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UFRN - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CCSA – CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DESSO – DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL SUENYA RACHEL FONSECA DA SILVA SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE PANDEMIA: Possibilidades e limites do exercício profissional nos processos de reabilitação social de pessoas com transtornos mentais nos CAPS’s e o impacto causado pela pandemia NATAL/RN 2022 SUENYA RACHEL FONSECA DA SILVA SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE PANDEMIA: Possibilidades e limites do exercício profissional nos processos de reabilitação social de pessoas com transtornos mentais nos CAPS’s e o impacto causado pela pandemia Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), para obtenção do título de formação na graduação de Serviço Social. Orientador: Profa. Dra. Maria Célia Correia Nicolau NATAL/RN 2022 Silva, Suenya Rachel Fonseca da. Serviço social na saúde mental em tempos de Pandemia: possibilidades e limites do exercício profissional nos processos de reabilitação social de pessoas com transtornos mentais nos CAPS's e o impacto causado pela pandemia / Suenya Rachel Fonseca da Silva. - 2022. 74f.: il. Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2022. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Célia Correia Nicolau. 1. Serviço Social - Monografia. 2. Transtornos Mentais - Monografia. 3. Pandemia - Monografia. 4. Assistente Social - Exercício Profissional - Monografia. I. Nicolau, Maria Célia Correia. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 364.2:61 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 SUENYA RACHEL FONSECA DA SILVA SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE PANDEMIA: Possibilidades e limites do exercício profissional nos processos de reabilitação social de pessoas com transtornos mentais nos CAPS’s e o impacto causado pela pandemia Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), para obtenção do título de formação na graduação de Serviço Social. Aprovada em: ______/______/______ BANCA EXAMINADORA ______________________________________ Profª Drª Maria Célia Correia Nicolau Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte ______________________________________ Profª. Drª. Tássia Rejane Monte Santos Membro interno Universidade Federal do Rio Grande do Norte ______________________________________ Renata Lorena Ferreira Penha Membro externo CRAS Felipe Camarão Natal/RN AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus, por tudo, mas principalmente, por Sua graça infinita, Seu favor imerecido em minha vida. Aos meus pais, Marquês e Iranice, por estarem presente em todas as etapas da minha vida. São a minha base e a quem eu recorro, seja qual for a ocasião. Quero sempre ser um dos orgulhos de vocês. Aos meus irmãos, Kerem e Daygson, por estarmos sempre vibrando um com a conquista do outro. Que isso perdure até o fim da nossa vida. Ao meu amor, Daniel, por acreditar que sou capaz, até quando eu mesma começo a duvidar. Por ser o porto seguro que eu preciso no final de todos os dias cansativos. Àqueles amigos que brindam junto comigo a minha felicidade. Sou grata por todas as orações, este apoio é um dos fundamentais em minha vida, e quero que saibam que estarei aqui para brindar as conquistas de vocês também. À UFRN, por tudo o que ela me proporcionou desde o início: conhecimento; experiências; força; confiança; e mais importante, amizades. Amigas que amanhã serão colegas de profissão, a quem eu desejo todo o sucesso do mundo. Tudo isso, com certeza, me mudou e me moldou para enfrentar as barreiras da vida. Aos professores, por todo o conhecimento e sabedoria repassado com louvor. Pelos incentivos e pela crença em nosso potencial. À Célia Nicolau, pela paciência e sabedoria em me orientar na elaboração deste trabalho. Sei que já está colhendo o sucesso do seu esforço. Lhe desejo felicidades. Às professoras que compõem a banca deste trabalho, Tássia e Renata, obrigada desde já pela disponibilidade e por todas as contribuições de melhoria. Agradecer é se diminuir para entender que a gente não conseguiria sozinho, e quão acolhedor é ter pessoas para lhe abraçar no processo. Por isso, agradeço novamente a Deus, por todas estas pessoas que Ele colocou no meu caminho. Sem Ele, eu nada seria. RESUMO Este trabalho trata da atuação do profissional do Serviço Social no âmbito da saúde mental, na particularidade dos CAPS, em tempos de pandemia. A saúde mental e a forma como a sociedade lida com esta problemática, se constitui uma demanda presente, à qual o assistente social também se insere por meio da multiprofissionalidade. Objetiva identificar as possibilidades e os limites que se apresentam no cotidiano dessa intervenção nas equipes multiprofissionais nos processos de reabilitação social de pessoas com transtornos mentais nos CAPS, na perspectiva da efetivação dos direitos dessa parcela da população. Orientada numa perspectiva crítica dialética busca compreender as causas que determinam os transtornos mentais no contexto da sociabilidade capitalista, considerando sobretudo o momento pandêmico que vivenciamos. Na perspectiva de subsidiar as análises teórico-metodológicas da pesquisa, no percurso metodológico foram realizadas a pesquisa bibliográfica, envolvendo a revisão da literatura que trata da temática estudada, bem como a pesquisa documental que envolveu documentos relacionados à instituição pesquisada - CAPs. Quanto aos resultados da pesquisa, a partir da análise dos referenciais teóricos, deduzimos que o exercício profissional do assistente social no Centro de Atenção Psicossocial já enfrentava muitos limites relacionados à: recursos financeiros, infraestrutura e déficit de funcionários, entre outros, no entanto, com a pandemia, esses limites se intensificaram, pois além dos obstáculos já existentes, o isolamento social e demais medidas orientadas pelo Ministério da Saúde para evitar transmissibilidade, situações adversas surgiram que implicaram no aumento dos índices de transtornos de ansiedade, de pânico, de depressão, entre outros sofrimentos psíquicos. Em face dessa realidade, houve a necessidade dos Centros de Atenção Psicossocial se empenharem no incremento de novas estratégias para possibilitar o atendimento das demandas já existentes, e as novas provenientes do momento de pandemia, colocando para os profissionais de Serviço Social, e os demais envolvidos na atenção à saúde mental nos CAPS, limitações no exercício profissional. Tornou-se necessário desenvolver atividades remotas com usuários-familiares do CAPS, estabelecer articulações com as Clínicas da Família para dispensação de medicações, entre outras ações, criando possibilidades para assegurar que os usuários e familiares se sentissem atendidos em suas demandas, em face da sensação de insegurança criada pela crise sanitária no momento de pandemia. Palavras-chave: Serviço Social. Transtornos mentais. Pandemia. Limites e Possibilidades no Exercício Profissional. ABSTRACT This work deals with the performance of the Social Service professional in the field of mental health, in particular CAPS, in times of pandemic. Mental health and the way society deals with this problem constitutesa present demand, to which the social worker is also inserted through multiprofessionality. It aims to identify the possibilities and limits that present themselves in the daily life of this intervention in multiprofessional teams in the processes of social rehabilitation of people with mental disorders in CAPS, from the perspective of the realization of the rights of this part of the population. Oriented in a critical dialectical perspective, it seeks to understand the causes that determine mental disorders in the context of capitalist sociability, especially considering the pandemic moment we are experiencing. In order to support the theoretical-methodological analysis of the research, in the methodological path, bibliographic research was carried out, involving the review of the literature that deals with the studied theme, as well as the documentary research that involved documents related to the researched institution - CAPs. As for the research results, from the analysis of the theoretical references, we deduced that the professional practice of the social worker in the Psychosocial Care Center already faced many limits related to: financial resources, infrastructure and staff deficit, among others, however, with the pandemic, these limits were intensified, because in addition to the existing obstacles, social isolation and other measures guided by the Ministry of Health to avoid transmissibility, adverse situations emerged that resulted in an increase in the rates of anxiety disorders, panic, depression, among other psychological sufferings. In view of this reality, there was a need for Psychosocial Care Centers to strive to increase new strategies to make it possible to meet existing demands, and new ones arising from the moment of a pandemic, putting for Social Service professionals, and others involved in mental health care in CAPS, limitations in professional practice. It became necessary to develop remote activities with CAPS users-family members, establish articulations with Family Clinics for dispensing medication, among other actions, creating possibilities to ensure that users and family members felt attended to in their demands, in the face of the sensation of insecurity created by the health crisis at the time of a pandemic. Keywords: Social Work. Mental Disorders. Pandemic. Limits and Possibilities in Professional Practice. LISTA DE TABELAS Tabela 01 - Atividades realizadas nos CAPS em geral em alguns locais do Brasil...........................................................................................................................51 Tabela 02 - Textos utilizados como base sobre a atuação do assistente social em 02 (dois) CAPS................................................................................................................53 LISTA DE SIGLAS ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida CAPS - Centro de Atenção Psicossocial CAPS AD - Centro de Atenção Psicossocial especializado em Álcool e outras Drogas CAPS i - Centro de Atenção Psicossocial infantil CEP - Código de Ética Profissional do Serviço Social CF - Constituição Federal CFESS - Conselho Federal de Serviço Social CONSEPE - Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão COVID-19 - Coronavírus Disease/2019 DST - Doença Sexualmente Transmissível MS - Ministério da Saúde IAP - Instituto de Aposentadoria e Pensão MTSM - Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental OMS - Organização Mundial de Saúde OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde PCD - Pessoa com Deficiência PTM - Portador de Transtornos Mentais RAPS - Rede de Atenção Psicossocial SRT - Serviços de Residência Terapêutica TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade TEA - Transtorno do Espectro Autista UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro UPA - Unidade de Pronto Atendimento SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................10 2. A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL, A CRIAÇÃO DOS CAPS NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS E A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NOS CAPS .................................................................................................20 2.1 A Reforma Psiquiátrica no Brasil e a criação dos CAP’s no tratamento de Transtornos Mentais...................................................................................................21 2.2 A inserção do Serviço Social nos CAP’s - Um espaço de Intervenção Profissional ....................................................................................................................................28 3. A IMPORTÂNCIA DO CAP’s NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO SOCIAL DOS PACIENTES COM TRANSTORNO MENTAL E OS LIMITES E POSSIBILIDADES NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CONTEXTO PANDÊMICO .................................................................................39 3.1 A saúde mental no momento de pandemia e a importância dos CAPS na reabilitação social dos pacientes................................................................................39 3.2 A atuação do Assistente Social na Saúde Mental nos CAPS e os Limites e Possibilidades na sua intervenção em tempos de pandemia no processo de reabilitação social dos pacientes ...............................................................................45 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................62 REFERÊNCIAS .........................................................................................................67 10 1. INTRODUÇÃO O Serviço Social, profissão inscrita na divisão social e técnica do trabalho tem ocupado diferentes espaços sóciocupacionais, dentre esses espaços estão as instituições no campo da saúde mental, nas quais os assistentes sociais têm inserção e vêm atuando em respostas às requisições sócio-institucionais relacionadas aos processos de reabilitação social de pessoas com transtornos mentais, na particularidade dos CAPS’s. Os estudos e observações a despeito do exercício profissional dos assistentes nos espaços dos CAPs, participando desses processos de reabilitação das pessoas com transtornos mentais durante o período da pandemia do Covid-19, levaram a perceber a ampliação do número de casos de pessoas com doenças mentais, carecendo de tratamento. Tal ampliação demandou, portanto, um número de pacientes que chegaram para tratamento superior à quantidade que era oferecida pelo sistema de saúde, de acordo com a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) em conjunto com a OMS (Organização Mundial de Saúde). E, foi precisamente esse aumento do número de pacientes atendidos pelo CAPs, e, por seu turno, pelo assistente social, enquanto parte de uma equipe interprofissional1, que determinou a escolha do tema em questão neste trabalho que trata do SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE MENTAL EM TEMPOS DE PANDEMIA: possibilidades e limites do exercício profissional nos processos de reabilitação social de pessoas com transtornos mentais nos CAPS’s e o impacto causado pela pandemia. Refletindo sobre os transtornos mentais, enquanto uma das expressões da questão social2 que demanda e fundamenta a atuação do profissional de Serviço 1 E, nesta atuação em equipe, tornou-se fundamental observar no exercício profissional as referências dos seus princípios ético-políticos constantes em seus documentos legais (Código de Ética Profissional e Lei de Regulamentação da Profissão, ambos datados de 1993, e Diretrizes Curriculares da ABEPSS, datada de 1996). (Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde, p. 25) 2 A questão social é a materialização histórica dos antagonismos sociais, a concretização das desigualdades numa dada sociedade edas respostas engendradas pelo sujeito a estas desigualdades, revelando os mecanismos¸ as formas e as estratégias de organizações social dos sujeitos constituinte e da vida social. (IAMAMOTO, 1999, p.147) 11 Social3, temos que o Brasil é o país que apresenta maior predominância de casos de pessoas com depressão da América Latina, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)4. Isso torna esse assunto um dos mais urgentes para ser estudado e publicado. A saúde mental afetada se constitui um transtorno, implicando comportamentos, e pensamentos nos indivíduos expressos através dos sofrimentos psíquicos, como a depressão, o transtorno de ansiedade, o transtorno bipolar, a demência, o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), a esquizofrenia, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), entre outros, que comprometem sua saúde mental, um problema bastante recorrente em nossa sociedade desde seus primórdios5. Na atual conjuntura tem aumentado cada vez mais casos de doenças mentais, em razão do momento que acabamos de enfrentar: uma pandemia do COVID-19 que no Brasil chegou ao final do ano 2021 com mais de 22 milhões de casos e 619.056 mortes pelo vírus6. Frente à conjuntura de pandemia, o medo da morte de grande parte da população é iminente, assim como o medo do desemprego, da não possibilidade de assistência médica em razão da superlotação dos hospitais, o sofrimento pelas perdas dos entes queridos e o isolamento social fez com que ocorresse um pico de transtornos mentais nesse período7. Foi constatado no cotidiano dessa população em processo de isolamento ou não, sofrimentos psíquicos em decorrência da pressão no trabalho dos profissionais 3 “O Serviço Social tem na questão social a base de sua fundamentação enquanto especialização do trabalho. Nessa perspectiva, a atuação profissional deve estar pautada em uma proposta que vise o enfrentamento das expressões da questão social que repercutem nos diversos níveis de complexidade da saúde, desde a atenção básica até os serviços que se organizam a partir de ações de média e alta densidade tecnológica” (Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde, p.21) 4 Nos últimos dez anos, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4% — hoje, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra. Os dados vieram à tona em um relatório recente realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para piorar, os brasileiros estão levando esses índices para o alto. No nosso país, 5,8% dos habitantes sofrem com a desordem, a maior taxa do continente latino-americano. A faixa etária mais afetada varia entre 55 e 74 anos. Leia mais em: https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/brasil-e-o-pais-mais-deprimido-e-ansioso-da- america-latina/https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/brasil-e-o-pais-mais-deprimido-e-ansioso- da-america-latina/ 5 Os sofrimentos psíquicos tratados como loucura sempre estiveram presente no horizonte social como um fato estético do cotidiano da vida social em todas as civilizações (MILLANI E VALENTE, 2008) 6 https://www.cnnbrasil.com.br/saude/brasil 7 Estudo realizado pela Pfizer: Saúde Mental na Pandemia do Coronavírus. 