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PARA ANDRÉS E NOSSO MUNDO LIVRE DO TEMPO Título original: Time Mindfulness: toma el control de tu tiempo y vive de forma más próspera y creativa Copyright © 2020 by Cristina Benito Direitos de tradução acordados por intermédio de Sandra Bruna Agencia Literaria, SL. Todos os direitos reservados. Direitos de edição da obra em língua portuguesa no Brasil adquiridos pela Agir, selo da E N F P S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite. E N F P S.A. Rua Candelária, 60 — 7.º andar — Centro — 20091-020 Rio de Janeiro — RJ — Brasil Tel.: (21) 3882-8200 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B467t Benito, Cristina Time mindfulness: assuma o controle de seu tempo e viva de forma mais próspera e criativa / Cristina Benito; tradução e apresentação por Edmundo Barreiros. – 2. ed. – Rio de Janeiro: Agir, 2021. 216 p. Formato: e-book, com 2.939KB ISBN: 9786558371014 1. Aperfeiçoamento pessoal. I. Barreiros, Edmundo. II. Título. CDD: 158.1 CDU: 130.1 André Queiroz – CRB-4/2242 SUMÁRIO O QUE É TIME MINDFULNESS? 1 – F Seu cérebro e o tempo O relógio de nossa vida Por que o tempo é serenidade Por que tempo é dinheiro Por que o tempo é criatividade Qual é seu cronoper�l? Seu mapa de prioridades A arte de envelhecer bem 2 – E O tracking de seu tempo Os ladrões de tempo O inimigo em casa Do FOMO ao JOMO O �m da procrastinação Resolver, delegar ou eliminar Viva simplesmente Benefícios da vitamina “N” 3 – M A verdadeira produtividade Transforme a tecnologia em sua aliada A bússola dos biorritmos Concentre-se e você vencerá A pausa ativa Novos hábitos para viver com Time Mindfulness Sua agenda Time Mindfulness Agora… faça A 12 B A ( ) O QUE É TIME MINDFULNESS? Em um de seus primeiros romances, A vida está em outro lugar, Milan Kundera conta a história de um homem que sente estar sempre no lugar errado. Apesar de não parar quieto, as coisas interessantes acontecem onde ele não está. Não seriam justamente essas mudanças que fazem com que nenhum lugar nem momento sejam adequados? Quando você vive convencido de que a vida está em outro lugar, sem perceber afasta o melhor da existência para longe de você a �m de con�rmar que tem razão. Algo parecido acontece com o tempo. Muitas pessoas vivem acreditando que não têm tempo porque sua vida é uma sucessão de urgências, e as obrigações e compromissos lhes roubam o dia inteiro. Outras podem estar convencidas de que “certo tempo passado foi melhor” e têm saudade de uma época que, talvez, no momento não souberam valorizar. Outras situam o tempo de qualidade em um futuro hipotético, já que determinam condições para poder desfrutar da vida: quando me aposentar, quando tiver dinheiro, quando conseguir me organizar melhor (com certeza, este livro vai servir para esta última). Seja como for, assim como acontece com o protagonista de Kundera, se o tempo ideal nunca é aquele em que se vive, seu tempo para viver está sempre em outro lugar. E isso equivale dizer que o tempo presente não tem valor. Enquanto você vagar pela nostalgia ou pelo desejo por aquilo que acredita não ter, sua existência será uma triste sala de espera. NO MEIO DA TEMPESTADE Meu marido, o escritor Andrés Pascual, diz em suas palestras que o tempo adequado, o momento de paz para fazer alguma coisa, não chegará nunca. É preciso estar disposto a erguer nosso sonho desde o caos, a trabalhar no meio da tempestade se necessário. Todos os “quando…”, porém, mais especialmente o “quando tiver tempo…”, mascaram nossos medos e nos condenam ao inferno da procrastinação. Essa palavra tão feia está de�nida no dicionário como “o hábito de atrasar o que devemos fazer, substituindo isso por atividades mais irrelevantes”. Enquanto acreditamos não ter tempo para viver a existência que desejamos, desperdiçamos milhares de segundos, horas, dias inteiros surfando entediados pelas redes sociais ou assistindo à televisão, entre tantas outras coisas que fazemos por inércia. Deixamos nossas prioridades em stand-by e, além dessas distrações automáticas, comparecemos a reuniões inúteis ou aceitamos marcar compromissos que não nos acrescentam nada. Por que, então, achamos que nos falta tempo quando deixamos que a vida passe tão despreocupadamente? Com que solução contamos para tantas “fugas” que perfuram nossas agendas como uma peneira, até nos deixarem sem um momento de qualidade para nós mesmos? ACABE COM O STAND-BY Com este livro, você vai aprender a dar protagonismo às suas prioridades, eliminando os “ladrões de tempo” que estão sempre à espreita e desativando as desculpas que o levam a adiar o que deveria estar fazendo. Para isso, além das técnicas que apresentarei neste manual, você terá de fazer algo simples que custa muito para grande parte da humanidade: tomar consciência. O Time Mindfulness (TM) consiste exatamente nisso, ser consciente do tempo, o que implica: Decidir que fração de sua jornada (ou, pelo menos, de seu tempo livre) você quer dedicar às coisas verdadeiramente importantes. Deter as “fugas” por meio das quais as horas escapam inutilmente, esvaziando seu depósito de tempo disponível. Organizar sua agenda não de acordo com o que as outras pessoas exigem de você, mas de acordo com suas prioridades. Eliminar a procrastinação de seu dia a dia. Tirar períodos de descanso que, além de recarregar as baterias do bom humor, sejam verdadeiros oásis de criatividade. Aprender a multiplicar o valor de cada hora, evitando a dispersão e incorporando técnicas que aumentarão seu rendimento. Você vai encontrar tudo isso neste programa pioneiro de TM, que está alicerçado em uma verdade muitas vezes negada: seu tempo é seu. Talvez você venda parte dele em troca de um salário, e também falaremos disso, mas o restante não pertence a ninguém, só a você. Considerando que o tempo são os trilhos pelos quais circula o trem de nossa vida, vamos aprender a aproveitar a viagem. Ao tomar consciência de seu tempo, você começará a dar a ele o valor que merece. Cada hora do seu dia será preciosa porque, como cantavam os Rolling Stones em 1964: “O tempo está do seu lado.” Tenho certeza de que as horas dedicadas a ler este livro serão um investimento bastante rentável, já que, muito em breve, no lugar de ir contra o relógio, você vai fazer do relógio — e de sua agenda — seu melhor aliado para viver a vida que deseja. Cristina Benito SEU CÉREBRO E O TEMPO O RELÓGIO INTERIOR MARCA AS EXPERIÊNCIAS Dizem que, se você quiser deixar um físico nervoso, basta perguntar a ele o que é o tempo. Para Newton, o tempo era uma magnitude física e objetiva, algo que se move e �ui sempre adiante, como se fosse um grande relógio cósmico. Para Einstein, era subjetivo, pois depende da velocidade com que nos movemos pelo espaço. Segundo o gênio alemão, o tempo �ui inclusive de forma pessoal: “Sente-se em uma placa quente por um minuto e vai parecer uma hora. Sente-se ao lado de uma garota bonita por uma hora e vai parecer um minuto: aí está a teoria da relatividade.” Para a física quântica, todas as possibilidades convivem em um mesmo instante. Mais importante do que de�nir o que é tempo é decidir o que fazemos com ele. O tempo é um presente que nos foi dado, devemos estar à sua altura e aproveitá-lo como ele merece para a�orar nosso melhor. KRONOS E KAIRÓS Na Grécia Antiga se usavam duas palavras para de�nir o tempo: kronos e kairós. A primeira se referia ao tempo mensurável, entendido como uma sequência quantitativa. Por isso, utilizamos essa raiz para “cronômetro”, “cronologia” e outros termos que medem a quantidade de tempo. O acerto dos gregos foi criar maisuma palavra, kairós, que se referia à qualidade do tempo. Eles sabiam que nós, seres humanos, temos a capacidade e a responsabilidade de dar a cada instante a máxima qualidade. Como diz o escritor e palestrante Álex Rovira, um beijo dura poucos segundos, mas pode marcar uma vida, assim como um abraço, uma palavra amável ou um gesto de entrega. Kairós equivale a estar neste exato momento, sentir-se em sintonia com o mundo, alinhado para fazer qualquer coisa a que se proponha. É alcançar a plenitude aqui e agora. Mas, para isso, é preciso saber viver no presente. Muitas vezes o passado nos impede de avançar. Se foi triste, pelo pesar ou pela raiva que sentimos; se foi belo, pela nostalgia. O mesmo acontece com o futuro. Nos preocupamos com coisas terríveis que ainda não aconteceram e nos desesperamos porque esse futuro idílico que desejamos não chega. Em ambos os casos, nós nos bloqueamos e não agimos para que o presente seja melhor. Não conseguimos aproveitar o que acontece neste exato — e maravilhoso — momento. Como a�rma o zen, o passado não existe, tudo o que aconteceu trouxe você a este momento em que está agora. O futuro também não existe, será você mesmo a construí-lo com seus atos no presente, aproveitando seu tempo de forma apropriada. VIVER SEM TEMPO Os amondawa, um povo da Amazônia brasileira com o qual se estabeleceu contato pela primeira vez em 1986, não têm o conceito de tempo. O professor Chris Sinha, da Universidade de Portsmouth, que conviveu com eles e estudou sua língua, explica que eles não consideram o tempo como algo que se pode medir ou contar, nem sobre o qual falar de maneira abstrata. Eles não têm palavras nem para o tempo nem para suas divisões ou medidas como dia, mês ou ano. Tampouco para a próxima semana nem para o ano passado. Só para as divisões entre dia e noite e as estações chuvosas e secas. Eles não contam nem sua própria idade. Têm nomes diferentes para as fases de sua vida ou de acordo com o status que vão adquirindo na tribo. Por exemplo, um menino pequeno cede seu nome a seu irmão recém-nascido e recebe um novo. Segundo Sinha, nós pensamos no tempo como uma coisa. Dizemos “o �m de semana voou”, “as provas estão chegando”, “não tenho tempo”… E acreditamos que essas declarações são objetivas, quando não