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PARTO E PUERPÉRIO SOI IV | APG 18 - SISTEMA REPRODUTOR OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1. Conhecer o mecanismo do trabalho de parto, com ênfase na dinâmica fetal e uterina; 2. Compreender a assistência e fases clínicas do porto; 3. Entender o puerpério. MECANISMOS DO TRABALHO DE PARTO TERMOS > Atitude: Atitude consiste na relação das diversas partes fetais entre si. Assim, a atitude fetal depende da disposição dos membros e da coluna vertebral. Na maioria das vezes, o feto apresenta atitude de flexão generalizada durante toda a gestação e o parto. A coluna vertebral se curva ligeiramente, produzindo uma concavidade voltada para a face anterior do concepto, enquanto os membros se apresentam flexionados e anteriorizados > Situação: A situação consiste na relação entre o maior eixo da cavidade uterina e o maior eixo fetal. Essa relação dá origem a três possibilidades de situação fetal: longitudinal, transversa e oblíqua > Apresentação: A apresentação é definida como a região fetal que ocupa a área do estreito superior e nela se vai insinuar. Para que exista apresentação, é necessário que o volume da região fetal seja capaz de encontrar obstáculo na sua passagem pelo canal pelvigenital; portanto, não existe apresentação antes do sexto mês ou quando a parte fetal é um membro, visto que os respectivos diâmetros são muito inferiores aos da bacia • Quando a situação fetal é longitudinal, há duas possibilidades de apresentação: cefálica ou pélvica, dependendo do pólo fetal que ocupa a região inferior do útero. • Nas situações transversas, por sua vez, duas outras possibilidades ocorrem, nas quais se distinguem as apresentações córmicas ( ou de ombro), em que o dorso fetal se apresenta anterior ou posteriormente (Figura 2), ou as apresentações dorsais superior e inferior, em que o dorso fetal se apresenta superior ou inferiormente ( nestes casos, o plano coronal fetal é perpendicular ao plano coronal matemo), extremamente mais raras FASES DO PARTO 1. Insinuação 2. Descida 3. Rotação Interna 4. Desprendimento cefálico 5. Rotação externa 6. Desprendimento do ovóide córmico Os fetos podem se apresentar em várias posições diferentes, mas como a mais presente é a cefálica (96,5%), vamos detalhar as fases do parto dessa posição. E apesar de várias etapas acontecerem simultaneamente ou muito rapidamente, elas são separadas para fins didáticos. 1. INSINUAÇÃO: Insinuação é definida como a passagem do maior diâmetro da parte apresentada, perpendicular à linha de orientação fetal, pelo estreito superior da bacia materna. Na maioria das mulheres, quando a parte fetal apresentada está insinuada, significa que o ponto de referência ósseo fetal está no nível das espinhas isquiáticas maternas (plano O de De Lee ou terceiro plano de Hodge) ou muito próximo dele. Exceção é feita para os casos em que a gestante apresenta pelve muito profunda ou muito rasa. A ocorrência de insinuação indica que o estreito superior é adequado para a passagem do feto, mas não permite inferir as características dos estreitos médio e inferior. 2 Flexão: O mecanismo de flexão cefálica é resultante da pressão axial do feto. A articulação da cabeça com a coluna vertebral representa uma alavanca de braços desiguais: de um lado, o occipício (braço menor); do outro, a fronte (braço maior). Pressionado o fulcro dessa alavanca, pela contração uterina de cima para baixo, e havendo uma contrapressão representada pela resistência da parede pélvica ou do assoalho pélvico, ocorre a flexão (teoria de Zweifel). Assinclitismo: Considerando que a articulação entre a cabeça e a coluna vertebral do feto é bastante móvel, o polo cefálico assume não só movimentos de flexão anteroposterior como também movimentos de flexão lateral. Durante o processo de insinuação, um dos ossos parietais atravessará o estreito superior da pelve antes do outro, aproximando a sutura sagital de um dos ossos do eixo anteroposterior da bacia materna (púbis ou sacro). Cavalgamento dos ossos: Além de flexão e assinclitismo, outro processo que contribui para o mecanismo de insinuação é o cavalgamento dos ossos do crânio fetal, fenômeno que reduz as dimensões do polo cefálico, posto que o maciço frontal e o occipital se locam por baixo dos parietais. Do mesmo modo, a borda interna de um dos parietais se sobrepõe à outra. O cavalgamento é mais acentuado nas cabeças com menor grau de ossificação e maior grau de deflexão, com exceção das de apresentações de face. Devido à grande capacidade plástica da cabeça fetal, esse mecanismo torna possível como que bipartir o polo cefálico em duas metades para, então, imprimi-las em direção ao canal de parto teoria de Sellheim). 