12 de linha de frente nos hospitais e nas instituições de assistência social; nas condições de ensino dos professores que foram obrigados a trabalhar em sistema remoto - “home office” (toda rede de ensino público e privado), demandando exigências aos espaços familiares, onde os processos de adoecimentos psíquicos foram intensos. Ao pensar na temática de Saúde Mental, devemos sempre envolver as relações dos indivíduos com os outros indivíduos no âmbito familiar e no contexto da sociedade, não é possível pensar a Saúde Mental como um caso isolado. Sabemos que os indivíduos convivem em relações que se estabelecem em seu ambiente de trabalho, no âmbito familiar, nas redes de apoio em comunidades e demais convivências que envolvem pessoas e grupos. Essas são relações permeadas por questões econômicas, socioculturais, ambientais, étnico/raciais, psicológicos e comportamentais, com implicações diretas nas condições de vida e de saúde física e mental desses indivíduos. Isto significa que os casos de saúde mental devem ser pensados a partir de um determinado contexto social, observando e analisando seus determinantes, e, neles, os fatores de risco aos quais os indivíduos se expõem a partir do estilo de vida, hábitos, costumes, relação entre o individual e o social, determinando a qualidade de vida e saúde desses indivíduos e o acesso a política de saúde mental. É nesse contexto que são identificadas as diferentes expressões da questão social, objeto de intervenção do Serviço Social. O reconhecimento da questão social, portanto, como objeto de intervenção profissional e base de fundamentação do seu trabalho na divisão do trabalho coletivo (conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS, 1996), orienta o exercício profissional numa perspectiva de totalidade, tendo como base a análise dos determinantes sociais, econômicos, políticos e culturais do contexto sociohistórico, terreno em que a profissão se exerce na relação com os indivíduos, usuários dos serviços prestados na área da saúde mental. Abordagem crítica que possibilita conhecer as condições materiais de vida dos indivíduos e grupos e suas relações, ao mesmo tempo orienta uma atuação que busca respostas no âmbito do Estado e da sociedade civil, na perspectiva de “garantir os recursos financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários à garantia e ampliação dos direitos” (CFESS, 2010, p. 21). 13 Na perspectiva de uma abordagem do contexto sociohistórico, em que a profissão se materializa na relação com os indivíduos na saúde mental, demarcamos a importância da análise do período 2020-2021 na particularidade das ações nos Centros de Atenção Psicossocial. Conjuntura em que o Brasil, em um contexto globalizado, vivenciou uma pandemia de forma intensa, acarretando mortes e um processo de sofrimento psíquico de milhões de brasileiros em todas as regiões já enfatizado anteriormente. Os atendimentos aos Centros de Atenção Psicossociais se multiplicaram em razão do aumento dos transtornos mentais, demandando uma atuação voltada à reabilitação dos doentes mentais que chegavam a esses espaços, criados e institucionalizados, resultantes de um grande movimento decorrente da Reforma Psiquiátrica. A Reforma Psiquiátrica no Brasil proporcionou mudanças significativas na política de saúde mental, tanto referentes às modificações operacionais, quanto conceituais, consideradas de suma importância no processo da orientação do novo modelo de atenção à saúde mental de forma descentralizada e multiprofissional. E, nesta perspectiva, a política de saúde mental vem sendo operacionalizada, em nossa sociedade, mediante um compromisso com a promoção, prevenção e tratamento dos transtornos mentais, seguindo um novo modelo antimanicomial8 e humanizado. Mudanças, sobretudo na abordagem profissional, tanto na psicologia quanto no Serviço Social, bem como em todo o campo da saúde. A Reforma Psiquiátrica que possibilitou a ampliação dos espaços de trabalho para os profissionais de saúde, evidencia a importância do assistente social na equipe multiprofissional nos serviços ligados à saúde mental, dentre outras, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Os Parâmetros para atuação do Assistente Social na Saúde dispõe sobre as atribuições do assistente social na saúde mental, e atribui como articulação do profissional: participar, em conjunto com a equipe de saúde, de ações socioeducativas nos diversos programas e clínicas, como por 8 O movimento antimanicomial constitui-se como um conjunto (plural) de atores, cujas lutas e conflitos vêm sendo travadas a partir de diferentes dimensões sócio-político-institucionais.Trata-se de um movimento que articula, em diferentes momentos e graus, relações de solidariedade, conflito e de denúncias sociais tendo em vista as transformações das relações e concepções pautadas na discriminação e no controle do “louco” e da “loucura” em nosso país.” Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csc/v12n2/a16v12n2.pdf Acesso em 09 de novembro de 2021 14 exemplo: na saúde da família, na saúde mental, na saúde da mulher, da criança, do adolescente, do idoso, da pessoa com deficiência (PCD), do trabalhador, no planejamento familiar, na redução de danos, álcool e outras drogas, nas doenças infectocontagiosas (DST/AIDS, tuberculose, hanseníase, entre outra) e nas situações de violência sexual e doméstica (CFESS, 2010, p. 54) Eduardo Mourão, em seu livro “Saúde Mental e Serviço Social” (2002) traz todo o aparato que precisamos saber sobre a periodização do surgimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil e no mundo. Ele ressalta que o movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil teve seu desenvolvimento em um contexto onde surgiu vários movimentos sociais no país. Entre eles, o Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM), que surgem no ano de 1978 constituídos por trabalhadores integrantes do “movimento da reforma sanitária, associações familiares, pessoas vinculadas aos sindicatos, as associações de profissionais e pessoas com transtornos mentais com longo histórico de internações psiquiátricas” (Brasil, 2005, p.7) É, sobretudo o MTSM, transitando por vários espaços de luta que passa a protagonizar e a construir a partir deste período a denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais9 (BRASIL, 2005) Esses movimentos foram determinantes para que se tenha hoje no Brasil uma política de saúde mental, articulada às pressuposições da reforma psiquiátrica, operacionalmente indicando de forma progressiva a substituição dos hospitais psiquiátricos pela rede de serviços de atenção em saúde mental formada pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ambulatórios de saúde mental, residências terapêuticas, centros de convivência e cultura, serviços de saúde mental, emergências psiquiátricas em hospitais gerais e atendimento em saúde mental na rede básica de saúde (EDILANE BEZERRA & MAGDA DIMENSTEIN, 2008, p. 633) Nesta perspectiva de tratamento, considera-se saúde o estado de bem estar completo, sendo ele físico, mental e social. Este é o conceito definido pela OMS 9 Ver a propósito a Reforma Psiquiátrica e política de Saúde Mental no Brasil, https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf/ 2005. 15 (Organização Mundial de Saúde) em 1948. Sendo assim, o público que sofre com transtornos mentais e não possui uma rede de apoio necessária para o tratamento, tem seus direitos violados. A respeito disso, é dever do Estado promover uma saúde e condições de vida de qualidade para a população, como está disposto no artigo 227 da Constituição Federal: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (CF, 1988) É válido salientar que os casos relacionados aos transtornos mentais graves e persistentes como a esquizofrenia, a depressão e a ansiedade, em todo o mundo estão presentes na sociedade em todas as civilizações. No entanto, a frequência nos últimos tempos está cada vez maior, em virtude de vários fatores distintos, dentre outros já enfatizados como: maior responsabilidade no trabalho causada pela sua intensificação, sobretudo nos hospitais, na assistência social e demais atividades essenciais; o desemprego para muitos acompanhado da fome e miséria; a incidência dos casos de COVID que exigiu um processo longo de isolamento social; a exigência do uso de máscaras e higienização; a orientação pela não aglomeração, entre outros. Foi realizado estudo onde foram comparados dados de 2019 e 2020, e se percebeu o aumento da ansiedade na população durante a pandemia. Foi confirmado que os indivíduos tiveram chances aumentadas em 3 (três) vezes de desenvolverem transtornos de ansiedade, de depressão ou ambos em um só indivíduo10. Sendo assim, acredita-se que esse é um tema que precisa ser discutido, tendo em vista a pandemia que vivenciamos entre os anos 2020 e 2021, em razão do novo Coronavírus (COVID-19), o que proporcionou uma alta significativa nos assuntos que envolvem a saúde mental. Além do fato de termos vivenciado tão recentemente esse momento, se tornar um assunto mais urgente. O impacto que a pandemia causou na saúde mental da população, ainda está sendo mensurado, 10 Informação retirada do estudo realizado pelo Instituto de Ciências Integradas em parceria com a Pfizer. (CUMINALE, 2020) 16 estudos ainda estão sendo feitos, no entanto, sinais de transtornos mentais já se tornam visíveis, sobretudo pelo número de casos demandados nos CAPS. A saúde mental é um assunto que precisa de atenção e estudos, por se constituir o seu inverso (processo de adoecimento) uma problemática grave do cotidiano vivida por aqueles acometidos de transtorno mental na nossa realidade social, e que precisa de toda e qualquer visibilidade possível, visto que é de fundamental importância, considerando ser o Brasil o país mais ansioso do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS 11 . A forma como a sociedade enxerga e lida com essas situações é de extrema importância para a criação de políticas públicas e a erradicação de qualquer forma de preconceito. Outra razão é estar intrinsecamente relacionado a área da saúde, área que pretendo seguir com os meus estudos e profissão. Para além disso, é válido frisar que a saúde no Brasil é um direito de todos e um dever do Estado, devendo este ser o principal provedor para os indivíduos da sociedade. Assim como afirma o artigo 196 da Constituição Federal de 1988: A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (CF, 1988). Tenhamos presente que a ansiedade em um contexto mundial afeta 260 milhões de pessoas, e o Brasil é o país que possui maior número de pessoas ansiosas, um total de 9,3% da população 12 . A sociedade está cada vez mais propensa a distúrbios mentais, devido à enorme pressão psicológica no trabalho, no campo acadêmico, e até mesmo nos espaços familiares. Com isso, entende-se que esse estudo é de fundamental importância para a sociedade em geral, tendo em vista questões futuras que podem surgir de acordo com os possíveis agravamentos da problemática. Foi de fundamental importância o estudo aprofundado nessa área de atuação, que possibilitou analisar a atuação dos profissionais do Serviço Social na 11 Leia: https://exame.com/ciencia/brasil-e-o-pais-mais-ansioso-do-mundo-segundo-a-oms/ 12 De acordo com a OMS. Informação retirada da revista Veja, com o título: Pesquisa mostra que 86% dos brasileiros têm algum transtorno mental. 17 Saúde Mental, identificando as possibilidades e os limites que se apresentam no cotidiano dessa intervenção nas equipes multiprofissionais nos CAPs e nos processos de reabilitação social de pessoas com transtornos mentais nos CAPS, visando a efetivaçãode direitos dos usuários com transtornos mentais. Os objetivos específicos visam: aprofundar o conhecimento sobre a "reforma psiquiátrica" no Brasil considerando as diferentes concepções sobre a saúde mental e as estratégias de tratamento de pessoas com transtornos mentais; identificar as orientações para a atuação de profissionais do Serviço Social na saúde mental, considerando as diretrizes e princípios do Projeto Ético Político Profissional; observar e identificar as estratégias adotadas por assistentes sociais no âmbito de equipes multidisciplinares do CAPs e o processo de reabilitação para a efetivação de direitos dessas pessoas no contexto pandêmico, além de estudar e conhecer os serviços da rede de Saúde Mental. Para elaboração desta pesquisa se deu a partir da demarcação dos transtornos mentais e na forma como a sociedade lida com eles. É de conhecimento geral que a sociedade ainda possui um estigma13 em relação à doença mental. Uma pessoa diagnosticada com transtornos mentais, seja ela qual for (em termos de classe, raça, credo e gênero), recebe olhares diferentes e preconceituosos por parte da sociedade. Simone Monteiro e Wilza Vilela, no livro “Estigma e Saúde” (2013), tratam a respeito de como a sociedade reage à essa situação. E as razões são, em sua maioria, históricas. O Brasil possui um passado de discriminação e racismo muito forte em seu desenvolvimento, o que infelizmente, refletiu por muitos anos e por seu turno, rebate, na forma de olhar e reagir face as doenças mentais. Mais precisamente, o trabalho é focado em como os profissionais de Serviço Social atuam nesse campo de trabalho, com medidas protetivas através de políticas públicas, viabilizando direitos, entre outros parâmetros necessários ao trato com esse público: elemento central da pesquisa. Com isso, as principais questões a se fazer são: Quais os limites 13 Gofmann (2004) define estigma social como “a situação do indivíduo que está inabilitado para aceitação social plena” (GOFFMAN, 2004, P.4). Ou seja, estigma social faz referência a desaprovação das crenças e características pessoais que confrontem as normas culturais predominantes em determinado grupo social, designando o seu portador como desqualificado ou/e menos valorizado. 18 enfrentados pelos Assistentes Sociais nesse campo de trabalho? Quais serviços existem para responder às questões da saúde mental? Quais ações específicas desenvolvidas pelo assistente social frente à problemática? Quais as possibilidades do exercício profissional do assistente social no processo de reabilitação das pessoas com doenças mentais em sua intervenção? E quais as estratégias de intervenção dos profissionais de Serviço Social frente à uma pandemia? A abordagem teórico-metodológica utilizada na pesquisa, empregou técnicas quantitativas e qualitativas, consideradas técnicas estatísticas e teóricas que têm como base a coleta de dados, para enumerar e medir categorias e compreender processos na realidade social mais a fundo, de acordo com Gil (2012). Tais técnicas utilizam a apuração de dados e informações aprofundadas, que resultam na compreensão do exercício profissional diante dos processos de reabilitação das pessoas com transtornos mentais no campo da saúde mental. Sendo assim, se faz necessário a combinação de instrumentos que possibilitem a coleta de dados precisos, sendo eles números e informações. A coleta de informações se deu a partir da pesquisa bibliografia14 e documental15. A fundamentação teórica das análises deste trabalho se deu através de estudo e análise de documentos de domínio científico tais como livros, periódicos, ensaios críticos e artigos científicos publicados sobre a saúde mental e o CAPS, que propiciou uma base teórica articulada à temática, cujos autores destacamos, Mourão (2002); Lisboa (2016); Iamamoto (2000, 2002, 2005); Tenório (2002); Amarante (1995); Silva (2019); Pereira (2016); Coutinho e Coutinho (2017); Matos (2020) entre outros. A pesquisa documental se deu através do estudo dos documentos 14 Ainda de acordo com Gil (2012), a pesquisa bibliográfica permite ao autor o acesso a uma gama de informações muito maior do que a que poderia se obter pesquisando diretamente. Presumo que isso se dá pelo fato de que na pesquisa bibliográfica, você possui várias informações, de pesquisadores diferentes, com visões distintas, onde o pesquisador tem acesso à vários ângulos de um mesmo fenômeno. 15 Tanto a pesquisa documental como a pesquisa bibliográfica têm o documento como objeto de investigação. No entanto, o conceito de documento ultrapassa a ideia de textos escritos e/ou impressos. O documento como fonte de pesquisa pode ser escrito e não escrito, tais como filmes, vídeos, slides, fotografias ou pôsteres. Esses documentos são utilizados como fontes de informações, indicações e esclarecimentos que trazem seu conteúdo para elucidar determinadas questões e servir de prova para outras, de acordo com o interesse do pesquisador (FIGUEIREDO, 2007), apud Sá- Silva; Almeida; Guindani (2009, p05) JACKSON Ronie Sá-Silva; ALMEIDA ,Cristóvão Domingos de, GUINDANI, Joel Felipe. Pesquisa documental: pistas teóricas e metodológicas .Revista Brasileira de História & Ciências Sociais Ano I - Número I - Julho de 2009 19 publicados pelo Ministério da Saúde na Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental - Documento de Caracas (2005) e do CFESS (2010) entre outros. A pesquisa bibliográfica ocorreu através da coleta de informações em artigos publicados sobre a atuação do assistente social na saúde mental no período de pandemia entre 2020 e 2021, dos quais foram utilizados dois artigos “Serviço Social no enfrentamento à COVID-19”, no capítulo “Quantas crises cabem na política de saúde mental durante uma pandemia?”: Desafios e práticas do Serviço Social nos centros de atenção psicossocial, dos autores FRANÇA; MELO; ARAÚJO; BIBIANO; CAVALCANTI e PONTES (2021) e “Serviço Social em tempos de pandemia: provocações ao debate” no capítulo “O cuidado em Saúde Mental infantojuvenil em tempos de pandemia: relatos da atuação profissional da/o assistente social num Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil” dos autores CRONEMBERGER; LIMA e MACÊDO (2020). Levando em consideração que a temática analisada contempla o contexto da pandemia, por ser um período muito recente, não existem muitos trabalhos publicados que contemplem o exercício do assistente social nos CAPS. Além dos 02 (dois) artigos já referidos, foram utilizados também artigos que tratam do funcionamento do CAPS (sem especificar o exercício profissional do assistente social), no contexto pandêmico, nas cidades de Bahia, Rio de Janeiro, Florianópolis e Caicó, dos autores, respectivamente: SENA et al (2021); BARBOSA et al (2020); CORREA (2022) E ARAÚJO et al (2021). Trabalhamos a partir de uma pesquisa exploratória, a partir do conhecimento do fenômeno para em seguida delimitar melhor o objeto de pesquisa, e em seguida explorar e analisar a atuação do profissional do Serviço Social nos CAPS’s. Tomamos como base o método materialismo-histórico-dialético16, o qual permite partir da aparência dos fatos, buscando a essência do objeto analisado, na proporção em que são encontradas as respostas das questões da pesquisa. Através desse método foi possível a problematização da realidade da qual o objeto faz parte, das relações que o configuram, permitindo, assim, capturar a sua estrutura e dinâmica em um contexto sócio-hsitorico determinado. 