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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS 
CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS 
 
 
 
 
 
RODOLPHO SANTOS DE VASCONCELOS 
 
 
 
 
PETROBRAS: REFLEXÕES SOBRE A MUDANÇA DE ESTRATÉGIA DE 
NEGÓCIO A PARTIR DE 2015 E OS IMPACTOS DE SUA SAÍDA DO RIO 
GRANDE DO NORTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN 
2022
 
 
RODOLPHO SANTOS DE VASCONCELOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PETROBRAS: REFLEXÕES SOBRE A MUDANÇA DE ESTRATÉGIA DE 
NEGÓCIO A PARTIR DE 2015 E OS IMPACTOS DE SUA SAÍDA DO RIO 
GRANDE DO NORTE 
 
Monografia apresentada no processo 
avaliativo de Defesa de Trabalho de 
Conclusão de Curso em Ciências 
Contábeis da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, como pré-requisito 
obrigatório e parcial para a obtenção do 
título de Bacharel em Ciências Contábeis. 
 
Orientador: Prof. Dr. Alexandro Barbosa 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN 
2022 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/440 
 
 
 
 
Vasconcelos, Rodolpho Santos de. 
Petrobras: reflexões sobre a mudança de estratégia de negócio a partir de 2015 e 
os impactos de sua saída do Rio Grande do Norte / Rodolpho Santos de 
Vasconcelos. - 2022. 
164f.: il. 
 
Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 
Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Curso de Ciências Contábeis, Natal, 2022. 
Orientador: Prof. Dr. Alexandro Barbosa. 
 
 
1. Contabilidade - Monografia. 2. Estratégia de negócio - Monografia. 3. 
Petróleo e gás - Monografia. 4. Petrobras - Monografia. 5. Rio Grande do Norte. I. 
Barbosa, Alexandro. II. Título. 
 
RN/UF/CCSA CDU 657 
 
 
RODOLPHO SANTOS DE VASCONCELOS 
 
 
PETROBRAS: REFLEXÕES SOBRE A MUDANÇA DE ESTRATÉGIA DE 
NEGÓCIO A PARTIR DE 2015 E OS IMPACTOS DE SUA SAÍDA DO RIO 
GRANDE DO NORTE 
 
Monografia apresentada no processo 
avaliativo de Defesa de Trabalho de 
Conclusão de Curso em Ciências 
Contábeis da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, como pré-requisito 
obrigatório e parcial para a obtenção do 
título de Bacharel em Ciências Contábeis. 
 
Aprovada em: _______/_______/_______. 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
____________________________________________________________ 
Prof. Dr. Alexandro Barbosa 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Orientador 
 
 
____________________________________________________________ 
Prof. Dr. João Rodrigues Neto 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Membro da Banca 
 
 
____________________________________________________________ 
Prof. Msc. Ivan Alves do Nascimento 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – Membro da Banca 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico a todos aqueles que valorizam 
nosso país e lutam para torná-lo 
soberano. Dedico também aos que 
defendem nossas empresas estatais, 
como a Petrobras que, nesses 68 anos, 
mostra que é possível ter orgulho do que 
o povo brasileiro produz. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Caminhar uma jornada de braços dados com os nossos, independente do 
destino, já faz o percurso de trajetória valer a pena. Assim, pela generosidade que me 
permitiu seguir adiante, agradeço: 
Aos meus pais, Airton e Edna, que com amor incondicional, me oportunizaram 
conhecimento e, pacientemente, me ofertaram os melhores ensinamentos e 
exemplos, sem pestanejar em ceder sempre a mão firme da retidão e amiga do apoio; 
À minha companheira, Jana Sá, cuja sensibilidade, consideração, 
compreensão e carinho vem, ao longo de mais de 20 anos, me permitindo ver além 
dos meus olhos; 
À minha filha, Ana Beatriz, a quem vejo, orgulhosamente, seguir seu próprio 
caminho, com firmeza, grandeza de espírito e inteligência; 
À minha irmã, Erica, e meus sobrinhos, Enzo e Enrico, cuja admiração e carinho 
me fazem querer ser uma pessoa melhor; 
Aos meus falecidos avôs, Messias e Herberto, e avós, Hilda e Jacira, de quem 
sinto saudades e profundo respeito. 
Ao meu orientador, professor Alexandro Barbosa, pela atenção dispensada e 
críticas construtivas que agregaram valor a essa pesquisa; 
Aos professores, João Rodrigues Neto e Ivan Alves do Nascimento, que com 
suas experiências, me horaram em compor a banca de qualificação e contribuir no 
aprimoramento do trabalho; 
À Petrobras, onde compreendi que o desafio é a nossa emergia, que orgulha a 
sociedade brasileira e muito mais a quem lá trabalha; 
Aos diversos colegas de trabalho da Petrobras que conheci ao longo de 16 
anos, pela aprendizagem, camaradagem, zelo profissional e afinco em manter a 
empresa em alto nível; 
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que me oportuniza a segunda 
graduação em nível de excelência, pela vivência acadêmica e formação cidadã; 
Aos colegas de turmas, pelas trocas de experiências, convivência harmoniosa 
e descontraída; 
A todos os professores do Departamento de Contábeis Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte, que participaram da construção da minha carreira 
acadêmica; 
 
 
Aos colegas sindicalistas do SINDIPETRO-RN, local onde pude experimentar 
a dedicação desmedida pelas causas coletivas, citando, especialmente, o baluarte e 
persistente Marcio Dias, não só por disponibilizar fontes para meu trabalho, mas por 
ser a própria fonte de conhecimento e vivência junto à atividade e categoria petroleira; 
Aos economistas Cloviomar Cararine, do DIEESE, subseção da Federação 
Única dos Petroleiros, e Henrique Jaeger, do INEEP, pela cortesia e atenção em 
indicar caminhos e dispor materiais fundamentais para construir este trabalho; 
E, por fim, agradeço a todos ainda não citados que contribuíram direta ou 
indiretamente para a elaboração desta pesquisa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Quis criar liberdade nacional na 
potencialização das nossas riquezas 
através da Petrobrás e, mal começa esta 
a funcionar, a onda de agitação se 
avoluma.” 
 
(Carta-testamento de Getúlio Vargas) 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como objetivo analisar as mudanças na estratégia de negócio 
da Petrobras, especialmente a partir de 2015, e discutir suas perspectivas futuras. 
Também busca-se analisar a contribuição da Petrobras para a sociedade e economia 
do Rio Grande do Norte, a decisão de sua saída do estado e consequências 
relacionadas. Para isso, definiu-se como procedimento metodológico o estudo 
descritivo, como também, exploratório, por meio de levantamento bibliográfico e 
documental. Na abordagem do problema, a pesquisa é predominantemente 
qualitativa. As análises e reflexões apontam que a estatal deu uma guinada em seus 
planos estratégicos, e passou a vender diversos ativos, reduziu seus investimentos e 
vem desintegrando suas cadeias produtivas de energia. Desta forma, reduziu seu 
portifólio, passado a atuar quase que exclusivamente na exploração e produção de 
petróleo e gás em águas profundas e ultra profundas, com concentração nos estados 
do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo e foco na exportação. As gestões 
recentes da empresa tem priorizado majorar o lucro a curto prazo, à custa de venda 
de ativos, redução de investimentos e aumento no preço de combustíveis. Essa 
estratégia vem permitindo aumentar a remuneração dos seus acionistas. No Rio 
Grande do Norte, o processo de saída da estatal tem se dado não só pela redução da 
produção de petróleo, gás e derivados devido à queda drástica de investimentos, mas 
principalmente pela venda praticamente da totalidade dos ativos no estado. Assim, já 
se percebeos impactos na economia local, com oscilação nas participações 
governamentais e sociais resultantes da atividade petrolífera e redução dos 
investimentos sociais, ambientais, científicos, dentre outros. Vê-se também a 
diminuição da oferta de empregos e no número de empresas prestadoras de serviços 
e fornecedores de bens à Petrobras. Ao mesmo tempo, as novas operadoras que vem 
adquirindo os ativos da estatal não conseguiram, até o momento, manter padrão 
semelhante de atuação. Por fim, a nova política de preço de paridade de importação 
aplicada pela Petrobras vem resultando em aumentos sistemáticos nos preços dos 
combustíveis no país. Ao passo que isso favorece a lucratividade da estatal, cria um 
embate com a sociedade, que vem arcando com custos inflacionados. E, por 
consequência, os próprios agentes políticos que atuam no governo federal, e que 
detém o poder diretivo na escolha dos gestores da Petrobras, colocam como solução 
pautar a privatização integral da companhia, colocando em xeque a relevância da 
maior empresa brasileira como sociedade de economia mista. 
 
Palavras-chave: Petrobras; petróleo e gás; cadeias de energia; Rio Grande do Norte. 
 