2. DESCIDA: A descida ou progressão, também considerada segundo tempo do mecanismo de parto, é o momento definido pela passagem do polo cefálico ( ou da apresentação fetal em geral) do estreito superior para o estreito inferior da pelve materna. A definição e o estudo desse momento do parto têm meramente fins didáticos, já que sempre ocorre de forma sincrônica com o primeiro tempo, o terceiro tempo ou ambos. Por essa razão, é de suma importância ter em mente que, enquanto a descida está ocorrendo, a insinuação pode não ter ocorrido ainda e a rotação interna está acontecendo concomitantemente. Como esse movimento é harmônico e complexo, acredita-se que a divisão desse tempo facilita o entendimento. 3 Na prática clínica, usa-se o esquema de De Lee, com os planos ditos em centímetros, a partir das espinhas isquiáticas: • Móvel: > -3 cm • Ajustada ou fixada: -3, -2 ou -1 cm • Insinuada: O cm. • Fortemente insinuada: +1, +2 ou +3 cm • Baixa: +4 ou +5 cm (já aflorando na vulva). Contribuem para a descida um ou mais dos seguintes elementos: contração uterina, contração dos músculos abdominais, pressão do líquido amniótico e extensão do ovóide fetal, que se transforma em cilindro. 3. ROTAÇÃO INTERNA: O objetivo da rotação interna é coincidir o diâmetro anteroposterior do polo cefálico com o maior diâmetro da bacia materna. Os diâmetros com maiores proporções variam, dependendo do estreito em que se encontra a cabeça fetal. Assim, o estreito superior apresenta maior dimensão no sentido transverso; no estreito médio, o sentido anteroposterior é maior ou eles têm iguais proporções; e no inferior, o anteroposterior é maior. Durante a descida do feto, ocorre movimento de rotação para locar o polo cefálico sob o púbis. Descreve-se assim um movimento de espira. A linha de orientação (sutura sagital) fica orientada na direção do maior diâmetro do estreito inferior anteroposterior) ao terminar a descida. A rotação normalmente traz o ponto de referência fetal para a frente, junto ao púbis, o que é denominado rotação anterior (ou púbica). Quando, excepcionalmente, o feto roda para trás, diz-se que ocorreu rotação posterior ( ou sacra). O grau de rotação varia conforme a variedade de posição. Nas apresentações cefálicas fletidas, o occipício é o ponto de referência que irá percorrer a distância de um arco de circunferência, necessária para sua locação no subpúbis. OEA: occipício esquerdo anterior ODA: occipício direito anterior OEP: occipício esquerdo posterior ODP: occipício direito posterior OET: occipício esquerdo transverso ODT: occipício direito transverso A rotação interna é essencial para que ocorra ultimação do parto, exceto quando o feto é muito pequeno. Em aproximadamente dois terços das mulheres, a rotação interna completa-se no tempo que a cabeça chega ao assoalho pélvico e, em aproximadamente um quarto, é completada pouco depois, podendo não ocorrer em 5% das vezes. Os principais fatores que impedem que essa rotação ocorra são contrações de baixa intensidade, ausência de flexão cefálica e fetos grandes. A analgesia peridural pode predispor às rotações incompletas, por diminuir a força da musculatura abdominal e relaxar a musculatura pélvica. 