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TCC-VinAcius-Carvalho



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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
 CENTRO DE BIOCIÊNCIAS 
 CURSO DE BIOMEDICINA 
 VINÍCIUS PINHEIRO TORRES DE CARVALHO 
 USO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE PACIENTES ACOMETIDOS 
 PELA COVID-19: UMA REVISÃO 
 NATAL,RN 
 2022 
 VINICIUS PINHEIRO TORRES DE CARVALHO 
 USO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE PACIENTES ACOMETIDOS PELA 
 COVID-19: UMA REVISÃO 
 Monografia apresentada ao curso de 
 graduação em Biomedicina, da 
 Universidade Federal do Rio Grande do 
 Norte, como requisito parcial à obtenção 
 do título de Bacharel em Biomedicina. 
 Orientadora: Prof(a). Dr(a). Lúcia de 
 Fátima Amorim. 
 NATAL,RN 
 2022 
 Esta obra está licenciada com uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 
 Internacional. Permite que outros distribuam, remixem, adaptem e desenvolvam seu 
 trabalho, mesmo comercialmente, desde que creditem a você pela criação original. 
 Link dessa licença: creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode 
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/legalcode
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
 Sistema de Bibliotecas - SISBI 
 Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - Centro de 
 Biociências - CB 
 Carvalho, Vinicius Pinheiro Torres de. 
 Uso da acupuntura no tratamento de pacientes acometidos pela 
 covid-19: uma revisão / Vinicius Pinheiro Torres de Carvalho. - 2022. 
 70 f.: il. 
 Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do 
 Norte, Centro de Biociências, Curso em Biomedicina. Nata/RN, 2022. 
 Orientadora: Profa. Dra. Lúcia de Fátima Amorim. 
 1. Covid-19 - Monografia. 2. Tratamento - Monografia. 3. 
 Acupuntura - Monografia. 4. Infecção - Monografia. I. Amorim, Lúcia 
 de Fátima. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. 
 Título. 
 RN/UF/BSCB CDU 616-036.21 
 Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351 
 VINÍCIUS PINHEIRO TORRES DE CARVALHO 
 USO DA ACUPUNTURA NO TRATAMENTO DE PACIENTES ACOMETIDOS PELA 
 COVID-19: UMA REVISÃO 
 Monografia apresentada ao curso de 
 graduação em Biomedicina, da 
 Universidade Federal do Rio Grande do 
 Norte, como requisito parcial à obtenção 
 do título de Bacharel em Biomedicina. 
 Aprovada em: ______/______/______ 
 BANCA EXAMINADORA 
 Prof(a). Dr(a) Lúcia de Fátima Amorim 
 Orientador(a) 
 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
 Prof. Dr. Alexandre Flávio Silva de Queiroz 
 Membro interno 
 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
 Esp. Flávia Toscano Moura 
 Membro externo 
 Habilitação em Acupuntura pela UFRN 
 Dedico este trabalho aos meus avós que, cada 
 um com sua peculiaridade, assumiram um 
 papel importantíssimo de contribuir na minha 
 formação como pessoa para compor quem sou 
 hoje. Alguns já se foram e outros estão mais 
 distantes do que eu gostaria, mas o que tenho 
 deles sempre estará comigo. 
 AGRADECIMENTOS 
 Gostaria de agradecer primeiramente aos meus pais, ao meu padrasto, à 
 minha irmã e aos meus avós por fornecerem o suporte necessário para eu chegar 
 até ao final do meu curso. Vocês foram aqueles que celebraram minha conquista de 
 entrar na faculdade e agora celebram comigo o fim desse ciclo. Sem todo esse 
 apoio eu não estaria aqui. 
 Aos meus amigos e primos, muito obrigado por dividirem as alegrias e 
 angústias da vida universitária. De vocês eu recebi otimismo e companheirismo e 
 por isso sou grato. 
 Agradeço por ter passado pelo CETO e pelo Laboratório de análise clínicas 
 do HUOL, nesses dois lugares conheci ótimos profissionais que me inspiraram e me 
 motivaram a aprender e querer seguir nessa carreira. 
 Obrigado à minha orientadora Lúcia, que desde 2018 me acompanha 
 transmitindo seu conhecimento, dividindo experiências e cobrando de mim para que 
 eu me desenvolvesse como profissional. 
 Encerro este ciclo com alegria e com sonhos tão grandes como este de se 
 formar. Agradeço a todos que torceram por mim e saibam que torço também pelo 
 sucesso de cada um que foi citado aqui. 
 As coisas não são difíceis de fazer, o difícil é nos dispormos a 
 fazê-las. 
 Constantin Brancusi 
 RESUMO 
 A COVID-19 é uma doença de caráter multissistêmico que tem a possibilidade de 
 progredir para um estado crônico apresentando uma sintomatologia complexa e 
 diversificada devido à capacidade do vírus de se disseminar no corpo. A acupuntura 
 tem se mostrado uma técnica eficaz no tratamento da infecção com efeitos positivos 
 na redução da intensidade dos sintomas, como também, no tempo de internação 
 dos pacientes. Este trabalho se propõe a compreender o processo patológico 
 ocasionado na infecção pelo vírus na visão ocidental e oriental, relatar os principais 
 sintomas apresentados pelos pacientes e apresentar as estratégias de tratamento 
 utilizadas na intervenção terapêutica dos pacientes fazendo uso da acupuntura. 
 Palavras-chave: COVID-19; Tratamento; Acupuntura; Infecção. 
 ABSTRACT 
 COVID-19 is a multisystem disease that has the possibility of progressing to a 
 chronic state with complex and diverse symptoms due to the ability of the virus to 
 spread in the body. Acupuncture has been shown to be an effective technique in the 
 treatment of infection with positive effects in reducing the intensity of symptoms, as 
 well as in the length of hospital stay of patients. This work aims to understand the 
 pathological process caused by the virus infection in the western and eastern view, 
 report the main symptoms presented by patients and present the treatment 
 strategies used in the therapeutic intervention of patients using acupuncture. 
 Keywords: COVID-19 ; Acupuncture; Treatment ; Infection. 
 LISTA DE FIGURAS 
 Figura 1 – Esquema representativo das relações dos 5 movimentos………. 16 
 Figura 2 – Qi do fígado como facilitador do fluxo homogêneo de Qi no 
 corpo…………………………………………………………………… 
 21 
 Figura 3 – Trajeto dos canais principais do corpo…...……………………....... 32 
 Figura 4 – Medidas do cun............................................................................. 36 
 Figura 5 – Classificações para as manifestações da COVID-19.................... 39 
 Figura 6 – Esquema estrutural do vírus SARS-CoV-2…………….................. 40 
 Figura 7 – Ilustração do processo de invasão celular……………………….... 41 
 Figura 8 – Representação da distribuição tecidual do receptor ACE2…….... 42 
 Figura 9 – Demonstração dos possíveis órgãos afetados, como também os 
 prováveis sintomas que surgem a longo-prazo decorrentes da 
 infecção viral…………………………………………………………... 
 43 
 Figura 10 – Principais sintomas relatados na fase crônica da COVID-19……. 48 
 LISTA DE QUADROS 
 Quadro 1 – Características Yin e Yang…………………………………………. 13 
 Quadro 2 – Aspectos dos Oito princípios…...………………………………….. 14 
 Quadro 3 – Características dos 5 Elementos………………………………….. 17 
 Quadro 4 – Descrição das medidas do cun…………………………………… 36 
 Quadro 5 – Representação dos sintomas relatados na literatura acerca da 
 infecção por COVID-19…………………………………………….. 
 44 
 Quadro 6 – Representação dos pontos utilizados no tratamento com 
 acupuntura para COVID-19………………………………………... 
 51 
 SUMÁRIO 
 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 13 
 1.1 Teoria do Yin Yang 13 
 1.1.1 Oito princípios 14 
 1.2 Teoria dos Cinco Elementos ou Cinco Movimentos 15 
 1.3 Teoria do Zang Fu 17 
 1.4 Substâncias vitais 29 
 1.4.1 Qi 29 
 1.4.2 Essência (Jing) 29 
 1.4.3 Sangue (Xue) 30 
 1.4.4 Líquidos orgânicos (Jin Ye) 30 
 1.4.5 Mente (Shen) 30 
 1.6Canais de energia ou Meridianos 31 
 1.7 Fundamentação da Acupuntura 34 
 1.7.1 Sistema métrico da acupuntura 35 
 2 OBJETIVO 37 
 3 METODOLOGIA 37 
 4 COVID-19 NA VISÃO OCIDENTAL 38 
 4.1 Fisiopatologia da COVID-19 40 
 5 SINTOMAS TARDIOS DA COVID-19 43 
 6 ETIOPATOGENIA NA MTC 48 
 6.1 Causas exteriores de doenças na MTC 49 
 7 TRATAMENTO DA COVID-19 COM ACUPUNTURA 51 
 8 DISCUSSÃO 57 
 9 RESULTADOS 59 
 9.1 Principais pontos utilizados no tratamento da COVID-19 59 
 10 CONCLUSÃO 65 
 REFERÊNCIAS 66 
 1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é o termo empregado para o 
 conjunto de conhecimentos e técnicas desenvolvidos no decorrer dos anos na 
 China. Ela é considerada uma das mais antigas formas de medicina do oriente e 
 possui como fundamento principal as teorias que são base para a compreensão 
 do funcionamento do corpo e de sua relação com o ambiente, sendo elas: a teoria 
 do Yin e Yang, teoria dos 5 elementos e teoria do Zang-Fu (33)(15). 
 1.1 Teoria do Yin Yang 
 O conceito que define a teoria do Yin Yang é o de duas forças opostas, 
 porém complementares, que coexistem e não se anulam e nem deixam de existir 
 mediante um ao outro. Pode-se dizer que o conceito de Yin/Yang permeia toda a 
 lógica da MTC, desde os conceitos teóricos, à fisiologia e à prática clínica. 
