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Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais Apresentação O mundo está vivendo uma verdadeira revolução digital. A tecnologia está em tudo. Inclusive, segundo o fundador da Microsoft, Bill Gates, “em alguns anos vão existir dois tipos de empresas: as que fazem negócios pela Internet e as que estão fora dos negócios”. Analogicamente, o mesmo pensamento se aplica ao Poder Judiciário, de forma que se tornou um dever aplicar novas tecnologias ao Direito, para que a Justiça não se torne obsoleta. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai conhecer as novas tecnologias aplicadas ao Direito, o uso da inteligência artificial e os Provimentos n.o 50/15 e n.o 74/18, do CNJ. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a aplicação entre o Direito e as novas tecnologias.• Analisar o uso da inteligência artificial pelo Poder Judiciário.• Explicar os Provimentos no 50/2015 e n.o 74/2018 do CNJ.• Desafio Sabe-se que o Provimento n.o 74 de 2018 do CNJ trouxe orientações e requisitos às serventias notariais e registrais acerca da segurança da informação. Um dos requisitos exigidos pela norma é que as serventias deverão ter, por exemplo, um plano de continuidade de negócios que preveja ocorrências nocivas ao regular funcionamento dos serviços. Considerando isso, Jane, tabeliã de notas de uma serventia do interior de São Paulo, pretendendo se adequar às exigências do referido Provimento, procura você, que já adequou sua serventia, para orientá-la a respeito dos pré-requisitos que deverá adotar em seu espaço físico para adequá-lo conforme o Provimento n.o 74. Jane lhe informa que sua serventia tem média de arrecadação de R$ 450.000,00 (quatrocentos e cinquenta mil reais) por semestre. Quais são os pré-requisitos que devem ser adotados por Jane? Liste pelo menos cinco deles. Qual profissional você aconselharia Jane a procurar para auxiliá-la no cumprimento desses pré- requisitos? Infográfico O Provimento n.o 50/2015 veio para concretizar a substituição do papel por meio da tecnologia, considerando as necessidades impostas pela economia de tempo, esforços e custos. O Provimento n.o 50 é aplicado às serventias extrajudiciais de todo o Brasil e permite que estas, de acordo com a temporalidade, eliminem determinados documentos de seus arquivos. Conheça, no Infográfico, mais detalhes sobre o referido Provimento: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Conteúdo do livro Com a informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais, os procedimentos tornam- se mais céleres e menos dispendiosos. Processo eletrônico, inteligência artificial, tabela de temporalidade, segurança da informação, entre outras, são expressões que recentemente passaram a fazer parte do dia a dia do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais. No capítulo Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais, da obra Tecnologia da Informação no Poder Judiciário e na atividade extrajudicial cartorária, você vai aprender como esses setores têm feito o uso da tecnologia. Boa leitura. TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO NO PODER JUDICIÁRIO E NA ATIVIDADE EXTRAJUDICIAL CARTORÁRIA Fernanda Ribeiro Souto Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a aproximação entre o Direito e as novas tecnologias. Analisar o uso da inteligência artificial pelo Poder Judiciário. Explicar os Provimentos do Conselho Nacional de Justiça nº. 50/2015 e nº. 74/2018. Introdução A tecnologia se iniciou a partir da ideia de programar uma máquina no século XVIII na tentativa de se criar um tear mecânico, com uma leitora automática de cartões, que permitisse uso de diversas cores. A partir de então, a tecnologia evoluiu de forma nunca imaginada. Todos os setores da sociedade, vivenciando essa verdadeira revolução digital, tiveram que se adaptar ao meio digital. O Poder Judiciário, por sua vez, não poderia ficar de fora, até mesmo porque, aquele que não se adaptar, estará na contramão do futuro. Neste capítulo, você vai ler sobre a