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2018 MicroeconoMia i Profª. Carla Eunice Gomes Correa Prof. Diego Boehlke Vargas Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª. Carla Eunice Gomes Correa Prof. Diego Boehlke Vargas Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. C824m Correa, Carla Eunice Gomes Microeconomia I / Carla Eunice Gomes Correa, Diego Boehlke Vargas – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 198 p.; il. ISBN 978-85-515-0162-7 1.Microeconomia I – Brasil. I. Vargas, Diego Boehlke. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 338.5 Impresso por: III apresentação Caro acadêmico! Diariamente nos deparamos com muitas notícias sobre a economia do país e do mundo. Vemos que vários fatores alteram o mercado tanto do lado dos consumidores como dos produtores, desde questões como aumento da renda, desemprego, inflação, aumento da carga tributária e as próprias questões climáticas fazem com que haja severas modificações no mercado. Entretanto, compreender a economia como um todo não é uma tarefa simples, pois trata-se de uma ciência muito complexa e com muitas particularidades. Desta forma, para um melhor entendimento desta ciência, você já estudou anteriormente, na disciplina de Economia, que foram criadas algumas divisões para o estudo da economia, e a microeconomia é uma delas. Assim, nesta disciplina de Microeconomia I, vamos voltar nosso olhar para um microestudo do mercado, e neste contexto, vamos nos preocupar em estudar dois agentes econômicos: os consumidores e os produtores. Na Unidade 1 estudaremos os princípios que norteiam os estudos microeconômicos, a demanda, a oferta e o mercado em equilíbrio. Estudaremos os conceitos de demanda e oferta, veremos que muitos fatores acabam influenciando o mercado de oferta e demanda de mercado, como é o caso do preço. O preço define não somente a quantidade de produtos que o consumidor pretende adquirir, como também define a quantidade de produtos que serão ofertados no mercado. Além disso, nosso estudo mostrará que ao tomar a decisão de colocar em prática algumas políticas econômicas impostas pelo governo, muitas vezes, beneficiamos apenas um dos agentes econômicos. Além disso, veremos que muitos fatores acabam influenciando o mercado de oferta e demanda de mercado como é o caso do preço. A Unidade 2 apresenta os fatores que influenciam o comportamento da curva de demanda e oferta, bem como, estudaremos com maior detalhamento o comportamento do consumidor. Você já refletiu o que nos leva a consumir com tanta intensidade? Veremos as preferências do consumidor, o que define a sua vontade de comprar e, consequentemente, quais os fatores que influenciam a sua escolha. IV A Unidade 3 deste livro de estudos apresenta a teoria da firma. Estudaremos na unidade anterior as escolhas do consumidor e suas necessidades em adquirir bens e serviços. Mas de onde vêm esses bens e serviços? Nesta unidade veremos que a produção destes bens e serviços envolve vários processos, desde a compra de matérias-primas, a busca por mão de obra qualificada e o uso de tecnologias, que são aspectos fundamentais para que a empresa alce seu objetivo primordial, que é o lucro. Veremos ainda que a empresa também terá custos, bem como, deverá traçar estratégias para alcançar a competitividade do mercado. Esperamos que com o conteúdo deste livro você compreenda a teoria microeconômica, informações que serão importantes na análise dos cenários econômicos. Bons estudos! V Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA VI VII UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO ...................................... 1 TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA ........................................................................ 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO MICROECONÔMICO ................................................ 3 2.1 PREÇOS, MERCADOS E ESCOLHAS .......................................................................................... 7 2.2 TEORIAS E MODELOS .................................................................................................................. 10 2.3 ANÁLISE POSITIVA X ANÁLISE NORMATIVA ...................................................................... 12 3 CONTRIBUIÇÕES DA MICROECONOMIA ............................................................................... 13 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 16 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 18 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 19 TÓPICO 2 – ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO ........................................... 21 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 21 2 ESTUDO DA DEMANDA ................................................................................................................. 22 2.1 A CURVA DA DEMANDA ............................................................................................................ 24 2.2 FATORES QUE AFETAM A CURVA DA DEMANDA ............................................................. 27 2.3 FUNÇÃO DA DEMANDA ............................................................................................................ 34 3 ESTUDO DA OFERTA DE MERCADO ........................................................................................... 34 3.1 CURVA DE OFERTA ...................................................................................................................... 37 3.2 FATORES QUE AFETAM A CURVA DE OFERTA ..................................................................... 39 3.3 FUNÇÃO DA OFERTA .................................................................................................................. 42 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................44 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 46 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 47 TÓPICO 3 – EQUILÍBRIO DE MERCADO ........................................................................................ 49 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 49 2 EQUILÍBRIO DE MERCADO ........................................................................................................... 49 2.1 EXCESSO DE OFERTA E DEMANDA NO MERCADO .......................................................... 50 3 FATORES QUE AFETAM O PREÇO DE EQUILÍBRIO ............................................................... 51 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 56 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 58 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 59 UNIDADE 2 – ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ................. 61 TÓPICO 1 – ELASTICIDADES ............................................................................................................. 63 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 63 2 ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA ..................................................................................... 63 2.1 ELASTICIDADE NO PONTO ........................................................................................................ 69 2.2 CLASSIFICAÇÃO DA ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA ......................................... 72 suMário VIII 2.3 A ELASTICIDADE-PREÇO NO PONTO MÉDIO (OU NO ARCO) ........................................ 75 2.4 ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA E A RECEITA TOTAL .......................................... 77 2.5 CASOS ESPECIAIS DE ELASTICIDADE ..................................................................................... 81 3 ELASTICIDADE-RENDA DA DEMANDA .................................................................................... 84 4 ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA DEMANDA ............................................................... 89 5 ELASTICIDADE DA OFERTA .......................................................................................................... 91 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 94 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 96 TÓPICO 2 – TEORIA DO CONSUMIDOR: O CONCEITO DE UTILIDADE............................ 99 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 99 2 UTILIDADE TOTAL E UTILIDADE MARGINAL ....................................................................... 99 3 A CURVA DE DEMANDA INDIVIDUAL E O EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR ............106 4 O EXCEDENTE DO CONSUMIDOR .............................................................................................110 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................112 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113 TÓPICO 3 – A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR .....................................................115 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115 2 CESTAS DE MERCADORIAS .........................................................................................................116 3 CURVAS DE INDIFERENÇA ...........................................................................................................118 4 TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO .....................................................................................122 5 A LINHA DE RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA ...........................................................................126 6 O EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR .............................................................................................132 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................135 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................137 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................138 UNIDADE 3 – TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS ....................................139 TÓPICO 1 – TEORIA DA PRODUÇÃO ............................................................................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 TEORIA DA PRODUÇÃO ................................................................................................................142 2.1 FUNÇÃO DA PRODUÇÃO ........................................................................................................146 2.2 ANÁLISE DE PRODUÇÃO A CURTO PRAZO .......................................................................147 2.2.1 Teoria da produção com um fator fixo .............................................................................147 2.2.2 CONCEITO DE PRODUTO TOTAL, PRODUTO MARGINAL E PRODUTO MÉDIO ..............................................................................................................147 2.3 ANÁLISE DA PRODUÇÃO A LONGO PRAZO .....................................................................150 2.4 ECONOMIAS DE ESCALA .........................................................................................................153 2.4.1 Rendimentos crescentes de escala ......................................................................................153 2.4.2 Rendimentos decrescentes de escala .................................................................................154 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................156 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................158 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................159 TÓPICO 2 – TEORIA DOS CUSTOS ................................................................................................161 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................161 2 DIFERENÇAS ENTRE CUSTOS E DESPESAS ...........................................................................161 3 DIFERENÇA ENTRE CUSTOS ECONÔMICOS E CUSTOS CONTÁBEIS ..........................162 4 CUSTOS DE OPORTUNIDADE .....................................................................................................162 IX 5 CUSTOS EXPLÍCITOS E IMPLÍCITOS .........................................................................................163 6 CUSTOS PRIVADOS VERSUS CUSTOS SOCIAIS: .................................................................164 7 CUSTOS NOCURTO PRAZO ........................................................................................................165 8 CUSTO MÉDIO E CUSTO MARGINAL ......................................................................................168 9 CUSTOS A LONGO PRAZO ...........................................................................................................171 10 RELAÇÃO ENTRE OS CUSTOS NO LONGO PRAZO E NO CURTO PRAZO .................175 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................178 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 TÓPICO 3 – MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS, OFERTAS E MERCADOS COMPETITIVOS ............................................................................................................181 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................181 2 MERCADOS COMPETITIVOS ......................................................................................................181 3 POLÍTICA DE MAXIMIZAÇÃO DE LUCROS DAS EMPRESAS ...........................................183 4 AS RESTRIÇOES DA FIRMA E A MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO .........................................186 5 NÍVEL DE PRODUÇÃO PARA A MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS A CURTO E LONGO PRAZO .............................................................................................................................188 5.1 DECISÃO DE PARALISAR AS ATIVIDADES NO CURTO PRAZO ....................................190 5.2 A DECISÃO DA EMPRESA DE ENTRAR EM UM MERCADO OU SAIR NO LONGO PRAZO ...........................................................................................................................191 6 CURVA DE OFERTA EM UM MERCADO COMPETITIVO ...................................................192 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................194 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................195 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................197 X 1 UNIDADE 1 PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • compreender os princípios microeconômicos; • ter o entendimento das contribuições da microeconomia; • entender a demanda e oferta de mercado; • identificar quando um mercado se encontra em equilíbrio. Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você encontrará atividades que o auxiliarão na apropriação dos conhecimentos. TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA TÓPICO 2 – ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO TÓPICO 3 – EQUILÍBRIO DE MERCADO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA 1 INTRODUÇÃO Observar as mudanças que ocorrem no mundo é essencial para a compreensão da economia. Em economia estudamos como os recursos escassos são alocados entre os vários usos alternativos. Desta forma, podemos dizer que a economia nos ajuda a entender a natureza, as empresas, a sociedade e muitas outras questões que envolvem o mundo dos negócios. Assim como uma família, a sociedade diariamente precisa tomar muitas decisões. Vamos imaginar nossa casa, sempre precisamos realizar a divisão de tarefas de cada membro da família, e o que cada um deles receberá em troca pelas tarefas executadas. O mesmo ocorre com as empresas, como os recursos são escassos, cabe a elas tomarem a decisão em relação à produção, à mão de obra disponível e ao mercado que irá atender. Para melhor compreender este processo, utilizaremos uma das grandes áreas da economia, que é a microeconomia. A microeconomia se ocupa em estudar o comportamento econômico dos agentes econômicos de forma individual: consumidores, firmas e proprietários dos recursos. Por isso, a microeconomia é uma das áreas da economia que mais sofre com mudanças bruscas, sejam elas na área política, social, ambiental e cultural, pois modificam o comportamento destes agentes e, consequentemente, do mercado em que eles atuam. Veremos, nesta unidade, como os acontecimentos econômicos, políticos, culturais e ambientais influenciam o aumento de preços, por exemplo, na disponibilidade de produtos e na formação de preços das empresas. Além disso, vamos estudar os princípios da microeconomia, quais as ferramentas que são utilizadas nas análises, o mercado da oferta e demanda e o equilíbrio de mercado. 