passam de metáforas que criamos e que, sem percebermos, terminaram se convertendo em nossa forma de pensar, nos roubando a liberdade da qual ainda desfrutam os amondawas. NOSSO RELÓGIO DE EXPERIÊNCIAS Há cinco anos, um grupo de cientistas da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina por ter descoberto nosso GPS cerebral; ou, dizendo de uma forma mais técnica, um conjunto de células que habita o córtex entorrinal médio e forma um sistema de coordenadas que nos permite entender qual é nossa situação no espaço. Graças ao trabalho dessas células, entendo o “onde”. Mas e em relação ao “quando”, devem ter se perguntado os médicos escandinavos. Como eu sei em que momento me encontro, se se passou uma hora, um ano, muito ou pouco tempo desde este ou aquele acontecimento? Como tinham descoberto um sistema neuronal para ordenar o espaço, eles continuaram a investigar até encontrar o que mede o tempo, que sem dúvida está localizado muito perto do anterior, no córtex entorrinal lateral. Como tantas vezes acontece na ciência, e na vida em geral, o que no início parecia um fracasso, os levou ao sucesso do experimento. Quando estavam a ponto de desistir porque o comportamento das células estudadas não respondia a padrões �xos — na verdade era um verdadeiro caos —, eles perceberam que isso acontecia porque o tempo varia a cada instante e para cada pessoa. Como diz o pesquisador: “A rede neuronal mede um tempo subjetivo derivado do �uxo contínuo da experiência.” Isso é, trata-se de um relógio especial que registra o tempo associado a cada uma das experiências que vivemos. Por isso, dependendo de qual seja nosso estado mental e nossas circunstâncias, temos a sensação de que o tempo passa mais rápido ou mais devagar, como no exemplo apresentado por Einstein. Essa tese cientí�ca não se diferencia muito do que propunham os grandes �lósofos: “Não meça o tempo em horas ou dias, meça-o em ações e satisfação.” Esses são os únicos ponteiros que têm verdadeiramente importância em sua vida e que terão efeitos na dos outros. OS MINUTOS DIVERTIDOS DURAM MENOS O pesquisador Hudson Hoagland descobriu, graças a uma gripe da qual sofria sua esposa, que a febre alta afeta nossa noção de tempo. Enquanto estava doente, os minutos que ele passava fora de casa pareciam longuíssimos, e não só porque ela sentia falta dele. Vários estudos con�rmaram que, quando a temperatura corporal sobe, nosso cérebro tem a percepção de que se passou mais tempo do que objetivamente se passou. Emoções fortes também podem distorcer a percepção do tempo. Como podem dizer os participantes de um experimento do conhecido divulgador cientí�co David Eagleman: para pessoas corajosas que saltaram de uma altura de 15 andares em uma rede, os três segundos que duraram a queda pareceram nove. Ou as pessoas que sofrem um acidente e acreditam ver tudo em câmera lenta. A amígdala cerebral intervém diante de situações de medo ou pânico, alterando nosso relógio interno. Se estamos atrasados para o trabalho, os mesmos cinco minutos que passamos todo dia na plataforma do metrô parecerão uma hora. A espera de resultados médicos se torna eterna, enquanto as tardes em que desfrutamos da companhia de nossas amigas e suas con�dências voam. As expectativas também in�uem em nossa percepção do tempo. Se acha que não, pense no efeito da “viagem de volta”. “Quanto falta?”: certamente essa pergunta lhe parece mais habitual nas viagens de ida, que sempre parecem mais longas, embora tenham os mesmos quilômetros que as de volta. Como explica o psicólogo Niels van de Ven, as viagens novas geram nervosismo e certa ansiedade devido às expectativas depositadas sobre elas, que ativam nosso sistema nervoso simpático, fazendo com que percebamos o tempo de forma mais dilatada. É o contrário do que acontece no retorno. Nossa expectativa é “vai durar muito tempo outra vez”, e paradoxalmente o caminho nos parece mais curto. Que efeitos práticos podemos extrair de tudo isso? Nada mais nada menos que uma certeza: nosso cérebro tem controle sobre como experimentamos o tempo. Como veremos ao longo deste livro, se conseguirmos vencer o estresse e as inércias vazias, deixaremos de ser escravos do relógio para nos convertermos em donos de nosso tempo. MINDFULNESS PARA UMA VIDA LONGA E PLENA Quando olhamos para trás em nossas vidas, apesar de os minutos desfrutados e bem aproveitados parecerem curtíssimos por estarmos nos sentindo bem, são esses momentos que dão sentido a nossa existência. Podemos completar, então, o título da parte anterior dizendo que os minutos divertidos duram menos, mas prolongam a vida. Porque, se nos deixamos levar pela rotina, o dia a dia se tornará tediosamente eterno e, de forma paradoxal, nos deixará a sensação de que a vida passa sem percebermos. Sensação essa que nos leva a um estado de apatia que é totalmente contrário ao TM. A ciência demonstrou que o mindfulness — cultivar a atenção plena e estar concentrado no aqui e agora —, entre outros muitos benefícios, traz serenidade e melhora a memória. Nossos cérebros armazenam mais informação sobre os eventos que vivemos, sejam grandes ou pequenos, e isso nos faz perceber a passagem do tempo de forma mais pausada. Ao contrário, estar distraídos na rotina cria a sensação desagradável de que o tempo está voando e estamos, literalmente, jogando nossa vida no lixo. VIVA AS COISAS COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ Maximilian Kiener, um designer austríaco de quem recomendo o projeto precioso Why Time Flies [Por que o tempo voa], que você pode experimentar gratuitamente em sua página na internet, explica a percepção do tempo a partir das teorias do �lósofo francês Paul Janet. Em seu primeiro ano de vida, umacriança está constantemente recebendo novos estímulos, descobrindo e experimentando. Para ela, um ano, ou mesmo um mês, é quase uma eternidade. Da mesma forma, a primeira semana de uma longa viagem a um país desconhecido, na qual recebemos uma grande quantidade de novas informações, vai nos parecer muito mais longa que as seguintes. Isso explica por que quando você volta a um lugar que foi especial em sua infância, ele lhe parece menor, pois esse lugar foi seguido por muitos outros e, além disso, você não o está descobrindo pela primeira vez. Na infância vivemos o presente com plenitude, considerando que tudo é novo para nós. Mas, à medida que envelhecemos, nossas vidas se enchem de atividades repetitivas, começamos a viver presos ao passado ou nos projetando no futuro… e o presente nos escapa. Sendo assim, pode-se dizer que o TM é coisa de crianças. Que essa de�nição seja bem-vinda! Vamos recuperar a capacidade de perceber cada minuto da vida como uma eternidade cheia de possibilidades. COMO FAZER SEU DIA DURAR MAIS TEMPO orin Klosowski, especialista em tecnologia aplicada ao bem-estar, diz: “É surpreendente a quantidade de experiências novas que se apresentam ao longo do dia quando prestamos um pouco de atenção.” Ele estabeleceu como objetivo de ano novo fazer uma coisa nova a cada semana que o tirasse do piloto automático: ir a uma conferência, assumir a palavra em um evento, escrever sobre coisas que tinha medo de enfrentar… É sabido que a zona de conforto é mais uma prisão que um refúgio. Nós nos atemos ao que é conhecido, reduzimos nossas “primeiras vezes”, e o tempo avança em disparada. Ao dizer sim às novas experiências, além de crescer como pessoas, acumulamos novas memórias que mudam a percepção subjetiva do tempo. Ao exprimir nossos dias, semanas ou meses, eles parecem durar mais, enriquecendo nosso kairós. Em vez de se angustiar com a passagem inevitável do tempo, o cérebro se dispõe a aproveitar ao máximo cada experiência. Para fechar este capítulo, proponho uma série de truques com os quais você pode enganar sua mente para que seus dias pareçam tão longos quanto são para as crianças. D . Quando você visita um ambiente novo — e não é preciso ir para outro continente —, seu cérebro absorve grande quantidade de novas informações por meio dos cinco sentidos. Curiosamente, isso faz com que o tempo seja percebido de forma mais pausada, gerando uma sensação de relaxamento. C . Variar os relacionamentos pessoais também ativa seu cérebro e atrasa o relógio. Cada novo contato chega com histórias diferentes, assim como tem uma visão diferente do mundo que enriquecerá a sua. M . Se você é autônomo, experimente trabalhar de vez em quando em escritórios improvisados como um café ou um parque. Pratique isso também com as atividades de seu tempo ocioso que exigem estar sentado a uma mesa ou sofá, como ler ou aprender um idioma. A . Esta ideia resume todas as anteriores. A vontade de saber mais, de aprender, seja pro�ssionalmente ou em qualquer disciplina vital, é a característica principal das crianças e a virtude que estica seus dias como elástico. Dê a seu tempo a qualidade que ele merece! UM POUCO DE SÍNTESE Mais importante que a quantidade de tempo é sua qualidade. Os minutos de felicidade parecem durar menos, mas persistem por muito tempo na memória e dão sentido à vida. Cultivar a atenção plena prolonga o tempo, porque o vivenciamos mais lentamente e com maior profundidade. Experimentar o mundo com os olhos de criança quase nos leva à eternidade. O RELÓGIO DE NOSSA VIDA NÃO SE PODE MEDIR TUDO Quando ganhei meu primeiro relógio de pulso, me achei maior e importante, com ocupações e coisas para fazer. Ele tinha uma pulseira de couro marrom e um mostrador pequeno cor creme com o 12, o três, o seis e o nove marcados. Para minha primeira comunhão, me deram um relógio digital Casio. Também me lembro do relógio de ouro que deram a minha tia Angelines quando ela se aposentou. Por outro lado, a primeira coisa que minha mãe fazia quando íamos para a casa no interior onde passávamos os verões era tirar seu relógio de pulso e guardá-lo em um vaso de cerâmica. Nós nos acostumamos a ver a hora constantemente