídico (estática fetal) através da palpação. São divididas em 4 tempos. PRIMEIRO TEMPO Tem objetivo de identificar o polo fetal presente no fundo uterino e assim determinar qual a situação do feto. Para isso, o examinador deve utilizar ambas as mãos encurvadas de forma a comprimir a parede abdominal com as bordas cubitais para delimitar o fundo uterino. Após delimitar o fundo uterino, deve-se determinar qual a parte do feto que está localizada no fundo uterino. Geralmente a parte fetal a ser palpada é o polo pélvico, identificado por ser mais volumoso, esferoide, de superfície irregular e amolecido. Agora, se for palpado o polo cefálico, a sensação é de um corpo de superfície regular, resistente e endurecido. A partir dessa manobra, já dá para prever qual é a apresentação fetal, uma vez que essa é a situação. Assim, se for palpado o polo pélvico, a apresentação é cefálica, assim como, se for palpado o polo cefálico, a apresentação será pélvica. Quanto à situação, o feto pode estar em situação longitudinal (vertical), transversal ou córmica, ou oblíqua, em relação ao eixo materno. SEGUNDO TEMPO Após o 1º tempo, o examinador desliza as mãos para o polo inferior do órgão, regiões laterais no abdome, para tentar identificar o dorso fetal de um lado e as pequenas partes ou membros do outro lado. ❖ O dorso fetal é sentido como uma superfície resistente, lisa, regular e contínua. Essa manobra tem como objetivo determinar a posição fetal e pode até ajudar a identificar o melhor foco de ausculta dos batimentos cardíacos do feto (dorso). TERCEIRO TEMPO Tem como objetivo avaliar a mobilidade do polo fetal inferior em relação ao estreito superior da bacia materna, determinando a apresentação fetal. O examinador precisa apreender o polo entre o polegar e o dedo médio da mão direita, realizando movimentos de lateralidade para indicar o grau de penetração da apresentação na bacia. Quando o polo fetal está alto e móvel durante o exame, o polo balança facilmente de um lado para outro. Agora, se o polo estiver mais insinuado, se encontrará fixo. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA A apresentação fetal pode ser classificada quanto ao polo inferior em cefálica, quando o polo inferior é o polo cefálico, pélvica, quando o polo inferior é o polo pélvico, e córmica, quando o feto encontra-se em situação transversal. QUARTO TEMPO É responsável por determinar a insinuação fetal. É a única manobra realizada com o examinador de costas para a cabeça do paciente. Nesse tempo, o examinador precisa posicionar suas mãos sobre as fossas ilíacas, aprofundando-as na pelve como se estivesse “escavando”, indo em direção ao hipogástrio, à procura do polo fetal inferior. Assim como no 1º tempo, ao achar o polo inferior, é necessário determinar através das características qual é a parte fetal localizada. ❖ O polo cefálico é menor, com uma superfície regular, lisa e endurecida (apresentação cefálica). ❖ O polo pélvico é maior, com uma superfície irregular e amolecida (apresentação pélvica). ❖ Na apresentação córmica, no qual o feto está em situação transversa e, durante o quarto tempo, o polo inferior encontrará vazio. CITOPATOLOGIA ONCÓTICA NAS GESTANTES O exame citopatológico (Papanicolaou) é o exame para diagnóstico e rastreamento de lesões precursoras do câncer do colo do útero. Deve ser realizado 1x/ano e, após 2 exames anuais consecutivos negativos, a cada 3 anos. O início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram atividade sexual, até os 64 anos. O rastreamento em gestantes deve seguir as recomendações de periodicidade e faixa etária como para as demais mulheres, devendo sempre ser considerada uma oportunidade a procura ao serviço de saúde para realização de pré-natal. EXAMES LABORATORIAIS NO PRIMEIRO TRIMESTRE ❖ Hemograma. ❖ Tipagem sanguínea e Fator Rh. ❖ Coombs indireto (se for Rh negativo). ❖ Glicemia em jejum. ❖ Teste rápido de triagem para sífilis e/ou VDRL/RPR. ❖ Teste rápido diagnóstico Anti-HIV. ❖ Toxoplasmose IgM e IgG. ❖ Sorologia para hepatite B (HBsAg). ❖ Urocultura + urina tipo I (sumário de urina/SU/EQU). ❖ US obstétrica. ❖ Citopatológico de colo de útero (quando necessário). ❖ Exame da secreção vaginal (se houver indicação clínica). ❖ Parasitológico de fezes (se houver indicação clínica). Hemograma: ❖ Hb >11G/DL -> ausência de anemia (administrar sulfato ferroso a partir da 20ª semana). ❖ Hb >8 e <11G/DL -> anemia leve/moderada (tratar e repetir Hb e HT após 4 ou 8 semanas – se mantiver/diminuir, referir ao pré-natal de alto risco). ❖ Hb <8G/DL -> anemia grave (referir ao pré-natal de alto risco). Maria Luiza Sena – Med XIV FASA US obstétrica: ❖ 1º trimestre -> determinar a IG, avaliar