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Bullying/12. Assédio Moral e Sexual Previna-Se Autor Ministério Público do Trabalho – Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade).pdf Bullying/19. Bullying (Artigo) Autor Carlos Viga e Sandra Diogo.pdf Carlos Vila, Sandra Diogo 1/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 BULLYING Trabalho de curso 2009 Carlos Vila Sandra Diogo ISMAT – Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes – Portimão (Portugal) Email: carlosvila28@gmail.com RESUMO Este trabalho pretende dar a conhecer o que é o Bullying, que géneros existem, quem são as suas vítimas e, quem são os agressores e os motivos que os levam a ter comportamentos desviantes, relativamente aos seus colegas. Na escola, há crianças que sofrem em silêncio pelos maus-tratos físicos, psicológicos e emocionais. As vítimas de bullying, raramente oferecem resistência. E perante os abusos infligidos, apenas respondem calados, com medo de retaliação. É também através, deste trabalho que pretendemos responder às consequências cognitivas que as vítimas do bullying podem vir a sofrer e a partir daí, qual o seu modo de resposta a uma variedade de factores externos pertencentes ao mundo da vítima. Palavras-chave: Bullying, Vítimas, Agressores, Crianças, Escola, Violência, Pais, Professores INTRODUÇÃO O Bullying é um acto violência físico-psicológica. Esta acção discriminatória dá-se sobretudo, na adolescência, podendo ser directo ou indirecto e, ocorrendo nos mais variados contextos, sendo que o mais comum é ser entre crianças e jovens em contexto escolar. Este trabalho tem como objectivo dar a conhecer os conceitos básicos sobre o Bullying, os efeitos que esta agressão provoca nas vítimas e nos agressores, e as soluções para lidar com este comportamento e como implementá-las. Este trabalho é destinado especialmente, a crianças, jovens em idade e contexto escolar, aos pais, educadores, professores, entre outros, de forma a Carlos Vila, Sandra Diogo 2/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 ajudar a combater este comportamento tão violento e agressivo, praticado hoje em dia, a nível mundial e cada vez com maior incidência, sobretudo nas escolas. Definição Conceptual e Operativa do termo Agressividade/Bullying O termo Bullying é de origem inglesa e foi introduzido pela primeira vez, por Dan Olwues, nas suas investigações sobre tendências suicidas nos adolescentes. Este fenómeno consiste em comportamentos agressivos e persistentes exercidos por um indivíduo ou por um grupo de indivíduos que podem durar semanas, meses ou anos, sendo difícil às vítimas defenderem-se a si próprias. Figura 01: O Bullying é uma forma de abuso psicológico, físico e social. Conceito de Bullying Definimos Bullying como um conjunto de vários comportamentos agressivos ou de intimidação que apresentam um vasto leque de características comuns, entre as quais são identificadas por estratégias de intimidação do outro, resultando de várias práticas violentas e agressivas quer por um indivíduo, quer por pequenos grupos. É importante mencionar que o Bullying à semelhança de outros comportamentos agressivos é identificado pela capacidade de magoar alguém, que é vítima e alvo do acto agressivo, enquanto os agressores manifestam a tendência para desencadear e agravar situações em que as vítimas estão numa posição indefesa. O sofrimento pode ser físico, psicológico, incluindo mesmo a exclusão sob forma de marginalização social. A intencionalidade de fazer mal e a persistência de uma prática violenta a que a vítima é sujeita é o que diferencia o Bullying de outras situações ou comportamentos agressivos, sendo três os factores que normalmente o identificam: Carlos Vila, Sandra Diogo 3/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 O mal causado à vítima não resultou somente de uma provocação, mas sim por várias acções que tenham sido identificadas como provocações; As intimidações e a vitimização de outros são regulares; Geralmente os agressores são mais fortes fisicamente e recorrem ao uso de armas brancas, ou têm um perfil violento e ameaçador. As vítimas, geralmente não estão em posição de se defenderem ou procurarem auxílio. Figura 02: A marginalização é uma das características do Bullying Deste modo, são classificados cinco tipos de Bullying: Físico – Recurso à Violência Física; Verbal – Recurso à Violência Verbal; Relacional/Racial – Exclusão de Grupos Sociais / Comportamentos Racistas; Sexual – Utilização de comentários sexuais e até mesmo contactos sexuais; Cyberbullying – Difamação com recurso às novas tecnologias (MSN, HI5, MYSPACE…) Causas do Bullying Este fenómeno está relacionado com as dificuldades emocionais de cada agressor. No quadro familiar dos agressores há sempre uma história de violência associada, ou seja, a criança com comportamentos agressivos convive com a violência de perto. Este quadro constante de violência é a única forma que os agressores conhecem, sendo esta sensação de poder que motiva o agressor. Estes indivíduos não têm o acompanhamento familiar Carlos Vila, Sandra Diogo 4/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 necessário para conseguirem lidar com determinado tipo de problemas, e consequentemente os conseguirem ultrapassar. Normalmente existem três tipos de pessoas envolvidas nessa situação de violência: o espectador, a vítima e o agressor. Espectador É aquele que presencia as situações de Bullying e não interfere. O espectador omite por duas razões: por tornar-se inseguro e amedrontado, uma vez que tem medo de sofrer represálias ou por estar solidário com o sofrimento da vítima e não ter coragem de assumir a identidade de agressor. Os espectadores do primeiro tipo, apesar de não sofrerem as agressões directamente, podem sentir-se incomodados com a situação e com a incapacidade de agirem. Vítima A vítima costuma a ser uma pessoa frágil e que não dispõe de habilidades físicas e emocionais para reagir, tem um forte sentimento de insegurança e um isolamento social suficiente que a impede de solicitar ajuda. Tem também dificuldades para novas amizades ou para se adequar ao grupo. As vítimas mais inseguras por vários motivos, tais como, perturbações na fala ou maior fragilidade em termos emocionais, são alvos fáceis para os agressores, afectando desta forma o foro psicológico da vítima. São usualmente, as crianças com pouca defesa, que os agressores conseguem uma maior capacidade para as manipular. Por outro lado, podem também ser crianças igualmente fortes, em termos psicológicos, as escolhidas, embora os agressores nesta circunstância sentem uma maior vontade de demonstrar que são “melhores”. Podem ser indivíduos, aparentemente normais e integrados, mas que detêm algo que chama a atenção dos agressores, nomeadamente, a roupa de marca ou equipamentos tecnológicos novos, leitores de mp3 ou telemóveis. No ambiente familiar a vítima apresenta sinais de evitação, medo ou receio de ir para escola, mas, não procura ajuda dos familiares, professores ou funcionários da escola. Agressor Os agressores por norma são antipáticos ou arrogantes. Estes de um modo geral vêm de famílias pouco estruturadas, nomeadamente de pobre relacionamento afectivo com os seus membros familiares. A inexistência de supervisão pelos pais ou o uso de um modelo agressivo e violento para resolução de problemas do quotidiano pode incutir um comportamento idêntico à vítima. Carlos Vila, Sandra Diogo 5/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 Existem dois tipos de agressor: o agressor mais impulsivo, com dificuldades em compreender as emoções dos outros e por isso com uma tendência agressiva maior. Por outro lado, temos também os agressores dissimulados, ou seja, os que planeiam mais as situações. Estes possuem uma excelente cognição social, utilizando-a para manipular e controlar as outras crianças. Desta forma, fazem sofrer de uma maneira muito subtil e evitam ser descobertos. Existem fortes suspeitas de que as crianças ou jovens que pratiquem o Bullying possam no futuro adoptar, comportamentos anti-sociais, psicopáticos e/ou violentos, em suma, comportamentos desviantes. O Bullying é um problema mundial, um problema do ser humano imaturo, um fenómeno encontrado em qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana. Consequências para a(s) Vítima(s) Percepção distorcida da realidade cognitiva; Perda de auto-confiança; Perda de auto-estima; Falta de concentração; Dificuldade de ajustamento na adolescência e vida adulta, nomeadamente problemas nas relações pessoais; Morte (muitas vezes suicídio ou vitima de homicídio). Figura 03: Na prática do Bullying o sexo masculino tem uma maior predominação Carlos Vila, Sandra Diogo 6/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 Consequências para o(s) Agressor(es) Percepção distorcida da realidade cognitiva; Crença na força para resolução dos seus problemas; Dificuldade em respeitar as ordens inerentes à sociedade; Dificuldades na inserção social; Problemas de relacionamento afectivo e social; Incapacidade ou dificuldade de autocontrolo e comportamentos anti-sociais. Comentários Segundo a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos, o “Bullying pode ser encarado como uma forma de exorcizar os medos”. Para garantir a conquista pelo poder. A psicóloga Sónia Seixas refere que nestes comportamentos “está implícita uma desigualdade de estatuto e de poder entre os alunos envolvidos, o agressor exerce a sua supremacia através da força física, pelo facto de ser mais velho, de ter mais popularidade na escola e de ter um grupo de pares mais alargado. Contrariamente, à vítima que regra geral é um aluno mais negligenciado, mais rejeitado e com menos amigos que o defendam” É urgente corrigir a crença de que troçar e insultar faz parte do crescimento dos miúdos, segundo a psicóloga Sónia Seixas, “Esta é uma ideia errada. Um dos motores de desenvolvimento da criança é o conflito. E este não pode ser ultrapassado com comportamentos de Bullying. Não é normal que uma criança, seja sistematicamente humilhada na escola, a ponto de lhe causar traumatismos psicológicos.” Papel dos pais O diálogo é o meio mais importante para ensinar a vítima a saber defender-se deste acto tão violento. Os pais das crianças vítimas de Bullying devem ter a sensibilidade suficiente para ajudarem os seus filhos a conseguirem defender-se sozinhos. Estes, por sua vez têm que estar a par das situações, conversando, dando a maior força possível, uma vez que estas crianças perdem a capacidade de argumentação e a auto-estima de tal forma que não conseguem defender-se, desta forma o acompanhamento em casa torna-se fundamental. O Bullying e a Escola O bullying na escola tem vindo a ser reconhecido como um problema de grandes dimensões em vários países da Europa, da América e da Ásia. Este tem um carácter com aspectos marcantemente negativos para as vítimas, que no seu quotidiano são afectadas quer no rendimento escolar, quer no relacionamento social e familiar e podendo a longo prazo estar associado à depressão. Carlos Vila, Sandra Diogo 7/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 As graves consequências a curto, médio e a longo prazo da agressão/vitimização não deviam permitir que se continue a encarar o problema das crianças agressivas ou das vítimas como um “treino para a vida”. As crianças vítimas desta agressão, ao longo da sua vida terão dificuldade em confiar nos outros, na sua auto-estima e na capacidade de se relacionarem com os outros. A consequência mais severa do Bullying é o suicídio. Contudo, estas situações estão associadas a um vasto tipo de comportamentos ou atitudes que se vão agravando e mantendo-se por toda a vida, influenciando decisões, imagens, atitudes, comportamentos que o individuo constrói em relação a si, aos outros, ao mundo e até à própria vida. Figura 04: O Desespero da vítima O BULLYING EM PORTUGAL Muitas crianças vítimas de bullying e, dependendo das características da sua personalidade e das relações com o meio sócio-familiar, podem não suportar os traumas psicológicos sofridos. Desta forma, desenvolvem sentimentos negativos, baixa auto-estima e dificuldade de relacionamento com o meio envolvente correndo o risco de assumir um comportamento agressivo e assim passar de vítima a Bullie. “Fui tantas vezes vítima que tinha vontade de saber como é estar do outro lado…sei que não é a melhor maneira, mas há qualquer coisa que toma conta de mim e, quando noto já estou a fazê-lo”. Desabafa Alexandra, hoje com 17 anos e, um exemplo de como uma vítima de bullying passou a agressora. Figura 05: Agressão física Carlos Vila, Sandra Diogo 8/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 De acordo com o artigo “Bullying na Escola e na Vida”, de Rosana Nogueira e Kátia Chedid, foi efectuado um estudo, em Portugal com uma população alvo de cerca de 7000 estudantes verificando-se que um em cada cinco alunos (22%), de 6 a 16 anos, já foi vítima de Bullying na escola, sendo o local mais comum de ocorrência de maus tratos os recreios (78%), e os corredores (31.5%), dos casos. SINAIS DE ALERTA Vitima Agressor Menor rentabilidade escola Instabilidade emocional Timidez Nervosismo Apatia Incapacidade para compreender as emoções dos outros Isolamento Constantes receios Baixa auto-estima Fraca capacidade de argumentação Nervosismo Dores de estômago Dores de cabeça Como Ajudar Como Ajudar Sem exercer qualquer tipo de pressão psicológica Alguns especialistas defendem uma intensa intervenção psicológica, tanto a nível do agressor, como dos pais deste, com um acompanhamento e um estudo da situação em específico Tentando inteirar-se da situação diariamente É importante perceber como é que a família se organiza em termos educativos em relação à criança, nomeadamente tentando compreender se os pais são demasiado permissivos ou demasiado autoritários Com diálogo familiar Aplicação de algumas condutas educacionais que irão ajudar os pais a lidar melhor com a criança Com acompanhamento e apoio em casa O Ciberbullying Na sociedade actual, o uso de novas tecnologias, quando não é feito de forma correcta pode ser prejudicial. O exemplo disso ciberbullying. Segundo Tito de Morais, o autor do projecto “Miúdos Seguros na Net”, este conceito consiste na utilização das tecnologias de informação e comunicação, de forma deliberada podendo ser utilizada, individualmente ou em grupo, desenvolvendo comportamentos hostis, tais Carlos Vila, Sandra Diogo 9/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 como, maltratar, provocar, intimidar, oprimir, ameaçar, atormentar, importunar, molestar amedrontrar, entre outros. Este fenómeno ocorre através de computadores, consolas de jogos ou outros dispositivos com ligação à internet, como telemóveis, podendo ser efectuado através de mensagens sms ou mms, e –mail, imagens, blogues , videos, entre outros. Os conteúdos caracterizam-se, geralmente por mensagens ameaçadoras, distribuição de imagens embaraçosas, cópias de perfis em redes sociais, publicação de comentários difamatórios. Desta forma, algumas crianças e jovens descarregam os seus ódios e frustações em inocentes, sem perceberem os efeitos prejudiciais e negativos que tais acções podem ter noutras crianças e jovens, em que em casos limite podem conduzir ao suicídio. O Bullying dito normal tem lugar, geralmente nos recreios escolares, nos corredores da escola, ou no percurso casa/escola/casa. O ciberbullying tem lugar no ciberespaço, isto é, na internet, tornando-se mais difícil a identificação do agressor, bem como a sua caracterização, em termos psicológicos. Deste modo, os pais devem ter um papel bastante importante na segurança online, este é o cuidado base. Contudo, é importante controlar o uso que os filhos fazem na internet, que os acompanhem e que os limitem o uso. CONCLUSÃO Com este trabalho concluímos que o Bullying é um tema da actualidade bastante presente, no quotidiano escolar das crianças e jovens. Este fenómeno está relacionado com a violência e agressão praticada nos jovens, isto é, os agressores são oriundos de quadros familiares com comportamentos violentos no dia-a-dia. Por outro lado, as vítimas normalmente são indivíduos com características tímidas, frágeis, amedrontadas, em que facilmente são o alvo dos agressores. Estes, por sua vez a longo prazo ficam com perturbações no foro psicológico, não conseguindo na vida adulta, superar certas dificuldades, tais como, amizades, relacionamentos, falta de confiança, entre outros. Este distúrbio quando levado ao extremo por parte dos agressores, pode levar as vítimas ao suicídio. Apesar da maioria dos comportamento do Bullying ocorrerem na escola, a sua prevenção deverá centra-se em toda a comunidade, salientamos que todas as pessoas têm um papel importante a desempenhar no auxílio desta perturbação, nomeadamente: Família, Escola, Comunidade, Crianças, Jovens. Carlos Vila, Sandra Diogo 10/10 www.psicologia.com.pt Documento produzido em 16-10-2009 BIBLIOGRAFIA www.Pais&Filhos.pt – Acedido a 30 de Novembro 2008; www.sol.pt – Acedido a 30 de Novembro 2008; www.psicronos.pt – Acedido a 30 de Novembro de 2008; www.medicosdeportugal.pt – Acedido a 30 de Novembro de 2008; www.psicologia.com.pt – Acedido a 30 de Novembro de 2008; www.brasilescola.com – Acedido a 30 de Novembro de 2008; www.psiweb.com – Acedido a 30 de Novembro de 2008; www.portalbusent.br – Acedido a 30 de Novembro de 2008; Teixeira, Leonor Antolin,“Bullying, Brincadeiras Perigosas” in Revista Woman, pág.4, Edição de Outubro 2008; Pereira, Oliveira Beatriz, “Para uma Escola sem Violência – Estudo e Prevenção das Práticas Agressivas entre Crianças”, Fundação Caloute Gulbenkian, Março 2002 Bullying/04. Bullying não é legal Autor Ministério Público do Estado de São Paulo.pdf Bullying/10. Assédio Moral no Trabalho Autor Marcia Kazenoh Bruginski.pdf 29 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual 1. Introdução O presente estudo objetiva revelar o conceito, as espécies e os elementos caracterizadores do assédio moral1, no contexto da organização laboral pós-industrial. O tema possui relevância visto que toda a origem histórica do trabalho e do Direito do Trabalho conta com a narrativa de abusos contra o trabalhador. O termo trabalho está historicamente vinculado a algo ruim, doloroso, desagradável e degradante. Aponta a doutrina que a palavra vem do latim tripalium, uma espécie de instrumento de tortura que pesava sobre os animais. 