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Descrever testes de vitalidade pulpar. ABENO + LOPES E SIQUEIRA Os testes de vitalidade pulpar são extremamente úteis na estruturacã̧o do diagnóstico clińico, pois apontam o estado de normalidade, inflamacã̧o ou necrose pulpar. Considerando que as alteracõ̧es inflamatórias pulpares relacionam-se a alteracõ̧es vasculares (modificacõ̧es na pressão interna pulpar), agentes que promovam mudanca̧s nessas alteracõ̧es (como vasoconstricã̧o ou vasodilatacã̧o) podem induzir estiḿulos nas terminacõ̧es nervosas, denotando um possiv́el estado clińico tecidual (inflamatório ou não). Todavia, outros agentes são capazes de estimular a sensibilidade em terminacõ̧es nervosas, o que não garante necessariamente que o dente esteja com vitalidade. A dor é um sintoma frequente das situações de polpa inflamada e pode ser estimulada (exacerbada ou atenuada) com testes térmicos, elétricos e mecânicos. As respostas pulpares aos estiḿulos térmicos fornecem informacõ̧es valiosas sobre o estado de saúde pulpar durante o estabelecimento de alteracõ̧es vasculares da polpa dentária. Em vários casos clińicos, a sintomatologia permite a indicacã̧o prévia do dente que apresenta alteracã̧o patológica e necessita de tratamento. Porém, em outras situacõ̧es isso não ocorre, o que implica a utilizacã̧o dos testes para determinar a vitalidade pulpar. A mensuracã̧o e a interpretacã̧o da dor produzida pelos diferentes estiḿulos pulpares são complexas e difićeis de realizar, pois a percepcã̧o da dor, representada pela quantidade de estiḿulo aplicado para sua inducã̧o, varia de paciente para paciente e é influenciada por vários fatores. A estimulacã̧o térmica com o frio pode ser executada com bastão de gelo (por meio de tubetes de gelo mantidos nos tubos de anestésicos vazios), cloreto de etila, gás refrigerante (dicloro difluormetano tetraclorofluormetano) ou dióxido de carbono (neve carbônica). Esses agentes promovem diferentes decréscimos da temperatura intrapulpar, estimulando terminacõ̧es nervosas pulpares a partir das alteracõ̧es vasculares (vasoconstricã̧o). Quanto maior a reducã̧o da temperatura, maior o estiḿulo. Barletta analisou o emprego do bastão de neve carbônica na determinacã̧o da vitalidade pulpar quanto ao grau de confiabilidade, capacidade refrigerante e possiv́eis danos às estruturas do esmalte e da polpa dentária. O bastão de neve carbônica apresenta elevado grau de confiabilidade e ocasiona um rápido e significativo decréscimo da temperatura intrapulpar, sem causar danos à estrutura do tecido pulpar. O emprego de gelo seco (dióxido de carbono) ou de gás refrigerante permite obter respostas de vitalidade pulpar confiáveis e uniformes. A resposta de dentes portadores de coroas totais e cariados é maior quando se empregam testes que apresentam maior capacidade de resfriamento da superfićie dentária (sadia ou restaurada) Na aplicacã̧o do teste a frio, deve-se utilizar isolamento relativo, sendo o teste feito inicialmente nos dentes adjacentes ou até análogos ao dente em questão, de posterior para anterior, na face vestibular, para então ser realizado no dente-alvo. O tempo de aplicacã̧o deve ser de aproximadamente 1 a 2 segundos, sendo repetido após intervalo de 5 minutos. A ausência de resposta dolorosa após a remocã̧o do estiḿulo térmico pode indicar que a polpa está necrosada, uma vez que a resposta positiva é indicativa de vitalidade pulpar. No teste térmico realizado com calor, emprega-se o bastão de guta- -percha aquecida até o momento em que houver brilho ou em que o bastão comeca̧r a se curvar. Nesse teste é difićil controlar com exatidão a temperatura e a extensão de aplicacã̧o. E ́importante que o dente seja lubrificado antes da aplicacã̧o, para que a guta-percha não permaneca̧ aderida à superfićie dentária. Deve-se tomar cuidado para não agredir termicamente a polpa dentária durante a aplicacã̧o de bastão de guta-percha aquecido. Uma alternativa é a aplicacã̧o de água aquecida, que tem