16 Esse método é caracterizado por uma corrente filosófica que, segundo Karl Marx, se apropria do conceito da dialética para compreender a realidade social ao longo do contexto histórico. 20 O conhecimento foi adquirido por aproximações sucessivas, transitando por um conhecimento parcial da realidade. Ao focarmos a pesquisa mais precisamentenas instituições de apoio a essa problemática, estreitamos os estudos ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), visto que este é um serviço de saúde de cunho comunitário e aberto à população que dela necessita. Formado por uma equipe multiprofissional, tem como um de seus integrantes o assistente social. Uma instituição especializada no tratamento de transtornos mentais, incluindo necessidades causadas pelo álcool e drogas, com o principal intuito de reabilitação social. Este trabalho está constituído de três capítulos, além da introdução como capítulo I e as considerações finais. O segundo capítulo traz uma abordagem sobre a Reforma Psiquiátrica no Brasil, a criação dos CAPs no tratamento dos transtornos mentais e a inserção do serviço social nos CAPs - um espaço de intervenção profissional. Uma descrição do que foi a Reforma Psiquiátrica no Brasil, o surgimento dos CAPs para o tratamento dos transtornos mentais e a inserção do Serviço Social nesse campo. O terceiro capítulo trata da importância dos CAPs no processo de reabilitação social dos pacientes com transtorno mental, demarcando os limites e possibilidades na atuação profissional do assistente social no contexto pandêmico. 2. A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL, A CRIAÇÃO DOS CAPS NO TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS E A INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NOS CAPS Este capítulo aborda o Movimento da Reforma Psiquiátrica aqui no Brasil, considerando o contexto histórico e social do país, mostrando como a psiquiatria era vista no momento e a forma como a sociedade lidava com a mesma. Além disso, este conteúdo discorre sobre a criação dos Centros de Atenção Psicossocial, os CAPS, na atenção aos tratamentos relacionados aos transtornos mentais e como esses centros serviram de suporte para os hospitais que até então eram os responsáveis pela alta demanda de transtorno mental. Ao final, o capítulo apresenta 21 a inserção do serviço social no campo da saúde mental, mais especificamente nos CAPS, demarcando a importância desses profissionais integrarem à equipe multiprofissional que lida com a área da saúde mental. 2.1 A Reforma Psiquiátrica no Brasil e a criação dos CAP’S no tratamento de transtornos mentais O grande marco para mudanças significativas no âmbito da saúde mental foi a Reforma Psiquiátrica, que provocou outras perspectivas na área da saúde e da assistência para lidar com pessoas com transtornos mentais. A Reforma Psiquiátrica no Brasil eclode contemporânea ao “movimento sanitário”, no final da década de 70, no final da ditadura militar brasileira17. Mais precisamente no ano de 1978, quando deu início um efetivo movimento social pelos direitos dos pacientes psiquiátricos em nosso país, reivindicando mudanças nos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde. Reivindicações “em defesa de uma saúde coletiva, o protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos de gestão e produção de novos modos de cuidados do doente mental” (DOCUMENTO DE CARACAS, 2005, p.7) A Reforma no Brasil efetivamente transita entre o fim da ditadura militar e o processo de redemocratização18 do país (Tenório, 2002). E, para Amarante tem como fundamentos apenas uma crítica conjuntural ao subsistema nacional de saúde mental, mas também – e principalmente – uma crítica estrutural ao saber e às instituições psiquiátricas clássicas, dentro de toda a movimentação político-social 17 A Ditadura Militar no Brasil, regime autoritário que teve início com o golpe militar em 31 de março de 1964, com a deposição do presidente João Goulart. O regime militar durou 21 anos (1964-1985), estabeleceu a censura à imprensa, restrição aos direitos políticos e perseguição policial aos opositores do regime. Ademais o governo estabeleceu cassações de mandatos, demissões de funcionários públicos e expulsão de militares das Forças Armadas. https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/ditadura-militar-no-brasil-1964-1985/ 18 [...] Os assistentes sociais, por meio da reorganização políticosindical se inserem no movimento sindical classista na ANAMPOS - Articulação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais -, de 1978 a 1983 - quando é fundada a CUT - Central Única dos Trabalhadores. Esse movimento, denominado de novo sindicalismo, irrompe uma perspectiva de lutas classistas, contra a ditadura militar e pela redemocratização do país em uma concepção e prática sindical orientadas às lutas imediatas da classe trabalhadora por melhores condições de vida e de trabalho e aos interesses históricos na luta antiimperialista, anticapitalista e socialista. (ABRAMIDES, Maria. SERRA, Rose - Democracia em Serviço Social, 2007). 22 que caracteriza a conjuntura da redemocratização (AMARANTE, 1995, p.91). E, em meio a este cenário, a Reforma Psiquiátrica protagonizou, a partir deste período, uma denúncia a violência asilar que pacientes com transtornos mentais sofriam, e junto a isso, as precárias condições de funcionamento dos hospitais psiquiátricos, “a mercantilização da loucura, a hegemonia da rede privada de assistência e construiu de forma coletiva uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais” (Documentos de Caracas, 2005, p. 7). E daí propôs um novo modelo de atenção aos doentes mentais, na perspectiva de tirar do poder dos hospitais psiquiátricos a responsabilidade central pelo cuidado a esses doentes. A psiquiatria preventiva19, na década de 70, tinha o foco de combater tudo o que parecia ameaçar o conforto e a tranquilidade da sociedade, ou seja, tudo o que fugisse de sua “normalidade” para a época. Pessoas com transtornos mentais eram consideradas loucas, e a loucura antigamente não era bem vista pela sociedade20, e o tratamento para casos de saúde mental era feito através de internações psiquiátricas, porém com o uso de violência na maioria dos casos. Este é o momento propício para o início dos movimentos e a ruptura de medidas repressivas. A Reforma Psiquiátrica incide no final da década de 70, em meio a uma crise no modelo de assistência dos hospitais psiquiátricos. Crise que se configura numa conjuntura caracterizada pelo processo de expansão do capitalismo monopolista, sob o domínio de um Estado autocrático burguês21 . Em um contexto político de 19A Psiquiatria preventiva trouxe como proposta a possibilidade de retirar os atendimentos dos consultórios privados e dos asilos para levá-los à comunidade. Seu objeto de estudo era a saúde mental e não a doença, seu objetivo era a prevenção da doença mental, o sujeito de tratamento passou a ser a coletividade e não mais os indivíduos, os profissionais não eram somente os psiquiatras, mas as equipes comunitárias, e o espaço de tratamento passou a ser a comunidade. Um novo conceito de personalidade também foi adotado; o indivíduo tornou-se a unidade biopsicossocial. (ALINE FROLLINI LUNARDELLI LARA, 2006, p7) 20 O discurso que alimenta esse sistema percebe os loucos como seres perigosos e inconvenientes que, em função de sua “doença”, não conseguem conviver de acordo com as normas sociais. (Silveira LC, Braga VAB. Acerca do conceito de loucura e seus reflexos na assistência de saúde mental.) 21 “O Estado autocrático burguês, no golpe de pós-64, é representado por um bloco hegemônico constituído pelos altos escalões da tecnocracia estatal, pela oficialidade militar e pela burguesia nacional monopolista, associada às multinacionais, das quais se tornaram aliadas. Sob a dominação desta autocracia, ocorreu um aprofundamento do capital monopolista na economia do país, tendo como um dos principais requisitos para este fim a estabilidade política. Essa fase foi garantida por 23 acirramento das relações autoritárias e repressivas e exceção sob uma ditadura militar22. Contraditoriamente, este período também foimarcado por movimentos e lutas sociais por diversas causas possíveis, entre elas, a Reforma Psiquiátrica. Eduardo Mourão (2002), ao fazer uma periodização do desenvolvimento da Reforma Psiquiátrica, aponta que um dos alicerces que puncionou a incidência da reforma psiquiátrica foram os movimentos trabalhistas da época. A emergência do Movimento de Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM), constituiu o movimento formado pelos trabalhadores que também integraram o movimento sanitário, juntamente com familiares de pessoas que sofriam transtornos mentais, membros de sindicatos e apoiadores em geral, somados também a outros movimentos da época, para gerar mais força, se dá no ano de 1978. A mobilização desses movimentos foi de extrema relevância pois efetiva a importância dos direitos dos pacientes e seus familiares no contexto da sociedade, e o efeito que os movimentos sociais causam. Além do que, até aquele momento, o Estado não disponibilizava para a população um atendimento de saúde de caráter universal, disponibilizava-se somente aos trabalhadores contribuintes dos institutos23. Os movimentos sociais buscavam, portanto, os direitos aos pacientes psiquiátricos, como também a defesa da saúde coletiva. A luta ficou caracterizada como o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, o MTSM. O MTSM surge com o propósito de reformulação da assistência psiquiátrica, mediante um medidas institucionais que fortaleceram um esquema de repressão, visando propiciar, aos grupos investidores, as mais sólidas garantias econômicas e políticas” (NICOLAU, 2005p.) 22 Segundo Amman (1980, p.101), o regime militar implantado sob a autocracia burguesa estabeleceu uma “(...) nova correlação de forças instaurada entre classes e frações de classe hegemônicas que inauguram outras regras de jogo no campo das relações sociais”. Neste sentido, os movimentos políticos e ideológicos das classes populares foram desativados, desbaratinados e controlados. Isto por representarem “(...) uma ameaça para o equilíbrio e a ordem do sistema, para a implantação do novo regime e para a consolidação do modo de produção capitalista” (ibidem, p.102) 23 Com a criação dos IAPs passou-se a incluir em um mesmo instituto toda uma categoria profissional, não mais apenas empresas e o Estado passou a participar da sua administração, controle e financiamento. A partir daí, dá-se início à criação de um sistema público de Previdência Social, porém, ainda se mantinha o formato do vínculo contributivo formal do trabalhador para a garantia do benefício, caso não contribuísse estaria excluído do sistema de proteção. Em decorrência desse sistema estavam excluídos: os trabalhadores rurais, o profissional liberal e todo trabalhador que exercesse uma função não reconhecida pelo Estado. Dessa forma, a proteção previdenciária era um privilégio de poucos, ocasionando uma injustiça social em grande parte da população, podendo- se notar uma cidadania regulada e excludente, pois não garantia a todos os mesmos direitos. (Explicação retirada do site da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Saúde. Disponível em: <https://cnts.org.br/noticias/saude-era-exclusividade-de-poucos-antes-do-sus-parte-1/> ) 24 pensamento crítico que possibilitou a inversão do modelo antimanicomial. O contexto da iniciação da reforma se deu no período de crise do modelo de assistência dos hospitais psiquiátricos, foi um processo social e político, composto por várias instituições e serviços que incide em vários territórios, evidenciando seus projetos nos governos federal, estadual e municipal, assim como nas universidades, conselhos profissionais, associações de atenção à saúde mental, e ainda, ao interesse público. O movimento da reforma surge a partir das denúncias realizada por 266 (duzentos e sessenta e seis) profissionais trabalhadores das instituições de saúde mental, evidenciando a precarização e falta de recursos e a necessidade de reorganizar o Modelo Psiquiátrico Brasileiro, que garantisse a cidadania dos usuários, transformando-se no Movimento da Luta Antimanicomial (LMA). É nesse contexto e nessas condições que a reforma psiquiátrica avança, marcada por conflitos e muitos desafios. É sobretudo, a denúncia aos métodos de violência utilizados pelos manicômios que impulsionam o movimento de luta. De acordo com Eduardo Mourão (2002), entende-se que a crítica é feita, já na década de 70, a partir da constatação de que os hospitais psiquiátricos são “antiterapêuticos”, como ele mesmo cita em seu livro. Ou seja, as práticas utilizadas nesses hospitais envolviam torturas e desumanidades, e é justamente o que impulsiona a criação dos primeiros movimentos sociais em prol da saúde mental. O Movimento começa a reivindicar condições dignas para as pessoas que possuíam doenças mentais, tendo como base as principais denúncias aos hospitais psiquiátricos da época, tanto os públicos quanto os privados; a denúncia contra a indústria da loucura, onde era acordado entre o poder público e privado um maior número de internação de pacientes e por um período mais prolongado, visando a geração de mais recursos para a indústria de mercantilização da saúde. Além disso, havia também a reivindicação por melhores condições de trabalho nos hospitais psiquiátricos para os profissionais da área de saúde mental. Assim, o movimento da Reforma Psiquiátrica prossegue em meio a tensões e conflitos. É válido salientar que a Reforma Psiquiátrica teve seu desenvolvimento em conjunto com a Reforma 25 Sanitária no Brasil 24 , também se constituiu uma iniciativa de movimentos dos trabalhadores da saúde em geral. Para os movimentos de Reforma Psiquiátrica e Sanitária havia a ideia de que os problemas de saúde poderiam ser diminuídos através da inserção do indivíduo na sociedade, de sua participação, com isso, era necessário lhe oportunizar. Essa vertente defende a ideia de que os transtornos mentais podem ser evitados se descobertos precocemente25. Sendo assim, a principal finalidade da psiquiatria preventiva passa a ser a procura por pessoas com transtornos mentais, para que o cuidado seja feito o mais rápido possível e assim, não causar “danos” maiores no bem estar do indivíduo e da sociedade. Essa perspectiva de atenção à saúde mental foi assumida não apenas pelos Estados Unidos, como também pela América Latina como um todo, ao ser reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), entre outras entidades. Em 1973, a OMS estabelece como referência para a área psiquiátrica um remodelamento da assistência em saúde mental 26 , tendo como referência para essas mudanças o hospital de Trieste, na Itália, dirigido por Franco Basaglia27. A Reforma Psiquiátrica se fundamenta não somente em uma crítica ao sistema nacional de cuidados à saúde mental, mas também uma crítica aos 24 “Assim, a Reforma Sanitária Brasileira tomava do relatório da 8ª CNS um conjunto de questões consideradas “definidoras dos novos rumos da política nacional de saúde, devendo estar asseguradas constitucionalmente” (RODRIGUEZ NETO, 1997, p. 70), a saber: conceito de saúde, referido não apenas à assistência médica mas relacionado com todos os seus determinantes e condicionantes (trabalho, salário, alimentação, habitação, transporte, meio ambiente, entre outros); direito universal e igualitário à saúde; dever do Estado na promoção, proteção e recuperação da saúde; natureza pública das ações e serviços de saúde; organização das ações do Estado em uma rede regionalizada e hierarquizada, constituindo um Sistema Único de Saúde gratuito, descentralizado para Estados e Municípios, sob controle social; subordinação do setor privado às normas do SUS, quando necessário, contratado sob as normas do direito público; diretriz de estatização progressiva; desvinculação do Sistema de Previdência Social, com financiamento autônomo, preservada a gradualidade na substituiçãodas fontes previdenciárias; estabelecimento de pisos de gastos.” (PAIM, 2008, p. 155) 25Estudo realizado pela Universidade Paulista Objetivo, cujo tema é: A criação do Centro de Atenção Psicossocial Espaço Vivo. 26 Informação retirada do blog PEBMED - A luta antimanicomial e a reforma psiquiátrica. 