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO MICROECONÔMICO Microeconomia tem origem na palavra grega mikros, que significa “pequeno”, ou seja, é uma das divisões da economia que objetiva o estudo da economia a uma visão em close – como se estivéssemos observando através de um microscópio (HALL; LIEBERMAN, 2003). UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 4 NOTA A teoria do liberalismo econômico surgiu no contexto do fim do mercantilismo, período em que era necessário estabelecer novos paradigmas, já que o capitalismo estava se firmando cada vez mais. A ideia central do liberalismo econômico é a defesa da emancipação da economia de qualquer dogma externo a ela mesma, ou seja, a eliminação de interferências provenientes de qualquer meio na economia. FONTE: Disponível em: <http://brasilescola. uol.com.br/economia/liberalismo-economico.htm>. Acesso em: 18 fev. 2018. A microeconomia ou teoria microeconômica tem sua origem baseada no liberalismo econômico, corrente a que pertenciam os primeiros economistas clássicos, particularmente Adam Smith, Thomas Robert Malthus, David Ricardo, John Stuart Mill e Jean-Baptiste Say (GARÓFALO; PINHO, 2016). O período neoclássico iniciou na década de 1870, com as obras de William Stanley Jevons, Carl Menger e León Walras, e depois desenvolvidas por seus seguidores, como Eugen Bõhm-Bawerk, Joseph Alois Schumpeter, Vilfredo Pareto, Arthur C. Pigou e Francis Edgeworth. Neste período, privilegiam-se os aspectos microeconômicos da teoria, pois a crença na economia de mercado fez com que não se preocupassem tanto com a política e o planejamento macroeconômico. A obra de maior repercussão dessa época foi Princípios de economia, de Alfred Marshall, publicada pela primeira vez em 1890, e que serviu como livro texto básico até a metade deste século. Nesse período, a formalização da análise econômica evoluiu muito. O comportamento do consumidor foi analisado em profundidade. O desejo do consumidor de maximizar sua utilidade (satisfação no consumo) e do produtor em maximizar o lucro é a base para a elaboração de um sofisticado aparato teórico. Por meio do estudo de funções ou curvas de utilidade e de produção, considerando restrições de fatores e restrições orçamentárias, é possível deduzir o equilíbrio de mercado. Como o resultado depende basicamente dos conceitos marginais (receita marginal, custo marginal etc.), a teoria neoclássica é também chamada de teoria marginalista. A análise marginalista é muito rica e variada. Alguns economistas privilegiaram alguns aspectos, como a interação de muitos mercados simultaneamente – o equilíbrio geral de Walras é um caso –, outros privilegiaram aspectos de equilíbrio parcial, usando um instrumental gráfico – a Caixa de Edgeworth, por exemplo. A economia clássica fundamentava-se no estudo do processo de produção, distribuição, circulação e consumo dos bens e serviços (riqueza). Motivo este que faz com que a microeconomia sejaconsiderada uma das áreas mais básicas da economia. A microeconomia fornece instrumentos de análise que são utilizados TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA 5 NOTA A microeconomia não tem seu foco específico na empresa (não deve ser confundida com administração de empresas), mas no mercado, no qual as empresas e consumidores interagem, analisando os fatores econômicos que determinam tanto o comportamento do consumidor quanto o comportamento da empresa. De acordo com Vasconcelos e Oliveira (2008), podemos destacar três princípios que caracterizam a teoria microeconômica: O primeiro princípio baseia-se no pressuposto de que a economia é composta de agentes econômicos: as firmas e os consumidores (que estudaremos mais detalhadamente nos próximos tópicos). O segundo princípio considera que cada um dos agentes econômicos tem uma função objetiva, por exemplo, o consumidor tem por objetivo escolher o melhor padrão de consumo e as firmas têm por objetivo o lucro máximo. O terceiro princípio pressupõe que os sistemas econômicos oferecem limites aos agentes econômicos, devido à escassez de recursos naturais e produtivos, ou seja, tem como premissa básica a lei da escassez. NOTA A lei da escassez é produzir o máximo de bens e serviços a partir dos recursos escassos disponíveis a cada sociedade. (FONTE: Disponível em: <http://www. hamiltonsilva.com.br/2012/10/economia-e-lei-da-escassez.html>. Acesso em: 12 mar. 2018. em diversas disciplinas da economia, tais como: economia do setor público, economia internacional, economia e meio ambiente. A microeconomia analisa a formação de preços com base em dois mercados: • Mercado de bens e serviços (preços de bens e serviços). • Mercado dos serviços dos fatores de produção (salários, juros, aluguéis e lucros). A microeconomia, também conhecida como a teoria dos preços, é a parte da teoria econômica responsável pelo estudo do comportamento das famílias, das empresas e do mercado. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 6 FIGURA 1 – GRANDES TÓPICOS DA ANÁLISE MICROECONÔMICA FONTE: Vasconcelos (2006, p. 8) Observe na Figura 1 que o estudo da microeconomia se ocupa em conhecer cinco grandes grupos: teoria da demanda, teoria da oferta, análise das estruturas de mercado, teoria do equilíbrio geral e do bem-estar e imperfeições de mercado. UNI A microeconomia se ocupa em estudar as escolhas individuais dos indivíduos, por exemplo, as decisões e preferências do consumidor. Quais os fatores que levam as pessoas a consumirem um produto ao invés de outro. A macroeconomia estuda as realidades agregadas em nível dos países. Ela se preocupa em estudar, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB), as questões relacionadas ao nível de emprego, entre outras. Mas você deve se questionar: qual é a importância em compreender o comportamento das famílias, empresas e governo? Imaginemos que em determinada cidade as pessoas sempre buscam fazer o pão que consomem. Assim, se um empresário optar por abrir na cidade uma fábrica de panificação, ele terá êxito no mercado? Neste contexto, a microeconomia pode ser comparada a um mapa de uma cidade, pois traça em detalhes o mapa de como os indivíduos tomam as suas decisões de compras e como estas decisões acabam afetando o preço e a produção dos produtos. Os grandes tópicos da economia que estudaremos na análise microeconômica estão sintetizados na Figura 1. TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA 7 A microeconomia, muitas vezes, é confundida com o estudo da “Economia Industrial” (que estuda o contexto da indústria), entretanto, esta é uma disciplina intermediária da microeconomia e da macroeconomia, pois a indústria tem toda uma complexidade interna (produção, tecnologia, mão de obra) e também abrange as questões macroeconômicas, quando pensamos nas negociações com o mercado, que envolve questões sobre importação e exportação, cotação de moedas estrangeiras, entre outros fatores. 2.1 PREÇOS, MERCADOS E ESCOLHAS A microeconomia também se ocupa em estudar os preços. Todos os dias, convivemos diretamente com o preço dos produtos. Ao ir ao supermercado, você, muitas vezes, faz sua opção de compra dos produtos em função do preço. Estudaremos no decorrer desta disciplina como os preços são determinados. Você verá que em uma economia planejada os preços são fixados pelo governo. Em uma economia de mercado, os preços são fixados pela interação dos agentes econômicos (PINDICK; RUBINFELD, 2013). UNI Preço: é a expressão monetária do valor de um bem ou serviço. Um torneiro mecânico, por exemplo, deseja empregar-se com o maior salário possível. Sendo escassa a oferta de torneiros no mercado, os produtores estarão dispostos a pagar um valor alto de salário para conseguir o profissional. A partir do momento em que mais pessoas entram nessa profissão e começam a ofertar seus serviços no mercado, a tendência é de que o valor dos salários venha a cair. O mesmo ocorre com o preço do bem (produto), quando os consumidores procuram maiores quantidades de determinado produto, o preço subirá, sinalizando ao produtor que há uma escassez no mercado, assim, ele aumentará sua produção, com o objetivo de obter um maior lucro ao vender com um preço mais alto (SOUZA, 2013; MANSFIELD; YOHE, 2006). Vimos anteriormente que a microeconomia se dispõe a explicar vários dilemas da economia. Ao longo do texto utilizamos, muitas vezes, a expressão “mercado”. E você acompanha diariamente pessoas, empresários, jornalistas, fazerem abordagens sobre o comportamento do mercado (petrolífero, automobilístico, imobiliário, de trabalho, de ações etc.). Mas você sabe o que é um mercado? Você se recorda como ocorriam as trocas na Idade Média? Neste período, os agricultores eram responsáveis pelo plantio dos alimentos e realizavam suas trocas com os artesãos na cidade que necessitavam de produtos para a sua sobrevivência. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 8 FIGURA 2 – MERCADO PÚBLICO NA IDADE MÉDIA E MERCADO PÚBLICO EM SÃO PAULO FONTE (a): Disponível em: <https://idademedia.wordpress.com/2012/08/12/o-cativante- espetaculo-do-desenvolvimento-das-cidades-medievais/> e (b) <https://spcity.com.br/conhecendo- o-mercado-municipal/>. Acesso em: 12 mar. 2018. Hoje, essa troca ocorre no mundo inteiro nos mercados. Mas há uma diferença entre os dois períodos. Na Idade Média, os agricultores buscavam alguém que se interessasse por suas colheitas e que tivesse bens que fossem do interesse do agricultor para realizar a troca – realizavam a troca direta. NOTA Os problemas das trocas diretas e da determinação do valor dos produtos estimularam a criação do dinheiro. E isso facilitou a comparação e a junção de produtos diferentes, como sapatos e tecidos, já que ambos têm um preço, que é a expressão monetária do valor atribuído a esses bens. Se o preço do par de sapatos é R$ 120,00 e o de um metro de tecidos é R$ 60,00, a relação de preço entre essas duas mercadorias é de 2:1, ou seja, significa que o par de sapatos vale o dobro do metro de tecidos. A soma de 100 pares de sapatos (R$ 12.000,00) e um fardo de tecidos de 50 metros (R$ 3.000,00) totaliza R$ 15.000,00 (CARVALHO, 2015, p. 26). Hoje trocamos bens por dinheiro. Os agricultores trocam suas colheitas por dinheiro (vendem) e compram com esse dinheiro outros bens que atendam às suas necessidades, ou seja, realizam a troca indireta. A troca hoje é tão indireta e tão complexa que nenhum computador e nenhum governo, por maior que seja, poderia acompanhar todas as suas complexas interações [...]. A maioria dos bens que você compra é produzida por pessoas que você não conhece. A facilidade que o dinheiro (ou moeda) oferece está em você não precisar conhecer essas pessoas, mas apenas os preços dos bens que eles vendem (WELSSELS, 2010, p. 2). Para você compreender melhor o que é um mercado e seu funcionamento, é necessárioque você sempre se lembre de que existem dois grandes grupos: compradores (consumidores) e vendedores (produtores). A B TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA 9 O grupo dos compradores é formado pelos consumidores que adquirem bens e serviços e pelas empresas que adquirem mão de obra, capital e matéria- prima. E o grupo dos vendedores é composto pelas empresas que vendem os bens e serviços fabricados tanto para consumidores, como também para os detentores dos recursos naturais (PINDICK; RUBINFELD, 2013). NOTA Na maioria das vezes, as pessoas atuam no mercado tanto como vendedores quanto como compradores, pois, em algum momento vendem ou compram algum bem e serviço. A interação dos compradores e vendedores dá origem ao MERCADO. Em economia, de acordo com Salvatore (1984, p. 2), mercado é “um local ou contexto no qual compradores e vendedores compram e vendem bens, serviços e recursos [...]”. NOTA Mercado é o contexto em que compradores (do lado da procura) e vendedores (do lado da oferta) realizam transações. Pode-se dizer, alternativamente, que o mercado é a interação entre as forças de oferta e de procura. Em um mercado, as empresas podem vender produtos iguais ou correlatos, produto de um setor, ou mais setores. Você sabia que uma das preocupações dos economistas é a definição do mercado? Ou seja, saber identificar quem são os compradores e os vendedores de determinado mercado. Vejamos, por exemplo, um cidadão que mora no Norte do país e que queira comprar artigos de vestuário para vender. Ele só se deslocará para grandes centros, como São Paulo, se o preço dos produtos for mais baixo, do contrário, ele comprará no seu local de origem. Mas, precisamos ainda considerar que em um mercado, tanto compradores quanto vendedores realizam escolhas. Para compreendermos melhor a questão das escolhas dos indivíduos, consideremos uma afirmação de Rolling Stones, citada por Pindick e Rubinfeld (2013, p. 4): “você não pode ter sempre tudo o que deseja”. Mesmo as pessoas consideradas ricas, por exemplo, Mike Jagger, têm consciência de que até mesmo pessoas bem-sucedidas realizam escolhas e têm limites. Limites que muitas vezes nos foram impostos já na infância. Quantos de nós, quando crianças, não precisávamos realizar escolhas entre um brinquedo ou outro? UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 10 Em cada um dos mercados, vamos encontrar compradores e vendedores diferentes, dependendo do bem e serviço que forem negociados. Vamos encontrar um mercado de laranjas, o de carros, o de imóveis, e poderíamos listar milhares de bens e serviços que podem ser vendidos. Mas, mesmo num mercado tão amplo e complexo, infelizmente, não poderemos comprar tudo o que gostaríamos num determinado momento. A microeconomia trata dessas escolhas e limites. Por isso que alguns autores afirmam que a economia é a ciência das escolhas. Precisamos realizar escolhas por que nem sempre nossa renda é suficiente para adquirir todos os bens e serviços que satisfaçam nossas necessidades e nossos desejos. Além disso, também sabemos que os desejos da sociedade são infinitos. Cada pessoa tem necessidades ou desejos diferenciados. O mesmo ocorre com nossos recursos naturais. Os recursos naturais são finitos e as necessidades ilimitadas, por isso que as empresas realizam escolhas do que produzir, como produzir e para quem produzir os bens e serviços. NOTA Você sabia que em países como Coreia do Norte e Cuba as decisões do que produzir e para quem produzir são do governo? Tanto as empresas como a própria população (consumidores) têm pouca autonomia para tomar decisões. A ideia de fazer escolhas é importante no estudo da economia. Nos próximos tópicos, você verá na prática como as escolhas que realizamos ajudam a compreender o estudo microeconômico. 2.2 TEORIAS E MODELOS Você estudou anteriormente que economia é uma ciência social e as ciências sociais se destinam a estudar a natureza/comportamento dos indivíduos, as relações humanas e o desenvolvimento no meio que habitam, estudando as normas de convivência do homem e dos respectivos modos de organização. Além disso, as ciências sociais se inter-relacionam com outras áreas do conhecimento, como a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia, o Direito Social e a Economia e suas divisões. Mas como explicar essas inter-relações complexas? A microeconomia, assim como outras ciências, utiliza teorias e modelos para explicar os fenômenos estudados. Assim, a teoria microeconômica utiliza premissas simples para explicar como as empresas determinam a quantidade a ser produzida e a quantidade de fatores de produção que serão necessários utilizar (PINDICK; RUBINFELD, 2013). TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA 11 “A Teoria Econômica analisa, de forma simplificada, o funcionamento de um sistema econômico, utilizando um conjunto de suposições e hipóteses acerca do mundo real, procurando obter as leis que o regulam” (SOUZA, 2013, p. 3). Um modelo “é uma representação matemática de uma empresa, um mercado ou outra entidade, com base na teoria econômica [...]” (PINDICK; RUBINFELD, 2013, p. 6). Uma das características da teoria microeconômica é que ela realiza as análises por meio de modelo econômico. UNI O modelo econômico é uma representação abstrata da realidade, ou seja, uma forma simplificada de demonstrar a realidade. Podendo ser até comparado a uma maquete. A construção dos modelos implica a adoção de hipóteses podendo se viabilizar segundo dois procedimentos distintos, isto é, usando o método indutivo ou, então, recorrendo ao método dedutivo. O primeiro, igualmente conhecido como experimental ou estatístico ou, ainda, científico, fundamenta-se em hipóteses que possam ser laboratorialmente testáveis, observáveis, originar modelos estatísticos e, assim, permitindo efetuar inferências, prever os acontecimentos e tomar decisões, embora nem sempre sejam necessariamente seguras (GARDALO, 2016, p. 12). No campo da economia, é fundamental destacar que os modelos constituem as formas auxiliares que ajudam na compreensão das complexidades do campo da microeconomia, uma vez que compreender como as pessoas tomam suas decisões, realizam suas escolhas e como as empresas e/ou firmas orientam suas tomadas de decisões acabam sendo ações complexas. FIGURA 3 – EXEMPLO DE UM MODELO ECONÔMICO FONTE: Adaptado de: <https://www.ecodebate.com.br/2014/08/06/o-modelo-extrai-produz-descarta- e-a-insustentabilidade-dos-ods-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/>. Acesso em: 15 jan. 2018. Natureza Fonte de Recursos Natureza Depósito de Lixo Sistema econômico Throughput (transumo) Modelo econômico: Extrai - Produz - Descarta UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 12 Observe na figura anterior que este modelo, por exemplo, visa explicar o fluxo que ocorre entre a extração de matéria-prima até o descarte do produto, dando ênfase ao lançamento de dejetos. Os modelos econômicos são úteis para as empresas nas tomadas de decisão sobre formação do preço de venda e produção, ajudam os indivíduos a tomarem decisão de investimento, bem como, ajudam o governo na formulação de políticas públicas (HALL; LIEBERMAN, 2003). Outra característica marcante da microeconomia é que ela possui natureza estática comparativa. De acordo com Gardalo (2016, p. 14), no contexto científico são previstas três situações distintas: Estática: não envolve ação ou movimento. É o caso típico de uma fotografia tirada de um grupo de alunos, quando do início do curso de graduação. Outra situação é caracterizada pela apresentação do equilíbrio do consumidor quando desejando maximizar a satisfação ou, então, a do equilíbrio da firma em decorrência da política adotada na condução dos respectivos negócios. É o registro do momento tal e qual encontrado. Dinâmica: envolve a comparação de dois diferentes resultados preocupando-secom toda a movimentação entre eles, as eventuais alterações e/ou ajustamentos que tiveram curso. Um exemplo é uma filmagem historiando algo desde o nascedouro até a ocasião da extinção. Estática comparativa: compara dois resultados, duas situações de equilíbrio, antes e depois de uma mudança (situações ex ante e ex post), sem atentar ao que estaria nos bastidores no processo de mudança. Caso típico é a comparação de duas fotografias: a de um grupo de estudantes quando do início da graduação e aquela do mesmo grupo ao término do curso. Desta forma, podemos dizer que a natureza estática comparativa da Teoria Microeconômica consiste em “confrontar duas ou mais posições de equilíbrio sem qualquer preocupação com o que possa ter ocorrido, a extensão do período ou os ajustamentos processados na passagem da situação inicial para a final” (GARDALO, 2016, p. 14). Podemos usar como exemplo casos que presenciamos diariamente nos noticiários, por exemplo, “a decisão governamental pelo lançamento de um tributo, sendo que o período de tempo em que isso sucedeu e os ajustamentos processados são deixados de lado ou encarados como irrelevantes” (GARDALO, 2016, p. 14). 