o inconveniente de se espalhar para outras regiões além da pretendida. O teste com calor NÃO é aplicado como rotina em polpa sugestiva de normalidade. Usa-se o teste a frio, que é mais confiável, rápido e efetivo, além de não promover danos pulpares. O teste com calor é empregado em situacõ̧es que requerem o estabelecimento de um diagnóstico diferencial, em que o dente com sintomatologia não é facilmente identificado. Como o calor promove vasodilatacã̧o, dependendo da extensão do processo, a resposta dolorosa com o calor torna-se imediata e intensa em dentes com inflamacõ̧es pulpares sintomáticas. O estiḿulo com o frio em polpa dentária normal é imediato, enquanto com o calor é tardio. Entre as diferentes pesquisas que avaliaram testes de vitalidade pulpar, destaca-se a aplicabilidade do teste a frio com gás refrigerante, pela simplicidade na execucã̧o técnica e pelas respostas efetivas e confiáveis. Esse exame é essencial para o diagnóstico clińico das patologias endodônticas. Estrela e colaboradores avaliaram a dor e os testes de vitalidade para o diagnóstico da inflamacã̧o pulpar. Diante das inúmeras dificuldades para o correto estabelecimento do diagnóstico clińico, pode-se questionar se as caracteriśticas da dor e o exame radiográfico permitem chegar a um elevado número de acertos ao determinar processos reversiv́eis ou irreversiv́eis na polpa dentária inflamada e se esses processos pertencem ao diagnóstico ou ao prognóstico. Observa-se, todavia, que o mais difićil é avaliar a extensão do processo inflamatório por meio das caracteriśticas clińicas da dor e das respostas aos testes de vitalidade, e não estabelecer precisamente o diagnóstico clińico. Com base nessas respostas e nas caracteriśticas da dor, não se pode definir o diagnóstico histopatológico, apenas afirmar se a polpa está ou não com vitalidade. O teste elétrico possibilita a resposta pulpar a partir da estimulacã̧o elétrica sobre as fibras nervosas presentes na polpa dentária. Esse teste sugere a vitalidade ou não do tecido pulpar a partir de uma sensibilidade decorrente de resposta neural, mas não fornece informacõ̧es sobre o suprimento sanguińeo pulpar, fator determinante da vitalidade pulpar. Outras alternativas podem ser utilizadas em momentos especif́icos, em tentativas de exclusão, como o teste mecânico, a anestesia e a quantificacã̧o do fluxo sanguińeo pulpar Técnica da aplicação da guta-percha Para o teste pulpar com o bastão de guta-percha se realiza o isolamento (relativo ou absoluto) do dente e, em seguida, aplica-se um gel isolante na superfície do dente (p. ex., vaselina), para que a guta-percha não fique aderida ao dente. A seguir procede-se ao aquecimento e à plastificação da ponta do bastão de guta-percha em chama e faz-se a aplicação da guta- percha sobre a superfície dentária, enquanto esta ainda estiver brilhosa Teste da anestesia seletiva Emprega-se quando o paciente refere uma dor difusa ou reflexa (dor referida), sem definir o dente responsável. Dessa forma, quando for possível (e nem sempre será), deve-se anestesiar apenas o elemento dentário suspeito de ser o causador da dor, sem anestesiar o dente suspeito de ser aquele que está refletindo a dor. Se a dor cessar após a anestesia, sua hipótese diagnóstica será confirmada, identificando- se o elemento causador (dente algógeno) e o elemento que somente está refletindo a dor (dente sinálgico). Teste de cavidade É um teste invasivo no qual se estimula o dente suspeito de ser portador de necrose pulpar sem anestesiá-lo previamente, utilizando-se, para isso, uma broca de alta rotação. Muitas vezes apenaso jato de ar ou a água da seringa tríplice, ou mesmo o ar da turbina de alta rotação, são suficientes para que o paciente acuse a resposta dolorosa, mesmo antes da abertura da cavidade. Se a resposta negativa persistir, deve-se avançar com a cirurgia de acesso, até que a trepanação seja obtida. Em minoria de casos o paciente com necrose pulpar ainda acusará desconforto de origem pulpar, o