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Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA Doenças pleurais ANATOMIA No nosso tórax, existem duas cavidades que vão acomodar o pulmão, que é recoberto por folhetos pleurais, denominados pleura parietal, que a parte que recobre a parte interna no tórax, e a pleura visceral, que recobre a víscera, o pulmão. São compostas por células mesoteliais que possuem microvilosidades e essas células produzem o ácido hialurônico, óxido nítrico e TGF-beta, permitindo o deslizamento entre elas sem que haja dor. Suprimento sanguíneo ● Arterial: artérias. intercostais, pericárdio frênicas, frênicas superior e músculo frênica ● Venosa: capilares sistêmicos Inervação ● Visceral-simpático, sem receptores da dor ● Parietal-frênico, intercostais e plexo braquial Pleura parietal possui receptor de dor. Quando o paciente tem pneumonia, não necessariamente ele vai sentir dor. A dor ocorre quando há processo de inflamação da pleura parietal (dor pleurítica). LÍQUIDO PLEURAL ● Volume: 1 ml coelhos; 2,4 cães ● Humanos: 0,26 mL/ Kg em cada cavidade pleural → alta taxa de absorção ● Espessura: mais estreito nas extremidades superiores do que na parte inferior ● Células mesoteliais, mononucleares, linfócitos Formação do líquido pleural Pode se originar nos espaços: Interstício pulmonar, nos capilares do pulmão ou na cavidade peritoneal. Quando o paciente tem uma cirrose hepática ele pode ter ascite e, pelas fenestrações do diafragma, esse líquido da cavidade abdominal passa para a cavidade pleural. Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA ● Interstício do pulmão - principalmente - Origina a maior parte do líquido que entra no espaço pleural. - Edema de alta pressão ou alta permeabilidade. - A quantidade do líquido pleural formado está relacionada diretamente à elevação na pressão capilar pulmonar. ● Capilares pulmonares - Lei de Starling das trocas capilares. - Gradiente de movimento líquido entre as pleuras parietal e visceral. - A origem da maior parte do líquido pleural seria dos capilares na pleura parietal. ● Cavidade peritoneal - Pressão na cavidade pleural é menor do que na cavidade peritoneal (ex: hidrotórax hepático, diálise peritoneal) - Ruptura do ducto torácico Clearance linfático - A capacidade de clearance linfático é 28 vezes maior do que a taxa normal de formação de líquido pleural (unilateral é produzido (300 ml por dia em cada cavidade) EPIDEMIOLOGIA EUA ● Derrame pleural - 1,5 mi/ano ● Pneumotórax espontâneo - 20 mil/ano Doenças pleurais ● Derrame pleural, empiema, derrame pleural maligno, pneumotórax. Derrame Pleural INTRODUÇÃO Derrame pleural é o acúmulo de líquido no espaço pleural, que expressa uma doença primária da pleura, pulmão ou de qualquer sistema orgânico. As principais etiologias são insuficiência cardíaca descompensada, derrame parapneumônico, neoplasia, embolia pulmonar e infecção viral. EPIDEMIOLOGIA ● No Brasil → ocorrem cerca de 730 mil casos de PAC → 140 a 210 mil irão ter derrame pleural parapneumônico. ● Desses casos, cerca de 10% evoluem para DPP complicado ou empiema pleural (10-20 mil). ● Mortalidade 6-10% Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA PATOGÊNESE DO DERRAME PLEURAL Causas dos derrames pleurais ● Formação aumentada de fluido pleural - Principalmente por insuficiência cardíaca ou pneumonia - Líquido intersticial aumentado no pulmão Falha ventricular esquerda, pneumonia e êmbolo pulmonar - Pressão intravascular aumentada na pleura Falha ventricular direita, síndrome da veia cava superior - Proteína aumentada no líquido pleural - Atelectasia pulmonar - Ascite ou diálise peritoneal - Interrupção do ducto torácico ● Diminuição da absorção do líquido pleural - Obstrução dos linfáticos com a drenagem da pleura parietal - Elevação das pressões vasculares sistêmicas - Falha ventricular direita, síndrome da veia cava superior EFEITOS FISIOLÓGICOS ● Sintomas: dor ventilatória dependente, dispnéia, tosse seca ou pode ser assintomático. ● Produz disfunção ventilatória restritiva → vai ocupar o espaço do pulmão e vai fazer uma restrição de ventilação do paciente ● Pode afetar a função diafragmática - Movimento paradoxal (ventilação alveolar) ● Hipoxemia - Shunt intrapulmonar direita-esquerda → o sangue venoso passa pela área atelectasiada, mas não ocorre a troca gasosa (hematose) - Alterações da relação ventilação-perfusão - Redução da difusão pulmonar ● Após toracocentese pode apresentar piora da PaO2 Geralmente, o volume de líquido a ser drenado na toracocentese é de até 1500ml, acima disso pode ter complicações, mas depende muito do perfil