 Historicamente associa-se os primeiros pensamentos racionais acerca do 
 Yin e do Yang a partir do ciclo dia e noite, no qual um se torna o outro, mas são 
 opostos por natureza fechando um ciclo de transformação e de 
 complementaridade, uma vez que o dia não existe sem a noite, o Yin não existe 
 sem o Yang e vice-versa. A sombra, o frio, a ausência, entre outros fatores 
 possuem características que se enquadram no conceito de Yin e a luz, o calor, a 
 abundância e o “cheio” são tidos como de natureza Yang. Outros elementos para 
 melhor ilustrar a natureza Yin e Yang podem ser observados na tabela abaixo. 
 Quadro 1 - Características Yin e Yang. 
 Aspectos da natureza Aspectos do corpo 
 Características 
 patológicas 
 Yin 
 Lua, noite, frio, 
 mulher, inverno 
 Porção interna, região 
 infradiafragmática, 
 centro do corpo, 
 órgãos internos 
 Calma, fraca, fria, 
 úmida, fraqueza, 
 hipofuncionalidade, 
 crônica 
 Yang 
 Sol, calor, verão, 
 homem, dia 
 Superfície corpórea, 
 região dorsal, porção 
 supradiafragmática, 
 vísceras corporais 
 Intensa, aguda, 
 quente, 
 hiperfuncionalidade, 
 agitada, seca 
 14 
 Fonte: Elaboração própria. Adaptado de (33). 
 A partir do ponto de vista do Yin e do Yang pode-se perceber que o 
 universo e a vida estão em constante mudança entre estágios opostos, tudo está 
 dentro de um ciclo de transformação e mudança, o mundo é compreendido como 
 sendo resultado da unidade contraditória desses dois princípios. 
 Essa contradição de forças se manifesta de forma relativa, uma vez que nada é 
 totalmente Yin como também nada é totalmente Yang. Essa relatividade se dá 
 pelo fato de que qualitativamente algo só é considerado Yin ou Yang quando 
 comparado com outro, tudo só pertence ao Yin e Yang quando comparado com 
 algo mais. 
 O que existe dentro da dinâmica do Yin e Yang é o equilíbrio dinâmico entre 
 essas duas forças dentro da matéria, essa proporção é variável para cada objeto 
 de análise e pode ser comparada a temperatura corporal, que é tido como padrão 
 37°C, mas com o decorrer dos dias, semanas, estações, etc pode variar dentro 
 de uma faixa que pode ser considerada “normal”. O mesmo ocorre para essas 
 duas forças(Yin e Yang), as patologias surgem no corpo do indivíduo quando 
 esse equilíbrio se quebra e um uma força se torna mais abundante que a outra 
 (33)(34). 
 1.1.1 Oito princípios 
 Na MTC a teoria dos oito princípios é empregada para analisar as 
 desarmonias enquadrando-as em aspectos específicos. Essa análise ocorre a 
 partir da diferenciação dos sinais e sintomas agrupando-os em uma lógica de 
 quatro padrões polares de natureza anatômica e fisiológica, esses quatro 
 aspectos dão origem aos oito princípios que podem ser observados no quadro 
 abaixo (33)(34). 
 Quadro 2 - Aspectos dos Oito princípios 
 Aspecto Oito princípios 
 Profundidade no corpo Interno Externo 
 Natureza térmica Frio Calor 
 Estado energético Deficiência Excesso 
 Yin e Yang Yin Yang 
 15 
 Fonte: Elaboração própria. Adaptado de (33). 
 1.2 Teoria dos Cinco Elementos ou Cinco Movimentos 
 A teoria dos 5 elementos teve origem a partir da observação da natureza, 
 da classificação da matéria e da percepção de seus movimentos de 
 transformação. O pensamento chinês classifica toda a matéria do universo como 
 sendo constituída por 5 elementos, que são representados pela Água, Madeira, 
 Fogo, Terra e Metal. Essa classificação não afirma que a substância de um 
 material é constituída do elemento em si, mas sim relaciona a conotação que o 
 elemento representa na natureza. Eles dão origem uns aos outros de forma 
 recíproca, há uma sucessão contínua dos elementos e os mesmos 
 condicionam-se uns aos outros. A teoria dos 5 elementos é utilizada na MTC para 
 entender e explicar a fisiologia, as patologias e as interações do corpo com o 
 meio externo. 
 Cada elemento se relaciona com os demais a partir de 3 ciclos: geração, 
 dominância e contra-dominância. O ciclo de geração é também chamado de 
 mãe-filho pois nesse ciclo cada elemento vai fornecer a energia para que haja o 
 surgimento de outro, no ciclo de dominância há o governo e restrição de um 
 elemento sobre o outro com o objetivo de equilíbrio mútuo entre eles, já o ciclo de 
 contra- dominância seria a manifestação da falta de controle normal das relações 
 entre os elementos. Essas relações são esquematizadas em forma de diagrama 
 como pode ser visto abaixo: 
 16 
 Figura 1 - Esquema representativo das relações dos 5 movimentos 
 Fonte: (37) 
 Os 5 elementos descrevem qualidades diversas que são intrínsecos à natureza, 
 eles não representam apenas o material, mas sim representam processos de 
 interação, transformação e movimentação que se enquadram dentro da 
 perspectiva de cada elemento (15)(33)(34). Na prática observa-se que cada 
 elemento possui correlações com uma emoção particular, um tecido, um órgão do 
 sentido, uma faculdade mental, uma cor, um clima, um sabor, um odor e entre 
 outros. Esses aspectos tem a ver, principalmente com o elemento que eles se 
 associam e podem ser observados na tabela abaixo: 
 17 
 Quadro 3 - Características dos 5 Elementos. 
 Cinco elementos Madeira Fogo Terra Metal Água 
 Zang Fígado Coração Baço/Pâncreas Pulmão Rim 
 Fu Vesícula BIliar 
 Intestino 
 delgado Estômago 
 Intestino 
 grosso Bexiga 
 Órgão dos sentidos Olhos Língua Boca Nariz Ouvidos 
 Tecido Tendões Vasos Músculos Pele/pelos Ossos 
 Emoção Raiva Alegria Preocupação Tristeza Medo 
 Expressão/Som Grito Riso Canto Choro Gemido 
 Cor Verde Vermelho Amarelo Branco/Cinza Preto 
 Odor Rançoso Queimado Aromático Fétido Podre 
 Sabor Ácido Amargo Doce Picante Salgado 
 Estado climático Vento Calor Úmido Seco Frio 
 Movimento Expansivo Ascendente Circular Contração Descendente 
 Fonte: Elaboração própria. Adaptado de (33). 
 1.3 Teoria do Zang Fu 
 Nesta teoria háa descrição base da fisiologia do corpo sobre a ótica da 
 MTC, nela observa-se a descrição das relações dos órgãos internos( Zang ), 
 vísceras( Fu ) e substâncias vitais( Qi, Xue, Jing, Jin Ye e Shen ), como também, de 
 suas funções permitindo ao profissional compreender o funcionamento do corpo e 
 os tipos de alterações patológicas. A teoria do Zang Fu se faz essencial para a 
 prática clínica pois é a partir dela que se entende as relações do corpo e as 
 atividades essenciais para a vida. 
 Os órgãos são denominados de “ Zang ” e possuem a função de produção 
 no corpo, eles vão ser responsáveis pela produção de substâncias para nutrir as 
 atividades vitais. Com relação às vísceras, denominadas de “ Fu ”, possuem a 
 função de armazenamento, é neles que os produtos da transformação ou a 
 matéria que será expelida serão estocados até terem os seus devidos fins. 
 Cada órgão pertence a um elemento como também cada víscera, são 
 esses: o órgão da Madeira é o Fígado e a víscera é a Vesícula Biliar, o órgão do 
 Fogo é o Coração e a víscera o Intestino Delgado, na Terra temos como órgão o 
 Baço/Pâncreas e como víscera o Estômago, no Metal o órgão é o Pulmão e a 
 víscera é o Intestino Grosso e, por fim, na água temos os Rins como os órgãos e 
 18 
 a Bexiga como a víscera. 
 A teoria do Zang Fu baseia-se nos principais 6 órgãos e nas principais 6 
 vísceras, estes se associam e desenvolvem relações íntimas entre si e entre os 
 demais tecidos do corpo a partir de canais colaterais de transporte de energia e 
 matéria. Cada órgão possui sua função, que contribui e depende do bom 
 funcionamento do todo e a partir desse conceito pode-se perceber como ocorre o 
 aparecimento de uma doença e sua dispersão para demais áreas do corpo. 
 Portanto, para compreensão desta teoria como também da MTC como um todo 
 deve-se compreender que os conceitos de órgãos, vísceras, canais, meios de 
 transporte, entre outros não se correlacionam com os da medicina moderna. Os 
 conceitos da MTC foram obtidos a partir da observação do padrão de saúde e do 
 padrão de doença durante anos e se consolidaram por meio da prática clínica 
 (15)(33)(34). 
 Como dito anteriormente, cada órgão e cada víscera na MTC tem um 
 conceito vasto quando comparado com a medicina ocidental, para o pensamento 
 chinês. os Zang-Fu são entidades energéticas que se manifestam em diversos 
 aspectos do corpo e da vida, suas funções podem ser vistas abaixo: 
 Funções do Coração (33)(34). 
 - Governar o Sangue 
 O coração é o responsável pela produção de sangue e pela sua 
 circulação, ele recebe o Qi proveniente dos alimentos e o produz. Um 
 coração saudável fornecerá ao corpo o sangue necessário, e o corpo terá 
 energia e vitalidade para realizar suas atividades. 
 - Controlar os vasos sangüíneos. 
 Esta função está relacionada com o estado dos vasos sanguíneos, 
 porque o estado do Qi do coração é refletido nos vasos sanguíneos e no 
 pulso. Se o coração está funcionando plenamente, os vasos sanguíneos 
 estão cheios e o pulso é regular. 