que é atribuído às células nervosas do tipo C (amielínicas) remanescentes Técnica do uso do gás refrigerante 1. Isolamento do dente (relativo ou absoluto) 2. Aplicação da substância refrigerante sobre cotonete ou pelota de algodão apreendida com pinça durante 5 segundos, no máximo 3. Em caso de necessidade de repetição, aguardar, pelo menos, 5 minutos. Caracterizar tratamento endodôntico (bio e necro 1 e 2) LOPES E SIQUEIRA 1. Diagnóstico Exame clínico (anamnese + exame físico) Testes pulpares 2. Preparação para o tratamento endodôntico Desinfecção do campo operatório Anestesia Isolamento absoluto Abertura coronária Conceitualmente, o acesso coronário pode ser definido como o preparo de uma cavidade na coroa do dente para se ter acesso à cavidade pulpar, representada por câmara pulpar e canal radicular A abertura coronária é um tempo operatório que engloba desde o acesso à câmara pulpar, seu preparo, até a obtenção da configuração final da cavidade pulpar, sua limpeza, antissepsia e localização dos orifícios de entrada dos canais radiculares ETAPAS OPERATÓRIAS a) Acesso a câmara pulpar (ponto de eleição, direção de trepanação) b) Preparo da câmara pulpar + irrigação com hipoclorito a 1% (remoção do teto da câmara pulpar) Após a colocação do isolamento absoluto e antissepsia do campo operatório, inicia-se a preparação da câmara pulpar. Essa etapa consiste na remoção de todo restante da parede do teto e no preparo das paredes laterais da câmara pulpar. Para essa manobra, podem ser utilizadas brocas esféricas e troncas cônicas diamantadas de pontas inativas (Endo Z, 3081, 3082, 3083, ou 4081, 4083). Ao se utilizarem as brocas esféricas, elas devem ser trabalhadas no sentido de dentro para fora, sem tocar no assoalho da câmara. As brocas de corte ativo não devem tocar o assoalho, pois, além do risco de causar alterações na morfologia, podem obliterar as entradas dos canais radiculares, dificultando sua futura localização e penetração. Preferencialmente, devemos utilizar as brocas sem corte na ponta, que podem ser apoiadas no assoalho da câmara, sem o risco de causar danos. Permitem realizar um desgaste lateral da cavidade pulpar, percorrendo todos os seus ângulos, produzindo uma ligeira expulsividade nas suas paredes. Caso haja a necessidade de trabalhar o assoalho, quando ele apresentar calcificações, nódulos ou for atingido por processos de cárie muito avançados, deve-se antes explorar e tentar localizar as entradas dos canais radiculares. O uso de brocas esféricas de baixa rotação, broca tipo LN e de insertos ultrassônicos especiais de diferentes formas e tamanhos poderão ser extremamente úteis para romper calcificações e auxiliar a localizar o orifício de entrada do canal. Uma sonda endodôntica tipo Rhein, ou mesmo um instrumento endodôntico de pequeno calibre, pode ser utilizado para auxiliar e manter os orifícios de entrada dos canais sempre visíveis. Lavagens intermitentes, durante o preparo, com uso de solução irrigadora, são altamente recomendáveis, porque auxiliam a manter o campo limpo. Cuidados devem ser tomados para evitar forçar o conteúdo da câmara pulpar para o interior do canal radicular. As projeções e os restos do teto da câmara, além de poderem dificultar o posterior acesso ao canal radicular, podem abrigar dentina cariada, detritos, biofilme bacteriano, sangue e outros elementos capazes de ocasionar a contaminação do canal, além do risco de alterar a cor da coroa dentária c) Forma de conveniência Essa etapa operatória é realizada com a intenção de dar uma conformidade à cavidade pulpar e facilitar outros procedimentos operatórios. Poderão ser utilizadas brocas diamantadas em forma de chama de vela, tipo 1111, brocas tronco-cônicas de ponta inativa (Endo Z, 3081, 3083, 4083) ou insertos ultrassônicos de diversos formatos, com ou sem diamantes. Objetivos: Facilitar o acesso dos instrumentos endodônticos ao canal radicular. Possibilitar a visualização e dar linhas diretas às paredes da cavidade pulpar em direção