e quase sempre para conferir o tempo que nos resta: para terminar alguma coisa, para chegar a algum lugar… Embora hoje em dia muita gente use o celular para consultar a hora, vivemos ligados a um relógio como a ampulheta que foi entregue pela Bruxa Malvada do Oeste para Dorothy em O mágico de Oz, anunciando sua última hora de vida. Como não vamos viver angustiados pela falta de tempo? Queiramos ou não, o relógio — esteja onde estiver — condiciona nossa vida. E no que se refere à gestão do tempo, assim como nossa mente, ele pode ser um aliado ou um inimigo terrível. QUANDO ERA POSSÍVEL SENTIR O CHEIRO DO TEMPO O primeiro sistema para medir o tempo, há cinco ou seis mil anos, nos ajudou a nos organizarmos. Tínhamos deixado de ser nômades e precisávamos organizar a sociedade e convocar as reuniões de vizinhos da época. Desde então, utilizamos os métodos mais variados para controlar o tempo. Os egípcios colocavam obeliscos para medir o meio-dia. Mais tarde criaram os relógios de sol, que já marcavam as horas, mas apresentavam muitos inconvenientes: não funcionavam à noite nem em dias nublados, e a duração das horas variava de acordo com a época do ano. Na Grécia e em Roma, para medir a duração das guardas e dos turnos de intervenções nos tribunais, utilizava-se um cronômetro de água chamado clepsidra, que se traduz como “ladrão de tempo”. Na China e no Japão, era possível sentir o cheiro do tempo: as barras de incenso marcavam a duração da visita de uma gueixa ou da meditação no templo. Algumas delas tinham até alarme: prendia-se a elas uma campainha para que tocasse quando o período de tempo estabelecido se consumasse. Assim, o tempo também começava a ser escutado. Os primeiros relógios mecânicos foram instalados nos mosteiros durante a idade média. Ainda sem ponteiros ou mostradores, consistiam de um sistema de pesos, molas e campainhas que indicavam as horas. Até então, durante as vigílias, se usavam velas nas quais se faziam marcas, mas o ora et labora exigia uma hora mais precisa para não se sobrepor às matinas ou às laudes, vésperas ou completas. Também foram úteis para mercadores e artesãos para organizar seus horários comerciais, e por isso precisavam ser grandes e estar bem no alto. E, �nalmente, acrescentaram ponteiros aos relógios. Os pêndulos �caram mais ágeis e surgiu o ponteiro dos minutos. Daí em diante, com a Revolução Industrial, chegou a produção em massa; as pessoas podiam ter em casa um artefato que marcava as horas. Esse podia ser de mesa, de bolso… e de pulso, como o que minha mãe botava no vaso. No início, porém, é possível pensar que o uso que se fazia dos relógios pessoais era mais inteligente do que hoje é habitual. Sabemos por crônicas da época que os primeiros usuários se retiravam para uma sala para ver a hora, pois não era bem visto fazer isso. Ainda hoje, o protocolo diz que é melhor ir a cerimônias sem relógio. Deixe-o em casa e aproveite o evento, diria um bom an�trião. Atualmente, os relógios analógicos parecem ter seus dias contados. Nas escolas britânicas, eles já estão sendo substituídos por digitais porque, nas provas, as crianças não param de perguntar quanto tempo lhes resta para terminar, já que não entendem o objeto que está preso à parede. Chegou a hora de ensinar, nessas escolas e em todas as outras, a fazer amizade com o tempo para viver de forma mais próspera, serena e criativa. Há milênios observávamos o movimento dos planetas e dos astros no céu para medi-lo. Mas sabe o que pensam as estrelas? O quanto nós somos fugazes. CASIO: CINCO VALORES PARA ALCANÇAR O SUCESSO Essa empresa japonesa criou o primeiro relógio digital nos anos 1970. Aos poucos, incorporaram luz, alarme, cronômetro…Os relógios inteligentes atuais oferecem muito mais, no entanto, a história do sucesso da Casio, uma empresa de calculadoras que soube diversi�car, sempre será considerada um exemplo a ser seguido. Estes são os cinco valores que a inspiraram, todos eles presentes na cultura japonesa: C. Para estar sempre na hora certa, é preciso investir esforço. Entregue-se a seus projetos com a mesma fé e determinação que os japoneses demonstraram depois da Segunda Guerra Mundial, e o “milagre” vai acontecer sozinho. R. Volte a se levantar depois de cada queda. A exigência, a responsabilidade e a superação pessoal são ensinadas aos japoneses. O mesmo que demonstram os relógios Casio, cujos materiais resistem quando mergulhados em água, ao levar pancadas e, também, à passagem do tempo. F. Assim como o junco japonês, além de resistência, é preciso ter �exibilidade. Os japoneses se adaptam, são respeitosos, evitam causar problemas ou participar de debates que perturbam a boa convivência. A Casio foi bem-sucedida porque criou relógios que se adaptam a todo tipo de clientes e de situações. T. A aposta na inovação foi o elemento-chave para a recuperação econômica do país e para o sucesso de suas empresas. D. O estilo japonês é caracterizado por combinar elementos tradicionais com outros mais vanguardistas. E esta hibridização também pode ser aplicada a nossa vida, misturando a sabedoria tradicional com as novas tendências. RELÓGIOS PARADOS ESTÃO CERTOS DUAS VEZES AO DIA Embora nem todos os países tenham entrado em acordo sobre a medição do peso ou da distância, há unanimidade em referência ao tempo. Durante o dia, a Terra faz uma rotação completa sobre seu eixo. Um mês, 29 dias e meio, é um ciclo completo da lua. E um pouco mais de 364 dias é a duração da viagem da Terra pela sua órbita ao redor do Sol. Como a cada ano sobram umas seis horas, a cada quatro temos um ano bissexto. O que não está tão claro é o porquê das 24 horas. Parece que os egípcios herdaram o sistema duodecimal dos sumérios, que usavam o dedo polegar para contar as falanges dos outros quatro dedos: três em cada dedo, 12 em cada mão, 24 horas no total. Foram os astrônomos gregos que, seguindo o sistema hexadecimal, dividiram as horas em sessenta minutos, e estes em sessenta segundos. Talvez por se tratar de um número que facilita muito os cálculos por ser divisível por 2, 3, 6, 10, 12, 15, 20 e 30. Todos os relógios do mundo se ajustam segundo um tempo-padrão de referência universal (UTC) baseado em relógios atômicos extremamente precisos, e além disso sempre contando com a referência solar. Na verdade, a velocidade de rotação da Terra apresenta perturbações que devem ser compensadas de vez em quando acrescentando-se algum segundo adicional ou ano bissexto para manter os relógios em sintonia (desde 1972, quando começamos a contar com a referência do UTC, isso ocorreu 27 vezes). Se não acrescentássemos esses segundos, no ano 2100 estaríamos entre dois e três minutos fora de sintonia com a posição do sol. Não há problema se é necessário fazer correções. Como diz Woody Allen: “Todos nos equivocamos, mas até um relógio parado acerta duas vezes por dia.” TUDO O QUE VOCÊ PODE FAZER EM UM MINUTO Ao ler sobre essa diferença de minutos, talvez você tenha pensado: “Não é grande coisa.” Mas já parou alguma vez para re�etir sobre todas as coisas maravilhosas que podem ser feitas em um minuto? Lembrar a uma pessoa o quanto você gosta dela. Fazer respirações de ioga para se sentir melhor. Saborear uma taça de Rioja (o vinho da minha terra). Ter uma grande ideia ou, pelo menos, um pensamento positivo. Dar em um amigo o abraço de que ele precisa. Ganhar um minuto inteiro de beijos de suas sobrinhas. Mandar uma mensagem por WhatsApp pedindo desculpas por algo que não tenha feito certo. Mandar outra para agradecer. Não despreze nenhum dos minutos do relógio. Todos eles são igualmente importantes. Lembre-se sempre de que, quando você dedica um minuto a uma coisa, deixa de dedicá-lo a outra. E esse minuto nunca voltará. Isso é Time Mindfulness. KALPA, A MAIOR MEDIDA DE TEMPO CONHECIDA Um kalpa dura tanto (4,32 bilhões de anos para o hinduísmo, 1,28 bilhão para o budismo) que, quando Buda queria descrevê-lo para seus discípulos, precisava recorrer a analogias. 1. Imagine uma montanha de sementes de mostarda diminutas. Um kalpa seria o tempo que ela levaria para se esgotar se um ser celestial descesse uma vez a cada três anos para levar uma dessas sementes. 2. Imagine uma montanha de dez quilômetros cúbicos. Um kalpa seria o tempo que ela levaria para desaparecer se um ser celestial roçasse nela com a ponta da manga de seu traje de seda uma vez a cada três anos. 3. Imagine a água de todos os oceanos. Um kalpa seria o tempo que levaria para secá-la se um ser celestial descesse uma vez a cada três anos para molhar um pincel. Essa forma oriental de entender o tempo como algo efetivamente in�nito contrasta com a forma mais generalizada do Ocidente, onde somos obcecados por preencher os dias, as horas e os minutos. TODOS OS BRANCOS TÊM UM RELÓGIO, MAS NENHUM TEM TEMPO Em 2015, meu marido publicou um livro de crescimento pessoal chamado A viagem de sua vida, um diário de bordo das dez viagens que mais nos marcaram após mais de duas décadas percorrendo o mundo juntos. A escala na Etiópia tinha o título de “Tire seu relógio e recupere seu tempo”. Foi nesse país tão desconhecido quanto fascinante, por volta de 2002, que nós dois vislumbramos pela primeira vez a necessidade de nos libertarmos da tirania do relógio. Nesse capítulo ele contava como o chefe de uma tribo hamer, com a qual tínhamos passado a noite, nos convidou a participar de uma festa tradicional que seria celebrada no dia seguinte. Eu me lembro que pegamos uma pasta com nosso plano de viagem escrito à caneta e explicamos a ele que sentíamos muito, mas tínhamos de seguir em frente. O ancião nos olhou �xamente e sentenciou: — Todos os brancos têm um relógio, mas nenhum tem tempo. Saímos da cabana pensando sobre essa frase. Ele tinha razão. Os ocidentais se empenham em estimar o tempo em segmentos cada vez menores; séculos, anos, dias, horas, minutos, segundos… e nós nos obrigamos a preenchê-los