 - Manifestar-se na compleição 
 Como o coração controla o sangue, ele também é responsável pela 
 19 
 distribuição do sangue, de modo que o estado do coração pode ser 
 observado na cor da pele, principalmente na composição das fases, devido 
 à vascularização da área e à superficialidade dos vasos. 
 - Abrigar a Mente ( Shen ) 
 A MTC afirma que o coração é a residência da mente, sendo essa 
 “mente” denominada de Shen . Dentre as definições para a palavra Shen , 
 destaca-se o conceito para faculdades mentais, portanto pode-se dizer que 
 as capacidades intelectuais, o bom uso da razão e a lucidez “residem” no 
 coração. 
 - Relacionar-se à alegria 
 A emoção do coração é a alegria, essa emoção em estado normal é 
 a responsável por favorecer o funcionamento regular dos Órgãos Internos 
 e de suas faculdades mentais, contudo a alegria como agente patológico 
 acontece quando se tem a alegria excessiva, um estado de euforia que se 
 assemelha a um comportamento compulsório. 
 - Abrir-se na língua 
 O coração conecta-se com a língua como sendo o seu órgão dos 
 sentidos, portanto o coração influencia no estado da língua, ele é o 
 responsável por definir a cor, forma e a aparência da língua, 
 principalmente com a área da ponta da língua. Além do aspecto físico, o 
 coração também influencia no estado do paladar e da fala. 
 - Controlar a sudorese 
 A partir da ideia de que o coração controla o sangue e que o sangue 
 relaciona-se com os fluidos corpóreos, podemos dizer que o coração 
 influencia na transpiração. O sangue e os fluidos corporais se transformam 
 mutuamente, por exemplo, quando o sangue está muito denso os líquidos 
 corpóreos penetram os vasos para diluí-lo. 
 Funções do Fígado (33)(34). 
 - Armazenar o Sangue 
 20 
 A atividade reguladora do sangue exercida pelo fígado está 
 diretamente ligada ao volume de sangue disponível na circulação. Essa 
 função se divide em três aspectos: regulação do volume do sangue em 
 estado de descanso/atividade e regulação da menstruação. 
 No primeiro aspecto há a regulação dependente de atividade física, 
 quando o corpo está em atividade, o sangue é liberado para os músculos e 
 para os tendões e em estado de descanso, o sangue flui de volta para o 
 fígado. Em repouso o sangue retorna para o fígado com o objetivo de 
 restaurar as energias da pessoa e, ao ser liberado durante o exercício, o 
 mesmo fortalece os músculos e tendões para capacitá-los a exercer a 
 atividade física. 
 A função do fígado em armazenar o sangue está diretamente ligada 
 à menstruação, o estado do sangue do fígado se revela no sangue 
 menstrual e, por consequência, essa função influi diretamente na fisiologia 
 e patologia feminina. Por exemplo, se o sangue do fígado está estagnado 
 o período menstrual pode ser marcado por muitas dores e por coágulos no 
 sangue. 
 - Assegurar o fluxo homogêneo do Qi 
 As palavras chinesas utilizadas para explicar essa função são “ Shu ” 
 e “ Xie ” que tem sentido de “dispersar, espalhar” e “descarregar, libertar, 
 ventilar”, respectivamente. Cada Qi no corpo possui um movimento que é 
 natural para o mesmo e seu funcionamento regulado é marcado pelo Qi 
 fluindo normalmente, o fígado é o órgão que atua como centro de controle 
 fornecendo a energia necessária para o funcionamento regular, garantindo 
 o fluxo homogêneo. A imagem abaixo ilustra o raciocínio supracitado: 
 21 
 Figura 2 - Qi do fígado como facilitador do fluxo homogêneo de Qi no 
 corpo. 
 Fonte: Elaboração própria. Adaptado de (33). 
 - Controlar os tendões 
 Os tendões são o tecido do corpo que estão diretamente ligados ao 
 fígado e o funcionamento saudável deles é diretamente dependente da 
 função de armazenamento de sangue do fígado, portanto a força e a 
 capacidade de contração e relaxamento dos tendões depende e é 
 controlado pelo fígado. 
 - Manifestar-se nas unhas 
 As unhas são tidas na MTC como uma extensão dos tendões e, 
 como tal, são dependentesdo estado energético do fígado, que irá se 
 manifestar no estado das unhas. 
 - Abrir-se nos olhos 
 A função de armazenamento do sangue também está ligada aos 
 olhos, que são os órgãos dos sentidos conectados ao fígado. O fígado 
 fornece o sangue que nutre e umedece os olhos e os dá a capacidade de 
 ver. 
 22 
 - Abrigar a Alma Etérea 
 A alma Etérea é o aspecto mental do ser humano que o faz 
 encontrar sentido e dá direcionamento, ela é a fonte de vida, propósito, 
 projetos, inspiração, entre outros. O fígado, quando saudável, firma a Alma 
 Etérea, a qual auxilia o corpo no planejamento da vida com sabedoria e 
 perspectiva, em outras palavras, garante um sentido para vida. 
 Funções do Pulmão (33)(34). 
 - Governar o Qi e a respiração 
 O pulmão inala o Qi puro do ar e exala o Qi impuro, essa troca é 
 importante para a manutenção fisiológica do corpo. O Qi puro é extraído 
 pelo pulmão, é combinado com o Qi dos alimentos proveniente do baço 
 para a formação do Qi de reunião e é dispersado para todo o corpo com o 
 objetivo de nutrir os órgãos e tecidos. 
 - Controlar a dispersão e a descida de Qi e Fluidos Corpóreos 
 O pulmão possui a função de dispersar o Qi defensivo para todas as 
 partes do corpo e para o espaço entre a pele e músculos, razão pela qual 
 ele se relaciona diretamente com a pele. É o pulmão o órgão responsável 
 pela distribuição do Qi para o corpo garantindo as funções de defesa e 
 aquecimento dos músculos. 
 Como o pulmão é o órgão mais acima do tórax, o movimento de 
 dispersão do seu Qi é o de descida.A função de descida se dá também 
 para a dispersão dos fluidos corpóreos, garantindo que a pele esteja 
 umedecida, regulação da abertura e fechamentos dos poros e controle da 
 sudorese. 
 - Regular todas as atividades fisiológicas 
 Uma vez que o pulmão é responsável pela dispersão do Qi, pelo 
 controle dos vasos, pela respiração e pela formação do Qi de reunião, sua 
 atividade no organismo possui a função de administrar e de ajudar na 
 regulação das atividades fisiológicas do corpo como um todo. 
 23 
 - Controlar o muco nasal 
 O muco nasal é produzido a partir do processo de dispersão do Qi e 
 dos líquidos corpóreos, quando essa função ocorre de forma correta o 
 nariz é umidificado e corretamente lubrificado para garantir a defesa contra 
 agentes patógenos. 
 Funções do Baço (33)(34). 
 - Governar a transformação e o transporte 
 O baço é o órgão responsável por transformar os alimentos 
 ingeridos para captação do Qi, ele faz a separação das partes utilizáveis 
 para as não utilizáveis. Após essa fase de transformação o que foi extraído 
 é encaminhado para o pulmão para se somar ao Qi do ar e ser distribuído 
 para os órgãos do corpo e para o coração onde será usado para a 
 produção de sangue. 
 - Controlar o Sangue 
 A função do baço de fazer subir o Qi controla o sangue no sentido 
 de sustentá-lo e de fazê-lo permanecer nos vasos mantendo a boa 
 circulação. Além da função de sustentação, o baço auxilia na produção de 
 sangue ao fornecer a energia dos alimentos necessária para esse 
 processo. 
 - Controlar os músculos e os quatro membros 
 O baço é o órgão mais importante na disposição de energia física do 
 corpo, pois, a partir da energia extraída dos alimentos, se obtém o Qi que 
 será refinado para fortalecimento dos músculos. 
 - Abrir-se na boca e manifestar-se nos lábios 
 A relação entre a boca e o baço acontece pelo processo de 
 preparação dos alimentos, é a partir da mastigação que o alimento começa 
 a ser processado para no fim ser transformado e transportado pelo baço, 
 portanto a relação entre boca e baço é funcional e o bom estado do baço 
 influi na mastigação forte e num paladar saudável. 
 Os lábios refletem o estado do baço, mais especificamente, a coloração e 
 24 
 a umidade dos lábios são refletidos pelo estado de Qi do Baço. 
 - Abrigar o Intelecto 
 O baço é responsável pelo fortalecimento do pensamento, que é 
 aplicado ao estudo, memorização, concentração, entre outras atividades 
 mentais. Essa função se dá pelo fato de que o Qi pós celestial e o sangue 
 são a base para a vitalidade da mente e, sendo o baço o responsável pela 
 produção dos mesmos, sua atividade influi no estado da mente. 
 - Ser afetado pelo estado de ficar pensativo 
 O sentido do movimento da terra é o centrípeto, sendo este um 
 movimento circular que tende a se aproximar do centro. O estado 
 pensativo patológico é o de preocupação excessiva, preso a um ciclo, é um 
 pensamento constante é um estado de obsessão equivalente ao excesso 
 de concentração e de foco em um ou mais assuntos específicos. Esse 
 estado afeta o baço como efeito patológico, como também, pode ser 
 sintoma clínico de uma estado de desequilíbrio no órgão. 
 Funções do Rim (33)(34). 
 - Armazenar Essência e governar nascimento, crescimento, reprodução e 
 desenvolvimento 
 A essência do Rim é composta pelas essências pré e pós celestial. 
 O rim é o órgão responsável pelo armazenamento do produto refinado pela 
 digestão dos alimentos e é o local em que é mantida a energia proveniente 
 da concepção, portanto pode-se dizer que o rim é o responsável pelo 
 combustível para vários estágios da vida. Fazendo uma correlação com a 
 medicina ocidental o rim é o responsável pelas fases de mudança 
 hormonal. 
