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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA Aspectos clínicos, radiográficos e histológicos da superfície oclusal de molares decíduos com e sem lesão de cárie: Estudo in vitro NATAL – RN 2011 GISELE CHAVES DE MEDEIROS Aspectos clínicos, radiográficos e histológicos da superfície oclusal de molares decíduos com e sem lesão de cárie: Estudo in vitro Orientador (a): Profª. Drª. Isauremi Vieira de Assunção Pinheiro NATAL 2011 Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UFRN como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Odontologia, área de concentração em Saúde Coletiva. Catalogação na Fonte. UFRN/ Departamento de Odontologia Biblioteca Setorial de Odontologia “Profº Alberto Moreira Campos”. Medeiros, Gisele Chaves de. Aspectos clínicos, radiográficos e histológicos da superfície oclusal de molares decíduos com e sem lesão de cárie: estudo in vitro /Gisele Chaves de Medeiros. – Natal, RN, 2011. 124 f. : il. Orientador: Profa. Dra. Isauremi Vieira de Assunção Pinheiro. Dissertação (Mestrado em Odontologia) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências da Saúde. Programa de Pós-Graduação em Odontologia. 1. Cárie dentária – Dissertação. 2. Diagnóstico – Dissertação. 3. Odontologia preventiva – Dissertação. I. Pinheiro, Isauremi Vieira de Assunção. II. Título. RN/UF/BSO Black D585 RN/UF/BSO Black D74 A Deus... Razão Suprema da minha existência e minha luz. Ao conceder-me o Dom da vida, deu- me também todas as oportunidades e me permitiu realizá-las. Agradeço a Ele por ter me fortalecido em todos os momentos de fraqueza e sempre ter olhado por mim de forma especial. Aos meus pais... Obrigada pelos exemplos de amor, honestidade e dedicação que moldaram meu caráter da melhor forma possível. Tenho muita sorte de ter pais como vocês. Amo muito vocês e obrigada por tudo. Aos meus irmãos... Danielle e Antônio Eduardo, em especial a Danielle, sempre paciente, compressiva e companheira, mesmo nos meus dias de insuportável humor. Vocês dão cor a minha vida. AGRADECIMENTOS Aos meus parentes maternos e paternos, que sempre apoiaram as minhas escolhas e torceram pelo meu sucesso. Sei que cada pequena vitória, por vezes insignificante, é motivo de orgulho para vocês. Palavras me faltam para expressar a imensa gratidão que tenho a Deus por ter me presenteado com uma família tão maravilhosa. Sortuda eu sei que sou. Muito. “E quem não sabe dar valor pra essas coisas... Ter um lar é um tesouro!” Aos meus colegas de mestrado, pela agradável convivência durante esses dois anos. Em especial a Anna Paula, a Maria Regina, ao Jânio, a Emanuelle e a Angela. Cada um de vocês contribuiu de alguma forma para o meu engrandecimento pessoal e profissional. Obrigada pelos momentos felizes, engraçados e divertidos que compartilhamos juntos. Nunca esquecerei vocês. A todos os meus amigos, das antigas e os recentes, que sempre apoiaram e apóiam os meus sonhos, e que agora vibram por essa grande conquista na minha vida. Eu nada seria sem vocês. Às alunas da Graduação, Juliane de Souza Borges e Adrielle Silva Barreto. Não tenho palavras para descrever a imensa gratidão que tenho a vocês. Essa pesquisa não teria sido possível sem sua crucial ajuda. Obrigada a Adrielle, sempre tão solícita, e a Juli, sempre tão paciente, compreensiva, disposta a me ajudar em qualquer momento e situação. Juli, você é especial! Saibam que sempre estarei orando pela felicidade das duas. Muito obrigada! Deus as abençoe! Aos também alunos da Graduação, Raphael Ferreira de Souza Bezerra Araújo, Fabrício Lopes da Rocha Pereira e Allison de Araújo Lucena, por toda a ajuda que me deram durante o mestrado. Não tenho dúvidas de que serão grandes profissionais. Torço muito pelo sucesso de vocês. A ex-aluna de Graduação e agora cirurgiã-dentista Pryscyla Pascally Targino Araújo, que tanto me ajudou e me acompanhou durante as coletas de dados. Você é um exemplo de profissional responsável, dedicada e com certeza será uma mulher vencedora. Muito obrigada! A minha orientadora do Mestrado Profa. Dra. Isauremi Vieira de Assunção Pinheiro, pelo incentivo, apoio, orientação e paciência. Muitíssimo obrigada! A minha mestra e amiga Profa. Dra. Maria Helena Chaves de Vasconcelos Catão, da UEPB. Obrigada pela confiança que sempre depositou em mim, pela amizade e orientação profissional durante todos esses anos, e acima de tudo, pelo apoio e incentivo para que eu desse esse passo tão importante, que foi o curso de Mestrado. A senhora sempre acreditou em mim, mesmo quando nem eu mesma acreditava ser capaz. Meu muito obrigada! Ao Prof. Dr. Carlos Augusto Galvão Barbosa, pela ajuda nos momentos de dúvidas e por se mostrar solícito sempre que pôde. Obrigada! A Profa. Dra. Sally de Franca Lacerda Pinheiro, por ter se mostrado tão solícita e contribuído com sugestões para enriquecimento do trabalho. Obrigada imensamente! Ao Prof. Dr. Kenio da Costa Lima, coordenador da PPGO, por contribuir para meu enriquecimento intelectual e por todo apoio durante momentos de dúvidas. Tenho profunda admiração pelo seu trabalho. Muito obrigada! Às professoras da Disciplina de Odontopediatria da UFRN, por tão gentilmentecederem o espaço da clínica para a realização desse trabalho. A Marcilene, pela paciência e ajuda, sempre se mostrando disponível, abrindo mão até de suas férias, permitindo a realização das pesquisas nas clínicas. Muito obrigada! Aos funcionários da Biblioteca do Departamento de Odontologia da UFRN, que por tantas vezes foram os meus companheiros durante longos momentos de estudo. Obrigada por toda a ajuda! Ao Lucas e a Sandra, da secretaria do PPGO, funcionários exemplo de competência, sempre gentis e disponíveis a ajudar. Muitíssimo obrigada! Aos técnicos do NEPGN/UFRN, Artejose e Érico, pela ajuda durante as análises em MEV. Às técnicas do Laboratório de Técnicas Histológicas do Centro de Biociências/ UFRN, Lourdinha, Maria do Socorro, Melina e Sara, pela enorme ajuda durante o preparo dos espécimes em microscopia de luz. A todos os funcionários e professores da UFRN, que me ajudaram e contribuíram para o andamento do meu curso de mestrado. Ao Prof. MsC. Gildenor Xavier Medeiros, meu tio querido, do curso de Medicina Veterinária da UFCG, Campus Patos – PB, pela crucial ajuda durante as análises em microscopia de luz. À doutoranda da Pós-Graduação em Medicina Veterinária da UFCG, Campus Patos – PB, Profa. MsC. Clarice Ricardo de Macêdo Pessoa, pela ajuda no manuseio do microscópio de luz, na visualização das lâminas e na captação das imagens. Ao residente em Patologia Animal da UFCG, Andrei Manoel Brum Febronio, pela igual ajuda no manuseio do microscópio de luz, na visualização das lâminas e captação das imagens. Ao laboratório de Patologia Animal do Departamento de Medicina Veterinária da UFCG, Campus Patos – PB, na figura dos seus alunos de graduação e pós-graduação, bem como de seus funcionários, por tão gentilmente me acolherem para a execução da etapa de exames em microscopia de luz. Às crianças que participaram deste trabalho. É gratificante trabalhar com vocês e para vocês. Igualmente, aos pais/responsáveis das crianças, que compreensivamente contribuíram para o andamento da pesquisa. A CAPES pelo auxílio financeiro. A todos que de forma direta ou indireta, contribuíram para a realização desse trabalho. Muito Obrigada. Tem Calma Pe. Fábio de Melo Composição: Martim Valverde Tem calma contigo mesmo e olha aonde vais Espera um minuto, pensa no que farás No meio da tormenta é duro navegar E uma escolha incerta pode caro custar Nem todo mau momento te faz fracassar E em caminhos de pedras haverás de passar Pois nem tudo na vida é como a gente quer Mesmo sem sombras na terra o sol brilha no céu Segue adiante, sem olhar atrás Vive cada dia e nada mais E o que vier tu vencerás Só tu tens a chave: abres ou fecharás Tem calma na vida o jogo é de verdade Pra ganhar a partida vai com forca e coragem São as regras do jogo é bom sempre lembrar Diante dos desafios é preciso tentar Tu és precioso acredite ou não Mas o amor tem sua casa nos terrenos da dor E assim como o ouro pelo fogo irás passar E o que tens de melhor o fogo vai revelar Ainda que chores, tu vencerás Só aquele que perde sabe também ganhar Segue adiante, sem olhar atrás Vive cada dia e nada mais E o que vier tu vencerás Só tu tens a chave: abres ou fecharás Tem calma... tem calma... tem calma... http://letras.terra.com.br/pe-fabio-de-melo/ RESUMO Devido ao fato de o diagnóstico precoce e a conduta terapêutica a ser adotada para as lesões de cárie oclusal figurar como um dos principais temas abordados pelas pesquisas na área da Cariologia nos últimos anos, faz-se importante o estudo dos testes histológicos utilizados como métodos de validação (padrão-ouro), de forma a esclarecer dúvidas e orientar a comunidade científica sobre quais métodos são mais adequados e seguros a serem utilizados. Este estudo tem como proposta realizar, in vitro, uma avaliação comparativa entre os métodos de diagnóstico clínico visual, radiográfico interproximal e histológico (Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Microscopia de Luz (ML) em superfície oclusal de molares decíduos. Um único examinador calibrado efetuou os exames visual e radiográfico interproximal em 66 