 
ABSTRACT 
 
The present work aims to analyze the changes in Petrobras’ business strategy, 
especially from 2015, and discuss its future prospects. It also seeks to analyze 
Petrobras’ contribution to the society and economy of Rio Grande do Norte, the 
decision to leave the state and related consequences. For this, the descriptive study 
was defined as a methodological procedure, as well as an exploratory one, through a 
bibliographic and documentary survey. In approaching the problem, the research is 
predominantly qualitative. The analyzes and reflections point out that the state-owned 
company has taken a turn in its strategic plans, and started to sell several assets, 
reduced its investments and has been disintegrating its energy production chains. In 
this way, it reduced its portfolio, starting to operate almost exclusively in the exploration 
and production of oil and gas in deep and ultra-deep waters, with a concentration in 
the states of Espírito Santo, Rio de Janeiro and São Paulo. The company's recent 
management has prioritized increasing short-term profit, at the expense of selling 
assets, reducing investments and increasing fuel prices. This strategy has made it 
possible to increase the remuneration of its shareholders. In Rio Grande do Norte, the 
process of exiting the state-owned company has not only been due to the reduction of 
oil, gas and derivatives production due to the drastic drop in investments, but mainly 
due to the sale of practically all the assets in the state. Thus, the impacts on the local 
economy can already be perceived, with oscillation in governmental and social 
participation resulting from the oil activity and reduction of social, environmental, 
scientific investments, among others. There is also a decrease in the supply of jobs 
and in the number of companies providing services and suppliers of goods to 
Petrobras. At the same time, the new operators that have been acquiring the state-
owned company’s assets have not managed, so far, to maintain a similar pattern of 
performance. Finally, the new import parity price policy applied by Petrobras has 
resulted in systematic increases in fuel prices in the country. While this favors the 
profitability of the state-owned company, it creates a clash with society, which has been 
bearing inflated costs. And, as a consequence, the political agents who work in the 
federal government, and who hold the directive power in the choice of Petrobras 
managers, consider the solution to guide the company’s full privatization, putting in 
question the relevance of the largest Brazilian company as a society of mixed 
economy. 
 
Keywords: Petrobras; oil and gas; power chains; Rio Grande do Norte. 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1 - Subprodutos do petróleo, seus pontos de ebulição e usos ..................... 28 
Quadro 2 - Pesquisas que analisaram os impactos decorrentes das atividades 
petrolíferas nos municípios........................................................................................ 42 
Quadro 3 - Venda de ativos da Petrobras alocados no RN (R$ milhões). .............. 109 
Quadro 4 – Venda de ativos nacionais da Petrobras com presença no RN (R$ 
milhões). .................................................................................................................. 110 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 - Mapa geológico da Bacia Potiguar............................................................ 50 
Figura 2 - Mapa dos municípios produtores de petróleo no RN ................................ 54 
Figura 3 – Usina Fotovoltaica Alto do Rodrigues ...................................................... 65 
Figura 4 - Banner do lançamento da Campanha Pelo povo potiguar, a Petrobras fica 
no RN ...................................................................................................................... 118 
Figura 5 - Nova fronteira da exploração de petróleo na margem equatorial marítima 
brasileira .................................................................................................................. 121 
Figura 6 - Blocos exploratórios da margem equatorial marítima arrematados nas 
rodadas da ANP ...................................................................................................... 122 
Figura 7 - Blocos ofertados na 17ª Rodada de Licitações da Bacia Potiguar .......... 123 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1 - Parcela que exceder os 5% de royalties da produção de petróleo e gás 
natural ....................................................................................................................... 41 
Gráfico 2 – Oferta Interna de energia no Brasil em 2020 .......................................... 46 
Gráfico 3 – Histórico da produção de petróleo na Bacia Potiguar de 1976 a 2000 (mil 
bbl/d) ......................................................................................................................... 49 
Gráfico 4 - Conteúdo local médio relativo às etapas de exploração e desenvolvimento 
das propostas vencedoras nas dez primeiras rodadas de licitação (%). ................... 51 
Gráfico 5 – Histórico da produção de petróleo e gás natural no RN e no Brasil de 200 
a 2021 (boe/dia) ........................................................................................................ 55 
Gráfico 6 – Petróleo refinado pela RPCC (bbl/d), fator de utilização da RPCC e da 
média das refinarias do Brasil ................................................................................... 59 
Gráfico 7 – Balanço nacional dos principais derivados de petróleo (mil m3/d).......... 60 
Gráfico 8 – Comparativo do petróleo cru exportado, do petróleo nacional refinado e da 
capacidade de refino nacional (mil bbl/d). ................................................................. 61 
Gráfico 9 – Produção (boe/d) de petróleo e gás natural no RN por operadora ......... 68 
Gráfico 10 – Histórico de pagamento de royalties ao Rio Grande do Norte e aos seus 
municípios beneficiários (R$ mil) ............................................................................... 69 
Gráfico 11 – Comparativo da variação do câmbio do Dólar americano convertido no 
Real e da cotação do barril de petróleo tipo Brent (US$) .......................................... 70 
Gráfico 12 – Participação dos royalties nas receitas totais dos municípios beneficiários 
no RN ........................................................................................................................ 71 
Gráfico 13 – Recolhimento de tributos (próprio e de terceiros) pela Petrobras no Brasil 
(R$ bilhões). .............................................................................................................. 75 
Gráfico14 – ICMS recolhido pela Petrobras (próprio e de terceiros) no RN e sua 
participação no total recolhido pelo estado. .............................................................. 76 
Gráfico 15 – Recolhimento de ISS (terceiros) aos municípios do RN (R$ milhões). . 78 
Gráfico 16 – Investimentos da Petrobras em Cultura (R$ milhões). .......................... 79 
Gráfico 17 – Investimentos da Petrobras em Cultura (% da receita líquida). ............ 80 
Gráfico 18 – Recursos investidos e quantidade de contratos de convênios, patrocínios 
e termos de cooperação assinados pela Petrobras no RN. ...................................... 81 
Gráfico 19 – Valor do investimento em contratos assinados com a FUNPEC (R$). . 83 
 
 
Gráfico 20 – Histórico dos empregos diretos (empregados próprios e terceirizados) no 
RN. ............................................................................................................................ 86 
Gráfico 21 – Número de contratos e valor contratado pela Petrobras na UN-RNCE 90 
Gráfico 22 – Histórico do CAPEX da Petrobras por área (US$ Milhões). ................. 99 
Gráfico 23 – Histórico de reservas provadas de petróleo no Brasil da Petrobras e Total 
(milhões de bbl). ...................................................................................................... 100 
Gráfico 24 – Histórico da participação do capital social (ações ordinárias e 
preferenciais) da Petrobras. .................................................................................... 103 
Gráfico 25 – Histórico de investimentos da Petrobras no RN entre 2001 e 2020 (R$ 
milhões). .................................................................................................................. 106 
Gráfico 26 – Rateio dos ativos vendidos de acordo com a nacionalidade das empresas 
compradoras. .......................................................................................................... 107 
Gráfico 27 – Produção pré-sal x pós-sal entre 2016 e 2021 (%) ............................. 125 
Gráfico 28 – Histórico dos preços médios dos combustíveis (Gasolina, Diesel S-10 e 
Gás de Cozinha) nas refinarias da Petrobras.......................................................... 128 
Gráfico 29 – Participação do salário-mínimo nacional, convertido em R$, para 
abastecer um tanque de 40 litros de gasolina. ........................................................ 132 
Gráfico 30 - Caixa e equivalente de caixa ao fim do exercício (R$ milhões) ........... 136 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 – Número de poços produtores de petróleo e de gás natural no RN ......... 55 
Tabela 2 – Reservas provadas de petróleo e gás natural no RN (milhões de boe). . 56 
Tabela 3 – Produção e sua participação no consumo de gasolina e óleo diesel no 
Nordeste. ................................................................................................................... 62 
Tabela 4 – Balanço de energia elétrica no RN (em GWh). ....................................... 63 
Tabela 5 – Produção de mamona e girassol no Ceará e RN (em toneladas). .......... 66 
Tabela 6 – Quantidade de municípios nordestinos que receberam royalties de petróleo 
e sua participação na receita municipal no ano de 2017. .......................................... 72 
Tabela 7 – Quantidade de proprietários da terra e o valor médio recebido no RN e no 
Brasil. ........................................................................................................................ 73 
Tabela 8 – Tributos arrecadados pela Petrobras em cada esfera de poder. ............. 74 
Tabela 9 – Brasil e grandes regiões: evolução do estoque de empregos formais, 2002 
e 2010. ...................................................................................................................... 83 
Tabela 10 – Situação do salário médio dos setores da indústria de petróleo e energia 
no Nordeste. .............................................................................................................. 87 
Tabela 11 - Dados das demonstrações financeiras da 3R Petroleum (consolidado) de 
2019 a 2021 (R$ milhares) ........................................................................................ 88 
Tabela 12 - Redução dos investimentos previstos - Petrobras e Construção Civil (R$ 
milhões nominais) ..................................................................................................... 93 
Tabela 13 – Impactos negativos da redução dos investimentos, considerando efeitos 
diretos, indiretos ........................................................................................................ 94 
Tabela 14 – Projeção do PIB das principais economias mundiais (%). ..................... 96 
Tabela 15 – Previsão de indicadores do Relatório Focus para 2022. ....................... 97 
Tabela 16 – Dispêndios da geração de caixa líquido em cada Plano Estratégico e sua 
variação (R$ bilhões). ............................................................................................. 104 
Tabela 17– Reajuste nos preços nas refinarias por empresa ................................. 114 
Tabela 18 – Custos médios por poço exploratório perfurado no Brasil de 2016 a 2020
 ................................................................................................................................ 126 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ABGP – Associação Brasileira de Geólogos do Petróleo 
ABPIP – Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás 
AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobrás 
ANP – Agência Nacional do Petróleo 
BCB – Banco Central do Brasil 
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 
CA – Conselho de Administração 
C&T – Ciência e Tecnologia 
CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados 
CENAP – Centro de Aperfeiçoamento de Pesquisa do Petróleo 
CGU – Controladoria Geral da União 
Cia – Companhia 
CNI – Confederação Nacional da Indústria 
CNPE – Conselho Nacional de Política Energética 
CPRM – Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais 
CL – Conteúdo Local 
COFINS – Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social 
DIEESE – Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos 
EIA – U.S. Energy Information Administration 
EPE – Empresa de Pesquisa Energética 
E&P – Exploração e Produção 
Fafens – Fábricas de Fertilizantes 
FCD – Fluxo de Caixa Descontado 
FHC – Fernando Henrique Cardoso 
FIERN – Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte 
FMI – Fundo Monetário Internacional 
FNP – Federação Nacional dos Petroleiros 
FR – Fator de Recuperação 
FUP – Federação Única dos Petroleiros 
FUR – Fator de utilização das refinarias 
FUNPEC – Fundação Norte-Rio-Grandense de Pesquisa e Cultura 
GLP – Gás liquefeito de petróleo 
 