4. DESPRENDIMENTO CEFÁLICO: O desprendimento cefálico ocorre com a descida final da cabeça fetal em posição occipitopúbica, até que seja possível a locação do suboccipíciono subpúbis materno. Como o polo cefálico está em flexão, é necessário que ocorra movimento de deflexão ou extensão da cabeça para ocorrer exteriorização do maciço frontal. Dessa forma, o diâmetro suboccipitobregmático (9,5 cm) ocupa o diâmetro anteroposterior do estreito inferior e a fronte do feto rechaça o cóccix, aumentando esse diâmetro de 9 para 11 cm, o que se denomina retropulsão coccígea. Por meio de duas forças antagônicas ( contração uterina e resistência perineal ), o feto é impulsionado para baixo e para fora do canal de parto. Ao vencer tal resistência, a cabeça fetal desfere movimento abrupto de extensão, externando os diâmetros anteroposteriores do polo cefálico na sequência: suboccipitobregmático (9,5 cm), suboccipitofrontal (10,5 cm) e suboccipitomentoniano (9,5 cm). Ocorre, portanto, a exteriorização do bregma, da fronte, do nariz e do mento do feto, sucessivamente. Quando a posição não é occipitopúbica: Nas rotações posteriores, em que o occipício se alinha com o sacro materno, a extensão a ser vencida pelo occipício é a parede posterior da pelve, que mede 10 a 15 cm, muito 4 maior quando comparada à parede anterior (púbis), que mede 4 a 5 cm. Além disso, o diâmetro cefálico que solicita e comprime a fenda vulvar é o suboccipito-frontal, que mede 10,5 cm. Por esse motivo, o desprendimento cefálico em posição occipitossacra é lento, por vezes necessitando de auxílio instrumental com fórcipe. Nesses casos, a flexão cefálica acentua-se para que haja desprendimento do occipício com posterior deflexão do polo cefálico na direção do dorso matemo, o que resulta no desprendimento do maciço frontofacial. 5. ROTAÇÃO EXTERNA: A rotação externa da cabeça fetal, também denominada movimento de restituição, leva o occipício a voltar-se para o lado materno que ocupava no interior do canal de parto. A sutura sagital apresenta-se em sentido transversal ao da fenda vulvar ao fim desse tempo. Nessa ocasião, as espáduas, que se insinuaram no diâmetro oblíquo oposto ao da cabeça fetal, rodam, trazendo o diâmetro biacromial para o diâmetro anteroposterior do estreito inferior. Esse movimento que ocorre com os ombros se deve, aparentemente, aos mesmos fatores que determinam a rotação interna da cabeça. 6. DESPRENDIMENTO DO OVÓIDE CÓRMICO: O desprendimento do ovóide córmico caracteriza-se pela exteriorização das cinturas escapular e pélvica do feto. São mecanismos associados porque um se segue ao outro, diferentemente de quando se considera o polo cefálico em relação às espáduas, em que o mecanismo é bem dissociado por ser a região cervical do feto dotada de grande flexibilidade Após a rotação das espáduas, o ombro anterior fixa-se no subpúbis, apresentando a inserção braquial do deltóide como ponto de apoio, e desprende-se por movimento de abaixamento. Desprende-se então o ombro posterior por movimento de elevação e, em seguida, completa-se a expulsão da cintura escapular (Figura 19). Posteriormente ao desprendimento dos ombros, o resto do ovóide é prontamente expelido, não apresentando maior resistência. Pode-se auxiliá-lo, se necessário, com inflexão lateral (em sentido ventral) e abaixamento e elevação dos quadris anterior e posterior. Anormalidades de rotação e flexão do polo cefálico resultarão em apresentações cefálicas posteriores e defletidas, respectivamente. ASSISTÊNCIA AO PARTO ASSISTÊNCIA PRÉ-PARTO Envolve orientações no pré-natal e possui o objetivo de fazer com que a mulher tenha conhecimento da fisiologia do parto e dos cuidados que o cercam, para que suas escolhas e sua participação no processo sejam conscientes. Algumas intervenções anteparto podem ser: exercício do assoalho pélvico; e massagem perianal. ASSISTÊNCIA AO PRIMEIRO PERÍODO > LOCAL DE PARTO Tradicionalmente, com a hospitalização, a assistência ao parto era prestada – e ainda é assim em muitos serviços no Brasil e no mundo – nas salas de parto, unidades montadas com todo o aparato médico-hospitalar à vista, tendo ao centro a mesa com estribos em que se deitava a parturiente na posição de talha litotômica (assim denominada no passado por ser a usada para extração dos cálculos de bexiga). Essas salas de parto convencionais em muito se assemelham à lógica do quarto de hospital e seu uso a parturientes saudáveis foi questionado, como tantas outras práticas, rotinas e procedimentos. Antes de passar à sala de parto, já em período expulsivo, o que pode resultar bastante incômodo, as parturientes costumam aguardar em repouso em leitos comuns no centro obstétrico ou no setor de pré-parto, onde não há privacidade e, dada a frequente superlotação, há muitas outras mulheres no mesmo ambiente. Unidades conhecidas