2.3 ANÁLISE POSITIVA X ANÁLISE NORMATIVA Outro fator importante na análise de um problema é que você saiba que a microeconomia também trata de questões tanto da economia positiva (científicas) como da economia normativa. TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA 13 As questões da economia normativa referem-se àquilo que se supõe que seja o adequado, ou seja, está relacionado diretamente com a formulação de políticas públicas. Implicam considerar em suas análises preceitos éticos e morais, bem como, utilizam de juízo de valor quando na descrição da situação, colocando os fatos “como deveriam ser”. Tomamos como exemplo o dilema entre equidade e eficiência na escolha entre um aumento no imposto da gasolina e a imposição de restrições à importação de petróleo estrangeiro. Já as questões da economia positiva dizem respeito às explicações e previsões que são realizadas por economistas, por exemplo, um aumento da alíquota de imposto da gasolina pelo governo. Isso afetaria o preço do combustível, a opção de uso do automóvel pelos consumidores, a frequência de uso de automóveis. Assim, haveria a necessidade de as pessoas que formulam as devidas políticas públicas realizarem previsões de o que poderia ocorrer com esse aumento, ou como o mercado se comportaria; qual a arrecadação que esse aumento provocaria, entre outros fatores. Neste sentido, Gardalo (2016, p. 14) coloca que [...] a Microeconomia inserida na economia positiva observa sistematicamente as situações e, a partir da análise e descrição delas, efetuada cientificamente, elabora os princípios gerais (exemplo: o consumidor maximiza a sua satisfação), as leis (casos da Lei Geral da Procura e da Lei Geral da Oferta), as teorias (exemplificadas pela Teoria da Firma e a Teoria do Consumidor) e os modelos econômicos (como os de formação de preços compatíveis às diversas estruturas mercadológicas) – (grifo nosso). Assim, a análise positiva contribui para explicar, por exemplo: qual será o impacto de uma quota de importação para automóveis estrangeiros? Ou ainda para responder: qual será o impacto de um aumento no imposto da gasolina? Na prática veremos que a economia normativa e a positiva estão inter- relacionadas. De acordo com Hall e Liebermann (2003, p. 5), não podemos realizar argumentações sobre o que deveria ser ou não ser realizado, a menos que saibamos alguns fatos reais sobre o mundo. Desta forma, toda análise normativa é, portanto, uma análise positiva subjacente, mas “embora uma análise positiva possa, pelo menos em tese, ser realizada sem julgamento de valor, uma análise normativa sempre se baseia, pelo menos em parte, nos valores da pessoa que realiza”. 3 CONTRIBUIÇÕES DA MICROECONOMIA Podemos dizer que as contribuições da Teoria Microeconômica são diversas. Ela permite que possamos analisar os diferentes agentes econômicos de forma individualizada, sem considerar o fator tempo, bem como, podemos fazer uso e aplicações descritos a seguir, conforme Gardalo (2016, p. 10): UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 14 Usos – Os instrumentais microeconômicos são usados principalmente sob a forma de linguagem sempre que descrevam, ordenem e estabeleçam limites a determinada circunstância, favorecendo a comunicação entre os estudiosos em geral e os especialistas em particular. Essa linguagem assume a forma literal, ou seja, no sentido usual deste termo (ou expressão), permitindo compreendê-lo sem ajuda do contexto, como acontece, por exemplo, quando mencionada a expressão “Lei Geral da Procura”, enunciando-a. Outras formas assumidas pela linguagem são a tabular ou estatística (caso de uma tabela de procura correlacionando, de forma inversa, as quantidades demandadas segundo os diversos patamares de preço), a versão gráfica (representação em um diagrama cartesiano de uma tabela de procura), ou, ainda, expressada na forma matemática de uma função (expressão da função procura). Em resumo, quando utilizada como linguagem, dentro das formas por esta assumida, a microeconomia conduzirá ao mesmo resultado na comunicação entre os estudiosos da matéria. Portanto, estando dois economistas a trocar ideias, a simples referência do vocábulo demanda dispensa enunciar do que se trata, uma vez que ambos sabem, de maneira adequada e precisa, o que ele traduz, seja literalmente, matematicamente, na versão tabular ou na visão gráfica. Em relação às aplicações da Teoria Microeconômica, podemos dizer que ela é uma ferramenta fundamental para ajudar a esclarecer políticas e estratégias, tanto em horizonte de planejamento quanto no nível de política econômica. Caro acadêmico, cabe lembrá-lo de que a Teoria Microeconômica não é um guia, um manual de técnicas, mas sim um mecanismo que ajuda na compreensão como um todo. Para as empresas, a análise microeconômica pode subsidiar decisões como: • Definição da política de preços. • Realização de previsões de demanda. • Previsões de custos de produção. • Decisões ótimas de produção. • Análise de projetos de investimento. • Definição e estudos que envolvem a localização de empresas. • Estratégias e políticas de propaganda e publicidade. Em relação à política econômica, a teoria microeconômica pode contribuir em questões como: • Avaliação de projetos de investimentos públicos. • Efeitos dos impostos sobre mercados específicos. • Política de subsídios. • Fixação de preços mínimos na agricultura. • Fixação do salário mínimo. • Política salarial. • Política de tarifas públicas. • Controle de lucros em estruturas mercadológicas (monopólios e oligopólios). TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA 15 Podemos ainda destacar a importância da microeconomia para outras disciplinas, por exemplo, o Comércio Internacional (relações entre países constituem uma ampliação das relações entre indivíduos), o Turismo (conhecimento mais aprofundado sobre impacto do turismo na economia de outros países), a educação financeira (orienta as pessoas a organizarem suas finanças), transportes etc. Muitas vezes, as pessoas pensam que o economista estuda somente matemática. Engano deles, o economista também utiliza a matemática para compreender os fenômenos que ocorrem no cotidiano, mas acaba utilizando deste conhecimento associado à utilização de ferramentas aplicadas em consonância com estatística, matemática financeira, contabilidade, engenharia, possibilitando dar conteúdo empírico às formulações e conceitos teóricos (GARDALO, 2016). DICAS DICA DE FILME Roger e Eu – 1989 Michael Moore Quando o cineasta realizador de documentários Michael Moore fez seu primeiro trabalho importante, Roger and Me, literalmente ninguém acreditou nele, e não era para menos: o que se propunha era pedir explicações a Roger Smith, presidente da GeneralMotors, pelo fechamento de 11 fábricas na cidade de Flint (cidade natal de Moore, no Estado de Michigan), que deixou 30 mil pessoas sem trabalho. O mais flagrante era que as fábricas automobilísticas deixavam um superávit milionário. Durante dois anos, Moore tentou sem êxito entrevistar Roger Smith, entretanto, fez o retrato de uma cidade que um dia foi modelo de bem-estar e entrou na miséria por uma decisão da mesma companhia que a levantou. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 16 LEITURA COMPLEMENTAR Microeconomia e meio ambiente: análise de fundamentos microeconômicos inerentes à gestão ambiental nas organizações Pedro dos Santos Portugual Junior Nilton dos Santos Portugual [...] A questão ambiental, já há algum tempo, passou a fazer parte do cotidiano gerencial das empresas. O desenvolvimento sustentável tomou o lugar do crescimento econômico e da simples expansão da produção, não sendo apenas mais um “modismo”, mas uma necessidade sine qua non para a continuação da vida no planeta. A noção de que o ser humano e suas atividades econômicas são os personagens principais do mundo está descartada. O que se toma como verdade neste início de século XXI é que ambos, ser humano e empresas, nada mais são que simples componentes de um sistema muito maior e complexo, que necessita de equilíbrio para continuar existindo. A variável ambiental passou a fazer parte dos processos decisórios das organizações e sua gestão é imprescindível para a manutenção e continuidade dos negócios. Não se trata de impedir o progresso econômico, mas realizá-lo de uma forma que, segundo Donaire (1999, p. 28), “possibilita, ao mesmo tempo, eficácia e eficiência na atividade econômica e mantém a diversidade e a estabilidade do meio ambiente”. Isto posto, nota-se que a empresa tem um papel fundamental na incorporação da questão ambiental ao processo produtivo, haja vista que a produção é a peça-chave da economia. Isso deve ocorrer pelo fato de que o consumo e, principalmente, o processo produtivo causam impactos denominados externalidades negativas e os mercados falham em não as mensurar, conforme preconiza Chen (2007, p. 1): “Consumo ou produção de um agente que causa um efeito indireto sobre o consumo e produção de terceiros, e que não se reflete no mecanismo de preços de mercado”. O fato de existirem essas externalidades negativas provocou uma mudança de paradigma na sociedade capitalista com relação à busca de uma manutenção do sistema sem impactos destrutivos sobre o meio ambiente. Isto ocorre, como explica Motta (2006, p. 182), pelo fato de que “na presença de externalidades, os cálculos privados de custos ou benefícios diferem dos custos ou benefícios da sociedade”. TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS DE MICROECONOMIA 17 Por isso, torna-se importante analisar e discutir teorias econômicas, principalmente da microeconomia, e adaptá-las como base para o processo decisório empresarial. Pois, conforme Seiffert (1996), os problemas de alteração ambiental podem ser abordados quantitativamente de modo concreto no nível de microeconomia [...]. PORTUGUAL JUNIOR, Pedro dos Santos; PORTUGUAL, Nilton dos Santos. Microeconomia e meio ambiente: análise de fundamentos microeconômicos inerentes à gestão ambiental nas organizações. Rev. Adm. UFSM, Santa Maria, v. 3, n. 3, p. 393-410, set./dez. 2010. DICAS Gostaríamos de indicar para você e sua formação acadêmica a leitura do Livro Freakonomics - O lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta, de Stephen J. Dubner, Editora Elsevier, 2007. 18 Neste tópico, você estudou que: • A economia é uma ciência social e que se divide em microeconomia, que estuda o comportamento dos agentes econômicos de forma individual; e a macroeconomia, que estuda os agregados macroeconômicos, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB). • Os economistas utilizam modelos econômicos para explicar de forma simples o funcionamento da economia. • A economia também utiliza de questões positivas e normativas nas análises econômicas. • O mercado é um local onde se encontram compradores e vendedores com o objetivo de negociar os produtos. RESUMO DO TÓPICO 1 19 Para exercitar os conhecimentos adquiridos, resolva as questões a seguir: 1 A microeconomia é uma das divisões da economia que objetiva o estudo da economia a uma visão em close – como se estivéssemos observando através de um microscópio. Enquanto teoria, a microeconomia se baseia em três principais princípios. Cite e explique os principais princípios da microeconomia. 2 A microeconomia se ocupa em estudar alguns grandes tópicos. Analise as preposições a seguir e assinale a alternativa correta: I – A teoria da demanda se ocupa em estudar o comportamento do consumidor e a demanda de mercado. II – O estudo da teoria da oferta se divide em teoria individual e coletiva. III – O mercado de bens e serviços é formado pelo mercado de: concorrência perfeita, concorrência monopolística, monopólio e oligopólio. IV – O estudo da teoria da oferta individual envolve a teoria da produção e dos custos de produção. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Somente a proposição I está correta. b) ( ) As proposições I e II estão corretas. c) ( ) As proposições I, III e IV estão corretas. d) ( ) Todas as proposições estão corretas. 3 O que é mercado? 4 Uma das características da teoria microeconômica é que ela realiza as análises por meio de modelo econômico. Com relação ao modelo econômico, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) O modelo econômico é uma representação abstrata da realidade, ou seja, uma forma simplificada de demonstrar a realidade. Podendo ser até comparado a uma maquete. b) ( ) Os modelos econômicos não são utilizados pelas empresas nas tomadas de decisão sobre formação do preço de venda e produção. Portanto, não se trata de uma ferramenta eficaz na análise econômica. c) ( ) A teoria econômica utiliza de premissas complexas para explicar como as empresas determinam a quantidade a ser produzida, e a quantidade de fatores de produção que serão necessários, e por isso, não justifica a utilização dos modelos econômicos. d) ( ) A ideia de fazer escolhas é importante no estudo da economia, por isso, a necessidade de se utilizar os modelos econômicos, visto que eles são representações subjetivas. AUTOATIVIDADE 20 21 TÓPICO 2 ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Você estudou no tópico anterior que o mercado é composto por compradores, vendedores e produtores. Por isso, é importante que você compreenda dois conceitos fundamentais em economia: demanda e oferta. Estes conceitos básicos retratam o comportamento do consumidor (demanda) e o comportamento do produtor (oferta). IMPORTANT E DEMANDA: está associada ao comportamento do consumidor. OFERTA: está associada ao comportamento do vendedor. Você verá ao longo deste estudo que várias questões importantes podem ser compreendidas a partir dos fundamentos da oferta e da demanda de mercado. Como as firmas tomam as decisões de produção em relação às preferências do consumidor? O que acontece com o preço dos produtos quando alguma alteração climática ocasiona perdas na produção? Como a imposição de tributos afeta produtores e consumidores? Além disso, nas próximas unidades estudaremos as diferentes formas de mercados. Encontraremos nos diversos tipos de mercados mais ou menos compradores e vendedores; da mesma forma, poderemos identificar, nestes tipos, semelhanças profundas ou importantes diferenças entre os produtos comercializados. Neste momento vamos basear nossas análises e exemplificações no mercado de concorrência perfeita, considerando que os produtos ofertados sejam todos iguais e que da mesma forma haja compradores e vendedores e que sua influência sobre o preço é nula, ou seja, ambos aceitarão que a determinação do preço seja definida pelo mercado. Agora vamos estudar de forma mais detalhadaa oferta e a demanda do mercado. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 22 2 ESTUDO DA DEMANDA O consumidor procura, sempre que possível, aumentar seu grau de satisfação consumindo bens e serviços que são úteis e que atendam às suas necessidades de acordo com seus gostos. À medida que ele consome bens e serviços, que lhe são úteis e agradáveis, tanto melhor será para ele (SOUZA, 2013). A demanda ou procura é definida como a quantidade de um determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir a um determinado preço (VASCONCELOS; GARCIA, 2016). Observem que na definição da demanda, os autores Vasconcelos e Garcia (2016) utilizaram a locução verbal “desejam adquirir”, isto remete a uma intenção de compra, um desejo de compra e não a própria compra. Por esse motivo, não podemos utilizar a palavra demanda como um sinônimo de comprar. IMPORTANT E A quantidade de qualquer produto demandado por uma pessoa é a quantidade total que ela decidirá comprar a um determinado preço, em um determinado período de tempo. Observe que até este momento estamos nos referindo à demanda do consumidor, a chamada demanda individual. E quanto à demanda de mercado? Em relação à demanda de mercado o conceito é bem semelhante. Demanda de mercado – é a quantidade de qualquer produto demandada pelo mercado, é a quantidade total que a totalidade de compradores do mercado decidiria comprar a um determinado preço (HALL; LIBERMANN, 2003). Observe, nestes conceitos, que eles se referem às escolhas dos consumidores. A procura por um bem depende de vários fatores que influenciam na escolha do consumidor por um produto, por exemplo, o preço, a renda, a preferência do consumidor (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2008). Vale lembrar que além da palavra escolha, a palavra preço também teve significância nos conceitos apresentados. Isso significa que vamos estudar como os preços são determinados nos mercados competitivos. Ficou claro que à medida que o preço sobe, as pessoas adquirem menos mercadorias e vice-versa. Essa relação é tão comum de ser observada no mercado que os economistas resolveram batizá-la de Lei geral da demanda. TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 23 A Lei geral da demanda estabelece que quando o preço de um bem se eleva e todas as outras coisas permanecem inalteradas, a quantidade demandada desse bem diminui. A queda do preço do bem faz com que o consumidor acabe comprando mais de determinado produto. Observe no conceito apresentado que se considerou apenas que o preço sofresse variação, isso significa que neste momento estamos analisando somente a variável preço – as demais variáveis permanecem inalteradas (coeteris paribus). Você recorda o significado de coeteris paribus? UNI Coeteris paribus “é uma expressão latina que significa tudo o mais constante. Na microeconomia, analisa-se um dado mercado, isolado aos demais É a análise e equilíbrio parcial” (PINHO; VASCONCELLOS, 2004, p. 578). ATENCAO Para você entender melhor, vamos tomar como base um defeito no automóvel. Imagine que seu automóvel deu pane. Com certeza, o mecânico fará vários testes para verificar a causa do problema. Entretanto, sabemos que o automóvel é composto de diversas peças. Mas, para descobrir o problema, o mecânico não irá mexer em todas as peças ao mesmo tempo. Ele vai verificar uma peça de cada vez até resolver o problema. Da mesma forma ocorre com a economia, para compreendermos o mercado, analisamos a influência de uma variável de cada vez (que neste caso foi o preço) e observamos o que ocorre neste mercado. Desta forma, você pode observar que a teoria da demanda foi construída a partir de hipóteses sobre o comportamento dos consumidores. Estes possuem orçamentos restritos – recursos limitados – e precisam tomar decisões, fazer escolhas entre as alternativas disponíveis. A combinação escolhida primará pelo máximo de satisfação ou utilidade, respeitando o limite imposto pela renda. Os fundamentos da demanda têm por base o conceito de utilidade, que nada mais é do que o grau de satisfação atribuído pelos consumidores aos bens que desejam adquirir. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 24 UNI A teoria do valor-utilidade, representante da visão utilitarista, assume que o valor de um bem é definido pela satisfação que este representa para o consumidor. A teoria do valor-trabalho, adotada por economistas clássicos como Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus e também por Karl Max, considera que o valor dos bens é determinado pelo lado da oferta, por meio dos custos a eles incorporados, sendo a mão de obra o mais representativo. 2.1 A CURVA DA DEMANDA A curva da demanda é a forma gráfica que dá a informação sobre a quantidade de mercadorias que os consumidores estão dispostos a adquirir a um determinado preço de mercado, mantendo-se constante qualquer outro fator que possa vir a influenciar a quantidade demandada. NOTA A curva de demanda mostra como as mudanças no preço levam as pessoas a alterar a quantidade dos produtos que desejam adquirir. Assim, podemos dizer que o preço é a causa e a quantidade o efeito. A curva de demanda relaciona preços e quantidades que os consumidores desejam adquirir, pois a um preço mais baixo, os consumidores são estimulados a adquirir outras quantidades do produto, mesmo que já tenham adquirido (MILTONS, 2016). A inclinação da curva de demanda (D) é descendente (negativamente inclinada) – da esquerda para a direita. Mas por que ela é negativamente inclinada? A curva de demanda negativamente inclinada tem relação direta com o preço (P) e a quantidade do produto (Q), ou seja, isso significa que à medida que o preço aumenta, uma quantidade menor de determinado produto X o consumidor está disposto a consumir. E à medida há uma redução no preço do produto, a procura pela quantidade de produtos X aumenta. Podemos dizer que há uma relação inversa entre preço e quantidade demandada. TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 25 FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA CURVA DE DEMANDA FONTE: Os autores Para você compreender melhor o movimento da curva de demanda, observe a Tabela 1, que demonstra a oferta e demanda de um determinado produto X que, neste caso, poderiam ser celulares. TABELA 1 – DEMANDA DO PRODUTO X Preço do Produto X (Celulares) Quantidade Demandada 1.200 18 1.180 22 1.160 26 1.140 30 1.120 34 1.100 38 800 42 Fonte: Os autores Observe na Tabela 1 que a um preço de R$ 1.200,00 (P1), a demanda pelo produto X é de 18 unidades (Q1). Mas a partir do momento em que o preço do aparelho celular cai para R$ 800,00 (P2), a quantidade de produtos demandados aumenta para 42 unidades (Q2). É claro que neste caso estamos supondo que somente o preço do produto se altera, e que as demais variáveis permanecem constantes (coeteris paribus). Preço (P) Quantidade (Q) Curva de Demanda (negativamente Inclinada) UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 26 FIGURA 4 - GRÁFICO DEMANDA DO PRODUTO X FONTE: Os autores Analisando graficamente (figura anterior), podemos observar que à medida que o preço cai, a quantidade demanda de celulares aumenta, ou seja, a quantidade de celulares que o consumidor está disposto a adquirir aumenta em função do preço, fazendo com que a curva da demanda seja inclinada para baixo. No entanto, a teoria da demanda admite duas exceções: os Bens de Giffen e os Bens de Veblen. Bens de Giffen são aqueles que têm sua demanda aumentada quando há aumento no preço. Esse comportamento é diferente da maioria dos produtos, que são os mais procurados à medida que seu preço cai. A elasticidade-preço da demanda é positiva (quanto maior o preço, maior a demanda) e sua curva de demanda é crescente. Um exemplo que podemos considerar é o pão. O pão é um produto considerado básico, consumido por todasas classes sociais. A elevação do preço do pão pode levar a um maior consumo do produto, principalmente em famílias de baixa renda, pois não há no mercado outro produto mais barato e acessível que venha a substituir o pão nas refeições diárias. Assim, maiores gastos com pão levariam a uma redução do consumo de outros alimentos, obrigando as famílias de baixa renda a consumirem mais pão para sobreviver (MILTONS, 2016). Os Bens de Veblen “são bens de consumo ostentatório, tais como joias, objetos de arte e automóveis de luxo. Quando o preço aumenta, aumenta também a quantidade demandada” (MILTONS, 2016, p. 35). 1200 (P) (Q) 1180 1160 1140 1120 1100 800 18 22 26 30 34 4238 TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 27 FIGURA 5 – CONSUMO DE LUXO EM 2017 FONTE: Disponível em: <http://www.valor.com.br/sites/default/files/gn/18/01/ arte04emp-301-tendencias-b6.jpg>. Acesso em: 12 mar. 2018. 2.2 FATORES QUE AFETAM A CURVA DA DEMANDA Vimos no exemplo anterior que o preço afeta a curva de demanda, fazendo com que ela aumente ou diminua. Da mesma forma que o preço, existem outros fatores que podem causar algum deslocamento na curva de demanda. Podemos dizer que o mercado é afetado diariamente por acontecimentos diversos. Vejamos agora algumas das variáveis que podem fazer com que a curva da demanda se desloque: Renda: o aumento da renda da população pode fazer com que aumente a demanda por determinados tipos de produtos. O mesmo ocorre com a riqueza de uma pessoa. Quando uma pessoa aumenta sua riqueza, é natural que ela demande uma quantidade maior de bens e serviços. A elevação da renda ou da riqueza provoca o aumento da demanda pela maior parte dos bens – chamados de bens normais (moradia, viagem, roupas, calçados, eletrônicos etc.). Mas lembre-se, não são todas as curvas de demandas que se comportam desta forma. No caso dos bens inferiores, uma elevação da renda fará com que as pessoas procurem menos por esse tipo de bem, como é o caso da carne moída de segunda qualidade. À medida que a renda aumenta, a tendência é que esta carne seja substituída por uma carne de primeira qualidade, por exemplo, alcatra bovina. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 28 FIGURA 6 - EXEMPLO DE BENS INFERIORES (CARNE MOÍDA X ALCATRA) BOVINA) FONTE: Disponível em: <http://www.casadecarnespine.com.br/index.php?route=product/ product&product_id=69>. Acesso em: 12 mar. 2018. Além disso, é importante destacar que o estudo da relação entre a quantidade demandada e a renda gera uma nova classificação de bens: o consumo saciado, que ocorre quando houver um aumento da renda e não houver qualquer alteração da quantidade demandada deste bem. Ex.: Arroz, sal, feijão são produtos alimentícios básicos que são consumidos pelos brasileiros. Assim, uma alteração na renda das pessoas não fará com que elas venham a consumir mais destes produtos no seu dia a dia. a) O preço de outras mercadorias: o preço de outras mercadorias pode influenciar a quantidade demandada de um produto. Isso pode ocorrer de duas maneiras: a primeira envolve os produtos com mesma finalidade, mas apenas com marcas distintas. No caso de duas marcas de biscoitos ou a margarina e a manteiga (figura a seguir), o que vai incentivar a escolha do consumidor é o preço relativo do produto, ou seja, se o preço da manteiga subir, a tendência é que o consumidor passe a consumir a margarina. Neste caso, quando dois produtos apresentam a mesma finalidade, estes são chamados de bens substitutos. FIGURA 7 – EXEMPLO DE BENS SUBSTITUTOS FONTE: Disponível em: <http://nutricaoeassuntosdiversos.blogspot.com. br/2013/04/manteiga-ou-margarina.html>. Aceso em: 12 mar. 2018. A segunda maneira diz respeito às mercadorias que são consumidas de forma conjunta, por exemplo, os pneus e automóveis, camisa social e gravatas, combustível e veículos, margarina e pão (figura a seguir). A margarina é um bem complementar ao pão, por isso, a tendência é que esses produtos sejam consumidos juntos. Esses bens são chamados de bens complementares. X TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 29 FIGURA 8 – EXEMPLO DE BENS COMPLEMENTARES FONTE: Disponível em: <https://pt.slideshare.net/EnfPatriciaRodrigues/ introduo-economia-18794904>. Acesso em: 12 mar. 2018 a) População: o aumento considerável da população em determinado local faz com que aumente a demanda de bens e serviços. Vejamos o exemplo do deslocamento da população para a exploração de uma mina de ouro em Pontes e Lacerda, no Mato Grosso, que movimentou a cidade. Isso fez com que houvesse um aumento da demanda por ferramentas, água e alimentos na região. Veja a reportagem a seguir: DESCOBERTA DE JAZIDAS DE OURO MOVIMENTA PACATA CIDADE DE MT “Aventureiros' chegam diariamente a Pontes e Lacerda em busca de ouro. Funcionários têm deixado emprego para ir a garimpo que 'parece cidade”. Por Pollyana Araujo A descoberta de jazidas de ouro entre as serras da Borda e Santa Bárbara tem movimentado a pacata cidade de Pontes e Lacerda, localizada a 483 km de Cuiabá. A notícia se espalhou nas últimas duas semanas e muitos 'aventureiros', como são chamados pelos moradores da cidade, já que muitos não são garimpeiros profissionais, migraram para a região em busca de ouro, como relata o dono de uma concessionária na região, João Manoel Ramirez. Ele vendeu, nesse período, quatro veículos para esses garimpeiros, que chegaram ao município atraídos pelo ouro fácil. "Eles falaram que o dinheiro era do garimpo", afirma. Um problema que essa descoberta causou foi a redução da oferta de trabalhadores na cidade, já que muitos optaram por ir para o garimpo. Está difícil manter os funcionários no emprego, segundo o prefeito da cidade, Donizete Barbosa (PSDB), que também é empresário na região. Não tem trabalhadores porque as pessoas estão indo para os garimpos. Na minha empresa, de construção de rede de energia, oito funcionários faltaram ao serviço para procurar ouro. Quem ganha R$ 2 mil vai lá [no garimpo] e tira isso numa noite", declara. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 30 A venda do ouro encontrado nas Áreas de Preservação Permanente (APPs) aqueceu o comércio. Os hotéis, por exemplo, estão lotados, segundo a presidente da Associação Comercial de Pontes e Lacerda, Regina Aparecida de Moraes. "Alguns segmentos estão sentindo impacto maior, como as lojas que vendem ferramentas, como enxadas e pás, usadas no garimpo. Nos últimos 15 dias, esgotaram os estoques dessas ferramentas no comércio local. Os hotéis também estão cheios, principalmente aqueles mais populares, onde a estadia é mais barata, já que as pessoas vêm para trabalhar", relata. As veias auríferas foram encontradas pelos moradores do município de 41.408 habitantes, segundo o IBGE, que, após acharem grandes quantidades do metal precioso, começaram a circular imagens de grandes pepitas pelas redes sociais e pelo WhatsApp, o que deve ter contribuído com o aumento da migração para aquela região. "Antes, a cidade era mais tranquila e agora têm muitas pessoas de fora circulando. A cidade está mais movimentada. É notório isso", enfatiza a representante do comércio no município [...]. Para ler a reportagem na íntegra, acesse: <http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2015/10/ descoberta-de-jazidas-de-ouro-movimenta-pacata-cidade-de-mt.html>. d) Expectativas: o mesmo ocorre com as expectativas sobre eventos futuros. Isso ocorre muito quando se anuncia nos meios de comunicação o possível aumento de preço de bens nos próximos dias. A notícia faz com que as pessoas demandem por produtos para fazer estoques antes da elevação do preço. Tal situação provoca um deslocamento da curva para a direita. Se, ao contrário, as pessoas acharem que o preço do bem poderia cair, adiarão suas compras, fazendo com que a curva se desloque para a esquerda. IMPORTANT E No mercado de açõese títulos imobiliários as expectativas são importantes, pois as pessoas querem adquirir mais títulos quando imaginam que os preços das ações e títulos vão se elevar no futuro – isso desloca a curva de demanda para a esquerda (HALL; LIEBERMAN, 2006). TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 31 a) Gostos: os gostos do consumidor também influenciam para que a curva de demanda se desloque para a esquerda ou para a direita. O estudo do gosto do consumidor está associado à economia comportamental. Nesse estudo é possível compreender de onde vêm os gostos e/ou o que os fazem mudar. DICAS Para você se aprofundar mais sobre a economia comportamental, leia o livro: FRANK, R. H. Microeconomia e comportamento. 8. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. 664p. Agora que vimos que diversos fatores fazem com que a curva de demanda sofra um deslocamento para a esquerda ou para a direita, vamos observar graficamente como o deslocamento da curva da demanda (aumento ou baixa do preço) ocorre: FIGURA 9 – DESLOCAMENTO DA CURVA DE DEMANDA (PARA A ESQUERDA OU PARA A DIREITA) FONTE: Adaptado de Hall e Liebermann (2003, p. 69) Lembre-se de que toda curva de demanda se desloca para a direita (figura a seguir) quando houver: P2 (P) P1 P3 Q2 Q1 Q3 (Q) A elevação do preço desloca para a esquerda ao longo da curva de demanda A queda do preço desloca a curva para a direita ao longo da curva de demanda UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 32 • Aumento da renda. • Aumento da riqueza. • Aumento do preço do bem substituto. • Diminuição do preço do bem complementar. • Expectativa de o preço aumentar. • Aumento da população. • Os gostos se deslocam a favor do bem. FIGURA 10 – VARIAÇÕES QUE PROVOCAM O DESLOCAMENTO DA CURVA DE DEMANDA PARA A DIREITA FONTE: Adaptado de Hall e Liebermann (2003, p. 69) Da mesma forma, algumas variáveis influenciam no deslocamento da curva de demanda para a esquerda (figura a seguir). Podemos destacar entre as diversas variações a: • Diminuição da renda. • Diminuição da riqueza. • Diminuição do preço do bem substituto. • Aumento do preço do bem complementar. • Expectativa de o preço diminuir. • Diminuição da população. • Os gostos se deslocam contra o bem. P2 P1 P3 Q2 Q1 Q3 D2 D1 (Q) (P) TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 33 De acordo com Vasconcelos e Garcia (2016), ao estudar a influência destas variáveis no momento da compra, considera-se a hipótese do coeteris paribus, ou seja, cada uma das variáveis afetando separadamente as decisões de compra do consumidor. Em função dessas variáveis, o consumidor irá decidir em adquirir uma determinada quantidade de um produto ou bem, chamada de quantidade demandada. Essa quantidade demandada varia de acordo com uma série de fatores. O mais relevante fator é o preço da mercadoria. Quando o preço da mercadoria aumenta, a quantidade demandada diminui, pois, o preço elevado de determinado produto faz com que o consumidor economize seu uso. FIGURA 11 – VARIAÇÕES QUE PROVOCAM O DESLOCAMENTO DA CURVA DE DEMANDA PARA A ESQUERDA FONTE: Adaptado de Hall e Liebermann (2003, p. 69) P2 P1 P3 Q2 Q1 Q3 D2 D1 (Q) (P) FIGURA 12 – CONSUMIDOR PENSANDO NA DECISÃO DE COMPRA FONTE: Disponível em: <http://www.tvsolcomunidade.com.br/compras- conscientes-exigem-atencao-do- consumidor/ QuantidadePreço UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 34 3 ESTUDO DA OFERTA DE MERCADO Até agora nosso foco de estudo foi centrado nos consumidores, de agora em diante vamos estudar o mercado do ofertante (dos vendedores). Ou seja, o ofertante é o agente econômico que tem por objetivo ofertar (vender) mais produtos no mercado, estimulado pelo aumento dos preços. 