 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade 
ICMS – Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre 
prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação 
ICTs – Instituições de Ciência e Tecnologia 
IOC – International Oil Companies 
Ineep – Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis 
Zé Eduardo Dutra 
IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal 
MPF – Ministério Público Federal 
NOC – National Oil Companies 
NRGI – Natural Resource Governance Institute 
NTS – Nova Transportadora do Sudeste 
OGR – Óleos e gorduras residuais 
OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo 
OTC – Offshore Technology Conference 
Pbio – Petrobras Biocombustível S.A. 
PE – Plano Estratégico 
PIB – Produto Interno Bruto 
PMPF – Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final 
PPI – preço de paridade de importação 
Promef – Programa de Modernizaçãoe Expansão da Frota 
Prominp – Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural 
Prorefam – Programa de Renovação e Expansão da Frota de Embarcações de Apoio 
Marítimo 
REMAN – Refinaria Isaac Sabbá 
RLAM – Refinaria Landulpho Alves 
RNEST – Refinaria Abreu e Lima 
RPCC – Refinaria Potiguar Clara Camarão 
RN – Rio Grande do Norte 
S.A. – Sociedade Anônima 
SICONFI – Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro 
 
 
SIN – Sistema Interligado Nacional 
SINDIPETRO – Sindicato dos Petroleiros e Petroleiras 
SIX – Unidade de Industrialização do Xisto 
STN – Secretaria do Tesouro Nacional 
TAG – Transportadora Associada de Gás 
TCC – Termo de Compromisso de Cessação 
TCU – Tribunal de Contas da União 
TLD – Testes de Longa Duração 
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
UFVA – Usina Fotovoltaica de Alto de Rodrigues 
UM-RNCE – Unidade de Negócios do Rio Grande do Norte e Ceará 
Uns – Unidades de Negócios 
UNDP – United Nations Development Programme 
UPGN – Unidade de Processamento de Gás Natural 
UTE-JSP – Usina Termelétrica Jesus Soares Pereira 
VPL – Valor presente líquido 
 
 
LISTA SÍMBOLOS 
 
bbl/d – Barril por dia 
bbl – Barril 
% – Percentual 
R$ – Real 
C – Carbono 
H – Hidrogênio 
CO2 – Gás carbônico 
boe – Barril de óleo equivalente 
US$ – dólar americano 
m3 – Metro cúbico 
boe/d – Barril de óleo equivalente por dia 
km2 – quilômetro quadrado 
R$/m³ – Real por metro cúbico 
V g – volume da produção do gás natural 
P g – preço de referência do gás natural 
m3/d – Metro cúbico por dia 
GWh – Gigawatt hora 
MW – Megawatt 
t/h – tonelada hora 
GW – Gigawatt 
R(t) – volume de reservas provadas no ano t 
D(t) – volume de descobertas no ano t 
P(t) – produção no ano t 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 21 
2 PETROBRAS: ALTOS E BAIXOS DA MAIOR EMPRESA DE ENERGIA DO 
PAÍS 27 
3 PARTICIPAÇÕES GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS RESULTANTES DA 
ATIVIDADE PETROLÍFERA ..................................................................................... 38 
4 MERCADO ENERGÉTICO NACIONAL E POTIGUAR: A LIDERANÇA DA 
PETROBRAS E A PARTICIPAÇÃO DE OUTROS AGENTES ................................ 46 
4.1 Início da atuação no estado do RN ............................................................... 47 
4.2 Rodadas de leilões da Bacia Potiguar e política de Conteúdo Local ......... 49 
4.3 Exploração e Produção de petróleo e gás natural ....................................... 53 
4.3.1 Campos maduros e acumulações marginais .................................................. 57 
4.4 Refino ............................................................................................................... 58 
4.5 Outras matrizes energéticas .......................................................................... 62 
4.5.1 Termoeletricidade, energias eólica e fotovoltaica ........................................... 63 
4.5.2 Biocombustíveis .............................................................................................. 65 
4.6 Atuação de pequenos e médios produtores de petróleo e gás .................. 67 
5 CONTRIBUIÇÕES DA PETROBRAS NO RN EM PARTICIPAÇÕES 
GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS, MERCADO DE TRABALHO E ECONOMIA 
REGIONAL ............................................................................................................... 69 
5.1 Royalties, participações especiais e proprietários de terras ...................... 69 
5.2 Tributos ........................................................................................................... 73 
5.3 Investimentos sociais, ambientais, científicos e outros ............................. 78 
5.4 Mercado de trabalho ....................................................................................... 83 
5.5 Empresas fornecedoras e prestadoras de serviços .................................... 89 
6 MUDANÇA NOS RUMOS DA PETROBRAS ................................................... 91 
6.1 Interesses estrangeiros e desdobramentos da operação Lava Jato ......... 91 
6.2 Redução dos investimentos e aumento na remuneração dos acionistas . 97 
6.3 Venda de ativos e desintegração da cadeia de energia ............................ 106 
6.4 Campanha: A Petrobras Fica ....................................................................... 116 
6.5 Perspectivas futuras ..................................................................................... 119 
6.6 A política de preços de combustíveis e a retomada do debate sobre a 
privatização da estatal .......................................................................................... 127 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 137 
 
 
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 143 
APÊNDICE A - RODADAS DE LEILÕES DA BACIA POTIGUAR ........................ 164 
 
 
21 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A história humana está diretamente interligada às disputas de poder geopolítico 
entre as nações e blocos supranacionais. Nessa esteira, as fontes de energias 
assumiram um papel fundamental nas agendas desenvolvimentista governamentais. 
E a partir da segunda metade do século XX, o petróleo assumiu a liderança como 
recurso decisivo para supremacia econômica e política das nações, em especial 
aquelas que largaram primeiro com suas Revoluções Industriais. 
No Brasil, quando se fala em petróleo, gás e derivados, se pensa logo em 
Petrobras. Empresa esta que assumiu o papel central nas descobertas e explorações 
desses recursos, permitindo o alcance e manutenção da soberania energética, 
operando com liderança no segmento de petróleo e gás natural na América Latina. 
Sociedade de economia mista dotada de personalidade jurídica de direito privado, a 
Petrobras teve sua criação autorizada por lei sob a forma de sociedade anônima 
(S.A.), cujas ações são comercializadas em bolsas de valores, detendo à União a 
maioria das ações com direito a voto, conforme definição da Lei nº 13.303/2016 
(BRASIL, 2016). 
À medida que se deu o avanço na exploração das atividades petrolíferas, a 
legislação nacional veio se aperfeiçoando no sentido de prover compensações 
financeiras às entidades federativas, por meio de participações governamentais, sob 
responsabilidade das empresas exploradoras, conhecidas como operadoras. Essas 
participações beneficiam União, estados, municípios e proprietários de terras 
mediante o pagamento de royalties, participações especiais, dentre outros encargos. 
No Rio Grande do Norte (RN), a indústria petrolífera iniciou suas operações em 
1973, passando a exercer maior influência na economia ao longo da década de 1990, 
quando se intensificou as descobertas e atividades da cadeia do petróleo e gás. 
Consoante dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a produção na Bacia 
Potiguar cresceu até 1998, o auge da produção da commodity com 94,5 mil bbl/d1, 
respondendo então por, aproximadamente, 13% de todo o petróleo produzido no país. 
A partir daí, a produção veio declinando. No ano 2008 a participação potiguar era de 
3,57% da produção brasileira com 67,8 mil bbl/d, até que em 2020 estava em 36,3 mil 
 
1 Barril (bbl) é uma unidade de padrão de volume do Sistema Americano que, para o caso específico 
do petróleo, equivale a 158,9873 litros (FGV ENERGIA, 2021). 
22 
 
bbl/d, respondendo com apenas 1,19% do total (AGÊNCIA NACIONAL DO 
PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS, 2021a). 
A redução da produção de determinado campo de produção é consequência 
natural do exaurimento do reservatório, considerando que as fontes fósseis são um 
recurso finito. Entretanto, o investimento em técnicas de recuperação permite 
aumentar o Fator de Recuperação (FR) das reservas, viabilizandoa extração de um 
pouco mais do petróleo que ainda resta espraiado por entre as rochas do reservatório. 
Isso posto, o declínio produtivo na Bacia Potiguar vem ocorrendo de forma mais 
acentuada há aproximadamente 10 anos, devido justamente à redução dos 
investimentos na região que melhoraria o FR. Mais recentemente, a partir do ano 
2020, com a venda de campos de produção da Petrobras no RN, a redução se 
intensificou. Inclusive, a empresa já recebeu proposta para aquisição das áreas 
remanescentes que ainda restam no Rio Grande do Norte. Como resultado desse 
processo, o estado, que chegou a ser o segundo maior produtor da commodity 
petróleo do país, graças à atuação consistente da Petrobras, deverá ser o primeiro a 
ver a saída da estatal de suas fronteiras. 
Por outro lado, em âmbito nacional, vê-se a produção aumentando ano após 
ano, principalmente com o advento da exploração das áreas do pré-sal, descoberto 
pela Petrobras em 2006, permitindo que a empresa chegasse a alcançar, no 3º 
trimestre de 2014, a condição de maior produtora mundial de líquidos combustíveis 
entre as empresas de capital aberto (PETROBRAS, 2015d). 
Acontece que as gestões da Petrobras que assumiram desde 2015 vêm 
realizando uma série de medidas no sentido de reestruturar a empresa. Dentre as 
principais, destaca-se a redução do quadro de pessoal da holding2, que saiu do ápice 
de 86.111 empregados, em dezembro de 2013, para 45.787, em novembro de 2021 
(CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO (Brasil), 2021b). O foco de deu também na 
redução de outros custos, investimentos, endividamento da empresa, assim como o 
implemento da política de Preços de Paridade de Importação (PPI)3 e, principalmente, 
 
