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Neutropenia Febril Para introduzir: Define-se neutropenia como valor absoluto ≤ 500 neutrófilos/mm3 ou ≤ 1.000 neutrófilos/mm3 com expectativa de queda para < 500 nos próximos 2 dias.1 Febre no neutropênico é definida como qualquer medida de temperatura axilar isolada ≥ 38,3°C ou temperatura ≥ 38°C sustentada por pelo menos 1 hora.1 Fisiopatologia x quadro clínico A flora comensal pode atuar de maneira oportunista no contexto de imunossupressão. O uso de antimicrobianos profiláticos ou terapêuticos pode facilitar o supercrescimento de bactérias patogênicas devido à pressão seletiva. A quimioterapia citotóxica deprime a imunidade e predispõe à infecção de diversas maneiras: o A neutropenia compromete sensivelmente a resposta imune inata, uma vez que prejudica a fagocitose e a produção de mediadores inflamatórios. o Quebra de barreira cutânea secundária à frequente necessidade de cateteres de longa permanência. o Lesão à barreira mucosa gastrointestinal: (1) dano a células epiteliais altera a produção de peptídeos antimicrobianos que regulam a flora local; (2) comprometimento do tecido linfoide associado a mucosa (placas de Peyer, células dendríticas, linfócitos); (3) alterações na composição da flora, o que contribui para processos inflamatórios e consequente vantagem evolutiva a determinados patógenos (Enterobacteriaceae); (4) comprometimento da integridade da barreira mucosa por apoptose. Possíveis causas para desenvolvimento de neutropenia febril Entre 50-84% dos neutropênicos febris têm infecção oculta. Episódios de bacteriemia ocorrem em 10-25% dos casos e infecção clinicamente documentada em 20-30%. Infecções bacterianas são a causa mais frequente. Cerca de 85 a 90% das infecções documentadas são bacterianas, das quais 80% são oriundas da flora endógena. Entre os anos 1960 e 1980, predominavam Gram-negativos. A partir dos anos 1990, houve um aumento substancial dos Gram-positivos, provavelmente devido ao aumento no uso de cateteres venosos centrais e de antibióticos profiláticos, com espectro voltado para Gram-negativos. Após os anos 2000, vê-se novamente uma progressão de Gram-negativos (3-4%/ano). A ocorrência de anaeróbios permaneceu estável ao longo das décadas, com baixos índices de isolamentos (< 5%) característicos desse perfil de bactérias. Entre os agentes Gram-negativos a Pseudomonas aeroginosa é o principal agente, já entre os agentes Gram-positivos o mais frequente é o Sthaphylococcus epidermidis, seguido do S. aureus e os estreptococos. A incidência de infecções fúngicas também está em crescimento e se associam, frequentemente, à utilização de corticosteroides e de antimicrobiano de amplo espectro, assim como a leucemia e transporte alogênico de medula óssea. Acomete, tipicamente, pacientes após a primeira semana de neutropenia prolongada. Os fungos mais encontrados são as espécies de Candida (principalmente Candida albicans) e de Aspergillus. As infecções por Candida ocorrem tipicamente após a segunda semana de neutropenia, enquanto as por Aspergillus, após a terceira. Bactérias frequentemente encontradas em infecção de corrente sanguínea em neutropenia febril: o o Considera-se de maior risco os pacientes: o com quebra de barreira (mucosite); o com neoplasias hematológicas (que também apresentam quadro mais prolongado); o submetidos a quimioterapia em altas doses. Propedêutica diagnóstica na neutropenia febril A avaliação inicial inclui: ■ Anamnese completa. ■ Tempo decorrido da administração do quimioterápico e uso de antibiótico profilático (quinolonas). ■ Avaliação de comorbidades, desnutrição e histórico de infecções prévias. ■ Uso de dispositivos invasivos (cateteres e sondas). ■ Avaliar presença de mucosite e/ou rompimento de barreira cutânea. ■ Exames complementares iniciais (recomendações da Infectious Diseases Society of America- IDSA): o Hemograma. o Ureia e creatinina. o Eletrólitos, transaminases, bilirrubina total e frações. o Lactato sérico. o Hemoculturas (mínimo duas amostras simultâneas em sítios diferentes, periféricas e/ou de cada via de cateter venoso central se presente). o Urocultura ou cultura de outros sítios se indicado clinicamente. o Radiografia de tórax. ■ Investigação direcionada se houver foco suspeito (p. ex., liquor se suspeita de meningite). Sumário da busca ativa por história clínica e exame físico e exames complementares frequentemente recomendados: Estratificação de risco A avaliação do risco de complicações confere informações importantes a respeito da via de administração do antimicrobiano (oral ou intravenoso), do local de tratamento (internado ou domiciliar) e da sua duração, além, obviamente, de oferecer uma capacidade de predição prognóstica. o Pacientes de alto risco são definidos por (qualquer um dos abaixo): Critérios clínicos: - Neutropenia prolongada predita (> 7 dias de duração) e profunda (neutrófilos ≤ 100 células/µL) após quimioterapia citotóxica. - Condições clínicas exuberantes, como hipotensão, pneumonia, dor abdominal nova ou alterações neurológicas. - Alterações hepáticas ou disfunção renal. Escore MASCC (Multinational Association for Supportive Care in Cancer) < 21 pontos. o Pacientes de baixo risco, por exclusão, são os seguintes (todas as condições abaixo): Critérios clínicos: - Neutropenia breve predita (≤ 7 dias). - Sem alterações clínicas importantes. - Função hepática e renal adequadas e estáveis. Escore MASCC ≥ 21 pontos.