às entradas dos canais (acesso direto e reto aos canais). Permitir que a cavidade adquira paredes lisas e planas, para favorecer a visualização adequada dos orifícios de entrada dos canais radiculares. Simplificar todas as manobras operatórias de instrumentação e de obturação dos canais radiculares. d) Limpeza e antissepsia Esta etapa é essencial para que se inicie o tratamento dos canais radiculares.Todo tecido cariado, placa bacteriana, cálculo, gengiva hiperplásica, restaurações imperfeitas ou qualquer outra condição que impeça a manutenção da cadeia asséptica devem ser rigorosamente removidos. Esse cuidado deve ser realizado antes de se iniciarem os procedimentos de acesso coronário. Logo após a realização da trepanação, o dente receberá o isolamento absoluto. Em seguida, com o auxílio de uma gaze estéril, embebida em solução de hipoclorito de sódio em uma concentração entre 2,5 e 5,25% (ou clorexidina a 2% ou álcool iodado), realiza-se a descontaminação do campo operatório, incluindo lençol de borracha, grampo e dente. Após a antissepsia do campo operatório, lavagens frequentes da câmara pulpar com solução irrigadora antimicrobiana devem ser realizadas durante todas as etapas do acesso e localização da entrada dos canais radiculares. Essas medidas são fundamentais para garantir a limpeza e a desinfecção da cavidade pulpar, evitar alteração cromática da coroa e prevenir que fragmentos de esmalte, dentina, amálgama, metais restauradores, cimentos e outros materiais sejam inadvertidamente introduzidos no interior do canal radicular. A quebra da cadeia asséptica, durante toda ou qualquer fase operatória, poderá comprometer gravemente os resultados do tratamento, favorecendo uma infecção secundária e contribuir substancialmente para o fracasso do tratamento endodôntico. O acesso coronário poderá sofrer alterações futuras na sua forma de contorno e/ou configuração final à medida que o procedimento de instrumentação seja iniciado. Essas retificações visam melhorar e aprimorar a qualidade do acesso para facilitar tanto a instrumentação quanto os futuros procedimentos de obturação. Além disso, poderá auxiliar na melhora da qualidade do fluxo e refluxo da solução irrigadora e aumentar a segurança do uso de instrumentos endodônticos durante a modelagem dos canais radiculares. e) Localização da entrada dos canais radiculares É extremamente importante que o orifício de entrada de todos os canais radiculares seja localizado. Uma radiografia inicial de boa qualidade constitui um valioso elemento auxiliar para esse procedimento. Essa manobra é executada por meio de inspeção e da exploração por sondagem. Para esse fim, um explorador fino, resistente, rígido, pontiagudo e com as partes ativas retas, como a sonda endodôntica tipo Rhein ou similar, pode ser empregado. A exploração somente deverá ser iniciada após o preparo da cavidade de acesso coronário. O explorador é levado, deixando-o correr gentilmente no assoalho da câmara, até onde se espera que esteja o orifício (ou orifícios) de entrada dos canais radiculares. No caso de dentes multirradiculares, a própria forma convexa e a presença de linhas mais escuras no assoalho (rostrum canali), que unem os canais entre si, podem servir como guia de orientação na localização dosorifícios de entrada. Além disso, essa exploração auxilia na verificação da direção e da inclinação dos canais, permitindo que sejam feitos refinamentos, se necessário, na forma de conveniência do acesso. Qualquer tipo de interferência, conforme mencionado anteriormente, como a presença de calcificações ou irregularidades nas paredes, deve ser removido se prejudicar a qualidade do acesso coronário. f) Preparo químico-mecânico O preparo químico-mecânico de um canal radicular é realizado por meio do emprego de instrumentos endodônticos, de substâncias ou soluções químicas auxiliares e de irrigação-aspiração. Na realização do preparo, não se pode separar os procedimentos mecânicos dos químicos, quer conceitualmente, quer