2 Sociedade empresária cuja totalidade ou parte de seu capital é aplicada em ações de outra 
sociedade gerando controle sobre a administração delas. 
3 O preço de paridade de importação (PPI), ou política de paridade internacional, segundo definido 
por alguns autores, representa uma metodologia utilizada pela Petrobras desde 2016 para a 
formulação do preço de venda de combustíveis nas refinarias. A formação do preço considera os 
custos do produto importado trazido ao país para diferentes pontos de entrega, utilizando como base 
a média semanal dos preços levantados pela S&P Global Platts, que é uma entidade que fornece 
informações sobre energia e commodities, sendo ainda uma fonte de avaliações de preços de 
referência nos mercados de commodities físicas. 
23 
 
a estratégia de venda deliberada de ativos da estatal que já resultou na alienação de 
quase R$ 240 bilhões desde 2015 (DANTAS; SILVEIRA, 2021). 
Considerando o exposto, o presente trabalho procurará discorrer sobre a 
evolução da cadeia do petróleo e gás e o papel central da Petrobras para o Brasil e, 
especialmente, para o RN, em seus 68 anos de existência. Será visto também o 
processo de inflexão que tem levado a estatal brasileira a restringir sua atuação ao 
segmento de exploração de petróleo e gás em águas profundas e ultra profundas. É 
que os últimos gestores juntamente com o Conselho de Administração da Companhia 
(Cia) passaram a considerar que todas as outras áreas e ativos da complexa cadeia 
em que a Petrobras se inseriu não seriam mais relevantes para seu portifólio, dentre 
eles os ativos do estado do Rio Grande do Norte. 
Diante disso, evoluiu-se para o seguinte problema de pesquisa: quais as 
principais reflexões a se destacar com as mudanças de estratégia de negócio da 
Petrobras, especialmente a partir de 2015, as consequências da política de venda de 
ativos, redução de investimentos e desintegração das cadeias produtivas de energia 
em que a estatal vinha se inserindo, e os impactos sociais e econômicos decorrentes 
do processo de sua saída do estado do Rio Grande do Norte? 
Definiu-se como procedimentos metodológicos a consolidação de um conjunto 
de referenciais teóricos, tanto bibliográfico quanto documental, utilizando-se de 
pesquisas anteriores como artigos científicos, trabalhos de conclusão de cursos, 
dissertações e teses, além de livros e matérias de jornais. Essas fontes permitiram 
analisar a contribuição da Petrobras como principal entidade da cadeia do petróleo, 
por maio das participações governamentais da atividade petrolífera, do fomento ao 
mercado de trabalho e do desenvolvimento econômico e social regional. Desta forma, 
o trabalho também teve como procedimento o estudo de caso, que, segundo Gil 
(2010), é caracterizado pelo estudo exaustivo de determinado objeto, descrevendo o 
contexto em que está sendo feita determinada investigação. Neste caso, analisa-se o 
comportamento histórico da gestão e planos estratégicos da Petrobras, assim como 
as mudanças de ordem conjuntural, política, econômica e institucional onde a 
Companhia está inserida. 
Na abordagem do problema, vê-se que a pesquisa é predominantemente 
qualitativa, já que utilizando-se de dados esquematizados que possibilite verificar as 
questões evolutivas ou involutivas atreladas à atuação da Petrobras, sem, entretanto, 
requerer o uso de métodos e técnicas de estatística. Segundo Richardson (2015), o 
24 
 
método qualitativo busca compreender os fenômenos sociais, permitindo descrever a 
complexidade de um dado problema. 
Coletou-se e consolidou-se dados de diversas fontes oficiais de organizações 
reconhecidas nacionalmente, como: Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e 
Biocombustíveis (ANP), Banco Central do Brasil (BCB), Cadastro Geral de 
Empregados e Desempregados (CAGED), Confederação Nacional da Indústria (CNI), 
Controladoria Geral da União (CGU), Departamento Intersindical de Estatísticas e 
Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto de Pesquisa Econômica 
Aplicada (IPEA), Petrobras e Secretaria do Tesouro Nacional (STN). 
Quanto aos objetivos metodológicos, a pesquisa é descritiva, na medida em 
que se preocupa em analisar os fatos e fenômenos, identificando as relações 
existentes entre as variáveis estudadas (RAUPP; BEUREN, 2006). Entende-se que a 
abordagem exploratória da pesquisa também foi utilizada, pois permitiu-se uma visão 
geral de determinado fato, cujo tema é genérico (GIL, 2010), como é o caso do setor 
energético liderado no Brasil pela Petrobras. 
O presente estudo tem como objetivo geral analisar as mudanças mais 
recentes nos rumos estratégicos da Petrobras e discutir suas perspectivas futuras. Em 
termos mais específicos, pretende-se: 
- Analisar a atuação histórica da Petrobras no Brasil, especialmente no Rio 
Grande do Norte, e a inserção de pequenos e médios produtores de petróleo e 
gás em substituição à estatal; 
- Descrever as contribuições da Petrobras com participações governamentais, 
tributos, investimentos sociais, mercado de trabalho e economia regional; 
- Identificar os impactos que têm sido gerados com o processo de saída da 
Petrobras do Rio Grande do Norte; e, 
- Avaliar a desintegração das cadeias produtivas da Petrobras, a venda de 
ativos, a redução dos investimentos, a nova política de preço de combustíveis 
e a retomada da pauta de privatização da empresa. 
O esforço para a realização deste trabalho justifica-se pela relevância da 
Petrobras, suas cadeias energéticas, especialmente a do petróleo, gás e seus 
derivados, o impacto social e econômico, a preocupação com o desenvolvimento e a 
soberania energética do Brasil, como também, a participação representativa da 
empresa para o Rio Grande do Norte. 
25 
 
Com o advento do pré-sal, o país foi alçado ao seleto grupo detentor das 
maiores reservas mundiais. Portanto, esta pesquisa pretende detalhar como vem se 
organizando as cadeias produtivas do petróleo, gás natural e outras fontes 
energéticas primárias, além das perspectivas para o setor, considerando o cenário da 
redução das atividades da Petrobras no RN e o paulatino crescimento de outras 
operadoras.Nesse sentido, avalia o alcance da participação da Companhia no estado 
e seu papel fundamental para o desenvolvimento econômico, social, cultural, 
científico, educacional, dentre outros. 
Dessa maneira, os resultados obtidos na pesquisa poderão subsidiar os 
agentes públicos e os cidadãos para compreenderem as variáveis que impactam e 
influenciam, por exemplo, na arrecadação dos municípios, na política de precificação 
dos combustíveis, no potencial nacional e diversidade das fontes de energia, assim 
como, na geração de emprego e renda decorrentes das cadeias de energia. Enfim, 
temas de relevante criticidade para a sociedade, especialmente a potiguar. 
Este trabalho está estruturado em sete capítulos, sendo a introdução o 
inaugural, onde além de apresentar a temática também é exposto a metodologia, a 
justificativa, o problema e os objetivos. O capítulo dois apresenta o histórico da 
Petrobras, desde o nascimento da empresa até os dias de hoje. No terceiro, detalha-
se as participações governamentais e sociais decorrentes da atividade petrolífera, 
inclusive é apresentado estudos anteriores que apontam os impactos em diversos 
municípios beneficiados com esses recursos. O quarto capítulo aborda o mercado 
energético potiguar liderado pela estatal e a participação de outros agentes. Nele, 
trata-se da atuação da Petrobras no estado, das rodadas de leilões de áreas 
petrolíferas e da aplicação da política de Conteúdo Local, assim como do 
detalhamento das várias atividades que envolvem a cadeia energética potiguar, que 
são a exploração e produção de petróleo e gás natural, o refino e outras matrizes 
energéticas como termoeletricidade, biocombustíveis, energias eólica e solar. O 
quinto capítulo irá discorrer sobre as contribuições da Petrobras no estado do RN, 
especificamente nas participações governamentais e sociais, no mercado de trabalho 
e na economia regional. O capítulo seis aborda as mudanças nos rumos da Cia, os 
interesses estrangeiros, os desdobramentos da Operação Lava jato, a redução dos 
investimento, a venda de ativos e desintegração da cadeia de energia. Mostra ainda 
os esforços de entidades da sociedade civil para manter a empresa atuante no Rio 
Grande do Norte, traça ainda algumas perspectivas futuras, discorre ainda sobre a 
26 
 
atual política de preço de combustíveis e a retomada do debate da privatização da 
estatal. Por fim, no capítulo sete, são apresentadas as considerações finais da 
pesquisa. 
 
