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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM GEOGRAFIA – MESTRADO PROFISSIONAL GEOCARTOGRAFIA: Orientações para o trabalho com a Cartografia nos anos iniciais do ensino fundamental MARIA VENÂNCIO LIMA CAICÓ/RN 2021 MARIA VENÂNCIO LIMA GEOCARTOGRAFIA: Orientações para o trabalho com a Cartografia nos anos iniciais do ensino fundamental CAICÓ – RN 2021 Relatório e material textual apresentados como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Geografia ao Programa de Pós-Graduação em Geografia – Mestrado Profissional (GEOPROF), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Área de concentração: Ensino de Geografia. Linha de pesquisa: Saberes geográficos no espaço escolar. Orientador: Prof. Dr. Diógenes Félix da Costa Silva Coorientador: Prof. Dr. Franklin Roberto da Costa Material de Trabalho de Conclusão: Material Textual. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN – Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - - CERES- – Caicó Lima, Maria Venâncio. Geocartografia: orientações para o trabalho com a Cartografia nos anos iniciais do ensino fundamental / Maria Venâncio Lima. - Caicó, 2021. 164f.: il. Relatório e material textual apresentados ao Programa de Pós-Graduação em Geografia (Mestrado Profissional - GEOPROF), do Centro de Ensino Superior do Seridó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Prof. Dr. Diógenes Félix da Costa Silva. Coorientador: Prof. Dr. Franklin Roberto da Costa. 1. Alfabetização Cartográfica. 2. Formação Docente. 3. Prática Docente. 4. Cartilha e Orientação. I. Silva, Prof. Dr. Diógenes Félix da Costa. II. Costa, Prof. Dr. Franklin Roberto da. III. Título. RN/UF/BS-Caicó CDU 37.02:528.9 Elaborado por MAYANE PAULINO DE BRITO E SILVA - CRB-15/867 MARIA VENÂNCIO LIMA PRODUÇÃO DO MATERIAL TEXTUAL: GEOCARTOGRAFIA: Orientações para o trabalho com a Cartografia nos anos iniciais do ensino fundamental Trabalho apresentado para o Exame de Defesa de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Geografia 28/06/2021, pela seguinte Banca Examinadora: Prof. Dr. Diógenes Félix da Costa Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Orientador e Presidente) Prof. Dr. Franklin Roberto da Costa Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Coorientador) Prof. Dr. Marco Túlio Mendonça Diniz Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Examinador) Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Lima Universidade Federal da Paraíba (Examinador) Relatório técnico-científico acompanhado de produto educacional Geocartografia: Orientações para o trabalho com a Cartografia nos anos iniciais do ensino fundamental, apresentado ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/CERES/CCHLA – Mestrado Profissional em Geografia – GEOPROF como requisito para obtenção do título de mestre. Dedico esse trabalho a todos os geógrafos que se debruçam nas descobertas da Geografia Escolar e que participam da constituição do estudo da Cartografia como elemento fundamental para a compreensão do espaço. AGRADECIMENTOS “O importante não é vencer todos os dias, mas lutar sempre”. (Santo Agostinho) Agradecer a Deus pela Vida e pelas oportunidades a mim ofertadas. À toda minha família pelo apoio e estímulo, pelos bons exemplos dados ao longo dos anos na construção de caminhos promissores e justos. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Geografia – Mestrado Profissional – GEOPROF – UFRN, pelos ensinamentos, encaminhamentos e conhecimentos que me repassaram. À meu orientador, professor Dr. Diógenes Félix da Costa Silva, pelos ensinamentos ofertados em sala de aula e pelo processo de orientação desse estudo. Aos colegas do GEOPROF – UFRN, em especial aos amigos e amigas da turma de Caicó – RN. À todos os professores que passaram na minha vida escolar, por me conduzir no mundo dos conhecimentos e na visão de um mundo melhor. À Secretaria Municipal de Educação do município de Orós – CE, por colaborar com a pesquisa empírica nas escolas da referia rede municipal de ensino. Aos docentes envolvidos na pesquisa empírica, valiosos professores/educadores que cooperaram com relevantes informações para nosso estudo. RESUMO A Cartografia é parte integrante da ciência geográfica, é considerada um elemento de estudo, da compreensão e interpretação dos fenômenos espaciais. Uma leitura crítica e analítica das diferenças existentes em diversas localidades para a busca perceptiva do desenvolvimento ou não desses espaços. Nesse sentido, este trabalho averiguou o saber cartográfico nas aulas de Geografia, presentes na educação básica. Foram discutidos e questionados teoricamente fatos relacionados às relações de análise do estudo do espaço, os reflexos da prática docente no ensino da Cartografia nos anos iniciais do ensino fundamental e a formação do professor nos cursos de licenciatura, levando em consideração a sua prática em sala de aula. Posteriormente foi realizada uma pesquisa empírica com os professores que ensinam geografia nos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas municipais de Orós – CE. Para tanto, foi utilizada da plataforma do Google Formulário, com a criação de um link, possibilitando aos docentes responderem ao questionário proposto referente aos saberes cartográficos e sua atuação em sala de aula. Assim, foi alicerçada a problemática da investigação realizada, evidenciando as dificuldades de formação e atuação pedagógica no ensino cartográfico. Vale salientar que é no trabalho com o processo de construção do conhecimento cartográfico, iniciando-se pelas abordagens da alfabetização cartográfica, com foco principal na procura de caminhos pelos conhecimentos, que o aluno deve apreender para aplicação no seu cotidiano, destacando, dessa forma, a importância do trabalho do professor para que a formação do aluno seja enriquecida, tornando real esse conhecimento adquirido para que esse espaço seja reconhecido e valorizado como agente educativo voltado para o bem estar desse cidadão. Neste estudo, há o propósito de que a escola e os docentes, por meio da Geografia, mais especificamente da Cartografia, possa evidenciar essa visão de melhoria dos procedimentos metodológicos, partindo das observações e respostas obtidas pela pesquisa realizada com os docentes do município de Orós – CE e oferecer aos professores uma proposta de auxílio e apoio com a elaboração de uma cartilha com sequências didáticas, ressaltando a alfabetização cartográfica para os anos iniciais do ensino fundamental, uma vez que detectadas as fragilidades ou as potencialidades encontradas na prática docente do ensino dos saberes cartográficos, venha contribuir e nortear o trabalho do professor. Portanto, o trabalho está pautado na busca por análises reflexivas acerca da alfabetização cartográfica nos anos iniciais do ensino fundamental, a formação do professor que trabalha com esse público e uma proposta metodológica para o ensino de Cartografia como colaboraçãode auxílio para os docentes. PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização Cartográfica; Formação Docente; Prática Docente; Cartilha e Orientação. ABSTRACT Cartography is an integral part of geographical science, it is considered an element of study, understanding and interpretation of spatial phenomena. A critical and analytical reading of the differences that exist in different locations for the perceptive search for the development or not of these spaces. In this sense, this study investigated the cartographic knowledge in Geography classes, present in basic education. We discussed and theoretically questioned facts related to the analysis of the study of space, the reflections of teaching practice in teaching Cartography in the early years of elementary school and teacher training in undergraduate programs, taking into account their practice in the classroom. Subsequently, an empirical research was carried out with geography teachers in the early years of elementary school in municipal schools in Orós, state of Ceará. For this purpose, the Google Form platform was used, with the creation of a link, enabling teachers to answer the proposed questionnaire regarding cartographic knowledge and their performance in the classroom. Thus, the problem of the research carried out was founded, highlighting the difficulties of training and pedagogical performance in cartographic education. It is in the work with the process of construction of cartographic knowledge, starting with cartographic literacy approaches, with a main focus on the search for paths through knowledge, that the student must learn to apply in their daily lives, emphasizing, in this way, the importance of the teacher work so that the student education is enriched, making real this acquired knowledge so that this space is recognized and valued as an educational agent aimed at the well-being of this citizen. In this study, there is the purpose that the school and teachers, through Geography, more specifically Cartography, can evidence this vision of improvement in methodological procedures, based on the observations and responses obtained by the survey carried out with teachers in the municipality of Orós, state of Ceará, and provide teachers with a proposal for help and support with the development of a booklet with didactic sequences, emphasizing cartographic literacy for the early years of elementary school, once the weaknesses or potentials found in the teaching practice of teaching cartographic education, come to contribute and guide the teacher work. Therefore, the work is guided by the search for reflective analyses about cartographic literacy in the early years of elementary school, the training of teachers who work with this audience and a methodological proposal for teaching Cartography as a form of collaboration for teachers. KEYWORDS: Cartographic Literacy; Teacher Training; Teaching Practice; Booklet and Guidance. LISTA DE FIGURAS 1 - Diagrama explicativo do surgimento do mapa .................................................................. 