2.3 FUNÇÃO DA DEMANDA Em termos matemáticos, a função da demanda expressa a relação entre a quantidade do produto demandado por unidade de tempo e diversas variáveis possíveis, como o preço e as outras variáveis, que são chamadas de condições de demanda. Condições de demanda “são variáveis que provocarão um deslocamento para a direita ou para a esquerda da curva de demanda para o produto x. Essas condições incluem o peço de outros produtos [...], a renda real dos domicílios [...], as preferências dos domicílios [...]” (WALL, 2015, p. 4 – grifo nosso). A função da demanda é representada pela seguinte equação: Qx = F (Px, Po, Y, T, Ax) Onde: Qx = Quantidade demandada do produto X Px = Preço do Produto X Po = Preço de outros produtos Y = Renda real dos outros domicílios T = Preferência dos domicílios Ax = Propaganda do produto x Você poderá encontrar em vários livros de economia outras variáveis que são frequentemente utilizadas pelos autores, conforme descreve Wall (2015, p. 7 – grifo nosso): Tecnologia (Tn): embora novas tecnologias sejam mais frequentes associadas a deslocamentos para dentro da curva da oferta, elas também podem gerar deslocamentos na curva de demanda. Propaganda (Ax): gastos com propagandas do produto em si (Ax), com um substituto de consumo para X em si (Ax), com um substituto para X (As) e/ou como complemento de consumo para X (Ac) também podem ocasionar um deslocamento da curva de demanda para o produto X. Disponibilidade de crédito (CA) e preço de crédito (CP): duas variáveis importantes, porém frequentemente negligenciadas, podem exercer uma importante influência sobre a demanda de um produto: a disponibilidade de crédito (CA) e o custo do crédito (CP). TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 35 NOTA Quando uma firma competitiva vem ao mercado como vendedora, seu objetivo é atingir o maior lucro possível. Ela poderá escolher o nível de produção que deseja, mas se depara com três restrições: (1) sua tecnologia de produção, (2) os preços que precisa pagar por seus insumos; (3) o preço de mercado para seu produto (HALL; LIEBERMANN, 2003, p. 70). Da mesma forma, como vimos anteriormente que a demanda não é uma compra, você verá que a oferta também não é uma venda efetivada, trata-se apenas de uma quantidade de determinado bem ou serviço que o produtor deseja vender aos diferentes níveis de preço, durante um período de tempo definido (CARVALHO, 2015; MILTONS, 2016). NOTA Oferta é um conceito abstrato representando o conjunto de todos os pares de preço e respectivas quantidades de um bem que o produtor, a empresa, deseja produzir e vender, por um período de tempo (CARDOSO, 2016, p. 133). A oferta de um bem é feita pelo grupo de vendedores (produtores). A oferta de um bem é “a quantidade de determinado bem ou serviço que os produtores desejam vender, em determinado período de tempo” (PINHO; VASCONCELLOS, 2004, p. 592). Lembre-se, sempre de que o preço aumentar, a quantidade ofertada também aumentará. Isso ocorre porque a elevação do preço se torna um estímulo para que o produtor ou a firma aumente a sua produção – Lei geral da oferta. Vimos anteriormente no estudo da demanda que o consumidor vai ao mercado com um objetivo: adquirir os bens e serviços que satisfaçam suas necessidades da melhor forma possível. O vendedor, quando vai ao mercado ofertar seus bens e produtos, também tem uma meta: conseguir o maior lucro possível. A firma (os vendedores), como será tratada de agora em diante, para conseguirem alcançar sua produção dependem de insumos (matéria-prima) e de tecnologia para transformação dos insumos (HALL; LIEBERMANN, 2003). UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 36 Mas assim como vimos no estudo da demanda, quando estudamos a oferta de produtos, bens e serviços também teremos a existência de oferta individual e a oferta de mercado. A oferta individual refere-se a uma única empresa, enquanto que a oferta de mercado faz referência a um conjunto de empresas que produzem produtos homogêneos, sendo que o que as diferencia é somente a embalagem, marca e propaganda. NOTA A quantidadede mercadorias, bens ou produtos que o produtor deseja colocar à venda é chamada de quantidade ofertada. Em suma, é importante que você compreenda que oferta e quantidade ofertada não são sinônimas. A oferta refere-se ao comportamento do produtor, expressa na relação entre preço e quantidade ofertada. Já a quantidade ofertada é um valor, a expressão numérica da quantidade que se pretende produzir. Mas como as firmas identificam seus potenciais consumidores? Os potenciais consumidores são estratificados de acordo com a sua renda. Essa estratificação leva a uma divisão social chamada de Classes Econômicas. Você sabe quantas classes econômicas existem atualmente no Brasil? A maneira de classificar economicamente a população brasileira mudou em 2015. O Critério de Classificação Econômica Brasil, conhecido como Critério Brasil, teve uma nova atualização feita pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). O novo Critério Brasil, que está em vigor desde 1º de janeiro de 2015, continua baseado em posse de bens, atrelando a cada item uma quantidade de pontos, mas agora a base para o estudo é a Pesquisa de Orçamentos Familiares A lei geral da oferta determina que, quando o preço de um bem aumenta e todas as demais permanecem inalteradas, a quantidade ofertada do bem também se eleva. À medida que o preço cai, nem sempre o produtor estará disposto a ofertar a mercadoria na mesma quantidade no mercado, pois o nível de seu lucro não seria tão alto. ATENCAO TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 37 FIGURA 13 – NOVA ESTRATIFICAÇÃO DAS CLASSES SOCIAIS NO BRASIL FONTE: Disponível em: <http://www.ibope.com.br/pt-br/noticias/paginas/criterio-brasil-inicia- 2015-com-nova-atualizacao-.aspx>. Acesso em: 12 mar. 2018. 3.1 CURVA DE OFERTA A inclinação da curva de oferta (O) é ascendente (positivamente inclinada) – da direita para a esquerda. Mas por que ela é positivamente inclinada? A curva de oferta positivamente inclinada tem relação direta com o preço (P) e a quantidade do produto (Q), ou seja, isso significa que à medida que o preço aumenta, uma quantidade maior de determinado produto X o produtor ofertará no mercado, pois terá um lucro maior. E à medida que há uma redução no preço do produto, a oferta de produtos diminui, pois nem sempre é interessante para o produtor comercializar produtos a um preço baixo. Desta forma podemos afirmar que, quando o preço de um bem ou serviço aumenta, a quantidade ofertada tende a aumentar também. Classe Pontos A 45 - 100 B1 38 - 44 B2 29 - 37 C1 23 - 28 C2 17 - 22 D-E 0 - 16 (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A nova regra de classificação divide a população brasileira em seis estratos socioeconômicos, denominados A, B1, B2, C1, C2 e DE. Podemos observar na tabela a seguir que existe no Brasil um total de seis classes econômicas. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 38 Para você compreender melhor o movimento da curva de oferta, vamos utilizar o exemplo anterior (celulares). Observe a tabela a seguir, que demonstra a oferta de um determinado produto X, que neste caso poderiam ser celulares. TABELA 2 – OFERTA DO PRODUTO X Preço do produto X (celulares) Quantidade ofertada 1.200 42 1.180 38 1.160 34 1.140 30 1.120 26 1.100 22 800 18 FONTE: Os autores Observe na tabela acima que a um preço de R$ 1.200,00 (P1) a oferta pelo produto X é de 42 unidades (Q1). Mas a partir do momento em que o preço do aparelho celular cai para R$ 800,00 (P2), a quantidade de produtos ofertados também diminuiu, ou seja, o produtor ofertará somente 18 unidades (Q2). É claro que neste caso estamos supondo que somente o preço do produto se alterou, e que as demais variáveis permanecem constantes (coeteris paribus). FIGURA 14 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA CURVA DE OFERTA FONTE: Os autores Preço (P) Quantidade (Q) Curva de Oferta TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 39 FIGURA 15 - GRÁFICO DA OFERTA DO PRODUTO X FONTE: Os autores Analisando graficamente (figura anterior), podemos observar que à medida que o preço diminuiu, a quantidade ofertada de celulares também reduziu, fazendo com que a curva da oferta seja inclinada (para cima). 3.2 FATORES QUE AFETAM A CURVA DE OFERTA Você se recorda que vários fatores influenciavam na demanda de produto, o mesmo ocorre com a oferta. O preço é a principal variável que influencia neste mercado. Entretanto, você verá que outras variáveis também podem causar certa modificação na curva de oferta, por exemplo, “o preço de outros bens que lhe guardem alguma relação (substituição ou complementaridade), o preço dos fatores de produção, a mudança tecnológica e as expectativas” (MILTONS, 2016, p. 40). IMPORTANT E Curva de Oferta: mostra a quantidade de mercadorias que os ofertantes estão dispostos a vender a cada preço, coeteris paribus. 1200 (P) (Q) 18 22 26 30 34 38 42 1180 1160 1140 1120 1100 800 Curva da Oferta Sempre que ocorrer qualquer variação em um dos fatores de produção que fará com que a firma aumente sua lucratividade, haverá também um aumento na quantidade de mercadorias ofertadas no mercado. Essa alteração poderá ocorrer no valor da hora trabalhada dos funcionários, uma diminuição no valor da matéria-prima, entre outros. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 40 FIGURA 16 – MOVIMENTO AO LONGO DA CURVA DE OFERTA FONTE: Adaptado de Wall (2015) O deslocamento da curva para a direita vai representar um aumento na oferta de produtos. Os fatores que podem influenciar para que ocorra esse aumento de acordo com Wall (2015) são: • Uma queda no preço de um substituto de produção. • Um aumento no preço de complemento de produção. • Uma queda nos custos de produção. • Mudanças nas preferências dos produtos em favor de X. • Redução de alíquotas dos impostos. • Aumento de subsídios. • Aumento da capacidade produtiva. • Tecnologia. Antes de verificarmos essa alteração graficamente, observe que surgiram dois conceitos novos: Substitutos de produção e Complemento de produção. (P) P2 Q1 Q2 (Q) P1 Pr eç o de x Contração Quantidade de x Expansão Curva de Oferta NOTA “Variação da oferta – um deslocamento de oferta em resposta a alguma mudança em uma variável que não seja o preço” (HALL; LIEBERMANN, 2013, p. 73). Vejamos agora como a curva de demanda se comporta com as devidas alterações graficamente (figura a seguir). TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 41 NOTA Substitutos de produção: “são usados quando outro produto (O) poderia ter sido produzido com mesmos recursos (terra, capital, matérias-primas etc.) que os usados para o produto X” (WALL, 2015, p. 11). Complementos de produção: “Ocorrem quando o processo de produção de um produto X ou demais produtos X rendem produtos secundários. Esses complementos de produção também são conhecidos como produtos ofertados em conjunto” (WALL, 2015, p. 11). A diminuição da oferta ocasionará deslocamento da oferta para a esquerda, isso pode ocorrer devido à(a): • Greve dos trabalhadores. • Mudança tecnológica desfavorável. • Condições climáticas desfavoráveis, • Aumento do preço dos fatores de produção. • Mudança no preço de outros bens, entre outros. Agora, observe a figura a seguir, ela demonstra graficamente como se comporta a curva de oferta quando ocorre seu deslocamento para a esquerda (decréscimo), ou seja, diminuição da oferta, ou quando o deslocamento é para a direita (acrescimento) e, com isso, aumento da oferta do produto X. FIGURA 17 – DESLOCAMENTO DA CURVA DE OFERTA FONTE: Adaptado de Wall (2015) (P) P2 P1 Pr eç o de X Aumento Quantidade de X Decréscimo Q1 Q2 (Q) S1 S2 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 42 3.3 FUNÇÃO DA OFERTA Inicialmente cabe identificar os fatores, as variáveis econômicas, que explicam ou definema quantidade de um bem que se deseja produzir e vender. Claro que a primeira delas é o preço do próprio bem; outras são os custos de produção, que são representados pelos preços de insumos e de serviços (como salário dos trabalhadores, taxa de juros), os preços dos bens concorrentes, os preços dos bens que se complementam no uso daquele objeto do estudo, a tecnologia etc. A ideia de oferta começa com a seguinte pergunta: se o preço de certo bem X for PX, qual é o nível mensal de produção que a empresa escolheria? Qual seria a produção se o preço se elevasse? E se diminuísse? Observe que somente haveria resposta a essas perguntas se os demais fatores não sofressem qualquer tipo de alteração. Por exemplo, “se após a elevação do preço a produção não se alterar, a explicação poderia ser que, apesar de a demanda haver crescido, os custos de produção devem ter aumentado, por exemplo, porque os salários dos trabalhadores das empresas se elevaram, isto é, teria havido uma redução de oferta que exatamente compensou o aumento de procura” (CARDOSO, 2016, p. 134). Outra vez é utilizada a hipótese de coeteris paribus, ou “tudo o mais constante”. Matematicamente, a função da oferta pode ser representada por: Qox = f (Px, P1, P2, ..., Pn, p1, p2, ..., pn, T, E) Onde que: Qox = quantidade ofertada do produto x; Px = preço do produto x; Pi1, Pi2,..., Pin = preço dos n insumos utilizados na produção de x; T = tecnologia disponível (conjunto de técnicas que podem ser empregadas para produzir x); E = expectativas do produtor sobre o futuro. A expressão informa que a quantidade ofertada de uma mercadoria x qualquer (Qox) é função do preço de x, dos preços dos insumos necessários para produzir x, da tecnologia e das expectativas do produtor relativas ao futuro. As relações entre a quantidade ofertada e cada uma dessas variáveis são apresentadas a seguir, começando pela relação entre preço e quantidade ofertada, que define a própria oferta (CARVALHO, 2015). Matematicamente, a relação entre quantidade ofertada e preço pode ser representada como segue: Qox = f (Px ); dQox > 0 dPx TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 43 Quando a derivada da função é maior do que zero, indica que há uma relação crescente entre quantidade ofertada e preço do produto: quanto maior for o preço, maior será́ a quantidade ofertada. Lembre-se de que o objetivo da empresa é conseguir o máximo de lucro, e não a máxima receita. O lucro é a diferença entre receita e custo (CARVALHO, 2015). UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO 44 LEITURA COMPLEMENTAR UMA FÁBULA SOBRE OFERTA E DEMANDA Em um país, que chamaremos de Sapatópolis, toda compra e venda de sapatos acontecia uma vez por ano na praça central. Imagine que, quando você chegou a essa praça, havia dois grandes edifícios. No canto externo esquerdo, ficava o prédio dos compradores de sapatos, que chamaremos de Ala dos Demandantes. Lá estavam todas as pessoas que desejavam comprar sapatos ou, aqueles que não poderiam ir até a cidade, seus representantes. Felizmente, todos os demandantes desejavam exatamente o mesmo tipo de sapato. Dessa forma, eles se reuniam uma vez por ano em balcões individuais ao longo da Ala dos Demandantes para fazer ofertas pelos sapatos. No canto extremo direito, ficava a Ala dos Ofertantes. Ali estavam todos os sapateiros: cada um vinha receber os pedidos para confeccionar em casa e enviar, depois, para os demandantes. O Conselho da Guilda das Alas dos Ofertantes certificava-se de que todos os sapatos eram os mesmos que os compradores desejavam e atendia seus exigentes padrões. No decorrer dos anos, os compradores e os vendedores de sapatos encontravam-se para estabelecer o preço anual dos sapatos. O leiloeiro da cidade ficava no pátio entre as duas grandes alas e enviava dois mensageiros, um para cada ala. Cada mensageiro levava uma lista de preços. Na Ala dos Demandantes, o mensageiro dirigia-se a cada procurador e perguntava quantos sapatos ele desejava por preço. O mensageiro registrava as respostas, anotava de quem eram e, quando terminava, fechava o total de pares para cada preço. Da mesma forma, o outro mensageiro na Ala dos Ofertantes percorria seus vastos corredores dirigindo- se a cada vendedor, perguntando quantos cada um faria a cada preço da lista. O mensageiro registrava as respostas, anotava de quem eram e fechava esse total. Depois, os mensageiros corriam para o pátio. O leiloeiro comparava as duas listas. Em seguida, anunciava um preço pelo qual os sapatos seriam vendidos naquele ano. O que deixava os cidadãos admirados era que o leiloeiro sempre acertava um preço em que o número total de sapatos desejados pelos compradores àqueles preços igualava o número de sapatos que os vendedores desejavam vender àquele preço. Devido à sua habilidade, o leiloeiro fazia jus a um honorário tão grande que se tornou o homem mais rico do país. Chegou o dia em que o leiloeiro passou suas habilidades para seu filho. Ele advertia a criança de que o que ele lhe estava passando era secreto e não devia sair do âmbito da família, já que era a fonte de sua riqueza. Em um pedaço de pergaminho, ele desenhou uma linha vertical na qual escreveu os preços que ele tinha em sua lista, que iam dos mais baixos, na base, para os mais altos, na parte de cima da linha. Na linha horizontal, ele anotava as quantidades de sapatos, que iam das baixas para as mais altas, da esquerda para a direita. “Agora o que eu faço”, disse ele para seu filho, “é introduzir da lista da Ala dos Demandantes cada preço e seu total. Eu ligo estes pontos e chamo esta linha de curva de demanda. TÓPICO 2 | ESTUDO DA OFERTA E DEMANDA DE MERCADO 45 Depois eu introduzo cada preço e seu total da lista da Ala dos Ofertantes. Em seguida, ligo esses pontos e chamo esta linha de curva de oferta. Finalmente, passo para onde as linhas se encontram e utilizo este preço para acertar todas as trocas. Esse é o preço de ajuste de mercado. A esse preço, todos os compradores conseguem comprar os sapatos que estavam dispostos a adquirir e todos os vendedores conseguem vender os sapatos que estavam dispostos a fabricar”. “Por que não fixar um preço mais alto do que onde as linhas se encontram?” “Bem”, disse o pai, “o preço mais baixo, os totais desejados pelos compradores excedem os totais fabricados pelos vendedores. Existe excesso de demanda. Eu raciocinei que, se eu fixasse pelo preço mais baixo, eu não conseguiria preencher os pedidos de todos os determinantes, de sorte que alguns ficariam sem sapatos. Você pode imaginar as críticas que eu receberia, então? Deixar as pessoas descalças! Ah, não! Nem mesmo eu tentaria tal temeridade”. O filho do leiloeiro e os filhos dos seus filhos viveram felizes para sempre. Ou melhor, até que um economista mostrou que o leiloeiro era desnecessário, porque o anúncio aberto aos preços faria o mesmo trabalho de graça. Então, a família perdeu sua função e passou a subsistir apenas a venda de velhos diagramas de oferta e demanda. FONTE: WESSELS, Walter J. Microeconomia: teoria e aplicações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 35-37. 46 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A demanda é associada ao comportamento do consumidor. • A Lei geral da demanda é a quantidade de bens e serviços que o consumidor deseja consumir. Sempre que o preço do bem diminuir, a tendência é que o consumidor venha a comprar mais quantidades de determinado bem. • A inclinação da curva de demanda (D) é descendente (negativamente inclinada) – da esquerda para a direita. • A oferta está associada ao comportamento do vendedor. • Sempre que o preço aumentar, a quantidade ofertada também aumentará. Isso ocorre porque a elevação do preço se torna um estímulo para que o produtor ou a firma aumente a sua produção – Lei geral da oferta. 47 1 O que é demanda? 2 Como os consumidores reagem às mudanças nos preços dos benssubstitutos? 3 Entre os eventos a seguir, identifique os que podem causar mudança na posição da curva da demanda de alimentos de um país. Quais seriam as mudanças? Por quê? a) Aumento na população. b) Descoberta de um processo mais barato para produzir alimentos. c) Proibição de importações. d) Aumento dos salários. e) Aumento do preço dos alimentos no mercado internacional. f) Subsídio ao consumo de alimentos. 