e a seguir seu ritmo. Acreditamos que o tempo tem existência em si mesmo, que esses ponteiros estão aí desde o princípio da eternidade e que os seres humanos estão condenados a viver no ritmo determinado para nós. O sol tinha começado a cair, mas ainda fazia calor. Amanhecer, entardecer… Compreendemos que esse era o único relógio dos membros daquela tribo. Para eles, a vida se dividia em momentos marcados pelos fatos que realmente ocorriam. O tempo só existia quando eles faziam com que existisse. Cada um marcava o ritmo a �m de agir mais, viver mais. Naquela tribo não diziam “há dois anos” ou “há dez anos”; diziam: “Quando este guerreiro passou pelo ritual do salto dos bois”, ou “quando nós todos abrimos o poço em plena seca”. Por isso respeitavam tanto os anciãos, porque tinham vivido mais coisas que os jovens (ao contrário do que nós diríamos: falta tempo para os velhos!). Voltamos à cabana para dizer ao ancião que íamos �car para o dia seguinte e todos os que fossem necessários. Então notamos que o enfeite que ele usava na testa, pendurado de uma faixa que envolvia sua cabeça, era meia pulseira metálica de um relógio. Alguém o havia presenteado e ele tinha arrancado o relógio — que desde então devia estar no fundo do rio Omo — e colocado alguns elos de aço inoxidável de enfeite. Não vou recomendar que você jogue seu relógio no lixo, mas, ao longo dos próximos capítulos, vou lhe dar algumas sugestões de como usá-lo corretamente e recuperar seu tempo. UM POUCO DE SÍNTESE Um relógio pode ser um dispositivo muito útil ou um instrumento que nos acorrenta. Antigamente, a etiqueta dizia que para ver a hora era melhor ir à outra sala, um bom hábitoque devíamos recuperar. Não se deve desperdiçar nem um minuto sequer, porque esse é um tempo que pode ser empregado de forma maravilhosa. Melhor do que ter um relógio de ouro e brilhantes é ter tempo. POR QUE O TEMPO É SERENIDADE VISTA-ME DEVAGAR PORQUE TENHO PRESSA O tempo são os trilhos pelos quais circula o trem de nossa vida. Se os trilhos estão cuidados e o traçado está bem pensado, nossos dias �uirão com leveza, quase como se não tocássemos o chão. Se deixamos de cuidar dos trilhos, permitindo que enferrujem, ou os enchemos de bifurcações e cruzamentos, nosso trem não vai chegar a lugar nenhum, e é possível até que ele descarrilhe ou se choque contra outros trens. Algo semelhante acontece com as pessoas que não têm nenhum controle sobre sua agenda. Elas enchem suas jornadas de caos, o que acaba prejudicando os outros, e estão sempre contra o relógio. Elas ocultam as obrigações e vão correndo de uma urgência para outra; às vezes dedicam muito tempo a atividades secundárias, e aí �cam faltando horas para fazer o essencial. Esgotadas, essas pessoas vivem navegando pela desordem e reclamam de não conseguir lidar com tudo. A vida as supera. Tudo isso tem remédio se aplicarmos o TM, mas, antes de explicar no que ele consiste, vamos ver o que acontece quando nos dedicamos a viver sem tomar o controle de nosso tempo. A VIDA SEM TIME MINDFULNESS Administrar mal o tempo di�culta nossa vida e a enche de caos e irritação. O que se traduz em um estado permanente de tensão e transitoriedade que acaba minando os nervos e a própria saúde do corpo. Por trás de muitos quadros de estresse crônico, transtornos de ansiedade e doenças relacionadas, como úlceras ou problemas cardiovasculares, há uma péssima gestão do tempo que nos obriga a estar em alerta permanentemente e produz uma sensação de esgotamento. O fato de não saber organizar nosso tempo leva a: S . A pessoa sem TM está em uma corrida de obstáculos constante, porque a desorganização faz com que precise buscar soluções de última hora, que em geral não são as melhores. Isso implica um gasto maior de energia e, frequentemente, também econômico, como veremos no próximo capítulo. I . Se não temos controle sobre nosso tempo, isso promove o estresse de ter de decidir tudo em movimento. Por exemplo, por não ter reservado a tempo o restaurante apropriado para um jantar importante, você terá que se conformar com opções piores, e além disso precisará investir um tempo extra nessa busca de última hora. C ( ). A falta de TM faz com que ponhamos mais coisas na agenda do que podemos fazer, o que resulta em angústia. Isso quando não nos esquecemos diretamente dos compromissos marcados. Em consequência, chegamos tarde em todos os lugares ou temos de cancelar compromissos, o que é um problema para os outros e para a própria pessoa, já que será necessário procurar um novo espaço na agenda, o que signi�ca novamente investir mais tempo. S . Todo mundo passou por isso, pelo menos, uma vez em seus tempos de estudante. Apesar de ter boas intenções, a hora de estudo vai sendo adiada e, no �m, você se vê na noite da véspera da prova diante de uma pilha de anotações e com os nervos à �or da pele. Os resultados não costumam ser os melhores — com sorte, você salva a situação com uma nota mínima para aprovação —, e a maratona de última hora cobra o preço sobre o corpo. Especialmente na maturidade, roubar horas de sono por culpa de nossa desorganização pode ser fatal. UM SUICÍDIO BIOLÓGICO Carlos Egea, pneumologista do hospital Vithas San José de Vitória, membro da Sociedade Espanhola do Sono, a�rma que dormir menos de seis horas por dia é um suicídio biológico. “Roubar” horas de descanso para fazer o que devíamos ter feito enquanto estávamos acordados é um negócio extremamente perigoso já que, segundo esse respeitado médico, “dormir menos de seis horas aumenta em 30% o risco coronariano”. Além de botar em perigo a vida — muitos acidentes de trânsito têm sua origem em um microssono causado pela falta de descanso —, a privação de sono afeta a concentração no trabalho, o que multiplica os erros, e os órgãos perdem a capacidade de recuperação. A VIDA COM TIME MINDFULNESS Einstein dizia que “a única razão para o tempo existir é para que não aconteça tudo simultaneamente”. E certamente essa é a �nalidade do uso inteligente do relógio: em vez de correr como condenados, sentindo que o mundo está caindo sobre nossas cabeças, podermos aproveitar a paisagem do trem. A boa gestão do tempo, quando seguimos nossas prioridades e fazemos uma coisa depois da outra, traz a serenidade de forma natural. Ela nos dá uma sensação agradável de controle sobre nossa própria existência. Ao contrário da aceleração, do multitasking e de seguir fazendo reparos, seria um estilo de vida que poderia se desenvolver assim: Acorde um pouco antes do necessário, com tempo su�ciente para não começar o dia correndo. Depois de seu ritual matinal — exercício, meditação, um pouco de leitura —, disponha de tempo para tomar café da manhã com calma, planejando os principais objetivos do dia. Vá para a rua com tempo su�ciente para não ter de se apressar. Você pode se permitir fazer parte do caminho a pé e prestar atenção ao mundo que o rodeia. Não se desgaste atualizando suas redes sociais pelo caminho. Quando estiver no local de trabalho, concentre-se em seu serviço, sem outras distrações, para �uir com o que faz e estar com as tarefas em dia. Assim você evitará sair mais tarde. Aproveite o horário de almoço para conversar com os amigos ou atualizar suas redes, se necessário. Dedique a tarde — ou o tempo livre do dia — para fazer o que realmente lhe apetece, sem compromissos desnecessários. Se estiver com um amigo, é porque esse encontro realmente lhe agrada. Em lugar de se anestesiar uma noite após a outra com séries ou em frente à TV, aproveite seu tempo para cozinhar, conversar com a família e repassar os acontecimentos do dia. Tome nota do que você fez durante o dia e o que pode fazer melhor no dia seguinte. Um pouco de leitura em papel, ou outra atividade relaxante, será uma boa maneira de preparar seu corpo para o sono. Durma as horas necessárias — nunca menos de sete ou oito — para poder enfrentar a manhã seguinte com energia e o foco concentrado nos objetivos. Para poder viver com esse tipo de serenidade, é preciso aprender a extrair o sumo de cada momento. Na segunda e na terceira partes deste livro, abordaremos técnicas e truques para conseguir fazer isso. O HOMEM TRANQUILO O grande mestre da serenidade Ramana Maharshi era também um verdadeiro especialista na administração do tempo. Conta-se desse guru indiano do século passado que ele emanava tamanha tranquilidade e paz que, diante de sua presença, seus visitantes também entravam em um estado de profunda meditação e calma. A ele se atribui a frase: “É preciso que mostrem a você o caminho dentro de sua própria casa?” Seu discípulo e biógrafo Arthur Osborne, ao falar dos hábitos cotidianos desse sábio, faz alusão ao respeito que ele tinha por seu tempo e pelo das outras pessoas: Bhagavan Sri Ramana foi meticulosamente exato, muito atento, prático e de ótimo humor. Sua vida diária foi conduzida com uma pontualidade que os indianos de hoje teriam de chamar de puramente ocidental. Ele foi preciso e organizado em tudo. A sala do ashram era varrida várias vezes por dia. Os livros estavam sempre no lugar. Os tecidos que cobriam o sofá estavam meticulosamente limpos e perfeitamente dobrados. A tanga, que era tudo o que vestia, era de um branco resplandecente. Os relógios do salão eram acertados diariamente com o horário da rádio. Nunca se permitiu que o calendário �casse com a data atrasada. A rotina da vida �uía de maneira regular. Sri Ramana também era rígido com seus discípulos, insistindo que cumprissem suas tarefas pontualmente. O MOSTEIRO EM CASA Sem a necessidade de viver em um ashram ou em um mosteiro zen, podemos aplicaressa ordem que proporciona serenidade à vida cotidiana. Nossa mente, que pensa constantemente, e nosso ambiente frequentemente nos levam à intranquilidade. Integrar estas práticas ajudará você a preservar a calma: M . A bagunça e a acumulação em nosso espaço são re�exo de uma mente desordenada. Nesse