aproximação do Direito e as novas tecnologias, o uso da inteligência artificial (IA) no Poder Judiciário e, ainda, os Provimentos nº. 50/2015 e nº. 74/2018 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Direito e as novas tecnologias O Direito sempre foi remetido ao clássico e tradicional; em contrapartida, a tecnologia é inovadora; quebra barreiras e alavanca o futuro. Nós, de maneira geral, já estamos nos acostumando com a tecnologia e temos consciência de que ela mudará, de forma drástica, nossas vidas. Estamos passando por uma verdadeira revolução digital, que trouxe inúme- ras mudanças para a vida da sociedade, quanto à computação e comunicação, a partir do século XX. Vivemos a era da internet das coisas (IoT), realidade aumentada, blockchain e IA, por exemplo, de forma que a sociedade se tornou dependente da tecnologia. Claro está que, com toda essa mudança, ficar de fora dessa revolução pode trazer enorme prejuízo, inclusive ao Direito. Segundo Fontainha (2007, documento on-line): Entender a relação do homem com a tecnologia e as novas mídias que se difundem em profusão nos dias de hoje requer um profundo diálogo com as ciências sociais. Nosso problema ainda mais se torna obscuro quando reinscrevemos nosso objeto em torno da invasão tecnológica na atividade judiciária no Brasil contemporâneo. Foi com estupefação que a nossa geração assistiu ao advento da telefonia celular, da rede global de computadores, enfim. Serão também canhestros nossos relatos aos do porvir acerca de uma justiça cartorial, escritural, estatal e altamente burocratizada. Uma pilha fétida de papéis, pedidos formulados em celulose e tinta e monumentais palácios onde se monopolizam as atividades da justiça profissional estão com os seus dias contados. A informatização dos tribunais brasileiros é uma realidade; uma realidade sobre a qual se deve debruçar e compreender a exata profundidade das transformações que propõe, extraindo dela uma inteligibilidade. Assim, o Direito tem buscado se inovar, embora a passos ainda lentos, acompanhando as mais surpreendentes mudanças trazidas pela tecnologia. Um dos grandes exemplos quanto à tecnologia aplicada ao Direito tem sido o processo eletrônico. Processo eletrônico Recentemente, a era de processos físicos foi encerrada. Por meio da Lei nº. 11.419, de 19 de dezembro de 2006, agora é possível consultar, peticionar e acessar processos de qualquer lugar do país ou do mundo. Conforme o art. 10 da referida lei, por exemplo, a distribuição da petição inicial e a juntada da Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais2 contestação, dos recursos e das petições em geral, todos em formato digital, poderão ser feitas diretamente pelos advogados públicos e privados, sem necessidade da intervenção do cartório ou secretaria judicial, fornecendo-se recibo eletrônico de protocolo (BRASIL, 2006). Além disso, os atos processuais a serem realizados por meio de petição eletrônica poderão ser realizados em até 24 horas do último dia do prazo, sendo que, se o sistema ficar indisponível por motivo técnico, o prazo fica automaticamente prorrogado para o primeiro dia útil seguinte à resolução do problema. Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrônicos — com garantia da origem e do seu signatário, na forma estabe- lecida nesta lei — serão considerados originais para todos os efeitos legais. Ainda, os sistemas de informações pertinentes a processos eletrônicos devem possibilitar que advogados, procuradores e membros do Ministério Público cadastrados, mas não vinculados a processo previamente identificado, acessem automaticamente todos os atos e documentos processuais armazena- dos em meio eletrônico,desde que demonstrado interesse para fins apenas de registro, salvo nos casos de processos em segredo de justiça. Assim, o processo eletrônico — como meio de aproximação do Direito à tecnologia — trouxe celeridade e conforto a inúmeros procedimentos ante- riormente realizados de forma física, que dependiam de papéis, carimbos e manuseio de grandes processos. Atos processuais Além do