sítios de 33 molares decíduos esfoliados apresentando pigmentação em fóssulas e fissuras na superfície oclusal. Após os exames macroscóspicos, as amostras foram submetidas a um seccionamento mesio-distal, de forma que, para cada amostra, foram obtidas duas secções, onde uma foi preparada e examinada ao microscópio de luz (ML), e a outra, igualmente preparada para ser analisada ao microscópio eletrônico de varredura (MEV). Após a análise histológica (padrão ouro), foi constatada a presença de lesões cariosas em 34 sítios, sendo 23 restritas ao esmalte e 11 com envolvimento dentinário. Histologicamente, as análises ao ML e ao MEV permitiram visualizar a presença de dentina esclerosada e dentina reacional, compatíveis com lesões de cárie crônica inativas. As imagens obtidas por meio da ML e MEV apresentaram uma boa correlação, uma vez que, de uma forma geral, as lesões de cárie em dentina incipientes em ML e MEV exibiram eventos semelhantes, como presença de dentina desmineralizada, esclerose dentinária e dentina reparadora ou reacional, com padrões tubulares de acordo nas duas técnicas, sugerindo, portanto, que o uso de uma das duas técnicas mencionadas poderia atender a necessidade do estudo. Com a constatação, através deste estudo, de que os exames histológicos através do MEV e da ML permitem a diferenciação entre o estado da lesão de cárie, através da visualização micro estrutural de elementos que possam evidenciar a paralisação ou não do processo carioso, o mesmo pode servir de base para auxilio as pesquisas clínicas já existentes poderem utilizar esta técnica visando comparar os resultados clínicos e radiográficos já encontrados e poder aumentar sua evidência científica em situações de tratamento não invasivo para cárie em dentina. Palavras-chave: Cárie dentária, Diagnóstico, Odontologia Preventiva ABSTRACT Because early diagnosis and therapeutic approach to be adopted for occlusal caries lesions appear as one of the key topics for research in Cariology in recent years, it is important to study the histological tests used as validation methods (gold standard) in order to answer questions and guide the scientific community about which methods are most suitable and safe to use. This research aims to carry out in vitro, a comparative evaluation of methods of visual clinical diagnosis, bitewing radiographic and histological (electron microscopy (SEM) and Light Microscopy (LM) on occlusal surfaces of primary molars. A single investigator calibrated conducted the visual and radiographic examinations in 66 interproximal sites of 33 exfoliated primary molars showing pigmentation in pits and fissures on the occlusal surface. macroscóspicos After the tests, the samples were subjected to a sectioned mesio-distally so that, for each sample, were obtained from two sections, where one was prepared and examined under a light microscope (LM), and another, equally ready to be analyzed by scanning electron microscopy (SEM). After the histological analysis (gold standard), confirmed the presence of carious lesions in 34 sites, 23 and 11 restricted to the enamel with dentine involvement. Histologically, the LM analysis and SEM allowed us to visualize the presence of sclerotic dentin and reactionary dentin caries lesions compatible with chronic inactive. The images obtained through LM and SEM showed a good correlation, since, in general, carious lesions in dentin and SEM incipient LM exhibited similar events, such as the presence of demineralized dentin, dentin and reparative dentin sclerosis orreactive with tubular patterns According to the two techniques, suggesting that the use of one of the two techniques mentioned could meet the need of study. With the confirmation, through this study, the histological examinations by SEM and LM allow differentiation between status of carious lesions by visualization of micro structural elements that can show whether or not the stoppage of the carious process, it can serve as a basis to help existing medical research can use this technique to compare the clinical and radiographic results already found and may increase its scientific evidence in situations of non-invasive treatment for caries in dentin. Key Words: Dental Caries, Diagnosis, Preventive Dentistry LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Armazenagem das amostras em recipientes contendo formaldeído a 10%. ...........48 Figura 2 – Limpeza dos elementos dentários com jato de bicarbonato....................................48 Figura 3 – Elementos dentários fixados em bloco de cera utilidade para realização da inspeção visual.........................................................................................................................................49 Figura 4 – Exemplo de fotografia contendo o esquema de setas com os sítios (A e B) selecionados para as análises....................................................................................................50 Figura 5 – Procedimento adotado para realização da inspeção visual......................................52 Figura 6 – Seqüência de preparação do posicionador para as tomadas radiográficas..............53 Figura 7 – Procedimento padrão adotado para a realização das tomadas radiográficas...........54 Figura 8 – Visão geral da cortadeira de precisão utilizada para os cortes das amostras...........56 Figura 9 – Preparação dos espécimes para visualização ao ML...............................................59 Figura 10 – Microscópio de Luz Nikon Eclipse E-200, com câmera fotográfica acoplada, do Departamento de Patologia Animal do CSTR – UFCG – Patos - PB.......................................61 Figura 11 – Microscópio Eletrônico de varredura Philips – XL30 do NEPGN da UFRN.......63 Figura 12 – Preparação dos espécimes para metalização e visualização ao MEV...................64 Figura 13 – Aspecto macroscópico e radiográfico de um segundo molar decíduo inferior com sítio indicado para análise, hígido.............................................................................................72 Figura 14 – Aspecto macroscópico e radiográfico de um primeiro molar decíduo superior com sítio indicado para análise, com pigmentação em sulcos e fissuras..........................................73 Figura 15 – Aspecto macroscópico e radiográfico de um primeiro molar decíduo inferior com sítio indicado para análise, com microcavitação.......................................................................74 Figura 16.1 – Imagens em MEV exibindo diversas regiões dentinárias (1.000x e 2.500x).....76 Figura 16.2 – Imagens em MEV exibindo diversas regiões dentinárias (500x, 1.000x e 2.500x)......................................................................................................................................78 Figura 16.3 – Imagens em MEV da dentina normal, em amostras hígidas (500x e 2500x)..............79 Figura 17.1 – Imagens em ML em amostra hígida e com microcavitação (40x).....................80 Figura 17.2 – Imagens em ML em amostra com pigmentação sem microcavitação e com microcavitação..........................................................................................................................81 Figura 17.3 – Imagens em ML em amostras com microcavitação (40x).................................82 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Critérios definidos para o exame visual ................................................................. 52 Quadro 2 – Critérios definidos para o exame radiográfico ....................................................... 54 Quadro 3 – Critérios definidos para a análise microscópica (ML e MEV) ............................... 55 Quadro 4 – Variáveis analisadas neste estudo..........................................................................65 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Valores do índice Kappa (k)...................................................................................66 Tabela 2 – Resultados expressos pelo examinador E nos métodos avaliados em relação ao padrão ouro realizado para validação dos mesmos (análise microscópica). ............................. 68 Tabela 3 – Concordância intra-examinador obtida pelo coeficiente Cohen’s kappa (k) para a presença de todas as lesões (T) e lesões em dentina (D) na superfície oclusal de molares decíduos.................. .................................................................................................................. .69 Tabela 4 – Descrição das características clínicas e radiográficas dos elementos dentários estudados... ................................................................................................................................ 69 Tabela 5 – Resumo das características clínicas e radiográficas da amostra analisada. ............. 71 Tabela 6 – Comparação entre as características clínicas, radiográficas e histológicas em MEV e ML dos elementos dentários estudados.. .............................................................................. 