4 Entre as alternativas a seguir, assinale a que NÃO provoca deslocamento da curva da oferta do bem x: a) Aumento do preço da matéria-prima. b) Aumento do preço do produto x. c) Expectativas dos produtores de aumento da demanda. d) Mudança tecnológica que reduz custo. e) Redução dos impostos sobre os lucros. AUTOATIVIDADE 48 49 TÓPICO 3 EQUILÍBRIO DE MERCADO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Caro acadêmico! No tópico anterior, você estudou o mercado da demanda e da oferta de forma isolada. Vimos que vários fatores fazem com que a demanda e a oferta de mercado se alterem. Agora no Tópico 3 vamos estudar o equilíbrio de mercado. Veremos o que acontece quando compradores e vendedores, cada lado com vontade e capacidade de negociar seus produtos, se encontram no mercado. Você certamente se lembra de que ambos os lados têm objetivos diferentes, ou seja, enquanto o consumidor busca a melhor opção possível que atenda às suas necessidades com o melhor preço, os vendedores buscam sempre o maior lucro. Observamos na vida real que há variações de preços quando consumidores e vendedores se encontram no mercado, na maioria das vezes, esta variação é de forma branda em determinado momento. A esse estado de repouso os economistas chamam de Equilíbrio de mercado. 2 EQUILÍBRIO DE MERCADO Inicialmente vamos considerar, neste estudo, a situação que se trata de um mercado livre, onde somente a oferta e a demanda determinam o preço dos produtos. Quando a oferta e demanda não se encontram em equilíbrio no mercado, teremos duas situações: um excesso ou a escassez de produtos no mercado. Um mercado em desequilíbrio é aquele que apresenta quantidades demandadas e ofertadas divergentes. UNI Preço de Equilíbrio ou Market Clearing: “Preço que iguala a quantidade ofertada com a quantidade demandada” (PINDYK; RUBINFELD, 2013, p. 25). 50 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO Observe a figura a seguir, e veja graficamente como se comportam as curvas de demanda e oferta num mercado em equilíbrio. FIGURA 18 – DEMANDA E OFERTA EM EQUILÍBRIO NUM MERCADO LIVRE IMPORTANT E Para você encontrar o preço em equilíbrio em um mercado, desenhe a curva de oferta e demanda. O equilíbrio será o ponto de interseção entre as duas curvas. 2.1 EXCESSO DE OFERTA E DEMANDA NO MERCADO Você já parou para refletir em qual momento pode ocorrer um excesso de oferta no mercado? Vamos imaginar nosso dia a dia, quando vamos ao mercado realizar nossas compras. Nosso maior motivador é o preço. Embora você verá na Unidade 2 deste livro que outras variáveis muitas vezes afetam as escolhas do consumidor, o preço ainda é um fator determinante nas escolhas. Considerando como exemplo a figura anterior, podemos dizer que haverá excesso de oferta a partir do momento em que o preço aumentar, ou seja, for maior do que P1, conforme vimos no gráfico anterior. Desta forma, esse excesso de oferta fará com que o preço caia num determinado período de preço, à medida que os vendedores tentarem se desfazer de seus produtos. De acordo com Wall (2015), à medida que o preço cai, os consumidores começarão a ver o produto com outros olhos, achando-o mais atraente que o produto substituto e, consequentemente, haverá um movimento da curva de demanda para a direita, representando uma expansão da demanda. FONTE: Adaptado de Wall (2015) Preço (P) Excesso de Oferta (S) Oferta (D) DemandaExcesso de Demanda Quantidade (Q) P2 P1 P3 Q10 TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO DE MERCADO 51 No momento em que o preço cai, os produtores começarão a achar que o produto é menos atraente que os outros substitutos de produção e, com isso, poderão direcionar recursos para essas alternativas, o que fará com que haja um movimento para a esquerda da curva de oferta, representando uma contração na oferta (VASCONCELLOS; SAKURAI, 2011). Da mesma forma ocorre com a demanda, sempre que o preço do produto X for mais baixo que o P1, a demanda será maior do que a oferta. Neste caso, podemos dizer que o preço é um sinal para os compradores e para os vendedores e ajuda-os a executar as ações de expandir ou contrair a oferta e a demanda, resultando em um equilíbrio. NOTA À medida que o preço cair e alcançar o P1, quando vendedores e compradores estarão em harmonia e tudo o que posto à venda for vendido, haverá o Equilíbrio de mercado. UNI O excesso de oferta se dá quando um produto está disponível no mercado numa quantidade maior do que os consumidores estão dispostos a comprar. Tal situação faz com que haja uma redução nos preços dos produtos. Um exemplo de excesso de oferta é o mercado imobiliário americano após a crise financeira. Há muitas casas que foram construídas durante a bolha que agora se encontram vazias ou à venda, o que fez o preço desses imóveis despencar desde o início da crise. O excesso de demanda ocorre quando há mais consumidores interessados em um produto do que produtos disponíveis para venda. Essa situação faz com que o preço deste produto se eleve em busca do equilíbrio. Um exemplo é o aumento no preço do etanol (combustível). Com a quebra da safra de cana na Índia, muitas usinas de cana no Brasil utilizaram a cana para produção de açúcar ao invés de álcool (etanol). Isso diminuiu a oferta de etanol no mercado, ao mesmo tempo em que a frota de veículos flex aumentava, isso forçou o aumento de preço do etanol, que chegou a mais de 50% em muitas praças no Brasil. 3 FATORES QUE AFETAM O PREÇO DE EQUILÍBRIO Vimos anteriormente que o fator preço faz com que houvesse um excesso de oferta e demanda no mercado, e que tal situação fará com que haja deslocamentos na curva de demanda e oferta. 52 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO Na prática, as curvas de oferta e demanda sempre se deslocam, devido à economia ser dinâmica. Consideremos como exemplo a renda da população. A renda não é algo estático, ela se altera num período de um ano por diversas vezes e é influenciada diretamente por vários fatores (acordos coletivos entre classe trabalhadora e patronal, mudança de cargos, mudança de emprego, demissões, etc.). De acordo com Vasconcellos e Sakurai (2011), situações como estas podem elevar ou baixar a renda da população. O mesmo ocorre com a produção das empresas, podemos observar que alguns produtos são sazonais, ou seja, a produção pode ser maior ou menor de acordo com cada estação do ano (por exemplo, produção de sorvetes), ou ainda é influenciada por datas comemorativas (Natal, Páscoa, Dia das Mães etc.). Todas essas situações alteram a posição das curvas (oferta e demanda) e, consequentemente, o equilíbrio de mercado. Para que você compreenda melhor como ocorre esse deslocamento, vamos utilizar um exemplo prático, descrito na tabela a seguir, que demonstra a situação de oferta e demanda de calçados femininos. TABELA 3 – OFERTA E DEMANDA DE CALÇADOS FEMININOS Preço ($) Quantidade ofertada Quantidade demandada Situação de mercado Preço 20 250 340 Excesso de procura (escassez de oferta) Tende a aumentar 30 270 320 Excesso de procura (escassez de oferta) Tende a aumentar 40 300 300 Equi l íbr io entre oferta e procura Fica estável (equilíbrio) 50 320 270 Excesso de oferta (escassez de procura) Tende a diminuir 60 340 250 Excesso de oferta (escassez de procura) Tende a diminuir FONTE: Elaborada pelos autores Na tabela acima, observe que ao preço unitário inicial do calçado feminino igual a R$ 20,00, a quantidade demandada deste produtoé igual a 340, e que a quantidade ofertada do mesmo produto é igual a 250. Podemos verificar que há uma diferença entre a oferta e demanda de 90 unidades do produto. Podemos dizer que neste caso há muita demanda para pouca oferta. Mas qual é a influência disso para o consumidor? Além dos exemplos apresentados, com certeza, você se recorda de várias situações que fazem com que ocorra uma maior oferta ou demanda no mercado. E deve ter observado que, geralmente, quando nos deparamos com essas situações de mercado, o preço tende a aumentar. Se continuarmos a verificar a tabela acima, observaremos que à medida que o preço aumenta para R$ 30,00, a quantidade TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO DE MERCADO 53 demandada diminui para 320 unidades, e a quantidade ofertada aumenta para 270 unidades. Mesmo assim, ainda podemos observar que há um excesso de demanda na ordem de 50 unidades. Situação que ainda faz com que o preço aumente. Quando os preços aumentarem e chegarem a R$ 40,00 por unidade, observe que da mesma forma que a demanda pelo produto diminui para 300, a oferta também aumenta para 300 unidades, chegando ao chamado preço de equilíbrio, não havendo excesso de demanda e nem de oferta. Mas como fica a situação se o preço continuasse a aumentar e passasse para R$ 50,00 a unidade? Observamos na tabela acima que a situação se inverteria. A quantidade ofertada de calçados passaria a aumentar e haveria uma diminuição da demanda. Com isso, haveria agora um excesso de oferta e, com isso, a tendência era uma diminuição no preço, pois com preços mais altos, o consumidor não teria mais a mesma vontade de consumir os calçados ofertados no mercado (VASCONCELLOS; SAKURAI, 2011). Agora que você já compreendeu como ocorre essa relação, oferta, demanda e equilíbrio de mercado, observe graficamente como se comportam tais relações na figura a seguir. FIGURA 19 – GRÁFICO DE DEMANDA, OFERTA E PREÇO DE EQUILÍBRIO FONTE: Os autores Dando continuidade ao nosso estudo, você se recorda que na Unidade 2 estudamos vários fatores que provocavam alterações na oferta e na demanda? O mesmo ocorre com o preço de equilíbrio. Agora veremos alguns dos fatores que podem provocar modificações no ponto de equilíbrio, de acordo com Vasconcellos e Sakurai (2011). Aumento da renda dos agentes: vamos ao nosso exemplo anterior. Suponhamos que o mercado já esteja em seu equilíbrio e que, em certo momento, ocorra um aumento permanente da renda dos agentes. Vejamos o que ocorre com o mercado. A tendência é que o consumidor venha a consumir mais calçados à medida que o preço esteja em equilíbrio. 60 250 270 300 320 340 Preço de Equilíbrio Oferta Demanda 50 40 30 20 54 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO Interferência do governo: embora estejamos considerando um mercado livre, onde produtores e consumidores têm plena liberdade de negociação dos seus produtos, cabe salientar que nem sempre a situação é assim, de maneira livre e sem intervenções. Em alguns produtos o governo realiza intervenções mediante vários mecanismos. Ou seja, a intervenção governamental estabelece um preço mínimo para alguns preços, ou ainda, estabelece alíquotas de impostos ou oferece subsídios que influenciam na decisão do consumidor. CELESC LANÇA BÔNUS EFICIENTE LINHA ELETRODOMÉSTICOS A quarta edição do projeto Bônus Eficiente Linha Eletrodomésticos inicia nesta sexta-feira, 17/11, com uma parceria entre a Celesc e as lojas Colombo. Por meio do Projeto de Eficiência Enérgica da ANEEL, a Celesc oferece um subsídio de 50% aos consumidores para a substituição de geladeiras, freezers e aparelhos de ar-condicionado antigos por outros novos e mais eficientes. Cada consumidor adimplente com a companhia tem direito a fazer a troca de um equipamento por unidade consumidora, sendo que os aparelhos usados devem ter mais de cinco anos de fabricação e não conter o selo Procel de energia. O lançamento oficial do programa ocorreu na quinta-feira, 16/11, com a assinatura do acordo no Gabinete do Governador, Raimundo Colombo. As vendas iniciam na sexta, em mais de 40 lojas da rede Colombo em todo o Estado, e seguem até o encerramento dos estoques. Além de receber um desconto de 50%, o cliente poderá parcelar o valor da compra em até seis vezes, sem juros, no cartão de crédito [...]. FONTE: Disponível em: <http://www.celesc.com.br/portal/index.php/noticias/2047-celesc-lanca- bonus-eficiente-linha-eletrodomesticos>. Acesso em: 15 jan. 2018. Outro exemplo que podemos citar é quando o Governo Federal resolve conceder subsídios fiscais para a indústria automobilística visando incentivar a compra de veículos populares. Estabelecimento de impostos: o estabelecimento de impostos (tributos) por parte do governo também influencia muito no mercado. Você sabe o que é um tributo? Os tributos podem ser impostos, taxas ou contribuições de melhoria. Os impostos dividem-se em duas categorias: impostos indiretos e impostos diretos, conforme descrito por Vasconcellos e Sakurai (2011): • Impostos diretos: impostos que incidem sobre o consumo ou sobre as vendas. Exemplos: Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). • Impostos indiretos: impostos incidentes sobre a renda e o patrimônio. Exemplos: Imposto de Renda (IR) e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Mas você deve se perguntar: por que o imposto influencia tanto no mercado? No ato do recolhimento, um aumento de impostos representa um TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO DE MERCADO 55 aumento de custos de produção para a empresa (estudaremos os custos de produção na Unidade 3 deste livro). Assim, para que ela alcance a mesma lucratividade, a empresa terá que repassar esse custo para o consumidor através do preço. A proporção do imposto pago por produtores e consumidores é a chamada incidência tributária, que mostra sobre quem recai efetivamente o ônus do imposto. O produtor procurará repassar a totalidade do imposto ao consumidor. Entretanto, a margem de manobra de repassá-lo dependerá do seu grau de sensibilidade a alterações do preço do bem (VASCONCELLOS; SAKURAI, 2011, p. 89 – grifo nosso). Podemos citar ainda o tabelamento de preços. O tabelamento de preços do mercado é instituído pelo governo com o objetivo de coibir preços abusivos aos produtos de primeira necessidade, por exemplo, os alimentos. 56 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS NORTEADORES MICROECONÔMICOS: DEMANDA, OFERTA E MERCADO EM EQUILÍBRIO LEITURA COMPLEMENTAR EQUILÍBRIO, EFICIÊNCIA E PROCESSO DE MERCADO Por André Azevedo Alves, Phd. O conceito de equilíbrio ocupa um lugar central na teoria econômica e, direta ou indiretamente, exerce uma influência substancial no enquadramento dos principais debates contemporâneos de economia política. A importância do conceito de equilíbrio deriva de este ser frequentemente associado, no contexto da análise econômica, a um padrão de eficiência na alocação de recursos a nível social. No entanto, a noção de equilíbrio não é unívoca e diferentes interpretações da mesma podem levar a entendimentos radicalmente distintos tanto das condições necessárias à eficiência como do papel dos processos de mercado na geração dessas mesmas condições. No contexto da abordagem neoclássica, as raízes da aplicação do conceito de equilíbrio ao conjunto da economia remontam a Walras, ainda que a sua expressão mais marcante em termos formais só tenha surgido bastante mais tarde, por via do trabalho de Arrow e Debreu. Na sua essência, o equilíbrio neoclássico funciona como um padrão através do qual é possível avaliar o funcionamento dos mercados realmente existentes. Nesta abordagem, a preocupação central é a de determinar em que condições uma economia de mercado poderá dar origem a um equilíbrio tido como eficiente (com a noção de eficiência a ser geralmente interpretada no âmbito do critério de Pareto). As condições que permitiriam que os mercados gerassem, de forma descentralizada, um equilíbrio eficienteconstituem assim uma preocupação central de investigação, uma vez que é da identificação das mesmas que depende em larga medida a possibilidade de emitir juízos sobre as instituições do mundo real. Em abono da abordagem neoclássica, é importante notar que o que está normalmente em causa não é a pretensão que os mercados reais se conformem a um modelo de equilíbrio geral, mas antes, a utilização desse modelo como padrão de avaliação da realidade. Não deve, portanto, constituir surpresa que, entre economistas neoclássicos, a discussão sobre o grau e forma de uma intervenção desejável do Estado assente em grande medida na análise das condições necessárias para que o sistema de mercado possa gerar um equilíbrio eficiente se encontram verificadas ou não num dado contexto. Para os neoclássicos que entendem que o funcionamento real de uma economia de mercado se aproxima substancialmente das condições estruturais tidas como desejáveis, o grau recomendado de intervenção do Estado (pelo menos por razões de eficiência) tenderá a ser reduzido. Já para os neoclássicos que consideram que essas condições estão muito longe de ser verificadas nos mercados reais, essa intervenção tenderá a ser proporcionalmente mais elevada. Uma abordagem alternativa ao conceito neoclássico de equilíbrio pode, no entanto, ser construída a partir dos contributos da Escola Austríaca. [1] Para autores como Hayek ou Kirzner, o problema essencial que se coloca nas economias e nos mercados realmente existentes não é o de saber até que ponto as suas condições se aproximam de um modelo de equilíbrio geral, mas sim o de compreender os TÓPICO 3 | EQUILÍBRIO DE MERCADO 57 mecanismos institucionais que possibilitam a própria coordenação econômica e a inovação. Em primeiro lugar, porque a própria informação – mais ou menos imperfeita – que subjaz aos modelos de equilíbrio não pode ser concebida fora do âmbito de atuação do próprio processo de mercado. O caráter necessariamente descentralizado, imperfeito e subjetivo da informação necessária à coordenação econômica torna inadequado pressupor a sua existência num modelo do qual estão ausentes os mecanismos institucionais sem os quais esse conhecimento não pode chegar sequer a ser articulado. Em segundo lugar, porque o funcionamento de qualquer economia real tem lugar em condições de permanente incerteza e constante alteração das preferências dos múltiplos agentes econômicos. Neste sentido, as funções mais importantes, que o processo de mercado assegura, estão relacionadas com a coordenação econômica de múltiplos processos descentralizados de inovação e ajustamento e não com a proximidade ou tendência para qualquer padrão de equilíbrio eficiente. Embora seja possível apreender alguns aspectos relevantes sobre o funcionamento das economias partindo do conceito neoclássico de equilíbrio, uma compreensão robusta das funções coordenadoras do processo de mercado exige um quadro teórico mais abrangente. Mais do que analisar padrões de equilíbrio eficiente com base em condições conhecidas, importa compreender o papel do processo de mercado na gestão do conhecimento, na inovação e na coordenação dinâmica das economias em contexto de incerteza e em condições em larga medida desconhecidas. Notas [1] ALVES, André Azevedo. A Análise Dinâmica dos Processos de Mercado: a Escola Austríaca face ao Paradigma Neoclássico. In: Revista Portuguesa de Filosofia 65, 2009, pp. 303-319. FONTE: Disponível em: <http://ordemlivre.org/posts/equilibrio-eficiencia-e-processo-de-mercado>. Acesso em: 10 jan. 2018. 