sentido, não é por acaso que spas sejam zonas limpas e praticamente vazias. P . Ter poucas coisas contribui para economizar dinheiro, e a mesma coisa acontece com o tempo. Um estudo de Harvard demonstrou que um ambiente de trabalho limpo e espaçoso é muito mais produtivo que outro cheio de objetos e arquivos. Se você quer melhorar sua concentração, elimine a maior quantidade de coisas de sua área de trabalho. L . O café, o chá e as bebidas energéticas podem mantê-lo ativo por algumas horas, mas, se o deixam nervoso ou irritado, você não desfrutará de um tempo de serenidade nem de qualidade. A . Não basta prestar atenção a como alimentamos o corpo, mas também a como nutrimos nossa mente. Por isso é importante ver e ler coisas com uma mensagem otimista ou formativa. Não desperdice seu tempo valioso enchendo sua mente de lixo. T . De vez em quando, é preciso dar um descanso à mente, passando um tempo sem televisão, fones de ouvido nem nada que gere som. Se isso o incomoda, pode ser que algo não esteja funcionando em sua vida, e o silêncio vai ajudá-lo a descobrir isso. E . Há pessoas que promovem con�itos, que sempre estão reclamando ou fazendo drama por qualquer coisa. Quando chegam a sua vida, trazem caos e esgotamento. Se puder, evite-as e busque a companhia de pessoas que tenham uma personalidade agradável. A serenidade é contagiosa. L . Especialmente antes de dormir, estar exposto a telas — televisões, celulares, tablets e leitores de livros digitais — é uma garantia de grande irritação para os nervos. Voltar à leitura analógica é uma forma de investir nosso tempo em serenidade e em uma compreensão mais profunda das coisas, já que associamos as telas ao instantâneo e super�cial. SERENIDADE = PRODUTIVIDADE Uma mente lúcida e calma pode analisar cada problema e agir com seriedade, aplicando os recursos e medidas apropriados. Se, como produto da pressa ou dos estimulantes, reagimos de forma excessiva diante de qualquer situação, só conseguiremos gerar estresse, cometer erros e, portanto, desperdiçar nosso tempo e energia. Diz um provérbio hindu: “Não há nada que pague um instante de paz.” E uma maneira excelente de promover essa paz consiste em ser prudente com o relógio, evitando armadilhas que nos roubam o tempo e a serenidade, como: Ser otimistas demais com nossa agenda. Dar um prazo curto para uma tarefa que, na verdade, necessita de mais tempo. Assumir compromissos desnecessários. Dizer “sim” quando queremos dizer “não”. Ficar hipnotizados diante das redes sociais ou da televisão para “matar o tempo”. Dormir ou comer mal achando que poupamos tempo. Sobre esse último ponto, talvez ganhemos minutos ou horas, mas nosso rendimento ao longo do dia será de baixa qualidade e, no �m das contas, teremos sido menos produtivos. UM POUCO DE SÍNTESE A má gestão do tempo leva você a estar sempre irritado e a passar o dia correndo, o que reduz a qualidade de vida. É uma péssima decisão roubar horas de sono, já que, além de pôr em perigo nossa saúde, acabamos rendendo menos. Ter controle sobre o relógio e a agenda nos traz segurança e con�ança na vida. Uma jornada serena é mais produtiva que a de quem vive sob o jugo do estresse. POR QUE TEMPO É DINHEIRO GESTÃO DE RICOS, GESTÃO DE POBRES Quando escrevi Money Mindfulness, meu livro sobre como gerar, conservar e multiplicar dinheiro, dediquei um capítulo importante a esta máxima: “O tempo é a divisa mais rentável do mundo.” Ainda há muita gente que vive como se o tempo não custasse nada e o gasta de forma irre�etida, sem tomar consciência de que ele é nosso recurso mais limitado. Quem administra mal seu tempo também administra mal seu dinheiro, já que ambos são duas faces da mesma moeda. Cada vez que compramos alguma coisa, na verdade pagamos com nosso tempo ou, o que dá no mesmo, com nossa vida. E, na verdade, as perdas de tempo se convertem de forma imediata em perdas de dinheiro. Por isso, assim como temos de prestar atenção a cada euro, devemos fazer o mesmo com cada minuto de nossa vida. Ter a consciência real de seu valor para, a partir disso, aproveitá-lo ao máximo. Como dizia Gandhi, um grande gestor do tempo ao qual voltaremos mais adiante: “Assim como não se pode perder um grão de arroz ou um pedaço de papel, você não pode perder um minuto de seu tempo.” NÃO VENDA SEU TEMPO, COMPRE-O Antes de entrarmos no método prático que você encontrará na segunda parte deste livro, é preciso observar que estamos diante de uma mudança de paradigma. Em relação à gestão do tempo como instrumento gerador de dinheiro, o que funcionava há uma década já não é útil hoje em dia. Podemos resumir a nova realidade por meio de uma frase do conferencista Harv Eker, um tanto radical, mas correta: “Os pobres vendem seu tempo, enquanto os ricos o compram.” Os ricos sabem que o tempo é mais valioso que o dinheiro em si, por isso contratam pessoas para fazer as coisas que não lhe agradam ou nas quais investir seu tempo não seria produtivo. Os pobres, ao contrário, trocam seu tempo por dinheiro. Uma estratégia que parte de um inconveniente do qual é impossível escapar: o tempo é limitado. Ao funcionar assim, coloca-se limites em seus rendimentos, cerceando toda a possibilidade de se obter riqueza. Quando vender seu tempo, lembre-se de uma das leis de Money Mindfulness: “Não se ganha dinheiro trabalhando mais horas, mas liberando o tempo para pensar em novas oportunidades.” Os novos critérios de produtividade, como explicaremos na terceira parte deste livro, estão rompendo com o tópico de “gastar horas” em troca de um salário �xo, porque esquentar a cadeira não equivale a ser produtivo, e não é rentável nem para o trabalhador nem para a empresa. As empresas mais visionárias do planeta, como a Net�ix ou outras de setores relacionados à inovação, começaram a comprar resultados de seus empregados, independentemente das horas que trabalhem ou se estão presencialmente no escritório ou trabalhando remotamente. Entretanto, ainda há muita gente que vende seu tempo por atacado, entregando em bloco todas as horas do dia, mesmo quando grande parte delas não são produtivas ou não se re�etem em um salário mais alto; da mesma forma, muitos trabalhadores autônomos, apesar de serem seus próprios chefes, trabalham de sol a sol para, com sorte, chegarem apertados no �m do mês. E o que é pior: muitas pessoas que, embora tenham um salário alto ou ganhem mais do que poderiam imaginar, não têm tempo de aproveitar isso porque entregam em troca absolutamente todas as suas horas e vivem imersas em uma busca interminável: trabalham para pagar as contas de todas as coisas desnecessárias que vão comprando à medida que ganham mais. Se você está em alguma dessas situações, além das estratégias �nanceiras propostas em Money Mindfulness, sem dúvida precisa de TM. É necessário tomar consciência tanto do valor do tempo que você dedica ao trabalho quanto do que precisa reservar para si mesmo e para os seus a �m de levar uma vida plena e próspera. A AGENDA DAS PESSOAS EFICIENTES Pense nisto que vou lhe dizer: todas as pessoas do planeta têm a mesma quantidade de horas em um dia. Então por que há pessoas que têm muito mais e obtêm resultados melhores que eu? É porque são mais rápidas e inteligentes, porque têm mais facilidades? Talvez haja um pouco disso, mas é principalmente porque sabem administrar seu principal recurso — o tempo — de forma e�caz graças a ferramentas e hábitos que as ajudam a esticá-lo como se fosse um elástico. O empreendedor e escritor Kevin Kruse entrevistou mais de duzentas pessoas de sucesso, incluindo multimilionários,empresários, atletas olímpicos e estudantes brilhantes, e perguntou a eles qual seu principal segredo para a produtividade. Você pode imaginar qual foi a resposta? Tratar o tempo como seu ativo mais valioso. Eles a�rmaram que o tempo era seu ativo mais valioso pois, com ele podiam conseguir todo o resto, inclusive a prosperidade econômica. É possível até recuperar dinheiro se ele foi perdido, mas não há forma de recuperar o tempo. Uma vez gasto, não se pode sair para buscar mais, nem comprá-lo nem pedi-lo emprestado. Partindo dessa premissa, essas entrevistas demonstraram que as pessoas altamente produtivas experimentam o tempo de forma diferente. Elas não seguem sistemas complexos de gestão, com diagramas complicados. Em vez disso, têm em comum uma série de hábitos fáceis de aplicar por qualquer um. Vou resumir em seguida os mais signi�cativos para que você logo possa aumentar essa lista de felizardos. Vamos chamá-los de “hábitos para converter o tempo em ouro”. 1. Concentre-se nos minutos, não nas horas As pessoas comuns organizam suas agendas por horas ou meias horas, enquanto as pessoas de muito sucesso têm plena consciência de que cada dia tem 1.440 minutos. Se dormimos oito horas, o que é altamente recomendável, temos à disposição 960 minutos a cada dia que devem ser aproveitados como merecem. O potencial de cada minuto é importantíssimo e conta para o resultado �nal. Por isso, pense duas vezes antes de pedir “um minuto” a alguém, ou antes de você mesmo doá-lo. E em especial antes de desperdiçá- lo. Para manter o domínio sobre sua agenda, seu tempo e, portanto, suas �nanças, você deve manter cada minuto sob controle. O CLUBE DAS 5H DA MANHà Robin Sharma, que começou a �car famoso em todo o mundo em 1999 com O monge que vendeu sua Ferrari, causou grande impacto recentemente com seu livro O clube das 5 da manhã. Por meio de uma fábula na qual um milionário excêntrico se torna mentor de dois desconhecidos, ele apresenta um método no qual, além de evitar as distrações digitais, madrugar tem importância capital. Se levantar quando a maior parte da humanidade está dormindo libera uma primeira hora preciosa para despertar o “gênio interior”, garante Sharma, que sugere praticar o 20/20/20. Depois de madrugar, vamos dedicar os primeiros vinte minutos a fazer exercícios e suar, já que isso aumenta as conexões neuronais. O próximo bloco de vinte minutos será reservado para planejar nossos objetivos, começando assim a jornada com o foco bem dirigido. O terceiro bloco dessa hora lúcida está destinado ao aprendizado: ler biogra�as de grandes personagens, escutar podcasts informativos ou qualquer outra atividade que nos permita ganhar conhecimento. Outra das regras apresentadas por Sharma em seu livro é a 90/90/1. Ela consiste em dedicar, durante noventa dias consecutivos, os primeiros noventa minutos de cada dia para fazer exclusivamente uma mesma coisa que considere ser uma grande oportunidade para si mesmo. Em vez de responder a e-mails ou mensagens ou ler notícias na internet, o autor garante que cumprir esse desa�o sem falhas durante três meses — o que exigirá se levantar bem antes de ir trabalhar — produz resultados lendários. 