 
27 
 
2 PETROBRAS: ALTOS E BAIXOS DA MAIOR EMPRESA DE ENERGIA DO PAÍS 
 
Na primeira metade do século XX, em substituição a uma economia quase que 
exclusivamente agroexportadora baseada em monoculturas, a indústria aflorava no 
Brasil em setores específicos, como o de bens de consumo não duráveis e bens 
intermediários (como tecidos, cimento e papel). Nos governos dos presidentes Getúlio 
Vargas, Eurico Gaspar Dutra, Juscelino Kubitscheck, João Goulart e alguns chefes de 
Estado do regime militar iniciado em 1964, viu-se um esforço deliberado para a 
construção do “debate sobre a industrialização brasileira, ocorrido no período do Pós-
Guerra [...] [, e o] papel desempenhado pelo Estado [...] na participação do processo 
de desenvolvimento industrial [brasileiro]” (RODRIGUES NETO, 2007, p. 3). 
Esse modelo econômico de base industrial atrelado à participação 
governamental como vanguarda na elaboração de planos, regulação e estruturação 
de cadeias através de forte investimento público fomentou a criação de várias 
empresas estatais, especialmente entre as décadas de 40 e 70. Elas foram 
fundamentais para impulsionar o desenvolvimento econômico e tecnológico nacional, 
sendo destaque (em ordem crescente de ano de criação): Companhia Siderúrgica 
Nacional-CSN (1940), Companhia Vale do Rio Doce (1942), Companhia Hidrelétrica 
do São Francisco (1945), Petrobras (1953), Usiminas (1956), Eletrobras (1961), 
Serpro (1964), Embraer (1969), Telebrás (1972) e Embrapa (1973). Além dessas 
empresas controladas pela União, também se criou subsidiárias de destaque como 
BR Distribuidora, Transpetro, Eletronuclear e Chesf. Sem contar as estatais sob 
controle dos estados da federação que também foram fundamentais para o 
desenvolvimento das regiões. Em 1952, criou-se ainda o Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico (BNDE)4, que financiou principalmente a instalação de 
indústrias de metalurgia, petroquímica, de bens de capital e a infraestrutura de 
transportes. 
Como insumos para essas indústrias, o Brasil começava a compreender a 
relevância de explorar e aproveitar melhor seus recursos naturais, e principalmente 
os minerais (inclusive, nacionalizando-os), dentre eles o petróleo, que já se mostrava 
impactante na geopolítica mundial desde o início do século XX. O mineral, que passou 
 
4 O início dos anos 80 foi marcado pela integração das preocupações sociais à política de 
desenvolvimento. A mudança se refletiu no nome do Banco, que, em 1982, passou a se chamar 
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 
28 
 
a ser decisivo para os países envolvidos na Segunda Guerra Mundial, se tornaria nos 
anos seguintes a principal fonte de energia primária da matriz energética mundial. 
O petróleo encontra-se disposto na natureza normalmente no estado líquido. É 
caracterizado como uma substância oleosa, inflamável, menos denso que a água e 
cor variante do preto ao castanho claro. Representa uma mistura de compostos 
químicos, principalmente carbono um e hidrogênio (H), e quando submetido ao calor 
intenso, através do processo de destilação fracionada, resulta em subprodutos de 
acordo com diferentes pontos de ebulição (THOMAS, 2001). As frações típicas do 
petróleo estão representados no quadro 1. 
 
Quadro 1 - Subprodutos do petróleo, seus pontos de ebulição e usos 
Fração 
Temperatura 
de ebulição Usos 
Gás residual Temperatura ambiente Gás combustível 
Gás liquefeito de petróleo – GLP Até 40 Gás combustível engarrafado para uso doméstico e industrial 
Gasolina 40 – 175 Combustível de automóveis, solvente 
Querosene 175 – 235 Iluminação, combustível de aviões 
Gasóleo leve 235 – 305 Diesel, fornos 
Gasóleo pesado 305 – 400 Combustível, matéria prima para lubrificantes 
Lubrificantes 400 – 510 Óleos lubrificantes 
Resíduo Acima de 510 Asfalto, piche, impermeabilizantes 
Fonte: Adaptado de Thomas, 2001. 
 
A cadeia produtiva da indústria do petróleo apresenta um conjunto de 
atividades agrupadas em três grandes áreas: exploração, produção e transporte do 
petróleo extraído para as refinarias (upstream); refino, importação e exportação de 
petróleo, gás natural e derivados, bem como seu transporte e armazenagem 
(midstream); e as atividades de distribuição e comercialização dos derivados do 
petróleo (downstream). Todos os segmentos da indústria petrolífera demandam 
grandes investimentos, notadamente na fase de Exploração e Produção (E&P), em 
decorrência do grau tecnológico e dos riscos envolvidos (PINTO JÚNIOR, 2007). 
29 
 
A campanha do Petróleo é Nosso foi uma das primeiras iniciativas nacionais 
onde discutiu-se que o petróleo descoberto em solo brasileiro deveria resultar em 
benefícios para a sociedade, sob a tutela e regras estabelecidas pelo Estado. “Em 
04/2/1948 [...] o Governo Dutra enviou ao Congresso Nacional o Estatuto do Petróleo, 
que propunha, em seu artigo 1º, que as jazidas de petróleo fossem da União, bem 
como a pesquisa, a lavra, o refino e o transporte” (MORAES, 2018, p. 124). A 
campanha continha forte caráter nacionalista, e envolveu entidades da sociedade civil, 
militares, intelectuais, estudantes e profissionais liberais. 
Mas não foi uma disputa fácil, sofrendo forte oposição de parcelas da sociedade 
que acusavam que a proposta criaria uma cultura de reserva de mercado. De acordo 
com Tibiriçá (1983, p. 57 apud MORAES, 2018, p. 124-125), a campanha “enfrentou 
uma série de obstáculos, como o boicote dagrande imprensa, a repressão policial 
(justificada na sua suposta vinculação ao partido comunista, na ilegalidade desde 
1947), a hostilidade do empresariado, entre outros”. 
Apesar dos embates, a campanha do Petróleo é Nosso sagrou-se vitoriosa, 
com a compreensão da maioria da sociedade de que os esforços na descoberta e 
exploração de petróleo, como matriz energética, seria fundamental para o 
desenvolvimento econômico e social brasileiro. 
A criação da empresa estatal Petróleo Brasileiro S.A (Petrobras) veio na esteira 
dessa tendência, que era encabeçada pelo próprio Getúlio Vargas. Assim, a Petrobras 
foi instituída pela Lei nº 2.004, de 3 de outubro de 1953 (BRASIL, 1953), e representou 
um marco que impulsionaria o país ao cenário mundial, em especial devido à atividade 
industrial. A partir da década de 60, o Brasil vê o setor industrial superar a 
agropecuária no valor agregado para o conjunto da economia nacional (BORGES; 
CHADAREVIAN, 2014). 
Essa proeminente atividade no país passaria a envolver, conforme Antunes e 
Martim (2003, p. 153), um “conjunto de componentes interativos, incluindo 
fornecedores de insumos e serviços, indústrias de processamento e transformação, 
agentes de distribuição e comercialização, além de consumidores finais.” Mas para 
isso, tornava-se fundamental o desenvolvimento de quadros profissionais qualificados 
tecnicamente para atuar na pesquisa, desenvolvimento e operação de infraestruturas 
da cadeia do petróleo e gás natural. E para atender essa demanda de pessoal, em 
1955, criou-se o Centro de Aperfeiçoamento de Pesquisa do Petróleo (CENAP). Entre 
1955 e 1977, a entidade formou diversos especialistas como: administradores (237), 
30 
 
analistas de comércio (103), analistas de sistemas (381), contadores e economistas 
(70), engenheiros (3613) e geólogos e geofísicos (146) (RODRIGUES NETO, 2007). 
Sob o monopólio da Petrobras, a cadeia produtiva das commodities petróleo e 
gás foi ampliada e modernizada. Ao longo das décadas de 50 e 60, foram construídas 
refinarias distribuídas estrategicamente em alguns estados do país. Refinaria de 
Mataripe (1950), na Bahia; Refinaria Presidente Bernardo (1955) e Refinaria de 
Capuava (1956), em São Paulo; Refinaria Isaac Sabbá (1956), no Amazonas; 
Refinaria Duque de Caxias (1961), no Rio de Janeiro; Refinaria Gabriel Passos (1968), 
em Minas Gerais; e Refinaria Alberto Pasqualini (1968), no Rio Grande do Sul. 
Associados a algumas refinarias, foram montados polos petroquímicos, como o 
Complexo Petroquímico de Camaçari e o Polo Petroquímico do Sul. A Petrobras criou 
ainda, em 1967, a Petroquisa, uma subsidiária que atuava no setor petroquímico. 
Entre as décadas de 70 e 80, a Petrobras realizou descobertas relevantes nas 
Bacia Potiguar (Rio Grande do Norte e Ceará), do Recôncavo (Bahia) e do Solimões 
(Amazonas). Mas a produção começou a ganhar impulso mesmo com a descoberta 
da Bacia de Campos (Espírito Santo e Rio de Janeiro) na plataforma continental. Essa 
bacia 
 
é a síntese da nossa jornada de inovação em águas profundas e ultra 
profundas, [representando um verdadeiro] laboratório em escala real para o 
desenvolvimento de tecnologias que mudaram os rumos da indústria mundial 
de petróleo e gás, [e onde já foram produzidos] nada menos que 14 bilhões 
de barris de óleo equivalente (boe)5 acumulados (PETROBRAS, 2021a, 
online). 
 
Na crise mundial do petróleo de 1973, conhecida como o Segundo Choque do 
Petróleo, quando os países árabes da Organização dos Países Exportadores de 
Petróleo (OPEP) aumentaram o preço do barril em mais de 400%, saindo de US$ 14 
o barril para US$ 58, a preços atuais, várias áreas descobertas, mas que ainda 
estavam inativas, passaram a ser economicamente vantajosas de se explorar. 
Situação intensificada com o Terceiro Choque do Petróleo de 1979, quando o barril 
passou de US$ 50 para US$ 120 o barril, a preços atuais (ALEXANDRE, 2003). 
 