do paciente. Se o pulmão estiver com um segmento colabado, quando ocorre a retirada do líquido, esse pulmão vai se distender, mas ocorrem modificações das pressões, o que pode gerar um edema agudo de pulmão. Na radiografia, quando o paciente tem um líquido visível na incidência póstero anterior, ele já tem um volume em torno de 200ml. Se esse líquido só é visível na porção posterior, em perfil, então o volume desse líquido é em torno de 80 ml. Existem algumas situações em que o paciente pode ter até 1 ou 2 L e os sinais do derrame pleural não são observados. Um dos marcos do derrame pleural na incidência de PA (posteroanterior) é a formação de uma parábola: a parábola de Damoiseau. ● Pequena melhora da oxigenação quando o paciente deita-se sobre o lado não afetado. Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA DERRAME PLEURAL Volume ● 75 ml - superfície inferior do lobo inferior e o diafragma ● 175 ml - preenche o seio costofrênico lateral Derrames infrapulmonares ou subpulmonares ● Elevação aparente de um ou dois diafragmas ● Em PA, o ápice do diafragma está aparentemente lateralizado ● No lado esquerdo, a borda inferior está distante mais de 2 cm da bulha gástrica MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ● Volume moderado ou grande quantidade de líquido produz sintomas e alterações no exame físico Sintomas ● Dor pleurítica - Torácica difusa - Dor referida ● Tosse seca ● Dispnéia Exame físico ● Inspeção: expansibilidade reduzida ● Palpação: frêmito reduzido, traquéia pode estar desviada contralateralmente ● Percussão: maciço ● Ausculta: decréscimo ou ausência dos ruídos respiratórios EXAMES COMPLEMENTARES ● Radiografia do tórax - Incidências: PA, perfil decúbito lateral com raios horizontais (Hjelm-Laurell) ● USG ● TC de tórax ● Toracocentese → geralmente o paciente fica deitado, segurando em um suporte ou apoiando o braço na mapa, por exemplo. O médico palpa a ponta da escápula e, dois dedos abaixo, procura o espaço intercostal que será puncionado. Realizado para diagnóstico ou alívio. - O líquido é de etiologia cardíaca, geralmente não é necessário fazer a punção. ● Análise laboratorial do líquido pleural e biópsia pleural - Se a relação da proteína do líquido e a sérica for maior que 0,5, caracteriza exsudato. Se o DHL do líquido pleural e o sérico for maior que 0,6, caracteriza exsudato. Se o DHL do líquido for 2x superior Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA ao nível do limite da normalidade sérica, também caracteriza exsudato. Ou seja, é necessário ter o líquido e o sangue do paciente para fazer essa análise. - Análise do líquido: se a proteína for mais que 3,4 e o DHL for maior que 328, já caracteriza exsudato. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Transudatos ● Insuficiência cardíaca ● Cirrose● Síndrome nefrótica ● Obstrução da veia cava superior ● Cirurgia de fontan ● Urinotórax ● Diálise peritoneal ● Glomerulonefrite ● Mixedema ● Tromboembolismo pulmonar ● Sarcoidose ● Hipoalbuminemia (< 1,5 mg) ● Atelectasia ● Pulmão encarcerado ● Derivação ventrículo-peritoneal ● HAP ● Doença Pericárdica ● Migração extravascular de cateter venoso central Exsudatos ● Neoplasias ● Infecções ● Doenças do colágeno ● Medicamentos CLASSIFICAÇÃO Classificação e características do derrame parapneumônico e do empiema pleural ESTÁGIO ASPECTO DO LÍQUIDO LABORATÓRIO DPP não complicado Claro pH= 7,2; DHL < 1000 UI/L e glicose > 40 mg% Sem bactérias no Gram e cultura negativa DPP complicado Claro ou turvo pH < 7,2; DHL > 1000 UI/L e glicose < 400 mg% Empiema Purulento Pode ter bactérias no Gram e/ou cultura positiva Independe dos achados de laboratório ● Extremos de faixa etária (crianças e idosos) ● Fatores de risco: diabetes mellitus, alcoolismo, má conservação dental, refluxo gastroesofágico, artrite reumatóide, doenças crônicas pulmonares e uso de drogas ilícitas intravenosas Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA ● Principal agente etiológico bacteriano da pneumonia no adulto: pneumococo ● No tratamento de empiema (presença de pus), além da antibioticoterapia, é necessário realizar drenagem fechada. ● Tratamento do Derrame Pleural não complicado: antibioticoterapia ● Tratamento do DPP complicado e empiema: antibioticoterapia + drenagem TRATAMENTO ● Tratamento clínico Algumas opções antimicrobianas para agentes específicos Anaeróbios Penicilina cristalina, amoxicilina + clavulanato, ticarcilina + clavulanato, clindamicina, metronidazol, quinolonas de 4ª geração, imipenem Gram-negativos Cefalosporinas de 3ª e 4ª gerações, amoxicilina + clavulanato, ticarcilina + clavulanato, quinolonas