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Rebeca Noronha – Medicina MARC – ALTERAÇÕES MAMÁRIAS Objetivos: 1. Diferenciar os tipos de nódulo mamário no exame físico, de imagem e na biópsia 2. Compreender os fatores de risco, manifestações clínicas e complicações dos nódulos mamários e do câncer de mama 3. Entender como são feitos o diagnóstico e o diagnóstico diferencial das alterações mamárias 4. Compreender como é feito o manejo e o rastreio das alterações mamárias →Nódulo mamário Na ultrassonografia de mamas, nódulos benignos têm achados como contorno regular ou macrolobulado, forma definida, oval, redonda ou elipsoide e os nódulos malignos têm achados como contorno irregular, presença de sombra acústica posterior, orientação vertical e forma irregular. O autor chegou à conclusão de que as características propostas pelo BIRADS-US, em ordem crescente de importância, em seu trabalho foram: sombra acústica posterior, presença de microcalcificações no interior dos nódulos, orientação não paralela, alteração do tecido ao seu redor e limites da lesão, representados pela presença ou não de halo ecogênico. Este último teve maior impacto na diferenciação das lesões. Na mamografia, os nódulos devem ser analisados de acordo com o tamanho, contorno, limites e densidade. • Forma - os nódulos são estruturas tridimensionais ovóides e esferóides que, na mamografia, apresentam-se com forma ovalada e arredondada, pela projeção em um plano (filme). • Tamanho - no caso das lesões não-palpáveis este parâmetro é de importância relativa, pois os nódulos diagnosticados apenas pela mamografia apresentam pequenas dimensões. No caso dos nódulos ovalados, pode-se utilizar como medida o maior eixo; no caso dos nódulos arredondados, a medida representa o diâmetro. Rebeca Noronha – Medicina • Contorno - os nódulos podem apresentar contorno regular, lobulado, microlobulado, irregular e espiculado. A suspeita de malignidade aumenta em função da ordem citada acima. • Limites - os limites representam a relação do nódulo com as estruturas vizinhas e podem ser definidos, parcialmente definidos ou pouco definidos, quando a relação com as estruturas vizinhas é identificada em mais de 75%, entre 25 e 75% e menos do que 25% do contorno do nódulo, respectivamente. Teoricamente, limites mal definidos são mais sugestivos para malignidade do que limites parcialmente definidos e limites definidos. • Densidade - os nódulos podem ser densos, isodensos ao parênquima mamário, com baixa densidade, com densidade de gordura e com densidade heterogênea. Nódulos malignos geralmente têm densidade elevada, linfonodos intramamários têm densidade baixa, lipomas e cistos oleosos têm densidade de gordura e fibroadenolipomas têm densidade heterogênea. Rebeca Noronha – Medicina Ao exame físico, o nódulo maligno apresenta-se endurecido, com limites indefinidos e aderido a estruturas adjacentes. Podem se encontrar fatores associados: alteração cutânea, fluxo papilar suspeito, linfadenomegalia axilar e supraclavicular. Nos cistos, apresentam-se como nódulos amolecidos, de bordas lisas e bem definidas. Nos fibroadenomas, são tumores firmes, elásticos, apresentando bordas regulares e lisas. →Rastreamento - Mamografia • Exame clínico das mamas a partir dos 40 anos. • Mamografia para mulheres entre 50 e 69 anos, com intervalo máximo de dois anos entre os exames. • Exame clínico das mamas e mamografia anual, a partir dos 35 anos, para mulheres do grupo de risco. Rebeca Noronha – Medicina →Avaliação das mamas É impossível distinguir a massa mamária entre benigna e maligna, ou cística e sólida pelo exame clínico. Entretanto, os achados do exame, interpretados em conjunto com a imagem e o exame patológico (teste triplo), contribuem significativa- mente para as decisões sobre o tratamento. Exame clínico: Embora apenas com o exame clínico não seja possível excluir a possibilidade de câncer, a observação de que a massa apresenta características benignas, como consistência macia, formato arredondado e mobilidade, influenciará a decisão final de extirpar ou observar a lesão. A avaliação também deverá incluir exame cuidadoso de axilas, fossa infraclavicular e fossa supraclavicular. Diagnóstico por imagem: mamografia e ultrassonografia Biópsia de mama: A avaliação de uma massa sólida de mama é finalizada com biópsia por agulha. Essas biópsias devem ser realizadas após exame de imagem ou, no mínimo, duas semanas antes do exame de imagem, uma vez que o trauma