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1 O pericárdio é uma fina membrana em forma de saco, que envolve o coração e o separa das outras estruturas anatômicas ao seu redor. Pericardite aguda é nome dado à inflamação do pericárdio, que pode ser provocada por diversas situações, incluindo drogas, traumas, infarto, câncer, insuficiência renal e infecções, principalmente as de origem viral; O sintoma mais comum da pericardite aguda é uma intensa dor no peito, que costuma agravar- se durante a inspiração profunda; Por ser uma inflamação no coração, a dor da pericardite pode ser facilmente confundida com a dor de um infarto do miocárdio, principalmente se ela estiver acometendo um paciente com alto risco cardiovascular. PERICÁRDIO Vários órgãos do nosso corpo são revestidos por finas membranas, ficando “ensacados” e isolados dos órgãos adjacentes. O cérebro é revestido pelas meninges, os pulmões pela pleura e os órgãos intra- abdominais pelo peritônio; O coração, por sua vez, fica “ensacado” dentro do pericárdio, uma membrana fibrosserosa, que serve para isolar o coração e reduzir o atrito com os órgãos ao seu redor; O pericárdio é composto por duas finas camadas, que ficam praticamente grudadas entre si, separadas apenas por uma quantidade mínima de líquido, cerca de 20 ml, que age como uma espécie de lubrificante; Durante os quadros de pericardite, o processo inflamatório pode fazer com que o volume de líquido pericárdico aumente; Até 90 a 120 ml de líquido adicional podem se acumular no pericárdio sem isso causar problemas relevantes ao coração de indivíduos previamente saudáveis; Porém, o acúmulo de volumes maiores pode comprimir o coração, o que reduz a sua capacidade de bombeamento de sangue e provoca uma urgência médica chamada de tamponamento cardíaco. pericardite CARDIOLOGIA o que é? 2 CAUSAS A infecção viral é a causa mais comum de pericardite aguda, sendo responsável por até 10% dos casos. Esta forma de pericardite é geralmente autolimitada, com duração de 1-3 semanas e costuma surgir nas épocas epidemias virais, principalmente aquelas provocadas pela gripe (vírus Influenza), resfriado ou pelo virus coxsackie. A pericardite por infecção viral é precedida por um quadro de virose respiratória ou por uma gastroenterite viral. O paciente melhora da infecção viral, mas dias depois começa a queixar-se de intensa dor no peito. Vários vírus podem provocar pericardite, entre eles: virus coxsackie B, ecovirus, adenovírus, vírus influenza A e B. A pericardite viral pode surgir em crianças, adolescentes, adultos ou idosos. Homens são mais acometidos que as mulheres. Pericardite por causa desconhecida (chamada pericardite idiopática): em muitos casos, a pericardite surge sem motivo aparente e a sua causa acaba não sendo esclarecida, o que não é um problema, pois muitos desses pacientes melhoram apenas com anti-inflamatórios comuns. Acredita-se que muitas dessas pericardites idiopáticas sejam, na verdade, pericardites de origem viral não identificadas. Infecção bacteriana: geralmente surge após quadros de infecção pulmonar ou por endocardite infecciosa. Tuberculose é outra causa possível. Uma infecção bacteriana do pericárdio também pode ocorrer como complicação de uma cirurgia cardíaca. Além das bactérias, fungos também podem ser a causa. Radiação: a maioria desses casos são complicações pelo uso de radioterapia para tratar cânceres no tórax, especialmente câncer de mama, câncer de pulmão ou linfoma. Trauma: os traumas de tórax, sejam por uma batida de carro ou uma lesão perfurante, tipo faca ou projétil de arma de fogo, podem causar traumas para o coração que induzem a ocorrência de uma pericardite. Infarto do miocárdio: um infarto do miocárdio (ataque cardíaco) provoca injúria do músculo cardíaco e, em alguns casos, pode causar uma pericardite. Drogas e toxinas: não é comum, mas eventualmente alguns medicamentos podem causar pericardite, entre eles: hidralazina, isoniazida, procainamida, fenitoína, fenilbutazona, trombolíticos, anticoagulantes e outros. Insuficiência renal: a insuficiência renal crônica em