2 Destaca-se a época denominada de Revolução Industrial e suas abusividades praticadas pelos capitalistas: jornadas extenuantes, exploração do trabalho da mulher e do menor, ambiente laboral insalubre e perigoso etc.3 E foi justamente o cenário de exploração do operário durante a Era Industrial que fez surgir o ordenamento laboral. Ou seja, a raiz do Direito do Trabalho está na luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho. Frise-se que os excessos cometidos pelo empregador não se limitavam aos pontos antes referidos. Agressões psicológicas com o fito de perseguição e exclusão, também compõem o rol de desrespeitos aos trabalhadores. 1 Conforme informa Vólia Bonfim Cassar, o assédio moral pode ser também denominado de “bossing, mobbing, bullying, harcèlement, manipulação perversa, terrorismo psicológico, epsicoterrosimo.” (CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 7 ed. Niterói: Impetus, 2012, p. 913) 2 CASSAR, 2012, loc. cit. 3 Ibid, p. 12. Artigos Assédio Moral no Trabalho - Conceito, Espécies e Requisitos Caracterizadores MARCIA KAZENOH BRUGINSKI Mestre em Cîências Jurídicas com ênfase em Direito do Trabalho pela Faculdade de Direito de Lisboa. Especialista em Ciências Jurídicas pela Universidade Católica Portuguesa. Graduada em Direito pelo Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. Professora do Departamento de Direito Privado do Centro Universitário Curitiba – UNICURITIBA. 30 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual Basta pensar nos escravos, indivíduos menosprezados ao extremo, cujo labor era ainda mais exigido do que atualmente. O chicote não atingia só o corpo, frágil e esguio, mas também a alma daquelas pessoas. Direito à dignidade? Direito à vida? Direito a viver com dignidade? Que nada! Só mesmo direito de ficar calado, sem nem gemer, como que aceitando passivamente a constante humilhação sofrida. Obviamente que o contexto da violência perpetrada e a justificativa da escravatura não são os mesmos de hoje, porém e em verdade, a agressão psicológica contra o trabalhador só ganhou nome e sobrenome na Sociedade Pós-Industrial: assédio moral. Há que se ressaltar que, o assédio moral não é moléstia típica da atualidade laboral, embora configure, nos dias de hoje, um “problema de amplitude global”.4 O que ocorreu é que, com a globalização e a Revolução Tecnológica5, deu-se uma transformação significativa no contexto do terrorismo psicológico no ambiente laboral e também do modus operandi do empregador, conforme ensinamento de Sérgio Pinto Martins: “Diante da globalização, da automação, da competitividade dos produtos para poderem ser vendidos no mercado, o empregado está sujeito a produzir mais, com mais qualidade, a ser cobrado por metas, resultados, etc. Em razão da maior tensão que passa a existir no ambiente de trabalho, surgem as doenças do trabalho e também o assédio moral.” 6 Nada obstante, os efeitos sentidos pelos trabalhadores permanecem iguais aos de toda a história: dor, angústia, humilhação e revolta, o que justifica a importância do estudo do assédio moral, figura que afronta o dever constitucional de respeito à dignidade da pessoa humana. 7 4 RAMOS, Luis Leandro Gomes; GALIA, Rodrigo Wasem. Assédio moral no trabalho. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012, p. 39 5 Com relação à evolução histórica da organização do trabalho e as razões do assédio moral no contexto pós-industrial, também chamado de neoliberal, cf. MANSUR JUNIOR, Maurício. Assédio moral: a violência psíquica contra o trabalhador no contexto neoliberal. Revista de Direito do Trabalho. São Paulo, v. 36, n. 137, p. 240-288, jan/mar. 2010. 6 MARTINS, Sérgio Pinto. Assédio moral no emprego. São Paulo: Atlas, 2012, p. 33 7 O art. 1º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, assim prevê: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana;” 31 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual Ainda, o Brasil padece de legislação federal específica sobre o assédio moral 8, o que respalda o estudo aprofundado dos elementos configuradores da violência psíquica praticada no ambiente de trabalho, a fim de facilitar a diferenciação da figura em relação a outros fenômenos que permeiam o cotidiano da relação de trabalho. 1. CONCEITO E ESPÉCIES Segundo Vólia Bomfim Cassar, o assédio é “o termo utilizado para designar toda conduta que cause constrangimento psicológico ou físico à pessoa” 9. Enquanto o assédio moral é por ela caracterizado em face de “condutas abusivas praticadas pelo empregador direta ou indiretamente, sob o plano vertical ou horizontal, ao empregado, que afetem seu estado psicológico” 10. Sérgio Pinto Martins, ensina que assediar significa “importunar, molestar, aborrecer, incomodar, perseguir com insistência inoportuna. Assédio quer dizer cerco, limitação”11. Já o assédio moral, segundo o mesmo autor, consiste em: “uma conduta ilícita, de forma repetitiva, de natureza psicológica, causando ofensa à dignidade, à personalidade e à integridade do trabalhador. Causa humilhação e constrangimento ao trabalhador. Implica guerra de nervos contra o trabalhador, que é perseguido por alguém.” 12 Observa-se que a conceituação de Sérgio Pinto Martins trata do trabalhador, referindo-se a ele enquanto vítima do terror psicológico. Porém, impera registrar que nada impede que a violência psicológica seja do trabalhador em face da sua chefia. 8 Todavia e como bem salienta José Affonso Dallegrave Neto: “Não obstante, é clara a possibilidade de reparar danos materiais e morais de correntes dessa ardilosa prática com fundamento no art. 1°, III; art. 3º, IV e, sobretudo, art. 5º, X, todos da Constituição Federal.” (DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Responsabilidade civil no direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2010, p. 265.) 9 CASSAR, 2012, p. 912. 10 CASSAR, loc. cit. 11 MARTINS, Sergio Pinto. Assédio Moral. Revista da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, São Paulo, n. 13, p. 434, jan/dez. 2008. 12 MARTINS, loc. cit. 32 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual Incontestavelmente, o empregador é o principal agente causador de violência psicológica no local de trabalho, na medida em que possui o poder diretivo traçado pelo art. 2º da CLT e o empregado está a ele subordinado juridicamente (art. 3º da CLT). O que ocorre no assédio é que as atitudes do agressor extrapolam o poder patronal e atingem a pessoa do empregado e não a sua atividade.13 O empregador, ao usar de sua superioridade hierárquica para constranger um subordinado, pratica o assédio vertical ou descendente. No ensinamento primoroso de Sônia Mascaro do Nascimento, “o que se verifica no assédio vertical é a utilização do poder de chefia para fins de verdadeiro abuso de direito do poder diretivo e disciplinar, bem como, para esquivar-se das consequências trabalhistas”.14 A referida autora exemplifica a sua assertiva apontando o caso do empregador que tenta convencer o empregado a pedir o seu desligamento para não ter que pagar as verbas rescisórias inerentes a uma dispensa imotivada. E pode agir utilizando de vários subterfúgios, como “retirar sua autonomia no departamento, transferir todas suas atividades a outras pessoas, isolá-lo do ambiente, para que o empregado sinta-se de algum modo culpado pela situação, pedindo sua demissão.”15 Outro tipo de assédio é o horizontal, praticado por um grupo de empregados do mesmo nível. O fenômeno pode, inclusive, decorrer de ato patronal, consistente no estímulo à rivalidade entre seus empregados. Ou seja, o empregador estimula conflitos internos com o fito de “se livrar de alguém incômodo, jogando uma pessoa contra a outra, com intuito de pressioná-la a pedir demissão”.16 O mobbing horizontal leva, por exemplo, à submissão do sujeito a comentários agressivos sobre a sua vida pessoal, boicote a um projeto de trabalho, discriminação política, religiosa, dentre outras.17 Por fim, há o assédio ascendente, praticado pelos subordinados contra o chefe, que, assim como nas demais modalidades, pretende tornar insuportável o ambiente de trabalho, obrigando o superior hierárquico a tomar a iniciativa, por qualquer meio, de deixar o cargo ocupado ou, até mesmo, da dissolução do contrato de trabalho. 13 DALLEGRAVE NETO, 2010, p. 269. 14 NASCIMENTO, Sônia Mascaro. Assédio moral no direito comparado. Revista O Trabalho, São Paulo, n. 143, p. 4810, jan. 2009. 15 NASCIMENTO, loc. cit. 16 RAMOS, 2012, p. 47. 17 NASCIMENTO, loc. cit. 33 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual Nas três modalidades as condutas são abusivas, pois praticadas direta ou indiretamente visando a afetação do estado psicológico da vítima, causando-lhe dano à personalidade, à dignidade, à integridade física ou psíquica, colocando em perigo o emprego ou degradando o ambiente de trabalho. Ganha também relevância a descrição dos perfis das vítimas e dos agressores, inclusive para se permitir a correta compreensão dos motivos do assédio moral praticado.18 As vítimas mais comuns do terror psicológico, segundo apontamento doutrinário19, são os empregados estáveis20, já que a sua condição impede a dispensa sem justa causa, bem como os trabalhadores vítimas de acidente de trabalho ou de doença. Por fim, de acordo com Luiz Gomes Ramos e Rodrigo Galia, citando Reginald Felker, o assediador tem um perfil psicológico aterrador, consistente no prazer pela prática do rebaixamento dos demais e em outros aspectos, conforme se pode observar: “[...] o assediador é alguém que não pode existir senão pelo rebaixamento dos outros, pois tem necessidade de demonstrar poder e para ter uma boa autoestima. Dissimula sua incompetência. Em suma, trata-se de alguém que, em última análise, é covarde, impulsivo, tem uma fala vazia e não escuta. Não assume responsabilidade, não reconhece suas falhas, não valoriza os demais. É arrogante, desmotivador, amoral, plagia ou se apropria do trabalho de outros, é cego para o aprendizado.” 