27 Basaglia, médico psiquiátrico, grande crítico da postura tradicional da cultura médica, que transformava o indivíduo e seu corpo em meros objetos de intervenção clínica. No campo das relações entre a sociedade e a loucura, ele assumia uma posição crítica para com a psiquiatria clássica e hospitalar, por esta se centrar no princípio do isolamento do louco (a internação como modelo de tratamento), sendo, portanto, excludente e repressora (...) Franco Basaglia esteve algumas vezes no Brasil realizando seminários e conferências. Suas ideias se constituíram em algumas das principais influências para o movimento pela Reforma Psiquiátrica no país. Veja Portal PEBMED: https://pebmed.com.br/a-luta-antimanicomial-e-a-reforma-psiquiatrica 26 conhecimentos sobre a área e as instituições clássicas que as praticam. O objetivo do movimento era principalmente a mudança nas práticas dos hospitais psiquiátricos (práticas manicomiais por meio de torturas), organizando assim, a política no setor de saúde28. Suas queixas se davam mais precisamente em relação aos maus tratos, a violência e a tortura, além da corrupção, que existiam nos hospitais psiquiátricos. Era excessiva a negligência e a falta de cuidados com os pacientes. Com isso, começam a surgir os pensamentos críticos a respeito da natureza da psiquiatria e os cuidados médicos. A reforma provocou mudanças expressivas, principalmente, no modelo de assistência à saúde mental, trazendo avanços no atendimento à pessoa com transtorno mental, além de proporcionar diversas demandas voltadas ao Serviço Social. A saúde mental deve ser vista como um estado de bem estar emocional, assim como psicológico, esse é um dos principais requisitos apontados pelo movimento. A Reforma Psiquiátrica agiu não só nas instituições e nos serviços, mas no cotidiano e nas relações pessoais do dia a dia. Nesse cenário, é expressiva a importância do surgimento do primeiro CAPS no Brasil, para a trajetória da saúde mental brasileira. O primeiro CAPS criado no Brasil foi denominado de Professor Luís da Rocha Cerqueira, na cidade de São Paulo, no ano de 1986. Foi criado na intenção de evitar futuras internações, no cuidado ao paciente, e acolhimento dos pacientes que estavam dispensados dos hospitais, já utilizando o novo pensamento sobre saúde mental, em relação à mudança nas práticas. Além disso, o CAPS surge como um processo de intervenção aos hospitais psiquiátricos que utilizavam práticas de maus-tratos com os pacientes. O movimento de Reforma Psiquiátrica promoveu uma repercussão nacional a respeito dos exercícios de violência que os hospitais realizavam, o que culminou ainda mais a revolta da população e viabilizou a criação dos CAPS. O CAPS surge como uma possibilidade de se ter uma rede de proteção adequada para esses indivíduos, pois diante de revoltas e organizações dos movimentos, o CAPS se tornou uma alternativa de cuidados aos transtornos mentais, mais eficaz e sem a crueldade que os hospitais psiquiátricos possuíam. Em 28 Estudo realizado pela Universidade Paulista Objetivo, cujo tema é: A criação do Centro de Atenção Psicossocial Espaço Vivo. 27 conjunto ao surgimento dos CAPS, foi realizada a 1ª edição da Conferência Nacional de Saúde Mental, no Rio de Janeiro, em 198729. De acordo com a Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento (2019), ainda no período de 1989, foi implantado um projeto de lei proposto pelo Deputado Paulo Delgado, “a lei propunha a regulamentação dos direitos da pessoa portadora de transtornos mentais, bem como defende a extinção progressiva dos manicômios no Brasil.” Alguns estudos indicam que o início das lutas da Reforma Psiquiátrica se deu neste momento nos campos legislativo e normativo. Em 1992 tem-se a vitória da aprovação para a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede mais completa de atenção aos pacientes com transtornos mentais, graças à luta intensiva de movimentos sociais da época, assim como o MTSM. Posteriormente, passa a haver no país muito mais atenção voltada a essa população, normas federais são efetivadas, que regulamentam a realização de serviços voltados à atenção no dia a dia e nas experiências com os primeiros CAPS, e outras instituições. Ainda segundo a Revista, os autores enfatizam a mudança que os movimentos e a reforma trouxeram a saúde mental em si: O novo conceito de saúde mental passou a priorizar o sujeito e não mais a doença em si. Assim, a esse sujeito passou a ser oferecido um tratamento mais humano e de qualidade. Criou-se, para tanto, aparatos, dispositivos e espaços apropriados direcionados ao seu tratamento, visando oferecer uma proposta terapêutica apropriada, com profissionais qualificados para essa demanda, além da humanização no cuidado com esses pacientes. O CAPS é um exemplo dessas instituições, pois trata a saúde mental com o foco no usuário. Precisa-se, então aderir a ações intersetoriais, bem como às políticas sociais diversas de forma a possibilitar uma intervenção interdisciplinar que visa a integralidade ao atender o sujeito portador de transtornos mentais. (SILVA, 2019, p.6) Nota-se que o movimento de Reforma Psiquiátrica traz consigo diversas possibilidades, como oferecer uma proposta terapêutica apropriada, desenvolvida através de profissionais qualificados, tendo o CAPS como uma dessas instituições, além de demarcar a importância da inserção do profissional de Serviço Social nos 29 Outros eventos considerados pela literatura como marcos para a Reforma Psiquiátrica Brasileiras foram: V Congresso de Psiquiatria em Camboriú, que ocorreu em Santa Catarina em 1978; I Congresso de Psicanálise de Grupos e Instituições, em 1978; I Congresso Brasileiro de Trabalhadores em Saúde Mental em São Paulo no ano de 1979; III Congresso Mineiro de Psiquiatria em 1979, que contou com a participação de Franco Basaglia (OLIVEIRA, W.F.; PADILHA, C.D.S.; OLIVEIRA, C.M, 2011) 28 serviços de saúde mental, principalmente no campo interdisciplinar, induzindo uma discussão necessária sobre a situação. A respeito dessa inserção profissional, veremos com mais clareza no próximo ponto. 2.2 A inserção do Serviço Social nos CAP’S - um espaço de intervenção profissional O campo da Saúde Mental é um lugar muito rico e propício para a atuação do Assistente Social, enquanto parte de uma equipe interprofissional, cuja atuação se volta para uma ação interdisciplinar. A interdisciplinaridade que implica em uma atuação cooperativa de diferentes especializações de saberes, que enriquece o trabalho e condensa uma unidade à diversidade de saberes, portanto resguardando as diferenças (IAMAMOTO, 2002). Nesse contexto, o assistente social, mesmo realizando atividades partilhadas com outros profissionais, dispõe de ângulos particulares de observação na interpretação dos mesmos processos sociais e uma competência também distinta para o encaminhamento das ações, que o distingue do médico, do sociólogo, do psicólogo, do pedagogo etc (IAMAMOTO, 2002. Pg. 64) De acordo com Eduardo Mourão (2002), em sua afirmação sobre as novas práticas de saúde mental, ele traz diversas áreas que atualmente se inserem no campo da saúde mental, por possuírem formação qualificada para isso. Dentre as áreas citadas no decorrer do livro, estão a psicologia, a sociologia e, claro, o campo da saúde pública. Logo, entende-se que é nesse campo em que o profissional do Serviço Social está inserido, pois atua no planejamento, na execução e avaliação de políticas públicas30 que contemplem a saúde mental.De acordo com uma Cartilha do CFESS – Conselho Federal de Serviço Social, que trata a respeito dos parâmetros para a atuação do Assistente Social na saúde em geral, destaca-se um parágrafo sobre as atribuições do Assistente Social no campo da saúde: 30 (IAMAMOTO, 2002, p.60) “Historicamente, os assistentes sociais dedicaram-se à implementação de políticas públicas, localizados na linha de frente das relações entre população e instituição como, nos termos de Netto (1992), 'executores terminais de políticas sociais'. Embora este seja ainda o perfil predominante, não é mais exclusivo, sendo abertas outras possibilidades” 29 O projeto da reforma sanitária vem apresentando como demandas que o assistente social trabalhe as seguintes questões: democratização do acesso as unidades e aos serviços de saúde; estratégias de aproximação das unidades de saúde com a realidade; trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens grupais; acesso democrático às informações e estímulo à participação popular. (CFESS, 2010, p.26) Com isso, é notório um traço em comum entre a reforma sanitária da saúde e o próprio projeto ético-político da profissão do serviço social, onde se destaca a necessidade do trabalho em equipe, da interdisciplinaridade entre as profissões. O Assistente Social precisa cooperar e articular, não somente com profissionais de sua área, mas também integrando a equipe interprofissional, partilhando das atividades com outros profissionais - o psicólogo, o médico, o nutricionista, o farmacêutico, entre outros - na coordenação e execução de ações nos programas de saúde mental, dentre outros campos de intervenção profissional (IAMAMOTO, 2002). Para Iamamoto (2002, p. 64), o assistente social, ao partilhar dessas atividades de forma cooperativa com outros profissionais no trabalho em equipe, dispõe de “ângulos particulares de observação” e “interpretação” das diferentes demandas que chegam como requisições institucionais em relação a saúde mental, bem como “uma competência também distinta” no direcionamento das ações, que o diferencia dos demais profissionais. Isto porque na equipe, cada um traz uma especialidade, fruto de sua formação profissional e das situações vividas “na sua história social e profissional”, fundamentada numa “capacitação teórico- metodológica”, que o permite identificar conexões inerentes as “expressões da questão social” trabalhadas, ao mesmo tempo usar “habilidades e sensibilidades” no desempenho das atividades propostas. O trabalho coletivo, portanto, não dissolve as “competências e atribuições dos profissionais”, ao contrário, “exige maior clareza no trato das mesmas e o cultivo da identidade profissional, como condição de potenciar o trabalho conjunto”. Ademais, o Assistente Social direciona seu trabalho não somente para as especificidades e singularidade do caso em particular, mas estabelece “nexos e relações” no contexto da realidade social, em que se encontra o portador de doença mental. Daí a importância da capacitação teórico-metodológica do assistente social que o leva a leitura e interpretação das condições de saúde do usuário, seus 30 problemas e situações que contribuem para o processo de adoecimento do portador da doença mental. Não se pode negar que existem situações que acontecem no cotidiano da vida social que contribuem para a agravar a realidade dos pacientes da saúde mental. Dentre essas situações, encontra-se o preconceito aos pacientes com transtornos mentais que se manifesta pela “exclusão do sistema produtivo e da convivência social, em razão do estigma social” inerente a identidade desses pacientes; pessoas consideradas, “historicamente, pela sociedade, como uma pessoa perigosa e incapaz, portanto, que deve ser excluída do convívio social” (PEREIRA, 2016, p.04). A partir dessa reflexão, é possível distinguir algumas das especificidades do profissional assistente social na área de saúde mental, expressas em seus objetivos. De acordo com a Revista Científica do Multidisciplinar, são esses alguns dos objetivos do Serviço Social: Conhecer e analisar a realidade social do paciente, com o objetivo de identificar, de maneira crítica, as manifestações da questão social presente na vida do indivíduo; desenvolver estratégias de intervenção juntamente com os familiares de pacientes, a fim de fortalecer os vínculos familiares; identificar a consolidar mecanismos de suporte e proteção, buscando a reinserção social dos usuários, resgate da cidadania e a vivência de hábitos saudáveis; buscar métodos que permitam identificar os direitos dos pacientes e que possibilitem a defesa e a universalização deles. (SILVA, 2019, p.11) Desse modo, considerando a atuação do Assistente Social no campo da saúde mental, o profissional de Serviço Social possui autonomia relativa na implementação das políticas sociais, uma vez que embora no Brasil o Serviço Social seja regulamentada como profissão liberal, não tem uma tradição de prática peculiar às profissões na acepção do termo. O Assistente Social não tem sido um profissional autônomo, exerça independentemente suas atividades, dispondo das condições materiais e técnicas para o exercício de seu trabalho e do completo controle sobre o mesmo, seja no que se refere à maneira de exercê-lo, ao estabelecimento da jornada de trabalho, ao nível de remuneração e, ainda, ao estabelecimento do “público ou clientela a ser atingida”. (IAMAMOTO, 2006, pg. 80) 31 Isto significa que, o assistente social, enquanto trabalhador assalariado, mesmo dispondo, segundo Iamamoto (2000), de uma "autonomia ética e técnica” no seu exercício profissional, legitimada pelo “código de ética e pela regulamentação legal da profissão”, tem sua “força de trabalho” submetida a uma relação de poder hierarquicamente constituída no âmbito da instituição, portanto, subordinada “às normas, decisões e predeterminações do seu empregador e gerenciador”, seja na esfera do estado, nas empresas privadas, e nas organizações da sociedade civil. De acordo com a legislação que regulamenta a profissão, a Lei nº 8.662, compete ao Assistente Social “elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares” (art. 4º, inciso I). Ou seja, é também do assistente social a responsabilidade pela implementação de políticas públicas, enquanto participando de uma equipe interprofissional. Entretanto, um dos grandes desafios enfrentados pelo assistente social é a materialização dessas políticas que vêm se precarizando, em razão da ofensiva neoliberal31 expressa no desmonte dos direitos sociais e trabalhistas conquistados e o corte nos orçamentos das políticas sociais, demarcando a regressão, a flexibilização e a desregulamentação desses direitos (SANTOS, 2017), que vem atingindo a área da saúde mental, bem como demais áreas como a educação, ciência e tecnologia, a previdência, a segurança pública, a habitação , a justiça, o trabalho, entre outras áreas demarcando o acirramento da questão social no brasil, pós-golpe32. O Estado tem a capacidade de promover investimentos públicos, e isto depende dos recursos orçamentários. Porém, nos últimos anos o país caminha na contramão desta perspectiva, considerando a aprovação da Emenda constitucional 31 A despeito do neoliberalismo segundo a concepção de Harvey (2008): “é uma teoria das práticas político-econômicas que propõe que o bem-estar humano pode ser melhor promovido liberando-se as liberdades e capacidades empreendedoras individuais no âmbito de uma estrutura institucional caracterizada por sólidos direitos a propriedade privada, livres mercados e livre comércio” (HARVEY, 2008, p.12). 32 O golpe de 2016 apresentou a particularidade da divulgação do discurso de que o governo de Dilma havia cometido crime de responsabilidadefiscal, pela prática de “irregularidades contábeis, “pedaladas fiscais”, para cobrir déficits nas contas públicas – uma prática corriqueira em todos os governos anteriores” (LÖWY, 2016, p. 57-58), isto justificaria a legalidade do impeachment nas esferas institucional, constitucional e democrática. Apesar disso, diferentes laudos técnicos apontaram que as manobras contábeis realizadas ao longo do governo desta presidenta eram legais. Esta assertiva esclarece a percepção de que a retirada de Dilma do governo brasileiro em 31 de agosto de 2016 se constituiu como um golpe de Estado (SOARES, 2018, p. 82). 32 95, em 2016, pelo congresso durante o governo de Michel Temer33, instituindo o congelamento de recursos por 20 anos, portanto sacrificando despesas e investimentos sociais em diversos programas essenciais, principalmente nas políticas de saúde pública no Brasil, em benefício do setor financeiro34. Emenda consolidada na agenda do atual presidente da república Messias Bolsonaro, na qual fora imposto um sinistro “teto de gastos públicos”, penalizando as áreas sociais, sobretudo a população mais pobre e subalternizada assistida pela saúde mental. No entanto, o assistente social mesmo enfrentando o desmonte das políticas de saúde mental, em razão dos cortes dos orçamentos a elas destinadas, sob os ditames da perspectiva ultraliberal, continua na árdua luta para possibilitar o acesso às redes de apoio para que os usuários sintam-se protegidos e ocorra a efetivação dos direitos aos portadores de transtornos mentais. Com isso, suas ações possuem um olhar amplo para o contexto de vivência do usuário, a fim de propor uma intervenção por meio de uma visão crítica acerca do processo de trabalho em saúde mental, da realidade social, da relação entre o desenvolvimento do capitalismo e a existência crescente de transtornos mentais [...]. Exige-se, pois, a apreensão do sujeito em sua integralidade, considerando sua relação com o meio em que está inserido (COUTINHO e COUTINHO, 2017, p.6) Posto isso, a intervenção do Assistente Social corresponde (bem como outras especificidades) a interdisciplinaridade de equipe como realidade cotidiana, nesse âmbito da saúde mental, bem como a adoção de práticas mais humanizadas nas instituições. A ação do assistente social também está, especificamente, em atender a princípios de integralidade35, intersetorialidade36, trabalhando sempre em 33 Coube a Michel Temer a incumbência de “promover a reestruturação reacionária e conservadora do capitalismo brasileiro nas novas condições históricas de dominância do império neoliberal face ao aprofundamento de suas contradições estruturais” (ALVES, 2016, s/p). 