 - Produzir Medula, abastecer o cérebro e controlar ossos. 
 A essência é base orgânica da medula, sendo essa a fonte material 
 para a formação dos ossos, medula óssea e espinha dorsal. Portanto a 
 função de armazenamento e de fonte da essência do corpo influi 
 diretamente na formação e fortalecimentos da mente e dos ossos. 
 25 
 - Governar a Água 
 O rim pertence ao elemento água e por isso é o órgão responsável 
 pelo transporte e transformação dos líquidos de todo o corpo, ele é o 
 principal comandante da micção, da absorção da água pelos intestinos e 
 separação dos líquidos puros e impuros. 
 - Controlar a recepção do Qi 
 O Qi do pulmão flui para baixo e cabe ao rim receber esse fluxo e 
 mantê-lo, caso o rim falhe em sua função o curso do Qi ascende e 
 problemas como asma são observados. 
 - Abrir-se nos ouvidos 
 Os ouvidos são os órgãos do sentidos da água, portanto o Qi do rim 
 influencia na saúde da audição. 
 - Manifestar-se nos cabelos 
 Características como crescimento, aspecto e cor dos cabelos são 
 definidos pela essência do rim. 
 - Controlar os dois orifícios inferiores 
 Os orifícios inferiores são vistos na MTC como a uretra, o ânus e, 
 para os homens, o ducto espermático. O rim é o responsável pela abertura 
 e controle do fluxo dos mesmos. 
 - Abrigar a Força de Vontade (Zhi) 
 O Rim saudável fortalece a mente ao abrigar a força de vontade 
 garantido ao indivíduo vitalidade e propósito. 
 Funções do Estômago (33)(34). 
 - Controlar a "recepção" 
 O estômago recebe os líquidos e alimentos e os retém, essa função 
 tem um sentido literal, mas também possui um sentido mais subjetivo, que 
 é o de controle do que é recebido. A função de recepção também se26 
 relaciona com o apetite, uma recepção saudável apresenta um apetite 
 regulado e um fluxo dos alimentos dentro da normalidade. 
 - Controlar a maceração e a decomposição dos alimentos 
 Esse processo é o preparo, por meio da fermentação dos alimentos, 
 do substrato para o baço separar e extrair a essência do bolo alimentar. 
 Esse papel inicial, juntamente com o baço, garante ao estômago o papel 
 de constituir o Qi do organismo, sendo eles denominados de “Raiz do Qi 
 pós-celestial”. 
 - Controlar o transporte das essências dos alimentos 
 É atribuída ao estômago e ao baço a função de transportar o Qi 
 para as demais áreas do corpo, principalmente para os membros, portanto 
 se o estômago apresenta-se saudável há a extração e transporte do Qi e o 
 corpo possui força e vigor. 
 - Controlar a descida do Qi 
 O estômago é a porta de entrada para os alimentos e é o início do 
 caminho de descendência do bolo alimentar no corpo, o Qi do estômago 
 desce e envia os alimentos transformados para o intestino delgado. 
 - Ser a origem dos fluidos 
 O estômago para realizar sua função de transformação e 
 decomposição necessita de umidade, uma vez que os líquidos são 
 necessários para a extração da essência dos alimentos. Os fluidos são 
 obtidos a partir do próprio processo de digestão exercido pelo estômago, 
 ele garante que parte do que não foi decomposto se condense para a 
 formação dos fluídos corpóreos. 
 Funções do Intestino Delgado (33)(34). 
 - Controlar a recepção e a transformação 
 O intestino delgado é responsável pela separação do puro, que é 
 direcionado para o baço, e do impuro dos alimentos provenientes do 
 estômago 
 27 
 - Separar os fluidos 
 Sua função na separação dos fluidos é semelhante à de sua função 
 de separação dos alimentos, contudo se diferencia no direcionamento que 
 é dado para cada um. Os fluidos descem do estômago, eles são então 
 separados, a parte pura vai para a Bexiga e a impura é direcionada para o 
 intestino grosso. 
 Funções do Intestino grosso (33)(34). 
 - Controlar a passagem e a condução 
 O intestino grosso recebe o alimento digerido do intestino Delgado, 
 para posteriormente transformá-lo em fezes e garante que elas sejam 
 movidas e conduzidas para baixo. Essa função garante ao intestino grosso 
 ser o órgão de excreção do impuro. 
 - Transformar fezes e reabsorver fluidos 
 Essa função de reabsorção dos fluidos acontece para manutenção 
 do equilíbrio correto dos intestinos, para que não haja secura 
 (constipação), nem umidade (fezes amolecidas). 
 Funções da Vesícula Biliar (33)(34). 
 - Estocar e excretar a bile 
 A vesícula biliar é a única víscera a armazenar um fluido puro do 
 corpo e não substâncias impuras que serão decompostas. Sua função de 
 estocar e excretar a bile é a mesma que na medicina ocidental, o excesso 
 de Qi do fígado vai para a vesícula para produção de bile e sua liberação 
 nos intestinos auxilia na função do estômago e do baço na transformação 
 dos alimentos. 
 - Controlar a decisão 
 A capacidade de tomada de decisões é proveniente da vesícula 
 biliar, sua função no corpo ocorre como a mesma atuando como motivador 
 para a realização de propósitos. 
 - Controlar os tendões 
 28 
 Enquanto o fígado é responsável pelo controle, a vesícula se 
 responsabiliza pelo fornecimento de Qi para os tendões, fazendo com que, 
 em um estado de pleno funcionamento, os tendões tenham energia 
 necessária para realização de movimentos. 
 Funções da Bexiga (33)(34). 
 - Remover a água pela transformação do Qi 
 Dentro do processo de transporte e transformação dos fluidos no 
 corpo, a bexiga é responsável por receber o que foi separado no intestino 
 delgado, transformando-os em urina e em seguida armazená-la para futura 
 excreção. 
 Funções do triplo aquecedor (33)(34). 
 - O triplo aquecedor é um órgão que possui a função de mobilização do Qi e 
 das substâncias vitais pelo corpo, embora seja tido como um dos seis 
 órgãos Yang o triplo aquecedor não possui uma estrutura física em si, na 
 verdade representa áreas do corpo, sendo elas: 
 ● Aquecedor superior: região torácica acima do diafragma 
 ● Aquecedor médio: região epigástrica acima do umbigo 
 ● Aquecedor inferior: região abdominal abaixo do umbigo 
 Cada aquecedor possui a função de mobilização do Qi e das substâncias 
 vitais dos órgãos presentes naquela área corporal. 
 Funções do pericárdio (33)(34). 
 - O pericárdio é um órgão que se relaciona diretamente com o coração, 
 funcionando como uma cobertura externa do órgão que tem função de 
 proteção e de suporte. Suas funções fisiológicas são semelhantes às 
 funções do coração devido a sua proximidade com o mesmo e sua relação 
 íntima com ele. 
 29 
 1.4 Substâncias vitais 
 Na visão da MTC as funções do corpo são desempenhadas a partir da 
 interatividade de determinadas substâncias do corpo, elas são os constituintes 
 materiais e imateriais que constituem o que o pensamento chines considera por 
 corpo e mente. Os mecanismos que compõem o corpo e a mente são as 
 substâncias vitais, cada uma se manifesta de maneira peculiar, sendo umas 
 totalmente incorpóreas se apresentado como uma força ou energia no corpo até 
 como algo material com características físicas palpáveis. Todas as substâncias 
 vitais são, em algum nível, uma manifestação do Qi do corpo e da mente, elas 
 são: o Qi, sangue(Xue), líquidos orgânicos, mente( shen ) e essência( Jing ) 
 (33)(34). 
 1.4.1 Qi 
 O conceito para a palavra Qi não existe, pois sua tradução literal não e faz 
 possível de comunicar seu verdadeiro sentido, contudo os termos utilizados para 
 definir essa substância vital são: força material, matéria, éter, matéria-energia, 
 força vital, força da vida, poder vital e poder de mover. O Qi é a energia que move 
 os fenômenos do universo, que se apresenta com características materiais e 
 espirituais. 
 Na MTC, o Qi se expressa em diferentes formas no corpo com funções 
 diferentes para exercer uma atividade específica em lugares diferentes do corpo e 
 pode ser compreendido de duas formas: a primeira é pela energia produzida e 
 conduzida pelos órgãos internos com função de fortalecer e nutrir o corpo e a 
 mente e em segundo lugar é utilizados para descrever a atividade fisiológica dos 
 órgãos internos, quando utilizado nesse sentido o Qi representa o complexo de 
 atividades que o órgão desempenha (33)(34). 
 1.4.2 Essência ( Jing ) 
 O termo essência é utilizado para caracterizar uma substância que é 
 refinada, algo que é o resultado de um processo de refinamento e, por ser uma 
 substância refinada, possui um valor e uma necessidade de ser cuidado e 
 preservado. Para a MTC, a essência é dividida em três categorias: pré-celestial, 
 pós celestial e a essência do rim. 
 30 
 A essência pré-celestial é a energia que o corpo herda na concepção 
 originado da combinação das energias sexuais do homem e da mulher, ela é 
 responsável pela nutrição e crescimento do feto e determina a constituição física 
 do indivíduo. 
 A essência pós-celestial é a energia obtidaa partir da alimentação, quando 
 o indivíduo passa a se alimentar o pulmão, baço e estômago entram em atividade 
 para produzir essa substância. 
 Por fim, a essência do rim é um tipo peculiar pois é o produto da interação 
 do pré e pós celestial e possui um papel importante na fisiologia do corpo, ela é 
 produzida e estocada no rim, mas circula por todo o corpo e é a responsável por 
 determinar o crescimento, maturação sexual, reprodução e envelhecimento 
 (33)(34). 