119 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................16 2 REVISÃO DE LITERATURA............................................................................20 2.1 ASPECTOS RELACIONADOS À CÁRIE DENTÁRIA......................................20 2.2 HISTOLOGIA DA LESÃO DE CÁRIE................................................................23 2.2.1 Lesão de cárie em esmalte....................................................................................23 2.2.2 Lesão de cárie em dentina....................................................................................24 2.3 LESÃO DE CÁRIE EM SUPERFÍCIE OCLUSAL ..............................................27 2.4 DIAGNÓSTICO DE LESÕES DE CÁRIE DENTÁRIA.......................................29 2.4.1 Exame clínico visual e tátil...................................................................................30 2.4.2 Exame radiográfico interproximal......................................................................32 2.5 TRATAMENTO CONSERVADOR DE LESÕES DE CÁRIE OCLUSAL.........35 2.6 AVALIAÇÃO HISTOLÓGICA DA LESÃO DE CÁRIE.....................................38 3 OBJETIVOS..........................................................................................................44 3.1 OBJETIVO GERAL...............................................................................................44 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................44 4 METODOLOGIA.................................................................................................46 4.1 DELINEAMENTOS DO ESTUDO.......................................................................46 4.2 ASPECTOS ÉTICOS..............................................................................................46 4.3 AMOSTRA.............................................................................................................46 4.3.1 Critériosde Inclusão.............................................................................................47 4.3.2 Critérios de Exclusão............................................................................................47 4.4 PREPARO DAS AMOSTRAS PARA OS EXAMES VISUAL E RADIOGRÁFICO INTERPROXIMAL..................................................................................................................47 4.5 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DOS SÍTIOS........................................................50 4.5.1 Calibração do examinador...................................................................................51 4.5.2 Inspeção visual.......................................................................................................52 4.5.3 Exame radiográfico interproximal......................................................................53 4.5.4 Análise microscópica.............................................................................................55 4.5.4.1 Preparo dos espécimes.............................................................................................55 4.5.4.1.1 Preparo dos espécimes para análise em Microscopia de Luz e critérios de diagnóstico utilizados...............................................................................................................56 4.5.4.1.2 Preparo dos espécimes para análise em Microscopia Eletrônica de Varredura....62 4.6 ELENCO DE VARIÁVEIS DO ESTUDO............................................................65 4.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA.....................................................................................65 4.7.1 Análise Descritiva em Microscopia de Luz e Microscopia Eletrônica de Varredura para as lesões de cárie em dentina............................................................................................66 5 RESULTADOS......................................................................................................68 5.1 EXAMES VISUAL E RADIOGRÁFICO..............................................................68 5.2 CONCORDÂNCIA INTRA-EXAMINADOR NOS DIFERENTES MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO UTILIZADOS...............................................................................................68 5.3 ANÁLISE MACROSCÓPICA E RADIOGRÁFICA DA AMOSTRA.................69 5.4 ANÁLISE DAS 33 AMOSTRAS REALIZADAS POR MEIO DA MEV............75 5.5 ANÁLISE DAS 33 AMOSTRAS REALIZADAS POR MEIO DA ML...............80 6 DISCUSSÃO..........................................................................................................85 7 CONCLUSÕES.....................................................................................................94 REFERÊNCIAS....................................................................................................96 APÊNDICES........................................................................................................105 ANEXO................................................................................................................123 Eyshila “Eu sei que não estou só E já posso crer que amanhã Vai ser bem melhor Só porque Deus está comigo.” INTRODUÇÃO 16 1 INTRODUÇÃO A conduta terapêutica a ser adotada para as lesões de cárie tem sido alvo de estudos pela comunidade científica nos últimos anos. O maior conhecimento sobre a sua patogênese e a possibilidade de reversão da lesão em estágios iniciais propiciou a adoção de uma postura voltada para o controle da doença através de tratamento não invasivo. Dessa forma, a prática tradicional restauradora vem sendo substituída pela Odontologia Minimamente Invasiva, que tem como filosofia a conservação da maior quantidade possível de estrutura dentária 9 . Dentro desse contexto de Odontologia Minimamente Invasiva encontra-se a discussão acerca da detecção precoce da lesão de cárie oclusal visando possibilitar a adoção de um plano de tratamento preventivo e interceptador 29, 123 . Segundo Bastos e colaboradores 10 , o conceito de diagnóstico de cárie na Odontologia tradicional não tem sustentação, uma vez que não determina risco, severidade e atividade da doença. A Odontologia tradicional apresenta uma abordagem quase que exclusivamente curativa. O que observamos, portanto, é a presença de um ciclo restaurador repetitivo em que os procedimentos, embasados em um diagnóstico incorreto, feito por meio da identificação de danos já ocorridos (sequelas da doença). Na urgência em realizar tratamento de caráter invasivo, desgastam, desnecessariamente, as estruturas dentais, o que não favorece o controle das doenças bucais e, conseqüentemente, não melhora os níveis de saúde bucal, pois não se combate os agentes causais, apenas reparam as seqüelas da doença. O papel da Odontologia atual deve ser a adoção de medidas preventivas e interceptadoras, ao invés do emprego do tratamento invasivo imediato. Para que isto ocorra, necessário se faz um correto diagnóstico de cárie, principalmente em superfície oclusal, bem como a adoção de tratamentos não invasivos interceptadores 70 . As pesquisas clínicas realizadas até o presente momento apresentam evidências de sucesso desses tratamentos não invasivos através de observações clínicas e radiográficas. Para maior evidência científica, a realização de uma pesquisa utilizando padrão ouro seria de grande valia. Este padrão ouro seria um exame histológico, que só é possível de ser realizado em estudos com dentes decíduos que permitem a realização do mesmo após a esfoliação. O estudo e conhecimento da morfologia dentária sadia e atingida por lesões de cárie são necessários para o entendimento dos mecanismos envolvidos na etiopatogenia da doença e, principalmente, no momento em que se busca a compreensão dos fundamentos básicos à manutenção da integridade dos 17 tecidos dentários por meio de técnicas restauradoras não invasivas, como, por exemplo, o selamento oclusal de cárie em dentina. Já é sabido da possibilidade de paralisação de uma lesão de cárie quando a mesma se encontra confinada em esmalte e, para tal, se adotam tratamentos não invasivos para resolução do problema 64 . Quando temos a situação de lesão de cárie em dentina, a dentística operatória preconiza tratamento invasivo (restauração) por não acreditar na possibilidade de paralisação ao nível dentinário. Estudos têm mostrado possibilidade de paralisação da lesão de cárie em dentina (na situação clínica de cavidade aberta e sem a remoção total da dentina cariada) apenas com o selamento da superfície (utilizando material restaurador). Estes estudos acompanharam estes dentes por 10 anos e puderam comprovar a paralisação da lesão neste tecido 43, 72, 79 . Estes resultados provavelmente ocorrem devido ao fato de que, com o vedamento da superfície da cavidade, impede-se a presença do biofilme, que é o principal substrato para o desenvolvimento da lesão cariosa. Com este feito, as bactérias se tornam inviáveis, morrem por inanição e não continuam o processo carioso. A nutrição oriunda do ápice provavelmente é insuficiente para manter as bactérias viáveis 16, 17, 56, 95 . Diante desta constatação, vem a indagação: se é possível paralisar uma lesão de cárie em dentina em uma cavidade aberta, de média a extensa profundidade, porque não conseguir o mesmo feito quando temos lesão no início da dentina, logo abaixo do limite amelo- dentinário, diagnosticada apenas radiograficamente, pois clinicamente se encontraainda sem cavitação visível macroscopicamente 16, 17, 56, 95 . Situações clínicas de cárie em dentina detectadas apenas