na sua execução prática, visto que o resultado final do preparo de um canal radicular decorre da interação dos instrumentos endodônticos com as substâncias químicas auxiliares e com a irrigaçãoaspiração que se completam. Os procedimentos mecânicos são obtidos por meio de instrumentos endodônticos e pela dinâmica de fluidos da irrigação. O preparo químico-mecânico também tem sido denominado preparo químico-cirúrgico, preparo biomecânico (proposta na II Convenção Internacional de Endodontia, na University of Pennsylvania, Filadélfia, EUA), limpeza e modelagem (cleaning and shaping) por Schilder, ou, simplesmente, instrumentação. O objetivo do preparo químico-mecânico é ampliar, modelar e limpar o canal radicular para que o mesmo possa receber o material obturador. Nos casos infectados, acrescenta-se a desinfecção aos objetivos. Por muitos anos, acreditou-se que o principal fator envolvido no sucesso do tratamento endodôntico fosse a realização de uma obturação compacta do canal radicular. Esse conceito tornou-se popularizado, após a revelação dos achados do estudo de Washington, de natureza transversal, que relatou que mais de 60% dos casos de fracasso da terapia endodôntica (ocorrência de lesão perirradicular póstratamento constatada radiograficamente) foram relacionados com obturações inadequadas do canal radicular. Contudo, deve-se ter em mente que o fato de dois eventos (preparo químico-mecânico e obturação) ocorrerem simultaneamente não representa uma relação de causa e efeito. Podemos pressupor que na grande maioria dos casos que fracassaram, a obturação inadequada foi apenas um reflexo de um preparo químico-mecânico incompleto. Se o preparo foi insuficiente, microrganismos e substrato persistem no canal, predispondo à infecção persistente e à indução ou manutenção da lesão perirradicular. Embora a importância da obturação não deva ser negada, principalmente na prevenção da reinfecção do canal, é preciso ressaltar que o sucesso do tratamento endodôntico na biopulpectomia está na dependência direta da prevenção da infecção endodôntica, enquanto na necropulpectomia está na eliminação, ou máxima redução possível, de bactérias do interior do sistema de canais radiculares. A obturação perpetuaria esse estado obtido pelo preparo químico-mecânico, negando espaço para o crescimento e a recolonização de microrganismos residuais ou invasores secundários. Os principais objetivos do preparo químico-mecânico são a ampliação, a modelagem e a limpeza do canal radicular. Nos casos de polpa necrosada e infectada, um objetivo adicional é a desinfecção. Esses objetivos, embora distintos, são logrados, simultaneamente, durante o preparo do canal radicular. OBS: Desinfecção e limpeza A desinfecção e limpeza do sistema de canais radiculares visa à eliminação de irritantes como bactérias, seus produtos e tecido pulpar vivo ou necrosado, criando um ambiente propício para a reparação dos tecidos perirradiculares. Salienta-se que o objetivo de desinfecção se aplica somente aos casos de necrose e de retratamento, em que geralmente há infecção do sistema de canais radiculares. Esses objetivos são de extrema importância para o resultado do tratamento endodôntico, uma vez que a lesão perirradicular é causada e mantida por bactérias infectando o sistema de canais radiculares. Conequentemente, a prevenção (em biopulpectomia) e o controle da infecção (na necropulpecomia) são cruciais para o sucesso do tratamento. A ação antimicrobiana da solução química auxiliar é a responsável pela desinfecção do sistema de canais radiculares em casos de necrose e de retratamento, enquanto em dentes com polpa viva ela pode ser importante em prevenir a contaminação dos canais. g) Medicação intracanal/ curativos de demora. A medicação intracanal consiste na aplicação de um medicamento no interior do canal radicular por um período geralmente mais longo do que de uma consulta e que visa exercer algum efeito terapêutico. Há situações rotineiras e outras esporádicas na