 1.4.3 Sangue ( Xue ) 
 O sangue é uma forma de Qi denso e material, ele é derivado do Qi dos 
 alimentos obtidos pelo processo de transformação do baço e possui como 
 principal função é nutrir o organismo somando-se a ação nutriente e fortalecedora 
 do Qi. Outra função do sangue é a responsabilidade de umedecer o corpo 
 impedindo que as áreas do corpo sequem (33)(34). 
 1.4.4 Líquidos orgânicos ( Jin Ye ) 
 O termo utilizado para denominar essa substância é Jin Ye , que pode ser 
 traduzido como úmido, saliva ou fluido. Os líquidos orgânicos representam a parte 
 mais úmida das substâncias vitais, são obtidos a partir da alimentação e passam 
 pelo processo de separação e transformação desempenhado pelo baço. Esses 
 fluidos passam por um processo de separação do puro e do impuro, dos quais o 
 puro sobe para o pulmão para a distribuição no corpo e o impuro é encaminhado 
 para a bexiga para eliminação (33)(34). 
 1.4.5 Mente ( Shen ) 
 Essa é a forma mais subjetiva e imaterial do Qi e pode ser traduzido como 
 espírito ou mente, sendo “mente” a tradução que melhor se enquadra para a 
 definição de Shen como substância vital. O shen é o responsável pelas atividades 
 31 
 mentais e forma o agregado de funções que são a consciência, o pensamento, a 
 cognição, a memória, o sono, a inteligência, os sentidos, os sentimentos, entre 
 outras faculdades mentais (33)(34). 
 1.6 Canais de energia ou Meridianos 
 Os canais de energia, também chamados de meridianos, são os trajetos 
 pelos quais o Qi e o Xue fluem pelo corpo. São eles que promovem a ligação do 
 meio externo com o meio interno e se relacionam diretamente com os Zang-Fu, 
 como também os conectam às demais estruturas do corpo. É por meio do 
 conhecimento dos trajetos dos meridianos que se torna possível a ação 
 terapêutica das técnicas da MTC. 
 Cada órgão e víscera possui uma energia específica correspondente a 
 cada um dos 5 elementos, a qual é transmitida a partir dos meridianos. Os 
 acuponto são as manifestações do fluxo energético dos Zang-Fu no exterior e por 
 isso cada um constitui uma via de acesso ao interior do corpo e mais 
 especificamente aos órgãos internos. 
 Os meridianos dividem-se em diversas categorias, aqueles que se 
 relacionam diretamente com os órgãos internos se enquadram no conjunto de 
 canais de energia principais. Esses meridianos se distribuem por todo o corpo e 
 são responsáveis por fazer a ligação do alto e do baixo e da ligação do Yin e do 
 Yang, constituindo a unidade sistemática do corpo (35). 
 O grupo de canais de energia principais é constituído por doze meridianos 
 que se agrupam em: canais Yin da mão, canais Yang da mão, canais Yin do pé e 
 canais Yang do pé. A classificação de cada meridiano se dá pela sua natureza, 
 que corresponde às propriedades do órgão que este se relaciona, como também, 
 sentido de trajeto no corpo, entre outros fatores. De acordo com a teoria dos 
 cinco elementos cada órgão e víscera possui um movimento natural e este 
 conceito também permeia a manifestação dos canais de energia. (31)(32)(33)(35) 
 No membro superior temos os meridianos do Pulmão, Coração e 
 Pericárdio, que se agrupam como os meridianos Yin da mão e os meridianos do 
 Intestino Grosso, Intestino Delgado e Triplo Aquecedor constituindo os meridianos 
 Yang da mão. Nos membros inferiores os meridianos do Rim Baço/Pâncreas e 
 Fígado são agrupados como meridianos Yin do pé e os meridianos da Bexiga, 
 32 
 Vesícula biliar e Estômago são os meridianos Yang do pé. Os trajetos de cada 
 meridiano são ilustrados na figura a seguir: 
 Figura 3 - Trajeto dos canais principais do corpo. 
 Fonte: (38) 
 Como ilustrado pela figura 3, cada meridiano tem localização bilateral no 
 33 
 corpo. Os meridianos de natureza Yin possuem um trajeto que se origina na parte 
 central e percorrem um caminho até se encerrarem nos membros, em 
 contrapartida os meridianos de natureza Yang se originam nos membros e 
 encerram seus percursos na parte central. Cada trajeto de cada meridiano é 
 único e possuindo uma quantidade específica de pontos cada: 
 - Meridiano do Pulmão: 11 pontos. Começa no tórax abaixo da clavícula, 
 segue no sentido radial do braço e termina na mão, mais especificamente 
 no polegar (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano do Intestino Grosso: 20 pontos. Começa na mão, partindo do 
 indicador percorre radialmente pelo dorso do braço e termina na cabeça, 
 lateral à aba do nariz (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano do Estômago: 45 pontos. Começa na cabeça abaixo do olho, 
 desce ventralmente pelo corpo e termina no pé na extremidade lateral do 
 segundo dedo (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano do Baço-Pâncreas: 21 pontos. Começa no pé na extremidade 
 medial do primeiro dedo, sobe medialmente pela perna e termina no tórax 
 no sexto espaço intercostal (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano do Coração: 9 pontos. Começa no tórax, no centro da axila, 
 segue anteriormente pelo sentido ulnar no braço e termina na mão na 
 extremidade medial do dedo anelar (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano do Intestino Delgado: 19 pontos. Começa na mão, na 
 extremidade medial do dedo mínimo, segue posteriormente no sentido 
 ulnar, passa pela escápula e face e termina na cabeça anterior ao trago 
 (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano da Bexiga: 67 pontos. Começa na cabeça na margem interna o 
 ângulo palpebral, sobe pela fronte e desce occipitalmente, bifurca-se no 
 dorso descendo paralelamente à coluna, unifica-se na área posterior do 
 joelho e termina no pé na extremidade lateral do quinto dedo. 
 (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano do Rim: 27 pontos. Começa no pé, na face plantar, sobe 
 medialmente pela perna, sobe pelo abdômen e termina no tórax abaixo da 
 borda inferior da clavícula (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano do Pericárdio: 9 pontos. Começa no tórax no quarto espaço 
 34 
 intercostal, desce anteriormente pelo centro braço e termina na mão na 
 extremidade do dedo médio (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano do Triplo Aquecedor: 23 pontos. Começa na mão na 
 extremidade medial do dedo anelar, sobe posteriormente pelo centro do 
 braço e termina na cabeça na extremidade lateral da sobrancelha. 
 - Meridiano da Vesícula Biliar: 44 pontos. Começa na Cabeça na borda 
 lateral da pálpebra, desce lateralmente pelo corpo e termina no pé na 
 extremidade lateral do quarto dedo (31)(32)(33)(35). 
 - Meridiano do Fígado: 14 pontos. Começa no pé na extremidade lateral do 
 primeiro dedo, sobe medialmente pela perna e termina no tórax no sexto 
 espaço intercostal (31)(32)(33)(35). 
 Além doschamados meridianos principais, no corpo podem ser 
 encontrados vasos extraordinários e um conjunto denominado de pontos extras. 
 Os pontos extras são acupontos que possuem funções energéticas próprias e 
 localizações determinadas, mas que não se localizam em um trajeto de meridiano 
 específico. 
 Os vasos extraordinários representam um grupo de meridianos que se 
 diferencia dos meridianos principais, eles não possuem uma relação 
 interior/exterior no corpo e não se relacionam diretamente com o Zang-Fu. Esse 
 grupo de meridianos tem função complementar na circulação de Qi e manutenção 
 do fluxo energético do corpo e atuam como reservatório de Qi do corpo. 
 Dentre os vasos extraordinários, os que devem ser destacados são o Vaso 
 Governador (VG) e o Vaso Concepção (VC). Eles são meridianos que possuem 
 trajetos específicos e manifestam acupontos próprios: 
 - Vaso Governador: 28 pontos. Percorre a linha média posterior do 
 corpo, inicia-se no cóccix, ascende pela coluna vertebral, percorre o 
 crânio, desce por entre os olhos e termina na gengiva. 
 - Vaso Concepção: 24 pontos. Inicia-se no períneo, sobe pela linha 
 média anterior e termina no queixo. 
 1.7 Fundamentação da Acupuntura 
 A acupuntura é um dos recursos terapêuticos mais conhecido da medicina 
 tradicional chinesa. Sua funcionalidade se dá por meio inserção de agulhas nos 
 35 
 acupontos dos meridianos com o objetivo de promover mobilização, a circulação 
 e o desbloqueio da energia, como também, da retirada das energias perversas 
 visando promover a harmonização e o fortalecimento dos Zang-fu e do corpo. É 
 por meio dos pontos de acupuntura dos Canais de Energia Principais que se faz 
 possível mobilizar todos os tipos de Energia do Canal, desse modo atuando sobre 
 o Qi dos Zang Fu 
 Para a compreensão e aplicação da técnica de acupuntura, inicialmente, 
 precisa-se compreender a concepção energética dos canais de energia e da 
 compreensão das funções dos pontos da acupuntura. Os pontos da acupuntura 
 são pontos situados nos canais de energia que se projetam na pele, cada ponto 
 possui características próprias e podem apresentar manifestações de 
 desarmonias dos órgãos internos por meio da dor ou de outro sinal orgânico. 
 A acupuntura usa desse princípios para promover sua ação terapêutica ao 
 exercer essa influência causada pelo estímulo das agulhas transmitindo-a pelos 
 canais de energia e comunicando-se com o Zang-Fu com o objetivo de 
 condicionar o corpo para tratamento de uma patologia.(35) 
 1.7.1 Sistema métrico da acupuntura 
 Como dito anteriormente, os acupontos possuem localizações 
 específicas no corpo. Cada acuponto pode ser localizado fazendo uso das 
 estruturas corporais sendo utilizadas como ponto de referência. A partir de 
 tendões, músculos, acidentes ósseos, entre outros é feita a medição pela unidade 
 de medida “cun” ou “tsun”. (40) 
 O cun é uma unidade de medida relativa individual e proporcional ao 
 tamanho do corpo, que é definida a partir de medidas dos dedos do paciente, 
 antes da localização dos pontos, o acupunturista deve analisar as medidas 
 comparando com as suas estruturas da mãos com as de seu paciente (40). 