radiograficamente, sem cavitação clínica, estão sendo submetidas a tratamentos não invasivos (selamento oclusal) e acompanhadas clinica e radiograficamente para verificação da possibilidade de paralisação destas lesões em alguns estudos clínicos 16, 17, 64 . Estudos vêm sendo desenvolvidos nesta área, utilizando uma amostra maior e um maior tempo de acompanhamento, porém ainda sem realização de um padrão ouro. Pesquisas com dentes decíduos estão sendo realizadas para possibilitar uma análise histológica, tendo em vista a possibilidade de obtenção do dente pós-período de esfoliação. Faz-se necessário, portanto, um estudo acerca de como se dariam estas técnicas histológicas e em que elas poderiam contribuir para visualizarmos uma paralisação ou não do processo carioso. Devido à necessidade de verificação de que tipos de exames histológicos poderiam ser úteis neste ponto em questão, este estudo se propôs a realizar, in vitro, uma análise histológica 18 através da microscopia eletrônica de varredura (MEV) e da microscopia de luz (ML) em dentes com diferentes situações variando do hígido ao cariado. Os resultados encontrados serão de grande valia para subsidiar pesquisas clínicas em dentes decíduos (por permitir a avaliação histológica pós-esfoliação) que utilizam o tratamento não invasivo em cárie de dentina através do selamento de fóssulas e fissuras. Walmir Alencar “Deus é capaz de trocar reinos por ti Abre mares para que possas atravessar E se preciso fosse, daria novamente, a vida por ti Deus só não é capaz... de deixar de te amar!” REVISÃO DE LITERATURA 20 2 REVISÃO DE LITERATURA Sabe-se que existe alta prevalência de cárie dental na população brasileira, determinando a perda precoce de dentes decíduos e permanentes, constituindo um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil, e na maioria dos países subdesenvolvidos. No que se refere às lesões de cárie na superfície oclusal, é sabido que, devido a sua morfologia e subseqüente padrão de desenvolvimento, há muito têm despertado o interesse por parte dos estudiosos, no que diz respeito ao seu diagnóstico e ao tratamento mais adequado a ser adotado. Considerando a importância desse assunto, esta revisão versará acerca dos aspectos gerais relacionados à cárie dentária, a histologia da lesão de cárie em esmalte e em dentina, aspectos relacionados às lesões de cárie em superfície oclusal, abordará alguns métodos indicados para a detecção e tratamento das referidas lesões e o estudo das lesões de cárie por meio da análise histológica. 2.1 ASPECTOS RELACIONADOS À DOENÇA CÁRIE DENTÁRIA Os países subdesenvolvidos e/ou emergentes estão experimentando um declínio muito pequeno nos níveis da doença cárie. No Brasil, está havendo uma importante redução no índice CPO-D em dentes permanentes de escolares nas áreas urbanas. Contudo, esse declínio não é homogêneo e não parece ser tão expressivo, existindo ainda um significativo ataque cariogênico na dentição decídua 75 . Esse quadro tem sido atribuído, sobretudo, a uma dieta com alto teor de carboidratos, associado a diversos fatores, tais como desigualdades entre classes sociais, nível de instrução e ausência de definição de uma política de saúde pública pelos governantes 100 . A cárie dentária é uma doença infecciosa de origem bacteriana 86, 96 e, por sua severidade e magnitude, constitui-se em um grave problema de saúde pública 31 . Os fatores que contribuem para o surgimento da cárie incluem Streptococcus mutans, pH salivar, dieta deficiente e a presença de superfícies dos dentes susceptíveis, além de esta doença estar fortemente relacionada ao estilo de vida do indivíduo, influenciada por fatores culturais e sócio – econômicos. Existem evidências de que fatores genéticos do hospedeiro conferem suscetibilidade ou resistência a esta doença 107 . Diferentemente da maioria das doenças infecciosas que acometem o homem, a cárie é o resultado de um desequilíbrio da microbiota 21 bucal nativa e não de um patógeno exógeno não nativo. A introdução de açúcar na dieta das sociedades abalou o equilíbrio entre a saúde e a doença 23 . De acordo com o modelo biopisicossocial, são três os fatores da doença cárie: o biológico, que está fundamentado na presença da bactéria Streptococcus mutans; o social, que sofre interferência da etnia, educação, família, trabalho e renda; e o psicológico, que é influenciado pelo conhecimento sobre saúde bucal, estresse, auto – eficácia e ponto de controle. Portanto, o acúmulo de biofilme bacteriano sobre a superfície dental por si só não é capaz de se tornar patogênico, necessitando para a instalação dessa afecção, a ocorrência de fatores mais abrangentes, como os processos psico – somático – ambientais desequilibrados, podendo ser intermediados por fatores comportamentais 48 . No que diz respeito ao Streptococcus mutans, este é facilmente reconhecido nos meios de cultura com altas taxas de sacarose, por desenvolver colônias rugosas, convexas, irregulares, opacas e enroladas em espiral, com uma morfologia geral com aspecto de amora. Todas as espécies desses microrganismos compartilham a capacidade de cultivar polissacarídeos extracelulares a partir da sacarose e de produzir polissacarídeos intracelulares a partir de carboidratos fermentáveis 54 . Um conceito atual define a cárie como uma doença de progressão contínua, que evolui a partir de uma condição subclínica, passa por alterações na subsuperfície do esmalte, culminando em lesões clinicamente detectáveis 97 . No entanto, como já discutido, a cárie dentária não se restringe apenas à presença de cavidades nas superfícies dentárias. É uma doença multifatorial 21, 88 e cujos sinais aparecem em função de uma alteração causada no processo de desmineralização/remineralização dos tecidos dentários, ocasionada por mudanças dinâmicas nas propriedades do biofilme dental. Isso promove como resultado uma cascata de eventos que leva à desmineralização dos tecidos dentários e início da formação da lesão de cárie 41, 87, 110 . A desmineralização dos tecidos dentários (esmalte, dentina e cemento) é ocasionada por ácidos, em especial o ácido láctico produzido pela fermentação bacteriana dos carboidratos da alimentação, geralmente a sacarose. A queda do pH acarreta dissolução do esmalte e transporte do cálcio e fosfato para o meio ambiente bucal. Esse processo pode ser compensado, já que os sistemas tampão da saliva e biofilme bacteriano, bem como a presença de flúor, determinam um equilíbrio entre a desmineralização e remineralização. Dessa forma, a cárie dentária é considerada um desequilíbrio decorrente da constante troca iônica (DES/RE), em favor da desmineralização. O processo carioso se inicia quando, por razões diversas, a saída de íons acaba sendo maior que sua reposição 21, 96 . 22 Como decorrência da perda mineral, ocorre o surgimento da lesão cariosa, que corresponde a um sinal da doença. Este sinal pode refletir clinicamente de diversas maneiras, desde opacidades no esmalte, difíceis de serem discernidas, até grandes cavidades que se estendem até a polpa dental. A manifestação clínica inicial da cárie dental caracteriza-se pelo surgimento de uma lesão de coloração branca e aspecto opaco, evoluindo para o aparecimento de uma cavidade ou tornando-se paralisada 10 . Quando diagnosticada nessa fase, pode-se intervir através de métodos terapêuticos não-invasivos (orientação de higiene, aplicação de flúor, selantes e proservação),paralisando o processo carioso e mantendo a estrutura dentária sadia 11 . No que diz respeito à progressão e às alterações ao nível morfológico da cárie dentária, estas possuem aspectos distintos de acordo com o tecido dentário afetado. Dessa forma, a microscopia da lesão de cárie deve ser dividida de acordo com os três tecidos dentários duros envolvidos (esmalte, dentina e cemento). No entanto, esta separação morfológica aparente raramente se observa na análise microscópica, já que o processo de cárie dentária dificilmente afeta única e exclusivamente um dos tipos de tecidos dentários. Ainda que a lesão de cárie atinja apenas o esmalte, alterações dentinárias e pulpares podem ser detectadas numa cárie incipiente. A morfologia da cárie dentária, além do tipo de tecido dentário envolvido, também se modifica microscopicamente quando se considera a superfície dentária afetada, a história pregressa da doença (se primária ou secundária), ou ainda, o grau de velocidade do processo (se agudo ou crônico) 27 . A associação entre experiência de cárie em molares decíduos e primeiros molares permanentes foi verificada através de um estudo conduzido por Feldens e colaboradores 42 , no qual foram avaliadas 100 crianças de 06 a 09 anos de idade atendidas no Curso de Odontologia da Universidade Luterana do Brasil, Canoas-RS. O exame físico foi conduzido por um único examinador treinado e calibrado (k=0,94). Os resultados mostraram correlação positiva (rS=0,336) e significante (p=0,001) entre o número de molares decíduos (ceo-MD) e primeiros molares permanentes (CPO-MP) cariados, perdidos e obturados. A análise de regressão logística após ajuste para possíveis fatores de confusão mostrou que a chance de cárie em primeiro molar permanente foi 06 vezes maior nas crianças com ceo-MD=6 a 08 em relação às crianças com ceo-MD= 0 a 02 e quase 05 vezes maior se houvesse ao menos um molar decíduo extraído em relação às crianças com todos os molares decíduos presentes. A variável com melhor acurácia e valor preditivo positivo para detectar experiência de cárie em primeiros molares permanentes foi apresentar pelo menos um molar decíduo extraído. Para os autores, a experiência de cárie em primeiros molares permanentes está fortemente associada à 23 perda precoce e à experiência de cárie em molares decíduos em crianças de 06 a 09 anos de idade, o que deve ser considerado na identificação de crianças alvo de programas preventivos nessa faixa etária. 