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Resumo-Expandido--DIREITO-E-LITERATURA-A-SOCIEDADE-CONTEMPORNEA-PELA-VISO-DE-K

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1 
 
VIII SEPE- Seminário de Ensino, Pesquisa e Extensão 
do CERES-UFRN
Período-15 a 17/05/2017
Local- Caicó/UFRN/CERES
Inscrições e informações
sepeceres2017@gmail.com
 
DIREITO E LITERATURA: A SOCIEDADE CONTEMPORÊNEA PELA VISÃO DA 
OBRA O PROCESSO, DE KAFKA 
Gabriela Garcia Medeiros Araújo
1
 
Luana Dantas de Araújo
2
 
Ubirathan Rogério Soares (Orientador)
3
 
RESUMO 
O presente trabalho tem como finalidade analisar a eminente relação entre Direito e 
Literatura, dado os vários pontos de convergência entre essas áreas do conhecimento. Essa 
investigação se faz, portanto, através da obra literária O processo, de Franz Kafka, por 
permitir ampla discussão sobre questões sociais e referentes às instituições jurídicas. Dessa 
forma, esta pesquisa pretende ainda reforçar a importância da literatura como uma fonte de 
reflexão e também um suporte para profissionais do Direito. 
Palavras-chave: Direito. Literatura. O processo. 
 
ABSTRACT 
The present paper aims to analyze the relationship between Law and Literature, given the 
several convergences in these areas of knowledge. This investigation was made through the 
literary work ―The Trial‖, written by Franz Kafka, by allowing a wide discussion about social 
issues and legal institutions. Therefore, the research intends to reinforce the importance of 
literature as a discussion asset and support for law professionals. 
Keywords: Law. Literature. The Trial. 
1 INTRODUÇÃO 
Na evolução histórica do Direito, este, inicialmente, encontrava-se fundado no rigor 
lógico, fundamentado apenas no saber científico. Sendo assim, se fazia distante da dinâmica 
social e isolado de outras áreas do saber. Ao longo do tempo, porém, passou-se a entender o 
 
1
 Acadêmica do 3° período do Curso de Direito do Ceres – UFRN; E-mail: gabrielagarcia756@gmail.com 
2
 Acadêmica do 3° período do Curso de Direito do Ceres – UFRN; E-mail: lda.a@hotmail.com 
3
 Docente/pesquisador do Curso de Direito do Ceres – UFRN; E-mail: ursoares1@hotmail.com 
2 
 
Direito como uma área que possui estrita relação com outros campos do saber como a 
filosofia, sociologia, psicologia, história e literatura, por exemplo (SANTOS, 2012). 
Além disso, o fenômeno jurídico passou a ser compreendido também através dos 
acontecimentos sociais, considerando o contexto histórico por trás dos fatos, a fim de melhor 
exercer a Justiça, baseado em uma perspectiva mais humanista do Direito, tornando-o mais 
próximo da sociedade. Assim, a tendência à interdisciplinaridade entre os campos do saber se 
refletiu também no Direito a partir do século XX, em que este passa a ser compreendido 
através da perspectiva literária, enfoque deste trabalho. Nesse sentido, a literatura é vista 
como um repositório dos conflitos sociais e culturais que marcaram determinado contexto 
histórico, podendo, portanto, ser de grande serventia para o Direito (LIMA; CHAVES, 2011). 
Dito isso, o presente artigo pretende expor essa relação da literatura com o Direito, 
utilizando a obra O processo, de Kafka, com o intuito de examinar como se dá a 
burocratização promovida pelas instituições jurídicas e quais os reflexos para a sociedade. 
2 METODOLOGIA 
A presente produção acadêmica foi realizada a partir de pesquisa bibliográfica acerca 
do tema envolvendo a relação existente entre Direito e Literatura. Para isso foram consultadas 
obras de doutrinadores da ciência jurídica, bem como obras literárias. 
3 DIREITO E LITERATURA PELA OBRA O PROCESSO, DE FRANZ KAFKA 
A interação entre Direito e Literatura pode ser analisada sob pelo menos três 
perspectivas, que correspondem ao Direito da Literatura, o Direito como Literatura e o Direito 
na Literatura. 
Inicialmente, o Direito da literatura é uma corrente mais voltada às questões de 
propriedade intelectual referente às obras literárias, que analisa a liberdade de expressão e a 
história jurídica da censura, por exemplo (RAMIRO, 2012). Já a corrente do Direito como 
literatura estuda os aspectos linguísticos que permeiam os textos literários e jurídicos, 
investigando a análise retórica e os métodos de interpretação de ambas as construções 
discursivas. Essa concepção do Direito e Literatura utiliza também as práticas da crítica 
literária para compreender o Direito, as instituições jurídicas, os procedimentos jurisdicionais 
e a justiça (LIMA; CHAVES, 2011; CHUEIRI, 2006 apud RAMIRO, 2012). 
 Finalmente, a dimensão do Direito na Literatura se refere ao estudo de temas jurídicos 
presentes em obras literárias. Nessa perspectiva, a literatura se mostra como um reflexo do 
3 
 