21 Assim e da forma vista, o assédio moral tem a “característica peculiar de discriminação, exclusão propositada, intenção do assediador de minar as resistências psicológicas da vítima.” 22 18 MAEOKA, Érika. A violência na Administração Pública e o princípio da eficiência: o assédio moral e a avaliação periódica de desempenho. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 101, n. 921, p. 92, jul. 2012. 19 NASCIMENTO, 2009, p. 4810. 20 No mesmo sentido, Érika Maeoka destaca que a estabilidade, traça característico de quem trabalha na Administração Pública, é apontada com um fator desencadeante do assédio. AEOKA, Érika. Ibid, p. 100. 21 FELKER, 2007, apud RAMOS, 2012, p. 52 22 BRITO, Jonas Santada. Assédio moral e sexual. Revista do Tribunal Regional do Trabalho 2ª Região, São Paulo, n. 4, p. 79, jan/abr, 2010. As vítimas mais comuns do terror psicológico, segundo apontamento doutrinário, são os empregados estáveis, já que a sua condição impede a dispensa sem justa causa, bem como os trabalhadores vítimas de acidente de trabalho ou de doença. 34 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual 3. REQUISITOS CONFIGURADORES DO ASSÉDIO MORAL TRABALHISTA Várias são as formas de se praticar assédio moral, como desprezar o empregado, deixando-o isolado no ambiente laboral; determinar o cumprimento de metas impossíveis de serem realizadas, levando-o ao descrédito pessoal; a determinação de cumprimento de tarefas alheias à sua função, como limpar sanitários; a “inatividade forçada”23; a exposição a situações vexatórias etc. Todavia, nem todo conflito ou situação de estresse vivido pelo empregado caracteriza o assédio moral, por isso a importância de se atentar para o correto enquadramento do fenômeno. Diz Sérgio Pinto Martins que “o fato do empregado exercer função estressante não implica que é assediado moralmente”24, bem como: “o empregador pode fazer revistas nos empregados, monitorar e-mails, mudar o empregado de função, fazer avaliações de desempenho, impor metas, fazer cobranças. Isso decorre do poder de direção do empregador e não significa assédio moral.” 25 De fato e considerando o panorama atual da organização produtiva, altamente competitivo e que pede um trabalhador polivalente e multifuncional, além de altamente intelectualizado, certamente que irritações, frustrações e nervosismo, fazem parte do cotidiano de concorrência empresarial e, muitas vezes, são fatores que decorrem do simples exercício da função, ou ainda, da personalidade de cada trabalhador. A análise do Judiciário em casos concretos é igualmente cautelosa, ressaltando a diferença entre meros dissabores e o terror psicológico no ambiente laboral, conforme segue: 23 RAMOS; GALIA, 2012, p. 48. 24 MARTINS, 2012, p. 23-24 25 MARTINS, loc. cit. 35 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO. REQUISITOS. Na caracterização do assédio moral, conduta de natureza mais grave, há quatro elementos a serem considerados: A natureza psicológica, o caráter reiterado e prolongado da conduta ofensiva ou humilhante, a finalidade de exclusão e a presença de grave dano psíquico- emocional, que compromete a higidez mental da pessoa, sendo passível de constatação pericial. Ou seja, nem toda forma de agressão psicológica à pessoa configura o assédio moral; esse tem conotação mais grave, seja pela natureza da conduta, o modo como ocorre a lesão, seja em razão das possíveis repercussões no psiquismo da vítima, da gravidade do dano. De mais a mais, deve o dano moral ser de tal gravidade que justifique a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. Mero dissabor, aborrecimento, desconforto emocional, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do chamado dano moral. (TRT 3ª R.; RO 2155-70.2011.5.03.0134; Rel. Juiz Conv. Ricardo Marcelo Silva; DJEMG 20/02/2013; Pág. 175) DANOS MORAIS. NÃO CONFIGURAÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. As alegações de abuso do poder diretivo, ou da configuração de assédio moral, trazidas pela autora, em sua peça de ingresso, não podem ser confundidas com o estresse, a pressão profissional, a sobrecarga de trabalho, as exigências modernas de competitividade e qualificação. Não podem ser confundidas, tampouco, com fatores que recaem indiscriminadamente sobre um grupo de pessoas, sem caracterizar intenção de humilhar, desmoralizar, perseguir um alguém em particular. Na hipótese dos autos, a reclamante não logrou se desvencilhar, a contento, do encargo probatório que sobre si recaía, a respeito dos fatos constitutivos do seu direito 36 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual (art. 818 da CLT e art. 333, I, do CPC). Não há prova robusta que permita afirmar ter ocorrido atitude ilícita por parte da reclamada, nem atos de perseguição, humilhação, discriminação ou constrangimento sobre a obreira. (TRT 3ª R.; RO 1044-22.2012.5.03.0003; Rel. Des. Jorge Berg de Mendonça; DJEMG 18/02/2013; Pág. 215) E mais, não raras vezes o superior hierárquico acaba por repreender o empregado por falta de diligência deste no desempenho de suas atividades, o que é perfeitamente normal e não pode ser tido como assédio moral. Ora, o empregador tem poder de contratar, fiscalizar, punir ou dispensar determinado empregado e se tais poderes forem exercidos sem cunho intimidatório, tem-se o exercício normal de um direito. A contrário sensu, quando há repetida pressão psicológica exercida pelo empregador visando compelir o empregado a pedir o seu desligamento da empresa, ou ainda, afetar a sua autoestima, configurado está o assédio moral. Os mais variados conceitos apontados pela doutrina apresentam pontos em comum considerados elementos delineadores do assédio moral. Sérgio Pinto Martins ensina que a caracterização do assédio moral exige: conduta abusiva, ação repetida, postura ofensiva à pessoa, agressão psicológica, com finalidade de exclusão do trabalhador e dano psíquico emocional 26. 27 26 MARTINS, 2012, p. 33-34 27 Também a jurisprudência aponta requisitos configuradores do assédio moral: “ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO. REQUISITOS. No Direito do Trabalho, o assédio moral tem sido caracterizado como "uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a dignidade psíquica, de forma repetitiva e prolongada, e que expõe o trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica, e que tenha por efeito excluir a posição do empregado no emprego ou deteriorar o ambiente de trabalho, durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções" (Sônia A. C. Mascaro Nascimento, "O Assédio Moral no Ambiente do Trabalho", Revista LTr 68-08/922-930). Nem toda forma de agressão psicológica à pessoa, porém, configura o assédio moral; esse tem conotação mais grave, seja pela natureza da conduta, o modo como ocorre a lesão, seja em razão das possíveis repercussões no psiquismo da vítima, da gravidade do dano. Assim, na caracterização do assédio moral, conduta de natureza mais grave, há quatro elementos a serem considerados: a natureza psicológica, o caráter reiterado e prolongado da conduta ofensiva ou humilhante, a finalidade de exclusão e a presença de grave dano psíquico- emocional, que compromete a higidez mental da pessoa, sendo passível de constatação pericial. Mesmo não restando configurado o assédio moral, porém, o agressor não está livre da punição, desde que o seu ato abusivo seja danoso à personalidade da vítima, atentando contra a sua saúde mental. De todo modo, deve o dano moral ser de tal gravidade que justifique a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. Mero dissabor, aborrecimento, desconforto emocional, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do chamado "dano moral".” (TRT 3ª R.; RO 688/2008-099-03-00.0; Nona Turma; Rel. Juiz Conv. Ricardo Marcelo Silva; DJEMG 14/04/2010) 37 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual Já para Rodolfo Pamplona Filho, o assédio moral possui quatro elementos: a) conduta abusiva; b) natureza psicológica do atentado à dignidade psíquica do indivíduo; c) reiteração da conduta; d) finalidade de exclusão. Mencionado autor não aponta o dano psíquico como elemento imprescindível de enquadramento da figura.28 Em sentido contrário (e na mesma linha de Sérgio Pinto Martins), Sônia Mascaro do Nascimento considera que a configuração do assédio moral demanda a constatação de doença psíquico-emocional (dano propriamente dito) através de perícia médica, justamente, segundo aduz, para não se generalizar o instituto e assim, separar o efetivo terror psicológico de outras doenças psicológicas nascidas das relações laborais29.30 Entretanto, é consensual que o assédio moral requer uma conduta abusiva, agressiva e vexatória, pois tenciona o constrangimento do agente passivo e a afetação negativa de sua autoestima. Ainda, as agressões devem ser reiteradas e regulares, ou seja, com repetição no tempo. Frise-se, tempo “suficientemente longo para que cause um impacto real e de verdadeira perseguição pelo assediador”. 