tecidual resultante pode produzir artefatos de imagem que simulam malignidade. As opções incluem biópsia por punção aspirativa com agulha fina (PAAF) ou biópsia por agulha grossa. A tendência dos últimos anos tem sido a preferência por biópsia com agulha grossa. Embora a PAAF demande menos tempo para sua realização e tenha custo menor do que a biópsia por agulha grossa, a probabilidade de que produza um diagnóstico específico é menor e apresenta taxa mais alta de amostragem insuficiente. A PAAF extrai grupos de células epiteliais que podem ser interpretadas como benignas ou malignas, além de não permitir diferenciar, com certeza, entre lesões proliferativas benignas e neoplasias fibroepiteliais, ou entre carcinoma ductal in situ e câncer invasivo. Por outro lado, a biópsia por agulha grossa é realizada usando um dispositivo automatizado que retira um fragmento de cada vez, ou um dispositivo assistido a vácuo que, uma vez posicionado, coleta múltiplos fragmentos. A biópsia por agulha de massas sólidas é preferencialmente realizada antes da excisão, já que Rebeca Noronha – Medicina os resultados da biópsia contribuem de forma significativa para o planejamento cirúrgico Teste triplo: A combinação de exame clínico, de imagem e biópsia por agulha é denominada teste triplo. Quando todas essas avaliações sugerem lesão benigna ou câncer de mama, o teste triplo é considerado concordante. Um teste triplo concordante benigno é 99% acurado, e os nódulos mamários nessa categoria podem ser acompanhados apenas com exame clínico a cada seis meses. Se qualquer uma das avaliações sugerir malignidade, o nódulo deve ser retirado independentemente dos resultados das outras duas avaliações. →Cistos A maioria dos cistos mamários forma-se a partir de metaplasia apócrina de ácino lobular. São decorrentes do processo fisiológico de involução das mamas, havendo dilatação e acúmulo de secreção em uma unidade ductolobular terminal. São lesões arredondadas, bem delimitadas e móveis. No ultrassom apresentam-se por lesões anecoicas com reforço acústico posterior. Os cistos de mama são diagnosticados e classificados a partir de exame ultrassonográfico. Existem três tipos de cistos: simples, complicado e complexo. Os cistos simples são sonoluscentes, com margem definida e reforço acústico posterior. Essas lesões não exigem tratamento ou monitoramento especial, mas podem ser aspiradas, se forem dolorosas. Os cistos recorrentes podem ser submetidos a novos exames de imagem e à nova punção com aspiração, mas caso sejam sintomáticos a melhor conduta é sua excisão. Os cistos complicados apresentam ecos internos à ultrassonografia e algumas vezes não é possível distingui-los de massas sólidas. Em geral, os ecos internos são causados por resíduos proteicos, mas todos os cistos complicados devem ser aspirados. O material aspirado pode ser submetido à cultura, se for purulento, ou à citologia, se houver características clínicas ou imagem preocupantes. Se a anormalidade ultrassonográfica não se resolver por completo com a aspiração, deve-se realizar biópsia por agulha grossa. Os cistos complexos apresentam septações ou massasintracísticas ao exame Rebeca Noronha – Medicina ultrassonográfico. A massa intracística geralmente é um papiloma, mas carcinoma medular, carcinoma papilar e alguns carcinomas ductais infiltrantes podem se apresentar como cistos complexos. Embora alguns autores tenham defendido biópsia por agulha grossa para avaliação de cistos complexos, esse procedimento pode descomprimir o cisto, dificultando sua localização no momento da cirurgia. Além disso, as lesões papilares diagnosticadas por biópsia com agulha terão que ser removidas. Assim, parece razoável recomendar a excisão de todos os cistos complexos. →Fibroadenoma Os fibroadenomas representam uma anormalidade focal no desenvolvimento de um lóbulo mamário e, como tal, não são neoplasias verdadeiras. Histologicamente, são constituídos por estruturas glandulares e epiteliais císticas envolvidas por estroma celular. Os fibroadenomas classificados como benignos no teste triplo concordante podem ser acompanhados com segurança sem excisão. Em razão de alguns fibroadenomas crescerem bastante e de os tumores filoides benignos frequentemente serem indistinguíveis dos fibroadenomas por exame de imagem Rebeca Noronha – Medicina ou por biópsia com agulha, um fibroadenoma que esteja crescendo deve ser excisado. →Tumores filoides Histologicamente, os tumores filoides são similares aos