como labor-delivery-recovery room (LDR) ou, no Brasil, suítes pré-parto, parto e pós-parto (PPP) foram propostas como alternativa para assistência ao parto. A ideia é oferecer privacidade, conforto e liberdade para deambulação, de modo que possam ser assumidas as posições consideradas confortáveis pela parturiente, além de que todo o parto, 1° e 2° estágios, e o pós-parto possam transcorrer no mesmo ambiente, sem necessidade de transferência. Banheiro privativo é obrigatório. A cama deve possibilitar o parto em várias posições, sendo opcionais banqueta ou cadeira de parto. > PROFISSIONAL QUE PRESTA ASSISTÊNCIA AO PARTO É recomendação da OMS que a assistência ao parto seja realizada por profissional qualificado. 5 O parto é um evento integrativo: equipe transdisciplinar (médicos, enfermeiras-obstetras e obstetrizes) trabalhando harmoniosamente para garantir o completo bem-estar da mãe e do bebê. Acolhimento e classificação de risco são fundamentais durante a gravidez e na assistência ao parto. Parturientes de baixo risco (ou risco habitual) podem ser atendidas por enfermeiras-obstetras ou obstetrize e as de alto risco devem ser atendidas por médicos obstetras, capazes de intervir também no tratamento das distocias e sempre que houver indicação de procedimentos cirúrgicos (tomotocia) em um trabalho de parto previamente não complicado. Somente médicos devidamente treinados podem realizar cesarianas e parto instrumental (fórceps ou vácuo- extração). > ADMISSÃO Evitar internações precoces, que costumam acarretar intervenções desnecessárias em série (excesso de exames de toque, uso de ocitocina, maior necessidade de analgesia e cesariana (cascata de intervenções). > CUIDADOS INICIAIS Parturientes saudáveis de baixo risco ou risco habitual podem ficar com suas vestimentas, não devem submeter-se a jejum, tricoxisma, tricotomia nem enteróclise (enema). > ALIMENTAÇÃO Em muitas maternidades, ainda vigora a regra de não se permitir a ingesta oral durante o trabalho de parto, o que é reforçado por alguns serviços de anestesiologia. Essa conduta, entretanto, não é mais Justificada. > APOIO CONTÍNUO Suporte emocional (presença contínua, encorajamento, elogios); medidas de conforto físico (toque, massagem, banho morno); medidas favorecendo a evolução fisiológica do trabalho de parto (livre deambulação, mudança de posição, exercícios); informações sobre o progresso do parto; interlocução com a equipe obstétrica para facilitar a comunicação da mulher e ajudá-la a expressar suas preferências e escolhas, até mesmo em situações em que seja necessário atendimento de urgência. > POSIÇÃO E DEAMBULAÇÃO Mulheres devem ser encorajadas a escolher as posições em que se sintam mais confortáveis durante o trabalho de parto, com liberdade de escolha e de deambulação. > TOQUE VAGINAL Pode ser uni ou bidigital. Cuidados de antissepsia e estar com as mãos corretamente enluvadas. De início, afastam-se as ninfas e introduzem-se na vagina os dedos indicador e médio, ou apenas o primeiro, untados com vaselina esterilizada ou clorexidina aquosa. FASES CLÍNICAS DO PARTO O parto é caracterizado por contrações das fibras miometriais, cujas principais funções são a dilatação cervical e a expulsão do feto através do canal de parto. Essas contrações são dolorosas, porém, antes do seu início, o útero sofre modificações fisiológicase bioquímicas locais concomitantes ao aumento da frequência de contrações indolores (contrações de Braxton Hicks), até que o verdadeiro trabalho de parto seja deflagrado. O processo fisiológico que regula tais modificações não possui um marco bem definido como as fases clínicas do parto, contudo, pode ser dividido em quatro etapas: - Quiescência - fase 1; - Ativação - fase 2; - Estimulação - fase 3 (dilatação, expulsão e dequitação); - Involução - fase 4 (puerpério). A quiescência (fase 1) é caracterizada por relativa ausência de resposta a agentes que determinam a contratilidade uterina. Ela se inicia com a implantação do zigoto e perdura por quase toda a gestação. Apesar de algumas poucas contrações serem observadas nesse período, elas não modificam a estrutura cervical nem causam dilatação do colo uterino. A ativação (fase 2) prepara o útero e o canal cervical para o trabalho de parto e dura aproximadamente 6 a 8 semanas. Esta preparação determina algumas modificações cervicais e caracteriza-se pela descida do fundo uterino. Esse processo é seguido pela estimulação (fase 3), que pode ser clinicamente dividida em três períodos (dilatação, expulsão e dequitação) e cujo fenômeno mais importante são as contrações uterinas efetivas. Para um adequado trabalho de parto, essas contrações devem apresentar uma frequência regular entre duas e cinco contrações a cada 10 minutos, intensidade de 20 a 60 mmHg (média de 40 mmHg) e duração entre 30 e 90 segundos (média de 60 segundos). 