5 Barril de Óleo Equivalente (boe) é uma unidade utilizada pela indústria do petróleo para comparar 
volumes de petróleo e gás natural. Tomando por base a equivalência energética entre o petróleo e 
o gás, medida pela relação entre o poder calorífico dos fluidos. Em geral, utiliza-se a seguinte 
relação aproximada: 1.000 m³ de gás para 1 m³ de petróleo (FGV ENERGIA, 2021). 
31 
 
Segundo Pinto Júnior (2007), a alta de preços desse mineral influenciou na 
reorientação de políticas energéticas em vários países do mundo. Enquanto os países 
produtores impulsionaram a exploração do petróleo, os países não produtores 
tentavam reduzir sua dependência desse insumo implementando políticas de 
substituição por outras fontes, de forma a garantir a segurança energética. 
Enquanto isso, aqui no Brasil, em 1975, no governo militar do presidente 
Ernesto Geisel, a Petrobras passaria por uma de várias provações ao longo de sua 
história, quando foi aprovado os chamados contratos de risco, que permitiam que 
empresas multinacionais pesquisassem e desenvolvessem a produção de petróleo no 
Brasil por maio da Petrobras. 
 
Ao todo, 36 empresas receberam concessões nessa modalidade e, ao fim de 
13 anos, aplicaram apenas 1,6 bilhão de dólares [...], nesse mesmo período, 
a Petrobrás investiu 19,8 bilhões de dólares, acrescentando seis bilhões de 
barris às reservas brasileiras (MORAES, 2018, p. 130). 
 
Iniciava o revés das políticas nacionalistas, desenvolvimentistas e de 
considerável participação estatal. Se intensificando a partir do governo de João 
Figueredo (1979-1985), por meio da criação do Programa Nacional de 
Desburocratização, que resultou na privatização de 20 empresas estatais. A política 
privatista e de cunho liberal teve continuidade com os governos da pós-
democratização de Sarney (1985-1990) e Collor (1990-1992), com 18 empresas 
estatais privatizadas em cada um (RODRIGUES NETO, 2007). 
Nos governos do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que foi de 
1994 a 2002, ocorreu quebra de monopólios estatais, como da Petrobras e das 
telecomunicações; e a ampliação dos processos de privatização, especialmente no 
setor siderúrgico, petroquímico e elétrico (que permitiram os apagões nacionais de 
energia em 1999 e 2001), sendo considerado o maior programa de privatizações do 
mundo (MORAES, 2018, p. 133). Só de 1997 a 2002, foram privatizadas 133 
empresas estatais dos três níveis (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E 
ESTATÍSTICA, 2004). 
Ainda no seu primeiro mandato, FHC promoveu mudanças no plano 
institucional e econômico, utilizando as diretrizes da agenda liberal atreladas ao 
32 
 
Consenso de Washington6, que influenciou a condução de alguns governos de 
países da América Latina. As novas orientações previam a criação de um novo ciclo 
de investimentos baseados no capital estrangeiro, inclusive na indústria de petróleo e 
de gás natural. No Brasil, a mudança previa a redução do protagonismo histórico da 
Petrobras, incentivando a entrada de novas empresas (principalmente multinacionais) 
para o setor. 
Em 1997, com o advento da Lei nº 9.478/1997 (BRASIL, 1997), conhecida 
como Lei do Petróleo, foi retirado o monopólio exercido, até então, pela Petrobras para 
as atividades relacionadas à exploração, produção, refino e transporte de petróleo e 
gás natural no Brasil. Portanto, com a instauração do novo ambiente institucional, 
econômico e regulatório, a petroleira brasileira perdeu a exclusividade de atuação e 
passou a ser obrigada a participar de leilões para obter o direito de exploração de 
novas áreas, ainda que a Lei tivesse mantido os direitos de propriedade da Petrobras 
sob as áreas em que já operava. O interesse do governo era permitir que outras 
empresas constituídas sob as leis brasileiras e com sede no Brasil pudessem atuar 
em toda a cadeia do petróleo, em regime de concessão7 ou mediante autorização da 
União (RIBEIRO, 2005). 
O normativo criou ainda a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e 
Biocombustíveis(ANP), autarquia que, dentre outros objetivos, passou a promover a 
regulação, a contratação e a fiscalização das atividades econômicas integrantes da 
indústria do petróleo, do gás natural e dos biocombustíveis. 
Felipe (2010, p. 75) relata que, durante o governo FHC, “começava já a pairar 
a ideia de que a estratégia política estava, no caso do petróleo, centrada na 
flexibilização do monopólio (1º passo) e na privatização da Petrobras (2º passo)”. Isso 
foi reforçado na gestão de Henri Philippe Reichstul à frente da Petrobras, entre 1999 
e 2001, quando se contratou a consultoria Arthur D. Little para planejar a 
reestruturação da estatal. A contratada apresentou as seguintes propostas que foram 
levadas a cabo: 1) transformar a empresa numa holding; 2) não privatizar a empresa 
 
6 Consenso de Washington foi um encontro ocorrido em 1989, na capital dos Estados Unidos, onde 
realizou-se uma série de recomendações visando ao desenvolvimento e à ampliação do 
neoliberalismo nos países da América Latina. 
7 A concessão é uma modalidade de delegação de uma atividade econômica pelo poder público, 
geralmente mediante processo concorrencial, a um agente econômico que demonstre capacidade 
para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado. Nessa modalidade a 
operadora torna-se proprietária de todo o petróleo produzido, mantendo obrigações junto ao 
governo, sociedade e proprietários de terras. 
33 
 
no todo, mas dividi-la em unidades independentes, denominadas de Unidades de 
Negócio (UNs), as quais poderiam ser privatizadas individualmente (RIBEIRO; 
NOVAES, 2014). 
Foi na gestão de Reichstul que ocorreu, em julho de 2000, um derramamento 
de cerca de 4 milhões de litros de óleo que se estendeu por quase 40 km no Rio 
Iguaçu, que corta o estado do Paraná, destruindo a flora, fauna e comprometendo o 
abastecimento de água em várias cidades da região. Segundo acordo homologado 
em outubro de 2021 com os Ministérios Públicos Federal e Estadual do Paraná, a 
Petrobras terá de pagar quase R$ 1,4 bilhão de indenização (JUSTIÇA..., 2021). No 
ano seguinte, em 2001, a P-36, maior plataforma produtora de petróleo do mundo, até 
então, afundou, causando a morte de 11 trabalhadores e levando a Petrobras a um 
prejuízo de mais de R$ 1 bilhão (PLATAFORMA..., 2001). As investigações dos 
acidentes apontaram para negligência no atendimento aos requisitos de manutenção, 
insuficiência em programas de treinamentos e necessidade de implementação de 
procedimentos de segurança mais rigorosos. 
Biondi (2003) exemplifica bem o direcionamento da gestão da Companhia no 
governo FHC. Ao passo que o governo federal reduzia o orçamento da Petrobras em 
R$ 1 bilhão, segundo o boletim Informe BNDES, de fevereiro de 1996; articulava para 
que parte dos investimentos fosse realizado pela iniciativa privada, com argumento de 
não prejudicar as metas de aumento da produção de petróleo dos campos. 
O governo praticamente exigiu que a petroleira brasileira convidasse grupos 
privados para participar conjuntamente nas novas áreas leiloadas. Foi o caso de um 
projeto no campo de Marlim, na Bacia de Campos, que detinha grande volume de 
petróleo nas jazidas. Acontece que, enquanto a empresa brasileira aplicou R$ 5 
bilhões nesse projeto, seus sócios injetaram apenas R$ 140 milhões, mas o rateio dos 
lucros extraordinários não ocorreu de forma proporcional, havendo menor retorno para 
a Petrobras (BIONDI, 2003). 
Apesar de todo o incentivo estatal visando a abertura do mercado, poucas 
empresas internacionais, ou mesmo nacionais, se interessaram em atuar no Brasil da 
promulgação da Lei do Petróleo até a primeira década do século XXI. Restou à 
Petrobras e suas subsidiárias dar sustentação à cadeia de óleo e gás, alavancando o 
desenvolvimento tecnológico e construindo conhecimento e expertise ao longo de 
décadas através dos seus centros de pesquisas. 
34 
 
Esse período marcou profundamente a Petrobras, o número de trabalhadores 
foi reduzido de 60 mil, em 1989, para pouco mais de 32 mil, em 2001, precarizou-se 
as condições de trabalho e reduziu-se os benefícios da categoria (PALMEIRA, 2006). 
Em 2000, foi aberto o capital da empresa através da venda de ações na bolsa de Nova 
York, com a formação de American Depositary Receipts (ADRs)8, submetendo a 
estatal às regras e leis de outros países. A estratégia era pulverizar no mercado ações 
da empresa, aproveitando-se do fato de a Petrobras ter sido criada como uma 
sociedade de economia mista. Por consequência, houve uma drástica queda da 
participação total acionária do Estado brasileiro, saindo de mais de 80% para 32%, 
entre o início e o fim do governo FHC (RIBEIRO; NOVAES, 2014). 
Somente a partir de 2003, com a ascensão do metalúrgico Luiz Inácio Lula da 
Silva à presidência da república, o governo federal oportunizaria à Petrobras a 
retomada dos investimentos, possibilitando ao país alavancar o segmento do petróleo, 
do gás e de outras fontes de energia. Conforme as Demonstrações Financeiras da 
Petrobras, o valor investido saiu de R$ 555 milhões em 2003, para R$ 1,87 bilhão em 
2009 (PETROBRAS, 2021b). 
O Estado brasileiro passou então a incentivar o fortalecimento da Petrobras 
como empresa integrada de energia. Assim, passou a atuar e intensificar sua 
participação em várias cadeias de energia. 
No setor petroquímico, sua atuação mais recente e significativa foi como 
importante acionista (em fevereiro de 2022, detinha 36,1% do capital total) da 
Braskem, que é hoje a maior produtora de resinas termoplásticas nas Américas e a 
maior produtora de polipropileno nos Estados Unidos. 
A Petrobras tornou-se líder nacional na produção de fertilizantes nitrogenados, 
com as Fábricas de Fertilizantes (Fafens), atuando em 3 (Paraná, Bahia e Sergipe) e 
tendo avançado em uma quarta, no Mato Grosso, construído mais de 80% da unidade. 
Vinha atuando em diversos projetos nos ramos de biocombustíveis por meio da 
subsidiária Petrobras Biocombustível S.a. (PBio). A PBio chegou a ter participações 
em 6 usinas de biodiesel (Guamaré, Marialva, Passo Fundo, Candeias, Quixadá e 
Montes Claros), e em outras 9 usinas de etanol (Bambuí, Severínia, Cruz Alta, São 
 