fibroadenomas uma vez que os espaços revestidos por epitélio também estão envoltos por estroma celular. No entanto, nos tumores filoides, as células estromais são monoclonais e neoplásicas. A característica mais marcante é o risco de deformidade mamária. Esses tumores são classificados como benignos, intermediários ou malignos, com base em grau de atipia das células estromais, número de mitoses, características das margens do tumor e abundância de células estromais. Os tumores filoides malignos podem produzir metástase para órgãos distantes, e o pulmão é o sítio primário. As radio- grafias simples ou a tomografia computadorizada do tórax fazem parte dos exames para estadiamento nos casos malignos. É raro os tumores filoides produzirem metástase para linfonodos e, portanto, não há necessidade de estadiamento axilar, exceto se houver linfonodos clinicamente envolvidos. O tratamento consiste na excisão local com margem mínima de 1 cm. A mastectomia pode ser necessária para que se obtenha essa margem, uma vez que o tamanho médio do tumor é 5 cm. →Papiloma Lesão proliferativa epitelial da mucosa dos ductos maiores, subareolares, em geral única e se manifesta como fluxo papilar hemorrágico, espontâneo e Rebeca Noronha – Medicina intermitente, associado ao espessamento retropapilar. A principal causa de derrame papilar sanguinolento é o papiloma. **O derrame papilar do câncer de mama é do tipo “água em rocha”. O papiloma em si é uma lesão benigna, mas corre um risco significativo de abrigar carcinoma in situ concomitante, por isso preconiza-se biópsia por agulha grossa para identificação da lesão e, se confirmada, exérese cirúrgica. O papiloma intraductal, apesar de ser uma lesão benigna, é considerado um marcador de risco para câncer de mama. →Fatores de risco – Câncer de mama Todo câncer de mama tem origem genética, ou seja, em decorrência de uma alteração, hereditária ou adquirida, no DNA da célula mamária. Esta perde sua capacidade de reparo do DNA e de autorregulação da morte celular. Consequentemente, a perda de controle da proliferação leva a crescimento indiscriminado daquele clone de células, as quais, à medida que se tornam mais indiferenciadas, adquirem capacidade de invadir tecidos vizinhos e de enviar metástases à distância são a cadeia linfática axilar e a via hematogênica. Os principais genes identificados nesse processo são BRCA1 e BRCA2, associados à chamada SPHCMO (Síndrome de Predisposição Hereditária ao Câncer de Mama e Ovário); o p53, associado à síndrome de Li-Fraumeni; o PTEN, associado à síndrome de Cowden. No entanto, nem todas as mulheres com células geneticamente alteradas desenvolvem câncer de mama. Sabe-se que, além do dano ao DNA, alguns fatores estimulam essas células a se reproduzirem, são os chamados fatores de promoção, e o principal envolvido no carcinoma de mama é o estrogênio. Este, portanto, não causa lesão genética, mas estimula a proliferação de células previamente alteradas. Assim, os fatores de risco para o câncer de mama são aqueles que aumentam a chance de a mulher ser geneticamente alterada ou que a submetam à exposição estrogênica prolongada. Os principais são: Sexo: proporção entre mulheres e homens em cerca de 135:1 Rebeca Noronha – Medicina Idade: maior risco em mulheres acima de 40 anos. Menarca precoce e menopausa tardia. História reprodutiva: maior risco para nuligestas e menor para as que tiveram a 1ª gestação antes dos 30 anos. Terapia de reposição hormonal: mulheres que usam têm 26% a mais de risco. Contraceptivos hormonais orais: aumento discreto no risco. Radiação ionizante: irradiação torácica antes dos 30 anos aumenta em cerca de 3x o RR. *A radiação da mamografia não aumenta o risco. Câncer de mama prévio. Lesões mamárias com atipia. Antecedente familiar com câncer de mama. História comprovada de hereditariedade. Obesidade e álcool: sobretudo na pós-menopausa. Densidade mamária aumentada: mulheres com mamas densas pós-menopausa tendem a apresentar um risco de câncer de mama maior do que o das que apresentam mama lipossubstiuídas. →Quadro clínico Os nódulos são palpáveis quando acima de 1cm, endurecidos e em geral indolores, e podem estar aderidos a planos profundos e, mais raramentem apresentam-se com descarga papilar, normalmente uniductal e com aspecto “em água de rocha”. →Exames complementaras Os mais comumente empregados na detecção do câncer de mama são mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética. O laudo de cada um deles