31 Logo, atos isolados não são capazes de configurar assédio moral, consoante orientação também da atual jurisprudência sobre o assunto, in verbis: ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PRESSUPOSTOS. Por ofender direitos fundamentais e personalíssimos do empregado, o assédio moral rende ensejo ao dever de indenizar, decorrente da responsabilidade civil subjetiva, que tem como pressupostos a conduta comissiva ou omissiva do empregador, a existência de dano real à vítima e a relação de causalidade entre a conduta do agente e os danos 28 PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Noções conceituais sobre o assédio moral na relação de emprego. Disponível em: <www.amatra5.org.br/php/arquivos/assedio.pdf>. Acesso em: 07 mar. 2013. 29 NASCIMENTO, 2009, p. 4813. 30 Impera registrar que este elemento, ou seja, dano psíquico é objeto de divergência doutrinária. Para uma melhor compreensão da questão, cf. MANSUR JR., Maurício. Assédio moral: a violência psíquica contra o trabalhador no contexto neoliberal. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, v. 36, n. 137, p. 240-288, jan/mar. 2010. 31 NASCIMENTO, 2009, p. 4811. 38 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual experimentados. Se a prova produzida nos autos, contudo, não demonstra a repetição sistemática de conduta abusiva do superior hierárquico, direcionada à minar a estabilidade psíquica do trabalhador, com clara intenção de exclusão do indivíduo, inviável se torna o reconhecimento de prática de assédio moral. Recurso da reclamante conhecido e, no mérito, não provido. (TRT 10ª R.; RO 0000014-03.2012.5.10.0020; Relª Desª Heloisa Pinto Marques; DEJTDF 19/10/2012; Pág. 159) (sem grifos no original) Outro aspecto essencial para a qualificação do assédio moral é o intuito de quem pratica. Assim, é preciso ter a intenção de segregação, para que então a vítima ou sujeito passivo do assédio desista do cargo ou do emprego. Todavia, cabível o alerta dos Tribunais de que o assédio moral nem sempre visa à demissão do empregado, podendo objetivar apenas manter o trabalhador sob tortura psicológica. É o que se vê do posicionamento jurisprudencial de relatoria da Desembargadora Wanda Lúcia Costa Leita, do E. TRT da 17ª Região, que evidencia também a dificuldade probatória da figura32. Transcreve-se: ASSÉDIO MORAL NO AMBIENTE DE TRABALHO. DISCRIMINAÇÃO. REPARAÇÃO CIVIL POR DANOS MORAIS. A prática do assédio moral não é de fácil comprovação, pois, na maioria das vezes, ocorre de forma velada, registrando-se que o assédio moral no ambiente de trabalho não visa apenas à demissão do emprego, apesar de configurar o objetivo mais freqüente. Pode apenas revelar a intenção de constranger, humilhar, isolar o empregado, ou seja, apenas manter o subordinado sob tortura psicológica. Assim, comprovada a existência de indícios suficientes para demonstrar a sua prática, devida a reparação civil por danos morais. (TRT 17ª R.; RO 141800- 50.2010.5.17.0007; Relª Desª Wanda Lúcia Costa Leite França Decuzzi; DOES 14/03/2012; Pág. 114) (sem grifos no original) 32 Gustavo Henrique Schneider Nunes aborda com precisão a questão da dificuldade probatória do assédio moral em: NUNES, Gustavo Henrique Schneider. A dificuldade probatória do assédio moral no trabalho. Repertório IOB de Jurisprudência, São Paulo, v. 27, n. 1, cd. 2, p. 21-25, jan. 2013. 39 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual A exigência do real propósito de degradar as condições de trabalho do empregado como condição configuradora do assédio moral pode também ser extraído da jurisprudência abaixo, oriunda da 3ª Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região: ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO. A intenção da ré em denegrir a imagem do autor, imputando- lhe conduta desidiosa, leva à materialização da figura jurídica do assédio moral, ato ilícito que sujeita o empregador ao dever de reparação. (TRT 12ª R.; RO 0000201-94.2011.5.12.0018; Terceira Turma; Relª Juíza Maria de Lourdes Leiria; DOESC 06/06/2012) (sem grifos no original) Alerta José Affonso Dallegrave Neto33 para a necessidade da atitude do agressor ser dolosa, ou seja, com o objetivo deliberado de destruir emocionalmente a vítima. Na culpa, esclarece o autor, há a conduta, mas não se objetiva o resultado, enquanto que no dolo, “há uma tríplice coincidência da vontade de agir, da intenção de prejudicar e do resultado obtido.” 34 Extrai-se, da conceituação traçada por Sônia Mascaro do Nascimento, mais uma condição caracterizadora do assédio moral, qual seja, que a agressão ocorra durante a jornada de trabalho do empregado e no exercício das suas funções.35 E para além do traçar doutrinário dos elementos caracterizadores do assédio moral no trabalho, a jurisprudência acrescenta mais um elemento para a configuração do assédio moral: a intensidade da “violência psicológica”36, conforme se vê do aresto abaixo: RECURSO ORDINÁRIO. DO DANO MORAL DECORRENTE DE ASSÉDIO MORAL. Quanto à indenização por danos morais, decorrentes dos alegados constrangimentos sofridos decorrentes de cobranças de metas, a doutrina e a jurisprudência têm apontado como elementos caracterizadores do assédio moral, a intensidade 33 DALLEGRAVE NETO, 2010. p. 268. 34 DALLEGRAVE NETO, loc. cit. 35 NASCIMENTO, 2009, p. 4809. 36 Mencionado requisito é também apontado por Mauricio Mansur Junior. (MANSUR JÚNIOR, 2010, p. 259) 40 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual da violência psicológica, o seu prolongamento no tempo (tanto que episódios esporádicos não o caracterizam) e a finalidade de ocasionar um dano psíquico ou moral ao empregado, com a intenção de marginalizá-lo, pressupondo um comportamento premeditado, que desestabiliza, psicologicamente, a vítima. O direito à reparação do dano nasce a partir do momento em que ocorre a lesão a um bem jurídico extrapatrimonial, como a vida, a honra, a intimidade, imagem etc. No caso em questão não restou evidenciada a conduta ilícita da reclamada, eis que não comprovada nos autos a forma vexatória de cobrança de metas. (TRT 2ª R.; RO 0001126-31.2012.5.02.0472; Ac. 2013/0166981; Décima Segunda Turma; Rel. Des. Fed. Paulo Kim Barbosa; DJESP 08/03/2013) (sem grifos no original) Por todo o exposto, inegável a relevância do estudo dos elementos configuradores do assédio moral, sobretudo, como modo de fixação de limites entre o exercício legal do poder diretivo pelo empregador e a prática censurável do terrorismo psicológico. 4. CONCLUSÃO Como dito na introdução, a violência no ambiente de trabalho não é algo novo, todavia, há uma preocupação mais recente, tanto doutrinária como dos Tribunais, em traçar um conceito preciso da figura, bem como, estruturar os elementos marcantes do psicoterror no trabalho. De tal sorte que o assédio moral passou então a ser visto como uma violência específica com singularidades, assim como, passou também a ser enfrentado pelos Tribunais. Além da individualização da figura, há uma inquietação universal com a principal consequência do terrorismo psicológico, qual seja, a agressão da saúde mental e física da vítima, que pode apresentar desde depressão, até chegar ao suicídio. Como alerta o Desembargador do trabalho, Carlos Francisco Berardo, a exposição contínua do trabalhador a situações vexatórias pode ser inclusive causa de sua incapacidade laborativa.37 37 BERARDO, Carlos Francisco. Assédio moral e assédio sexual. Revista do Tribunal Regional do Trabalho 2ª Região, São Paulo, n. 4, p. 72, jan/abr. 2010. 41 Revista Eletrônica Março de 2013 Assédio Moral e Assédio Sexual A dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho, fundamentos constitucionais, embasam o direito do trabalhador a ser respeitado e a ter um ambiente de trabalho saudável, em todos os aspectos, sobretudo, o emocional. Portanto, a identificação correta das características do assédio moral acaba por permitir um combate mais efetivo a esse modo de violência dirigida ao trabalhador e, por consequência, resgatar o respeito nas relações de trabalho. REFERÊNCIAS BERARDO, Carlos Francisco. Assédio moral e assédio sexual. Revista do Tribunal Regional do Trabalho 2ª Região, São Paulo, n. 4, p. 69-78, jan/abr. 2010. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1998. BRITO, Jonas Santada. Assédio moral e sexual. Revista do Tribunal Regional do Trabalho 2ª Região, São Paulo, n. 4, p. 79-84, jan/abr. 2010. CASSAR, Volia Bonfim. Direito do Trabalho. 7 ed. Niterói: Impetus, 2012. DALLEGRAVE NETO, José Affonso. Responsabilidade civil no direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2010. MAEOKA, Érika. A violência na Administração Pública e o princípio da eficiência: o assédio moral e a avaliação periódica de desempenho. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 101, n. 921, p. 81-117, jul. 2012. MANSUR JUNIOR, Maurício. Assédio moral: a violência psíquica contra o trabalhador no contexto neoliberal. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, v. 36, n. 137, p. 240-288, jan/mar. 2010. MARTINS, Sérgio Pinto. Assédio moral no emprego. São Paulo: Atlas, 2012. ______. Assédio Moral. Revista da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, São Paulo, n. 13, p. 434, jan/dez. 2008. NASCIMENTO, Sônia Mascaro. Assédio moral no direito comparado, Revista O Trabalho, n. 143, p. 4809-4821, jan. 2009. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Noções conceituais sobre o assédio moral na relação de emprego. Disponível em: <www.amatra5.org.br/ php/arquivos/assedio .pdf>. Acesso em: 07 mar. 2013. RAMOS, Luis Leandro Gomes; GALIA, Rodrigo Wasem. Assédio moral no trabalho. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. Bullying/14. O Assédio Moral e suas novas formas Autor Sandra Dias.pdf R. Cônego Eugenio Leite 262 Sala 01 Fundos. Pinheiros. CEP 05.414‐000. São Paulo / SP Tel: 2364‐5144. Email: contato@gestae.org.br. Site: www.gestae.org.br CNPJ: 08.253.920/0001‐23 O Assédio Moral e suas novas formas Sandra Dias * O assedio psicológico ou moral faz parte do fenômeno mais amplo ‐ a violência genérica que existe em todas as regiões do mundo. É uma realidade que aflige milhares de trabalhadores, relacionada a fatores psicossociais que se manifestam durante a jornada de trabalho e nas relações laborais “sendo um risco não visível que gera mal‐estar e reação social, causa danos psíquicos, desencadeia doenças e pode levar à morte por suicídio” (Barreto, 2013,13) Embora o assédio psicológico receba denominação diferente conforme o país, o termo aponta para o ataque à dignidade do ser humano, uma exposição da vítima ao ridículo em situação vexatória ou humilhante. A associação do termo “moral” ao conceito de “assédio” foi feita pela psiquiatra/psicanalista Marie‐France Hirigoyen porque considera que estas ações se encontram no campo da ética ou da moral; “trata‐se efetivamente de bem e de mal, do que se faz e do que não se faz, e do que é considerado aceitável ou não em nossa sociedade”, não sendo “possível estudar esse fenômeno sem se levar em conta a perspectiva ética ou moral”. (2015,15) Ela adverte que o conceito não pode ser tratado como unicamente psicológico, um estudo dos mecanismos psicológicos, mas que tem que ser tomado no campo mais amplo. Assim o termo moral associado ao assedio implica em uma tomada de posição, pois enquanto o que sobra para a vítima é o sentimento de humilhação, desprezo, rejeição, maltrato, devido a gravidade da violência, do lado do agressor cabe a pergunta sobre sua intencionalidade “ele queria provocar um prejuízo?” A partir dos estudos de Hirigoyen, passa‐se a utilizar mais frequentemente o termo assedio moral no ambiente de trabalho que passa a ser objeto de estudos multidisplinares, em todas as esferas em que se dão as relações laborais. O assedio psicológico passa ser inserido no campo da Saúde e da violência no trabalho, sendo um fenômeno internacional, relacionado a distúrbios da saúde mental, presente inclusive em países desenvolvidos como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. Segundo a Organização Internacional da Saúde e a Organização Mundial da Saúde, as perspectivas são sombrias para as próximas décadas prevendo‐se um mal estar na globalização, onde predominarão depressões, angústias e outros danos psíquicos, relacionados com as novas políticas de gestão na organização de trabalho e que estão vinculadas às políticas neoliberais. Assédio psicológico ou moral no trabalho é um fenômeno tão antigo quanto o trabalho e se tornou tema de debate de juristas preocupados com os Direitos Humanos, pois se trata de uma ofensa aos direitos humanos, uma ofensa à dignidade da pessoa humana. A humilhação e a ofensa à honra sempre estiveram presentes nas relações de trabalho, mas só ganhou relevo na década de 1980 quando surgiram os primeiros estudos que nominavam o problema – assédio psicológico ou moral. A novidade reside na intensificação, gravidade, R. Cônego Eugenio Leite 262 Sala 01 Fundos. Pinheiros. CEP 05.414‐000. São Paulo / SP Tel: 2364‐5144. Email: contato@gestae.org.br. Site: www.gestae.org.br CNPJ: 08.253.920/0001‐23 amplitude, na banalização do fenômeno e na abordagem que tenta estabelecer o nexo‐causal com a organização do trabalho e tratá‐lo como não inerente ao trabalho. O assedio psicológico no ambiente laboral se insere no campo do Direito do trabalho. O Direito do Trabalho no século XVII e XIX visava a proteção da própria vida e saúde do trabalhador (limite da jornada, idade, trabalho insalubre e perigoso) enquanto que no século XX ele se volta para saúde mental (a natureza subordinante da relação de emprego seus abusos e consequências na subjetividade e vida social).O assedio moral também se insere no campo da Saúde porque ele tem consequências na saúde física e psicológica do assediado e podendo ocasionar total exclusão social da vitima até suicídios. Há diversas conceituações para o fenômeno, cada qual contendo as peculiaridades da cultura e dos costumes relativos a cada país: na França se utiliza a palavra harcèlement moral (assedio moral); na Inglaterra, Austrália e Irlanda se usa as denominações bullying, bossing, harassment (molestar/intimidar,tiranizar equivalentes do assediar t); nos Estados Unidos tem‐se a palavra mobbing (molestar/intimidar); nos Países nórdicos, bálticos e da Europa Central o termo utilizado é mobbing (molestar); no Japão são usados murahachibu, ijime (ostracismo social/assedio); na Itália é nominado de molestie psicologiche (assedio psicologico); nos países de língua espanhola se utiliza psicoterror laboral, acoso moral (terrorismo psicológico/assedio moral) e no Brasil – assédio moral, assédio psicológico, mobbing. A diversidade de expressões obedece à variedade cultural e à ênfase que se deseja colocar sobre algum dos múltiplos aspectos que levam à violência psicológica no trabalho. Se por um lado, essas diferentes denominações são uma riqueza, por outro, a tentativa de definição e descrição deste fenômeno em nível universal se vê comprometida e exige uma aproximação progressiva e um intercâmbio de conhecimentos, teorias, estudos e práticas transculturais. Nas pesquisas relativas a violência nas relações laborais os termos mobbing, bullying, assédio moral, assédio psicológico ou terror psicológico têm sido utilizados como sinônimos para definir a violência pessoal, moral e psicológica, vertical (ascendente ou descendente) ou horizontal no ambiente de trabalho que se tornou um problema social grave. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho: “Cada dia morrem 6.300 pessoas devido a acidentes ou enfermidades relacionadas com o trabalho – mais de 2,3 mihões de mortes por ano. Anualmente ocorrem mais de 317 milhões de acidentes no trabalho, muitos destes acidentes resultam em faltas no trabalho. O custo desta adversidade diária é enorme e a carga econômica das mas práticas de segurança e saúde se estima em 4 por cento do produto Interno bruto global de cada ano” (OIT, 2015) O assedio psicológico ou moral no trabalho é tema complexo, um conceito polissêmico, um processo multicausal e como fenômeno apresenta uma dimensão biomédica, R. Cônego Eugenio Leite 262 Sala 01 Fundos. Pinheiros. CEP 05.414‐000. São Paulo / SP Tel: 2364‐5144. Email: contato@gestae.org.br. Site: www.gestae.org.br CNPJ: 08.253.920/0001‐23 sociológica, política, jurídica e psicológica sendo seu maior desafio, na atualidade, a construção de políticas dirigidas a prevenção. Delimitando o conceito de assedio No dicionário o termo assédio aparece ligado a cercar, sitiar, abordagem com intenção sexual, e como “insistência impertinente, perseguição, sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém”, já o verbo assediar significa “perseguir com propostas; sugerir com insistência; ser importuno ao tentar obter algo; molestar” (Houiass, 2001, 319). O assedio em uma situação laboral é tão antigo como o trabalho, mas foi somente na ultima década que ele foi identificado como fenômeno destruidor do ambiente de trabalho com consequências não na saúde física e mental como na produtividade devido desgaste psicológico que provoca. Heinz Leymann, psiquiatra suíço, define o terror psicológico ou assedio no ambiente de trabalho como “uma comunicação hostil e antiética, que é dirigida de uma forma sistemática por um ou mais indivíduos, principalmente, para um indivíduo que, devido o assedio, é empurrado para uma posição defensiva e impotente” (1996,168, tradução nossa). A vítima, como forma de defesa, reprime‐se, desenvolvendo um perfil que somente facilita ao agressor a prática de outras formas de assédio moral. No livro "Mobbing" ele se refere esse tipo de situação comunicacional que ameaça infligir ao individuo graves prejuízos psíquicos e físicos como um “processo de destruição; (...) uma série de atuações hostis que, se vistas de forma isolada, poderiam parecer anódinas, mas cuja repetição constante tem efeitos perniciosos. (1990, p. 8 tradução nossa).A alta frequência e a longa duração das condutas hostis acabam resultando em considerável sofrimento mental, psicossomático e social aos trabalhadores que são vítimas do assédio moral. O alvo do assedio é submetido a um processo de estigmatização sistemática e usurpação de seus direitos civis que se durar vários anos, leva‐a à saida do mercado de trabalho, devido os danos psíquicos provocados. Marie‐France Hirigoyen, psiquiatra e psicanalista francesa define o assédio moral no trabalho como “toda e qualquer conduta abusiva, manifestando‐se, sobretudo por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica ou física de uma pessoa, por em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho”. (2002, 65). É uma “violência sub‐reptícia, não assinalável, que, no entanto é muito destrutiva” (Hirigoyen, 