estágios avançados pode causar o acúmulo de toxinas no organismo, provocando irritação do pericárdio. Câncer: a pericardite pode surgir quando algum tumor maligno provoca metástases para o coração. Os casos mais comuns ocorrem no câncer da mama, do pulmão ou no linfoma de Hodgkin. Doenças autoimunes: várias doenças de origem imunológica podem provocar pericardite. Ente elas, lúpus, artrite reumatoide, esclerose sistêmica, doença mista do tecido conjuntivo e vasculites. Doença inflamatória intestinal: a pericardite pode ocorrer em pacientes com retocolite ulcerativa ou doença de Crohn. SINTOMAS O principal sintoma da pericardite aguda é uma intensa dor no peito, que surge repentinamente, acomete toda a região central do tórax, agrava-se durante a inspiração profunda, ao tossir ou ao deitar, mas apresenta algum alívio quando o paciente senta-se e inclina o tronco para frente. A dor costuma ser descrita como uma pontada no peito; alguns dizem que se sentem como se tivessem levado uma facada no coração; Em muitos pacientes, porém, a dor da pericardite pode não ser tão típica e de fácil distinção. Em alguns casos, a dor não é tão aguda, e o paciente queixa-se de uma pressão ou peso no peito com irradiação para ombros, pescoço ou costas. Nessas situações, pode ser difícil a distinção entre pericardite e outras causas 3 de dor no peito, como infarto, embolia pulmonar ou aneurismas da aorta. Nas crianças, a pericardite pode se apresentar como uma dor abdominal em vez de dor no peito; Febre baixa, palpitações, cansaço, mal-estar e tosse também são sintomas comuns, mas geralmente ficam em segundo plano dada a intensidade da dor torácica; Na pericardite de origem tuberculosa, o quadro não é tão agudo, e o paciente costuma ter febre alta, suores noturnos e emagrecimento. COMPLICAÇÕES Na maioria dos casos, principalmente os de origem viral, a pericardite é um evento autolimitado, que responde bem à administração de anti-inflamatórios e cura-se após 1 a 3 semanas. Porém, a pericardite pode desenvolver complicações potencialmente fatais. As duas principais complicações da pericardite são: tamponamento cardíaco e pericardite constrictiva. TAMPONAMENTO CARDÍACO Em alguns casos de pericardite pode haver acúmulo de líquido entre as lâminas do pericárdio. Em cerca de 5% dos casos, esse acúmulo é tão grande, que o excesso de líquido comprime as câmaras cardíacas, impedindo o coração de se encher e bombear o sangue adequadamente. O tamponamento cardíaco é uma emergência médica, pois o paciente pode entrar em choque circulatório por falência da bomba cardíaca. PERICARDITE CONSTRICTIVA Apesar de incomum, algumas pessoas com pericardite, particularmente aquelas com inflamação longa e com recorrências frequentes, podem desenvolver cicatrizes e um permanente espessamento do pericárdio. Nesses pacientes, o pericárdio perde sua elasticidade, torna-se rígido e passa a comprimir o coração, dificultando o adequado bombeamento do sangue; A pericardite constritiva costuma causar cansaço, falta de ar e inchaços nas pernas e no abdômen. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da pericardite pode ser feito clinicamente através da história clínica e do exame físico. Ao auscultar o coração com um estetoscópio, o médico pode notar que há um barulho de fricção durante os batimentos cardíacos, chamado de atrito pericárdico. Esse sinal ocorre pelo atrito entre as duas camadas inflamadas do pericárdio. Não é difícil pensar em pericardite quando um paciente jovem e sem fatores de risco para doenças cardiovasculareschega ao serviço de emergência com uma dor torácica típica de pericardite e apresenta atrito pericárdico à auscultação cardíaca; Porém, mesmo em casos teoricamente fáceis como o descrito acima, é preciso a realização de exames complementares para se confirmar o diagnóstico. TRATAMENTO Na maioria dos pacientes com pericardite aguda provocada por vírus ou sem causa esclarecida, o tratamento pode ser feito com repouso e aspirina ou algum anti-inflamatório comum. Se a dor não melhorar dentro de uma semana, o quadro precisa ser reavaliado.