processo eletrônico, os atos processuais também passaram a ser efetuados eletronicamente com a publicação da Lei nº. 11.419/2006. Conforme previsto no art. 4º do diploma legal, os tribunais poderão criar um Diário da Justiça eletrônico, disponibilizado em sítio da rede mundial de computadores, para publicação de atos judiciais e administrativos próprios e dos órgãos a eles subordinados, bem como comunicações em geral, que deverão ser assinados digitalmente com base em certifi cado emitido por autoridade certifi cadora credenciada na forma da lei específi ca (BRASIL, 2006). Além disso, a publicação nesses termos substitui qualquer outro meio, à ex- ceção dos casos que, por lei, exigem intimação ou vista pessoal, considerando- -se como data da publicação o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação no Diário da Justiça eletrônico. 3Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais Sistemas Bacenjud, Infojud e Renajud As seguintes tecnologias também são exemplos do Direito aliado à tecno- logia, de forma que, conveniados ao Poder Judiciário, auxiliam na busca de informações bancárias, propriedade de veículos e/ou informações na Receita Federal sobre determinada pessoa: Bacenjud (Sistema de Comunicação do Poder Judiciário e Instituições Financeiras); Renajud (Restrições Judiciais de Veículos Automotores); Infoseg (Rede de Integração Nacional de Informações de Segurança Pública e Justiça); Infojud (Sistema de Informações ao Judiciário). Uso de programas de software e plataformas jurídicas Além do processo eletrônico e dos sistemas Bacenjud, Renajud e Infojud, muitos são os programas de software e as plataformas jurídicas que trazem facilidades para o dia a dia do profi ssional do Direito. São inúmeros os pro- gramas de software de gestão, de estatísticas, banco de dados, resolução de confl itos, entre outros. Para pesquisas de jurisprudência e artigos, por exemplo, além do próprio site dos tribunais estaduais, podemos encontrar a prestação desses serviços em plataforma como o Jusbrasil, que também consegue ligar advogado e cliente. Para a gestão de escritório de advocacia, com controle de prazos, número de clientes, parte financeira e andamentos processuais, temos, por exemplo, os programas de software AdvBox, EasyJur, Legal One, entre outros. Para a resolução de conflitos, surgiram startups, como a Sem Processo, Juster e Mediação On-line. Evolução tecnológica e as novas áreas do Direito Com as inovações tecnológicas, o Direito vem ganhando novas áreas e novas demandas. Hoje, muitos casos sobre Direito Digital têm ganhado força. Quanto ao Direito brasileiro aplicado à internet, por exemplo, surgiram questões como: Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais4 crimes digitais contra a honra; pirataria; difamação, calúnia e injúria; direitos autorais; anúncio incorreto na Web; divulgação de imagens de terceiros; acesso de conteúdo de smartphones. Além disso, há discussões a respeito do Direito Tributário aplicado para e-books e criptomoedas, por exemplo. Ainda, quanto ao Direito Civil, são dis- cutidos outros temas, como responsabilidade civil na internet e herança digital. Inteligência artificial no Poder Judiciário A IA é, para o dicionário Michaelis on-line, um projeto e desenvolvimento de programas de computador que simulam o pensamento humano, capaz de desenvolver um comportamento inteligente. Segundo Luger (2013, p. 21): A inteligência artificial (IA) pode ser definida como ramo da ciência da computação que se ocupa da automação do comportamento inteligente. Essa definição é particularmente apropriada a este livro porque enfatiza nossa convicção de que a IA faz parte da ciência da computação e que, desse modo, deve ser baseada em princípios teóricos e aplicados sólidos nesse campo. Esses princípios incluem as estruturas de dados usadas na representação do conhecimento, os algoritmos necessários para aplicar esse conhecimento e as linguagens e técnicas de programação usadas em sua implementação. A IA foi criada em 1956, com pesquisas e exploração de resolução de