 Seguem abaixo as representações dessa unidade de medida: 
 36 
 Figura 4 - Medidas do cun 
 Fonte: (40) 
 Quadro 4 - Descrição das medidas do cun 
 Fonte: (41) 
 37 
 2 OBJETIVO 
 Descrever, a partir das literaturas atuais, a sintomatologia da 
 Síndrome-pós-COVID, como também, analisar a viabilidade da acupuntura no 
 tratamento da COVID-19 e identificar os principais acupontos utilizados na prática 
 clínica. 
 3 METODOLOGIA 
 Esta revisão teve como foco fornecer uma descrição das principais 
 considerações obtidas a partir dos trabalhos publicados acerca do uso da 
 acupuntura no tratamento da COVID-19. Durante a pesquisa foram seguidas as 
 seguintes etapas: identificação das principais bases de dados a serem 
 consultadas, identificação dos trabalhos que abordassem a temática desejada, 
 discussão e análise dos dados presentes nos trabalhos selecionados. 
 A literatura obtida para realização desta revisão teve como principal base 
 de dados o PubMed, Embase e a Elsevier e foram selecionados trabalhos 
 publicados no período de Julho de 2020 até Agosto de 2022. Visto que foram 
 realizados dois tipos de levantamento de dados, os critérios para seleção de 
 trabalhos seguiram modelos distintos. 
 No primeiro momento houve a necessidade de identificação e descrição 
 dos sintomas relacionados às fases tardias da infecção pela COVID-19, portanto 
 os critérios de inclusão foram: estudos que possuiam versão completa disponível 
 para consulta, realização da pesquisa com pacientes acometidos pela COVID-19, 
 descrição dos índices de frequência, duração, gravidade e dos sintomas. 
 Em seguida, foi realizada a pesquisa acerca do tratamento da doença 
 fazendo uso da acupuntura. Para seleção dos trabalhos foram utilizados os 
 critérios: estudos que possuiam versão completa disponível para consulta, 
 realização da pesquisa com pacientes acometidos pela COVID-19, estudos que 
 avaliavam a evolução dos pacientes no tratamento, estudos que descreviam as 
 desarmonias observadas no paciente segundo a medicina tradicional chinesa e 
 38 
 estudos que fizeram uso da acupuntura no tratamento sem a utilização de outras 
 técnicas da medicina tradicional chinesa. 
 Como critério de exclusão para ambas as etapas da pesquisa foi 
 considerado se o trabalho encontrava-se na categoria de estudo clínico. 
 Como forma de sumarizar os dados encontrados na pesquisa o recurso 
 utilizado foi o google planilhas, onde os dados foram organizados em quadros 
 para uma melhor visualização das informações relevantes. 
 Na primeira etapa da pesquisa foram considerados doze trabalhos, sendo 
 eles: trabalho de revisão e/ou meta-análise (7), Editorial de pesquisa(1), Relato 
 de caso(1), Análise estatística (2) e Relatório(1). Neles foi estimado o número de 
 111 sintomas diferentes relatados. 
 No segundo momento, foram selecionados treze trabalhos, sendo eles: 
 relatos de caso (7), artigos de pesquisa (3) e artigos de orientação/editorial (3). 
 Nos quais foram identificados 86 acupontos diferentes utilizados. 
 As palavras chave utilizadas para realização da pesquisa foram: 
 COVID-19, acupunture , post-Covid e treatment. 
 4 COVID-19 NA VISÃO OCIDENTAL 
 A COVID-19, doença ocasionada pelo vírus sars-cov-2, possui 625 milhões 
 de casos confirmados mundialmente, com 6,57 milhões de óbitos (39). Dentre os 
 casos confirmados, a maioria desenvolve doença aguda moderada ou 
 assintomática, essa fase aguda pode durar de 2 a 3 semanas dependendo da 
 gravidade dos sintomas. 
 Inicialmente, as medidas de cuidados de saúde tomadas no início da 
 pandemia foram de conter a fase aguda e evitar progressão da doença para 
 casos mais graves. O Sars-coV-2 acomete inicialmente e de forma mais intensa 
 os pulmões impedindo as trocas gasosas, que pode levar ao esgotamento e 
 exaustão do sistema respiratório (síndrome respiratória aguda), contudo foi 
 observado que a longo prazo pacientes relatando sintomas, sinaise parâmetros 
 clínicos que podem possivelmente estar associados a acometimentos de efeito 
 crônico por COVID-19, efeitos que podem ser decorrentes da natureza 
 multissistêmica da doença, que desencadeia resposta inflamatória, produção de 
 39 
 substâncias endógenas durante a infecção e ocasiona alterações teciduais, 
 imunológicas e hematológicas. Portanto, apesar da recuperação da fase aguda, 
 uma porção dos pacientes que foram acometidos por essa fase tem apresentado 
 sintomas que persistem por mais tempo ou que retornam após um período de 
 ausência de sintomas (8). 
 O “UK’s current National Institute for Health and Care Excellence 
 guideline”(5) considera como “COVID-longo” sintomas que duram de 4 a 12 
 semanas e por síndrome pós-COVID quando os sintomas persistem por mais de 
 12 semanas. Um indivíduo infectado pela COVID-19, geralmente, manifesta seus 
 primeiros sintomas dentro de aproximadamente 4 a 5 dias após contato e 
 contaminação com o vírus, sendo os mais comuns: tosse, dores corporais e 
 musculares, perda do paladar e do olfato, febre, dor de garganta e diarreia (4) . 
 Esses são os que têm sido denominados de sintomas da fase aguda, o grau da 
 doença é caracterizada pela gravidade da manifestação dos sintomas pelo 
 paciente. A recuperação desses sintomas da infecção ocorrem em torno de 7 a 
 10 dias após o seu surgimento e, em casos de doenças críticas, possui uma 
 duração de 3 a 6 semanas. 
 Figura 5 - Classificações para as manifestações da COVID-19 
 Fonte: (4). 
 Os termos “COVID-Longo” ou "síndrome pós-COVID” têm sido utilizados 
 para descrever sintomas persistentes apresentados por indivíduos que já 
 passaram pela fase aguda. Geralmente o que se observa dos pacientes é que o 
 indivíduo infectado apresenta os sintomas da fase aguda, em seguida, após 
 tratamento e/ou acompanhamento médico nota-se uma fase de recuperação 
 clínica e posteriormente o aparecimento ou a reincidência dos sintomas. 
 40 
 4.1 Fisiopatologia da COVID-19 
 O SARS-CoV-2 é um vírus de RNA, pertencente à família Coronaviridae , é 
 o responsável por causar a doença COVID-19. Sua estrutura é composta por um 
 nucleocapsídeo viral, material genético, espícula de contato com receptores 
 celulares e membrana lipídica (1), como pode ser visto na figura 5. 
 Figura 6 - Esquema estrutural do vírus SARS-CoV-2 
 Fonte: (4). 
 O processo de disseminação do SARS-CoV-2 humano-humano geralmente 
 acontece pela exposição do indivíduo a partículas contaminadas presentes no ar. 
 Os primeiros sintomas da infecção, geralmente, são os relacionados ao trato 
 respiratório. A dispersão do patógeno no corpo acontece por meio da liberação do 
 mesmo na corrente sanguínea e pela interação e afinidade de sua proteína de 
 membrana com as proteínas da célula hospedeira (2). A ligação inicial do vírus 
 com a célula hospedeira é a primeira etapa da infecção, compreende-se que é 
 por meio da glicoproteína de membrana, denominada de proteína S, que se dá o 
 processo de invasão celular, essa proteína ao entrar em contato com o receptor 
 da célula promove a fusão das membranas (3). 
 Estudos sugerem que o SARS-CoV-2 possui sua maior afinidade com a 
 enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) (1), sugerindo que as células alvo 
 para a infecção do vírus sejam as que o expressam. A invasão direta do vírus na 
 célula hospedeira é mediada pela protease TMPRSS2, que promove a clivagem 
 da proteína S e facilita o processo de reconhecimento celular. 
 41 
 Figura 7 - Ilustração do processo de invasão celular 
 Fonte: (4) 
 A imunidade contra o vírus é, inicialmente, inespecífica (1) e sabe-se que a 
 resposta imunológica para este patógeno é um processo inflamatório mediado 
 inicialmente pelo interferon tipo 1(IFN-1). A presença subsequente a invasão 
 celular de antígenos virais na membrana celular resulta em um estímulo para a 
 resposta imunológica mediada por células B e T específicas para o patógeno, 
 além da resposta celular, a imunidade inata atua a partir do sistema complemento 
 por meio das proteínas C3a e C5a juntamente com anticorpos. Além disso, 
 células T helper atuam na produção de citocinas pró-inflamatórias para auxiliar na 
 resposta imunológica. 
 Com base nos estudos acerca do combate à infecção por SARS-CoV-2, 
 classifica-se a resposta inflamatória como resposta primária e resposta 
 secundária. A resposta primária é desencadeada logo a partir do momento de 
 infecção e invasão do vírus com objetivo principal de neutralização do patógeno, 
 a resposta secundária acontece a partir da atividade da imunidade adaptativa e 
 por anticorpos neutralizantes que mediam respostas inflamatórias para combater 
 a contínua replicação viral (1). 