2.2 HISTOLOGIA DA LESÃO DE CÁRIE DENTÁRIA 2.2.1 Lesão de cárie em esmalte Em virtude da anatomia peculiar da área das fissuras, a lesão se alarga ao se aproximar da dentina subjacente. As lesões de cárie não começam usualmente no fundo das fissuras. Mais freqüentemente ocorrem de maneira bilateral ao longo das paredes da cavidade. A localização pode, entretanto, ser muito variável. Em virtude do padrão peculiar de espalhamento, são observadas mais freqüentemente duas lesões de cárie independentes que se expandem divergentemente em direção à dentina. Com a expansão lateral na junção amelodentinária, a área de dentina envolvida é muito maior do que a de uma única lesão em uma superfície lisa. Diante disso, parte do esmalte circunjacente pode ser solapada, e isso seria visto clinicamente como uma extensão de uma área opaca ou pigmentada ao longo da fissura oclusal 113 . A cárie de esmalte, no sentido da superfície em direção à junção amelodentinária, apresenta as seguintes características, antes da formação de cavidade 26, 113 . 1) Camada superficial aprismática ou camada de Darling; 2) Corpo da lesão, com 10% a 25% de seu volume constituído por microporos; 3) Zona escura, com 2% a 4% de seu volume constituído por microporos; 4) Zona translúcida, com 1% de seu volume ocupado por microporos. Segundo Consolaro 26 a progressão da cárie de esmalte se faz na mesma direção dos prismas e das estrias incrementais de Retzius. Assim, o direcionamento em um corte microscópico de cárie de esmalte quando observado ao microscópio de luz, encontrar-se com seu contorno determinado pela distribuição destas duas estruturas. Quando ocorre o comprometimento da junção amelodentinária, independentemente da existência ou não de cavidade, muitos ácidos alcançam a dentina por difusão, podendo ser encontradas alterações dentinárias e/ou pulpares. Algumas características morfológicas locais e propriedades 24 inerentes à saliva podem determinar um equilíbrio momentâneo ou duradouro entre o processo de desmineralização e remineralização, podendo levar à regressão da própria cárie de esmalte ou a sua paralisação no estágio em que se encontre. Este tipo de cárie é denominado de inativa, crônica, marrom ou mais comumente cárie paralisada. Ainda de acordo com Consolaro 26 , na patogenia da cárie de esmalte, podem ser classificados seis estágios, determinados de forma mais precisa do ponto de vista microscópico e assim distribuídos seqüencialmente: 1) Estabelecimento da zona translúcida: anteriormente a ela, somente a microscopia eletrônica de transmissão permitiria a detecção de alterações no esmalte. A zona translúcida seria a primeira alteração morfológica específica do esmalte na cárie, visualizável ao microscópio de luz; 2) Surgimento da zona escura; 3) Visualização da formação do corpo da lesão; 4) Aparecimento da lesão branca: a parte orgânica estaria modificada e a dentina poderia apresentar-se alterada; 5) Estabelecimento de uma superfície gredosa no esmalte: nesta fase, e menos comumente na fase anterior, seria possível obter o sinal radiográfico inicial da cárie; 6) Formação de cavidade. Na superfície oclusal, a progressão do processo segue a orientação dos prismas lateralmente, assumindo uma forma triangular com base voltada para a junção amelodentinária, pela qual ocorreria o espalhamento da cárie, bem como resultaria em comprometimento da dentina, em maior ou menor grau 26 . 2.2.2 Lesão de cárie em dentina É sabido que o comprometimento da cárie em dentina possui uma atividade diferenciada da observada quando a lesão se encontra em nível de esmalte, além de, na dentina, o processo de iniciação e progressão da lesão de cárie ser mais complexo quando comparado ao esmalte. A estrutura particular da dentina, com composição diferente e ainda maior permeabilidade, faz com que o processo carioso se difunda de maneira mais agressiva neste tecido. No entanto, no momento em que o processo carioso se inicia, o organismo já está lançando mão de seus mecanismos de defesa através da formação de esclerose dentinária, 25 seguida de uma zona de desmineralização inicial, antes mesmo da presença de bactérias no interior dos canalículos dentinários. Com o avanço da lesão cariosa para o interior da dentina, com conseqüente infecção dos canalículos dentinários, ocorre a formação de uma zona de desmineralização avançada assumindo a forma de um cone invertido, afinando à medida que se aproxima da parede pulpar. Se não tratada (de maneira invasiva ou interceptadora), poderá progredir e futuramente comprometer a polpa dentária. Os efeitos patológicos da cárie levam a alterações na estrutura dentinária que podem ser observadas como trechos inertes, esclerose e/ou adição de dentina reparadora, comumente presentes nas lesões agudas ou crônicas em dentina 15, 89 . Consolaro 26 ressaltou que quando a cárie dentária compromete a junção amelodentinária, o processo sofre espalhamento em grande parte da superfície dentinária, como se estabelecesse um plano de clivagem entre o esmalte e a dentina, aumentando significativamente a área de contato e, em conseqüência, a disseminação dos produtos bacterianos e das próprias bactérias pelo tecido dentinário, minando e solapando gradativamente o esmalte sobrejacente. De acordo com o autor, o complexo dentinopulpar reage às agressões, especialmenteà cárie dentária, por meio de três mecanismos principais: 1) Submetendo seus canalículos à esclerose; 2) Estabelecendo a formação de dentina reacional na superfície interna; 3) Induzindo um processo inflamatório no tecido pulpar. A esclerose dentinária é o primeiro aspecto que se estabeleceria na cárie de dentina. A região da dentina esclerosada também pode ser denominada de zona translúcida ou transparente da cárie de dentina. A seguir ocorre, freqüentemente, em áreas de esclerose dentinária, uma desmineralização inicial, promovida por produtos bacterianos, tais como ácidos e enzimas, a qual precede a invasão bacteriana propriamente dita dos canalículos dentinários, para promover a desmineralização avançada e posterior destruição e desorganização total da dentina. Embora estes aspectos não possam ser identificados individualmente, em um mesmo corte microscópico de dentina, em decorrência das várias técnicas de preparo dos espécimes, a cárie poderia ser dividida morfologicamente, no sentido da polpa para a superfície em cinco regiões, de acordo com Consolaro 26 : 1) Zona de esclerose dentinária; 2) Zona de desmineralização inicial ou profunda; 26 3) Zona de invasão bacteriana; 4) Zona de desmineralização avançada ou superficial; 5) Zona de destruição e desorganização total. A impossibilidade de distinção entre as várias zonas de evolução da cárie de dentina, microscópica e/ou clinicamente, levou à necessidade de outros critérios de distinção entre uma dentina inicialmente cariada e uma dentina totalmente destruída. Assim, na cárie em dentina, podem ser distinguidos dois tipos de dentina comprometida, no sentido da superfície para a polpa 26 : 1) Dentina infectada: consistência mole, de cor amarelada, assemelhando-se a um queijo. Nesta dentina pode ser distinguida uma zona de dentina necrótica, desorganizada e amolecida. Microscopicamente, é observado um material granuloso, eosinófilo e em quase sua totalidade sem qualquer preservação estrutural, ou seja, praticamente amorfo. Uma outra região, mais profundamente localizada corresponderia à zona de dentina desmineralizada superficial, caracterizada pela deformação da morfologia canalicular e manutenção da matriz orgânica. A dentina infectada, desta forma, não poderia ser remineralizada; 2) Dentina contaminada: aparece como uma estrutura distorcida, mas com textura parcialmente mantida, assemelhando-se à do couro. Na dentina contaminada pode ser distinguida, da superfície para a polpa, em três regiões: uma zona de desmineralização profunda, localizada abaixo da zona de desmineralização mais superficial; uma zona de esclerose dentinária; e, freqüentemente, a dentina reacional, que juntas constituem a zona de dentina hipermineralizada. Na zona de dentina desmineralizada profunda, a matriz canalicular encontra-se preservada e intacta, podendo ser considerada remineralizável A estrutura da dentina terciária reparadora em dentes decíduos foi avaliada no estudo de Klinge 66 , utilizando cortes de 25 dentes decíduos para a produção de contatos microrradiográficos. Outros 30 dentes decíduos foram desmineralizados, embebidos em parafina, seccionados e corados com hematoxilina-eosina. Algumas secções desmineralizadas de cada dente foram também estudadas através da microscopia eletrônica de varredura. Muitos dos dentes mostraram algum tipo de formação de dentina