6 A involução (fase 4) destaca-se pelo retorno ao estado pré-gravídico (puerpério). Seu início ocorre após a dequitação e é caracterizado por uma contração persistente que promove a involução uterina. FASE DE DILATAÇÃO A fase de dilatação, ou primeiro período, inicia-se com as primeiras contrações dolorosas, cuja principal ação é a modificação da cérvix. Assim, esse período começa com as primeiras modificações cervicais e termina com a dilatação completa do colo uterino (10 cm), de modo a permitir a passagem fetal. Essas modificações abrangem dois fenômenos distintos: o esvaecimento do colo e a dilatação cervical propriamente dita. O esvaecimento do colo e a dilatação cervical são fenômenos distintos. Nas primíparas, ocorrem nessa ordem, sucessivamente: primeiro o esvaecimento, de cima para baixo, e depois a dilatação do orifício externo; já nas multíparas, são simultâneos (Figura 2). O esvaecimento ou apagamento do canal cervical consiste na incorporação do colo à cavidade uterina, terminando com a formação de um degrau ao centro da abóbada cervical. Esse processo ativo é decorrente de alterações bioquímicas que levam à fragmentação e à redisposição das fibras de colágeno e à alteração na concentração de glicosaminoglicanas. Próximo ao termo, ocorre aumento de infiltrado inflamatório no canal cervical decorrente de mudanças locais que promovem a maturação cervical e da lise de fibras de colágeno. Em modelos animais, a colagenólise está sob a influência de prostaglandinas, principalmente da prostaglandina E2, e de alguns hormônios esteroides placentários. A progesterona inibe a invasão e a ativação de polimorfonucleares no estroma cervical, e essa ação anti-inflamatória pode ter relação com seu efeito inibidor sobre o esvaecimento cervical. Por outro lado, as drogas antiprogesterona, como o RU-486, provocam esvaecimento cervical em qualquer época da gestação. A dilatação do orifício externo do colo tem como principal finalidade ampliar o canal de parto e completar a continuidade entre útero e vagina. A medida que a dilatação cervical progride, surge um espaço entre o polo cefálico e as membranas ovulares (âmnio e cório ), no qual ficará coletado o líquido amniótico (bolsa das águas), cuja função é auxiliar as contrações uterinas no deslocamento do istmo. A bolsa das águas se forma no polo inferior do ovo no decorrer do trabalho de parto, e sua rotura causa a saída parcial do seu conteúdo líquido, ocorrendo, via de regra, no período em que a dilatação cervical é maior que 6 cm . Todavia, essa rotura pode ser precoce ( no início do trabalho de parto). Quando a rotura ocorre contemporânea à expulsão do feto, é denominada nascimento de feto empelicado. Faz-se mister ratificar que a rotura das membranas ovulares antes do trab alh o de parto (RPMO, também chamada amniorrexe prematura) é erroneamente denominada por muitos "bolsa rota", visto que esse termo deve ser utilizado apen as durante o trabalho de p arto, qu an do a "bolsa das águas" se forma. A dilatação cervical é representada por uma cu rva sigmóide dividida em fase latente e fase ativa, sendo esta última composta, segundo Friedman à tado por Deláscio e Guariento, 30 de três subdivisões (Figura 3): • Aceleração: em que a velocidade de dilatação começa a modificar-se e a curva se eleva. • Dilatação ou aceleração máxima: quando a dilatação passa de 2 a 3 cm para 8 a 9 cm . • Desaceleração: que precede a dilatação completa. 