34 As ações e omissões governamentais sobre políticas públicas essenciais integram um plano maior de sucateamento e desmonte, que tentamos abordar ao longo das últimas semanas. Conforme as informações que trouxemos na série de reportagens sobre a destruição do Estado Brasileiro, o conjunto de reformas, privatizações e abandono de políticas públicas constitui um caminho que leva o país a retrocessos brutais em diversas áreas e ao retorno à condição de dependência e subserviência, com estagnação da economia e aumento das disparidades. http://www.sindjus.com.br/brasil-por-um-fio-os-cortes-de-recursos-e-os-impactos-nas-politicas- publicas/14412/ 35 “Integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema” (LEI 8.080, 1990) 33 conjunto com as expressões sociais, especialmente nesse caso, expressões ligadas à exclusão da pessoa com transtorno mental. A atuação do profissional de Serviço Social nesse campo é de fundamental importância pois é uma atuação com o olhar social distinto das demais profissões. O serviço Social tem como objeto principal em sua profissão a questão social, a classe trabalhadora, o usuário dos serviços e a sociedade. Logo, seus direcionamentos possuem um olhar crítico, provocativo, sempre com a intenção final de propor uma intervenção adequada para o usuário. Desde a academia o assistente social entende como essência de sua futura profissão a questão social. E falar em questão social não implica dizer apenas pobreza, mas a desigualdade social que assola a sociedade nessa conjuntura. Em outras palavras, o assistente social atua em busca de uma sociedade justa e igualitária, considerando a questão social dos indivíduos, para assim, elaborar a intervenção. Na saúde mental, isso não é muito diferente. O profissional do Serviço Social trabalha com a questão social que o paciente com transtorno mental enfrenta no seu dia a dia. No CAPS, o profissional de Serviço Social compõe a equipe interdisciplinar, a fim de identificar demandas e realizar os devidos encaminhamentos, atenta a conhecer às condições sócio-históricas, as quais estão submetidos os usuários e construir um perfil tendo em conta a singularidade de cada usuário. ]Na perspectiva de construir o perfil socioeconômico dos usuários, uma das suas competências - segundo a lei que regulamenta a profissão e reiterado nas orientações dos Parâmetros da Atuação do Assistente Social na Política Saúde - o assistente social identifica informações importantes como renda, local de habitação, trabalho, escolaridade, utilização de serviços públicos (previdência, assistência, direitos trabalhistas), contexto familiar em que o usuário vive. São informações importantes para análise das condições que determinam e condicionam a saúde da população usuária. Essas informações subsidiam a formulação de estratégias de ação, mediante análise da situação socioeconômica do usuário, ao mesmo tempo entende e identifica os direitos a que essa população usuária tem acesso, direciona 36 A contribuição do profissional de Serviço Social na gestão e no planejamento busca a intersetorialidade, na perspectiva de conceber a saúde no âmbito da Seguridade Social. (CFESS, 2010, p. 61) 34 a realização dos devidos encaminhamentos e subsidia a prática dos demais profissionais de saúde envolvidos na equipe. O estudo socioeconômico, não é apenas uma orientação, mas configura uma das dimensões fundamentais que compõem o exercício profissional, a dimensão investigativa37. Com a investigação, o profissional do Serviço Social é capaz de entender com mais clareza a questão social e suas expressões, através de uma conversa, de um olhar, de uma observação de situações que não foram explícitas, com a finalidade de subsidiar o direcionamento das estratégias para a sua intervenção, e encaminhar soluções para cada situação na sua singularidade. “Mais do que uma postura, o caráter investigativo é constitutivo de grande parte das competências/atribuições profissionais” (GUERRA, 2009, p. 3). Ao utilizar esse processo investigativo no campo de estudo em questão, no CAPs, é possível entender a real importância dessa dimensão no exercício profissional. Os pacientes com transtornos mentais, em sua maioria, não conseguem expressar de fato o que estão sentindo, nem relatar com precisão os acontecimentos de sua vida, daí então que se torna imprescindível a investigação, junto aos pacientes e seus familiares, como necessidade para a construção do processo de intervenção. Além disso, o assistente social deve ter em sua concepção de trabalho, as diretrizes do projeto ético-político da profissão, bem como o conhecimento dos parâmetros de atuação na política de saúde. Neste sentido, portanto, sua ação profissional deve partir “dos fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos construídos pela profissão em determinado momento histórico e os procedimentos técnico-operativos” articulados a esses fundamentos, bem como considerar conceitos “fundamentais para a ação dos assistentes sociais na saúde, comoa concepção de saúde, a integralidade, a intersetorialidade, a participação social38 e a interdisciplinaridade” (CFESS, 2010, p. 39), discutidos ao longo desse trabalho. 37 Segundo Nicolau (2019, p. 41), “É de suma importância neste contexto e nesta direção conceber o ofício da pesquisa, ou a dimensão investigativa, como fundamental no e para o trabalho profissional, o que implica a formação de profissionais capazes de empreender uma leitura-análise atualizada e qualificada da realidade em movimento e da própria atuação profissional. Essas são as reais possibilidades que condicionam e viabilizam o processo de conhecimento dos graduandos no processo formativo” 38 O projeto Democracia de Massas (de Netto, 1990) prevê a ampla participação social, conjugando as instituições parlamentares e os sistemas partidários com uma rede de organizações de base: sindicatos, comissões de empresas, organizações de profissionais e de bairros, movimentos sociais urbanos e rurais. (CFESS, 2010, p. 19) 35 Com isso, a importância do profissional de serviço social nos CAPS se torna ainda mais relevante na equipe interprofissional, uma vez que pode contribuir na continuidade das ações e condições reivindicadas pela reforma psiquiátrica na perspectiva de acesso aos direitos, bens e serviços, como os relacionados à previdência social (sobretudo aos direitos trabalhistas e demais benefícios da previdência); a assistência social (como o direito ao Bolsa Família, o FGTS Emergencial, a tarifa Social de Energia Elétrica, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), a Carteira do Idoso, o Benefício Emergencial), além da emissão de documentos , entre outros. Para responder a essas demandas que chegam como requisições institucionais, o profissional necessariamente precisa estar atento ao tempo presente, muito bem articulado aos fundamentos Teórico-metodológicos, Ético-políticos e Técnico-operativos. O assistente social tem como princípio fundamental da profissão, de acordo com o código de ética a: “Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo” (CEP, 2012, pg. 23). Ou seja, após uma luta árdua que foi a Reforma Psiquiátrica, o assistente social também atua na defesa para que esses direitos conquistados, não sejam novamente tomados dos pacientes com transtornos mentais, para que as práticas dos hospitais psiquiátricos não sejam novamente exercidas na base da violência, da exclusão, do estigma e na negação dos direitos conquistados. A propósito, os Parâmetros para Atuação do assistente social na saúde traz39: Já nas equipes de saúde mental, o assistente social deve contribuir para que a Reforma Psiquiátrica alcance seu projeto ético-político. Nessa direção, os profissionais de Serviço Social vão enfatizar as determinações sociais e culturais, preservando sua identidade profissional. Não se trata de negar que as ações do assistente social no trato com os usuários e familiares produzam impactos subjetivos, o que se põe em questão é o fato do assistente social tomar por objeto a subjetividade, o que não significa abster-se do campo da saúde mental, pois cabe ao assistente social diversas ações desafiantes frente às requisições da Reforma Psiquiátrica tanto no trabalho com as famílias, na geração de renda e trabalho, no controle social, na garantia de acesso aos benefícios (ROBAINA, 2009 apud CFESS, 2010, pg. 41). 39 CFESS. Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde. Brasília, 2010. 36 A intervenção profissional do assistente social nos CAPS ocorre através de diversas ações, desde a triagem, a escuta qualificada, os estudos de casos, as conversas em grupo, entre outras. Analisando trabalhos anteriores que dissertam sobre a atuação do assistente social nos CAPS, foi encontrado o de Anna Flávia Montenegro Lisbôa, que é direcionado para o CAPS III Leste, em Natal/RN. Tendo este trabalho como referência bibliográfica no presente estudo, trazemos uma das suas reflexões que ratificam as ações dos assistentes sociais nos CAPS: Para a realização do atendimento aos pacientes acometidos por transtornos mentais, bem como seus parentes, é realizado por meio de triagem e escuta qualificada do atendimento em serviço social. Posteriormente, após a identificação das necessidades, é realizado o encaminhamento para realização da consulta médica a qual poderá resultar em internação, frequência diária, ou consultas esporádicas na instituição. (LISBÔA, 2016, pg. 55) Observem que o exercício profissional do assistente social no campo da saúde mental, precede o registro dos atendimentos sociais no prontuário, mediante triagem e escuta qualificada, atento às singularidades e particularidades de cada usuário a partir das queixas expressas pela família, bem como pelas atitudes do paciente. O resultado dessas ações que resultam na identificação de necessidades e demandas passam a subsidiar a equipe de saúde quanto às informações dos usuários, que, resguardadas as informações sigilosas já registradas no prontuário social, viabilizam os encaminhamentos e estratégias para o tratamento terapêutico que ocorrem via consultas médica, internações e/ou encaminhamento para os outros órgãos de acordo com as demandas e necessidades dos pacientes. Tais procedimentos contribuem não somente o acesso à saúde pública, mas também, acesso e conhecimento sobre o que é direito do paciente com transtorno mental. O exercício profissional, seja na área da saúde mental ou em outras áreas, o assistente social conta com agentes que também possuem suas responsabilidades no tratamento. São eles: o Estado, a família e a sociedade40. Posto isso, não são só instituições responsáveis para o tratamento dos transtornos mentais, mas a família também se constitui uma instituição de extrema importância nesse processo de 40 Art. 227 da Constituição Federal do Brasil de 1988: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 37 reabilitação. A forma como a família lida com o paciente, ou até mesmo a falta desse conjunto de pessoas ao longo da vida do indivíduo influencia na sua doença e no seu processo de cura. O indivíduo portador de transtornos mentais possui necessidades, fragilidades e sofrimentos psíquicos, portanto precisa do apoio da equipe, e sobretudo da família no processo de tratamento de reabilitação. De acordo com os parâmetros para a atuação de assistentes sociais na política de saúde (2010), esse vínculo com a família é imprescindível para o tratamento do doente mental e configura uma das principais ações do assistente social em suas atividades: “fortalecer vínculos familiares, na perspectiva de incentivar o usuário e sua família a se tornarem sujeitos do processo de promoção, proteção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde”. Apesar disso, é necessário assumir que a entidade familiar também possui as suas inconstâncias, e entender que nem todo portador de transtorno mental (PTM) possui o apoio familiar que seria tão importante para o seu tratamento41. Ademais, contemporaneamente, a população vem enfrentando desde 2020 a pandemia em decorrência da COVID-19, quando tivemos um número significativo de mortes (mais de 600 mil mortes no Brasil42), com tantos milhões de casos em todo Brasil, contando com uma estrutura precária para o seu enfrentamento43. O momento pandêmico, até o início do processo de vacinação em 2021, trouxe o aumento do processo de adoecimento psíquico na população, para além do número que já apresentavam queixas anteriormente numa conjunturaneoliberal com implicações de desemprego, subemprego, insegurança alimentar, habitação precária, entre outros. A pandemia aumentou consideravelmente os transtornos mentais em razão do isolamento social, bem como do medo de adoecer pela obrigatoriedade de se 41 São diversos os desafios que se apresentam a família do PTM, pois ela também se encontra instável em diferentes aspectos, principalmente pela dificuldade no convívio junto a este sujeito que alterna momentos de lucidez com fortes crises e agressividade, situação agravada quando este resiste ao reconhecimento e tratamento do transtorno, o que de certa forma está relacionado ao preconceito e discriminação já tão cristalizados, colocando-se como um dos obstáculos na busca por apoio e orientação. Texto retirado do artigo “O trabalho do Assistente Social junto aos portadores de transtorno mental e sua respectiva família”. BUSSULA, 2009. 42 https://especiais.g1.globo.com/bemestar/coronavirus/estados-brasil-mortes-casos-media-movel/ em 29/06/2022 43 O sucateamento dos serviços, a falta de planejamento, corte dos gastos, corrupção, mercantilização da saúde são fatores que estão contribuindo para mortalidade da população, incluindo as pessoas portadoras de deficiência. 38 encontrar na linha de frente no exercício das atividades essenciais, dentre outras questões que permearam a vida da população nos momentos agudos de transmissibilidade do coronavírus. Esta se constituiu uma demanda crescente para o Serviço Social, no contexto da pandemia. 39 3. A IMPORTÂNCIA DO CAP’s NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO SOCIAL DOS PACIENTES COM TRANSTORNO MENTAL E OS LIMITES E POSSIBILIDADES NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NO CONTEXTO PANDÊMICO O presente capítulo aborda acerca da importância dos CAPS na reabilitação dos pacientes com transtornos mentais, as medidas tomadas no cotidiano do trabalho profissional dia a dia nos CAPS. Aborda os limites encontrados no exercício profissional dos assistentes sociais no momento de pandemia vivenciado pelo país nos anos 2020 - 2022, além das possibilidades possíveis no exercício profissional no processo de reabilitação dos pacientes com transtorno mental no momento pandêmico. Como suporte teórico foi utilizado o livro Políticas de Saúde Mental, baseado no curso de políticas públicas de saúde mental, do CAPS Luiz R. Cerqueira, que tem como organizador Mário Dinis Mateus (2013), além dos autores (as) Rosa e Lustosa (2012), Reis (...) entre outros. 3.1 A saúde mental no momento de pandemia e a importância dos CAPS na reabilitação social dos pacientes Os CAPS44, integrando a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)45, foram instituídos como serviços substitutivos ao modelo asilar (internações em hospitais 44 Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e as Unidades de Acolhimento (UA), são pontos de atenção que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) instituída pela Portaria GM/MS n. 3.088/2011 (Brasil, 2011). “Dentre as principais diretrizes da RAPS, é importante destacar: · “respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas; promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; · combate a estigmas e preconceitos; · garantia do acesso e da liberdade das pessoas; promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; · combate a estigmas e preconceitos; · garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; · atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas; · desenvolvimento de atividades no território, que favoreça a inclusão social com vistas à promoção de autonomia e ao exercício da cidadania; · desenvolvimento de estratégias de Redução de Danos; · ênfase em serviços de base territorial e comunitária, com participação e controle social dos usuários e de seus familiares; · desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, tendo como eixo central a construção do projeto terapêutico singular” (Brasil, PORTARIA Nº 3.088, 2011). 45 A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que foi instituída pela Portaria nº 3.088 de 23 de dezembro de 2011, é a responsável por designar os pontos de atenção para o atendimento à pessoas 40 psiquiátricos), ao mesmo tempo possibilitando a ampliação e articulação de espaços de atenção à tratamento terapêutico da saúde mental, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em suas diferentes modalidades I CAPS I46; - CAPS II47 , CAPS III48, CAPS AD49, CAPS AD III50, CAPS i 51 (BRASIL. PORTARIA Nº 3.088, 2011), constituem-se espaços abertos e comunitários de atenção estratégica às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e com sofrimento ou transtorno mental decorrentes do uso de substâncias psicoativas como crack, álcool e outras drogas, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial, em sua área territorial. Os atendimentos ocorrem prioritariamente através de uma equipe multiprofissional, sob a ótica interdisciplinar e realiza o atendimento (Brasil, 2011). O CAPS foi um grande passo para reafirmar a vitória obtida no movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil, viabilizando que as práticas violentas utilizadas pelos hospitais psiquiátricos no passado não sejam mais executadas, além de auxiliar na sobrecarga dos hospitais psiquiátricos. Segundo Mateus com transtornos mentais, além de incluir os efeitos causados pelo uso álcool e outras drogas. Dessa forma, é instituído como cuidados e estratégias utilizadas nos CAPS: acolhimento inicial; acolhimento diurno e/ou noturno, atendimento individual, atenção às situações de crise, atendimento em grupo, atendimento em família, atendimento domiciliar, práticas corporais, práticas expressivas e comunicativas, ações de reabilitação psicossocial, entre outras práticas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013). 46 Atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes e também com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas de todas as faixas etárias; indicado para Municípios com população acima de vinte mil habitantes. 47 Atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, podendo também atender pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, conforme a organização da rede de saúde local, indicado para Municípios com população acima de setenta mil habitantes; 48 Atende pessoas com transtornos mentais graves e persistentes. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento vinte e quatro horas, incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda clínica e acolhimento noturno a outros serviços de saúde mental, inclusive CAPS Ad, indicado para Municípios ou regiões com população acima de duzentos mil habitantes; 49 Atende adultos ou crianças e adolescentes, considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço de saúde mental aberto e de caráter comunitário, indicado para Municípios ou regiões com população acima de setenta mil habitantes; 50 Atende adultos ou crianças e adolescentes, considerando as normativas do Estatuto da Criança e do Adolescente, com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço de saúde mental aberto e de caráter comunitário, indicado para Municípios ou regiões com população acima de setenta mil habitantes; 51 Atende crianças e adolescentes com transtornos mentais graves e persistentes e os que fazem uso de crack, álcool e outras drogas. Serviço aberto e de caráter comunitário indicado para municípios ou regiões com população acima de cento e cinquenta mil habitantes. 