2. Pratique uma rotina matinal Antes de Sharma escrever seu livro, as pessoas altamente e�cazes já sabiam que vale a pena dedicar uma hora do dia para fortalecer sua mente, seu corpo e seu espírito com rituais matinais perfeitamente de�nidos. Mesmo que não pratiquem o 20/20/20 nem o 90/90/1, a maioria se levanta cedo, se hidrata bem, toma um café da manhã saudável, faz exercícios leves e alimenta a mente com meditação, oração ou com leituras inspiradoras ou jornais. Incorporam rituais de agradecimento ou autorre�exão para deixar claro quais são seus objetivos para aquele dia. O guru Vaibhav Shah dizia: “Cada vez que você vê uma pessoa de sucesso, vê apenas sua glória pública, nunca os sacrifícios particulares para conquistá-la.” O melhor de aplicar TM é que você não perceberá isso como um sacrifício extra. 3. Priorize As pessoas ultraprodutivas se concentram em uma única coisa, o que as leva a conseguir isso com sucesso. Como primeiro passo, identi�cam sua meta. Dependendo de sua situação ou atividade, pode ser desde conseguir uma promoção, mais clientes ou alcançar as vendas que lhe permitam cobrar os 100% de bônus, até manter uma família unida e saudável, ou passar em provas que abrirão novas oportunidades para você. Em seguida, identi�cam qual tarefa terá o maior impacto para aproximá-las dessa meta e dedicam a ela uma ou duas horas a cada manhã, na verdade, as primeiras horas do dia porque costumam ser as mais produtivas. Um conselho extra: elas fazem isso evitando qualquer tipo de interrupção (mais à frente vou explicar como conseguir isso). ENGULA ESSE SAPO Dan Ariely, professor de psicologia e comportamento econômico na universidade de Duke, a�rma que a maioria das pessoas são mais produtivas — e seu potencial cognitivo é maior — durante as primeiras horas da manhã. “Infelizmente”, a�rma, “as rotinas da maioria das pessoas e seus horários de trabalho não estão projetados para maximizar esse potencial brilhante e precoce. Um dos erros mais tristes na gestão do tempo é que as pessoas dedicam essas duas horas mais produtivas a coisas que não exigem grande capacidade cognitiva, como as redes sociais.” Se não as aproveitamos para navegar pelas redes sociais, grandes predadoras de tempo, temos a tendência de utilizar nossas primeiras horas do dia para tarefas mais fáceis e triviais, como ver e-mails ou ler as notícias, pois isso nos mantém na zona de conforto. As primeiras horas do dia são também as mais e�cazes para resolver problemas, segundo indicam dois grandes gestores do tempo que recomendam: “Engula esse sapo.” Contra o hábito preguiçoso de começar pelo fácil e postergar os problemas ao longo do dia, o que ocupará espaço mental por todo o dia, a �loso�a engula esse sapo propõe que nos livremos primeiro da tarefa mais pesada ou con�itante para assim render nas horas seguintes sem esse peso. 4. Esqueça as listas de tarefas As resoluções de ano novo costumam fracassar retumbantemente, salvo raras exceções. Trata-se apenas de listas de tarefas ou objetivos, meras anotações de coisas pendentes que você espera realizar, mas que não estão acompanhadas de nenhum plano, nem de prazos especí�cos. Além disso, quando as escrevemos no dia a dia, não costumamos distinguir entre o urgente e o importante e misturamos sem ordem nem regra atividades que poderiam ser feitas em poucos minutos com outras que, com certeza, levarão horas para serem executadas corretamente. Uma vez terminada a lista, mergulhamos de cabeça e começamos com os trabalhos mais fáceis ou aqueles que são feitos rapidamente, sem levar em conta se são ou não essenciais ou se darão algum retorno. O que nos deixa realmente satisfeitos, porque nos leva a crer que somos e�cientes, é eliminar tarefas da lista. Quanto mais, melhor, sem nos importarmos que essas sejam as mais insigni�cantes. Dessa forma, além de ser improdutiva, a lista se converte em um lembrete constante de tudo o que nos falta fazer, o que gera estresse e insônia. Já nos anos 1930, a psicóloga russa que investigou o “efeito Zeigarnik” alertou: as tarefas incompletas permanecem em sua mente até que você as termine, ocupando espaço e roubando seu tempo e energia. Sabe como ela chegou a essa conclusão? Observando que garçons se lembravam melhor dos pedidos pendentes ou sem cobrar do que daqueles que haviam acabado de servir, o que a levou a realizar alguns estudos que demonstraram como a memória é mais e�caz com os processos não concluídos… Basta pensar nas séries de televisão que nos prendem. 5. Programe sua agenda Em vez de fazer listas, as pessoas altamente produtivas programam cada tarefa em sua agenda, independentemente se é uma reunião com seu melhor cliente, um telefonema para sua mãe ou sua sessão semanal de coaching. Sem afetar a �exibilidade exigida pelo �uxo do dia a dia, toda tarefa que você resolveu agendare para a qual reservou um tempo — não há outra forma de fazer as coisas — deve ser considerada bloqueada como se fosse uma consulta com seu médico. Viva de acordo com essa agenda. Se uma tarefa não está agendada é como se não existisse; e, quando está, é preciso cumpri-la, aconteça o que acontecer, sem desculpas. Ao contrário do que acontece quando você escreve uma tarefa em uma lista, o fato de anotá-la em sua agenda libera sua mente. Mesmo que não a termine e tenha de reagendá-la para o dia seguinte, o efeito é diferente, já que você terá mais uma vez atribuído a ela um tempo e talvez também um espaço no qual realizá-la. E lembre-se do que nos diz Jeff Weiner, diretor-executivo do LinkedIn: “Separe blocos de tempo para pensar, para não fazer nada.” Em sua agenda, tudo deve estar anotado e, como veremos em detalhes em outro capítulo, o nada também deve estar anotado. A AGENDA DE WARREN BUFFETT Em um encontro cara a cara entre Bill Gates e o milionário Warren Buffett para uma rede de TV norte-americana, o primeiro disse: “Eu me lembro quando Warren me mostrou sua agenda.” Em seguida, Buffett sacou um caderninho de seu bolso e o entregou ao entrevistador. “Aqui não tem quase nada…”, surpreendeu-se ele ao folheá-lo. “Absolutamente”, respondeu Buffett, enquanto Gates brincava dizendo: “É alta tecnologia, tenha cuidado, você pode não entender.” Enquanto o entrevistador comprovava que em alguns meses havia apenas três ou quatro anotações, Gates contou que, tempos atrás, ele tinha cada minuto cheio de compromissos porque pensava que era a única maneira possível de fazer as coisas; e que foi exatamente Buffett quem lhe mostrou a importância de deixar tempo para pensar: “É preciso controlar seu tempo. Diante das exigências de ter reuniões, e coisas desse tipo, sentar- se e pensar pode ser uma prioridade alta para um CEO.” Buffett explicou que todo mundo queria seu tempo, por isso tinha de ser muito cuidadoso com ele: “Basicamente posso comprar qualquer coisa que eu queira, mas não há maneira de comprar mais tempo.” O investidor eliminou de sua agenda quase todas as tarefas que supostamente deveria fazer: nunca fala com analistas. Raramente fala com a mídia. Não assiste a eventos da indústria. Vai apenas a reuniões internas. Ele morou fora de Nova York durante quase toda a sua carreira. Tudo pela simplicidade, que por sua vez lhe proporciona tempo. 6. Use um caderno para liberar a mente Richard Branson diz que não teria construído a Virgin se não fosse um simples caderno que leva com ele aonde quer que vá para anotar seus planos. Por sua vez, o magnata grego Aristóteles Onassis recomendava: “Carregue sempre um caderno. Anote tudo: ideias, as pessoas novas que conheceu, coisas interessantes que ouviu. Essa é uma lição de um milhão de dólares que não ensinaram a você na escola de administração!” Em geral, as pessoas ultraprodutivas liberam sua mente e, por isso, ganham tempo porque não há nada pendente em seu pensamento, já que anotam qualquer ideia em tempo real. Datas, endereços, possíveis presentes, alternativas de férias, restaurantes, uma garrafa de vinho de que gostou para não ter de rever novamente a carta completa, um diagrama da mesa na primeira reunião com clientes… eu me lembro do que dizia um professor de meu instituto: “Quem não toma nota é um idiota.” Para os efeitos do TM, essa a�rmação é bastante verdadeira. A CANETA É MAIS PODEROSA QUE O TECLADO Como demonstra um estudo dos psicólogos Pam A. Mueller e Daniel M. Oppenheimer publicado na Psychological Science, é melhor tomar notas à mão do que no celular. Em suas próprias palavras: “Tomar notas no celular em vez de à mão é cada vez mais comum. Muitos investigadores sugeriram que tomar notas em um celular é menos e�caz que tomar notas à mão para aprender. (…) Em três estudos, descobrimos que os estudantes que tomaram notas nos celulares obtiveram resultados piores que os estudantes que �zeram anotações à mão. Demonstramos que, embora tomar mais notas possa ser bené�co, a tendência dos que tomam notas no celular é transcrever as reuniões em vez de processar a informação e reformulá-la com suas próprias palavras. Isso acontece em detrimento do aprendizado. Eles se lembram dos dados, mas aplicam pior os conceitos.” 7. Delegue o que for possível As pessoas ultraprodutivas não perguntam: como posso fazer esta tarefa? Em vez disso, perguntam: como esta tarefa pode ser feita? Isso equivale, na medida do possível, a eliminar o “eu” da equação. Trata-se de passar seu tempo fazendo o que sabe fazer melhor e desenvolvendo os pontos fortes que só você tem. Aqui estão as famosas três perguntas de Harvard que vão permiti-lo economizar algumas horas por semana: O que posso deixar de fazer que não agrega valor nem a mim nem a minha empresa? O que posso delegar ou terceirizar, já que não sou a única pessoa que sabe fazê-lo? O que preciso continuar fazendo, mas posso redesenhar para fazer de forma mais e�ciente, ou seja, com os mesmos resultados e menos tempo? 8. Jante em casa… ou em outro planeta As pessoas altamente produtivas sabem o que valorizam na vida, e não é apenas o trabalho. Para alguns, é o tempo com a família, para outros, o exercício, a formação pessoal constante… Momentos esses que estão incluídos nessa agenda e que devemos cumprir de qualquer forma. Como diz o executivo da Intel Andy Grove, “sempre há mais coisas a fazer, mais do que deveria ser feito, mais do que é possível fazer”, por isso um elemento diferencial é incluído por quem, em vez de queimar sem parar uma hora depois da outra, aprende a dizer: “Até aqui é o su�ciente.” Desta forma, ele se converte em um mestre em abrir mão, em se permitir se soltar. Encontrando, assim, tempo para o que ama de verdade. Para Sheryl Sandberg, chefe de operações do Facebook, a prioridade é jantar em casa todos os dias; para Richard Branson, é imaginar uma aventura em algum planeta. Só você sabe qual é a sua. Inclua isso em sua agenda e dedique esse tempo ao que realmente quer. Celebre o que fez e não lamente o que não conseguiu fazer. Como recomendava o �lósofo Ralph Waldo Emerson há um século e meio: “Termine cada dia sem remorsos. Você fez o possível. Amanhã será outro dia.” UM POUCO DE SÍNTESE Cada minuto de seu tempo conta e sempre vale mais que o dinheiro. É conveniente dedicar as primeiras horas da manhã, as de maior rendimento, às coisas verdadeiramente importantes. Postergar um problema só serve para que ele ocupe espaço mental por todo o dia. Não faça listas; agende quando e como vai fazer cada coisa. Delegue tudo o que puder e concentre-se naquilo que só você pode fazer. Reservar tempo livre para pensar é o maior investimento que pode ser feito. POR QUE O TEMPO É CRIATIVIDADE SOBRE A IMPORTÂNCIA DO VAZIO Em uma conhecida fábula oriental, um homem muito rico visita um mestre de chá famoso por sua sabedoria. Enquanto o visitante explica tudo o que fez e conseguiu na vida, o mestre de chá vai enchendo sua xícara até que no �m a infusão transborda e acaba se derramando sobre a mesa. Quando o hóspede endinheirado lhe diz que pare de servir chá, pois a xícara está cheia, o mestre retruca: “Ela está cheia como você está cheio de si mesmo. Assim, será impossível que aprenda qualquer coisa.” Esse conto próprio dos ensinamentos zen indica o título deste capítulo: se não se gera espaço livre, ou seja, tempo, não é possível que surja nada de novo. E, apesar disso, se observamos as agendas da maioria das pessoas, parece que elas são viciadas em encher de atividades e compromissos todo o tempo disponível. A que se deve isso? HORROR VACUI Essa expressão latina signi�ca “horror ao vazio” e tem sua origem em uma crença da antiguidade segundo a qual o vazio não podia existir no cosmo. No âmbito da arte e da decoração, fala-se de horror vacui quando há a tendência de encher todo espaço disponível, algo que ocorria com o barroco ou na tradição da arte muçulmana. As vanguardas do século XX criticaram muito o costume de encher todo o espaço disponível, eo arquiteto austríaco Adolf Loos chegou a a�rmar em um famoso artigo de 1908 que “o ornamento é um crime”, algo próprio de bárbaros e de pessoas sem estilo. No design nórdico e no admirado visual zen que distingue os produtos da Apple, por exemplo, tenta-se abrir mão de tudo o que é acessório. Não há nada mais belo que uma superfície branca e vazia para estimular a imaginação e a criatividade. A UTILIDADE DO VAZIO No poema XI do Tao Te Ching, o mestre Lao-tsé já se referia, há dois milênios e meio, ao poder criativo de não encher o espaço e o tempo: Trinta raios convergem no centro de uma roda, mas é seu vazio que é útil para o carro. Modela-se a argila para fazer a vasilha, mas de seu vazio depende o uso da vasilha. Abrem-se portas e janelas nas paredes de uma casa, e é o vazio o que permite habitá-la. Nós centramos nosso interesse no ser, mas a utilidade depende do não ser. Assim como Loos considerava que encher o espaço não combinava com a modernidade, uma agenda abarrotada de coisas é um ato igualmente bárbaro, já que eliminamos qualquer opção de improvisar, de produzir algo novo. Voltemos à pergunta: por que o cidadão moderno, que carrega um smartphone, padece de horror vacui em sua organização do tempo? Pode haver vários motivos: Uma �xação equivocada pela produtividade, entendendo que apenas o “cheio” tem valor, ignorando que o “vazio” é a premissa da inovação. A obrigação autoimposta de atender às expectativas das outras pessoas. Se cada vez que alguém quer alguma coisa de nós, o que é pago com tempo, dizemos que sim, �caremos sem nenhum espaço para poder fazer outras coisas. O medo de um encontro consigo mesmo promovido pelo espaço vazio. Talvez essa seja a razão mais importante do preenchimento de nossa agenda. Enquanto fazemos coisas e atendemos pessoas, não temos tempo de pensar. E se paramos para pensar… talvez surjam perguntas incômodas às quais temos di�culdades para responder. Muitas pessoas enchem seu tempo com qualquer coisa para evitar esse desa�o. Pablo Neruda advertia sobre esse tipo de horror vacui: “Um dia em qualquer lugar, você vai indefectivelmente encontrar a si mesmo, e essa, apenas essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga de suas horas.” MANOBRAS DE DISTRAÇÃO O compromisso consigo mesmo que leva à re�exão e à criatividade pode ser evitado de muitas maneiras. A mais comum é assumir mais trabalho do que devíamos realmente fazer, já que isso nos libera de pensar. Outra, muito habitual, é encher o tempo livre com séries de TV — há quem veja temporadas inteiras em um �m de semana — ou “preencher” qualquer minuto livre no transporte público, no trajeto do trabalho para casa, com redes sociais que raramente nos trazem algo de valor, mas que nos “distraem”. Em seu ensaio Os grandes prazeres, Giuseppe Scaraffia observa que esse vício em distrair a mente das perguntas fundamentais não é exclusividade desta época. No século XVIII, o �lósofo Benjamin Constant tinha �xação pelos bordéis e, em um exemplo mais moderno, Ernest Hemingway se embebedava para poder encher seu vazio, apesar de seu grande talento criativo. Um horror vacui que o levou a se suicidar com um tiro de escopeta em 1961 ao se sentir incapaz de continuar criando. NO NADA, TUDO É POTENCIAL O Gênesis bíblico começa com o nada, a partir do qual o criador faz surgir o universo e tudo o que há dentro dele. Esse nada que contém tudo em potencial está à disposição de qualquer pessoa que queira fazer de sua vida um ato de criação. Otto Scharmer, professor do MIT em Boston, defende essa necessidade de vazio em sua “Teoria U”, que pode ser resumida com duas expressões em inglês: apenas por meio do “Let it go” será possível o “Let it come”. Enquanto você estiver cheio de tudo o que é velho, como o ricaço que visitou o mestre de chá, nada de novo poderá entrar. Considerando que este é um livro sobre o tempo, vamos ver o que podemos liberar para criar um espaço temporal criativo: PARE DE… trabalhar mais horas do que as necessárias; querer abarcar tudo como se não houvesse amanhã; ir a compromissos que não o alimentem; se anestesiar com a televisão e as redes sociais. E VÃO CHEGAR… novas ideias que, de outra forma, não teriam lhe ocorrido; projetos empresariais, artísticos ou de autoconhecimento que podem transformar sua vida; descansos ou pausas para fazer uma “troca de chip”; pessoas novas que trazem ar fresco a sua vida; as satisfações de improvisar, conquistar a liberdade pessoal. AS PEDRAS GRANDES Eu me lembro de um romance simpli�cado que li enquanto estava aprendendo inglês. Ele se chamava O céu é o limite e contava a história de um homem ambicioso e cada vez mais ocupado que começa a trabalhar na sede de uma empresa que ocupa um arranha-céu. Ele começa desempenhando funções simples nos andares inferiores, mas à medida que entrega sua vida ao trabalho, vai subindo de cargo e também de andar. No �m de sua carreira, passa a ocupar o escritório de diretor da empresa no andar superior. Ao perceber que não pode mais continuar subindo e que sua carreira engoliu totalmente sua vida pessoal, ele vai ao terraço e se lança no vazio. Sem chegar a um �nal tão dramático, um exercício em forma de fábula explicada nas escolas de administração pode nos ajudar a estabelecer prioridades, assunto ao qual dedico um capítulo inteiro. Imagine que um gestor de tempo chegue a uma sala de aula com um pote de vidro e um saquinho de pedras. Após os cumprimentos iniciais, ele põe as pedras no vidro e pergunta aos alunos se ele está cheio. Quando dizem a ele que sim, ele pega um segundo saco menor, cheio de areia, e o derrama dentro do vidro. Os grãos penetram entre as pedras e acabam por encher o pote de vidro. O gestor de tempo pergunta pela segunda vez se o pote está cheio. Os alunos voltam a dizer que sim, embora perceba-se alguma dúvida em suas vozes. Em seguida, ele pega um jarro de água e o derrama no vidro cheio de pedras e areia. — Está cheio agora? — pergunta o gestor. — Não sabemos… — responde um dos estudantes em nome dos demais. — O que eu acabei de demonstrar em relação ao tempo? Após alguns