27 2 - Diagrama transmissão da informação cartográfica ............................................................ 29 3 - O mapa como meio de comunicação e a alfabetização cartográfica ................................. 37 4 - Mapa Conceitual do pensamento espacial ......................................................................... 43 5 - Estruturação da Pesquisa em Cartografia Escolar ............................................................. 53 6 - Mapa de Orós ..................................................................................................................... 68 7 - Proposta de organização estrutural de sequência didática ................................................. 90 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Competências e habilidades em cartografia nos anos iniciais do ensino fundamental .................................................................................................................................................. 33 LISTA DE GRÁFICOS 1 – Disciplinas exclusivas de Cartografia contemplada no curso de licenciatura ................... 75 2 – Suficiência dos conteúdos cartográficos nos cursos de licenciatura ................................. 76 3 – Motivos que tornaram insuficiente a formação da Cartografia no curso de licenciatura ...76 4 – Emprego dos conhecimentos Cartográficos pelo discente ................................................ 77 5 – Conteúdos com mais facilidade para trabalhar a Cartografia ........................................... 78 6 – Conteúdos com mais dificuldades para trabalhar a Cartografia ........................................ 79 7 – Dificuldades para trabalhar Cartografia nas aulas de Geografia ....................................... 80 8 – Trabalho da Cartografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental .................................. 81 9 – Recurso didáticos para o trabalho com a Cartografia ....................................................... 82 10 – Possibilidades para o estímulo do trabalho com a Cartografia ....................................... 83 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURA BNCC Base Nacional Comum Curricular CE Ceará DCNs Documentos Curriculares Nacionais GEOPROF Mestrado Profissional em Geografia IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística IFCE Instituto Federal do Ceará IPECE Instituto de Pesquisa Espacial do Ceará LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional PIB Produto Interno Bruto PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais PNL Programa Nacional do Livro Didático PSF Programa Saúde da Família UECE Universidade Estadual do Ceará UFC Universidade Federal do Ceará UNILAB Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira URCA Universidade Regional do Cariri SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 15 CAPÍTULO 1 - CARTOGRAFIA E GEOGRAFIA – Considerações sobre a Cartografia no ensino de Geografia .................................................................................................................23 1.1 A cartografia e seu sentido de estudo .................................................................... 23 1.2 O mundo dos mapas no ensino de Cartografia: análise histórica e conceitual ....... 26 1.3 Os percursos da alfabetização cartográfica e sua importância do ensino nos anos iniciais do ensino fundamental ............................................................................... 31 1.4 A Cartografia e o pensamento espacial: fortalecendo o conhecimento do geográfico ................................................................................................................................ 37 CAPÍTULO 2 - PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NOS ANOS INICIAIS E O ENSINO DA CARTOGRAFIA EM GEOGRAFIA: reflexões sobre a prática docente ................................ 45 2.1 Geografia e a formação do professor no Brasil: considerações iniciais ................ 45 2.2 A Cartografia e a Licenciatura em Geografia: análises e discussões ...................... 51 2.3 Ação didática do ensino da Cartografia: interligação entre a academia e sua aplicação na escola ................................................................................................. 57 2.4 Alfabetização Cartográfica e a formação docente: um aprendizado significativo ............................................................................................................................... 62 CAPÍTULO 3 - CARTILHA E SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS ABORDANDO A CARTOGRAFIA NO ENSINO DE GEOGRAFIA: uma proposta metodológica para o ensino da Cartografia .......................................................................................................................... 68 3.1 Caracterização do recorte espacial da pesquisa empírica: História e Perfil do município de Orós – CE ............................................................................................................... 68 3.2 Procedimentos metodológicos da pesquisa ................................................................ 71 3.3 Coleta de dados no campo das investigações com os professores e análise discursiva dos resultados obtidos ....................................................................................................... 73 3.4 Cartilha com sequência didática como proposta de auxílio: justificativa para sua elaboração .................................................................................................................. 84 3.4.1 Cartilha explicativa e sequenciamento didático: pressupostos teórico- metodológicos ................................................................................................. 87 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 93 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 96 APÊNDICES APÊNDICE 1 Requerimento para as escolas de ensino fundamental (anos iniciais) no município de Orós – CE APÊNDICE 2 Questionário aplicado com os professores de Geografia – Ensino fundamental (anos iniciais) APÊNDICE 3 MATERIAL DE APOIO: Cartilha com sequências didáticas para procedimentos do trabalho com a Cartografia na Geografia escolar 15 INTRODUÇÃO A Cartografia é uma ciência de representação do espaço, sendo importante para a construção do saber geográfico (espacial), levando o discente a interpretar e analisar as relações diversas de representação (espacial) que existem nos mapas, conduzindo a compreende-lo como produto das relações da sociedade. Assim, é importante que os alunos leiam os mapas de maneira adequada e autônoma e, para isso, o professor deve evidenciar um ensino voltado para o uso da Cartografia para o entendimento do espaço geográfico em que vive. Conforme afirma Simielli (2008, p. 99), para formar discentes críticos e leitores, partindo dos espaços em sua volta, é necessário partir de produtos cartográficos já produzidos, com pressuposto de uma metodologia específica em três níveis de leitura, tais como: Localização e análise: o aluno localiza espacialmente e analisa um fenômeno; Correlação: o aluno correlaciona ou compara duas ou mais ocorrências; Síntese: depois de localizar, analisar e correlacionar os espaços e temas trabalhados, o aluno faz uma síntese geral. Logo, a partir dessas habilidades adquiridas pelo discente, por meio do trabalho pedagógico desenvolvido pelo professor, a linguagem cartográfica é introduzida gradativamente. Corroborando com as palavras da autora, para que a formação de leitores críticos a partir de um mapa ocorra, se faz necessário a participação efetiva do professor, mediando as relações entre o aluno e o mapa, a partir das correlações, localizações e interpretações para que a compreensão espacial seja mais eficaz e útil para o cotidiano do discente. Martinelli (1990, apud Santos, 2002, p. 27) apresenta uma visão crítica acerca do ensino da leitura de mapas, afirmando que: É inadmissível que o geógrafo da atualidade tenda a menosprezar o papel dos mapas quando prega uma Geografia com clara finalidade, ao ser crítica, de servir ao progresso social. Em assim sendo, o poder de comunicação dos