41Podemos dizer que o sistema de saúde mental no Brasil apoia-se sobre uma política híbrida, que avança sobre uma constante tensão entre concepções diferentes da reforma da atenção psiquiátrica. O sistema baseia-se hoje numa ênfase às ações no âmbito do CAPS, havendo uma mudança de um sistema hospitalocêntrico para um modelo de enfoque comunitário. (MATEUS, 2013, p. 36) Os CAPS, no âmbito da RAPS, realizam articulações de forma estratégica, com diversos campos da atenção básica à saúde, atuando junto às Equipes de Saúde da Família e Agentes Comunitários de Saúde, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) 52 e as unidades de urgência - UPA (Unidade de Pronto Atendimento)53 . Estabelecem contatos com hospitais especializados se necessário, com centros terapêuticos de tratamento de dependência química, entre outros. Nesse processo os CAPS, através de suas equipes, articulam e ativam os recursos existentes em outras redes, assim como nos territórios em função dos atendimentos, tendo como base o princípio da intersetorialidade (BRASIL, MS, 2013). É notória a importância dos CAPS para uma comunidade no tratamento da saúde mental, considerando, por exemplo: a cidade de Natal/RN “é a segunda capital do Nordeste com maior número de adultos com depressão, aponta Ministério da Saúde. A capital potiguar contabiliza 11,8% de registros nessa parcela da população, atrás somente de Recife, com 12,5%”54. Os demais transtornos mentais, 52 As Unidades Básicas de Saúde (UBS’s) são a porta de entrada preferencial do Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo desses postos é atender até 80% dos problemas de saúde da população, sem que haja a necessidade de encaminhamento para outros serviços, como emergências e hospitais. Os profissionais do Mais Médicos atuam nas UBSs e compõem as equipes de saúde da família com enfermeiros, dentistas e agentes de saúde. Eles são, em sua maioria, especialistas em medicina de família e comunidade. Aqueles que ainda não o são fazem, assim como os demais, um curso de especialização em saúde da família. http://maismedicos.gov.br/o-que-tem-na-ubs 53 As UPAs funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, e podem resolver grande parte das urgências e emergências, como pressão e febre alta, fraturas, cortes, infarto e derrame. As UPAs inovam ao oferecer estrutura simplificada – com Raio X, eletrocardiografia, pediatria, laboratório de exames e leitos de observação. Nas localidades que contam com as UPAs, 97% dos casos são solucionados na própria unidade. Quando o paciente chega às unidades, os médicos prestam socorro, controlam o problema e detalham o diagnóstico. Eles analisam se é necessário encaminhar o paciente a um hospital ou mantê-lo em observação por 24h. http://www.saude.ba.gov.br/atencao-a- saude/comofuncionaosus/rede-de-urgencia-e-emergencia/ 54 Um levantamento inédito publicado pelo Ministério da Saúde neste mês coloca Natal como a segunda capital do Nordeste com o maior número de pessoas com 18 anos ou mais que relataram um diagnóstico médico por depressão. A capital potiguar contabiliza 11,8% de registros nessa parcela da população, atrás somente de Recife, com 12,5%, conforme dados tabulados pelo órgão ministerial através da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) - ano base 2021. Essa é a primeira vez que a pesquisa traz números relacionados à depressão. Entre os sintomas da condição, estão: tristeza persistente, desânimo, baixa autoestima, 42 somando-se a depressão, segundo dados da SMS, foram registrados nos 05 (cinco) CAPS da cidade do Natal 32.070 atendimentos em 2021, através dos serviços de psiquiatria, clínica geral, psicologia, matriciamento, entre outros. As comunidades ou territórios que não dispõem dos serviços do Centro de Atenção Psicossocial têm acarretado dificuldades tanto para a população que apresenta esses transtornos, como para a unidades básicas e de urgências e emergências, as quais se constituem portas de entrada no processo de atendimento dessa população, uma vez que inviabiliza as devidas articulações e encaminhamentos55. Com a pandemia da COVID-19, declarada em março de 2020, as medidas de distanciamento social e demais recomendações do Ministério da Saúde para evitar transmissibilidade, trouxeram muitas situações adversas que implicaram no aumento dos índices de transtornos de ansiedade, de pânico, de depressão, entre outros transtornos e sofrimentos psíquicos causados pelo medo do adoecimento, do isolamento social, da convivência familiar perturbada, do desemprego e perdas salariais, das perdas de familiares por morte, da imposição do trabalho remoto, suspensão de aulas presenciais, mudança de padrão econômico, sensação de desamparo e abandono, falta de tratamento eficaz e controle doença. Os casos de transtornos mentais na pandemia entre 2020 e 2021 cresceram significativamente, muitos deles não contabilizados, uma vez que os registros revelam 32.070 atendimentos, através dos diversos serviços ofertados nas unidades dos CAPS. Com uma população estimada em quase 900 mil habitantes (2021), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com certeza pessoas com transtornos mentais ultrapassam essa estatística, uma vez que a população contabilizada nesses espaços, em sua maioria, encontra-se em situação de vulnerabilidade social assistida pelo SUS. Foi constatado uma sobrecarga em razão das demandas nos atendimentos nos CAPS, e na própria RAPS. Em face dessa realidade, houve a necessidade dos sentimento de inutilidade, alterações no apetite, ganho ou perda de peso súbita, insônia, excesso de sono e fadiga acentuada. https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2022/04/27/ 55 Em Natal, a porta de entrada para esse acolhimento é na atenção primária, através das Unidades Básicas (UBS). De acordo com o coordenador de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Luís Fernando Pires, o município também dispõe de policlínicas e cinco Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/atendimentos-a-pessoas-com- transtornos-mentais. Acessado em 30/06/2022 43 Centros de Atenção Psicossocial se empenharem no incremento de novas estratégias para atender as demandas já existentes, e as novas provenientes do momento de pandemia. Um estudo sobre o CAPS UERJ (2020), situado na cidade do Rio de Janeiro, assegura que as atividades ocorreram nesse período para além do espaço físico, foi necessário se reinventar e realizar atividades também remotas, como ligações Contatos telefônicos foram realizados para antecipar a ida de usuários-familiares ao CAPS, assim como articulações com as Clínicas da Família para dispensação de medicações. Esta conduta garantiu o acesso a medicações e receitas por entendê-las como uma forma de assegurar que os usuários e familiares se sentissem mais protegidos frente à sensação de incerteza produzida pela crise e pela ideia de que o serviço fecharia. (BARBOSA et al, 2020, p. 15) Além disso, outras medidas foram tomadas, como instruções sobre a higienização das mãos, a fim de diminuir o contágio entre eles, o que é de extrema importância pois além de contribuir para a menor proliferação do vírus, também trabalha a saúde mental do paciente, quando explicado que fazendo os procedimentos corretos, as chances de contaminação são consideravelmente menores. Outra medida adotada por esse CAPS UERJ, foi a liberação de requisições de medicamentos com um maior intervalo de tempo, com o intuito de fazer com o que o paciente se desloque de sua casa até o CAPS com menos frequência, e assim tendo uma menor exposição ao vírus. De acordo com o artigo já mencionado, essas medidas trouxeram benefícios não somente para os pacientes, mas para o funcionamento do centro. As medidas possibilitaram um trabalho mais otimizado, tendo em vista umaredução na quantidade de pacientes, os profissionais conseguiam atender com mais precisão e dar uma atenção maior aos que estavam em atendimento presencial. Isso evidencia um dos problemas recorrentes que o sistema de saúde local sofre: a alta demanda que causa a superlotação na maioria das instituições de saúde. Com o relato é possível perceber que se houvesse mais profissionais qualificados, mais insumos para tratar os doentes, mais equipamentos e mais recursos financeiros, a saúde seria de qualidade para todos. E os Centros de Atenção Psicossociais também não enfrentariam dificuldades no atendimento. 44 Conforme matéria publicada no site do Ministério da Saúde 56 sobre o aumento de investimentos na saúde mental no momento de pandemia, o autor afirma que nos primeiro 06 (seis) meses do ano de 2020, foram realizados 165.562.84 atendimentos à saúde mental, tanto nos CAPS quanto em rede de Atenção Primária à Saúde. Neste ano, já foram investidos R$ 1,1 milhão para implantação de novos serviços para atendimento à saúde mental, o que proporcionou a abertura de 24 novos CAPS, 11 Serviços de Residência Terapêutica (SRT), 01 Unidade de Acolhimento Infanto- juvenil e 40 novos leitos de saúde mental em hospital geral. Também foram habilitados 21 Equipes Multiprofissionais de Atenção Especializada de Saúde Mental para atendimento ambulatorial. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020) Neste momento de pandemia, as instituições de cuidado à saúde mental precisaram se articular e expandir os horizontes para que pudessem atender a alta demanda. Segundo o Ministério da Saúde, o maior dos transtornos mentais identificados neste período de pandemia foi a ansiedade. É possível entender que este é um transtorno já existente na sociedade, mas o contexto pandêmico de âmbito mundial, não só afetou pessoas que até então não possuíam a ansiedade, como agravou casos de pessoas que já lidavam com esse transtorno antes. O que torna o serviço realizado pelos CAPS ainda mais necessário. Juntamente a isso, vale salientar que outros transtornos como o uso de álcool e outras drogas também ficam em evidência (MS, 2020), por vezes até, em decorrência da própria ansiedade. Em Natal/RN, o número de atendimentos nos CAPS aumentou cerca de 32% no durante a COVID-19. Como já fora dito, o número 30.070 para atendimentos nos centros psicossociais no ano de 2021, é um número crescente, tendo em vista que em 2018 foram realizados 24.279 atendimentos57. No entanto, é importante salientar que no pico central da pandemia, o ano de 2020, os números tiveram uma redução, considerando o isolamento social exigido pelo governo e a minimização no quantitativo de profissionais, as pessoas não saíam de casa para procurar atendimento. Já no ano 2021, onde a poeira da pandemia começa a baixar, e as 56 Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS), matéria publicada no ano de 2020. Disponível em: <https://aps.saude.gov.br/noticia/ 57 Dados retirados de uma matéria publicada pelo Jornal Tribuna do Norte em 2022. Disponível em: <http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/atendimentos-a-pessoas-com-transtornos-mentais- crescem-32-em-natal/539034>. 45 medidas restritivas começam a ser flexibilizadas, a procura pelos centros de atenção psicossocial começam a entrar em evidência. Uma matéria publicada pela Prefeitura de Natal, aponta o CAPSi, que é o CAPSi infantojuvenil, como referência em saúde mental na cidade58. O CAPSi lida com jovens e adolescentes com transtornos mentais, em sua maioria, o autismo. O processo de reabilitação social dos pacientes é feito por meio de diversos trabalhos interdisciplinares, voltado para a área que o paciente possui mais necessidade. Este processo é feito por meio de oficinas, rodas de conversa, a fim de promover a interação entre eles. O método de rodas de conversas e oficinas é eficiente para obter informações que nem sempre são ditas pelo paciente ou pelo familiar. Além de auxiliar na ressocialização deste, pois, muitos pacientes que ali se encontram possuem talentos e vocações que por vezes não são exploradas em seus cotidianos, e ao conseguirem executar certas atividades, significa dar um passo para a inserção na sociedade desses indivíduos como cidadão produtivo e exercendo sua cidadania. O assistente Social encontra-se inserido nas instituições de saúde mental, na particularidade dos CAPS, que junto com os demais profissionais da saúde, compõem a equipe de profissionais que atua numa perspectiva de interdisciplinaridade, em respostas às diferentes demandas, que chegam como requisições institucionais, expressando as necessidades sociais dessa população acometida de transtornos mentais. No próximo item iremos tratar desta atuação profissional. 3.2 A atuação do Assistente Social na Saúde Mental nos CAPS e os Limites e Possibilidades na sua intervenção em tempos de pandemia no processo de reabilitação social dos pacientes Tenhamos presente que a Reforma Psiquiátrica trouxe significativas mudanças no modelo da política de saúde mental brasileira, relacionadas às práticas, saberes, valores culturais e sociais de extrema importância na defesa dos 58 Caps Infantojuvenil é referência em saúde mental na cidade. Prefeitura de Natal. Disponível em: <https://prefeitura.natal.br/news/post/31404> 46 direitos das pessoas acometidas de transtorno mental de diferentes ângulos, visando a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, na qual a “doença mental” não seja alvo de preconceitos e diferenças, mas sim de possibilidades de conquistas na promoção da autonomia e inserção social de seus protagonistas” (MOTA e RODRIGUES, 2016, p. 653). A política de saúde mental, portanto, vem sendo implementada comprometida com a promoção, prevenção e tratamento dos transtornos mentais, seguindo um novo modelo antimanicomial, através dos serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, entre esses serviços, encontra-se os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). A Reforma Psiquiátrica, não só trouxe um novo modelo de tratamento psiquiátrico aberto e comunitário, como ampliou os espaços de trabalho para os profissionais de saúde mental, através da equipe multiprofissional atuante nesses serviços substitutivos, dentre eles o CAPS. A área da saúde mental constitui um campo que exige e demanda diversas profissões, envolvendo diferentes saberes e competências, que atuam numa perspectiva de interdisciplinaridade, dentre elas o Serviço Social. Reiteramos aqui, que o assistente social atua nos campos de saúde mental, mais precisamente nos Centros de Atenção Psicossocial, segundo (IAMAMOTO, 2005) participando das equipes multiprofissionais, ao lado de outros profissionais da saúde como - o nutricionista, o enfermeiro, o médico, o psicólogo, o terapeuta ocupacional, o educador físico - dos programas e projetos voltados para prevenção e tratamento de doenças mentais, de acordo com as demanda e requisições institucionais59. No espaço dos CAPS’s, bem como nos demais espaços de atendimento à saúde mental, os assistentes sociais têm como objeto de atenção a exclusão das pessoas com transtornos mentais do processo produtivo e do convívio social (PEREIRA, 2015). Pessoas estigmatizadas socialmente como loucas, perigosas e incapazes do acesso ao mercado de trabalho, enfrentando, portanto, o preconceito da sociedade com as pessoas que apresentam sofrimentos psíquicos ou transtornos mentais graves decorrentes ou não do uso de substâncias psicoativas. 59 Nesse contexto, o assistente social, mesmo realizando atividades partilhadas com outros profissionais, dispõe de ângulos particulares de observação na interpretação dos mesmos processos sociais e uma competência também distinta para o encaminhamento das ações, que o distingue do médico, do sociólogo, do psicólogo, do pedagogo etc (IAMAMOTO, 2002. Pg. 64)47 O exercício profissional, mediante atuação em equipe, segundo os Parâmetros para Atuação de Assistentes Sociais na Política de Saúde (CEFSS, 2019, p. 25) exige do assistente social a observância dos seus princípios ético- políticos, nomeados nos documentos legais da profissão, tais como: o Código de Ética Profissional (1993) a Lei de Regulamentação da Profissão (1993) e as Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996). Considerando o princípio da liberdade como valor ético central, na defesa pelos direitos humanos e a consolidação da cidadania, conforme o Código de Ética Profissional (1993) (CFESS, 2010), observamos uma convergência de valores com a defesa do tratamento humanizado da Saúde Mental, explicitados pela Reforma Psiquiátrica. Ao defender a liberdade do paciente como sujeito de direitos, bem como uma saúde de qualidade para todos sem distinção, configuram os princípios da universalidade, autonomia e do exercício da cidadania, tornando evidente uma similitude de projetos entre as bases legais que orientam o exercício profissional e os princípios da Reforma Psiquiátrica. Inclusive esta preconiza a importância do assistente social para composição das equipes de saúde mental, na perspectiva de contribuir na conservação e permanência dos direitos já conquistados. Nessa perspectiva, para efetivação do tratamento terapêutico alternativo ao asilar foi divulgada a portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002, que estabelece os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e suas respectivas complexidades: 4.2.1 - A assistência prestada ao paciente no CAPS II inclui as seguintes atividades: a - atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, entre outros); b - atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de suporte social, entre outras); c - atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio; d - visitas domiciliares; e - atendimento à família; f - atividades comunitárias enfocando a integração do doente mental na comunidade e sua inserção familiar e social; g - os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma refeição diária: os assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas refeições diárias (PORTARIA nº 336/2002) A mesma portaria, dispõe sobre os profissionais necessários para compor uma equipe do CAPS, sendo eles: 4.2.2 - Recursos Humanos: A equipe técnica mínima para atuação no CAPS II, para o atendimento de 30 (trinta) pacientes por turno, tendo como limite máximo 45 (quarenta e cinco) pacientes/dia, em regime 48 intensivo, será composta por: a - 01 (um) médico psiquiatra; b - 01 (um) enfermeiro com formação em saúde mental; c - 04 (quatro) profissionais de nível superior entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, pedagogo ou outro profissional necessário ao projeto terapêutico. d - 06 (seis) profissionais de nível médio: técnico e/ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão. (PORTARIA nº 336/2002) A inserção do Serviço Social nesse espaço sócio-ocupacional ocorre pela sua competência técnica na construção dos projetos terapêuticos desses pacientes, sobretudo, egressos ou não da hospitalização psiquiátrica. Como também na reiteração da premissa basilar do acesso ao CAPS como direito de assistência à Saúde universal. As expressões da