terciária. Também pôde ser observado tecido mineralizado com algum tipo de variedade morfológica. Em dentes que haviam sido sujeitos a trauma foi possível observar, em algumas amostras, toda a câmara 27 pulpar obliterada. A mineralização pareceu iniciar na região incisal e a parte central da polpa foi a última parte a ser obliterada. Espaços vazios radiolucentes e canais foram observados. A matriz orgânica encontrada era densa e fibrosa. Na câmara pulpar e, especialmente, nos canais radiculares, ocorreu reabsorção, indicando que os sinais que davam origem aos odontoclastos também estavam presentes. A reabsorção foi, muitas vezes, seguida por deposição de grande quantidade de tecido reparador cementário. Acredita-se que as células responsáveis pela formação da dentina reparadora são os subodontoblastos ou células ectomesenquimais indiferenciadas. A morfologia variada da dentina reparadora observada na polpa dos dentes examinados indica que diferentes estímulos permitem a indução de células formadoras de tecido duro, as quais produzem diferentes tipos de tecido duro. 2.3 LESÃO DE CÁRIE EM SUPERFÍCIE OCLUSAL As lesões de cárie em superfície oclusal têm sido descritas na literatura 4 como as de maior dificuldade de diagnóstico devido à sua complexidade anatômica e à dificuldade de higienização, quando comparadas às superfícies lisas. Ademais, casos de cárie sob superfície hígida têm sido apontados como de significativa prevalência, o que requer mais cuidado por parte do cirurgião-dentista para um diagnóstico adequado bem como para a correta conduta terapêutica a ser realizada. A anatomia de fóssulas e fissuras proporciona uma maior facilidade para acúmulo de biofilme na superfície dentária, sobretudo durante o processo de erupção, uma vez que, abaixo do plano oclusal, esta superfície tem seu acesso dificultado durante o processo de escovação. Além disso, não participa do processo mastigatório e não está acessível à limpeza, realizada naturalmente pelas bochechas e pela saliva. Essas características tornam as superfícies oclusais mais suscetíveis à ocorrência de cárie, sobretudo tratando-se de molares. Segundo Newbrun 84 , a espessura do esmalte na base das fissuras profundas é mínima. Em muitos casos, estas se estendem praticamente até a dentina. Enquanto a espessura do esmalte nas demais áreas do dente varia entre 1,5 a 2,0 mm, na base das fissuras profundas ela é de 0,2 mm ou menos. Com relação à dentição decídua, os sulcos e fissuras nos dentes decíduos guardam proporções menores em profundidade quando comparados aos dentes permanentes. 28 Devido ao fato de as cicatrículas e fissuras apresentarem pequena dimensão, os microrganismos presentes nestas áreas não estão susceptíveis à interferência mecânica. No entanto, através da microscopia eletrônica de varredura realizada no biofilme bacteriano de fossas e sulcos, foi observado que a morfologia desse sistema influencia a viabilidade dos microrganismos nesta área. Evidências apontaram que microrganismos localizados nas áreas mais profundas das fissuras estreitas não sobrevivem, possivelmente devido à ausência de nutrientes, enquanto que, aqueles presentes nas regiões mais altas das fissuras e nos sulcos mais abertos, são metabolicamente ativos. Esta estrutura do biofilme bacteriano determina, até determinado ponto, a velocidade de progressão da cárie dentária, que é maior na entrada do que na base da fissura 19 . Diversos são os trabalhos encontrados na literatura que analisam diferentes métodos para diagnóstico de cárie, como o de Deery e colaboradores 34 , que analisaram o diagnóstico e o plano de tratamento para lesões de cárie oclusal através do tratamento restaurador ou pelo uso de selantes. Cento e sessenta dentes permanentes posteriores com cáries oclusais em diferentes profundidades foram examinados por vinte e cinco profissionais. Os autores constataram que, na dúvida sobre o diagnóstico, os profissionais não optam pelo uso de selantes como agente terapêutico. A relação entre a anatomia da superfície oclusal e a doença cárie foi o objeto de estudo de Valera e colaboradores 118 que realizaram um trabalho comparativo, partindo-se da hipótese nula de que não há diferença morfológica entre pré-molares e molares em relação à presença de cicatrículas e fissuras com a prevalência de cárie. Foram utilizados 22 dentes humanos extraídos, os quais foram seccionados e avaliados imaginologicamente quanto àpresença ou não de cicatrículas e fissuras e a prevalência de cárie em cada espécime obtido. Após a análise estatística, os dentes molares e pré-molares apresentaram-se estatisticamente iguais. No geral, os resultados mostraram uma prevalência de 22,5% de cicatrículas e fissuras, dentre as quais 92% encontravam-se cariadas, e apenas 34% dos sulcos e fossas apresentavam cáries. De posse desses resultados, os autores concluíram que, apesar da prevalência de cicatrículas e fissuras ter sido baixa, esta influenciou de forma direta na presença ou não de lesões cariosas. A prevalência de lesões de cárie oclusal sem cavitação foi verificada no estudo de Meirelles 76 , que teve como proposta constatar a prevalência de lesões de cárie oculta oclusal em escolares de 12 a 15 anos de idade através de métodos complementares de diagnóstico em levantamentos epidemiológicos. Para tanto, 179 escolares de 12 a 15 anos matriculados em 20 escolas públicas do município de Piracicaba foram selecionados. Após o exame visual 29 segundo os critérios da OMS (1997), 1290 dentes sem sinal de cavitação na superfície oclusal foram reavaliados por meio do exame visual com secagem prévia; exame radiográfico e com o auxílio do aparelho DIAGNOdent. A média do Índice CPO- D na população estudada foi de 2,3 e 32,5% dos escolares estavam livres de cárie segundo o exame visual. Das 1290 superfícies examinadas no exame visual, 918 superfícies oclusais foram diagnosticadas como hígidas. Destas, 241 (26,3%) apresentaram imagem radiolúcida sugerindo cárie em dentina pelo exame radiográfico. Das 41 superfícies que apresentaram escurecimento da dentina sob esmalte íntegro, 25 também apresentaram imagem radiolúcida sugerindo cárie em dentina. Incluindo as lesões em dentina diagnosticadas pelo exame radiográfico, o CPO-D dos escolares seria de 3,1 e apenas 13,4% dos escolares estariam livres de cárie. A prevalência de cárie oculta foi de 56,4%, com média de 1,68 superfícies oclusais afetadas por escolar. Quando comparados os resultados do exame com o aparelho DIAGNOdent em relação ao exame radiográfico, a sensibilidade foi de 64% e a especificidade de 74%. Diante dos resultados obtidos, concluiu-se que a prevalência de lesões de cárie oculta oclusal obtida através de levantamentos epidemiológicos sem o uso de métodos auxiliares está sendo subestimada. O autor afirma que estudos epidemiológicos que busquem estimar esta subestimação são importantes para contribuir para o planejamento dos serviços de saúde bucal. 2.4 DIAGNÓSTICO DE LESÕES DE CÁRIE OCLUSAL A área de cicatrículas e fissuras, em especial, a superfície oclusal, tem sido considerada pelos cirurgiões-dentistas como uma superfície de expressiva preocupação, em relação ao risco de cárie e diagnóstico, despertando, inclusive, discussões e experimentos sobre essa questão, nas últimas décadas. Dessa forma, o diagnóstico precoce da lesão de cárie torna-se de extrema importância, a fim de que tratamentos não invasivos sejam utilizados, preservando a integridade da superfície oclusal 91, 122 . Devido ao fato do aspecto da lesão de cárie vir se modificando com o tempo, a sua detecção está se tornando cada vez mais difícil. As dificuldades encontradas na clínica odontológica no que se refere ao seu diagnóstico não se encontram mais nas lesões avançadas, mas, principalmente, nas incipientes 28 . O diagnóstico precoce tornou-se um passo fundamental no delineamento do plano de tratamento. A intervenção em lesão incipiente evita 30 a progressão da cárie e consequentemente perda de estrutura dentária, além de possibilitar a indicação de tratamentos não-invasivos 109 . 2.4.1 Exame clínico visual e tátil O exame visual, que se baseia nos aspectos clínicos da superfície, ainda é o método mais difundido e utilizado pelos profissionais e acadêmicos, talvez pelo fato de ser mais vantajoso em relação aos métodos modernos em termos de custo e simplicidade 117 . Tem como fundamento os danos ocorridos nas estruturas dentárias, denominados de “cavidade”, ou seja, somente identifica lesões cariosas no estágio em que o procedimento invasivo restaurador torna-se necessário 13 . Há muitos anos, a prática do uso do explorador ou sonda vem sendo utilizada, alicerçada na teoria de que o sinal tátil de resistência do explorador seria considerado como sinônimo de presença de cárie. No entanto, comumente a sonda exploradora pode-se prender às fissuras dos dentes posteriores, sem cavitação macroscópica visível, devido à sua morfologia e não necessariamente, devido à lesão de cárie, provando que a morfologia da fissura interfere no diagnóstico da cárie oclusal. Logo, o uso do explorador não é considerado um método seguro para detectar a doença, além de possibilitar o rompimento da superfície de lesões incipientes e transmitir microrganismos cariogênicos para outros elementos da arcada dentária 3, 19, 80, 92, 93 . Portanto, compreende-se que o uso tradicional do explorador deve ser evitado, pois estudos demonstram que a superfície do esmalte hígida, porém descalcificada, ao ser sondada, pode ser rompida, facilitando ainda mais o acesso de microrganismos na região ou, se utilizado, o explorador deve ser de ponta romba e usado cuidadosamente, sem exercer pressão excessiva 10, 124 . O diagnóstico clínico deve ser realizado, preferencialmente, com a inspeção visual das superfícies, pois a doença apresenta sinais subclínicos que não podem ser detectados com a ponta do explorador 3 . O diagnóstico clínico baseado na inspeção visual das superfícies é sugerido como método de escolha, considerando textura, mudança de coloração e configuração anatômica do dente em questão, mais especificamente da superfície oclusal examinada. Para tanto, é imprescindível que se faça uma boa visualização, com o campo bem iluminado, pois esta verifica desde cárie incipiente até cavidades, estando cada quadrante isolado com roletes de algodão, as superfícies dentais limpas, livres de placa pela profilaxia, secas e bem iluminadas 19, 44, 92, 124 . 