pensar e do sentir do homem, permitindo a compreensão da experiência jurídica dentro de um 
determinado contexto cultural. Sendo assim, ela serve para explicitar a relação entre o Direito 
e a sociedade (RAMIRO, 2012; LIMA; CHAVES, 2011). 
Franz Kafka reproduz, em suas obras, a ideia do absurdo e a distorção da realidade, 
levando o leitor a uma reflexão crítica das instituições de sua sociedade. Assim, como 
profissional do Direito, Kafka enriquece suas obras ao se debruçar sobre questões dessa 
natureza, chegando a antever, de certa forma, o Direito construído no século XX e, mantendo-
se atual ainda na contemporaneidade (TRINDADE, 2012). Sob essa perspectiva, buscou-se, 
com este trabalho, analisar alguns aspectos da literatura kafkiana, mais especificamente do 
livro O processo, sem, entretanto, esgotar tal investigação, devido às várias possibilidades de 
interpretação compreendidas pela obra. 
A obra, então, retrata a história do personagem Josef K., um bancário, tido como um 
funcionário exemplar e dedicado à sua função. Porém, em determinado momento, ―Alguém 
devia ter caluniado a Josef K., pois sem que ele tivesse feito qualquer mal foi detido certa 
manhã.‖ (KAFKA, 2005). Logo, havia sido Josef K. acusado injustamente, por motivos nunca 
explicados. No decorrer da trama, ele é julgado e condenado por um tribunal misterioso. 
Dessa forma, a justiça é sempre inacessível e as regras incompreensíveis, que impossibilitam 
ao acusado a compreensão dos fatos. Neste contexto, o direito à vida é cerceado e Josef K., 
sem ser julgado, é condenado à morte. 
Toda a narrativa se segue sem que se conheça aquele quem denunciou Josef K. e o 
motivo de estar sendo detido. Embora ele busque encontrar as respostas para suas dúvidas, 
acaba sempre imerso em um mundo desconhecido, onde não se sabe quem atua nas funções 
estatais, e os próprios funcionários são meros acessórios para cumprir com enunciados 
impessoais e imperativos. Não desistindo, Josef K. procura entrar em contato com o 
judiciário, mas acaba encontrando um amontoado de processos esquecidos com o tempo, onde 
o dele seria apenas mais um nessa pilha gigantesca. 
Nessa busca incessante e sem resultados para tentar resolver aquele ―mal-entendido‖, 
Josef K. acaba por desistir de sua luta contra as forças desconhecidas da grande e complexa 
máquina burocrática; máquina essa que parece controlar tudo, dominar os arredores e alcançar 
a todos os lugares. Então, presumindo-se condenado, aceita a execução da decisão: 
Mas as mãos de um dos senhores seguraram a garganta de K. enquanto o outro lhe 
enterrava profundamente no coração a faca e depois a revolvia ali duas vezes. Com 
os olhos vidrados conseguiu K. ainda ver como os senhores, mantendo-se muito 
próximos diante de seu rosto e apoiando-se face a face, observaram o desenlace. 
Disse: — Como um cachorro! — era como se a vergonha fosse sobrevivê-lo 
(KAFKA, 2005). 
4 
 
Assim, o livro retrata o controle exercido pelo Estado sobre as pessoas que através de 
forças, embora invisíveis, têm o completo domínio sobre o ser enquanto indivíduo. Na 
narrativa, a incomunicabilidade entre a autoridade e o homem, separados por uma barreira de 
obstáculos intransponíveis, se faz presente a todo o tempo. A partir disso, Kafka denuncia a 
sociedade queatravés de seu labirinto burocrático, acaba por submergir o indivíduo, impondo 
de forma unilateral as vontades de quem detém o poder. 
Kafka atribui ao Direito o exercício da repressão social, sendo esse um direito que atua 
como sanção e não como promotor de um bem-estar. Assim, não é oferecida outra alternativa 
ao personagem – Joseph K. – que nem mesmo tem garantidos aqueles direitos que ele supõe 
que tem. Dessa forma, ―longe de poder dar os rumos de sua própria sorte a população se vê 
refém de regras que não foram estipuladas por ela e que são acatadas como uma espécie de 
único remédio para a cura de uma doença gravíssima‖ (SALGADO, 2012). 
Essa compreensão do Direito como instrumento de repressão social ainda permeia a 
noção que se tem do papel do ordenamento jurídico nos dias atuais. Entende-se, portanto, que 
o Direito é um ―mal necessário‖ para a conservação da vida em sociedade, dando a este 
autoridade e legitimidade para ditar as leis. 
Além disso, na obra de Kafka se vê duras críticas ao sistema judiciário. Nesse sentido, 
a narrativa transmite a ideia de que a justiça não é para todos, se mostrando, muitas vezes, 
inacessível. Tal inacessibilidade se reflete na atualidade através de fatores de ordem 
econômica, social e cultural, por exemplo, que dificultam a comunicação de determinada 
parcela da população com a justiça. Somado a isso, a falta de consciência do cidadão em 
relação a seus direitos, os altos custos, o descrédito do judiciário, e a lentidão da justiça 
também atuam como fatores que impossibilitam o acesso a ela (NASCIMENTO, 2010). 
A burocracia, criada para garantir um Direito mais abstrato e objetivo, sem a 
interferência dos sentimentos dos que lidam com esse direito, assume contornos cada vez 
maiores. E essa, fugindo de sua finalidade, faz com que o conteúdo do Direito se perca nesse 
emaranhado burocrático. Mais ainda, ela faz com que os homens sejam encarados como 
meros instrumentos do Estado, prontos a executar as tarefas determinadas, tornando, assim, o 
ser ―menos humano‖ diante da inalcançável máquina burocrática (SALGADO, 2012). 
Diante disso, mostra-se a desintegração da personalidade humana face à burocracia 
estatal, marca da época vivenciada por Franz Kafka. (TRATENBERG, 2001). Tal contexto 
histórico por trás da produção dessa obra foi marcado pela Primeira Guerra Mundial, período 
em que ocorre o surgimento do Estado Nacional, sobretudo na Alemanha. Desse modo, Kafka 
percebe o ―apequenamento‖ do homem frente ao grande poder estatal. 
5 
 