 A infecção causa, inicialmente, a crise respiratória aguda devido ao contato 
 que o pulmão tem com o ambiente externo e o mesmo se torna bastante 
 susceptível a infecção devido a alta expressão da proteína de membrana ACE2 
 42 
 nas células do epitélio alveolar. Além do sistema respiratório, as células do 
 epitélio intestinal também apresentam a proteína em suas membranas e por 
 também terem um grande contato com o meio externo, juntamente com o pulmão, 
 são os órgãos considerados como a rota de disseminação do vírus pelo corpo. A 
 distribuição tecidual da ACE 2 é vasta por todo o corpo, permitindo que haja uma 
 disseminação do vírus para uma vasta gama de tecidos corporais, sendo eles 
 células tubulares do sistema renal, na camada basal da pele e demais células 
 epiteliais e endoteliais, como também, mas em menor quantidade por neurônios e 
 células da glia (2). 
 Figura 8 - Representação da distribuição tecidual do receptor ACE2 
 Fonte: (2) 
 43 
 5 SINTOMAS TARDIOS DA COVID-19 
 Por ser um novo vírus infectante, estudos recentes estão sendo realizados 
 para compreender sua fisiopatologia e definir os efeitos adversos da infecção a 
 longo-prazo. Victoria Higgins et al (6) em seu trabalho “COVID-19: from an acute 
 to chronic disease? Potential long-term health consequences” comenta que os 
 sintomas extrapulmonares e as manifestações do COVID-Longo podem ser 
 ocasionados pela larga disseminação do vírus pelo corpo, que causa uma 
 toxicidade viral direta ou por consequências imunopatológicas devido a resposta 
 de defesa do corpo, como dano celular, trombose associada a inflamação e 
 desregulação da resposta imune. 
 Figura 9 - Demonstração dos possíveis órgãos afetados, como também os 
 prováveis sintomas que surgem a longo-prazo decorrentes da infecção viral. 
 Fonte: (6) 
 A partir do observado na figura 8 e por meio da fisiopatologia da infecção 
 por SARS-CoV-2 pode-se concluir que se trata de uma infecção de caráter 
 multissistêmico. Diversas pesquisas ao redor do mundo têm dedicado atenção 
 para definir melhor quais são os sintomas e tecidos afetados durante todas as 
 fases da infecção. 
 Quadro 5 - Representação dos sintomas relatados na literatura acerca da 
 44 
 infecção por COVID-19 
 Título do artigo Tipo de trabalho 
 Sistemas/ Tecidos 
 afetados 
 Tempo de 
 duração 
 relatado dos 
 sintomas 
 Sintomasrelatados 
 6-month 
 consequences 
 of COVID-19 in 
 patients 
 discharged 
 from hospital: a 
 cohort study 
 (16) 
 Análise 
 estatística 
 Cardiovascular, muscular, 
 tegumentar, nervoso, 
 respiratório 
 6 meses 
 Fadiga, fraqueza 
 muscular, queda de 
 cabelo, dificuldades 
 para dormir, disfunção 
 olfativa, palpitações, 
 dores articulares, falta 
 de apetite, tontura, dor 
 no peito, dificuldade 
 para deglutir, 
 rachaduras na pele, 
 mialgia, dores de 
 cabeça, febre baixa, 
 problemas de 
 mobilidade, ansiedade 
 e depressão 
 Aspectos das 
 manifestações 
 da síndrome 
 pós-COVID-19: 
 uma 
 revisão 
 narrativa (7) 
 Revisão 
 Respiratório, 
 cardiovascular, renal, 
 endócrino, 
 gastrointestinal, 
 tegumentar, sanguíneo, 
 sensorial 
 Período de 3 a 
 24 semanas 
 fadiga, dispneia, dor 
 torácica, 
 manifestações, 
 depressão, ansiedade, 
 comprometimento 
 cognitivo, vascular, 
 acidente vascular 
 cerebral isquêmico e 
 encefalites, disfunção 
 olfativa, gustativa, 
 lesão renal aguda, 
 lesão hepática, artrites, 
 cefaleias recorrentes, 
 perda de 
 massa muscular, 
 disfunção 
 diafragmática, lesão 
 laríngea, disfagia, 
 disfonia, insuficiência 
 cardíaca, miocardite, 
 disfunções 
 ventriculares, arritmias, 
 trombose venosa 
 profunda, 
 tromboembolismo 
 pulmonar e 
 pericardite 
 45 
 Long COVID: 
 An overview (4) Revisão 
 Respiratório, muscular, 
 neurológico, 
 cardiovascular, 
 gastrointestinal, 
 tegumentar 
 Se estendem 
 por mais de 12 
 semanas 
 Fadiga, dispneia, dores 
 articulares, dor no 
 peito, ansiedade, 
 depressão, estresse 
 pós traumático, tosse, 
 disfunção olfativa, 
 disfunção gustativa, 
 dores de cabeça, 
 queda de cabelo, 
 disfunção de 
 concentração, 
 palpitações, mialgia, 
 insônia, diarreia 
 More than 50 
 Long-term 
 effects of 
 COVID-19: a 
 systematic 
 review and 
 meta-analysis 
 (17) 
 Revisão e 
 meta-análise 
 Cardiovascular, 
 respiratório, tegumentar, 
 neurológico 
 14 a 110 dias 
 Fadiga, dores de 
 cabeça, falta de 
 atenção, queda de 
 cabelo, dispneia, tosse, 
 desconforto peitoral, 
 fibrose pulmonar, 
 apneia do sono, 
 arritmia, miocardite, 
 depressão, ansiedade, 
 desordens obsessivas 
 compulsivas, suor 
 noturno, 
 Post‑COVID‑19 
 Symptom 
 Burden: What 
 is Long‑COVID 
 and How 
 Should We 
 Manage It? 
 (18) 
 Análise 
 estatística 
 Cardiovascular, 
 respiratório, nervoso 
 Duração do 
 sintomas 
 dentro de um 
 agrupamento 
 de 47 a 75, 76 
 a 100, 101 a 
 125 e 126 e 
 167 dias 
 falta de ar, mialgia, 
 ansiedade, fadiga, 
 distúrbios para dormir, 
 déficit de atenço, 
 problemas cognitivos, 
 tosse, dor peitoral, dor 
 de garganta, febre, 
 anosmia, disfunção 
 gustativa, 
 Symptom 
 Duration and 
 Risk Factors for 
 Delayed Return 
 to Usual Health 
 Among 
 Outpatients 
 with COVID-19 
 in a Multistate 
 Health Care 
 Systems 
 Network — 
 United States, 
 March–June 
 2020 (19) 
 Relatório 
 Respiratório, 
 cardiovascular, 
 gastrointestinal, 
 muscular, 
 14 a 19 dias 
 Fadiga, tosse dor de 
 cabeça, falta de ar, 
 anosmia, dor corporal, 
 disfunção gustativa, 
 diarréia, constipação, 
 náuseas, dor peitoral, 
 dor de garganta, dor 
 abdominal, confusão 
 mental, 
 46 
 Symptoms, 
 complications 
 and 
 management of 
 long COVID: a 
 review (20) 
 Revisão 
 Respiratório, 
 cardiovascular, 
 gastrointestinal, 
 muscular, neurológico, 
 auditivo 
 12 semanas 
 Fadiga, dispneia, dor 
 peitoral, aperto peitoral, 
 anosmia, disfunção 
 gustativa, dor de 
 garganta, tosse, rinite, 
 congestão nasal/ 
 sinusite crônica, dor 
 auricular, perda 
 auditiva, diarreia, 
 náuseas, perda de 
 apetite, dor abdominal, 
 perda de peso, gastrite, 
 vômito, dores nas 
 articulações, mialgia, 
 perda de memória, 
 dificuldade para se 
 concentrar, insônia, 
 ansiedade, depressão, 
 mudanças de humor, 
 pensamentos suicidas, 
 formigamento, irritação 
 ocular, queda de 
 cabelo, 
 COVID‑19 and 
 its sequelae: a 
 platform for 
 optimal patient 
 care, 
 discovery and 
 training (21) 
 Editorial 
 Nervoso central e 
 periférico, cardiovascular, 
 hepatobiliar, muscular 
 esquelético, pulmonar 
 Duração 
 variável com 
 máximo 
 descrito de 12 
 meses 
 Fadiga, falta de ar, 
 dores de cabeça, dores 
 musculares, 
 Long-Term 
 Sequelae of 
 COVID-19: A 
 Systematic 
 Review and 
 Meta-Analysis 
 of One-Year 
 Follow-Up 
 Studies on 
 Post-COVID 
 Symptoms (22) 
 Revisão e 
 meta-análise 
 Respiratório, 
 cardiovascular, 
 neurológico, 
 gastrointestinal 
 1 ano 
 Fadiga, dispneia, falta 
 de ar, tosse, dor 
 peitoral, dor na 
 garganta, dificuldade 
 de deglutir, depressão, 
 ansiedade, casos de 
 esquecimento, 
 dificuldade de 
 concentração, 
 anosmia, disfunção 
 gustativa, dores 
 articulares, mialgia, dor 
 de cabeça, confusão 
 mental, queda de 
 cabelo, palpitações, dor 
 abdominal ,febre, 
 náuseas, diarreia, 
 perda de apetite, 
 sensação de aperto do 
 peito, 
 47 
 Post-acute 
 COVID-19 
 syndrome (8) 
 Revisão 
 Respiratório, 
 cardiovascular, 
 neurológico, tegumentar, 
 renal, gastrointestinal 
 Duração 
 variável com 
 máximo 
 descrito de 12 
 meses 
 Fraqueza muscular, dor 
 difusa, mialgia, dores 
 articulares, perda de 
 peso, anosmia, 
 dispneia, tosse, 
 respiração disfuncional, 
 diarreia, disfunções 
 renais crônicas, dor 
 peitoral, palpitações, 
 insônia, ansiedade, 
 depressão, dor de 
 cabeça, déficit 
 cognitivo, estresse pós 
 traumático, perda de 
 cabelo, irritações na 
 pele 
 The 
 Effectiveness of 
 Acupuncture in 
 The Treatment 
 of Post 
 COVID-19 (9) 
 Relato de caso Respiratório, nervoso 2 meses 
 Fadiga, problemas de 
 memória, insônia, falta 
 de fôlego, ansiedade, 
 depressão, dor 
 generalizada, 
 dificuldade de 
 concentração, estresse 
 pós-traumático 
 Fonte: Elaboração própria 
 O quadro 3 demonstra uma sintomatologia diversificada, o que torna 
 importante a existência de trabalhos, como os demonstrados acima, que 
 descrevem as manifestações clínicas em pacientes para permitir uma melhor 
 compreensão das fases da infecção. A COVID-19 apresenta uma gama de 
 sintomas físicos e psicológicos debilitantes que persistem por tempo 
 indeterminado em uma parcela considerável de indivíduos (10–35% dos 
 pacientes de modo geral e 85% para aqueles que foram hospitalizados) (7), 
 portanto analisar as possibilidades de manifestações de sintomas fornece uma 
 visão global e compreender as condições clínicas da doença. 