31 Segundo Bastos e colaboradores 10 , o diagnóstico realizado somente por meio da sondagem é um método incompleto, que começa a perder seu espaço na Odontologia. Ainda assim, o método visual é imprescindível para qualquer exame, já que entre todos, é o único que apresenta a capacidade de estimar se a lesão é inativa ou ativa. Essa técnica, se utilizada isoladamente, não apresenta segurança necessária para fechar um diagnóstico, devendo sempre que possível, ser complementada com uma técnica auxiliar, seja a radiografia tradicional ou digital, de forma a dar uma maior segurança ao profissional. Visualmente, observa-se que a lesão inicial é caracterizada pela perda de translucidez do esmalte, que adquire aparência de uma lesão branca, com superfície rugosa, sem brilho e sem cavitação. Nesta ocasião, a lesão ainda é passível de remineralização, pode tornar-se inativa, com aspecto branco – brilhante ou ainda com diferentes tonalidades que vão do castanho ao preto, em função da incorporação de pigmentos exógenos e minerais 3 . A concordância entre examinadores quanto ao diagnóstico e tratamento da cárie de superfície oclusal sem cavitação de 38 superfícies de primeiros molares permanentes totalmente erupcionados foi avaliada por Amaral e Silva 2 . Participaram do estudo 14 examinadores, sendo 12 alunos e 2 professores do curso de pós – graduação da Faculdade de Odontologia de Anápolis. Cada examinador realizou os exames clínico e radiográfico dos elementos dentários e, a partir disso, tendo que optar por tratamento invasivo ou não – invasivo. A concordância entre os examinadores girou em torno de 63% para o diagnóstico e 76% para o tratamento. Os autores concluíram que há dificuldade de padronização do diagnóstico clínico desta superfície (oclusal), o que pode acarretar indicaçõeserrôneas de tratamento, muitas vezes irreversíveis. Um estudo in vitro enfocando métodos de diagnóstico clínico de lesão de cárie oclusal foi realizado por Zanardo e Rego 121 . Os autores analisaram faces oclusais de 32 dentes humanos extraídos, utilizando-se o método visual, radiografia interproximal convencional, transiluminação por fibra óptica (FOTI), laser diodo (DIAGNOdent‚) e radiografia digital direta (RDD). Os resultados obtidos entre diferentes métodos foram comparados com o exame histológico (padrão ouro). Os resultados revelaram que, para lesões com demineralização em esmalte, o método que apresentou maior sensibilidade em profundidade foi a inspeção visual, com diferença significativa para os demais métodos, com exceção para associação de inspeção visual e radiografia interproximal. Para a desmineralização em dentina, a inspeção visual apresentou maior sensibilidade, com diferença para radiografia interproximal convencional e sem diferença significativa para os demais métodos. Os autores concluíram que o método mais sensível foi a inspeção visual (0,67), seguindo-se associação da inspeção 32 visual com a radiografia interproximal (0,58). O método que apresentou menor sensibilidade foi a radiografia interproximal (0,41). Os métodos mais específicos foram a associação da inspeção visual com a radiografia interproximal (0,90) e a transiluminação por fibra óptica (0,90). O método com menor especificidade foi a radiografia digital direta (0,30). Outro estudo in vitro também foi realizado por Santos e Moimaz 105 , que avaliaram os métodos de inspeção visual e o uso do laser fluorescente DIAGNOdent, em sessenta e seis sítios oclusais, num total de 48 dentes. Quanto ao exame visual, este se apresentou com uma sensibilidade de 0,87, especificidade de 0,38 e 0,81 de acurácia, no que se refere à presença de lesão e ausência de lesão. Para lesões em dentina, obtiveram-se no exame visual valores de 0,76 de sensibilidade, 0,45 de especificidade e 0,61 para acurácia. Os autores constaram que o exame visual foi o melhor para diagnosticar sítios oclusais hígidos. Diferentemente dos estudos supracitados, os autores Mialhe, Bosquiroli e Silva 81 avaliaram o conhecimento de cirurgiões – dentistas de consultórios particulares da cidade de Cascavel – PR, acerca dos métodos modernos e os tradicionais de diagnóstico de cárie bem como de que forma esses profissionais estão utilizando os métodos tradicionais. Os pesquisadores constataram que a maioria dos profissionais utilizava a sonda exploradora de ponta aguçada durante o exame visual (88,6%), predispondo superfícies dentárias previamente desmineralizadas a danos irreversíveis; menos da metade (45,7%) afirmaram realizar profilaxia prévia ao procedimento, o que leva a redução da eficácia desse exame, predispondo-os à realização de um maior número de diagnósticos falso – positivo e falso – negativo. 2.4.2 Exame radiográfico interproximal O exame radiográfico é um método auxiliar de diagnóstico amplamente empregado pelo cirurgião – dentista, desempenhando um relevante papel na prática clínica em razão de sua reconhecida importância no diagnóstico 124 . É de grande valia no diagnóstico de cárie, sendo inúmeros os estudos que comprovam que sua eficácia é equivalente ou maior do que o sistema radiográfico digital. Este exame não foi, durante muito tempo, considerado alternativa de escolha como auxiliar no diagnóstico de cáries oclusais. Atualmente este conceito está sendo alterado, devido às modificações apresentadas no comportamento da doença, e o exame radiográfico tem sido considerado de grande valia, principalmente para o diagnóstico de lesões em dentina 29 . 33 O uso de Raios – X melhora a capacidade do profissional diagnosticar de maneira correta lesões de cárie. Contudo, a realização de radiografias bite – wing ou periapicais em massa acompanhando os exames clínicos e epidemiológicos é bastante discutível. A atitude correta é reduzir ao mínimo possível o emprego de radiações ionizantes, com a finalidade de aplicar as menores doses possíveis quando for inevitável a exposição do paciente 96 . Algumas precauções devem ser tomadas durante a interpretação radiográfica, pois somente lesões que avançam mais de 0,5 mm da junção amelodentinária em direção à polpa é que são susceptíveis à visualização na radiografia interproximal. Pode haver superposição de cárie na superfície vestibular e/ou lingual/palatina em dentina. Além disso, as radiografias podem subestimar o tamanho das lesões pela projeção de esmalte hígido da superfície vestibular e/ou lingual/palatina 102 . O exame radiográfico é um recurso essencial para diagnóstico de processos cariosos, primando pela qualidade do exame. Os autores advertem para o fato de os Raios-X produzirem uma imagem bidimensional, portanto, sem uma distinção exata da superfície saudável da cariada, por não fornecerem a profundidade ou a extensão das lesões em seu formato real 55 . O exame radiográfico no diagnóstico de cárie é objeto de estudo em diversas pesquisas, como a dos autores Torriani, Gonçalves e Vieira 115 , que compararam em seu trabalho as decisões de tratamento restaurador de superfícies oclusais, sem cavitação, quando realizadas através dos aspectos clínicos e radiográficos, convencional e digitalizado. Para tal, foram examinados 33 sítios das superfícies oclusais de 30 molares permanentes extraídos, com e sem pigmentação. O plano de tratamento para cada região foi realizado por 05 cirurgiões-dentistas, professores universitários, utilizando dois tipos de exames: exame visual de fotografias e radiografia interproximal convencional (IV + RXC); e exame visual de fotografias e radiografia digitalizada (IV + DIGORA). O padrão de validação para os planos de tratamento foi realizado através do aspecto histológico. A sensibilidade em determinar a não-necessidade de tratamento restaurador foi, em média, tanto para a IV + RXC quanto para a IV + DIGORA, de 0,23. A especificidade foi, em média, de 0,83 e 0,86, para a IV + RXC e IV + DIGORA, respectivamente. Quando se comparou os planos de tratamento intra- examinadores, não foi encontrada diferença estatisticamente significante a nível de 5%. Baseado nestes dados, os autores concluíram que os métodos radiográficos, convencional e digitalizado, não demonstraram diferenças na efetividade da determinação do plano de tratamento de superfícies oclusais sem cavitação. 