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APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 1 APG 21 – É agora, doutora? 1) ESTUDAR O MECANISMO DO TRABALHO DE PARTO, COM ÊNFASE NA DINÂMICA FETAL E UTERINA No ponto de vista do mecanismo do parto, existem 3 componentes: o feto que é o móvel ou objeto que percorre o trajeto (bacia), impulsionado por um motor (contração uterina). O canal de parto (trajeto) estende- se do útero até à fenda vulvar (partes moles = segmento inferior uterino, cérvice, vagina e região vulvoperineal), sendo o que complica a passagem do feto é a cintura óssea (ísquio, púbis e ílio). O mecanismo do parto se refere as fases do parto, assim como ao conjunto de movimentos do feto durante a passagem pelo canal de parto = são movimentos puramente passivos, buscando adaptar o feto às diferenças de forma do canal, já que com esses movimentos, os diâmetros fetais se reduzem e se acomodam aos pélvicos. Sendo assim, pode-se dividir o mecanismo de parto em 3 tempos: insinuação, descida e desprendimento. Será estudado aqui apenas o mecanismo do parto fisiológico: apresentação cefálica fletida em bacia ginecoide. Estreitos da bacia: ESTREITO SUPERIOR: limite superior da pelve obstétrica; ESTREITO MÉDIO: formado pelo terço inferior do sacro, espinhas esquiáticas e a borda inferior da sínfise púbica; ESTREITO INFERIOR: borda inferior da sínfise púbica, ramos isquiopubicos, ligamentos sacroespinhosos e ponta do cóccix. INSINUAÇÃO OU ENCAIXAMENTO A insinuação indica a passagem do maior diâmetro do polo cefálico pelo estreito superior da bacia materna (plano 0 de DeLee). Nas primigestas, a insinuação do feto geralmente se dá cerca de 15 dias antes do parto; já nas multíparas, isso pode ocorrer a qualquer momento. Nesse período, ocorre a redução dos diâmetros fetais, o que no caso da apresentação cefálica, consiste na flexão (mais frequente = apresentação de vértice) ou deflexão da cabeça (apresentação de face). Na apresentação pélvica, a redução dos diâmetros é obtida aconchegando-se os membros inferiores sobre o tronco ou desdobrando-se os mesmos, para baixo ou para cima. Há, ainda, movimentos de flexão lateral, além dos movimentos de flexão anteroposterior, já que um dos ossos parietais atravessará o estreito superior da pelve antes do outro, essa situação é denominada de assinclitismo. DESCIDA A descida é a passagem do polo fetal do estreito superior até o inferior, o que ocorre com movimentos rotacionais. Este tempo do mecanismo do parto pode ser dividido didaticamente em tempos acessórios: ROTAÇÃO INTERNA DA CABEÇA: que tem o objetivo de coincidir o maior diâmetro do polo cefálico com o maior diâmetro da bacia, ou seja, fazer com que o polo cefálico se alinhe com o púbis materno, no caso das apresentações cefálicas fletidas. O grau da rotação interna varia de acordo com a variedade de posição da cabeça fetal. Ou seja, nas variedades anteriores, há rotação de 45°; nas transversais, de 90°; e nas posteriores, de 135°. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 2 INSINUAÇÃO DAS ESPÁDUAS NO ESTREITO SUPERIOR DA BACIA: ocorre simultaneamente à progressão no canal de parto e com a rotação interna. O diâmetro biacromial mede 12 cm, o que seria incompatível com os diâmetros do estreito superior, porém, no período da descida, os ombros se aconchegam, moldando-se conforme do diâmetro da bacia. À medida que a cabeça progride, as espáduas descem até o assoalho pélvico. DESPRENDIMENTO O último tempo do mecanismo de parto, o desprendimento, consiste na saída do polo cefálico para fora do canal de parto (partes moles + cintura óssea) e também pode ser dividido didaticamente em tempos acessórios: ROTAÇÃO EXTERNA DA CABEÇA: também chamada de restituição, que consiste em novo movimento logo após o desprendimento total da cabeça fetal, voltando o occipital para o lado onde se encontrava na bacia. ROTAÇÃO INTERNA DAS ESPÁDUAS: Desde sua passagem pelo estreito superior da bacia, as espáduas estão com o biacromial orientado no sentido do oblíquo direito ou do transverso da bacia. Ao chegarem ao assoalho pélvico, as espáduas também sofrem movimento de rotação, até orientarem o biacromial na direção anteroposterior da saída do canal. O ombro anterior coloca-se sobre a arcada púbica e o posterior em cóccix materno. DESPRENDIMENTO DAS ESPÁDUAS: a espádua anterior aparece no orifício vulvar, seguida pela liberação da espádua posterior. Com a saída das espáduas, há liberação de todo o tronco fetal. RESUMINDO 1) Sob o ponto de vista do mecanismo do parto, o feto é o móvel ou o objeto que percorre o trajeto (bacia), impulsionado pelo motor (contração uterina). 2) O estudo do mecanismo de parto é, em essência, o dos movimentos que a cabeça descreve, sob a ação das contrações uterinas, a transitar pelo desfiladeiro pelvigenital. 3) O trajeto ou canal do parto estende-se do útero à fenda vulvar = partes moles (segmento inferior do útero, cérvice, vagina, região vulvoperineal), sustentado pela cintura óssea – pequena bacia ou escavação. 4) O mecanismo do parto tem características próprias, que variam em seus pormenores de acordo com o tipo de apresentação e a morfologia da pelve. O único mecanismo fisiológico é o da apresentação cefálica fletida em bacia ginecoide. 5) Os tempos do mecanismo do parto são basicamente: insinuação, descida e desprendimento. 6) A insinuação é a passagem da maior circunferência da apresentação pelo estreito superior. Nessas condições, o ponto mais baixo da apresentação está à altura das espinhas ciáticas (plano “O” de DeLee). 7) A variedade de posição mais frequente de insinuação para os autores franceses é a occipitoesquerda anterior (OEA); para os anglo-saxões, a occipitoesquerda transversa (OET). 8) Na descida, a cabeça migra até as proximidades do assoalho pélvico, onde ocorre a rotação interna para occipitopúbica (OP); concomitantemente há a insinuação das espáduas. 9) Uma vez colocado o suboccipital sob a arcada púbica, o desprendimento da cabeça ocorre por movimento de deflexão. O tempo imediato é a rotação externa da cabeça. 10) Durante a descida das espáduas, ocorre a sua rotação interna, colocando o ombro anterior sob a arcada púbica, ocorrendo, em seguida, o seu desprendimento. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 3 2) COMPREENDER AS FASES CLÍNICAS E A ASSISTÊNCIA DO TRABALHO DE PARTO Clinicamente, o estudo do parto analisa três fases principais (dilatação, expulsão e secundamento), precedidas de estágio preliminar, o período premunitório (pré-parto). O período premonitório é caracterizado pela descida do fundo uterino (cerca de 2 a 4 cm), possibilitando maior amplitude de ventilação pulmonar. A insinuação do feto no estreito superior da bacia causa dores lombares com o estiramento das articulações da cintura pélvica. Há maior saída de muco via vaginal, que pode estar associada a pequena quantidade de sangue, além das percepções maternas das metrossístoles (contração do útero) intermitentes. As metrossístoles podem ser dolorosas e vão aos poucos diminuindo o tempo de intervalo, assim como aumentando sua intensidade, são chamadas de dores preparantes. Neste período, há o amolecimento e apagamento do colo, que podem ser verificados pelo toque vaginal. Essa fase pode ser chamada de fase latente do parto, em que as contrações uterinas não determinam, ainda, a dilatação progressiva do colo. O 1º período do parto é a fase de dilatação, que se inicia com as alterações cervicais (dilatação e apagamento) e termina com a completadilatação cervical (10cm). Sua duração é de cerca de 12 horas nas primíparas e 7 horas nas multíparas. O apagamento e dilatação do colo ocorrem em momentos diferentes nas primíparas, enquanto nas multíparas ocorrem simultaneamente. A bolsa das águas consiste no aparecimento das membranas ovulares (âmnio e cório) através do colo dilatado. No período de dilatação, a equipe de saúde deve ter alguns cuidados iniciais, como garantir a presença de um acompanhante durante todo o parto, além de realizar os toques vaginais seguintes para verificação das alterações cervicais. No toque vaginal, deve-se explorar o colo (apagamento, dilatação e consistência), além da bolsa das águas, a apresentação fetal e a altura da apresentação. Atualmente, tem sido empregada a ideia de fazer o toque vaginal o mínimo de vezes possível, no geral, a cada 2 ou até 4 horas. Durante todo o trabalho de parto, deve-se realizar o acompanhamento da vitalidade fetal, através da ausculta dos batimentos cardiofetais, que, idealmente, deve ser feita a cada 30 minutos, a medição dos sinais vitais, alimentação adequada da parturiente, e estímulo à deambulação. A equipe deve procurar medidas para alívio das dores, sejam elas medicamentosas ou não, como uma posição mais confortável, banhos quentes e massagens, além do apoio psicológico. A rotura das membranas ovulares ocorre, na maioria das vezes, ao final do período de dilatação ou início da expulsão, com saída parcial do conteúdo líquido. A rotura artificial das membranas (amniotomia) não deve ser uma prática generalizada e sim restrita a situações em que é necessária pra a evolução do parto. O 2º período é a fase de expulsão, que se inicia com a dilatação completa do colo uterino e se prolonga até a saída do feto, tendo duração variável de 20 a 50 minutos. Corresponde ao período de maior intensidade e frequência das contrações uterinas, até consistirem em cerca de 5 contrações em cada 10 minutos. Nesse momento, a parturiente passa a sentir os puxos, comparável à “vontade de espremer”, como na evacuação ou micção dificultadas. No decorrer da descida do feto pelo canal de parto, percebe-se que a vulva se entreabre e se dilata, mostrando a apresentação fetal. Nesse período, a equipe de saúde deve orientar a parturiente sobre como agir diante das contrações uterinas, ou seja, orientar que deve fazer força apenas durante as contrações efetivas e descansar nos intervalos das mesmas. A. Apagamento do colo em primíparas nas proximidades do parto (1 a 4) e apagamento e dilatação do colo em multíparas em pleno trabalho de parto (5 a 8). B. Apagamento e dilatação do colo em multíparas durante o trabalho de parto. APG – SOI IV Emilly Lorena Queiroz Amaral – Medicina/4º Período 4 Após o desprendimento do polo cefálico, a equipe deve verificar a existência de circulares do cordão umbilical ao redor do pescoço do feto, se houver presença, estas devem ser desfeitas ou seccionadas. O profissional responsável pelo parto deve apoiar as mãos na apresentação e tracioná-la levemente para baixo, com o objetivo de liberar o ombro anterior . Em seguida, tracionar para cima, liberando o ombro posterior e consequentemente, todo o concepto. O terceiro período é a fase de secundamento ou dequitação, que consiste no descolamento, descida e expulsão da placenta e deve ter duração máxima de 30 minutos. O descolamento da placenta decorre, essencialmente, da retração do músculo uterino após o parto fetal e em consequência de suas contrações e pela ação gravitacional, isso pode ocorrer por dois mecanismos: Mecanismo de Baudelocque-Schultze: possui uma frequência de 75% e ocorre quando a placenta, inserida na parte superior do útero, se inverte e se desprende em forma de guarda-chuva. Nesse caso, há formação de hematoma retroplacentário, ou seja, há saída de sangue após a liberação da placenta. Mecanismo de Baudelocque-Duncan: ocorre em 25% dos casos, quando a placenta está localizada na parede lateral do útero e seu desprendimento começa pela borda inferior. O sangue se exterioriza antes da saída total da placenta. Nesse momento, o profissional deve segurar o cordão umbilical e realizar tração controlada do cordão para estimular a saída placentária total. A placenta deve ser inspecionada para verificar sua integridade, bem como a integridade dos anexos através da análise das faces materna e fetal, que devem estar íntegras. Após a dequitação total, deve-se realizar a revisão do canal de parto, incluindo colo e vagina, à procura de possíveis lacerações e analisando se há presença de hemorragias significantes. Se houver a presença de lacerações ou episiotomia, deve- -se realizar a rafia das mesmas com pontos simples realizados por planos anatômicos. Há ainda um 4º período clínico para o parto, chamado de período de Greenberg, que considera a primeira hora após a saída da placenta um momento tão importante que lhe reserva uma das fases do parto, pelos riscos de hemorragia e pelo descuido quase universal daqueles que acompanham as puérperas. 3) CONHECER AS CARACTERÍSTICAS DO PUERPÉRIO O puerpério, também denominado pós-parto, é o período que sucede o parto e, sob o ponto de vista fisiológico, compreende os processos involutivos e de recuperação do organismo materno após a gestação. Embora o caráter gradual e progressivo assumido por essas manifestações torne o puerpério um período de demarcação temporal imprecisa, é aceitável dividi-lo em: Pós-parto imediato: do 1° ao 10° dia; Pós-parto tardio: do 10° ao 45° dia; Pós-parto remoto: além do 45° dia. Muitos estudos assumem como pós-parto os 12 meses que sucedem o parto. Além da relevância desses mecanismos fisiológicos para o restabelecimento do estado pré-gravídico da mulher, o puerpério é também caracterizado por marcantes mudanças em diversos outros aspectos da vida feminina, sejam eles conjugais, familiares, sociais ou profissionais. Nesse sentido, há de se compreender a importância de uma assistência materno-infantil multidisciplinar e integrada, projetada no sentido de favorecer uma experiência materna efetivamente saudável e de bem estar. REFERÊNCIAS MONTENEGRO, Carlos Antonio B.; FILHO, Jorge de R. Rezende Obstetrícia Fundamental, 14ª edição. Rio de Janeiro. Grupo GEN, 2017. Zugaib, M. Obstetrícia. 4ª ed. Barueri, SP: Manole, 2020.
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