8 American Depositary Receipts (ADR) na tradução, Recibos de Depósitos Americano, são 
certificados de ações, emitidos por bancos estadunidenses, com lastro em títulos de valores 
mobiliários de empresas estrangeiras, negociados em dólares americanos nas Bolsas de Valores 
dos Estados Unidos. 
35 
 
José, Andrade, Vertente, Boa Vista, Tanabi, Mandu). As capacidades somadas das 
usinas de biodiesel e de etanol são, respectivamente, de 866,1 milhões e 1,5 bilhão 
de litros anuais (PETROBRAS..., 2016). 
A Petrobras ainda teve importantes atuações na geração de energia elétrica, 
por intermédio de termoelétricas, parques eólico e solar. A maior parcela da energia é 
produzida nas 20 usinas termoelétricas da estatal, que detém capacidade total 
superior a 6.000 megawatts (MW) fornecidos para o Sistema Interligado Nacional 
(SIN) (PETROBRAS, 2021r). 
Cabe avaliar que o desenvolvimento dos países modernos depende 
umbilicalmente da obtenção de fontes de energia, assim como o estabelecimento de 
toda uma infraestrutura relacionada. Tais fatores permitem maior segurança 
energética nacional para suportar níveis de consumo necessários para avançar com 
os empreendimentos econômicos críticos e fortalecer os conglomerados industriais 
desses países. Nesse sentido, o Brasil estava seguindo esse caminho de 
 
[...] projetar centros de transformação que sejam capazes de processar uma 
gama relativamente ampla de insumos e gerar variedade de produtos 
energéticos [...]. A partir daí, configura-se uma trajetória de construção efetiva 
de uma indústria de energia e de um mercado de energia. [...] Não se trata 
[apenas] de uma convergência de negócios, mas de uma convergência 
tecnológica que constrói uma única indústria, derrubandofronteiras entre as 
cadeias e gerando um espaço comum (PINTO JÚNIOR, 2007, p. 7). 
 
Com os investimentos e ampliação do orçamento de custeio, foi possível que a 
Petrobras recompusesse o quadro de pessoal e executasse projetos de ampliação de 
suas atividades, resultando em novas descobertas que permitiram a contínua 
ampliação da produção da estatal. Portanto, destaca-se dois importantes feitos. Em 
2006, o Brasil alcançava a autossuficiência na produção de petróleo, superando seu 
consumo, devido, principalmente, a contribuição da Petrobras. E no ano seguinte, a 
petrolífera anuncia a descoberta de gigantescos reservatórios de petróleo e gás 
natural em águas ultra profundas na província denominada de pré-sal9, que 
ultrapassou as reservas da Bacia de Campos. 
 
 
 
9 As formações geológicas do petróleo do pré-sal ficam localizadas em profundidades totais de 
aproximadamente 5 mil metros, sendo 2 mil de lâmina d’água, mil metros de sedimentos e outros 2 
mil de sal. 
36 
 
Há mais de vinte anos, os geólogos da Petrobras apontavam a possibilidade 
da existência de imensas reservas de petróleo no oceano brasileiro, abaixo 
de uma camada de sal [...] [onde] o óleo teria se formado há 130 milhões de 
anos, quando os continentes ainda estavam unidos na ‘pangeia’. [...] A 
primeira tentativa de perfuração não foi concluída porque a Chevron, que 
atuava em consórcio com a Petrobras, não aceitou realizar investimentos 
necessários, limitando-se aos primeiros 100 milhões e saiu do negócio. [...] 
Esse fato demonstra com clareza que a descoberta do pré-sal e o 
desenvolvimento de sua tecnologia não vieram de um investimento privado, 
mas sim de uma política de Estado; ressalta-se ainda que a quebra do 
monopólio estatal em 1997 atrasou a descoberta do pré-sal em dez anos 
(MORAES, 2018, p. 138-139). 
 
A nova província, localizada na Bacia de Santos, representou a maior 
descoberta das últimas décadas, estando entre as maiores da história. Inclusive, 
essas reservas petrolíferas ainda não foram dimensionadas com precisão, mas são 
estimados volumes que giram entre 30 e 100 bilhões de boe. Um montante que pode 
ser superado em função da natureza geológica, do desenvolvimento tecnológico e das 
condições macroeconômicas, o que colocaria o Brasil ao lado da Venezuela e da 
Arábia Saudita como os maiores detentores mundiais de reservas (COUTINHO, 
2017). 
A produção na região, que foi iniciada em 1º de maio de 2009, rapidamente 
apresentou um desempenho produtivo melhor do que os campos existentes, conforme 
resumiu Lima (2016, p. 9), “[...]foram necessários 44 anos para que o País atingisse a 
marca que o pré-sal atingiu em apenas 6 anos” de 1 milhão de boe/d, conquistado em 
2016. 
Com as preciosas reservas do pré-sal, no Brasil passou-se a suscitar o debate 
de qual seria o melhor modelo contratual exploratório para aproveitamento dos 
recursos proporcionados por essas novas reservas. O governo fomentou intensas 
discussões junto à sociedade e no Congresso Nacional, sendo aprovado, em 
definitivo, a Lei nº 12.351/2010 (BRASIL, 2010), onde constaria que, para explorar as 
áreas do pré-sal, os Leilões seriam efetuados sob o regime de partilha de produção10. 
De acordo com Moraes (2018, p. 145), o novo modelo de regulação “contemplava 
mais soberania energética, destinação social do excedente econômico e a grande 
possibilidade da utilização do petróleo e gás para inaugurar um novo ciclo de 
desenvolvimento do país.” 
 
10 Partilha de produção é regime de exploração e produção de petróleo, de gás natural e de outros 
hidrocarbonetos fluidos no qual o contratado exerce, por sua conta e risco, as atividades de 
exploração, avaliação, desenvolvimento e produção. E, em caso de descoberta comercial, ele 
adquire o direito à apropriação. 
37 
 
O regime de concessão, utilizado até então, mantinha os benefícios 
prioritariamente para as empresas que adquiriam as áreas de exploração, ficando a 
menor parcela com o Estado. Sem contar que a nova província oferecia risco 
exploratório baixo, diminuindo muito as incertezas da expectativa de retorno dos 
projetos. 
 
38 
 
3 PARTICIPAÇÕES GOVERNAMENTAIS E SOCIAIS RESULTANTES DA 
ATIVIDADE PETROLÍFERA 
 
Segundo Afonso e Gobetti (2008, p. 236), “a palavra royalty vem do inglês royal, 
que significa ‘da realeza’ ou ‘relativo ao rei’. Originalmente, era o direito que o rei tinha 
de receber pagamentos pelo uso de minerais em suas terras”. Aqui no Brasil, a 
primeira norma que empregou o termo royalty foi a Lei nº 9.478/1997 (BRASIL, 1997), 
relacionando-se às participações governamentais sobre a renda petrolífera. A 
previsão das rendas da atividade petrolífera já existia antes dessa lei, mas eram 
chamadas de indenizações ou compensações financeiras. 
Royalty pode ser entendido como um instrumento para capturar rendas 
diferenciais da indústria petrolífera para a sociedade. Uma segunda função seria a de 
internalizar os custos sociais relacionados à utilização de derivados de petróleo, tais 
como poluições e degradações ambientais, custos de manutenção de equipamentos 
públicos e demais externalidades negativas (LEAL; SERRA, 2002). 
A mesma norma que criou a Petrobras, ou seja, a Lei nº 2.004/1953, passou 
também a reger as regras de aplicação dos recursos provenientes da exploração e 
produção de petróleo e gás natural, estabelecendo que 5% do valor da produção 
terrestre seria repassado aos estados e municípios produtores. Apenas com a Lei nº 
7.453/1985 (BRASIL, 1985), foi que a produção de óleo, xisto betuminoso e gás 
extraídos de águas marítimas passaram a estar sujeitas ao pagamento de 
indenizações, que seriam rateadas da seguinte forma: 
- 1,5%: estados e territórios confrontantes; 
- 1,5%: municípios confrontantes e suas respectivas áreas geoeconômicas; 
- 1%: Ministério da Marinha, para atender aos encargos de fiscalização e 
proteção das atividades econômicas das referidas áreas, e; 
- 1%: Fundo Especial a ser distribuído entre todos os estados, territórios e 
municípios. 
A Lei nº 2.004/1953 não ofertava aos gestores públicos que recebiam os 
recursos provenientes da exploração do petróleo e gás muitas alternativas para o seu 
emprego. Era previsto que essa renda deveria ser aplicada preferencialmente nas 
áreas de saneamento básico, abastecimento e tratamento de água, energia, irrigação 
e proteção ao meio ambiente. Com a edição da Lei nº 7.525/1986 (BRASIL, 1986), 
39 
 