questão social que os portadores de transtornos mentais trazem consigo como demandas são as mais diversas. No entanto, as mais comuns estão ligadas principalmente à dificuldades financeiras, devido ao comprometimento da sua capacidade laboral que impede seu acesso ao trabalho; os estigmas e preconceitos que endossam à discriminação que dificultam e/ou privam da convivência social. O não acesso ou permanência no trabalho, em muitos casos, ocorre porque o portador de transtorno mental não consegue continuar fixo em um emprego, uma vez que suas debilidades e capacidades cognitiva e/ou de psicomotricidade estão comprometidas, interferindo na sua condição de trabalhador ativo, afetando o seu poder aquisitivo. Em outros casos, o portador de transtornos mentais é tido socialmente como o “incapaz”, “louco” ou “desequilibrado”, o que dificulta o acesso ao emprego. Associado a essas questões, existe uma visão equivocada a respeito dos Centros de Atenção Psicossocial, intitulados como o “lugar dos loucos”, por muitos na sociedade. Esses fatores comprometem as condições objetivas e subjetivas de inserção social dessas pessoas na sociabilidade do capital, uma vez que além dos transtornos mentais, sua condição de vulnerabilidade social pela pobreza, subalternidade e exclusão social, os incluem na condição de pauperização. No período pandêmico, os transtornos mentais se intensificaram, como já foi explicitado anteriormente, no entanto, há uma quantidade expressiva de pessoas que não foram até os CAPS, tendo em vista o isolamento social instruído como 49 medida de contenção sanitária pelos organismos de Saúde Internacionais. É de conhecimento, portanto, que muitos profissionais de várias áreas tiveram seus trabalhos suspensos no período crítico da pandemia do COVID-19, ou receberam férias ou até mesmo, passaram a trabalhar em formato remoto (“home office”). No entanto, profissionais da área da saúde, aqui em Natal/RN, além de não terem paralisado seus trabalhos, tiveram suas férias suspensas60. A intenção era ter o maior número possível de profissionais nos hospitais, UPAS e postos de atendimento, o que resultou em uma espécie de “convocação” de profissionais da saúde. Com isso, é de se considerar que o aumento de transtornos mentais da população também pode ter grande incidência nos profissionais da linha de frente da pandemia, levando em consideração que eram, praticamente, a única classe de trabalhadores que estavam ainda na ativa de forma presencial. Por se constituírem serviços essenciais, tornou-se mais que necessários nesse momento, até em função da pressão à que esses profissionais estavam submetidos, como profissionais de linha de frente. Ou seja, tanto pessoas que estavam em suas casas isoladas, sem poder sair, quanto as pessoas que não pararam de trabalhar e estavam na “linha de frente”, correram o risco de terem sua saúde mental prejudicada, pois cada ser humano possui sua forma de lidar com o sofrimento. A atuação dos Assistentes Sociais não foi diferente nos espaços do CAPS. No momento crítico de pandemia, inserido no campo da saúde como trabalhador assalariado, não pôde parar suas atividades, até porque, como prevê o Código de ética da própria profissão: “Art. 3º São deveres do/a assistente social: [...] d - participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades” (Código de Ética do/a Assistente Social, 2012, p. 27). No que se refere ao fazer profissional do Assistente Social simultaneamente ao período pandêmico, o CFESS e o CRESS têm lançado algumas notas para amparar e orientar o exercício profissional nesse momento atípico. Posto isso, as orientações do Conselho (CFESS, 2020) consistem em: 60 https://portaldeprefeitura.com.br/2021/03/04/secretaria-de-saude-suspende-ferias-de-profissionais- de-saude-por-conta-do-agravamento-da-pandemia/ 50 ● Manter incessantemente a disseminação de informações sobre a higienização correta das mãos, bem como ser praticada também pela equipe, a fim de amenizar a proliferação do vírus. ● Excepcionalmente, neste momento pandêmico algumas atividades podem ser efetuadas de forma remota, como teletrabalho e videoconferência, para que não sofram consequência por serem totalmente interrompidas (para isso, é necessária a avaliação por parte da equipe para julgar quais casos podem esperar e quais casosprecisem de intervenção imediata). ● Avaliação social para entrega de benefícios, parecer social e estudo social não estão entre as atividades que podem ser realizadas remotamente.61 Para observarmos as condutas realizadas pelos CAPSs nesse momento de pandemia, e identificar os limites e possibilidades de sua atuação, foi necessário a pesquisa bibliográfica e documental de diversos documentos e artigos sobre o funcionamento dos CAPS em vários locais diferentes, como Caicó/RN, Recife/Pe, Rio de Janeiro/RJ e Santa Cruz/Ba. Vale salientar que nos Centros de Atenção Psicossocial já existiam em sua composição algumas atividades que são fundamentais. Entre elas: as reuniões em grupo, os atendimentos individuais, os atendimentos domiciliares, e o projeto terapêutico individual, que é um dos procedimentos mais importantes para o usuário. Vejam a propósito: § 1º O acolhimento na Unidade de Acolhimento será definido exclusivamente pela equipe do Centro de Atenção Psicossocial de referência que será responsável pela elaboração do projeto terapêutico singular do usuário, considerando a hierarquização do cuidado, priorizando a atenção em serviços comunitários de saúde. (BRASIL. PORTARIA Nº 3.088, 2011) A importância do projeto terapêutico singular é tamanha pois contribui para a ressocialização e recuperação da autonomia do paciente. O projeto terapêutico singular consiste em uma metodologia de tratamento pensada pela equipe do Centro de Atenção Psicossocial, de acordo com a singularidade de cada paciente (CORREA, 2022). 61 Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/2020CfessManifestaEdEspecialCoronavirus.pdf. Em 29/06/2022. 51 Com advento da pandemia, não só os CAPS’s, mas inúmeras instituições de todas as regiões precisaram se adaptar e se reinventar para dar continuidade as suas atividades. Medidas foram necessárias como o isolamento e distanciamento social, higienização das mãos e roupas, a utilização de máscaras, entre outras medidas. De acordo com uma dissertação publicada, a respeito dos CAPS em Florianópolis/SC, os fluxos de encaminhamentos dos pacientes foram reordenados, assim como foram suspensas as atividades em grupo. Além disso, o funcionamento acontecia apenas nos 5 (cinco) dias úteis da semana com a utilização dos EPI’s necessários (CORREA, 2022). O período pandêmico trouxe limites ao exercício profissional, mas os dados pesquisados nos mostraram um movimento do próprio profissional de criar estratégias que possibilitaram superar e enfrentar os limites postos. No que se refere a mudanças nas estratégias de funcionamento no momento pandêmico, os CAPSs na cidade do Rio de Janeiro também tiveram as suas modificações, como por exemplo: a promoção da educação, de forma a orientar os pacientes sobre a higienização correta das mãos para reduzir a proliferação do vírus, conforme orientação do CFESS/CRESS. Diante disso, os profissionais passaram a realizar acompanhamentos por meio telefônico, diminuindo assim a exposição do paciente no trajeto que ele faria de casa até o CAPS. Outra medida tomada pelo CAPS no RJ que criou possibilidades para o exercício profissional do assistente social, foi a negociação com a equipe para que as requisições de medicamentos fossem entregues com um período maior de tempo, para que diminuísse a ida do usuário até a instituição. Essa medida em específico é feita considerando a condição de saúde de cada paciente individualmente, de forma que os que possuíam menos necessidade obtinham requisições de maior tempo, os que possuíam maior urgência, voltavam a instituição com um intervalo menor de dias (BARBOSA et al, 2020). Já o CAPS situado em um município no sul da Bahia optou pelo fechamento da unidade como medida sanitária (SENA et al, 2021). O autor relata que o CAPS fechou as portas por um período de 5 (cinco) meses, e, como consequência, houve a interrupção da continuidade dos tratamentos “in loco”, de forma que deixaram de 52 ser realizadas as abordagens do Projeto Terapêutico62 dessa unidade CAPS, tais como: oficinas de arte, dança, música, além de atividades como visita domiciliar, e atividades culturais. Com o fechamento da instituição, essas práticas terapêuticas foram suspensas, obviamente, e ainda, segundo o artigo, mesmo após a volta das atividades, houve afastamento dos usuários. Foi relatado que alguns pacientes tinham suas medicações atrasadas, e devido ao uso descontinuado de suas medicações prescritas, ocorreu o aumento considerável de crises de sofrimentos psíquicos. Em se tratando de pacientes dependentes químicos, ocorreu a retomada da utilização de substâncias psicoativas por parte dos pacientes em tratamento (SENA et al, 2021). Nesse contexto, fora observada as consequências da interrupção do funcionamento do CAPS, e aponta como um dos limites no exercício profissional que dificultou o processo de reabilitação dos pacientes com transtorno mental. Outro CAPS que teve suas atividades modificadas, em decorrência da pandemia, foi o CAPS III situado na cidade de Caicó/RN63. Diante do cenário de pandemia em que os atendimentos presenciais foram restritos, nessa unidade foi feita uma adaptação ao contexto pandêmico na rotina dos atendimentos diários, como estratégia para evitar a suspensão dos tratamentos e fechamento dessa unidade de Saúde. Através do uso das tecnologias, assim como o CAPS no Rio de Janeiro, a equipe de profissionais incluiu uma terapeuta ocupacional, e fazia ligações para realizar os atendimentos diários. Por intermédio dessas ligações, eram colhidas informações sobre o estado de saúde do paciente, e assim eram identificados pacientes que realmente necessitavam de atendimentos presenciais, e os que conseguiam aderir ao atendimento remoto (ARAÚJO et al, 2021). Surge uma nova técnica na atuação profissional, a escuta qualificada por meio de telefonemas. Novamente, diante dos limites do atendimento presencial, o uso do atendimento on-line constituiu uma possibilidade viável para dar continuidade ao tratamento. 62 Os Projetos Terapêuticos Singulares (PTS), compõem atendimento em grupo, domiciliar, familiares, oficinas, entre outras estratégias. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2013) 63 Informações obtidas através do artigo “Reinventando o cuidado em saúde mental no CAPS III de Caicó em tempos de pandemia” (ARAÚJO et al, 2021). 53 Os dados construídos a partir da pesquisa bibliográfica encontram-se sintetizados nas tabelas abaixo, onde são expostas de forma organizada as atividades que foram desenvolvidas e/ou interrompidas nos CAPS no período de pandemia. As tabelas mostram as atividades realizadas normalmente, antes do período pandêmico, contudo no período de pandemia elas estavam defasadas. Sinalizamos “Sim” para as atividades que continuaram ser desenvolvidas como possibilidades de atuação e fortalecer o processo de reabilitação, e “não” para as que foram interrompidas nesse contexto constituindo-se limites ao processo de reabilitação do paciente, e as demais possuem texto autoexplicativo. ATIVIDADES CAPS I – Interior da Bahia CAPS II – Rio de Janeiro CAPS II – Florianópolis CAPS III – Caicó Acolhimento Não realizada apenas nos primeiros 5 (cinco) meses de pandemia. Após esse período, sim. Sim, de forma presencial. Sim, de forma presencial. Sim, de forma presencial. Atendimento individual Não Sim, por meio telefônico, e, quando necessário, presencialmen te. Sim, por meio telefônico, e com agendamento. Sim, por meio telefônico, e, quando necessário, presencialment e, desde que fosse agendado. Atendimento familiar Não Sim, por meio telefônico, e, quando necessário, presencialmen te. Não. Quando necessário, por meio telefônico. Atendimento domiciliar Não Alguns casos estritamente Sim. Sim, organizada de 54 necessáriosacordo com as necessidades dos pacientes, através de busca ativa por telefone. Atendimento medicament oso Não realizada apenas nos primeiros 5 (cinco) meses de pandemia. Sim, organizada de acordo com as necessidades dos pacientes. Sim, remotamente, através de receituário digital (exceto para receituário azul que era feito presencialment e). Sim, presencialment e. Atendimento médico Não realizada apenas nos primeiros 5 (cinco) meses de pandemia. Após esse período, sim. Sim, de forma presencial. Sim. Sim, de acordo com maiores necessidades, através de busca ativa por telefone. Oficinas Terapêuticas Não Não Sim, através de teleatendiment o. Inicialmente não. Após um período voltou presencialment e. Tabela 01 – Fonte: elaborado pela autora com base nos textos acima citados No processo de pesquisa de artigos para composição deste trabalho, foram encontrados (02) dois artigos que tratam estritamente da atuação profissional do assistente social nos CAPS’s no período de pandemia. Estes estudos serviram de base para o ponto central deste trabalho, pois mostram a vivência do Serviço Social frente à pandemia do COVID-19. 55 AUTOR (ES) TÍTULO DO CAPÍTULO LIVRO LOCAL TIPO DE CAPS André Domingos de Assis França; Catharina Cavalcanti de Melo; Evelly Nathália Lira de Araújo; Natália Morais de Araújo Bibiano; Sílvia Lúcia Gomes Cavalcanti; Wanessa da Silva Pontes. “Quantas crises cabem na política de saúde mental durante uma pandemia?”: Desafios e práticas do Serviço Social nos centros de atenção psicossocial. Serviço Social no enfrentamento à COVID-19 Recife - PE Todos. Izabel Herika Gomes Matias Cronemberger ; Sayonara Genilda de Sousa Lima; Naira de Sousa Macêdo O cuidado em Saúde Mental infantojuvenil em tempos de pandemia: relatos da atuação profissional da/o assistente social num Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil. Serviço Social em tempos de pandemia: provocações ao debate. Teresina - PI CAPSi Tabela 02 - Fonte: elaborado pela autora com base nos textos acima citados Em relação ao texto “Serviço Social no enfrentamento à COVID-19” (FRANÇA, et al), um dos capítulos disserta a respeito do exercício profissional do Serviço Social no âmbito da saúde mental, na cidade de Recife/Pe. Logo percebemos o maior limite para o desempenho das atividades profissionais do Serviço Social nos CAPS no contexto pandêmico: o isolamento social. Reorganizar atividades de forma presencial nos espaços dos CAPS’s que surtisse maior efeito no enfrentamento do distanciamento social, constituiu um árduo trabalho. A título de 56 exemplo temos o Projeto Terapêutico Singular (PST) que consiste em atividades realizadas de forma individual, em grupo, nas oficinas, entre outras. De acordo com as necessidades dos usuários, são atividades que contribuem para a reabilitação social do paciente, se manejadas presencialmente, frente a frente, trocando experiências e aprendizados uns com os outros, mediante um trabalho coletivo. O impacto causado pela pandemia nos CAPS em Recife, são, em sua maioria, as mudanças no desenvolvimento do trabalho e as repercussões que isso trouxe: os acolhimentos foram mantidos, no entanto, os atendimentos presenciais foram reduzidos, sendo feito apenas os estritamente necessários, como em momentos de crise. Assim como em outros CAPS no Brasil, o CAPS em Recife passou a realizar suas reuniões de forma remota, on-line. Outra medida tomada foi a flexibilização da carga horária, a fim de cumprir com o máximo distanciamento social. Outras atividades que requerem uma maior participação, como atividades em grupo, visitas domiciliares, precisaram ser suspensas. Vejam como a tomada de decisões para o enfrentamento dos limites no tratamento do paciente com transtorno mental exigiu criatividade, proatividade e competência crítica no manejo dessas decisões. O exercício profissional do Serviço Social precisou ir além. Tomando como exemplo esse CAPS na cidade de Recife, articulações começaram a ser feitas remotamente e/ou por meio telefônico e podemos então considerar essa uma nova modalidade de atividade do Serviço Social. Atendimentos feitos por meio telefônico iam além do que apenas atender o paciente cadastrado nos CAPS’s, isto porque foram feitos atendimentos com as famílias, além de ser realizada uma busca ativa dos usuários que necessitavam de atendimentos presenciais com mais urgências. Nessas ocasiões, o Serviço Social atendia também demandas espontâneas como orientar sobre a real propagação do vírus e meios de prevenção, assim como instruir a procura de vias confiáveis de notícias a fim de alertar sobre a terrível propagação de fake news. Outrossim, foi requisitado ao serviço social, o que já é de sua atribuição, mostrar os caminhos para o acesso aos direitos da população, nesse 57 caso, em específico, o auxílio emergencial64 disponibilizado pelo governo, uma das demandas mais frequentes (quem possui o direito e como obter). Essas mudanças se desenrolaram em um aumento da procura pelo/a profissional do Serviço Social em busca de orientações gerais de acesso aos serviços, que frequentemente requerem agendamento on-line ou contato telefônico. (FRANÇA, et al, 2021, p. 151) O uso do meio telefônico possibilitou um vasto alcance no atendimento aos pacientes, não só dos profissionais para com o usuário, mas também entre as equipes, viabilizando o matriciamento65 , estratégia que fortalece a comunicação entre a rede dos serviços de saúde, bem como de outras áreas, através da troca de informações, visando a assistência ao usuário, como já pressupõe o Código de Ética da profissão, quanto ao dever do assistente social nas suas relações com outros profissionais. A ferramenta on-line trouxe também benefícios na otimização de tempo do profissional do assistente social, tornando possível levar mais informações a um número maior de usuários e suas famílias, e em um período menor de tempo. A respeito das atividades em educação, para orientação sobre higienização das mãos, redução do contágio, distanciamento social, foi realizada através do teleatendimento. E, nesse processo, foi criado um campo de possibilidades de investigação, através do exercício profissional do assistente social, onde foi possível conhecer a condição social de cada paciente. O estudo das condições das pessoas atendidas revelou uma realidade em que em nosso país ainda existem pessoas que não tem acesso à água potável e recursos para higienização de um modo geral66. Dentre os impactos que as modificações causaram na população usuária do Centro de Atenção Psicossocial, estão o afastamento e/ou abandono de muitos aos atendimentos, causando a interrupção de muitos tratamentos. O que reafirma ainda mais a importância do CAPS para pessoas que possuem esses transtornos e a continuidade nos tratamentos para a reabilitação social do paciente. 