de 2ª, 3ª e 4ª gerações, aztreonam, imipenem Pneumococos Penicilina cristalina, amoxicilina + clavulanato, ticarcilina + clavulanato, cefalosporinas de 1ª, 3ª e 4ª gerações, quinolonas de 4ª geração, imipenem, vancomicina Estafilococos (sensíveis à oxacilina) Oxacilina, clindamicina, cefalosporinas de 1ª e 4ª gerações, amoxicilina + clavulanato,ticarcilina + clavulanato, quinolonas de 2ª, 3ª e 4ª gerações, imipenem, vancomicina ● Tratamento cirúrgico - Toracocentese - Drenagem pleural - Agentes trombolíticos - Pleuroscopia - Toracotomia e decorticação - Drenagem aberta e pleurostomia DERRAME PLEURAL - TUBERCULOSE O líquido tem uma celularidade alta, acima de 1000 leucócitos (? não deu pra entender), predominando linfócitos, proteína aumentada acima de 3,4, caracterizando um exsudato, desidrogenase também alta, pH relativamente normal, glicose reduzida. Um marcador para tuberculose no líquido é a dosagem da adenosina deaminase, que é uma substância que aumenta a acurácia diagnóstica, porém não é específica, ou seja, não é patognomônica de tuberculose. No derrame pleural por tuberculose é muito difícil encontrar o bacilo, em outras palavras, o diagnóstico de tuberculose apenas pela análise do líquido é muito difícil de ser determinado, pode ser preciso realizar pleuroscopia. Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA Pneumotórax ● Primário ● Secundário ● Recorrente ● Sintomático ou assintomático ● Tratamento: Drenagem fechada de tórax (cessação da fuga aérea em 3 dias, se não, toracoscopia) ● Pleurodese DEFINIÇÃO Ar na cavidade pleural. Etiologia → trauma ou espontâneo Pneumotórax espontâneo - Sem história de trauma ou causa aparente - Decorre de uma ruptura de uma bolha pleural ● Primário - sem doença pulmonar aparente ● Secundário - complicação de uma doença pulmonar preexistente EPIDEMIOLOGIA ● Incidência maior em homens ● Tabagismo: risco 20x no homem e 8x na mulher ● Até 20% em repouso ou exercício físico rigoroso Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA ● 5% em crises de tosse e espirro ● Bilaterais - 1%, geralmente associados a trauma ● Tipicamente homens altos e magros, entre 10 e 30 anos (raro > 40 anos) ● Fora dessas características → pacientes com alteração da arquitetura pulmonar - Enfisema bolhoso, FPI, sarcoidose, pneumoconiose, linfangioleiomiomatose, causas catamênicas, metástases, etc. ETIOPATOGENIA ● Rotura de bolhas ou blebs subpleurais congênitas (ápices) ● Bolhas contralaterais ● Aprisionamento aéreo, independente de bolhas ● Ocorrência familiar - síndrome de Birt-Hogg-Dube (fibrofoliculomas de pele e tipos raros de câncer renal) ● Fatores climáticos: situação anticiclônica (clima quente e seco; passagem de frente fria) ● Mulheres: período menstrual - pequenas perfurações diafragmáticas no centro tendíneo QUADRO CLÍNICO ● Dor torácica súbita, tipo pontada, dispnéia e tosse ● Inicialmente tipo pleural - dor contínua - desaparece 80% (melhora espontânea 24 a 48h) ● 10% tosse intensa e irritativa ● 5% assintomáticos ● Achados clínicos não refletem o tamanho do pneumotórax Recorrência Após 1º episódio - 23 - 40% no 1º ano Após 2º episódio - 60% Após 3º episódio - 85 - 90% EXAME FÍSICO ● Abaulamento hemitórax ● Enfisema subcutâneo ● Timpanismo à percussão ● MV diminuído ou ausente DIAGNÓSTICO ● Anamnese + imagem ● Radiografia de tórax ● TC de tórax TRATAMENTO Pneumotórax espontâneo primário - paciente estável Anne Karen Reis PNEUMOLOGIA ● Tratamento conservador Pneumotórax espontâneo primário - paciente instável ● Drenagem fechada Pneumotórax espontâneo primário recidivado ● Procedimentos para expansão pulmonar - Toracocentese e drenagem ● Procedimento para controle de recidivas - Toracotomia + Videotoracoscopia Pneumotórax espontâneo secundário ● Sempre internar para intervenção cirúrgica → é feita a drenagem e estabilização do quadro clínico do paciente. Depois verificar se o pulmão expandiu, como está o exame físico e radiológico do paciente e como está o funcionamento do dreno. ● Índice de mortalidade maior nas recidivas - considerar procedimento de prevenção de recorrência (pleurodese), mesmo no 1º episódio ● Tratamento inicial de escolha - drenagem CONTROLE ● Expansão pulmonar - Exame físico e radiológico ● Bom funcionamento dos drenos - Evitar clampeamento ● Monitorar fístula aérea e do volume de drenagem - Pelo menos 24h após última evidência de escape aéreo - Volume líquido de drenagem < 100 ml/ dia ACOMPANHAMENTO AMBULATORIAL ● Sem esforços físicos - 1 mês ● Atividades sociais e profissionais - após 15 dias da completa resolução do quadro
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