problemas e métodos simbólicos. Hoje em dia, popularizou-se em virtude dos algoritmos mais avançados e crescentes armazenamento de dados. De acordo com Costa (1991, documento on-line): A IA tem suas raízes nos ensaios especulativos sobre o poder dos compu- tadores, realizados por Turing, em 1950 (Turing, 1950). Como coloca R.E. Shannon (1985), a IA como é conhecida hoje é resultado de um encontro de dez cientistas, interessados em computação simbólica, realizado em Dartmouth College, New Hampshire, em 1956. Entretanto, somente nos últimos anos a IA tornou-se comercial, atuando em áreas bastante restritas. 5Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais Para o Judiciário, com a mechanical jurisprudence e a jurimetrics, na década de 1960, que se iniciou de fato a informatização do Direito. Apesar disso, apenas em 2016 é que de fato a IA começou a ser efetivamente utilizada no Direito, bem como em outros ramos da economia e sociedade. Com o crescimento de startups, maior capacidade de processamento de dados e custo mais baixo, iniciou-se a criação desse ambiente digital. Fato é que não há mais como discutir a respeito da evolução e existência da IA, ela já se encontra no dia a dia da vida em sociedade e agora também sendo aplicada ao Direito. O Direito, todavia, apenas recentemente iniciou o uso e aplicação da IA. Como exemplo, tem-se o Sistema Victor, projeto desenvolvido em 2018 pelo Supremo Tribunal Federal. Além desse sistema, muitas startups do ramo jurídico (lawtechs) vêm surgindo com ideias inovadoras e utilizando-se de IA. Como exemplos temos algumas startups que oferecem programas de gestão jurídica, com análise de dados, pesquisa avançada de jurisprudência e acompanhamento de processos e automação de agendamentos que reduzem de meses para segundos o tempo de alguns processos. Sistema Victor Falando em IA, temos como exemplo o sistema Victor, que é o software de IA do Supremo Tribunal Federal (STF), que, mesmo em fase inicial, poderá fazer a leitura de todos os recursos extraordinários e identifi car quais estão vinculados a determinados temas de repercussão geral. Além disso, o sistema poderá ter novas funções, que vem sendo discutidas e avaliadas. Conforme descrito no site do próprio STF: O nome do projeto, VICTOR, é uma clara e merecida homenagem a Victor Nunes Leal, ministro do STF de 1960 a 1969, autor da obra Coronelismo, Enxada e Voto e principal responsável pela sistematização da jurisprudência do STF em Súmula, o que facilitou a aplicação dos precedentes judiciais aos recursos, basicamente o que será feito por VICTOR (BRASIL, 2018a, documento on-line). Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais6 Sistema Sócrates O sistema Sócrates, por sua vez, é o software de IA do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ainda em desenvolvimento, que, segundo o próprio órgão, tem como objetivo reduzir em 25% o tempo entre a distribuição e a primeira decisão no recurso especial, tendo em vista que seu objetivo é oferecer ao relator do processo informações mais acessíveis e relevantes. Demais robôs do sistema Judiciário Em alguns tribunais brasileiros, o uso de robôs (IA) já é realidade. Esses robôs, que são em verdade linhas de código e algoritmos, buscam dar celeridade e diminuir a quantidade acumulada de processos no Judiciário, por meio da otimização de tarefas repetitivas, que demandam tempo para serem executadas.Além disso, tem havido aprimoramento de sistemas para acompanha- mento dos processos eletrônicos, uso da IA para gestão de números e atos processuais, o que tem ocorrido também não apenas nos tribunais, mas nas Procuradorias, Ministério Público e outros órgãos. Um exemplo são os casos recentes dos Tribunais de Justiça de Minas Gerais e do Rio Grande do Norte, que começaram a utilizar ferramentas para prestação de um serviço mais ágil e eficiente à sociedade: o sistema Radar e o sistema Poti. Pelo sistema Radar, 280 processos foram julgados em menos de um se- gundo. Os desembargadores já tinham elaborado um voto padrão, a partir de teses fixadas pelo próprio Tribunal, e o sistema separou os recursos que tinham idênticos pedidos. Pelo sistema Poti, os bloqueios, os desbloqueios e as certidões do Bacen- jud são executadas, agilizando solicitação de informações e envio de ordens judiciais ao Sistema Financeiro Nacional, via internet, em segundos. Provimentos do Conselho Nacional de Justiça A seguir, serão detalhados os Provimentos do CNJ nº. 50/2015 e nº. 74/2018. Provimento nº. 50/2015 O Provimento nº. 50/2015, em síntese, dispõe sobre a conservação de docu- mentos pelas serventias notariais e registrais. Pelo referido provimento, as 7Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais seguintes organizações poderão adotar tabela de temporalidade de documentos para observância do prazo mínimo, para o qual devem manter arquivados os documentos físicos (BRASIL, 2015): cartórios de notas; protestos de letras e títulos; registros de imóveis; registros civis de pessoas naturais; registros civis de pessoas jurídicas; registro de títulos e documentos. Segundo o Provimento nº. 50/2015, os documentos descartados devem ser devidamente desfigurados, de modo que não seja possível identificar dados, detalhes e assinaturas constantes nos documentos. Além disso, a eliminação de documentos deve ser comunicada semestralmente ao juízo competente. Provimento nº. 74/2018 O Provimento nº. 74/2018 (BRASIL, 2018b), por sua vez, dispõe sobre padrões mínimos de tecnologia da informação para a segurança, integridade e dispo- nibilidade de dados para a continuidade da atividade pelos serviços notariais e de registro do Brasil. O dispositivo traz requisitos mínimos que envolvem a segurança da informação em serventias notariais e registrais brasileiras. Segundo Lima (2016, p. 73): “De nada adianta formidáveis softwares antivírus instalados e fi rewalls bem confi gurados se aquele que utiliza a rede clica em qualquer aplicativo sugerido ou informa dados sensíveis, sem se certifi car do local onde se encontra”. Hoje, os dados (informações) trazem consigo enorme valor. Há o entendimento de que a monetização dos dados pode eventualmente se tornar tão valiosa para as organizações quanto os seus respectivos produtos e serviços. Logo, considerando a importância das informações no mundo atual, as violações cibernéticas em grande escala estão se tornando extremamente frequentes, resultando em grandes perdas financeiras para várias empresas, razão pela qual se deve buscar protegê-las o máximo possível. Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais8 Nos termos do art. 2º do Provimento nº. 74/2018 (BRASIL, 2018b), os serviços notariais e de registro deverão adotar políticas de segurança de in- formação com relação à confidencialidade, disponibilidade, autenticidade, integridade e a mecanismos preventivos de controle físico e lógico, devendo: ter um plano de continuidade de negócios que preveja ocorrências nocivas ao regular funcionamento dos serviços; atender a normas de interoperabilidade, legibilidade e recuperação a longo prazo na prática dos atos e comunicações eletrônicas. Nas serventias, todos os livros e atos eletrônicos deverão ser arquivados, de forma a garantir a segurança e a integridade de seu conteúdo, devendo ser realizada cópia de segurança (backup), feita em intervalos não superiores a 24 horas, que deve ser realizada tanto em mídia eletrônica de segurança quanto em serviço de cópia de segurança na internet (backup em nuvem), sendo que a mídia eletrônica de segurança deverá ser armazenada em local distinto da instalação da serventia. Além disso, os seguintes usuários devem possuir formas de autenticação por certificação digital própria ou por biometria, além de usuário e senha associados aos perfis pessoais com permissões distintas, de acordo com a função, não sendo permitido o uso de usuários genéricos: titular delegatário ou interino/interventor; escreventes; prepostos; colaboradores do serviço notarial e de registro. Ainda, o sistema informatizado dos serviços notariais e de registro deverá ter trilha de auditoria própria que permita a identificação