mapas corre o risco de ficar apenas do lado da ideologia, da alienação constituída. Portanto, é imprescindível dinamizarmos tal forma de produto social, o qual faz parte da vida de cada cidadão, e tornar assim, o mapa, um instrumento de luta nas reivindicações em prol de uma sociedade mais justa. Nessa perspectiva, a criança vai aumentando e buscando dar complexidade ao seu espaço vivido em sua concretude e, assim, a noção de espaço é construída socialmente. A criança é desafiada com motivação a desencadear a procura do apreender, a partir de sua curiosidade, para compreender o que está em sua volta, com a capacidade de observação e percepção, bem como a possibilidade de representação desse espaço cotidiano e não simplesmente ser uma mera expectadora dos acontecimentos da vida. (Freire 2001, p. 98) 16 ratifica ao afirmar que: “o exercício da curiosidade convoca a imaginação, intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar na busca da perfilização do objeto ou do achado de sua razão de ser”. Sendo assim, em nossa visão, para que um sujeito seja capaz de desempenhar seus conhecimentos e desses fazer uma associação dos processos de reflexão analítica do espaço, para o entendimento de que o mundo e a sociedade, estão sempre em processo de transformação, se faz necessário verificar por meio de práticas cotidianas,essas mudanças ocorridas espacialmente para transpô-las nos mapas. Portanto, os mapas representam o espaço social, cultural, humano das diferentes relações de vivências. A representação do mundo, por meio dos mapas, vem apresentar indícios históricos da necessidade humana de descrição, se situar e direcionar o mundo, domesticar e tornar o mundo familiar, buscando o conhecimento de um espaço habitável (FIALHO, 2010, p. 23). A Cartografia está presente em diversas situações e conhecimentos cotidianos da humanidade, tais como: na engenharia, na medicina, na comunicação, no estudo do meio ambiente, no sistema de trânsito, na hidrologia, na climatologia, no estudo do solo, entre outros, representando a busca pelo entendimento de um determinado recorte espacial dentro do que se pretende analisar e encontrar respostas para um dado problema. Em resposta a essas necessidades, a Cartografia vem subsidiar o estudo desses espaços com novas propostas de entendimento das transformações ocorridas ao longo da história da humanidade, numa perspectiva socioambiental, com o norte significativo dos caminhos da ciência geográfica, de um modo geral. Assim, mapear uma área determinada para investigações específicas na busca por respostas construtoras de um saber vivenciado pelo pesquisador. Perpassando por essas análises crítico-reflexivas, a Cartografia é vista como uma ciência exata e objetiva, onde o geógrafo deve evidenciar a busca do domínio desse conhecimento científico posto ao serviço do estudo do espaço. É uma representação gráfica da superfície terrestre, tendo como produto final o mapa. Dessa forma, é a ciência que trata da concepção, elaboração, divulgação, aplicação e estudos dos mapas, representando o espaço. A Cartografia se caracteriza, em sua essência, pela representação dos mapas com cores, símbolos e outros elementos que norteiam o estudo espacial de uma dada localidade e, portanto, ela se tornou fundamental para a Geografia e no conhecimento contemporâneo, tanto para o 17 estudo meio ambiente, quanto para o atendimento das necessidades diárias do ser humano em se localizar espacialmente. Segundo Callai (2005, p. 228-229), a Geografia é uma ciência que auxilia na leitura de mundo da vida e do espaço, compreendendo as paisagens que são resultados da vida em sociedade, da humanidade à procura de sua sobrevivência e da satisfação de suas necessidades. Portanto, esse é o papel da Geografia na escola. Partindo dessa visão, o ensino da Geografia, nos anos iniciais do ensino fundamental, deve iniciar pelo estudo do espaço como processo de apreensão de leitura do espaço pelos mapas, permitindo aumentar sua visão de leitura de mundo e, dessa forma, obter condições essenciais de aprofundamento nos conhecimentos geográficos. Daniel e Bom Jardim (2007) afirmam que “a alfabetização cartográfica é uma proposta metodológica cujo objetivo é o desenvolvimento de habilidades e competências para que o aluno torne-se um leitor de mapas”. O estudo da Cartografia deve partir do pressuposto da alfabetização cartográfica como elemento do entendimento do espaço geográfico como preparo da linguagem cartográfica, que ocorre com a transposição didática da cartografia básica e da cartografia temática, com o intuito de formar leitores de mapas. Mas, afinal, o que é alfabetização cartográfica? Passini (2007, p. 147-148) afirma que É uma proposta para que os alunos vivenciem as funções do cartógrafo e do geógrafo, transitando do nível elementar para o nível avançado, tornando-se leitores eficientes de mapas. O aluno mapeador desenvolve habilidades necessárias ao geógrafo investigador: observação, levantamento, tratamento, análise e interpretação de dados. Entretanto, para que a criança consiga adquirir as habilidades essenciais para se tornar um leitor de mapas, ela precisa ser estimulada a observar, perceber e buscar representar o espaço vivenciado desde os anos iniciais do ensino fundamental. Portanto, aos poucos a criança vai construindo, organizando e estruturando a linguagem cartográfica, conforme apontam os autores1: Não podemos ficar na decodificação pura e simples do mapa, e sim, na utilização eficiente da linguagem cartográfica como um meio para uma leitura dos fenômenos geográficos em suas relações espaciais e temporais. Da mesma forma, que a língua escrita representa uma ferramenta para o entendimento do mundo (PASSINI; ALMEIDA; MARTINELLI, 1999, p.124- 125). O docente deve buscar metodologias afins que possam preparar seu aluno para a realização da análise de sua representação, desenvolvendo a compreensão dessa espacialidade 1 Esses autores apontam como deve ser realizado trabalho com a Cartografia como construtora da linguagem cartográfica. 18 estudada e vivenciada. Dessa forma, a alfabetização cartográfica deve ter a mesma preocupação e seriedade quanto ao planejamento de aulas atrativas e estimulantes que a leitura e a escrita, como a matemática ou qualquer outra disciplina do perfil curricular do aluno. Assim, a Cartografia precisa ser uma ferramenta importante para o entendimento do espaço geográfico, onde o professor deve vincular os conteúdos de Geografia, de maneira que o discente deixe de ser um leitor passivo para ser um leitor crítico do espaço que está sendo representado no mapa, percebendo que não é somente uma técnica e leitura de mapas, mas um processo da busca da compreensão crítico-analítica da construção dos espaços na sociedade. Nesse contexto, observa-se a preocupação em defender que se deve refletir sobre as estratégias metodológicas que são usadas em sala de aula no ensino de Cartografia, uma vez que quando se pensa e planeja bem, há a possibilidade dos discentes criarem sua própria forma de conhecimento cartográfico com significado, visando ultrapassar as formas de decodificação e memorização e, dessa forma, se transformarem em leitores/mapeadores da realidade espacial em sua volta e do universo como espacialidade total a ser estudada e assimilada em um contexto de análises crítico construtivas. Vale ressaltar que, nesse contexto, cabe ao docente formador de opinião ser um mediador do processo de ensino e aprendizagem, aquele que busca diferentes estratégias metodológicas, adequando dinâmicas com os conteúdos cujos significados proporcionem um conhecimento voltado para uma educação de qualidade, formando alunos capazes de buscar melhorias para seu cotidiano espacial. Para isso acontecer, é preciso que o professor faça uma ligação direta do objetivo traçado no trabalho com a Cartografia, relacionando sempre com o ensino de Geografia, que não ensine o mapa pelo mapa, mas, acima de tudo, busque trabalhar as relações existentes na sociedade contemporânea de constantes transformações. Nesse sentido, o docente deve também ser um leitor de mapas, que ensine as noções de leitura de mapas, suas habilidades e os conceitos para a utilização desses, usando metodologias diferenciadas e adequadas e acima de tudo, buscando respeitar o ritmo cognitivo de aprendizagem e de desenvolvimento de cada aluno. Diante das discussões apresentadas, a base deste estudo se expressa em destacar como são trabalhados os saberes cartográficos nas aulas de Geografia, examinando qual a metodologia utilizada nesses procedimentos e que fragilidades e competências são evidenciadas no decorrer do processo de ensino. Assim, com tais comprovações, o propósito principal dessa 19 sugestão/proposta se encontra na missão de descobrir caminhos possíveis, numa perspectiva teórico-metodológica, que auxiliem no emprego dos conhecimentos da Cartografia na Geografia escolar. Nessa concepção, vários aspectos foram investigados e examinados, desde a formação do professor e o trabalho com os saberes cartográficos, os conteúdos principais, recursos didáticos utilizados, as metodologias