transluscência bucal, determinar número de fetos. ❖ 2º trimestre -> avaliar morfologia fetal, crescimento fetal e localização placentária. ❖ 3º trimestre -> avaliar crescimento fetal e volume de líquido amniótico, Doppler (se fatores de risco para CIUR, DHEG, DM). Cultura Cervical: Pesquisa para Estreptococcus do grupo B -> toda gestante deve ser submetida ao rastreamento na 35ª-37ª semana. SUPLEMENTAÇÃO Ácido Fólico -> deve ser suplementado desde o período em que se está planejando a gravidez, por volta de 3 ou 4 meses antes, ou com início imediato assim que se descobre a gestação. ❖ Mulheres com epilepsia, em uso de medicação anticonvulsionante, que devem manter o folato por toda a gestação. Ferro -> deve ser suplementado, pois a gravidez, por si só, leva à uma anemia (chamada anemia fisiológica) que pode ser compensada com a reposição do ferro, a partir da 20ª semana até 3 meses pós parto. Cálcio -> deve ser prescrito quando ele é insuficiente na alimentação, condição frequente na alimentação dos brasileiros. é importante prescrever o cálcio como rotina para gestantes adolescentes, grávidas de gêmeos e mulheres com risco para pré- eclâmpsia. ❖ Atenção redobrada, por exemplo, as mulheres portadoras de doenças autoimunes, que frequentemente usam corticosteroides e que devem ter suplementação de cálcio durante toda gestação. ❖ Mulheres com hipertensão arterial crônica também devem repor o cálcio por serem do grupo de risco para desenvolver pré-eclâmpsia. E mulheres com epilepsia, em uso de medicação anticonvulsionante,que devem manter o folato por toda a gestação. ! Atenção maior com as gestantes veganas e com os nutrientes que são encontrados principalmente em alimentos de fonte animal como a vitamina B12, ferro, cálcio, colina, vitamina D e ômega-3. VACINAÇÃO ❖ DTPa. ❖ Hepatite B. ❖ Influenza. ❖ Febre amarela. ❖ Covid. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA RESUMO DA ROTINA PRÉ -NATAL ATÉ 12 SEMANAS ❖ Identificar as gestantes que precisam de cuidados especiais. ❖ Solicitar os exames de rotina. ❖ Dar informações sobre alimentação, prática de atividade física, benefícios do pré-natal e amamentação. ❖ Anamnese e Exame Físico. ❖ Benefícios do ácido fólico. 16 SEMANAS ❖ Avaliar resultados dos exames. ❖ Medidas de AU, PA, BCF, peso e presença de edemas. 20 SEMANAS ❖ Prescrever sulfato ferroso. ❖ Avaliar AU, PA, BCF, peso e presença de edemas. 24 SEMANAS ❖ TTGO. ❖ US morfológica. ❖ Avaliar AU, PA, BCF, e presença de edemas. 28 SEMANAS ❖ Repetir hemograma, urocultura, VDRL e sorologias. 32 SEMANAS ❖ Oferecer o rastreamento do SGB. ❖ Avaliar peso, AU, PA, BCF e presença de edemas. 40 SEMANAS ❖ Verificar a vitalidade fetal. EXAME ESPECULAR Selecione um espéculo de tamanho e formato adequados e umedeça com água morna. Avise a paciente que irá introduzir o espéculo e aplicar pressão para baixo. ! USAR LUVAS Com a outra mão, introduza o espéculo fechado além de seus dedos, com inclinação para baixo. Tome cuidado para não puxar os pelos pubianos e nem beliscar os lábios. O espéculo deve ser introduzido de forma inclinada, para causar menos desconforto para a paciente. Nunca em pé e nem deitado. Também deve estar lubrificado. Depois que introduzir o espéculo, remova seus dedos de sua outra mão do introito, gire o espéculo para uma posição horizontal, mantendo a pressão no sentido posterior, e introduza-o completamente. Não abra prematuramente as lâminas do espéculo. Abra cuidadosamente o espéculo, gire e ajuste para que ele esteja voltado para o colo do útero e possibilite visualização completa. Fixe o espéculo em sua posição aberta, apertando o parafuso. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Observe a coloração do útero, sua posição e as características da superfície e quaisquer ulcerações, nódulos, massas, sangramentos ou secreção. Inspecione o óstio do colo do útero à procura de secreção. COLETA DO PREVENTIVO DE CÂNCER (PAPANICOLAU) Para obter resultados melhores, a paciente não deve estar menstruada. Deve evitar relações sexuais 48h anteriores ao exame. O exame pode ser feito com a ESCOVA CERVICAL. Gire a ponta da escova no óstio do colo do útero, totalmente no sentido horário e, em seguida, coloque a amostra diretamente na lâmina. Também pode ser realizado a partir da RASPAGEM CERVICAL. (Espátula de Ayre). Coloque a extremidade mais longa do raspador no óstio do colo do útero. Pressione, gire e raspe em um círculo completo. Faça um esfregaço dessa amostra na lâmina. Pode ser utilizado também a ESCOVA ENDOCERVICAL. Coloque-a no óstio do colo do útero, gire-a entre seus dedos polegar e indicador em sentido horário e depois anti-horário. Remova a escova e esfregue-a na lâmina de vidro.