clínica endodôntica que requerem o emprego de medicação intracanal. Idealmente, o medicamento deve permanecer ativo durante todo o período entre as consultas do tratamento endodôntico. Embora essa etapa não possa substituir nenhuma outra relacionada com a terapia endodôntica, sua utilização assume um papel auxiliar bastante importante em determinadas condições clínicas e patológicas. Um medicamento pode ser aplicado no interior do sistema de canais radiculares pelas seguintes razões: Otimizar a desinfecção endodôntica, eliminando microrganismos que sobreviveram ao preparo químico-mecânico Atuar como barreira físico-química contra a infecção ou reinfecção por microrganismos da saliva Reduzir a inflamação perirradicular e a consequente sintomatologia Controlar a exsudação persistente Solubilizar a matéria orgânica, melhorando a limpeza Inativar produtos microbianos Controlar a reabsorção dentária inflamatória externa Estimular a reparação por tecido mineralizado. OBS: No tratamento ou retratamento de dentes com lesão perirradicular, o medicamento intracanal deve possuir ação antimicrobiana, tendo o potencial de destruir microrganismos remanescentes que sobreviveram aos efeitos do preparo químico- mecânico. h) Obturação dos canais radiculares A obturação dos canais radiculares tem grande importância para obtenção do sucesso do tratamento endodôntico. O momento ideal para a obturação depende das corretas modelagem, limpeza e desinfecção do canal radicular, além da ausência de sintomatologia, possibilidade de secagem e controle microbiológico. A resposta biológica ideal após tratamento corresponde ao selamento apical pela deposição de tecido mineralizado.Dessa forma, o material obturador deve apresentar propriedades físico-químicas que promovam o selamento, além de compatibilidade biológica que favoreça o reparo dos tecidos apicais e perirradiculares.O material ideal deve ser bioativo, sendo capaz de induzir a mineralização apical e o selamento biológico do forame apical. Os cones de guta-percha representam o material sólido de escolha para obturação e apresentam compatibilidade biológica. Porém, não são capazes de promover selamento do canal radicular, sendo necessária a associação aos cimentos endodônticos. Durante décadas, os cimentos endodônticos à base de óxido de zinco e eugenol (OZE) foram os mais utilizados, com desempenho satisfatório quanto às propriedades físico-químicas, mas com comportamento biológico desfavorável.O estabelecimento de novos conceitos na escolha de materiais endodônticos promoveu maior ênfase às propriedades biológicas e bioatividade, estimulando a reparação perirradicular. Dentre as propriedades biológicas de um material obturador ideal, podemos destacar biocompatibilidade, capacidade de ser reabsorvido nos tecidos perirradiculares e de estimular a deposição de tecido de reparação (bioatividade), de preferência por tecido mineralizado em nível foraminal. Ainda, o material idealdeve apresentar ação antimicrobiana e não ser mutagênico ou carcinogênico. Dentre as propriedades físico-químicas de um material obturador ideal, destacam-se facilidade de inserção, tempo de trabalho adequado, capacidade de promover selamento do sistema de canais radiculares, bom escoamento e adesividade. O material não deve ser solubilizado no interior do canal radicular, sendo radiopaco e apresentando pH neutro ou alcalino. Além disso, não deve promover escurecimento das estruturas dentais, sendo de fácil remoção em casos de retratamento. OBS: classificação dos materiais obturadores Materiais sólidos: cones de guta percha (principais e acessórios) Materiais em estado plástico: Cimentos à base de óxido de zinco e eugenol (OZE) Cimentos à base de resinas plásticas Cimentos que contêm hidróxido de cálcio [Ca(OH)2] Cimentos à base de ionômero de vidro Cimentos à base de silicone Cimentos que contêm MTA (mineral trióxido agregado), à base de silicato de cálcio e biocerâmicos.
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