7 > Fase latente: apresenta como característica contrações mais eficazes ( em termos de coordenação e intensidade) sem, contudo, determinar modificações significativas n a dilatação cervical. Apesar de ser difícil estabelecer exatamente a duração fisiológica do parto, o tempo é um dos parâmetros mais importantes para identificar alterações na sua evolução. Assim, de forma geral, segundo Friedman, 10 a fase latente normalmente dura 8 horas, porém com variações conforme a paridade e mesmo entre gestantes de mesma paridade. A dilatação nessa fase é em torno de 0,35 cm / h, e sua evolução e duração dependem das modificações que ocorrem nas duas semanas que precedem o parto . 32 Todavia, a fase latente será considerada prolongada quando durar mais que 20 horas em primíparas e mais que 14 em multíparas. > Fase ativa: A fase ativa normalmente se inicia com dilatação cervical de 4 cm e dura em média 6 horas nas primíparas, com velocidade de dilatação de cerca de 1,2 cm/ h, e 3 horas nas multíparas, com velocidade de dilatação de 1,5 cm/h. Diagnóstico do trabalho de parto O diagnóstico de trabalho de parto está condicionado à presença de contrações uterinas com ritmo e características peculiares, combinadas a alterações progressivas no colo uterino ( esvaecimento e dilatação) e à formação da bolsa das águas. Dessa forma, nesse diagnóstico não se deve considerar isoladamente a presença de contrações ou mesmo quantificar a dilatação cervical, mas sim todo o conjunto: a presença de contrações uterinas (pelo menos duas em 10 minutos) associada a dilatação cervical (pelo menos 2 cm), esvaecimento cervical e/ou modificações progressivas no colo uterino. FASE DE EXPULSÃO Na segunda fase do parto, denominada expulsão ou segundo período, o feto é expelido do útero através do canal de parto por meio da ação conjugada das contrações uterinas e das contrações voluntárias dos músculos abdominais (puxos). Nesse período, ocorre a maioria dos fenômenos mecânicos do parto e o canal de parto é completamente formado, ou seja, o segmento inferior do útero, o canal cervical totalmente dilatado e a vagina formam uma única cavidade. Assim, o segundo período tem início com a dilatação completa e se encerra com a saída do feto. Uma vez completada a dilatação, o útero fica imobilizado pela ação de contenção dos ligamentos largo (lateralmente), redondo (superiormente) e uterossacro (posteriormente); e a resultante de força das contrações miometriais converge sobre o orifício interno do colo uterino, contra o qual a apresentação fetal é impelida. [detalhes dos mecanismos do parto no início do resumo] FASE DE DEQUITAÇÃO Nesse período, também chamado secundamento ou dequitadura, o útero expele a placenta e as membranas (após o nascimento do feto). Assim, após o descolamento de seu leito uterino, a placenta desce através do canal de parto e é expelida pela rima vulvar. Seu descolamento ocorre em virtude da diminuição do volume uterino depois da expulsão fetal, associada às contrações uterinas vigorosas e indolores (Figura 6). 8 Há dois tipos clássicos de descolamento,o central (também chamado de descolamento de Baudelocque-Schultze) e o marginal ou periférico (também chamado de descolamento de Baudelocque-Duncan), definidos, respectivamente, quando começam no centro ou lateralmente. Classicamente, no descolamento central, a primeira face placentária visualizada na rima vulvar é a face fetal, e no periférico visualiza-se na rima a face materna. O primeiro é mais frequente e apresenta sangramento após a dequitação, com formação de hematoma retroplacentário. O segundo, menos comum, tem escoamento de sangue antes da total expulsão da placenta. A dequitação ocorre entre 10 minutos e 1 hora após o parto. Fisiologicamente, sabe-se que ela deve ocorrer dentro de 20 a, no máximo, 30 minutos. Porém, em 80% dos partos a dequitação se dá nos primeiros 10 minutos. Primeira hora pós-parto: Também indevidamente denominada quarto período de Greenberg, a primeira hora após o parto inicia-se imediatamente após a dequitação, sendo, dessa forma, a primeira hora do puerpério e não um verdadeiro quarto período clínico do parto. Nesse período, ocorrem a estabilização dos sinais vitais maternos e a hemostasia uterina. Essa primeira hora caracteriza-se pela ocorrência dos fenômenos de miotamponamento, de trombotamponamento, pela indiferença miouterina e pela contração uterina fixa que a segue. A redução do volume uterino causa angulação das