desenvolvidas como opção para o desenvolvimentode seu trabalho durante as aulas na educação básica. Apoiado em um referencial teórico, o objeto de estudo e análise investigativa desta pesquisa se associou no processo de observação do trabalho feito pelos docentes que ensinam a disciplina de Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas públicas e privada no município de Orós – CE. Para saber de que forma a Cartografia chega ao aluno, é necessário entender como o professor desenvolve suas atividades e suas práticas de ensino, principalmente os conteúdos cartográficos, relacionando com estudos do espaço cotidiano. O domínio da linguagem cartográfica é essencial para o docente que ensina Geografia pois, para trabalhar com tais saberes geográficos, é fundamental que o professor esteja em constante atualização, configurando em um desafio importante nesse processo de estudo e planejamento de suas aulas envolvendo Cartografia. O tema central deste trabalho, foram das observações e inquietações da investigadora, como professora licenciada em Pedagogia e Geografia e atuante da educação básica, que desde sua formação acadêmica, foram respaldadas pela prática de ensino. Ao ensinar/trabalhar com os conteúdos geográficos do ensino fundamental e médio, foram identificadas algumas fragilidades relacionadas com os conteúdos da Cartografia e as barreiras enfrentadas pelos professores que se refletem diretamente no ensino /aprendizagem. Partindo dessa averiguação, compreendemos que seria preciso a realização de uma análise mais aprofundada das causas das fragilidades em relação aos conteúdos cartográficos, e assim a possibilidade de soluções viáveis. Dessa forma, a produção/elaboração deste trabalho é relevante na busca dos questionamentos levantados e discutidos, que deverão ser oportunos no trabalho cotidiano desenvolvido por professores de Geografia. Para a realização da pesquisa bibliográfica, enumerou-se trabalhos que se referem aos assuntos ligados a esse cenário. Nessa perspectiva, foram encontradas diversas literaturas que lidam com a Cartografia e a relação com o ensino de Geografia. Contudo, com as pesquisas 20 realizadas, não foi possível encontrar um número considerável de obras que indiquem rumos ou soluções que possam ser aplicadas em alguns dos problemas encontrados. Assim, a averiguação da problemática da pesquisa está diretamente ligada aos referenciais relacionados ao tema, assim como, com respaldo da pesquisa empírica, por meio do objeto de estudo escolhido. Portanto, este trabalho apresenta como contribuição a constatação de problemas, bem como a indicação de possibilidades didáticas e metodológicas no contexto de abordagens da Cartografia Escolar no ensino de Geografia. Nesse sentido, este estudo objetivou analisar os conhecimentos cartográficos presentes no ensino de Geografia, tendo em vista os vários aspectos que refletem acerca desse processo de ensino, tais como: conteúdos abordados, metodologia de ensino, formação docente, dentre outras questões, produzindo uma base teórico-metodológico para a elaboração do material textual organizado em uma cartilha com orientações do trabalho com a Cartografia, com sequências didáticas como propostas para o trabalho com a alfabetização cartográfica, direcionado para o trabalho do professor. De maneira mais específica, o trabalho examinou: a) Analisar o currículo e a metodologia que o ensino da Cartografia caracteriza nas práticas de ensino nos anos iniciais do ensino fundamental; b) Enumerar possíveis fragilidades/capacidades no trabalho docente com a |Alfabetização Cartográfica; c) Elaborar uma cartilha com sequências didáticas como proposta de contribuição metodológica. Metodologicamente, com a visão de atingir os resultados nos objetivos do trabalho, o mesmo foi organizado nas seguintes etapas: pesquisa bibliográfica; aplicação de questionário de por meio da plataforma do Google Formulário; sistematização e análise dos dados coletados; consolidação dos resultados através da elaboração da proposta de colaboração e redação do relatório de pesquisa. O trabalho está organizado partindo das seguintes etapas: a introdução, onde revela uma apresentação geral da pesquisa; Capítulo 1, denominado Cartografia e Geografia: Considerações sobre a Cartografia no ensino de Geografia, que trata da Cartografia com sua função de entendimento do espaço, sua conceituação teórica, os mapas no ensino de Cartografia como representação espacial a ser estudado e analisado, visando o saber se orientar e se localizar 21 em um determinado espaço, a alfabetização cartográfica com sua importância de ensino dos anos iniciais do ensino fundamental como referência do meio de comunicação, leitura e interpretação do espaço e o fortalecimento do conhecimento geográfico a partir da Geografia Escolar e do pensamento espacial, fazendo relações de como é estruturada a organização, atuação, funcionamento e uso dos espaços estudados. O Capítulo 2 aborda as práticas pedagógicas nos anos iniciais do ensino fundamental e o ensino da Cartografia em Geografia, fazendo reflexões da atuação docente com o início da formação do professor no Brasil, onde revelam as poucas práticas docentes como preparação do futuro professor de Geografia, as leis educacionais brasileiras que referenciam e norteiam o ensino no país, as análises e discussões acerca do estudo da Cartografia nos cursos de licenciatura em Geografia e de Pedagogia como formação desse componente curricular de estudo do espaço, as ações didáticas do ensino da Cartografia com uma realização de análise crítica do que se estuda e aprende nas universidades e as aplicações em sala de aula, bem como a alfabetização cartográfica é um princípio de formação de entendimento do trabalho com a Cartografia, apontando que os professores enfrentam dificuldades de trabalhar tal conteúdo de Geografia. Assim firmado em revisão literária, esse capítulo faz uma discussão referente à formação do professor e suas dificuldades no ensino da Cartografia escolar nos anos iniciais do ensino fundamental. O Capítulo 3 está pautado no título Cartilha e Sequências Didáticas abordando a Cartografia no ensino de Geografia: uma proposta metodológica para o ensino da Cartografia, analisa e discute como os conhecimentos cartográficos são ensinados nas aulas de Geografia no ensino fundamental nos anos iniciais e como eles estão presentes nas escolas no recorte empírico. Dessa forma, nesse capítulo, serão apresentados dados gerais da prática docente e a atuação no ensino fundamental evidenciando os saberes cartográficos, bem como o uso dos recursos disponíveis para o ensino, como são trabalhados os conceitos e outros aspectos capturados durante a realização da pesquisa. Também apresentamos aqui a fundamentação para produção e elaboração de uma proposta teórico-metodológica com base numa cartilha com orientações de como trabalhar a Cartografia, sendo evidenciada como um instrumento de apoio para os professores. Finalizando, apêndice a esse relatório, está estruturado o material textual (Cartilha com Sequências Didáticas). O mesmo foi produzido a partir das observações obtidas na pesquisa realizada. Desse modo, a cartilha consiste em orientações para o trabalho com a Cartografia, 22 dando ênfase na alfabetização cartográfica como proposta de auxílio e apoio para os professores que ensinam Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Percebe-se então, que este estudo está apresentado como contribuição na análise crítico- reflexiva das relações existentes entre a Cartografia e a Geografia, e dessas entre a Geografia Escolar e o ensino de Geografia como a compreensão do espaço no processo de entendimento das melhorias do componente curricular dessa disciplina. Portanto, espera-se que esta pesquisa venha contribuir para auxiliar outros trabalhos voltados para essa temática, cooperando, acimade tudo, para que o saber cartográfico esteja mais evidenciado como instrumento de ensino da prática docente da Geografia escolar. 