do responsável pela confecção ou por eventual modificação dos atos, bem como da data e hora de efetivação. Por fim, nos termos do art. 7º do Provimento nº. 74/2018 (BRASIL, 2018b), os serviços notariais e de registro deverão adotar rotina que possibilite a transmissão de todo o acervo eletrônico pertencente à serventia, inclusive banco de dados, sof- twares e atualizações que permitam o pleno uso, além de senhas e dados necessários ao acesso a tais programas, garantindo a continuidade da prestação do serviço de forma adequada e eficiente, sem interrupção, em caso de eventual sucessão. Alguns requisitos tecnológicos mínimos para cartórios são (BRASIL, 2018b): energia estável; rede elétrica devidamente aterrada; 9Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais link de comunicação; endereço eletrônica unidade; local técnico (centro de processamento de dados) isolado dos demais ambientes; local técnico com refrigeração; unidade de alimentação ininterrupta; dispositivo de armazenamento (storage), físico ou virtual; backup em nuvem; servidor com sistema de alta disponibilidade; impressoras e scanners (multifuncionais); switch para a conexão de equipamentos internos; roteador para controlar conexões internas e externas; programas de software licenciados para uso comercial; software antivírus e antissequestro; firewall; proxy; banco de dados; pelo menos dois funcionários do cartório treinados na operação do sistema. Ademais, o Provimento nº. 74/2018 (BRASIL, 2018b) prevê que será criado um Comitê de Gestão da Tecnologia da Informação dos Serviços Extrajudiciais (Cogetise), que deverá atualizar anualmente os padrões mínimos da segurança da informação em cartórios. O Cogetise deve divulgar, estimular, apoiar e detalhar a implementação das diretrizes de segurança da informação previstos no Provimento nº. 74/2018 e fixar prazos para tanto. Além disso, será formado por: Corregedoria Nacional de Justiça, na condição de presidente; Corregedorias de Justiça dos Estados e do Distrito Federal; Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg/BR); Colégio Notarial do Brasil — Conselho Federal (CNB/CF); Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil (Arpen/BR); Instituto de Registro Imobiliário do Brasil (Irib/BR); Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil (IEPTB/BR); Instituto de Registro de Títulos e Documentos e de Pessoas Jurídicas do Brasil (IRTDPJ/BR). Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais10 O Provimento nº. 74/2018 (BRASIL, 2018b) do CNJ trará inúmeros be- nefícios à segurança das serventias extrajudiciais. Essas serventias já são conhecidas pela sua confiabilidade e segurança, mas deverão se adaptar para oferecer um serviço de melhor qualidade ao usuário, protegendo-se de ataques cibernéticos, perda de dados, vírus e outros riscos mais presentes no atual mundo virtual. O descumprimento das disposições do presente provimento pelos serviços notariais e de registro ensejará a instauração de procedimento administrativo disciplinar, sem prejuízode responsabilização cível e criminal. Para saber mais sobre a suspensão, por meio do CNJ, dos efeitos do Provimento nº. 74/2018 pelo prazo de 90 dias, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/a6g1K BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Provimento nº. 50, de 28 de setembro de 2015. Dispõe sobre a conservação de documentos nos cartórios extrajudiciais. Diário Ofi- cial da União, 2015. Disponível em: http://cnj.jus.br/files/atos_administrativos/provi- mento-n50-28-09-2015-corregedoria.pdf. Acesso em: 16 set. 2019. BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Provimento nº. 74, de 31 de julho de 2018. Dispõe sobre padrões mínimos de tecnologia da informação para a segurança, integridade e disponibilidade de dados para a continuidade da atividade pelos serviços notariais e de registro do Brasil e dá outras providências. Diário Oficial da União, 2018b. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3517. Acesso em: 16 set. 2019. BRASIL. Lei nº. 11.419, de 19 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização do processo judicial; altera a Lei nº. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 — Código de Processo Civil; e dá outras providências. Diário Oficial da União, 20 dez. 2006. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11419.htm. Acesso em: 16 set. 2019. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Inteligência artificial vai agilizar a tramitação de processos no STF. Notícias STF, 2018a. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/ verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=380038. Acesso em: 16 set. 2019. 11Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais COSTA, M. A. B. Uma abordagem sobre inteligência artificial e simulação, com uma aplicação na pecuária de corte nacional. Produção, v. 2, n. 1, p. 51-59, 1991. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/prod/v2n1/v2n1a04.pdf. Acesso em: 16 set. 2019. FONTAINHA, F. C. Informatização da vida e do direito no Brasil. Revista Direito GV, v. 3, n. 1, p. 57-74, 2007. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/revdireitogv/ article/view/35197/34000. Acesso em: 16 set. 2019. LIMA, G. F. Manual de Direito digital. 1. ed. Curitiba: Appris, 2016. LUGER, G. F. Inteligência artificial. 6. ed. São Paulo: Person Education do Brasil, 2013. Informatização do Poder Judiciário e das serventias extrajudiciais12 Dica do professor O Provimento no 74/2018 do CNJ tomou por base requisitos mínimos de segurança da informação para exigi-los das serventias extrajudiciais, garantindo, assim, a autenticidade, a integridade, a disponibilidade e a confidencialidade das informações movimentadas nessas instituições. Conheça, na Dica do Professor, mais detalhes a respeito da relação entre esse Provimento e a segurança da informação: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Exercícios 1) Uma das aplicações da tecnologia junto ao Direito se deu por meio da Lei no 11.419/2006, do processo eletrônico. Dito isso, suponha que Diogo, advogado cível, pretenda ingressar com uma petição inicial por meio do sistema de processo eletrônico e também apresentar uma petição intermediária em outro processo eletrônico já em andamento. A respeito da atitude de Diogo, e conforme a Lei n.o 11.419/2006, assinale a alternativa correta: A) A distribuição da petição inicial é feita pelo advogado Diogo, mas a secretaria judicial deve fazer a juntada desta nos autos. B) A juntada da petição intermediária que Diogo fará o protocolo deve ser feita pela secretaria judicial. C) A juntada de petição intermediária poderá ser feita pelo advogado Diogo, sem intervenção da secretaria. D) O advogado Diogo somente poderia fazer a juntada da petição intermediária se advogado privado. E) O advogado Diogo somente poderá fazer a distribuição da inicial em formato digital se for advogado público. 2) Sabe-se que a inteligência artificial é um ramo da computação e se ocupa com a automação do comportamento inteligente. Considerando que João tenha um processo que dependa de julgamento em última instância, de um recurso extraordinário que seu advogado interpôs, qual sistema de inteligência artificial pode ser utilizado para ajudar na vinculação do tema de repercussão geral? Assinale a alternativa correta. A) O sistema utilizado será o Sistema Victor, um software de inteligência artificial do STJ. B) O sistema utilizado será o Sistema Sócrates, um software de inteligência artificial do STJ. C) O sistema utilizado será o Sistema Radar, um software de inteligência artificial do STF. D) O sistema utilizado será o Sistema Victor, um software de inteligência artificial do STF. E) O sistema utilizado será o Sistema Poti, um software de inteligência artificial do STJ. 3) A Tabela de Temporalidade para conservação dos documentos determina quanto tempo um documento deve ficar arquivado fisicamente em uma serventia. Acerca dessa tabela e do Provimento n.o 50/2015 do CNJ, assinale a alternativa correta: A) Os Cartórios poderão adotar tabela para observância do prazo máximo para o qual devem manter arquivados os documentos físicos. B) O Provimento n.o 50/2015 aplica-se tão somente aos Cartórios de Notas, aos Protestos de Letras e Títulos e aos Registros de Imóveis. C) O Provimento n.o 50/2015 aplica-se tão somente aos Cartórios de Notas, aos Registros de Imóveis e aos Registros Civis de Pessoas Naturais. D) Segundo o Provimento n.o 50/2015, os documentos descartados devem ser incinerados para evitar uso de má-fé por terceiros. E) Segundo o Provimento n.o 50/2015, o descarte dos documentos deve ser informado semestralmente ao juízo competente. 