artérias uterinas e ovariana, provocando diminuição da perfusão uterina. A contração do útero causa oclusão dos vasos miometriais (miotamponamento) e foi descrita por Pinard como ligaduras vivas, ou globo vivo de Pinard. O trombotamponamento é a segunda linha de defesa contra a hemorragia e tem como característica a formação de trombos nos grandes vasos uteroplacentários, os quais se prolongam pelos coágulos intrauterinas que recobrem o leito placentário. Segundo Greenberg, citado por Rezende, a retirada desses coágulos intrauterinas após o final do parto é um processo não fisiológico e, portanto, deveria ser evitada. A indiferença miouterina é caracterizada por contração e relaxamento das fibras miometriais e ocorre na primeira hora pós-parto. Assim, pode haver enchimento e esvaziamento de sangue no interior do útero, e a hemostasia uterina depende, principalmente, do trombotamponamento nessa fase. Esse estado de indiferença uterina pode ser prolongado nos trabalhos de parto laboriosos, nas grandes multíparas e quando há distensão excessiva do útero, como acontece nas gestações múltiplas ou com fetos macrossômicos ou, ainda, na presença de polidrâmnio. A contração uterina fixa surge com o fim desse período (depois de 1 hora), e o maior tônus uterino mantém a hemostasia pós-parto, auxiliando no retorno do útero ao estado pré-gravídico. PUERPÉRIO Também denominado pós-parto. Ponto de vista fisiológico: processos involutivos e de recuperação do organismo materno após a gestação. Muitos estudos assumem como pós-parto os 12 meses que sucedem o parto. O puerpério é o período que se inicia após o parto e se estende até a completa involução uterina, que ocorre em cerca de seis semanas após o parto. Durante esse período, ocorre uma série de mecanismos fisiológicos e psicológicos no corpo da mulher para retornar ao seu estado pré-gravídico. O puerpério pode ser didaticamente dividido em: - Pós-parto imediato, do 1° ao 10° dia; - Pós-parto tardio, do 10° ao 45° dia; - Pós-parto remoto, além do 45° dia. Entre as principais alterações fisiológicas do puerpério, destacam-se a involução uterina, que consiste na regressão do útero ao seu tamanho normal; a eliminação dos resíduos placentários e sanguíneos, que ocorre por meio da descamação do endométrio e da eliminação de secreções vaginais; a reabsorção do edema e diminuição da diurese; e diminuição da produção de hormônios reprodutivos, como estrogênio e progesterona. A involução uterina é um processo gradual que ocorre por meio da contração do miométrio, que leva à redução do tamanho do útero. Durante o puerpério imediato, o útero se encontra na altura do umbigo e, ao final da sexta semana, retorna ao seu tamanho normal, que é de cerca de 50 gramas. 9 Outra importante alteração no puerpério é a produção de leite materno. O hormônio prolactina é responsável por estimular a produção de leite pelas células alveolares da mama. A sucção do bebê no mamilo é o principal estímulo para a liberação da prolactina. A amamentação deve ser incentivada e orientada desde o puerpério imediato, pois é fundamental para a saúde do bebê e da mãe. Em relação às alterações psicológicas, o puerpério pode ser um período de grande vulnerabilidade emocional para a mulher. É comum a ocorrência de sentimentos como tristeza, irritabilidade, ansiedade e medo, que podem ser decorrentes de alterações hormonais, fadiga e das mudanças no papel da mulher na família e na sociedade. É importante que a mulher receba apoio e orientação para lidar com esses sentimentos e com as novas demandas do pós-parto. Durante o puerpério, são realizadas consultas de acompanhamento para avaliar a saúde da mãe e do bebê, orientar sobre amamentação e cuidados com o recém-nascido, além de monitorar a involução uterina e a eliminação dos resíduos placentários. É fundamental que a mulher tenha acesso a um acompanhamento adequado durante todo o puerpério, para garantir a saúde e o bem-estar dela e do seu filho. ORGANIZANDO CONCEITOS FASES CLÍNICAS Quiescência Ativação Estimulação Involução •Dilatação •Expulsão > Insinuação > Descida > Rotação Interna > Desprendi- mento cefálico > Rotação externa > Desprendi- mento do ovóide córmico •Dequitação
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