23 CAPÍTULO 1 CARTOGRAFIA E GEOGRAFIA – Considerações sobre a Cartografia no ensino de Geografia 1.1 A cartografia e seu sentido de estudo A Cartografia é considerada como um conjunto de operações lógico-matemáticas, com métodos, e técnicas e voltadas a elaboração de produtos cartográficos, tais como mapas, gráficos e tabelas representativas do espaço geográfico, por meio de observações diretas, pesquisa documental e levantamento de dados. Logo, a cartografia é uma ciência, pois representa o espaço geográfico; faz uso de técnicas, combinando metodologias e ferramentas para a elaboração de diferentes representações; também é uma arte, pois emprega diversas e diferentes representações gráficas que, esteticamente, devem agradar o leitor. Partindo dessa visão, a ciência cartográfica, (tendo o mapa como um dos seus principais objetos de estudo), é um recurso essencial para o processo de ensino e aprendizagem da Geografia, proporcionando a exploração da realidade do aluno e favorecendo o compartilhamento de suas vivências. Como afirmam Fonseca e Kirst (2003): O termo "cartografia" utiliza especificidades da geografia para criar relações de diferença entre "territórios" e dar conta de um "espaço". Assim, "Cartografia" é um termo que faz referência à ideia de "mapa", contrapondo à topologia quantitativa, que caracteriza o terreno de forma estática e extensa, uma outra de cunho dinâmico, que procura capturar intensidades, ou seja, disponível ao registro do acompanhamento das transformações decorridas no terreno percorrido e à implicação do sujeito que percebe no mundo cartografado (FONSECA e KIRST, 2003, p. 92). Vale ressaltar que “a cartografia tem sua origem na Grécia, permeada pela mitologia que influenciou a produção das representações da época”. E ainda, “conhecer e representar a Terra foram os primeiros objetivos da cartografia” (FRANCISCHETT, 2002, p.17). Desse modo, como ciência, “a cartografia possibilita um melhor entendimento dos resultados da modificação do espaço geográfico” (FRANCISCHETT, 2002, p.11). Portanto, ela objetiva o estudo do espaço geográfico por meio da representação espacial. Como objeto de estudo da Educação Básica, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, a cartografia está presente no cotidiano, desde a casa onde moramos, a rua, o lugar, o município, o país, o continente e o universo. Do micro ao macro, com o foco nas observações diárias, estudar a linguagem cartográfica desde os primeiros anos escolares proporciona à criança a 24 capacidade de desenvolvimento do raciocínio espacial, a partir da percepção de sua vivência. Nos anos letivos seguintes, a complexidade cognitiva aumenta, visando as possibilidades de entendimento das espacialidades presentes. Na sua origem, a Cartografia foi conceituada e convencionada em 1964, logo após uma definição adotada pela Associação Cartográfica Internacional, sendo definida como: Conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas, baseado nos resultados de observações diretas ou de análise de documentação, com vistas à elaboração e preparação de cartas, planos e outras formas de expressão, bem como sua utilização (DUARTE, 2006, p. 15). Contudo, Oliveira (1993) defende que outra definição oficial havia sido estabelecida em 1949, depois de uma reunião das Nações Unidas, sendo estabelecida que “é uma ciência que se ocupa da elaboração de mapas de toda espécie. Abrange todas as fases do trabalho, desde os primeiros levantamentos até a impressão final do mapa” (OLIVEIRA, 1993, p. 13). Na visão de Oliveira (1993), essa concepção de elaborar mapas de todas as espécies, com todas as fases, é considerada um exagero, pois contém um conjunto enorme de conhecimentos, sendo criticada por vários países. Portanto, com essa visão, a cartografia se preocuparia com objetos de outras áreas do conhecimento, tais como a astronomia, a geodesia, a fotogrametria e a oficina offset, que tem o trabalho de impressão sob sua responsabilidade. Entende-se que o mapa é um instrumento que traz informações diversas. Tem um propósito de estudo informativo, não sendo apenas uma ilustração. Dessa forma, o professor, como mediador, deve trabalhar os mapas com as crianças, desde as séries iniciais, mostrando os objetivos de entendimento de um mapa. De início, é necessário que a criança seja uma observadora das situações presentes em seu dia a dia, para depois ser uma leitora eficaz de mapas, porque: A possibilidade de ler mapas de forma adequada é de grande importância para se educar o aluno e as pessoas em geral para a autonomia. A capacidade de visualização da organização espacial é importante como para a participação responsável, consciente e possibilidade de propor mudanças alternativas (PASSINI, 1994, p. 11). Com esse raciocínio, é notório que a criança, quando aprende a ler um mapa, consegue fazer transformações, dentro de um contexto de observações e análises socioespaciais. Essa visão é significativa para a formação de sua compreensão espacial, “na medida em que possibilita realizar estudos comparativos de diferentes paisagens e territórios representados em várias escalas” (MOREIRA, 2008, p. 1). 25 Dessa forma, a criança começa observando sua moradia, os ambientes que a ela pertence, seu lugar, o trajeto que ela faz de casa até a escola, partindo a cada ano letivo para análises e investigações mais complexas. Portanto, a cartografia deve ser iniciada desde a educação infantil com as primeiras observações a partir dos ambientes vividos pela criança (ALMEIDA, 2010). Segundo Fonseca (2013, p. 41), “o mapa é uma produção humana complexa”, pois ele é elaborado segundo a percepção e o entendimento do observador do espaço que está sendo representado, buscando atender as diversas necessidades humanas, construídas ao logo da história e segundo a cultura de um povo. A cartografia é entendida, portanto, como representação do raciocínio espacial, do saber da localização, das distâncias e da percepção, a partir das relações com os elementos constituintes nos mapas e do estudo da organização do espaço, sob a perspectiva humana com a indicação de formas de entendimento, de relação, ocupação e utilização da natureza. Mediante essas afirmativas, percebe-se que o estudo da cartografia é fundamental na vida da humanidade, porque contribui para o raciocínio espacial como forma de entendimento do lugar. Porém, observam-se dificuldades e fragilidades no estudo com mapas, pois, segundo Passini (1994, p. 19), “o aluno não reflete, interpreta, analisa, compara ou generaliza, apenas recebe a informação, memoriza e reproduz, sem utilizar o próprio pensamento, suas leituras de mundo construídas anteriormente”. Partindo desse pressuposto, a cartografia, no âmbito da geografia escolar, é um elemento que carrega consigo diversas informações e conhecimentos indispensáveis para a formação das pessoas. Dessa forma, a cartografia é uma linguagem a ser ensinada, não com meras informações a serem transmitidas. Nessa visão, Castellar (2005) afirma que: A cartografia, então, é considerada uma linguagem, um sistema código de comunicação imprescindível em todas as esferas da aprendizagem em geografia, articulando fatos, conceitos e sistemas conceituais que permitem ser e escrever as características do território. Nesse contexto, ela é uma opção metodológica, que implica utilizá-la em todos os conteúdos da geografia, para identificar e conhecer não apenas a localização dos países, mas entender as relações entre eles, compreender os conflitos e a ocupação do espaço (CASTELLAR, 2005, p. 216). Mediante a visão do ensino da cartografia na geografia escolar,ela se configura como um mecanismo didático e eficaz, pois possibilita transmitir as mudanças ocorridas no espaço, partindo da relação sociedade versus natureza, sendo imprescindível o ensino desde os anos iniciais, buscando estimular o desenvolvimento das noções espaciais. 26 Trabalhar a cartografia é uma forma de buscar, através da espacialização dos fenômenos geográficos, a representação em um mapa, carta ou mesmo em outras formas de representação gráfica, sejam físicos, socioeconômicos ou culturais. A cartografia, no âmbito escolar, quando associada ao ensino de geografia, instiga no aluno habilidades de leitura de mundo por meio das suas representações, auxiliando na construção do conhecimento geográfico (PASSINI, 1994). A cartografia permite ler e interpretar o espaço próximo ou distante por meio de símbolos que se relacionam entre si, com a representação de um determinado espaço reduzido, oferecendo ao leitor informações que o auxiliarão a se localizar no espaço e a entender os diversos e diferentes espaços no mundo com as suas diferentes dimensões. Esse assunto deve ser trabalhado nas séries iniciais do ensino fundamental, podendo-se utilizar de brincadeiras e jogos (MARTINELLI, 1998). Partindo dessa visão, o ensino da cartografia deve fornecer ferramentas para que a construção do convívio social não seja apenas cópia de mapas com informações, mas que sirva de instrumento de leitura do mundo, com comunicação das transformações no espaço, buscando trabalhar a criticidade do aluno, possibilitando estabelecer a compreensão e reafirmação de que existem desigualdades espaciais e que essas devem ser trabalhadas visando discutir suas causas e consequências. 1.2 O mundo dos mapas no ensino de Cartografia: análise histórica e conceitual Os primeiros mapas surgiram na Pré-história, bem antes da invenção da escrita, por diferentes grupos humanos para indicar os caminhos que percorriam e o lugar onde viviam. Essas ações foram socializadas possibilitando, a partir dos conhecimentos adquiridos, produzir os primeiros mapas na história da humanidade. Os mapas são carregados de história e sentido. Conforme Gomes (2004), baseado nas ideias de Harley (1987), a história da cartografia é manifestada e consolidada no século XIX, a partir da preocupação com os mapas antigos que apresentam erros na representação dos espaços quanto a distância, tamanho de áreas, proporção e representação de símbolos. Nessa perspectiva, o referido autor indica componentes que refletem o processo de reconhecimento e valorização dos mapas antigos: O impulso principal desse movimento crescente, especialmente após 1850, decorreu na emergência e institucionalização da geografia enquanto ciência, aliado ao crescimento dos acervos cartográficos, das nações em formação e ao desenvolvimento, na Europa e nos Estados Unidos, de um mercado antiquário de mapas (Gomes, 2004, p. 68). 