Assim é também no mundo contemporâneo, em que o homem se apercebe estando 
perdido em meio a esse emaranhado de controle e dominação, não conseguindo mais fazer 
prevalecer a sua vontade diante da grandeza do instrumento do Estado. Kafka denuncia, 
portanto, a sociedade burocrática de sua época e suas injustiças. Essa crítica merece atenção 
dos profissionais do Direito ainda hoje, para que possam resgatar a real Justiça pretendida 
pelo Direito, não correndo o risco de torná-lo uma entidade inacessível, distante da sociedade. 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Como frutos da criação humana, o Direito e a Literatura apresentam muitos pontos em 
comum. Esta reflete a sociedade com seus valores e sua concepção de Direito, ao retratar, 
muitas vezes, conflitos, ideais e angústias presentes no seio de determinada sociedade em um 
dado momento histórico. Sob esse ponto de vista, as obras de Kafka cumprem esse papel para 
com o Direito. Franz Kafka tematizou questões que permitem (re)pensar os paradoxos do 
Direito, como analisado em O Processo, por exemplo. 
É indiscutível, portanto, que Direito e a Literatura andam juntos, de tal forma que essa 
relação permite uma compreensão mútua dos dois mundos. Dessa forma, as obras literárias 
apresentam-se como uma importante fonte de reflexão para estudantes e profissionais do 
Direito com respeito aos fenômenos sociais e jurídicos intimamente relacionados. 
REFERÊNCIAS 
KAFKA, Franz. O processo. São Paulo: Companhia das letras, 2005. 
LIMA, Carla Sales Serra de; CHAVES, Glenda Rose Gonçalves. Dom casmurro de Machado 
de Assis: uma interface entre Direito e Literatura. Revista Ética e Filosofia Política, n.14, 
vol.2, out. 2011. 
NASCIMENTO, Meirilane Santana. Acesso à Justiça: Abismo, população e judiciário. 
Revista Âmbito Jurídico, n.74, mar. 2010. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7498> Acesso em: 
20 nov. 2016. 
RAMIRO, Caio Henrique Lopes. Direito, literatura e a construção do saber jurídico: Paulo 
Leminski e a crítica do formalismo jurídico. Revista de Informação Legislativa, Brasília, 
a.49, n.196, out./dez. 2012. 
SALGADO, Gisele Mascarelli. A crítica do Direito pela literatura: a partir da obra de Kafka e 
Philip Dick. Revista Âmbito Jurídico, n.100, Ano XV, maio/2012. Disponível em 
<http://ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11717&revista_cad
erno=15>. Acesso em: 20 nov. 2016. 
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7498
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6 
 
SANTOS, Silvana Maria Pantoja. Direito e Literatura: perspectiva transdisciplinar na 
abordagem de temas sociais e jurídicos. Interfaces Científicas – Direito, Aracaju, v.01, n.01, 
p. 27-34, out. 2012. 
STRECK, Lênio Luiz; TRINDADE, André Karam (Orgs.). Direito e Literatura: da realidade 
da ficção à ficção da realidade. São Paulo: Editora Atlas, 2013. 
TRAGTENBERG, Maurício. Franz Kafka – O Romancista do ―absurdo‖. Revista Espaço 
Acadêmico, a.1, n.07, dez. 2001. Disponível em: 
<http://www.espacoacademico.com.br/007/07trag_kafka.htm.> Acesso em: 20 nov. 2016. 
http://www.espacoacademico.com.br/007/07trag_kafka.htm

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