4) Os padrões mínimos a serem adotados para segurança da informação nas serventias extrajudiciais estão previstos no Provimento n.o 74/2018 do CNJ. Sobre esse Provimento, e considerando que Tatiana seja tabeliã de uma serventia extrajudicial e que seu Cartório passará a atender aos requisitos do referido Provimento, assinale a alternativa correta a respeito do cumprimento desses requisitos por Tatiana: A) As cópias de segurança (backup) da serventia de Tatiana poderão ser realizadas apenas em pen drives e HDs apropriados. B) As cópias de segurança (backup) da serventia de Tatiana deverão ser feitas em intervalos não superiores a 24 horas. C) Tatiana, como delegatária da serventia, é obrigada a cadastrar biometria como forma de autenticação. D) Tatiana tem a faculdade de se adaptar aos requisitos do Provimento n.o 74, que não têm cumprimento obrigatório. E) Tatiana deve se apressar para cumprir os requisitos, pois o Provimento n.o 74 entrou em vigor 90 dias após sua publicação. 5) Ter um plano de continuidade de negócios que preveja ocorrências nocivas ao se regular funcionamento dos serviços e atender a normas de interoperabilidade, legibilidade e recuperação a longo prazo na prática dos atos e das comunicações eletrônicas é requisito exigido pelo Provimento n.o 74/2018 do CNJ. Sobre os demais requisitos previstos nessa norma, assinale a alternativa correta: A) Serventias com arrecadação de até R$ 100 mil por semestre devem ter energia estável, rede elétrica devidamente aterrada e link de comunicação de dados mínimo de 10 megabits. B) Serventias com arrecadação entre R$ 100 mil e R$ 500 mil por semestre devem ter energia estável, rede elétrica devidamente aterrada e link de comunicação de dados mínimo de 2 megabits. C) Serventias com arrecadação entre R$ 100 mil e R$ 500 mil por semestre devem ter energia estável, rede elétrica devidamente aterrada e link de comunicação de dados mínimo de 10 megabits. D) Serventias com arrecadação entre R$ 100 mil e R$ 500 mil por semestre devem ter energia estável, rede elétrica devidamente aterrada e link de comunicação de dados mínimo de 4 megabits. E) Serventias com arrecadação acima de R$ 500 mil por semestre devem ter energia estável, rede elétrica devidamente aterrada e link de comunicação de dados mínimo de 4 megabits. Na práticaO Provimento n.o 74 de 2018 do CNJ trouxe inúmeros requisitos para adaptação pelas serventias extrajudiciais. Todavia, com o cumprimento dessas exigências, o armazenamento eletrônico de livros e documentos será uniformizado e garantirá mais segurança a todos os usuários dos serviços prestados por essas serventias. Conheça, Na Prática, o caso de uma serventia do interior de Goiás que busca o cumprimento dos requisitos previstos no Provimento n.o 74/2018: Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A tecnologia vai impactar o Direito e seus profissionais O artigo do Desembargador aposentado Vladimir Passos de Freitas comenta, de forma magnífica, casos jurídicos surpreendentes surgidos em razão do avanço tecnologia. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Informatização do Poder Judiciário: benefício que amplia o acesso à Justiça ou um obstáculo ao incentivo de métodos extrajudiciais de solução de conflitos Este artigo discute a informatização dos procedimentos judiciais e sua relação com os métodos de solução de conflitos, bem como a importância do acesso à Justiça. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
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