27 Criação de um acervo material Fortalecimento do processo de formação dos estados nacionais Representação facilitando a ocupação e o uso do mapa Segundo Fonseca (2013, p. 41), “o mapa é uma produção humana complexa”, pois ele é elaborado segundo a percepção e o entendimento do observador do espaço que está sendo representado, buscando atender as diversas necessidades humanas, construídas ao longo da história e segundo a cultura de um povo. ELEMENTOS PRIMORDIAIS PARA O SURGIMENTO DOS MAPAS COMO ESTUDO Institucionalização Arquivos Domínio do Espaço Figura 01. Diagrama explicativo do surgimento do mapa. Elaborado por: Maria V. Lima, 2020. Conforme proposto pelo diagrama, os elementos fundamentais para o surgimento dos mapas foram a constituição de instituições de acervo material. Com esses arquivos, foi se fortalecendo o processo de formação dos Estados nacionais e, com isso, veio o fortalecimento da ocupação, domínio e o uso do espaço, vindo a criar um mercado de mapas antigos, visando mantê-los e conservá-los para estudos posteriores. A partir do século XX, mais precisamente na década de 1930, acontece o estímulo do processo da Cartografia Histórica, enquanto campo de estudos. A partir disso, surgiram elementos essenciais condicionando e dando independência nos estudos acadêmicos: conjunto de obras da história da Cartografia; a publicação do Imago Mundi, revista direcionada aos temas de autonomia da Cartografia se consolidando como disciplina acadêmica. Conforme Gomes (2004, p. 68), “os avanços na construção da história da cartografia, como um campo acadêmico próprio, estariam relacionados ao crescimento da cartografia como objeto de pesquisa e como atividade prática independente”. Criação de Mercado de mapas Antigos, desenvolvidos por colecionadores preocupados com a manutenção e conservação dos mapas produzidos 28 Por consequência, a Cartografia buscou sua consolidação com estudos relacionando suas teorias com a construção do conhecimento, voltados para o desenvolvimento da compreensão do espaço geográfico a partir de observações, análises e reflexões das transformações que ocorrem constantemente. O mapa, é um instrumento de leitura do espaço, da representação da realidade com seus elementos, temas abordados e posicionamento crítico, Moreira (1995) afirma que O mapa é o repertório do vocabulário geográfico. E trata-se da melhor representação do olhar geográfico. O mapa é a própria expressão da verdade de que todo fenômeno obedece a um princípio de organizar-se no espaço. [...] O mapa é o fiel da sua identidade. [...] as nervuras do mapa são as categorias mais elementares do espaço: a localização, a distribuição, a extensão, a latitude, a longitude, a distância, e a escala, palavras do fazer geográfico (MOREIRA, 1995, p. 30.) Na representação cartográfica, o mapa tem como objetivo principal a identificação da realidade com seus elementos gráficos, tais como o título, a legenda com seus símbolos, a escala, a projeção e a orientação para que o aluno possa se orientar e buscar a melhor compreensão de leitura daquela determinada representação do espaço (ALMEIDA,1994). O mapa é parte integrante do ensino de Geografia, servindo como apoio para o professor que utilizará em suas aulas como fonte de construção do conhecimento, uma vez que o aluno estará aprendendo de forma ativa, construindo seus conceitos. Para que isso ocorra, ele buscará se localizar no espaço em que vive, assumindo uma postura de pesquisador diante da sociedade que se transforma constantemente. A cartografia vem se modificando ao longo dos anos, com o avanço das tecnologias. Os mapas hoje têm diversas finalidades de representação, tais como economia, população, urbanismo, aspectos naturais, onde o indivíduo busca organizar, entender e gerenciar, com mais habilidade, o espaço em que vive. O mapa pode ser empregado como mecanismo para explicar o espaço no ensino de Geografia. Para Oliveira (2011, p. 16), “o mapa ocupa um lugar de destaque na Geografia, porque é ao mesmo tempo instrumento de trabalho, registro e armazenamento de informação, além de um modo de expressão e comunicação, também é uma linguagem gráfica”. Partindo dessa constatação, o mapa é um importante recurso utilizado na Geografia, pois ele auxilia na compreensão das representações dos fenômenos do espaço geográfico. Nessa visão, o mapa é o instrumento para o ensino de representação dos espaços, como mencionam Rua et al. (1993, p. 12). O mapa é um importante instrumento comumente utilizado pelas pessoas para localizar, informar e orientar. O fato de aparecer como um “símbolo” da escola, nos leva a pensar 29 MAPA Informação obtida pelo cartógrafo Informação extraída pelo leitor trabalhandocom o mapa R2 R1 11 que é uma das funções fundamentais da mesma, ensinar e interpretar a representação dos espaços, compreender a sua “arrumação”, neles saber orientar-se. A cada ano que passa, aumenta a necessidade de assimilar a leitura de mapas, pois no mundo inteiro, as mudanças ocorrem com muita rapidez e, dessa forma, as pessoas necessitam se movimentar e se situar no espaço geográfico, entendendo as ocupações e transformações da localidade onde vivem, contribuindo, atuando e participando de forma crítica da sociedade (AGUIAR, 2012). De acordo com essa abordagem, Simielli (2008, p. 77) afirma que “na vida moderna, é cada vez mais notório e importante a utilização de mapas; portanto, cada vez mais, o trabalho do cartógrafo deve ser baseado nas necessidades e interesses dos usuários de mapas”. É importante ressaltar que a representação do espaço nos mapas, seu uso, interpretação e a leitura, deve ser incentivada pelo professor com o intuito de obtenção de melhor conhecimento do que está sendo analisado e para qual finalidade um determinado mapa é utilizado. O professor de Geografia tem como um dos principais recursos metodológicos o mapa, porque ele não é simplesmente um recurso visual em que o professor utiliza em suas aulas, sobretudo ele se apresenta como um meio de comunicação (Figura 02); é a expressão de como uma linguagem que concebe o aluno manifestar espacialmente um conjunto de situações; partindo da tomada de decisões e na busca da resolução de problemas ele pode ser manipulado em uma alternativa de decisões para a representação do espaço (OLIVEIRA, 2007). R1 R2 Realidade mapeada Realidade reconhecida Observando a realidade Formando de ideias sobre a realidade Processo da informação Leitura e análise do mapa refletindo o conhecimento utilizando o conhecimento e a experiência e a experiência acumulada do cartógrafo pelo auto 30 Figura 02: Diagrama sobre transmissão da informação cartográfica segundo Salichtchev (1977). De acordo com a figura 02, é necessário criar uma linguagem cartográfica para que o mapa possa atingir seus objetivos de representar a superfície terrestre, comunicar os fenômenos, analisar as situações cotidianas, possibilitando a apresentação adequada das informações. Nessa perspectiva, com a finalidade de aproximar a observação da realidade retratada pela visão do autor/produtor do mapa, é necessário unir as informações adquiridas partindo dos conhecimentos do cartógrafo. Observa-se que para representar o espaço geográfico é preciso que haja uma comunicação cartográfica a partir de um conjunto de signos que as mensagens são repassadas e organizadas. Essa forma de análise deve ser vista pelo leitor, buscando melhorar sua estrutura de pensamento para compreender a elaboração sobre os fenômenos representados a partir do estabelecimento de raciocínios analíticos. Com esse raciocínio, Nogueira (2009), enfatiza que a alfabetização cartográfica é essencial para a leitura eficiente de mapas. Com todos esses comentários, percebe-se que o mapa é especialmente um dos produtos cartográficos para representar o espaço. Proporciona uma diversidade de estudos do meio, que permitem atingir os objetivos assim defendidos por Oliveira (2017, p. 24), sobre a utilização em sala de aula. Ele ressalta que: [...] localizar lugares e aspectos naturais e culturais na superfície terrestre, tanto em termos absolutos como relativos; mostrar e comparar localizações; mostrar tamanhos e formas de aspectos da Terra; encontrar distâncias e direções entre lugares; mostrar elevações e escarpas; visualizar padrões e áreas de distribuição; permitir inferências dos dados representados; mostrar fluxos, movimentos e difusões de pessoas, mercadorias e informações; apresentar distribuição dos eventos naturais e humanos que ocorrem na Terra. Mediante os diversos aspectos apresentados, fica evidente a importância do uso do mapa, das formas de linguagem cartográfica, para examinar informações sobre o meio geográfico e caracterizar espacialmente as práticas socioculturais e socioambientais existentes na sociedade, caracterizando uma das ferramentas para a leitura dos fenômenos que reflete o espaço terrestre. Conforme o exposto e dentro de uma visão acerca do ensino da leitura de mapas, Santos (2006, p. 177) afirma que “o importante não é o resultado de um mapa perfeito ou imperfeito, mas é a passagem do espaço concreto para o plano da representação por meio do caminho que a criança desvenda nesse mundo”. Nesse contexto, Castrogiovanni (2003, p. 60) reforça que os mapas não podem servir apenas como um veículo de comunicação, mas para o domínio das 31 suas representações, onde os alunos devem aprender as técnicas de representação da linguagem, saber realizar a leitura e interpretação, fazendo parte do cotidiano escolar não somente nos dias das aulas de Geografia. À vista disso, percebe-se que a linguagem dos mapas deve contribuir também para a interpretação do espaço presente na vida dos alunos por meio da pesquisa na internet, onde esse recurso é utilizado para este fim e que muito contribui para análises críticas e reflexivas acerca da realidade, buscando a realização de comparações das mudanças sofridas ao longo dos anos no espaço terrestre. 