2015,17). Cada ataque isolado não é muito grave, mas é o efeito acumulativo dos micro‐traumatismos frequentes e repetidos que constitui a agressão. O estilo específico de agressão é variável de acordo como os meios socioculturais e setores profissionais, com a continuação sistemática, toda pessoa visada se sentem atingida. A pesquisadora e medica do trabalho Margarida Barreto apresenta como assédio moral: R. Cônego Eugenio Leite 262 Sala 01 Fundos. Pinheiros. CEP 05.414‐000. São Paulo / SP Tel: 2364‐5144. Email: contato@gestae.org.br. Site: www.gestae.org.br CNPJ: 08.253.920/0001‐23 “a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando‐o a desistir do emprego.” (2000, 33) Para a pesquisadora e advogada do trabalho Sônia Mascaro Nascimento, o assédio moral é: “uma conduta abusiva, de natureza psicológica, que atenta contra a dignidade psíquica, de forma repetitiva e prolongada, e que expõe o trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica, e que tem por efeito excluir o empregado de sua função ou deteriorar o ambiente de trabalho.” ( 2011, 14) Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) “o assedio moral constitui o uso da força e poder contra uma pessoa, grupo ou comunidade que cause ou tenha a possibilidade de causar lesões, morte, danos psicológicos, transtornos e privações “. Enquanto a União Europeia situa como assedio moral “ qualquer manifestação de conduta abusiva, especialmente de comportamentos, palavras, atos, gestos e escritos que possam atentar contra a personalidade, a dignidade, a integridade psíquica ou física de uma pessoa”. Já a Agencia Europeia define como “um comportamento irracional, repetido, com relação ao empregado ou ao grupo de empregados e que constitui um risco de saúde”.(apud Barreto, 2013, 16) Analisando‐se as diferentes concepções de assedio moral pode‐se concluir que este fenômeno apresenta essencialmente as seguintes características: 1ª) recusa de comunicação direta; 2ª) Isolamento da vítima; 3ª) Ataque à reputação da vítima; 4ª) Degradação das condições de trabalho; 5ª) Ataque de natureza hostil, reiterado e sistemático durante longo tempo e 6ª) Consciência do agente. HISTORICO. O termo mobbing vem do verbo inglês to mob, cuja tradução é maltratar, atacar, perseguir, sitiar. Segundo Ferreira “a primeira forma de descoberta do assédio moral foi o chamado mobbing. (...)” o verbo inglês to mob transmite “a ideia de tumulto, turba, confusão. [...] Consiste em um processo envolvendo vários indivíduos contra apenas um. [...] Sua utilização hodierna corresponde a perseguições coletivas, as quais podem culminar em violência física”. (2010, p. 57) As primeiras pesquisas sobre o assédio no trabalho iniciaram no campo da Medicina e da Psicologia do Trabalho. Em 1984, Heinz Leymann publica um artigo contendo pesquisa feita pelo National Board of Occupational Safety and Health in Stokolm, no qual demonstra as consequências do mobbing (assedio), sobretudo na esfera psicossomática em R. Cônego Eugenio Leite 262 Sala 01 Fundos. Pinheiros. CEP 05.414‐000. São Paulo / SP Tel: 2364‐5144. Email: contato@gestae.org.br. Site: www.gestae.org.br CNPJ: 08.253.920/0001‐23 uma pessoa que é exposta a um comportamento humilhante no trabalho durante certo lapso de tempo, seja por parte dos superiores, seja por parte dos colegas. “ (...) eu introduzi este fenômeno em 1984, o qual é certamente muito antigo e bem conhecido em todas as culturas. No entanto, não foi descrito de forma sistemática até nossa pesquisa em 1982, o que levou a um pequeno relatório científico escrito no outono de 1983 e publicado no início de 1984,no Conselho Nacional de Segurança e Saúde Ocupacional em Estocolmo, Suécia“. (Leymann, 1996, 165, tradução nossa) Leymann esclarece que Mobbing é uma palavra não utilizada, anteriormente neste contexto, na língua inglesa. “Ela foi usada pelo falecido etologista Konrad Lorenz ao descrever o comportamento do grupo animal. “Ele chamou os ataques de um grupo de pequenos animais que ameaçam um animal grande de mobbing” (1996, 167, tradução nossa) ). O conceito de mobbing, proposto por Niko Tinbergen e Konrad Lorenz em seus estudos com gaivotas e gansos, pode ser definido como um comportamento agressivo, um ataque coletivo direcionado a um alvo considerado perigoso, por exemplo, um predador. Normalmente, este ataque envolve vários indivíduos da mesma espécie ou de espécies diferentes que tentam confundir o intruso com muitas vocalizações e ameaças a distância, afligindo‐o com ataques sucessivos. Também se observa em aves ao proteger o filhote e ninho. Em 1972, o médico sueco Peter Paul Heinemann, pesquisando o comportamento social infantil fora de sala de aula, constata um comportamento hostil e toma emprestada esta terminologia de Lorenz para nomear o comportamento muito destrutivo de pequenos grupos de crianças (na maioria das vezes) contra uma única criança. Nos anos 80, Heinz Leymannn introduz o conceito de mobbing (assedio), para descrever o comportamento hostil no lugar de trabalho, define as formas de assédio dentro das organizações e inventa uma escala para avaliar o assedio psicológico no trabalho. “Seguindo essa tradição, eu peguei emprestado o termo mobbing (assedio)no início dos anos oitenta, quando eu encontrei um tipo semelhante de comportamento em locais de trabalho. Eu deliberadamente não escolhi a palavra bullying, usada por pesquisadores ingleses e australianos (nos EUA, o termo "bullying" também é utilizado), porque muito desta comunicação desastrosa certamente não tem as características de mobbing (assedio) , mas muitas vezes é realizado de um modo muito sensível,embora ainda com efeitos altamente estigmatizantes” (Leymann, 1996,167, tradução nossa) A conotação de bullying é a agressão física e ameaça. Enquanto na escola o bullying é fortemente caracterizado por tais atos agressivos físicos; raramente se encontra a violência no comportamento de assedio no trabalho. Pelo contrário, o assedio nos locais de trabalho é caracterizado por comportamentos muito mais sofisticados, como, por exemplo, o isolamento social da vítima. Leymann sugere “manter a palavra bullying para as atividades entre crianças e adolescentes na escola e reservar a palavra mobbing para o comportamento dos adultos nos locais de trabalho” (1996,03, tradução nossa). R. Cônego Eugenio Leite 262 Sala 01 Fundos. Pinheiros. CEP 05.414‐000. São Paulo / SP Tel: 2364‐5144. Email: contato@gestae.org.br. Site: www.gestae.org.br CNPJ: 08.253.920/0001‐23 Ele aponta outras expressões encontradas na literatura como harassment (perseguição) e pshycological terror (terror psicológico), todos indicando um tipo de conflito, no qual a vítima é submetida a um processo de estigmatização sistemática e usurpação de seus direitos civis. Se durar vários anos, pode conduzir a ejeção do mercado de trabalho porque o indivíduo é incapaz de encontrar emprego devido a lesões psíquicas ocorridas no antigo local de trabalho. Também assinala que em relação a mobbing em locais de trabalho a primeira publicação se referiu ao "trabalhador assediado" foi feita por Brodsky em 1976, que influenciado pelas clima de esquerda acentua casos de acidentes no local de trabalho, estresse fisiológico e exaustão por longas horas de trabalho, tarefas monótonas trabalho, sendo ignorado pela sociedade mas influenciou uma nova lei ambiente de trabalho na Suécia e novas áreas de investigação dentro da psicologia industrial.Mas foi somente a partir de suas pesquisas Na década de 90 a francesa Marie‐France Hirigoyen lançou o livro “Assedio Moral: a violência perversa no cotidiano” consagrando mundialmente o termo assédio moral e trazendo o tema para uma discussão ética e influenciando a esfera jurídica. Sua analise centrada em casos concretos tipificam a conduta do assediador e as consequências que causam na vitima na sua saúde física e mental. Essa obra teve tanta repercussão que em 2001, lançou um novo livro “Mal estar no trabalho:Redefinindo do Assedio Moral” no qual define e delimita o assédio moral, apresenta sua tipificação e o diferencia de outras situações. Também destaca a necessária intervenção do Estado através de lei trabalhista junto com a participação da sociedade e dos sindicatos para poder prevenir a prática do assédio no trabalho em virtude do seu crescimento na atualidade. No Brasil o tema começou a ter maior divulgação a partir de 2000 com a dissertação de mestrado na área de Psicologia Social da medica do trabalho Margarida Barreto na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC‐SP), com o titulo "Uma jornada de humilhações".Para realizar sua dissertação, a pesquisadora realizou entrevistas com 2.072 trabalhadores de 97 empresas na cidade de São Paulo, e ao final constatou que 42% dos entrevistados já haviam sido vítimas de assédio moral.Ela ressalta que a característica mais marcante desse terrorismo psicológico que visa impor sujeição mediante uma verdadeira perseguição psicológica feita com uma sutileza que mascara a violência, daí a necessidade de estudos multidisplinares . Tipos de Mobbing A maior parte dos autores concorda com a existência de três tipos de assédio: Assedio Vertical Ascendente: “é aquele que parte de um ou vários subordinados contra o superior hierárquico e normalmente ocorre quando o superior excede nos poderes de mando ou adota posturas autoritárias, com intuito