ficou mais rígida a alocação dos royalties, devendo agora ocorrer exclusivamente 
nessas áreas, ou seja, sem possibilidade de discricionariedade. 
Seguindo diretrizes diferentes, a Lei nº 9.478/1997, que revogou a Lei nº 
2.004/1953, permitiu que os entes da federação tivessem maior flexibilidade na 
utilização dos recursos provenientes do petróleo, pois o texto passou a vedar a 
aplicação dos royalties e das participações especiais apenas para pagamento de 
dívidas e quadro permanente de pessoal. 
Complementarmente, a aplicação dos recursos de participações 
governamentais deve obedecer aos ditames da Lei nº 4.320/1964 (BRASIL, 1964) e 
da Lei Complementar nº 101/2000 (BRASIL, 2000), a chamada Lei de 
Responsabilidade Fiscal. Esses recursos devem passar, necessariamente, pela 
fiscalização dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, nos termos da legislação vigente, por se constituírem receita originária. 
No que tange à Constituição Federal (BRASIL, 1988), o art. 176 cita que as 
jazidas minerais, que inclui petróleo e gás natural, existentes no subsolo do território 
nacional pertencem à União, e que esta poderá autorizar ou conceder a pesquisa e a 
lavra desses recursos no caso de interesse nacional. A Constituição informa ainda 
que as empresas que recebem uma concessão da União com o objetivo de explorar 
e produzir as riquezas minerais devem pagar uma compensação financeira à União, 
Estados, Distrito Federal e municípiosbeneficiários. 
O Decreto nº 2.705/1998 (BRASIL, 1998a) veio definir os critérios para cálculo 
e cobrança das participações governamentais de que trata a Lei nº 9.478. Esta mesma 
lei já tinha definido que o contrato de concessão disporia sobre as seguintes 
participações governamentais das atividades de exploração, desenvolvimento e 
produção de petróleo e gás natural: i) bônus de assinatura; ii) royalties; iii) participação 
especial; e, iv) pagamento pela ocupação ou retenção de área. 
O Decreto cita que os royalties incidem sobre o valor da produção do campo, 
sendo recolhidos pelas empresas concessionárias e transferidos à Secretaria do 
Tesouro Nacional (STN) até o último dia do mês seguinte àquele em que ocorreu a 
produção, para serem pagos tanto aos estados e municípios quanto aos proprietários 
de terras. 
O bônus de assinatura corresponde ao pagamento do lance vencedor no leilão 
de licitação, e está associado à expectativa das empresas quanto ao potencial 
produtivo dos blocos disputados e ao grau de competição pela área na rodada de 
40 
 
licitação. As participações especiais são compensações extraordinárias ao Governo 
incidentes somente sobre campos de grande volume de produção ou de grande 
rentabilidade. Por fim, a taxa de ocupação ou retenção de áreas representa uma 
espécie de aluguel anual calculado por km2 de área retida para exploração, 
desenvolvimento ou produção, que deve ser pago ao proprietário da terra ao longo da 
vigência do contrato de concessão. 
Basicamente, os recursos de royalties do petróleo para o regime de concessão 
são divididos em duas categorias: os gerais, que são cobrados mensalmente, em 
percentual mínimo de 5% sobre a produção (art. 48, da Lei 9.478/97); e os excedentes, 
que são cobrados, como o próprio nome diz, pela produção excedente (art. 49, da Lei 
9.487/97). A Lei nº 12.351/2010 (BRASIL, 2010), que trata do regime de partilha de 
produção em áreas do pré-sal e em áreas estratégicas, informa que nessas áreas a 
alíquota de royalties é de 15%. 
O valor a ser pago pelos concessionários é obtido multiplicando-se três fatores: 
- Alíquota dos royalties do campo produtor, que pode variar de 5% a 15%; 
- Produção mensal de petróleo e gás natural produzidos pelo campo; e 
- Preço de referência destes hidrocarbonetos no mês (artigos 7º e 8º do Decreto 
nº 2.705/1998, que regulamentou a Lei nº 9.478/1997). 
As equações são as seguintes: 
Royalties = alíquota x valor da produção 
Valor da produção = (V petróleo X P petróleo) + (V gn x P gn) 
 
Onde: 
Royalties = valor decorrente da produção do campo no mês de apuração, em R$. 
Alíquota = percentual previsto no contrato de concessão do campo. 
V petróleo = volume da produção de petróleo do campo no mês de apuração, em m³. 
P petróleo = é o preço de referência do petróleo produzido no campo no mês de 
apuração, em R$/m³. 
V gn = volume da produção do gás natural do campo no mês de apuração, em m³. 
P gn = preço de referência do gás natural produzido no campo no mês de apuração, 
em R$/m³. 
Para o regime de concessão, que representa toda extração e produção em terra 
e águas rasas (como na Bacia Potiguar), e algumas áreas marítimas de águas 
profundas e ultra profundas, da parcela de 5% de royalties, os estados produtores têm 
41 
 
direito a 70%; os municípios produtores, 20%; e os municípios com instalações de 
embarque e desembarque de petróleo e gás natural, 10%. Já a parcela que exceder 
os 5% da produção é segregada de acordo com o gráfico 1: 
 
Gráfico Erro! Argumento de opção desconhecido. - Parcela que exceder os 5% 
de royalties da produção de petróleo e gás natural 
 
Fonte: Adaptado de Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, 2021e. 
 
Caba ainda frisar que além dos entes públicos, os royalties também são pagos 
aos proprietários de terras. O valor da participação é apurado mensalmente, 
multiplicando-se o percentual definido pela ANP quando do contrato de concessão do 
bloco, que varia entre 0,5% e 1% sobre a receita bruta de produção em cada poço 
localizado em terras do proprietário. 
Quanto ao impacto das atividades petrolíferas nos municípios produtores e 
beneficiários de royalties, e a aplicação dos recursos decorrentes, verifica-se a 
existência de diversas pesquisas que vem tratando da temática (quadro 2). Os 
estudos normalmente se utilizam de indicadores para avaliar fatores relacionados ao 
desenvolvimento humano, ao crescimento econômico regional e a eficiência e/ou 
eficácia fiscais na arrecadação e no gasto dos recursos pelos gestores públicos. 
 
52,50%
15%
12,50%
12,50%
7,50%
Estados produtores
Municípios produtores
União - Fundo Social (Capitalização
União - Fundo Social (Educação e Saúde)
Municípios afetados por instalações de embarque e
desembarque de petróleo e gás natural
42 
 
Quadro 2 - Pesquisas que analisaram os impactos decorrentes das atividades petrolíferas nos municípios. 
Autor Município/Esta
do pesquisado 
Ano do 
trabalho 
Período da 
pesquisa 
Resultados 
Pacheco 9 municípios 
produtores da 
região norte do 
Estado do Rio 
de Janeiro 
2004 1996-2003 Confirmou-se que os royalties e participações especiais estão possibilitando maiores 
investimentos em infraestrutura nos municípios contemplados e para suprir a demanda 
excessiva por serviços públicos. Ao mesmo tempo, não se verificou ações concretas 
para a promoção de um projeto de sustentabilidade e de diversificação da base 
produtiva local, de modo a prevenir o declínio econômico, decorrente da exaustão das 
reservas de hidrocarbonetos. 
Silva 14 municípios 
produtores do 
estado do Rio 
Grande do Norte 
2007 1999-2005 A trajetória dos municípios produtores de petróleo no Rio Grande do Norte é marcada 
por caminhos e descaminhos. O aumento da produção e do preço internacional do 
petróleo contribuiu para o crescimento nas receitas dos royalties e das participações 
especiais, o que não significou um aumento automático nos recursos destinados ao 
investimento e na qualidade na provisão e bens e serviços voltados para o 
desenvolvimento local. 
Lall 
Júnior 
Governador Dix-
Sept 
Rosado/RN 
2007 1998-2004 O pagamento da participação sobre a produção de petróleo e gás natural aos 
proprietários de terra do município de Governador Dix-Sept Rosado, embora traga 
incrementos altamente positivos na renda, não produz efeito multiplicador onde as 
propriedades estão encravadas, pois o consumo é realizado predominantemente em 
municípios vizinhos. 
Gomes Municípios 
produtores do 
estado do Rio 
de Janeiro 
2007 2004 Os resultados demonstraram que os municípios com altas receitas de royalties de fato 
possuem um gasto social per capita maior do que os demais municípios fluminenses. 
As funções sociais que mais receberam recursos foram saúde e educação, seguidos 
pelo urbanismo. Mas, naqueles municípios onde as receitas de royalties representaram 
mais do que 30% de todas as receitas correntes, o maior item de gasto foi o urbanismo, 
à frente de saúde e educação. Outro diagnóstico é de que os royalties de petróleo 
aumentaram a desigualdade entre os municípios do estado. 
Postali 789 municípios 
brasileiros 
beneficiários de 
royalties 
2007 1996-2004 Os resultados confirmam a chamada “maldição dos recursos naturais” da literatura mundial, 
mostrando que os municípios contemplados com royalties cresceram menos do que os 
municípios que não receberam tais recursos. Em geral, para cada 1% adicional de royalties 
observa-se uma redução de cerca de 0,06% da taxa de crescimento do município. 
43 
 
Autor Município/Esta
do pesquisado 
Ano do 
trabalho 
Período da 
pesquisa 
Resultados 
Segantin
i, Lucena 
e 
Oliveira 
15 municípios 
produtores do 
estado do Rio 
Grande do Norte 
2009 1995-2000 Ocorreram melhorias na dinâmica de desenvolvimento dos municípios da região devido, 
dentre outros fatores, o incremento da receita extraordinária nos orçamentos 
municipais, permitindo investimentos

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