64 Benefício financeiro disponibilizado pelo Governo Federal, para assegurar renda mínima às famílias brasileiras em situação de vulnerabilidade, tendo em vista que muitas atividades econômicas foram afetadas no período de pandemia. (https://www.gov.br/cidadania/pt-br/servicos/auxilio- emergencial) 65 “Recurso pedagógico para a construção compartilhada do cuidado entre os serviços de saúde e os/as usuários/as, principalmente junto às demais unidades de saúde, [...] as ações matriciais foram estratégicas para o fortalecimento e a comunicação entre a rede.” (FRANÇA, et al, 2021, p. 151) 66 Algo a ser discutido na unidade de atendimento e levado aos órgãos competentes. 58 Como já mencionado anteriormente, a família possui papel fundamental na promoção e recuperação do paciente. Desde o cuidado em casa até a disponibilidade na participaçãodo tratamento nos CAPS’s. Infelizmente, essa foi outra área afetada pela pandemia, pois as atividades em grupo realizadas com as famílias foram suspensas. No entanto, ao reinventar a forma de atendimento e fazer a utilização do teleatendimento, foram criadas possibilidades de possível estabelecer um contato com maior facilidade com os familiares, além do assistente social poder conversar com mais familiares, possibilitando um parecer social mais completo, tendo em vista, a maior variedade de fontes. Por fim, o texto enfatiza a importância do controle social no exercício da profissão do Serviço Social, uma vez que fora impossibilitada, devido à pandemia. Por outro lado, esses espaços foram reconstruídos através da ferramenta on-line, possibilitando, também, maior acesso por parte dos profissionais, alcançando mais profissionais da equipe que compõe o CAPS’s, e proporcionando mais informações que beneficiam a instituição e o trabalho em equipe, além da otimização do tempo. O outro artigo analisado traz o relato de profissionais do serviço social em um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil, na cidade de Teresina, no Piauí, o CAPSi II Dr. Alexandre Nogueira. Além das crianças e adolescentes já institucionalizadas nesse CAPS, havia também a incidência de outras crianças afetadas pelo contexto da pandemia, contudo estavam afastadas do convívio escolar e da sociabilidade com outras crianças. Neste sentido enfatiza Inferimos, pois, que no contexto atual da Covid-19, crianças e adolescentes em vulnerabilidade social são os mais afetados: são suscetíveis a déficits históricos que perpassam gerações e gerações, como falta de saneamento, condições precárias de moradia, segurança alimentar, segurança social e acesso à saúde preventiva. (PEREIRA & CRONEMBERGER, 2020, p. 198 -199) O CAPSi II Dr Alexandre Nogueira atende crianças e adolescentes entre 2 (dois) e 18 (dezoito) anos de idade, que possuem transtornos mentais, como transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista (TEA); esquizofrenia; depressão, transtorno afetivo bipolar, entre outros, sendo eles caracterizados como graves, severos e persistentes. Além de atender esse mesmo público que possui histórico de uso prejudicial de álcool e outras drogas. O CAPS também dispõe de atividades interventivas como atendimentos 59 individuais, com grupos terapêuticos, atendimento familiar, oficinas terapêuticas, visitas domiciliares, tratamento medicamentoso, matriciamento, entre outras. Entre as modificações feitas na realização do trabalho profissional estão a redução da equipe profissional, por meio de rodízio, com a intenção de evitar a aglomeração. De igual forma, a equipe realizou seus atendimentos por meio do telefone, para a efetuar uma busca ativa a respeito da saúde dos usuários e suas principais demandas, mesmo com o distanciamento. Algumas consultas, de acordo com a necessidade do usuário e após uma avaliação via telefone, eram feitas presencialmente, casos que eram necessários como a concessão de medicamentos ou a renovação de receitas. Os atendimentos telefônicos feitos pelos assistentes sociais acabavam transformando-se, também, em demandas espontâneas, que no caso do contexto pandêmico, em sua maioria, eram relacionadas à informações sobre como obter o auxílio emergencial, e outros benefícios. Tendo em vista a crise constituída no tripé econômica-política-sanitária do país67 muitas famílias tiveram seus negócios falidos, ou precisaram fechar as portas temporariamente, outras tiveram que parar de trabalhar e ficar em suas casas, o que acarretou em alto número de famílias sem trabalho, com insegurança alimentar em nível grave, habitação precária, sem proteção social, vivendo em situação de vulnerabilidade. Fora requisitado ao Serviço Social a demanda de busca ativa para a concessão de benefícios na perspectiva de suprir essas necessidades básicas da população. O uso do meio virtual se constituiu a forma que os assistentes sociais utilizaram para identificar e acompanhar cada caso solicitado. Ainda nos teleatendimentos, o assistente social frisava sempre sobre a importância de se apropriar de notícias verdadeiras, informando que o indivíduo deveria procurar veículos de comunicação confiáveis, tendo em vista a disseminação 67 Resta-nos evidente que a crise brasileira conforma-se sob um tripé econômico-político-sanitário que não encontra similitude na maioria dos países capitalistas do mundo; (...) O solo para as ações dos capitais na sucção do fundo público como parte da equação de sua crise está ‘fertilizado’ pela dor, pela asfixia, pelo sofrimento e pela morte da classe trabalhadora, já que a Covid-19, no Brasil, percorreu uma letal trajetória determinada pela classe, gênero, cor e, insistimos, pelas ausências de trabalho, alimentação, habitação, transporte, educação e proteção social (saúde, assistência e previdência) adequadas ao provimento da vida. Estas carências são vergonhosamente históricas e não foram iniciadas neste momento da Covid-19; todavia, tais misérias foram agravadas pela propositada inação diante da mais grave e triste ocorrência que se abate sobre todas as gerações vivas, neste momento, no Brasil (GRANEMANN, 2021, p.6) 60 de notícias falsas sobre o COVID-19. Além disso, era enfatizado a importância de se manter as relações afetivas com os familiares e amigos, mesmo que virtualmente, por se constituir um dos processos de tratamento de alguns transtornos mentais. Para isso, foi disponibilizado um número de celular para o CAPS, para o maior e melhor atendimento dos usuários. A atuação do assistente social através da circulação de informações essenciais no âmbito das instituições, visando a ampliação de conhecimentos e a troca desses conhecimentos com outros profissionais, se deu por meio de grupos no whatsapp. Ademais, a via telefônica também foi usada para orientar a respeito das atividades educativas, sobre os riscos do vírus e sua propagação, sobre a higienização correta das mãos e sobre as medidas que devem ser tomadas para evitar o contágio. De acordo com os Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais na saúde, a educação e informação se configuram deveres do assistente social: participar, em conjunto com a equipe de saúde, de ações socioeducativas nos diversos programas e clínicas, como por exemplo: na saúde da família, na saúde mental, na saúde da mulher, da criança, do adolescente, do idoso, da pessoa com deficiência (PCD), do trabalhador, no planejamento familiar, na redução de danos, álcool e outras drogas, nas doenças infectocontagiosas (DST/AIDS, tuberculose, hanseníase, entre outras) e nas situações de violência sexual e doméstica. (CFESS, 2010, p. 54 ) No entanto, alguns atendimentos essenciais foram feitos de forma presencial, no caso realizados de acordo com a busca ativa dos assistentes sociais, por meio de telefone e posteriormente marcados de forma presencial, de acordo com a necessidade. Nessa mesma busca ativa, outras questões foram visualizadas e identificadas, como casos de violência doméstica, violência infantil; casos de suicídio em potencial, ou até mesmo, famílias que careciam de atendimento em suas necessidades básicas como água e comida. Vários foram os caminhos, percursos e estratégias construídos pelos assistentes sociais para a continuidade dos serviços em tempos de pandemia. Estrategicamente, no âmbito do CAPS, o serviço social, bem como as outras categorias, se reinventaram em distintas possibilidades, de acordo com o possível para o momento, visando a não interrupção dos tratamentos. Temos que, as 61 medidas tomadas, mesmo com as limitações, contribuíram para um final sem danos piores. 62 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a realização da pesquisa, ficam inúmeras reflexões a respeito do tema que, diga-sede passagem, precisam ser discutidas com mais frequência e com maior abertura no meio acadêmico. Uma delas ao longo das análises, podemos compreender que muitos indivíduos adquiriram algum transtorno mental, em decorrência dos efeitos da pandemia do COVID-19. Concretamente, tivemos o significativo aumento de casos de transtorno mental e/ou sofrimento psíquico, acarretando limites ao trabalho dos profissionais de linha de frente das instituições que atuam com o processo de adoecimento da saúde mental. O mundo passou por um momento atípico e totalmente inesperado para muitos. A instrução era “ficar em casa”, no entanto, muitos profissionais da saúde e da assistência, dentre eles, os assistentes sociais, não tinham esse poder de escolha. Ao contrário, grande número de secretarias publicou notas suspendendo as férias desses funcionários. Ou seja, a pressão de precisar trabalhar na “linha de frente” e o medo cada vez maior de se contaminar, resultaram em transtornos mentais como: ansiedade, síndrome do pânico, depressão, entre outros. Um relato de um trabalhador que esteve na assistência como técnico de enfermagem em um CAPS na Bahia enfatizou: Como trabalhador da saúde, quero, ainda, registrar que fui infectado pela COVID-19, e durante o isolamento, confesso que também tive sintomas de transtorno de ansiedade, pelo medo de não conseguir viver frente ao número de perdas de pacientes que presenciei enquanto cuidava deles (SENA, et al, 2021). Com isso, é possível perceber a fragilidade emocional vivida pelos trabalhadores de linha de frente, como aqueles que permaneceram isolados em suas casas. Embora tenha sido reduzido os riscos de contaminação e de morte, em razão da vacina, a pandemia ainda não acabou. Os casos continuam a acontecer em menor proporção em relação ao momento mais crítico, assim como as mortes, contudo mesmo nos casos com sintomas leves, as pessoas correm riscos de sequelas graves. Eis o motivo para que sejam propagadas mais informações sobre as práticas de higiene, isolamento social, uso de máscaras, monitoramento das 63 condições de saúde das pessoas vítimas da doença. As pessoas acometidas pelos transtornos mentais, em razão da pandemia covid-19, continuam sendo demandas nos espaços de tratamento da saúde mental, dentre esses espaços estão os CAPS’s. A Reforma Psiquiátrica, discutida no capítulo 1 (um) desta pesquisa trouxe significativas mudanças no modelo da política de saúde mental brasileira, relacionadas as práticas, saberes, valores culturais e sociais na defesa dos direitos das pessoas com transtorno mental, na perspectiva da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. A luta dos trabalhadores da saúde enfrentada durante a Reforma Psiquiátrica foi crucial para que instituições como CAPS fossem criadas como substitutivo dos hospitais psiquiátricos, integrando a rede de assistência à saúde mental. Durante todo o período da nossa graduação em Serviço Social, vimos o quanto é importante as lutas dos movimentos sociais na busca por uma sociedade mais justa e igualitária, que corresponde a um dos princípios da profissão do serviço social referenciado no Código de Ética da profissão “Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste e com a luta geral dos trabalhadores” (CFESS,1993). A profissão de Serviço Social tem como objeto de sua atuação a questão social, base e fundamento de sua atuação profissional. E, na particularidade deste trabalho sua atuação se volta para as pessoas com transtorno mental que vivenciam situações de exclusão da produção, do consumo e da cidadania, associada a situação de preconceitos e estigma social, em razão do seu adoecimento psíquico. O assistente social em seu cotidiano, sob a orientação dos documentos legais que orientam seu exercício profissional, direcionam suas práticas na perspectiva da promoção da justiça, da equidade, da integralidade, da igualdade, independente de cor, raça, crença, orientação sexual ou condição psíquica; se opondo, portanto, a qualquer tipo de violência ou agressão, seja ela física, psicológica ou qualquer outra. O Serviço Social atua, não só no CAPS, mas em qualquer instituição que trabalhe com a Política Nacional de Humanização (PNH), que se volta para um atendimento de qualidade, ao mesmo tempo que articula avanços tecnológicos para melhor acolher os pacientes, beneficiando não só os usuários, mas os profissionais em seus ambientes de trabalho (BRASIL, 2004). 64 Os limites e possibilidades mais identificados ao longo da pesquisa giram em torno da necessidade de dar continuidade aos atendimentos demandados como requisições institucionais no momento da pandemia, quando o momento do isolamento social foi mais crítico. Foi observado que alguns CAPS’s utilizaram a ferramenta tecnológica, como as ligações telefônicas para agendamento, para que os tratamentos não fossem prejudicados. Significou uma saída estratégica em meio ao caos que a pandemia trouxe, e funcionou como uma possibilidade de encaminhar as respostas às necessidades básicas dessas pessoas com transtornos mentais, além do tratamento terapêutico medicamentoso. Logo, os questionamentos que ficam são: se tivéssemos mais conhecimento tecnológico e mais acesso à tecnologias, os atendimentos teriam sido de uma qualidade melhor durante a pandemia? É nítida a carência de mais recursos na área da saúde, principalmente a saúde mental, para lidar não só com essas situações em caráter emergencial, como as que já faziam parte antes da pandemia. O uso da tecnologia pelos assistentes sociais, seja por videoconferência ou teleatendimento, pode ser eficaz em muitos outros casos, mesmo fora da pandemia, para atingir um maior número de usuários; sobretudo aqueles que têm suas limitações de diferentes ordens e não conseguem se dirigir até uma unidade. Vale salientar que, a mediação dos recursos da tecnologia utilizados pelos assistentes sociais e demais profissionais, para o atendimento aos pacientes com sofrimento psíquicos na perspectiva da garantia dos direitos, se constituiu uma possibilidade de enfrentamento aos limites impostos ao exercício profissional do assistente social, enquanto inserido nos espaços dos CAPS’s. O projeto ético-político da profissão fundamenta a e orienta a formação e o exercício profissional na sua cotidianidade. De acordo com Netto (1999) Os projetos profissionais [inclusive o projeto ético político do Serviço Social] apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relação com os usuários e seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais, p rivadas e públicas [...] (1999, p. 95) 65 Considerando essas orientações, o assistente social precisa estar alinhado aos princípios e diretrizes estabelecidas no seu projeto ético-político. Neste sentido, é fundamental ao profissional a compreensão das dimensões teórico- metodológica, técnico-operativa e ético-política, as quais se constituem requisitos “fundamentais, possibilitando ao profissional colocar-se diante das situações com as quais se defronta, vislumbrando com clareza os projetos societários, seus vínculos de classe, e seu próprio processo de trabalho” (ABEPSS, 1996, p.13) Assim, é inegável a importância de tais dimensões, que implica uma competência crítica e propositiva no processo da intervenção no cotidiano do trabalho do assistente social. Como afirma Iamamoto (2000, p. 52) essas dimensões “são fundamentais e complementares entre si”. Ao pensar o trabalho do assistente social em um contextode pandemia global, e analisar seus limites e possibilidades, vinculamos as medidas e estratégia criadas pelos profissionais à dimensão técnico- operativa, a qual se materializa no cotidiano do exercício profissional do assistente social, no “o que fazer, porque fazer, como fazer e para que fazer” de acordo com as demandas que lhes são apresentadas e nas alternativas dispostas para o momento. Mioto (2009) afirma que esta dimensão é um caminho entre o projeto profissional e a formulação de novas respostas de acordo com as novas demandas que surgem. Contudo, essas estratégias e técnicas pensadas e operacionalizadas no exercício profissional carecem de uma articulação aos referentes teórico-críticos é ético- políticos, na busca de trabalhar as situações demandas pela realidade, tendo presente, portanto, a dimensão intelectiva como fundamento para a intervenção (ABEPSS, 1996). Concretamente, “As estratégias são mediações complexas, implicando articulações entre as trajetórias pessoais, os ciclos de vida, as condições sociais dos sujeitos envolvidos para fortalecê-los e contribuir para a solução de seus problemas/questões” (ABEPSS, 1996, p.14) Tenhamos presente que várias foram as estratégias construídos pelos assistentes sociais e demais profissionais para o enfrentamento dos limites impostos pelo contexto pandêmico em sua fase mais crítica. Momento em que foram criadas as possibilidades de enfrentamento desses limites no âmbito dos CAPS’s, voltadas em função de garantir a continuidade do processo de reabilitação dos pacientes com transtornos mentais. E, na criação dessas possibilidades de forma crítica e propositiva, estão presentes as orientações teórico-metodológicas, ético-políticos. 66 dadas pelo conjunto ABEPSS/CEFSS/CRESS/2020, através dos documentos produzidos na profissão. 67 REFERÊNCIAS ABEPSS. 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