1.3 Os percursos da alfabetização cartográfica e sua importância nos anos iniciais do ensino fundamental Cartografia é entendida como uma Ciência que trata dos estudos científicos, técnicos e artísticos, em qualquer tipo de representação da superfície terrestre, podendo ser no formato de mapas, cartas, maquetes e croquis. Os resultados obtidos com esses produtos são a partir de observações diretas, assim como por meio de análise de documentos, visando à produção de acordo com determinada escala e sistema de projeções. Para a compreensão da Cartografia, deve-se começar pelo processo da alfabetização cartográfica nas séries iniciais. Como primeiro passo nesse processo, o docente precisa aprender a ver um mapa ou carta geográfica, na busca de diferenciar a ação do verbo ver com a ação do olhar. De acordo com Selbach (2010, p. 64): Olhar não é algo que se aprende, pois, se temos olhos e eles funcionam, sua função é de olhar, algo tão simples quanto o respirar. Mas ver é olhar com interesse, atenção, concentrando nessa tarefa para perceber coisas que o rápido olhar jamais percebe. Não é necessário aprendermos a olhar, mas é importante que aprendamos a ver, ação essencial para quem pratica a alfabetização cartográfica. Com isso, a importância de se trabalhar com a Cartografia como linguagem cartográfica é essencial desde o princípio da escolaridade do aluno, com o intuito de que os mesmos compreendam a utilizar uma ferramenta importante da Geografia, como forma de desenvolver a capacidade referente de do espaço. A cartografia é um conhecimento que sintetiza informações, expressa conhecimentos, sempre envolvendo a ideia da produção do espaço: sua organização e distribuição (PCNs 1997). Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (1997)realçam que a Cartografia é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a Pré-História até os dias atuais, com a intervenção da Linguagem Cartográfica. Os PCNs (1997) ainda reconhecem a importância da Cartografia, colocando-a como um dos objetivos do estudo da Geografia no ensino 32 fundamental, visto que possibilita ao discente obter informações e representar a espacialidade dos fenômenos geográficos por meio de conteúdos como a leitura e a compreensão das informações que são expressas com uma linguagem cartográfica adequada. Mas, para que a criança se torne eficiente na tarefa de mapear e ter noção do espaço, é de extrema importância o papel do docente/educador cartográfico nesse processo. Para isso, o professor deve levar em consideração os conhecimentos prévios da criança sobre localização espacial e respeitar a forma de como a mesma percebe e representa o espaço. Na escola, isso ocorre por intermédio de recursos tais como: fotografias comuns que expressem seu cotidiano, fotografias aéreas do espaço vivido pelo docente, gravuras que representem situações diárias e vídeos que retratem esses espaços reais. Isso posto, tais ideias podem ser um recurso para leitura de espaço a ser trabalhada com as crianças. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 118) deliberam que: é preciso que o professor analise as imagens na sua totalidade e procure contextualizá- las em seu processo de produção: por quem foram feitas, quando, com que finalidade, etc., e tomar esses dados como referência na leitura de informações mais particularizadas, ensinando aos alunos que as imagens são produtos do trabalho humano, localizáveis no tempo e no espaço, cujas intencionalidades podem ser encontradas de forma explícita ou implícita. Quando se trata de alfabetização cartográfica, essa se caracteriza pela interpretação e domínio dos símbolos que são empregados para o entendimento do espaço. É a partir do processo e entendimento da linguagem formada de atributos com uma linguagem gráfica, que se inicia o desenvolvimento do pensamento espacial. Segundo Castrogiovanni (1998), alfabetizar na geografia é relacionar o espaço com a natureza, natureza com a sociedade, entendendo os aspectos de interação entre os fatos sociais, econômicos, políticos e culturais. Sabendo se colocar diante das situações corriqueiras e também perceber que o espaço está sendo disputado constantemente segundo os interesses individuais ou coletivos e, diante disso, se faz necessário que o sujeito pensante saiba se posicionar frente as desigualdades sócio espaciais com criticidade e uma postura de reflexão. No que se refere à Alfabetização Cartográfica, a BNCC (2017), assegura que: No Ensino Fundamental – Anos Iniciais, os alunos começam, por meio do exercício da localização geográfica, a desenvolver o pensamento espacial, que gradativamente passa a envolver outros princípios metodológicos do raciocínio geográfico, como os de localização, extensão, correlação, diferenciação e analogia espacial. No Ensino Fundamental – Anos Finais, espera-se que os alunos consigam ler, comparar e elaborar diversos tipos de mapas temáticos, assim como as mais diferentes representações utilizadas como ferramentas da análise espacial. Essa, aliás, deve ser uma preocupação norteadora do trabalho com mapas em Geografia. Eles devem, sempre que possível, 33 servir de suporte para o repertório que faz parte do raciocínio geográfico, fugindo do ensino do mapa pelo mapa, como fim em si mesmo (BRASIL, 2017, p. 361-362). Diante desse contexto, a BNCC afirma que os estudantes devem desenvolver a capacidade de ler e interpretar mapas. Deve ser iniciada a alfabetização cartográfica nos anos iniciais do ensino fundamental, a partir das situações vivenciadas pelos alunos, relacionando com estudos espaciais mais simples, para posteriormente o aluno saber se posicionar frente à modernidade e a ciência. O quadro a seguir caracteriza as competências e habilidades que os discentes dos anos iniciais do ensino fundamental devem adquirir com o estudo da Cartografia, evidenciando as noções básicas referentes a esse componente curricular do ensino de Geografia (QUADRO 01). Quadro 01: Competências e habilidades em cartografia nos anos iniciais do ensino fundamental. 1º ANO COMPETÊNCIAS * Obter noções espaciais de (lateralidade); * Representar os espaços de vivência: casa e escola; * Interpretar representações gráficas e cartográficas como elementos de localização; * Compreender a localização de objetos no espaço: noções de lateralidade e referenciais espaciais (frente e atrás, esquerda e direita, em cima e embaixo, dentro e fora, perto e longe). HABILIDADES * (EF01GE01) Descrever características observadas de seus lugares de vivência (moradia, escola etc.) e identificar semelhanças e diferenças entre esses lugares; *(EF01GE08) Criar mapas mentais e desenhos com base em itinerários, contos literários, histórias inventadas e brincadeiras; * (EF01GE09) Elaborar e utilizar mapas simples para localizar elementos do local de vivência, considerando referenciais espaciais (frente e atrás, esquerda e direita, em cima e embaixo, dentro e fora) e tendo o corpo como referência. 2º ANO COMPETÊNCIAS * Relacionar experiências da comunidade no tempo e no espaço; * Compreender o conceito de paisagem; * Analisar os modos de vida entre os bairros: hábitos e relações com a natureza das diferentes etnias e tempos; * Verificar a paisagem local: semelhanças, diferenças, permanências de elementos do espaço geográfico ao longo dos tempos; * Entender os pontos essenciais de localização, orientação e representação espacial; *Representar espontaneamente com símbolos os lugares de vivência; * Relacionar as formas espaciais projetivas e a descentralização: direita e esquerda, frente e atrás, em cima e embaixo. HABILIDADES 34 *(EF02GE04) Reconhecer semelhanças e diferenças nos hábitos, nas relações com a natureza e no modo de viver de pessoas em diferentes lugares; * (EF02GE05) Analisar mudanças e permanências, comparando imagens de um mesmo lugar em diferentes tempos; * (EF02GE08) Identificar e elaborar diferentes formas de representação (desenhos, mapas mentais, maquetes) para representar componentes da paisagem dos lugares de vivência; * (EF02GE09) Identificar objetos e lugares de vivência (escola e moradia) em imagens aéreas e mapas (visão vertical) e fotografias (visão oblíqua); *(EF02GE10) Aplicar princípios de localização e posição de objetos (referenciais espaciais, como frente e atrás, esquerda e direita, em cima e embaixo, dentro e fora) por meio de representações espaciais da sala de aula e da escola. 