34 A sensibilidade e a especificidade do exame clínico visual para a detecção de lesões de cárie oclusais em comparação com as radiografias interproximais foram testadas em pesquisa in vivo, por Fracaro e colaboradores 45 . Cinco examinadores avaliaram 481 crianças com idades de 5 a 12 anos, onde obtiveram 1.929 superfícies oclusais dos primeiros e segundos molares permanentes para o estudo. Os critérios para a classificação clínica das lesões de cárie foi o seguinte: 0- Hígido; 1 – Descoloração de esmalte após secagem; 2 – Desmineralização visível depois da secagem; 3 – Desmineralização em descoloração visíveis sem secagem; 4 – Pequena cavidade na superfície oclusal, detectável com explorador ou presença de descoloração acinzentada na dentina; 5 – Nítida cavidade na dentina. As radiografias interproximais foram realizadas imediatamente após os exames clínicos, com filmes radiográficos convencionais Ultraspeed (Kodak). Os resultados mostraram que em 96%, os achados clínicos eram coincidentes com os achados radiográficos na avaliação da superfície hígida, apontando para uma boa sensibilidade. Por outro lado, a especificidade teve um índice de 0,58 uma vez que apenas 58% das lesões de cárie consideradas clinicamente como na dentina foram confirmadas como radioluscência no exame radiográfico. Os autores concluíram que para as superfícies oclusais os exames clínicos foram mais confiáveisque os exames radiográficos. Comparar o desempenho diagnóstico do exame radiográfico convencional com o sistema digital foi objetivo de Tovo e colaboradores 116 , que avaliou em seu estudo o desempenho diagnóstico do exame radiográfico convencional (Ekaspeed plus) do sistema digital (Digora). Observou que o método radiográfico convencional foi tanto ou mais sensível que o sistema digital, diagnosticando todas as lesões e também lesões dentinárias, porém de menor acurácia quando comparados com as modalidades de imagem digital. O mesmo objetivo teve Lambert 69 , que em 2004 comprovou em pesquisa visando comparar a radiografia convencional e digitalizada nos processos de desmineralização/remineralização do esmalte dentário, que ambos os métodos apresentaram baixa sensibilidade, encontrando porcentagens de 3,5% para o exame radiográfico visual convencional, 7,89% para o digital visual sem uso de recursos, e 9,65% para o digital com recursos, utilizando a análise estatística pelo método t de Student. Com relação à especificidade, todos os métodos apresentaram valores idênticos. O desempenho da inspeção visual, radiografia interproximal e fluorescência a laser no diagnóstico de lesões cariosas oclusais de 72 dentes permanentes posteriores foi comparado por Valera e colaboradores 119 em um estudo in vitro . Quanto à radiografia interproximal, os resultados mostraram que esse método apresentou dentre os três, a menor sensibilidade 35 (15%), em contrapartida do exame visual (64%) e o laser (59%), bem como a menor especificidade (89%), contra o exame visual e o laser, ambos com 96%. O exame radiográfico foi o único método a apresentar baixa reprodutibilidade intra – examinador (0,74). Os autores concluíram que os métodos de inspeção visual e a fluorescência a laser são, entre os três métodos estudados, os mais indicados para diagnóstico de lesões cariosas oclusais. Avaliar a influência do treinamento e da experiência do examinador no diagnóstico radiográfico de cáries proximais, utilizando-se 80 dentes hígidos ou portadores de cáries proximais foi objetivo de Carmona e colaboradores 24 . As radiografias foram avaliadas por três examinadores: um examinador realizou duas avaliações – uma antes de iniciar a disciplina de Radiologia, e outra após ter concluído a disciplina -, um segundo examinador, que realizou a avaliação após ter cursado a disciplina, e um terceiro, radiologista. Os resultados obtidos mostraram que na avaliação inicial do primeiro examinador a sensibilidade foi 0,72, a especificidade 0,25 indicando alto número de respostas falso-positivas. Após a disciplina de Radiologia, os resultados foram semelhantes para ambos os alunos. O especialista apresentou os maiores valores de especificidade (0,85) e acurácia (0,69). Os autores concluíram que a experiência do examinador influenciou no diagnóstico radiográfico da cárie dentária. 2.5 TRATAMENTO CONSERVADOR DE LESÕES DE CÁRIE OCLUSAL Com a evolução do conhecimento sobre a doença cárie dentária, especialmente da compreensão desta como uma doença e não meramente como lesões (manchas e cavidades), têm surgido inúmeras propostas para controlá-la 41 . Esse modelo de atuação distancia-se, então, do modelo cirúrgico-restaurador previamente proposto, para satisfazer a um modelo de promoção de saúde, que prima por garantir ao indivíduo formas de se livrar da doença e se manter com saúde. Além disso, de tal maneira, evita-se a ocorrência do ciclo restaurador repetitivo 37 , uma vez que a cada troca de restauração tende-se a incorrer na perda de estrutura dentária sadia 106 . A escolha por uma ou outra modalidade de tratamento, por sua vez, deve estar atrelada ao diagnóstico da doença (atividade e risco) associado ao conhecimento do comportamento dos agentes etiológicos específicos em cada paciente, assim como à detecção dos sinais da 36 doença em sua cavidade bucal. Dessa forma, o diagnóstico é essencial para a escolha da terapêutica 85 . A remoção total do tecido dentário atingido foi, durante muito tempo, a terapêutica preconizada e adotada pelos cirurgiões-dentistas para lesões de cárie. Os preparos cavitários preconizados por Black no final do século XIX deram início à era da Odontologia Restauradora baseada nos princípios de extensão preventiva, que incluía a abertura de fossas e fissuras hígidas, com posterior restauração, no intuito de prevenir o aparecimento de lesões de cárie nessas regiões 71 . Essa filosofia perpetuou-se, de certa forma, até as décadas de 80 e 90, quando ainda era indicava a invasão de sulcos e fissuras escurecidos, antes da aplicação de selantes, também com cunho preventivo 64 . Com a introdução da “mínima intervenção” na Odontologia, o tratamento de lesões que eram diagnosticadas precocemente, em estágios iniciais no esmalte e/ou dentina, passou a envolver procedimentos e condutas de paralisação do processo carioso e acompanhamento clínico, enquanto em estágios mais avançados, elegiam-se os procedimentos “minimamente invasivos”, ou seja, procedimentos restauradores conservadores da estrutura dental, destacando-se o tratamento da doença cárie, através do controle de seus fatores etiológicos 68 . Além de evitar o desgaste desnecessário de tecidos sadios, esse tipo de conduta também proporciona maior conforto ao paciente 82 , fatores que sempre devem ser buscados no tratamento odontológico 64 . Os selantes de fossas e fissuras são materiais desenvolvidos com o intuito de serem aplicados sobre a superfície oclusal de dentes suscetíveis ao desenvolvimento de lesões de cárie. Eles agem recobrindo as fossas e fissuras e formando uma camada que impede o acúmulo de resíduos alimentares e a formação do biofilme nessas áreas anatômicas de difícil controle de higiene, prevenindo assim o desenvolvimento da lesão de cárie 67 . O uso de selantes na prevenção de cárie apresenta uma forte evidência em relação à sua efetividade, comprovada por uma série de estudos clínicos e revisões sistemáticas 52, 87 . No entanto, sua eficácia tem sido maior em indivíduos de alto risco, sugerindo que os selantes têm mais uma função terapêutica, na paralisação de lesões de cárie em progressão, do que uma preventiva, sobre superfícies oclusais hígidas 64 . Isso é suportado pelas novas teorias que defendem que o biofilme dentário sobre a superfície da lesão de cárie é fator etiológico fundamental para o avanço das lesões cariosas, e não as bactérias presentes no interior do tecido cariado. Assim sendo, a aplicação de um selante sobre lesões de cárie, mesmo sem a remoção de tecido cariado, reduziria o acúmulo de biofilme sobre a superfície e proporcionaria a paralisação dessas lesões. De fato, desde a 37 década de 70, diversos estudos têm sido realizados utilizando os selantes resinosos no tratamento de lesões de cárie 55, 57, 59 . Os resultados mostraram que esse material pode ser aplicado sobre lesões que atingem esmalte e/ou dentina, proporcionando a paralisação e o controle destas, ao mesmo tempo em que promove a preservação da estrutura dentária 64 . Os selantes, avaliados sob a ótica da promoção de saúde, constituem-se em uma maneira não invasiva de controle de alguns dos fatores etiológicos da doença cárie, atuando como barreira mecânica que impede o contato entre o biofilme e a superfície dentária. Assim, conseguem minimizar a retenção do biofilme na entrada das fissuras, que é fator crucial para o desenvolvimento de lesões de cárie 110 . Por ter essa atuação pontual, deve ser indicado com critério, em superfícies que realmente necessitem desse tipo de controle e, também, não deve ser separado da questão educativa, a qual estaria atuando em outros aspectos da etiologia complexa apresentada pela doença cárie 18, 64 . Revisões sistemáticas em relação à remoção do tecido cariado têm sido conduzidas em estudo
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