instantes de silêncio, uma aluna se atreve a dizer: — Que não faz diferença o quanto sua agenda está cheia. Se você for hábil, sempre vai conseguir incluir mais alguma coisa. — Não — retruca o gestor de tempo. — O que quis demonstrar com esse exercício é a necessidade de botar as pedras grandes primeiro, porque em pouco tempo não caberão mais delas. As pedras grandes são as coisas realmente importantes em sua vida. O resto encontra seu lugar. Termino este capítulo com um convite para que você se faça uma pergunta vital: Quais são as pedras grandes de sua vida? Coloque-as no pote de vidro, que é o tempo de sua vida, antes da areia e da água. Como diz o gestor, se você põe primeiro o que deve ir primeiro, o resto encontra seu lugar. UM POUCO DE SÍNTESE Liberar tempo é imprescindível para que coisas novas aconteçam. O horror vacui esconde o medo de nos fazermos perguntas cujas respostas possam mudar nossa vida. A magia do “nada” está em conter todas as possibilidades. Se você não largar o velho, o novo não poderá vir. Ponha primeiro as “pedras grandes” de sua vida. O resto encontrará seu lugar. QUAL É SEU CRONOPERFIL? SEIS MANEIRAS DE ADMINISTRAR O TEMPO Vivemos com tanta pressa que poucas vezes temos consciência do uso que fazemos dos dias, horas e minutos que a vida nos oferece. Entretanto, se prestarmos atenção a como lidamos com o tempo, podemos introduzir mudanças que resultarão em uma grande melhora qualitativa em nosso dia a dia. O tempo é o bem mais valioso que temos, pois uma vez gasto não pode ser reposto, por isso é crucial que saibamos qual é nosso padrão na hora de empregá-lo. Isso nos coloca no terreno do TM, que nos devolverá o controle sobre nossa existência. Considerando que a forma de aproveitar o tempo é algo complexo, é possível que seu cronoper�l seja uma combinação de vários padrões,embora certamente um deles seja o dominante. Sua função é conseguir que você entenda e corrija seus hábitos disfuncionais relacionados com o uso do tempo para que sua vida seja mais �uida e melhor. Vejamos agora os cinco padrões que, se levados ao extremo, não nos permitem desfrutar do tempo: 1. O velociraptor Voa de um lugar para outro, em um estado de alerta permanente, tentando realizar o maior número de tarefas possível. Seu otimismo com a agenda é absurdo, e sempre encontra espaço para um compromisso ou missão a mais. Isso o obriga a correr ensandecido, pegando táxis para chegar em cima da hora ou atrasado em todos os lugares. Ao �m do dia, ele sente que não fez nem a metade do que havia previsto, o que gera frustração. Para esse per�l, os dias deviam ter mais de 48 horas. Os compromissos com o velociraptor são rápidos, porque ele sempre tem de ir a outro lugar, e frequentemente provoca confusões com a agenda. É habitual que ele roube horas de sono para conseguir fazer um pouco mais, embora seja pagando um preço muito alto com sua saúde. O estresse é seu modo de vida, e seu estado de ânimo mais comum são a ansiedade e o nervosismo. Muitas vezes ele sente que não aguenta com tudo, mas nem por isso tira o pé do acelerador. Ele acredita erradamente que, se parar de fazer as coisas, o mundo deixará de funcionar. Por isso, a única coisa que pode parar um velociraptor é um choque vital — um acidente ou uma doença, uma demissão ou a ruína econômica, uma separação —, a não ser que ele se entregue ao TM antes de se destruir. O conferencista Álex Rovira de�niu esse per�l com uma ordem que, quando trabalhava como consultor, ouviu ser gritada em uma empresa: “É urgente que seja urgente!” PERIGOS DA VELOCIDADE Uma fábula conta que um explorador branco, que desejava chegar o quanto antes ao coração da África, ofereceu um pagamento extra aos carregadores para que andassem mais rápido. Eles obedeceram durante vários dias, mas uma tarde se sentaram no chão e se negaram a continuar. Quando o explorador pediu explicações, eles responderam: — Andamos tão depressa que nem sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar que nossas almas nos alcancem. O grande perigo da pressa é que ela se converta no motor de nossa vida, em piloto automático, até esquecermos, como os carregadores, por que estamos correndo. Contra essa síndrome, a primeira coisa a fazer é deter a inércia e, em seguida, nos perguntarmos por que iniciamos o caminho e como queremos vivê-lo. 2. O procrastinador “Amanhã” é sua palavra favorita, ou “depois” em sua versão mais suave. Esse per�l tem verdadeiros problemas para começar qualquer coisa, mesmo que seja de vital importância para si mesmo. Ele se perde nos preparativos, que no fundo são uma forma de atrasar o início do que já devia estar fazendo. Dedica muito tempo a preparar o terreno, e pouco ou nenhum para cultivá-lo. Um exemplo clássico seria o estudante que dedica o primeiro dia de aula a organizar suas anotações e fazer um calendário das páginas que estudará por dia. Isso o deixa tranquilo e ele vai descansar ou se ocupar de outra coisa, convencido de que “amanhã, sim”. Porém, um velho provérbio adverte que “pela rua do amanhã se chega ao beco do nunca”. No dia seguinte, uma mudança de planos ou um imprevisto vão obrigá-lo novamente a adiar o início e a reprogramar o cálculo de páginas por dia, o que leva a um gasto de tempo adicional. Um dia depois, é muito provável que a situação se repita até que… o estudante se vê na noite da véspera da prova com um monte de anotações que não conseguiu ver sobre a mesa e os nervos à beira de um colapso. Considerando que todos procrastinamos coisas na vida, vou dedicar um capítulo inteiro a como acabar com o hábito de adiar o importante enquanto se dedica tempo ao que é secundário. O procrastinador vive de esperanças e, quando percebe que não cumpre com o que determinou, acaba desesperado. 3. O precrastinador Um artigo recente do New York Times aborda um novo cronoper�l que é o contrário do anterior. Trata-se daquelas pessoas cuja ansiedade as leva a antecipar tudo. O precrastinador chega ao supermercado alguns minutos antes dele abrir, entrega seu trabalho com uma semana de antecedência — caso um acidente o impedisse de fazê-lo nos últimos dias — e sempre chega aos encontros marcados antes de você. Por trás dessa necessidade de viver em modo antecipado está o medo de não fazer as coisas ou de permitir que elas se desviem do caminho. Melhor chegar antes que o mundo venha abaixo. Uma situação comum de precrastinação acontece nos portões de embarque, onde, embora os passageiros tenham seu assento marcado, fazem �la — às vezes de meia hora ou mais — quando poderiam estar sentados confortavelmente até o embarque começar. Há quem tema que sua bagagem de mão não caiba na cabine e que ela tenha de ser despachada, mas também encontramos na �la executivos com suas valises. O que estão fazendo ali de pé, esperando tensos que comece o embarque? Adam Grant, autor de livros e professor de administração e psicologia em Wharton, a�rma que a precrastinação é “o lado sombrio de ser muito bom em fazer as coisas. O que é proveniente da preocupação de que não haverá tempo su�ciente para fazer bem uma coisa, em especial quando outras pessoas dependem de você”. Viver sempre com o chip de “antes que” leva a uma perda de tempo constante, já que, como diz o provérbio popular: “Não adianta madrugar que o dia não amanhecerá mais cedo.” Caso se adiante dois passos do ritmo do mundo, estará sempre esperando que abram, aguardando o horário de um compromisso ou irá até mesmo multiplicar seu trabalho. Ao entregar uma tarefa com muita antecipação, você corre o risco de duas coisas: 1. Que solicitem mudanças e melhorias, já que “há tempo” (por isso os melhores freelancers entregam suas tarefas no limite do prazo, para que não seja possível pedir mudanças), ou que o peçam para refazer o trabalho. 2. Que lhe deem outras tarefas que teriam sido atribuídas a outras pessoas pelo único fato de estar livre. Isso pode ser um problema quando você tem um emprego assalariado em uma empresa. Querer “tirar de cima” o que tem de fazer pode levá-lo a escolher um tema ruim de tese de doutorado, por exemplo, ou a se juntar com a pessoa errada. Adiar é tão perigoso quanto estar sempre à frente, pois, entre outras coisas, você pode cair na precipitação. 4. O homem simultâneo Ou a mulher, é claro. Esse cronoper�l pode se combinar com os outros, já que é uma maneira de gerenciar cada passo que damos. Quem segue esse padrão precisa fazer sempre várias coisas ao mesmo tempo, porque acha que desse jeito “poupa tempo”. Na verdade, o homem simultâneo consegue fazer muitas coisas, mas com um nível baixo de atenção, o que provoca muitos acidentes e erros. Esse per�l bota a quantidade acima da qualidade. Enquanto ele anda pela rua, atualiza as redes sociais em seu celular, com o risco de se chocar contra outros pedestres ou um poste. Nas reuniões familiares ou de amigos, continua com a alma no escritório, respondendo a chamadas ou e-mails, ou pensando em outras coisas. Ele não percebe o que está acontecendo à sua volta porque está sempre “em outro lugar”, como vimos no início deste livro. O multitasking continua até mesmo nas horas de descanso. Se está pegando sol em uma piscina, pode levar fones de ouvido para escutar um curso de formação. Se está na cama, percebe cada vibração produzida em seu celular. Sobre isso, um grupo de 35 psiquiatras norte-americanos que decidiu examinar a conduta de Donald Trump advertiu que o presidente habitualmente interagia com as redes sociais altas horas da madrugada. Um deles chegou a lhe mandar a mensagem: “Pelo bem do país, vá dormir.” Quando, no dia seguinte, um jornalista perguntou a ele sobre o comentário, o presidente disse: “Se ouço que surgiu alguma coisa, preciso ver o que está acontecendo.” 5. O O’Clock Em teoria, esse cronoper�l seria o ponto médio exato entre o procrastinador e o precrastinador, mas a �xação
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