3º ANO COMPETÊNCIAS * Desenvolver a noção cartográfica de ponto, linha e símbolo no espaço de vivência do aluno; * Identificar as dimensões com legendas para compreensão das representações espaciais; * Representar seu lugar de vivência; * Saber se orientar no espaço geográfico; * Entender os pontos cardeais e colaterais; * Compreender conceito, tipos, características e funções dos mapas; * Identificar elementos do mapa (título, legenda, escala); * Fazer leitura de diferentes representações cartográficas. HABILIDADES * (EF03GE04) Explicar como os processos naturais e históricos atuam na produção e na mudança das paisagens naturais e antrópicas nos seus lugares de vivência, comparando-os a outros lugares; * (EF03GE06) Identificar e interpretar imagens bidimensionais e tridimensionais em diferentes tipos de representação; cartográfica* (EF03GE07) Reconhecer e elaborar legendas com símbolos de diversos tipos de representações em diferentes escalas cartográficas. 4º ANO COMPETÊNCIAS * Apreender o sistema de orientação; * Compreender os elementos constitutivos dos mapas;* Entender o conceito, tipos, características e funções das representações cartográficas; * Realizar leitura de diferentes representações cartográficas do município. HABILIDADES * (EF04GE09) Utilizar as direções cardeais na localização de componentes físicos e humanos nas paisagens rurais e urbanas; * (EF04GE10) Comparar tipos variados de mapas, identificando suas características, elaboradores, finalidades, diferenças e semelhanças. 5º ANO COMPETÊNCIAS * Compreender mapas e imagens de satélite; * Relacionar as mudanças nas configurações espaciais ao longo do tempo das cidades; 35 * Representar as cidades e o espaço urbano; * Compreender as formas de representação do Estado. HABILIDADES * (EF05GE08) Analisar transformações de paisagens nas cidades, comparando sequência de fotografias, fotografias aéreas e imagens de satélite de épocas diferentes; * (EF05GE09) Estabelecer conexões e hierarquias entre diferentes cidades, utilizando mapas temáticos e representações gráficas. Fonte: Adaptado de BNCC (2017) por Maria Venâncio Lima de Brasil, 2021. Sendo assim, o documento norteador da BNCC evidencia o processo de alfabetização cartográfica e a construção do pensamento espacial. Desse modo, a utilização da linguagem cartográfica no desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal se caracteriza por uma das competências específicas das Ciências Humanas nas séries iniciais do ensino fundamental (BRASIL, 2017). As bases propostas da alfabetização cartográfica, vem com o objetivo de desenvolver o domínio da leitura e a elaboração de mapas com base nos conceitos de lateralidade, orientação, visão vertical e visão oblíqua, proporção, legenda e escala, bem como buscar a construção de entendimento/análise crítica da mensagem retratada no mapa como forma de organização, compreensão e desenvolvimento do raciocínio espacial. A alfabetização cartográfica é o elemento estruturador das bases do ensino de Geografia, conforme afirma Simielli (2014, p. 10). “As crianças encontram-se em fase de alfabetização e o letramento nos diversos componentes curriculares e é nesse momento que a habilidade de leitura do espaço onde elas vivem deve ser introduzida, com a finalidade de auxiliar na organização do pensamento espacial”. Portanto, a cartografia passa também por esse processo como todo e qualquer desenvolvimento de aprendizagem que se inicia com a alfabetização por volta dos seis ou sete anos, quando a criança está iniciando o processo de letramento na escola. A utilização de mapas como recurso e linguagem é essencial para os estudos geográficos. Para que ocorra, é fundamental que a criança aprenda a ler mapas, como se observa na BNCC, quando afirma que: “O estudo da Geografia permite atribuir sentidos às dinâmicas das relações entre as pessoas e grupos sociais, e desses com a natureza, nas atividades de trabalho e lazer. É importante, na faixa etária associada a essa fase do Ensino Fundamental, o desenvolvimento da capacidade de leitura por de fotos, desenhos, plantas, maquetes e as mais diversas representações. Assim, os alunos desenvolvem a percepção e o domínio do espaço. Nessa fase, é fundamental que os alunos consigam saber responder algumas questões a respeito de si, das pessoas e dos objetos: Onde se localiza? Por que se localiza? Como se distribui? Quais são as características sócio espaciais? Essas perguntas mobilizam as crianças a pensar sobre a localização de objetos e das pessoas no mundo, permitindo que compreendam seu lugar no mundo” (BRASIL, 2017, p. 319- 320). 36 A proposta da BNCC se baseia na construção do pensamento espacial, objetivando a realização da leitura e a compreensão do espaço geográfico. Esses devem ser iniciados nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, seguindo-se o processo de estudo do desenvolvimento espacial sem interrupção e não de maneira isolada, em séries/anos letivos separadamente. Nessa perspectiva, Passini (2012) revela que a alfabetização cartográfica é uma metodologia que busca estudar a formação de conhecimentos conceituais e procedimentos que almejem o desenvolvimento da noção de espaço, para que o aluno, através de suas representações, possa fazer leituras de mundo. As discussões referentes à alfabetização cartográfica têm avançado nos últimos anos, com estudos acadêmicos e a formação de professores, buscando melhorar a eficácia nas aulas de Geografia. Simielli (2014) faz a seguinte pergunta: “Mas o que significa alfabetizar cartograficamente uma criança?”. Em sua visão, ela responde: Primeiro, é importante enfatizar que alfabetizar é um processo que demanda uma série de procedimentos. A alfabetização cartográfica refere-se ao processo de domínio e aprendizagem de uma linguagem construída de símbolos – uma linguagem gráfica. No entanto, não basta à criança desvendar o universo simbólico dos mapas; é necessário que a alfabetização possibilite-lhe compreender a relação entre o real e a representação simbólica. Não basta dominar as representações simbólicas pela leitura de uma legenda; é importante que a criança seja orientada e depreender significados da área que está representando ou criar significados para as áreas mapeadas por outros e que ela está conhecendo indiretamente. Assim, trata-se de criar condições para que os alunos sejam leitores críticos de mapas ou mapeadores conscientes (SIMIELLI, 2014, p. 17). Com essa visão, a inserção da alfabetização cartográfica deve partir do princípio do reconhecimento do cotidiano do aluno, visando trabalhar os referenciais de localização, orientação e distância, buscando a autonomia de representação dos lugares onde vivem e se relacionam. Além de conhecer a cartografia como um conteúdo fundamental para o entendimento das relações entre espaço e tempo, permitindo educar o aluno para a visão cartográfica, o professor deve estimular seu interesse por imagens, também deve ofertar fotos, figuras, tabelas, mapas, imagens de satélite, buscando trabalhar de forma lúdica com exploração da linguagem visual. Nesse processo é fundamental “desenvolver a capacidade de leitura e de comunicação oral e escrita por fotos, desenhos, plantas, maquetes e mapas e assim permitir ao aluno a percepção e o domínio do espaço” (SIMIELLI, 2007, p. 98). 37 Lateralidade, referências e orientação Construção da noção de legenda Proporção e escala Alfabetização cartográfica Visão oblíqua e visão vertical Imagens tridimensional e bidimensional Alfabeto cartográfico: linha, ponto e área COGNIÇÃO COGNIÇÃO Desmitificação da Cartografia-desenho Cartografia como meio de comunicação e leitura das representações gráficas no processo de aprendizagem da Geografia Para Simielli (2014), a proposta da alfabetização cartográfica está definida segundo o esquema da FIGURA 03. Figura 03: SIMIELLI, Maria Elena. O mapa como meio de comunicação e a alfabetização cartográfica. In: ALMEIDA, Rosângela Doin de (0rg.). Cartografia escolar. São Paulo: Contexto, 2014, p. 90. Na visão de Simielli (2014, p. 91), a cartografia trabalhada com as crianças é executada em brincadeiras e atividades; a habilidade de cartografia parece emergir de forma rudimentar muito mais cedo e parece representar uma habilidade da criança para estruturar seu ambiente externo, tal habilidade cartográfica está presente em crianças muito jovens, em várias culturas, portanto, parece razoável concluir que ela pode construir um elemento universal cultural e antiga quanto a habilidade linguística e a artística; a cartografia torna-se explícita, importante e visível quando as crianças começam a interagir com o macro ambiente. Para Simielli (2014), a cartografia é um meio de comunicação e leitura das representações do espaço,
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