deve seguir o BI-RADS. Os nódulos sugestivos de malignidade tem contornos espiculados, mas também podem apresentar contornos mal definidos ou ser estriados. À ultrassonografia, Rebeca Noronha – Medicina apresentam contornos irregulares e diâmetro anteroposterior maior do que o transverso. ➔ Tipos histológicos →Carcinoma lobular in situ O carcinoma lobular in situ não está associado a quaisquer características mamográficas ou palpáveis específicas, por isso só é diagnosticado incidentalmente. O CLIS clássico tradicionalmente não é visto como precursor direto de câncer de mama, mas sim como um marcador de risco aumentado. Isto porque os cânceres de mama subsequentes desenvolvem-se com frequência quase igual em ambas as mamas. O carcinoma lobular in situ tende a ser multifocal e bila- teral. Portanto, a excisão local com margens cirúrgicas livres de doença quase sempre é impossível e desnecessária. Consequentemente, as opções de tratamento incluem acompanhamento com reforço na vigilância, quimioprevenção ou mastectomia profilática bilateral. O acompanhamento deve incluir exames clínicos e mamografia duas vezes ao ano, alternando com ima- gem por ressonância magnética (RM) de rastreamento. A maioria das pacientes com CLIS rejeita a mastectomia profilática bilateral. No entanto, para aquelas com CLIS e história familiar de câncer de mama, ou para aquelas que continuam necessitando de múltiplas biópsias, a opção por mastectomia frequentemente é bem-vinda. →Carcinoma ductal in situ No carcinoma ductal in situ as células cancerosas preenchem porções de um sistema ductal mamário sem invadir sítios além da membrana basal do ducto. Hoje, o CDIS é classificado como câncer de mama de estádio 0. O tratamento principal do CDIS é excisão ampla com margem nega- tiva. Para tanto, talvez haja necessidade de mastectomia se o CDIS for extenso ou sehouver outras contraindicações à conservação da mama. Quando for possível a conservação da mama, a irradiação pós-operatória da mama reduzirá a taxa de recorrência local de 18 para 9%, sendo este o tratamento adjuvante-padrão. Rebeca Noronha – Medicina Recomendam-se cinco anos de administração de tamoxifeno para os casos de CDIS positivo para receptor de estrogênio, tratados com conservação da mama. Embora o tamoxifeno não esteja associado a aumento estatisticamente significativo na taxa de sobrevivência geral, ele reduz de forma significativa a incidência de câncer invasivo ipsilateral e também reduz o risco de câncer de mama contralateral. **Doença de Paget do mamilo: Esse tipo de CDIS apresenta-se como rash eczematoso focal do mamilo. Células do carcinoma ductal, em resposta a substâncias quimioatrativas secretadas por células da derme, migram para a superfície do mamilo provocando rachadura na pele. A condição é de fácil diagnóstico histológico após a excisão da ponta do mamilo afetado sob bloqueio anestésico local de aréola/mamilo. O tratamento inclui excisão ampla com margens nega- tivas. A conservação da mama, que requer ressecção central mamária incluindo o complexo mamilo- aréola e toda a área subjacente identificável como comprometida pela doença, é se- guida por radioterapia pós-operatória na mama. O estadiamento axilar por biópsia do LNS não é necessário, exceto se um componente invasivo for identificado ou tiver sido realizada mastectomia total. →Tratamento Cirurgia: pode ser conservadora(quadrantectomia/setorectomia) ou radical (mastectomia). Em ambas as técnicas cirúrgicas, deve ser empregada a técnica do linfonodo-sentinela (salvo nas contraindicações) Radioterapia: obrigatória sempre que se opta pela cirurgia conservadora e em casos de tumores grandes e localmente avançados, maiores do que 3cm. Quimioterapia: pode ser neoadjuvante (quando aplicada antes da cirurgia, visando à redução da massa tumoral) ou adjuvante (pós-cirurgia). Indicada para controle sistêmico da doença. Hormonoterapia: indicada a casos de tumores receptores positivos, como adjuvantes terapêuticos. Rebeca Noronha – Medicina Referências: CALVOSO, Beatriz De Souza et al. Diagnóstico e conduta acerca de nódulos benignos de mama: uma revisão sistemática. Revista de Medicina da Faculdade Atenas, v. 7, n. 2, p. 1-21, 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer Mamografia: da prática ao controle. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA, 2007. Ginecologia de Williams. 2ª. Ed. Porto Alegre: McGraw-Hill Artmed; 2013.
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