de aumentar a competitividade e a rivalidade entre os colegas de trabalho” (Alkimim, 2008,65). Esta forma de assedio pode ocorrer por insegurança ou inexperiência do superior hierárquico em situação que não consiga manter R. Cônego Eugenio Leite 262 Sala 01 Fundos. Pinheiros. CEP 05.414‐000. São Paulo / SP Tel: 2364‐5144. Email: contato@gestae.org.br. Site: www.gestae.org.br CNPJ: 08.253.920/0001‐23 domínio sobre os trabalhadores. Assédio Horizontal: cometido pelos trabalhadores que se encontra no mesmo patamar, por colegas de trabalho e está diretamente relacionado à competitividade estabelecida pelas empresas entre os próprios empregados. Pode derivar de conflitos pessoais, rivalidade, discrepância salarial, inveja do trabalho realizado, promoção recebida, ou ainda pela mera discriminação por fatores raciais, políticos, religiosos.Manifesta‐ se se através de brincadeiras maldosas, gracejo, piadas, grosserias, gestos obscenos, isolamento” (Alkimim, 2008, 64) Assedio Vertical Descendente: O mais frequente, o agente é o superior hierárquico, onde há total abuso aos limites do poder de direção, o chefe utiliza toda sua hierarquia para humilhar e constranger seus empregados, os quais, diante de tal situação, se veem obrigados a pedir demissão. O assediador detém faz depreciação, falsas acusações, insultos e ofensas, mina a esfera psicológica do trabalhador assediado para se destacar frente a seus subordinados, para manter sua posição hierárquica. “Este tipo de assédio pode ser denominado de estratégico quando a empresa organiza estratégias para reduzir o número de empregados, eliminando‐os ou fazendo ‐os pedir demissão após sofrerem pesadas humilhações e terem anulados os elementos que formam sua personalidade e sua profissão” (Alkimim, 2008, 61) Hirigoyen afirma que “a experiência mostra que o assédio moral vindo de um superior hierárquico tem consequências muito mais graves sobre a saúde do que o assédio horizontal, pois a vítima se sente ainda mais isolada e tem mais dificuldade para achar a solução do problema”.(2015, 112) Fases do Mobbing (assedio) Leymann apresenta quatro fases neste processo: 1ª) Fase de Incidentes críticos ‐ A situação de desencadeamento é mais frequentemente um conflito e o mobbing pode, portanto, ser visto como a escalada de um conflito (Leymann,1996,171, tradução nossa). Conflitos interpessoais normais entre pessoas com interesses e objetivos distintos ou incompatíveis que poderiam ser resolvidos através do diálogo. Caso contrário, quando estes conflitos pontuais começam a estigmatizar‐se, se produz um ponto de inflexão nas relações, constituindo‐se em ponto de partida de uma escalada de enfrentamentos. 2ª) Fase de mobbing ou de estigmatização: Compreende “atividades mobbing que podem conter um grande número de comportamentos que, na interação normal, não são indicativos ou regressão ou expulsão” (Leymann, 1996,171, tradução nossa). O assediador (mobber) põe em prática toda uma estratégia de humilhações de sua vítima, utilizando, sistematicamente e durante um tempo prolongado, uma série de comportamentos perversos, cujo objetivo é ridicularizar e isolar socialmente a vítima. Esta segunda fase já é propriamente o mobbing, é de grande duração (um a três anos) e serve para estigmatizar a vítima com o consentimento e inclusive com a colaboração ativa ou passiva do meio. 3ª) Fase de gestão pessoal: “Quando a administração intervém, o caso torna‐se oficialmente “um caso””(Leymann, 1996, 171, tradução nossa) A direção da empresa toma conhecimento R. Cônego Eugenio Leite 262 Sala 01 Fundos. Pinheiros. CEP 05.414‐000. São Paulo / SP Tel: 2364‐5144. Email: contato@gestae.org.br. Site: www.gestae.org.br CNPJ: 08.253.920/0001‐23 do conflito e adota uma solução positiva do conflito ( investigação exaustiva e articula mecanismos para que a mesma não volte a ocorrer) ou adota uma solução negativa do conflito ( nula ou escassa investigação e a direção encara a vítima como o problema a ser combatido) 4ª) Fase de marginalização ou exclusão da vida laboral: Esta última fase se encerra com a vítima abandonando seu emprego, muito provavelmente depois de haver passado por vários e prolongados períodos de licença, pois esta “ situação é responsável pelo desenvolvimento de graves doenças e a vitima necessita de cuidados médicos ou psicológicos” (Leymann, 1996, 172, tradução nossa) e responsável pela aposentadoria precoce. Distinção entre assedio, humilhação, estresse e conflito O termo assédio é frequentemente usado em linguagem corrente de modo diferente do sentido original criado por Leymann e levando a confusões com fenômenos de outra ordem como humilhação, estresse e conflito. Utiliza‐se assédio em situações em que o trabalhador é pressionado pelo tempo a realizar alguma tarefa ou meta, mas não apresenta a característica fundamental: a frequência do ato, sua insistência e repetição num certo tempo. Um ato isolado de constrangimento, humilhação não é assédio moral, pois este pressupõe: repetição sistemática, intencionalidade (forçar o outro a desistir), direcionalidade (há um alvo escolhido), temporalidade (durante a jornada de trabalho e por meses), degradação deliberada das condições de trabalho. Marie France Hirigoyen acentua as diferenças entre o assédio moral e as imposições profissionais: O assédio moral é um abuso e não pode ser confundido com decisões legítimas, que dizem respeito á organização do trabalho como transferências e mudanças de função. O assédio moral também não pode ser confundido com os conflitos, estresse, agressões pontuais, más condições de trabalho, e gestão por injúria. A gestão por injúria refere‐se aos superiores hierárquicos que maltratam todos os seus empregados, e diferentemente do assédio moral, não ocorre de forma obscura, escondida, pois referidos chefes não escondem de ninguém o modo como agem.: “Denominamos gestão por injúria o tipo de comportamento despótico de certos administradores, despreparados, que submetem os empregados a uma pressão terrível o os tratam com violência, injuriando‐os e insultando‐os, com total falta de respeito” ( Hirigoyen, 2015,28). Já o estresse decorre do grande número de trabalho dado a um empregado associado com as más condições de trabalho e, em alguns casos, pode até ser a primeira fase do assédio moral, entretanto os dois fenômenos não se confundem. O estresse profissional é um estado biológico gerado por situações sociais ou sociopsicologicas mas com características bem diferentes do assedio. Segundo a definição de Hans Selye, criador do conceito, o estresse é constituído pelo agente estressante – o estressor e a reação do organismo submetido à ação desse agente. O estresse é um elemento inerente a toda doença, produz modificações na R. Cônego Eugenio Leite 262 Sala 01 Fundos. Pinheiros. CEP 05.414‐000. São Paulo / SP Tel: 2364‐5144. Email: contato@gestae.org.br. Site: www.gestae.org.br CNPJ: 08.253.920/0001‐23 estrutura e na composição química do corpo, que podem ser observadas e mensuradas. É um estado que se manifesta através da Síndrome Geral de Adaptação (SGA) que compreende três fases: 1) fase de alarme, caracterizada por manifestações agudas; 2) fase de resistência, quando as manifestações agudas desaparecem e; 3) fase de exaustão, quando há a volta das reações da primeira fase e pode haver o colapso do organismo. Selye afirma que o estresse pode ser encontrado em qualquer das fases, embora suas manifestações sejam diferentes ao longo do tempo. Não é necessário que as três fases se desenvolvam para haver o registro da síndrome, uma vez que somente o estresse mais grave leva à fase de exaustão e à morte. “Os agentes ou as demandas que despertam a resposta padronizada são chamados, de forma completamente natural, como stressors. Assim, algo é um stressor no mesmo grau com que provoca a síndrome. Stressors, deve‐se notar, não são exclusivamente fenômenos da natureza. As emoções ‐ amor, ódio, alegria, raiva, desafio, e medo – bem como pensamentos, também provocam as mudanças características da síndrome do stress. De fato, o despertar psicológico é um dos ativadores mais freqüentes. Contudo não pode ser considerado como o único fator, já que as reações típicas do stress podem ocorrer nos pacientes expostos a trauma, a hemorragia, etc., quando sob anestesia profunda. Mesmo os anestésicos são usados comumente na medicina experimental para produzir stress, e o stress da anestesia é um problema sério na cirurgia clínica” (Selye,1982,p.7‐17) Selye aponta que para o homem ou mulher ativos, uma das coisas mais difíceis de suportar é a inatividade forçada durante uma hospitalização prolongada ou após a aposentadoria. Os humanos caracterizados como homo faber ao se adaptar as condições apresentadas se estressam. Assim pode haver estresse causado pela premência de tempo na execução do trabalho, pela competitividade empresarial existente, ter conflito com um colega ou sofrer pela exigência ou perfeccionismo do chefe, mas isto não constitui mobbing ou psicoterrorismo ou assedio moral. Hirigoyen sublinha que o assedio moral é mais do que um estresse, mesmo que passe por uma fase de estresse, no trabalho o estresse implica numa sobrecarga, “ele é destruidor pelo excesso, mas o assedio é destruidor por si só”. (2015, 20). O assedio moral não é um conflito. Para Leymann
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