 Mesmo com uma vasta gama de sintomas citados, percebe-se que há uma 
 prevalência de sintomas acima de outros, sendo a fadiga o sintoma mais relatado 
 nos artigos, como também possuindo o maior índice nos relatos dos pacientes 
 entrevistados nas pesquisas. Na figura abaixo podem ser observados os 
 sintomas mais recorrentes nas fases tardia e crônica da doença. 
 48 
 Figura 10 - Principais sintomas relatados na fase crônica da COVID-19 
 Fonte: (8). 
 É importante considerar que os trabalhos consideraram variações de 
 tempo diferentes um dos outros e que muitas vezes não marcam o período de fim 
 dos sintomas, mas sim de persistência dos mesmos. Durante as variadas fases 
 da infecção também percebe-se que há uma variação quanto a persistência dos 
 sintomas, alguns se mantém constante durante muito tempo, em outros casos há 
 um abrandamento e em seguida o retorno do mesmo sintoma, como também o 
 aparecimento de novos durante o passar das semanas. 
 6 ETIOPATOGENIA NA MTC 
 Maciocia nos diz que “A medicina chinesa enfatiza o equilíbrio como uma 
 questão-chave da saúde”, a partir dessa afirmação pode-se traçar uma relação 
 entre o estado de saúde pleno com o processo de homeostasia do corpo. No 
 corpo saudável os órgãos internos cumprem com suas funções corretamente,o 
 Qi e o Sangue fluem pelos canais livremente e os ciclos de geração e dominância 
 ocorrem sem que haja consumo ou abuso de um elemento sobre o outro. 
 O desequilíbrio, seja ele emocional, físico ou energético, é tido como um 
 causador de doenças quando ele aflige o corpo e afeta o estado de estabilidade 
 que este se encontrava. As causas de desarmonia são várias, sendo elas fatores 
 internos ou internos ao organismo, porém elas, geralmente, estão englobadas 
 ķnos hábitos de vida, práticas de exercício (ou a ausência), na dietética, no 
 ambiente, entre outros. 
 Quando há o desenvolvimento ocasionado por um agente patológico 
 tem-se o que se entende pela luta do correto (estado de equilíbrio do corpo) com 
 49 
 o perverso, essa condição está ligada geralmente a dois tipos de processos: 
 perda da resistência corporal e diminuição da energia vital (vazio de correto) ou 
 influência de um agente patogênico sobre o organismo (energia nociva ou energia 
 perversa). 
 A força e a resistência do organismo são definidos por fatores inerentes ao 
 corpo, sendo eles: constituição física, estado mental, meio externo, alimentação e 
 resistência adquirida pelo treinamento. 
 A constituição física do indivíduo está ligada à energia vital, a essência que 
 é recebida na concepção, oriunda dos pais. O estado mental de um indivíduo está 
 diretamente ligado ao fluxo de Qi do mesmo, quando se tem uma mente centrada 
 e em pleno funcionamento se tem um atividade dos órgãos regulada e a correta 
 expulsão do perverso. 
 A alimentação influencia no estado de saúde, sendo ela o principal meio de 
 fortalecimento do correto, uma vez que uma boa nutrição fortalece o Qi e o 
 sangue. A nutrição do corpo, somada às práticas físicas, aumentam o vigor físico 
 e a resistência corporal ao perverso diminuindo a probabilidade de aparecimento 
 de doenças. 
 Por fim, o ambiente em que o corpo está inserido interfere principalmente 
 no fato de que variações climáticas podem vir a influenciar na diminuição da 
 resistência aos fatores externos, no organismo, abrindo oportunidade para que 
 fatores patogênicos se instalem e resultem em uma doença. 
 Entendendo o princípio das causas das doenças sob o olhar da MTC, 
 pode-se compreender que a manifestação clínica de sintomas revela desarmonia 
 no funcionamento dos órgãos internos (33). 
 6.1 Causas exteriores de doenças na MTC 
 A medicina chinesa antiga não sabia que a presença de bactérias ou vírus 
 era a causa da infecção e da doença, portanto, até que esse conhecimento fosse 
 adquirido, as infecções causadas por esses patógenos eram consideradas 
 doenças do "vento". A ligação entre o vento e essas discordâncias na saúde 
 pessoal vem da ideia de que os fatores climáticos podem afetar o estado de 
 saúde/doença de uma pessoa, visto que os fatores causadores permeiam o corpo 
 causando um desequilíbrio no fluxo do Qi. Essa maneira de pensar e de 
 50 
 compreender a invasão de fatores patogênicos evidencia a visão da MTC em 
 compreender que a doença é percebida como resultado da desarmonia que o 
 fator externo causa no interior do corpo. 
 Algumas teorias foram formuladas no decorrer da história para 
 compreender melhor o processo patológico dos agentes exteriores, no período de 
 1644 a 1911 surgiu uma escola denominada de “Wen Bing” (escola de doenças 
 do calor) que afirmava e descrevia as características dessas doenças como 
 sendo: caracterizadas pela febre e tem como causadores o vento-calor na fase 
 inicial, o fator patogênico penetra no corpo pelo nariz ou boca, esse fator tem 
 tendência a ser internalizar e gerar calor interior, uma vez no interior a doença 
 tende a prejudicar o Yin. Vale ressaltar que embora sejam denominadas de 
 doenças de calor, nem toda invasão de vento-calor é uma doença de calor, cada 
 doença apresenta seus padrões próprios com o passar do tempo e com a 
 instalação da mesma no corpo do indivíduo. 
 Como dito anteriormente, os fatores patogênicos penetram no corpo por 
 meio das camadas mais superficiais do corpo ou por meio dos orifícios 
 (principalmente boca e nariz), esse pensamento descreve como esses agentes 
 podem adentrar e afetar os órgãos internos e causar desarmonias nos mesmos. 
 Inicialmente, o processo de infecção se dá do meio externo para o espaço entre 
 pele e pêlos(espaço ainda considerado exterior quando comparado com os 
 órgãos internos), caso não haja tratamento o agente tende a seguir pelos canais 
 de conexão do corpo e penetra cada vez mais no organismo até chegar ao nível 
 mais profundo que são os órgãos internos. 
 As manifestações clínicas apresentam padrões de desarmonia que se 
 alteram de acordo com o estado da infecção, por isso, cabe ao profissional da 
 MTC compreender os sintomas e identificar os padrões de desequilíbrio do Qi 
 para que haja a intervenção clínica em busca da regularização da saúde do 
 indivíduo (33). 
 7 TRATAMENTO DA COVID-19 COM ACUPUNTURA 
 A intervenção terapêutica por meio da acupuntura é uma prática utilizada 
 51 
 no tratamento de diversas doenças. Por ser uma medicina de cultura milenar, a 
 MTC possui conhecimento adquirido pela experiência no desenvolvimento de 
 técnicas e metodologias para a prevenção e cura de doenças(9). 
 Dentre as técnicas utilizadas na MTC, as que estão sendo mais 
 amplamente utilizadas para tratamento de pacientes acometidos pela COVID-19 
 são a acupuntura, a moxabustão, a ventosaterapia, a auriculoterapia e a emulsão 
 de ervas medicinais. Até o presente momento, o uso da acupuntura para 
 tratamento da COVID-19 contribuiu para a amenização e alívio dos sintomas 
 apresentados, como também para a redução do tempo de internação contribuindo 
 positivamente na contenção do vírus(10). 
 Devido ao caráter multissistêmico da infecção e dos variados endótipos 
 que podem se manifestar, as estratégias de tratamento com acupuntura 
 obedecem às manifestações dos distúrbios dos pacientes. Não há um protocolo 
 de tratamento, o que se observa é a compreensão da fisiopatologia do estágio da 
 infecção e o diagnóstico energético para a decisão dos pontos a serem utilizados. 
 O quadro 4 demonstra uma série de estudos e relatos de casos que utilizam a 
 acupuntura como um dos tratamentos da doença e os pontos utilizados. 
 Quadro 6 - Representação dos pontos utilizados no tratamento com acupuntura 
 para COVID-19 
 Título Tipo de estudo nº de pacientes Acupontos utilizados 
 Understanding 
 of guidance for 
 acupuncture 
 and 
 moxibustion 
 interventions 
 on COVID-19 
 (Second 
 edition) issued 
 by CAAM (10) 
 Artigo de 
 orientação - 
 1ª combinação: B12. B13, 
 B20, IG4,IG11, P5, P10, 
 VC6, E36, BP6 
 2ª combinação: IG4, F3, 
 VC22, P5, P6, E36, BP6 
 3ª combinação: B11, B12, 
 B13, B15, B17 
 4ª combinação: F1, VC17, 
 VC6, VC4, VC12 
 5ª combinação: PC6, E36, 
 E25, VC12, VC6 
 52 
 Two cases of 
 coronavirus 
 disease 2019 
 (COVID-19) 
 treated with the 
 combination of 
 acupuncture 
 and medication 
 in bedridden 
 patients (23) 
 Relato de caso 2 E36, BP6, IG4, F3, IG11, P7 
 The Role of 
 Acupuncture 
 for Long 
 COVID: