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CLÍNICA MÉDICA AVANÇADA – NEURO DOENÇA DO NEURÔNIO MOTOR 1 Doença do neurônio motor INTRODUÇÃO Os neurônios descem do SNC, passam pela capsula interna e seguem pelo tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo). Na parte inferior do bulbo os axônios vão cruzar para o outro lado na região da decussação das pirâmides, descendo pela medula espinhal até fazer uma sinapse. Quando fazem sinapse, fazem com o neurônio motor inferior, que o corpo celular está na ponta anterior da medula, seu axônio continua como raiz motora, que dão origem aos plexos nervosos, nervos e vão se continuar com junção neuromuscular que por sua vez tem comunicação com as fibras musculares. · Corpo celular + axônio + junção neuromuscular + fibra muscular = unidade motora As doenças neuromusculares acometem a unidade motora, então o paciente pode ter comprometimento: · Corpo do neurônio motor inferior · Axônio a nível de plexo/raiz/nervo – nervo periférico · Junção neuromuscular · Da fibra muscular ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA 1. Introdução Jean Martin Charcot · Esclerose lateral (1865) – mulher com fraqueza e sinais de comprometimento do neurônio motor superior · Comprometimento da região lateral da medula → trato piramidal · Amiotrófica (1869) – fraqueza e sinais de comprometimento do neurônio motor inferior · Esclerose lateral amiotrófica (1874) – comprometimento do NMS + NMI · Comprometimento da ponta anterior da medula e da região lateral da medula · É o protótipo da doença do neurônio motor inferior, mas é uma doença degenerativa que afeta os neurônios motores, tanto o superior quanto o inferior. Com o tempo o neurônio vai morrendo, só que nesse caso o neurônio que vai morrendo não é o dos gânglios da base, é especificamente o neurônio MOTOR. · NMS: fraqueza + síndrome piramidal · NMI: fraqueza + sinais de NMI 2. Sobre a ELA · Doença conhecida por pessoas famosas que sofreram com ela. Pode ser chamada por doença de Lou-Gehrig devido ao jogador de baseball. 3. Epidemiologia · Incidência: 1-3/100.000 · Aumento: envelhecimento e melhores métodos de diagnóstico · Prevalência 6/100.000 · Sem aumento na prevalência – ou o paciente se cura muito rápido, ou o paciente vai a óbito, por isso não aumenta a prevalência. · Sem aumento na prevalência – ineficácia do tratamento de suporte. · 1,5H:1M – familial 1H:1M – associada a gentes autossômicos dominantes · Início: 60-65 anos (64) – familial: uma década mais cedo. Quanto mais cedo se inicia, menos agressiva ela é. Quanto mais tarde aparece, mais agressiva e com maior mortalidade. Ex: Stephen Hawking, que teve na terceira década de vida. · 5% ELAf. Geralmente autossômico dominante Comprometimento do NMS e NMI, acomete todos os seguimentos do corpo (cranial, cervical, torácico e dorsal). Degenerativa, progressiva, com apresentação assimétrica. 3. Fraqueza – NMS e NMI · O paciente com ELA não vai ter todos os achados no mesmo momento, as vezes vai ter fraqueza, hiperrreflexia e Babinski, mas depois de um tempo ele não se apresenta mais assim. · É uma doença progressiva, ao longo da progressão vai aparecer os sinais de NMI e NMS. 4. QUADRO CLÍNICO · Fraqueza · Acometimento do NMS: reflexos vivos, espasticidade, clônus, Babinski, Hoffman · Acometimento do NMI: atrofia, hiporreflexia (geralmente nas fases avançadas) e fasciculação · Fraqueza em membros · Geralmente onde se iniciam os sintomas · Assimétrica · Geralmente distal – perde destreza da mão, pé caído. Mais comum por ter uma maior representação cortical · Fraqueza cervical – paciente com a cabeça caída, pode ser inicio do quadro ou aparecer durante a evolução. · Fraqueza muscular bulbar – língua, músculos da fonação – disartria, disfagia · Fraqueza respiratória – paciente pode ter queixas ventilatórias. Geralmente a primeira é quando o paciente se deita, tenta fazer um esforço respiratório e não consegue. Então passa a ter um sono de pior qualidade, por isso perguntar de hipoventilação noturna. · Atrofia – por vezes pode preceder a fraqueza. É acentuada. · Cãibras – mais comum nos músculos fracos, a noite e mais intensa no início. Diminui com a progressão da doença. · Fasciculações – muitas vezes notadas pelo médico. Associada a fraqueza. · Espasticidade, hiporreflexia · Disartria · Disfagia, sialorreia · Atrofia lateral da língua e fasciculação – comprometimento ao nível do bulbo, do nervo hipoglosso. Isso acontece nos músculos da face, região cervical, MMII, musculatura respiratória, levando o paciente a evoluir com insuficiência respiratória. · Atrofia da língua – dificuldade na fonação e mastigação · Atrofia importante do musculo tibial anterior, com fasciculações. · Atrofia importante da cintura escapular · Atrofia da musculatura distal das mãos. Importante lembrar que quando a fraqueza começa em membros, começa na parte distal. · Fraqueza cervical – muitas vezes precisa usar dispositivos para melhorar 5. Demência associada · 8% demência associada – alteração do lobo frontal, que resulta em alteração comportamental. · Na doença de Alzheimer, no início, causa o esquecimento. A demência na ELA leva a alteração do comportamento. 6. Variantes – doença do neurônio motor · Comprometimento de neurônio motor superior (NMS) + neurônio motor inferior (NMI) → esclerose lateral amiotrófica · Comprometimento apenas do NMS → esclerose lateral primaria · Comprometimento apenas do NMI → atrofia muscular progressiva · Essas variantes podem evoluir para o comprometimento do outro neurônio, então o paciente passa a preencher critério de ELA. 7. História natural da doença · Sobrevida média: 2,5-3,5 anos · Local de inicio dos sintomas influencia muito: · Forma bulbar: 2,5 anos · Inicio nos membros: 3,5 anos · ELP > AMP > ELA. A ELA tem uma sobrevida muito menor que as variantes. · Idade de inicio precoce: relação com maior sobrevida – quanto menor a idade, maior a sobrevida (doença de progressão mais lenta). Se for em uma idade mais avançada, geralmente é mais agressiva. · Peso, capacidade vital forçada (espirometria), força, escalas funcionais – também conseguem predizer a sobrevida do paciente, quanto menor essas variáveis, menor a sobrevida. Está associado a degeneração mais rápida dos músculos. · Uso de riluzole (4-20 meses) – pode aumentar a sobrevida, mas é muito modesto. Os melhores estudos mostraram o aumento na sobrevida de apenas 3 meses. 8. Diagnóstico · Clínico – precisa de um ótimo exame físico · Demonstrar que o paciente tem comprometimento de NMS+NMI · Progressivo · Sem alteração sensitiva · Compromete segmento cranial e bulbar, cervical, torácico e lombar · Suporte eletroneuromiografia – demonstrar comprometimento do NMI 9. Investigação · Exames para excluir outras causas; · Bioquímica, CK, líquor, eletroneuromiografia, neuroimagem. 10. Manejo Acompanhamento multidisciplinar - o médico funciona como um ‘maestro’, vai perceber os sintomas do paciente e organizar o tratamento junto com os outros profissionais da saúde. · Reabilitação – para melhorar a qualidade de vida do paciente, não é possível fazer ele recuperar a força. · Mesmo com a progressão da fraqueza – educar o paciente e lançar mão de estratégias que diminuam as limitações do paciente. Por exemplo: paciente com fraqueza nas mãos → tentar evitar que ele tenha problemas pra se alimentar · Diminuir gasto energético – se o paciente usar muita energia para se movimentar, isso faz que o processo degenerativo se acelere, os neurônios acabam morrendo antes. Ex: paciente se alimentar sem gastar muita energia. · FST, atividade física – ajuda em caibras, mialgia, espasticidade. · Salivação excessiva, labilidade emocional – amitriptilina. · Espasticidade – baclofeno + fisioterapeuta · Disfagia importante – precisa de avaliação da fono e sonda de gastrostomia · Dispneia – fisioterapeuta + ventilação não invasiva – BIPAP, traqueostomia. · Modificação na evolução da doença – riluzol (aumenta a sobrevida 2-3 meses). EM RESUMO · Doença degenerativa; · Acomete o neurônio motor superior e inferior – logo, SEMQUEIXAS SENSITIVAS. · Inicio, geralmente, em membros. Pode ser em região cervical ou bulbar também. · Esclerose lateral primária – acomete NMS · Atrofia muscular progressiva – acomete NMI. · Paralisia bulbar progressiva (estrutura bulbar); · Diagnóstico: clínico. Suporte: ENMG → importante excluir outros diagnósticos; · Tto: riluzol, Edaravone; · Sintomáticos: reabilitação.
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