58 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você viu que: • Quando a oferta e a demanda não se encontram em equilíbrio no mercado, teremos duas situações: excesso ou a escassez de produtos no mercado. • Um mercado em desequilíbrio é aquele que apresenta quantidades demandadas e ofertadas divergentes. • Na prática, as curvas de oferta e demanda sempre se deslocam, devido à economia ser dinâmica. 59 1 O que é preço de equilíbrio? 2 Como a oferta e a demanda afetam o equilíbrio de mercado? 3 Cite os fatores que afetam o equilíbrio de mercado. AUTOATIVIDADE 60 61 UNIDADE 2 ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dos estudos desta unidade você será capaz de: • compreender diversos conceitos relativos à elasticidade; • analisar a demanda a partir da elasticidade-preço, elasticidade-renda e da elasticidade-preço cruzada; • examinar a oferta a parir da elasticidade-preço da oferta; • classificar tanto a demanda quanto a oferta a partir dos graus de elasticidade; • conhecer os conceitos de utilidade total e marginal e o comportamento do consumidor; • discutir a teoria do consumidor a partir das cestas de mercadorias, as cur- vas e os mapas de indiferença; • demonstrar os deslocamentos da linha de restrição orçamentária a partir do movimento de preços. Esta unidade está organizada em três tópicos. Ao final de cada um deles, você encontrará atividades que lhe darão uma maior compreensão dos temas abordados. TÓPICO 1 – ELASTICIDADES TÓPICO 2 – TEORIA DO CONSUMIDOR: O CONCEITO DE UTILIDADE TÓPICO 3 – A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 62 63 TÓPICO 1 ELASTICIDADES UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Olá, estudante! É um prazer tê-lo como leitor da Unidade 2 do livro de Microeconomia. Agora que já compreendemos todos os conceitos fundamentais de microeconomia na Unidade 1, iniciaremos alguns estudos mais aprofundados relativos aos conceitos de elasticidade e o comportamento do consumidor. Os tópicos desta unidade foram organizados da seguinte forma: no Tópico 1 estudaremos todos os conceitos relativos à elasticidade. A ênfase será a respeito da elasticidade-preço da demanda, da elasticidade-renda da demanda, da elasticidade-preço cruzada da demanda, e da elasticidade-preço da oferta e todas as classificações das elasticidades. No Tópico 2 procuraremos conhecer o conceito de utilidade. Aí estudaremos a utilidade total e a utilidade marginal, a curva de demanda individual e o equilíbrio do consumidor, e o excedente do consumidor. No Tópico 3 enfocaremos na teoria da escolha do consumidor. Nesta seção os estudos serão sobre as cestas de mercadorias, as curvas e mapas de indiferença, a taxa marginal de substituição, a linha e os deslocamentos de restrição orçamentária, e o equilíbrio do consumidor. Aproveitem muito bem esta unidade. Bons estudos! 2 ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA Ao longo de nossos estudos em Microeconomia pudemos compreender que uma variação no preço de um bem será, normalmente, acompanhada por uma variação na quantidade demandada deste bem, portanto, quando o preço de um produto tem uma variação positiva, aumentando de preço, a quantidade demandada deste produto tende a diminuir, quando todos os demais fatores permanecerem constantes (coeteris paribus). Esta é a chamada Lei da Demanda. Mas, quando o preço de um determinado produto diminui, coeteris paribus, a quantidade demandada deste bem tende a aumentar. Ou seja, a quantidade demandada de um produto é “sensível” ou “responde” às mudanças de preço. No entanto, em alguns casos, esta sensibilidade é maior, fazendo com que a quantidade demandada tenha uma forte variação. UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 64 No caso de outros produtos, a sensibilidade é menor, resultando num impacto menor na variação da quantidade demandada. Há ainda produtos nos quais o impacto da variação de preços na demanda é nulo. Existem bens cuja demanda é mais sensível às alterações do preço do produto; outros bens cuja quantidade demandada é menos sensível às variações no preço; e bens que não têm sua demanda impactada devido ao preço, ou não possuem sensibilidade à variação do preço. ATENCAO Em economia, compreendemos “sensibilidade” por meio do conceito de elasticidade. Os produtos que possuem maior elasticidade-preço são aqueles cuja demanda reage bastante quando os preços se alteram.Assim é o caso de um produto como o tomate. Quando os preços se alteram, a demanda rapidamente se altera: quando o preço do tomate está muito caro, as pessoas compram menos tomate, mas, quando há uma promoção, a demanda aumenta rapidamente (PASSOS; NOGAMI, 2008). Já os produtos menos elásticos são aqueles em que sua demanda reage pouco quando os preços se alteram. Os exemplos estariam nos temperos para alimentos que encontramos no supermercado. Quando seus preços aumentam ou diminuem, a alteração na demanda por estes produtos pouco se altera. NOTA A elasticidade-preço da demanda é uma medida de quanto a quantidade demandada de um bem reage a uma mudança no preço do bem em questão, calculada como a variação percentual da quantidade demandada dividida pela variação percentual do preço (MANKIW, 2013, p. 88). Para entendermos adequadamente estes conceitos, veremos duas situações de exemplo. Situação 1 No primeiro exemplo consideraremos o produto sal de cozinha. Supomos que uma dona de casa compre 1 kg de sal por mês, ao preço de R$ 1,50 o quilo. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 65 Agora, suponhamos que o sal tenha um aumento de 100% de um mês para o outro, passando a custar R$ 3,00 o quilo. Qual será a variação da quantidade demandada de sal por mês em função do aumento de preço do produto? Será que o consumidor irá reduzir o consumo de sal devido à variação de preço? Provavelmente não veremos uma variação brusca no consumo do sal. Talvez, poder-se-ia arriscar dizer que não haverá variação alguma na quantidade consumida. No caso do sal, algumas características de consumo podem explicar este comportamento. O sal de cozinha é um bem essencial, pois é utilizado diariamente no preparo de alimentos, por isso, não deixamos de comprar sal devido ao seu preço. O valor desembolsado para a compra mensal do sal é muito pequeno, representando uma pequena parcela do orçamento doméstico. Desta forma, o aumento em seu preço quase não é percebido pelo consumidor. Assim, no caso do sal de cozinha, dizemos que se trata de um produto com demanda insensível à variação no preço, pois sua quantidade demandada não responde ao aumento do seu preço. Este exemplo proporcionou dois preços e duas quantidades, num primeiro e segundo momento, antes e depois do aumento do preço: P1 = R$ 1,50; Q1 = 1kg e P2 = R$ 3,00; Q2 = 1kg. Assim, podemos graficar a curva de demanda do consumidor por sal de cozinha, conforme a figura a seguir: FIGURA 1 - CURVA DE DEMANDA INDIVIDUAL DO SAL DE COZINHA FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008) Preço (R$/Kg) Quantidade (Kg/mês) 4,00 3,00 2,00 1 2 1,00 D UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 66 Uma questão importante que pode ser percebida a partir do gráfico e destas informações é sobre a Despesa Total (DT) com o consumo do sal de cozinha por este/a consumidor/a: o aumento da Despesa Total também foi de 100%, assim como o aumento no preço. Observe: Despesa total = Preço do produto x Quantidade comprada Ou DT = P x Q Assim, a Despesa total antes do aumento de preço é dada por: DT = R$ 1,50 x 1 kg DT = R$ 1,50 Já a Despesa total após o aumento de preço é dada por: DT = R$ 3,00 x 1 kg DT = R$ 3,00 A Despesa total passa de R$ 1,50 para R$ 3,00, pois a quantidade demandada deste produto não se alterou em função do aumento do preço. Logo, se o preço aumenta, mas a quantidade consumida permanece a mesma, a Despesa total aumenta. Além disso, é importante lembrar que a Despesa Total reflete na Receita Total (o lado do produtor). O gasto total dos consumidores com um determinado produto é igual ao ganho total que as empresas irão obter de receita com a venda de seus produtos (CARVALHO, 2015). Desta forma, o gráfico do consumo individual de sal de cozinha pode ser elaborado também para a demanda de mercado por sal. Se, por exemplo, a demanda de mercado de sal de cozinha seja composta por 1.000 pessoas com padrão de consumo semelhante para este produto, teremos a seguinte representação gráfica. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 67 FIGURA 2 - CURVA DE DEMANDA DE MERCADO DO SAL DE COZINHA FONTE: Adaptado de: Passos e Nogami (2008) Nesta situação, a demanda de mercado por sal será de 1.000 kg, que se refere ao consumo de 1 kg de sal por mês por pessoa multiplicado pelas 1.000 pessoas que formam o mercado deste produto. Podemos observar que a demanda de mercado é totalmente insensível à elevação de preço do produto. São 1.000 kg consumidos quando o preço é de R$ 1,50 e os mesmos 1.000 kg quando o preço aumenta para R$ 3,00. Vejamos o impacto na receita dos produtores com tal comportamento dos consumidores: Receita total = Preço do produto x Quantidade comprada Ou RT = P x Q A Receita total antes do aumento de preço é dada por: RT = R$ 1,50 x 1.000 kg RT = R$ 1.500,00 E a Receita total após o aumento de preço é dada por: RT = R$ 3,00 x 1.000 kg RT = R$ 3.000,00 Preço (R$/Kg) Quantidade (Kg/mês) 4,00 3,00 2,00 1.000 2.000 1,00 DM UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 68 Os ganhos para os produtores de sal de cozinha, vistos a partir da Receita total, tiveram aumento de 100% – passaram de R$ 1.500,00 para R$ 3.000,00. Isto ocorreu, pois os consumidores de sal, que formam a demanda de mercado deste produto, mostraram-se insensíveis ao aumento de preço do sal. Na Situação 1, relativa ao sal de cozinha, nos defrontamos com um caso em que a demanda é insensível ao aumento de preço do produto, ou seja, houve uma variação no preço, mas a quantidade demandada permaneceu a mesma. Dizemos que se trata de um produto inelástico em relação ao preço. ATENCAO Situação 2 Agora, vejamos um caso em que, devido ao comportamento do consumidor, a demanda é elástica em relação às variações no preço. Suponha que você é o diretor financeiro de uma empresa de transporte urbano, cuja tarifa custa R$ 1,00 por pessoa por passagem. A partir dos relatórios anteriores desta empresa, sabe-se que, com esta tarifa, o número de passagens vendidas é de 30.000 por mês. Como a pressão dos acionistas desta empresa é forte no sentido de aumentar as receitas, a empresa estuda aumentar a tarifa para R$ 1,10 por pessoa por passagem. O aumento da tarifa será vantajoso economicamente para a empresa? Depende do grau de elasticidade-preço que a demanda por este serviço possui. Cabe analisarmos a viabilidade econômica deste aumento de tarifa. Com o novo valor, de R$ 1,10, estima-se que a demanda por passagens cairá para 26.000 unidades. Ao invés do empresário desta empresa vender 30.000 passagens ao valor de R$ 1,00, venderá 26.000 passagens ao valor de R$ 1,10. Será um bom negócio para a empresa? Imaginemos que a decisão em aumentar a tarifa tenha sido realizada e vejamos o cálculo da Receita total. A Receita total antes do aumento da tarifa é dada por: RT = R$ 1,00 x 30.000 passagens RT = R$ 30.000,00 E a Receita total após o aumento da tarifa é dada por: TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 69 RT = R$ 1,10 x 26.000 passagens RT = R$ 28.600,00 Os resultados mostram que houve uma diminuição de R$ 1.400,00 na Receita total da empresa, pois os consumidores mostraram-se mais sensíveis à variação do preço do serviço em questão. Com o aumento de preço na tarifa, alguns consumidores decidiram não utilizar o transporte urbano, optando por outro tipo de serviço de transporte ou carona para satisfazer suas necessidades de locomoção. Logo, o número de passagens vendidas reduziu em 4.000 unidades – de 30.000 para 26.000 unidades –, mostrando que a quantidade demandada sofreu uma alteração devido ao preço da tarifa. Na Situação 2, relativa ao transporte urbano, nos defrontamos com um caso em que a demanda é mais sensível ao aumento de preço, ou seja, houve uma variação no preço que resultou numa variação na quantidade demandada. Dizemos que se trata de um produto (serviço, neste caso) elástico em relação ao preço. ATENCAO Percebemos por meio destas situações que a demanda de diferentes produtos eserviços pode apresentar graus de elasticidade diferenciados em relação ao preço: alguns elásticos, outros inelásticos. Nesta unidade iremos explorar este conceito e verificar sua importância para a análise microeconômica e macroeconômica. 2.1 ELASTICIDADE NO PONTO A demanda por produtos é passível de constantes movimentos derivados das variações nos preços dos produtos. As situações estudadas no item anterior mostram que precisamos definir melhor como acontecem estes movimentos. Portanto, precisamos de um método para medir as variações nos preços dos produtos e o reflexo ocasionado da demanda dos consumidores. É justamente este método que está contido no conceito de elasticidade (CARVALHO, 2015; PASSOS; NOGAMI, 2008). Para definir qual o grau de elasticidade-preço que um produto possui em um determinado momento, utilizamos o coeficiente de elasticidade-preço da demanda, que se trata da variação percentual na quantidade demandada dividida pela variação percentual no preço. Esta relação é dada por: UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 70 Ed = Variação percentual na Quantidade demandada Variação percentual do Preço Em que: Ed = coeficiente de elasticidade. Outra forma de enunciar o coeficiente de elasticidade é a seguinte: % % ∆ ∆ = = ∆∆ Qd Qd QdEd PP P Em que: ∆Qd = Variação na quantidade demandada Qd = Quantidade demandada de onde se parte ∆P = Variação no preço P = Preço de onde se parte Com esta fórmula, conseguimos obter o coeficiente de elasticidade no ponto, ou seja, o valor da elasticidade no ponto do qual se partiu. Se o preço de determinado produto aumenta de x para y, consideramos que x é valor de que partimos (ou o preço inicial). A tabela a seguir possui um exemplo de valores para preço e para demanda, a fim de melhor compreendermos a medição numérica da elasticidade no ponto. Preço (R$/unidade) Quantidade do bem X (unidades/mês) Ponto P1 10,00 Qd1 6 A P2 9,00 Qd2 7 B FONTE: Os autores TABELA 1 - ESCALA DE DEMANDA E PREÇO DO BEM X Já a figura a seguir apresenta a representação gráfica da escala de demanda e preço apresentada na Tabela 1. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 71 FIGURA 3 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA ESCALA DE DEMANDA E PREÇO FONTE: Adaptado de: Passos e Nogami (2008) Desta forma, se quisermos medir o coeficiente de elasticidade no ponto em que o preço se reduz de R$ 10,00 para R$ 8,00; do ponto A para o ponto B, teremos o seguinte resultado: 2 1 1 2 1 1 7 6 1 106 6 1 6666 9 10 1 6 10 10 , −∆ − = = = = = =− … ∆ − − − −AB Qd QdQd QdQdEd P P P P P Note que o coeficiente de elasticidade foi calculado para a variação que ocorreu do ponto A para o ponto B, onde se verificou a diminuição do preço de mercado (o ponto de partida foi A). Uma vez que a elasticidade possui diferentes resultados para cada ponto da curva de demanda, caso tivéssemos feito o cálculo da elasticidade do ponto B para o ponto A – revelando o aumento nos preços – o resultado do coeficiente seria diferente (EdBA = -1,2857...). Por isso, mais à frente, veremos o cálculo da elasticidade no ponto médio. NOTA O valor do coeficiente de elasticidade possui sinal negativo, pois, segundo a lei da demanda, a quantidade demandada varia inversamente ao preço. Logo, o sinal negativo apenas indica a inclinação da curva de demanda. Assim, convencionou-se abandonar o sinal para a apresentação do resultado do coeficiente de elasticidade. Preço (R$/unidade) A B D Quantidade (unidades/mês) 10,00 9,00 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 1 2 3 4 5 6 7 8 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 72 2.2 CLASSIFICAÇÃO DA ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA Para avaliarmos o grau de elasticidade de diferentes produtos, dependendo do valor do coeficiente de elasticidade, a demanda é classificada em três categorias (CARVALHO, 2015; PASSOS; NOGAMI, 2008): 1) Demanda Elástica (Ed > 1) Assim, 1 ∆ = > ∆ Qd QdEd P P Quando Ed > 1 (leia-se: coeficiente de elasticidade maior do que 1), uma mudança no preço provocará uma mudança na quantidade demandada maior do que a mudança observada no preço. Por exemplo: se uma redução de 10% no preço provocar uma elevação de 40% na quantidade demandada, o coeficiente de elasticidade-preço será: = Variação percentualnaQuantidade demandadaEd Variação percentualdo Preço 40 4 10 % % = =Ed Ed Logo, sua demanda é elástica, pois Ed > do que 1. Isto significa dizer que a demanda do produto é muito sensível à variação do preço. A variação de 10% em seu preço resultou na elevação de 40% de sua demanda. Seu percentual de variação na quantidade foi quatro vezes maior do que seu percentual de variação no preço. Sempre que Ed > 1, a demanda é classificada como elástica. ATENCAO TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 73 2) Demanda Inelástica (Ed < 1) Assim, 1 ∆ = < ∆ Qd QdEd P P Quando Ed < 1 (leia-se: coeficiente de elasticidade menor do que 1), uma mudança no preço provocará uma mudança na quantidade demandada menor do que a mudança observada no preço. Por exemplo: se uma redução de 10% no preço provocar uma elevação de 5% na quantidade demandada, o coeficiente de elasticidade-preço será: = Variação percentualnaQuantidade demandadaEd Variação percentualdo Preço 5 0 5 10 % , % = =Ed Ed Logo, sua demanda é inelástica, pois Ed < do que 1. Isto significa dizer que a demanda do produto é pouco sensível à variação do preço, provocando pouca reação nos consumidores. A variação de 10% em seu preço resultou na variação de 5% de sua demanda. Sempre que Ed < 1, a demanda é classificada como inelástica. ATENCAO 3) Demanda com Elasticidade Unitária (Ed = 1) Assim, 1 ∆ = = ∆ Qd QdEd P P UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 74 Quando Ed = 1 (leia-se: coeficiente de elasticidade igual a 1), uma mudança no preço provocará uma mudança na quantidade demandada igual à mudança observada no preço. Por exemplo: se uma redução de 10% no preço provocar uma alteração de 10% na quantidade demandada, o coeficiente de elasticidade-preço será: = Variação percentualnaQuantidade demandadaEd Variação percentualdo Preço 10 1 10 % % = =Ed Ed Logo, sua demanda é unitária, pois Ed = a 1. A variação de 10% em seu preço resultou na variação de 10% também em sua demanda. Sempre que Ed = 1, a demanda é classificada como unitária. ATENCAO QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO DA ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA Demanda Elástica Ed > 1 Demanda Inelástica Ed < 1 Demanda com Elasticidade Unitária Ed = 1 FONTE: Os autores O quadro acima resume os três tipos de elasticidade a partir da classificação do coeficiente de elasticidade-preço da demanda. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 75 2.3 A ELASTICIDADE-PREÇO NO PONTO MÉDIO (OU NO ARCO) Para que o cálculo do coeficiente de elasticidade possa ser feito tanto na direção do aumento dos preços quanto na direção da redução dos preços, os economistas desenvolveram a elasticidade média entre os dois pontos. Assim, teremos o mesmo coeficiente em ambos os pontos (CARVALHO, 2015; PASSOS; NOGAMI, 2008). Veja os dados do quadro a seguir: QUADRO 2 - ESCALA DE DEMANDA E DE PREÇO DO BEM Y Preço (R$/unidade) Quantidade do bem Y (unidades/mês) Ponto P1 10 Qd1 10 A P2 8 Qd2 30 B FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008, p. 181) A representação gráfica da escala de quantidades demandadas do bem Y e seu respectivos preços é dada conforme a figura a seguir. FIGURA 4 - ESCALA DE DEMANDA E DE PREÇO DO BEM Y FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008) Para calcularmos o coeficiente de elasticidade quando o preço se reduz de R$ 10,00 para R$ 8,00 (do ponto A para o ponto B), teremos: Preço (R$/unidade) 10 20 30 40 10,00 8,00 6,00 4,00 2,00 A B D Quantidade (unidade/mês) UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 76 ( ) 30 10 20 10 10 10 8 10 2 10 10 ∆ − = = = = ∆ − −Qd Qd desconsiderandoosinalnegativo P P ABEd Agora, para calcularmos o coeficiente de elasticidade quando o preço aumenta de R$ 8,00 para R$ 10,00 (do ponto B para o ponto A), teremos: 10 30 20 30 30 2 64 10 8 2 8 8 , ∆ − = = = = ∆ − Qd Qd P P BAEd A diferença nos valores dos coeficientes para a mesma curva de demanda resulta do fato de termos um ponto inicial diferente no momento do cálculo. Conforme nos movemos do ponto A para o ponto B ou vice-versa, diferentes serão os valores para Ed. Para contornar este problema, utilizaremos o conceito de elasticidade-arco (ponto médio), definida como a elasticidade média entre as duas quantidades. Desta forma, utilizaremos a média entre os dois preços (P1 + P2 / 2) e as duas quantidades (Qd1 + Qd2 / 2) para calcular o Ed. A elasticidade-arco da demanda é dada pela seguinte fórmula: 2 1 2 1 2 1 2 1 2 2 / , / − + = = − + VariaçãonaQuantidade Somadasquantidades que simplificada Variaçãono Preço Somados preços Qd Qd Qd Qd Ed P P P P Utilizando a fórmula da elasticidade arco da demanda (no ponto médio) para calcular a elasticidade-preço da demanda do ponto A para o ponto B e do ponto B para o ponto A, temos os seguintes resultados: 2 1 1 2 2 1 1 2 2 1 1 2 2 1 1 2 30 10 10 30 30 10 10 304 5 4 5 8 10 10 8 8 10 10 8 , , − −− − + ++ += = = = = = − − − − + ++ + Qd Qd Qd Qd Qd Qd Qd Qd P P P P P P P P AB BAEd Ed Ou seja, obtemos os mesmos resultados para o coeficiente de elasticidade tanto para o movimento de A para B quanto de B para A. Encontramos, assim, o coeficiente da elasticidade-preço da demanda em um ponto intermediário entre A e B. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 77 2.4 ELASTICIDADE PREÇO DA DEMANDA E A RECEITA TOTAL A relação entre receita total e elasticidade ou inelasticidade da demanda também pode ser representada por meio de curvas de demanda. As mudanças de preço, receita total e elasticidade são um dos aspectos mais importantes para a previsão de vendas de uma empresa, pois permitem compreender o comportamento do consumidor com relação a cada tipo de produto, bem como o reflexo nas receitas da empresa devido à reação dos seus consumidores e dos consumidores de seus concorrentes. As figuras a seguir mostram as curvas para produtos com demandas elásticas e inelásticas. Além disso, revelam a receita total com a venda dos produtos antes e depois dos ajustes nos preços. Observe: FIGURA 5 - DEMANDA ELÁSTICA E RECEITA TOTAL FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008) UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 78 1) Demanda elástica e receita total Primeiramente, analisaremos a figura que contém o gráfico com a demanda elástica e a receita total. A curva de demanda de mercado deste produto é expressa em D1. O ponto A do gráfico mostra que ao preço de R$ 6,00 por unidade, a quantidade demandada é de 25 unidades por mês. Neste caso, a Receita total das empresas que produzem e vendem este produto é de R$150,00, obtida a partir da fórmula: RTA = P x Q RTA = R$ 6,00 x 25 = R$ 150,00 Em termos gráficos, a Receita total do ponto A corresponde à área do retângulo OFAG: Área do retângulo OFAG = 25 x R$ 6,00 = R$ 150,00 O ponto B do gráfico representa uma diminuição do preço de venda do produto: de R$ 6,00 para R$ 4,00. Logo, com a diminuição do preço, a quantidade demandada aumenta de 25 unidades para 65 unidades. No ponto B, com os preços mais elevados do que no ponto A, a Receita total aumenta de R$ 150,00 para R$ 260,00, pois: RTB = P x Q RTB = R$ 4,00 x 65 = R$ 260,00 FIGURA 6 - DEMANDA INELÁSTICA E RECEITA TOTAL FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008) TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 79 Em termos gráficos, a Receita Total do ponto B corresponde à área do retângulo OHBL (que é maior que a área do retângulo OFAG). Ou seja, com a queda nos preços, os consumidores mostraram-se sensíveis e reagiram aumentando as quantidades demandadas por este produto. Assim como no exemplo do transporte urbano no início da unidade, a análise da Receita total é muito relevante para compreender o comportamento do consumidor. Esta sensibilidade do consumidor em aumentar a demanda demonstraria que se trata de um produto com demanda elástica. Para tanto, podemos utilizar a fórmula do ponto médio para calcular o coeficiente de elasticidade e verificar qual a classificação da elasticidade deste produto. 2 1 2 1 2 1 2 1 65 25 40 4465 25 90 2 2 4 00 6 00 2 00 20 6 00 4 00 10 00 , , , , , , , − − + += = = = = − − ++ Qd Qd Qd Qd P P P P AB %Ed % Com a fórmula do ponto médio podemos verificar que se trata de um produto com demanda elástica, pois o resultado 2,2 é maior do que 1 (Ed > 1). A variação percentual observada nas quantidades demandadas é maior do que a variação percentual observada no preço – revelando uma relativa sensibilidade do consumidor em adquirir maior quantidade de produto devido à redução nos preços. Uma constatação importante é que a redução dos preços provocou um aumento da Receita total. QUADRO 3 - DEMANDA ELÁSTICA E RECEITA TOTAL Diminuição no preço Receita Total aumenta Aumento no preço Receita Total diminui FONTE: Os autores O quadro mostra que, de fato, há uma regra relativa à Receita total e às elasticidades: de um lado, quando a demanda de um produto é elástica, a diminuição no preço resulta em um aumento da Receita total; de outro lado, quando a demanda de um produto é elástica, o aumento no preço resulta em uma diminuição da Receita total. 2) Demanda inelástica e receita total Neste segundo caso, analisaremos a figura que contém o gráfico com a Demanda Inelástica e a Receita Total. UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 80 A curva de demanda de mercado deste produto é expressa em D2. O ponto A’ do gráfico mostra que ao preço de R$ 8,00 por unidade, a quantidade demandada é de 25 unidades por mês. Neste caso, a Receita total das empresas que produzem e vendem este produto é de R$ 200,00, obtida a partir da fórmula: RTA’ = P x Q RTA’ = R$ 8,00 x 25 = R$ 200,00 Em termos gráficos, a Receita total do ponto A’ corresponde à área do retângulo OPA’Q: Área do retângulo OPA’Q = 25 x R$ 8,00 = R$ 200,00 O ponto B do gráfico representa uma diminuição do preço de venda do produto: de R$ 8,00 para R$ 6,00. Logo, com a diminuição do preço, a quantidade demandada aumenta de 25 unidades para 30 unidades. No ponto B’, com os preços mais elevados do que no ponto A’, a Receita total diminui de R$ 200,00 para R$ 180,00, pois: RTB’ = P x Q RTB’ = R$ 6,00 x 30 = R$ 180,00 Em termos gráficos, a Receita total do ponto B’ corresponde à área do retângulo ORB’S (que é menor que a área do retângulo OPA’Q). Com a queda nos preços, os consumidores mostraram-se pouco sensíveis e reagiram com um aumento nas quantidades demandadas menos do que proporcionalmente à queda nos preços. Isto é, a variação no preço foi superior à variação nas quantidades demandadas. Esta insensibilidade do consumidor, respondendo pouco à mudança nos preços, demonstraria que se trata de um produto com demanda inelástica. Para tanto, podemos utilizar novamente a fórmula do ponto médio para calcular o coeficiente de elasticidade e verificar qual a classificação da elasticidade deste produto. 2 1 2 1 2 1 2 1 30 25 5 930 25 55 0 64 6 00 8 00 2 00 14 6 00 8 00 14 00 , , , , , , , − − + += = = = = − − ++ Qd Qd Qd Qd P P P P AB %Ed % Com a fórmula do ponto médio podemos verificar que se trata de um produto com demanda inelástica, pois o resultado 0,64 é menor do que 1 (Ed < 1). A variação percentual observada nas quantidades demandadas é menor do que a variação percentual observada no preço – revelando pouca sensibilidade do consumidor em adquirir maior quantidade de produto devido à redução nos preços. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 81 QUADRO 4 - DEMANDA INELÁSTICA E RECEITA TOTAL Diminuição no preço Receita total diminui Aumento no preço Receita total aumenta FONTE: Os autoresO quadro mostra a regra entre a Receita total e os produtos com Demanda inelástica: de um lado, quando a demanda de um produto é inelástica, a diminuição no preço resulta em uma diminuição da receita total; de outro lado, quando a demanda de um produto é inelástica, o aumento no preço resulta em um aumento da receita total. 2.5 CASOS ESPECIAIS DE ELASTICIDADE O estudo das elasticidades ainda apresenta dois casos específicos de elasticidade: demanda infinitamente elástica e demanda perfeitamente inelástica. Vejamos, rapidamente, cada um deles. 1) Curva de demanda infinitamente elástica Este é o caso em que os consumidores estão dispostos a comprar qualquer quantidade do produto a um certo preço. Entretanto, estes consumidores não comprarão unidade do produto algum, caso os preços aumentem. Logo, uma pequena mudança nos preços provoca uma infinita mudança na quantidade demandada. Isto é, ou os consumidores compram tudo ou não compram nada. A figura a seguir mostra a curva de demanda infinitamente (ou perfeitamente) elástica, representada por uma linha horizontal, paralela ao eixo das quantidades. O coeficiente de elasticidade é infinito ( ). Uma constatação importante é que a redução dos preços provocou uma diminuição da Receita total. UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 82 2) Curva de demanda perfeitamente inelástica Aqui, temos outro caso extremo de elasticidade, no qual a curva de demanda possui elasticidade igual a zero (Ed=0), a chamada curva de demanda perfeitamente inelástica. Ela é representada por uma linha reta vertical paralela ao eixo dos preços – conforme a figura a seguir. Nesta situação, a quantidade demandada nunca é alterada devido às variações no preço. Se os preços estão baixos, digamos, R$ 5,00, a quantidade demandada será de 50 unidades. E com um aumento nos preços, para R$ 10,00 ou R$ 15,00, a quantidade demandada continua constante. Analise a figura a seguir e compreenda este caso. FIGURA 7 - CURVA DE DEMANDA INFINITAMENTE ELÁSTICA FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008, p. 190) TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 83 FIGURA 8 - CURVA DE DEMANDA PERFEITAMENTE INELÁSTICA FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008, p. 191) 3) Curva de demanda com elasticidade unitária Há ainda casos em que a curva de demanda não é elástica e também não é inelástica, mas unitária. Vejamos o motivo. O quadro a seguir mostra uma escala de demanda em que a elasticidade possui coeficiente sempre igual a 1. Assim, o percentual de variação do preço e o percentual de variação da quantidade consumida sempre são iguais. Se o preço aumentar em 100%, a quantidade demandada irá diminuir em 100%. Observe isto nos dados do quadro a seguir. QUADRO 5 - ESCALA DE DEMANDA COM ELASTICIDADE UNITÁRIA Preço (R$) Quantidade demandada Receita Total (R$) 60,00 10 600,00 50,00 12 600,00 40,00 15 600,00 30,00 20 600,00 20,00 30 600,00 10,00 60 600,00 FONTE: Passos e Nogami (2008, p. 191) É possível perceber também que a Receita total permanece a mesma, pois a variação nos preços é sempre igual à variação nas quantidades demandadas. UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 84 FIGURA 9 - CURVA DE DEMANDA COM ELASTICIDADE UNITÁRIA FONTE: Adaptado de Passos e Nogami (2008, p. 192) 3 ELASTICIDADE-RENDA DA DEMANDA Após compreendermos de que se trata a elasticidade dos produtos com relação às variações em seus preços, passaremos a estudar a elasticidade dos produtos com relação às variações na renda dos consumidores. A elasticidade-renda da demanda mede a sensibilidade da demanda às mudanças de renda. Um exemplo está no momento em que um determinado consumidor inicia em um novo emprego com salário mais alto. A demanda individual por produtos tende a se alterar, bem como a demanda de outros consumidores que também tiveram acréscimos em sua renda. A elasticidade-renda da demanda é definida pela variação percentual na quantidade demandada dividida pela variação percentual na renda do consumidor – na condição coeteris paribus, em que os demais fatores que influenciam a demanda permanecem constantes. ATENCAO A figura a seguir traz a representação gráfica dos dados obtidos no quadro anterior. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 85 Assim, temos: Er = Variação PercentualnaQuantidade Demandada Variação Percentualda Renda E utilizando a fórmula do ponto médio para o cálculo da elasticidade- renda, temos: 2 1 2 1 2 1 2 1 % % − +∆ = = −∆ + Q Q Q QQdEr R RR R R No caso da elasticidade-renda, o coeficiente pode ser positivo (Er > 0) ou negativo (Er < 0). Vejamos cada uma destas situações. a) Bem Normal – Er > 0 (elasticidade-renda positiva) A maior parte dos produtos disponíveis ao consumidor apresenta sinal positivo para o coeficiente de elasticidade-renda, indicando que o aumento da renda pessoal influencia positivamente o consumo por produtos. O caso dos bens normais revela uma relação direta entre a elevação na renda e o aumento da demanda. Contudo, alguns bens normais são mais sensíveis às variações na renda do que outros. Vejamos cada caso. I. Er > 0, porém < que 1 Aqui, temos: 0 1% , % ∆ = > < ∆ QdEr R porém Quando o coeficiente é maior que zero, mas menor que 1, dizemos que a elasticidade-renda é baixa, e a demanda é inelástica em relação à renda. Por exemplo, se um aumento na renda de 10% provocar um aumento na quantidade demandada em 5%, teremos: UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 86 5 0 5 10 % , % = =Er A quantidade demandada do produto sofreu pouca variação com relação ao aumento na renda, pois a variação na quantidade demandada (5%) foi menor do que a variação na renda (10%). Os exemplos de produtos que possuem baixa elasticidade-renda são relacionados aos bens considerados de necessidade básica aos indivíduos, tais como os alimentos, as roupas em geral, a educação, os vegetais frescos, e os produtos que causam vício. Assim, uma variação na renda das pessoas pouco impacta no aumento ou na diminuição das quantidades demandadas. II. Er = 1 Aqui, temos: % 1 % ∆ = = ∆ QdEr R Quando o coeficiente é igual a 1, dizemos que a elasticidade-renda é unitária. Por exemplo, se um aumento na renda de 10% provocar um aumento na quantidade demandada também em 10%, teremos: 10 1 10 % % = =Er III. Er > 1 Aqui, temos: % 1 % ∆ = > ∆ QdEr R Quando o coeficiente é maior que 1, dizemos que a elasticidade-renda é alta, e a demanda é elástica em relação à renda. Por exemplo, se um aumento na renda de 10% provocar um aumento na quantidade demandada em 20%, teremos: TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 87 20 2 10 % % = =Er A quantidade demandada do produto sofreu uma alta variação com relação ao aumento na renda, pois a variação na quantidade demandada (20%) foi maior do que a variação na renda (10%). Aqui, os exemplos de produtos com elasticidade-renda alta são relacionados a produtos tais como livros, Dvd, automóveis, os quais dependem mais do aumento da renda para terem suas demandas aumentadas. Também é o caso dos produtos de luxo, os quais possuem uma elasticidade-renda ainda mais alta, tais como joias, casacos de pele e iates. b) Bem Inferior – Er < 0 (elasticidade-renda negativa) Quando a elasticidade-renda observada for negativa, tem-se o caso dos bens inferiores. São aqueles bens que, quando ocorre uma elevação na renda, traz como reflexo uma redução nas quantidades consumidas. Nesta situação, temos: % 0 % ∆ = < ∆ QdEr R Por exemplo, se um aumento na renda de 10% provocar uma diminuição na quantidade demandada em 5%, teremos: 5 0 5 10 % , % Er −= =− + Esta é situação em que a demanda por bens reage de forma oposta ao incremento da renda. Alguns produtos que apresentam elasticidade-renda negativa são a batata e o pão. Podemos pensar que, talvez, com o aumento da renda, as pessoas optem por outros tipos de produtos. Ou, com a diminuição da renda, as pessoas passem a demandar mais estes produtos. É tambémo caso das carnes nobres e das carnes de segunda. Imagine que o consumidor Jonathan recebia como salário o valor mensal de R$ 1.200,00. Com este nível de renda, conseguia manter certo nível de vida, sempre optando por carnes de segunda (pois custam menos). Agora, quando Jonathan é promovido e passar a receber mensalmente R$ 2.500,00 como salário, a demanda pelas carnes de segunda tende a diminuir. Assim, um aumento da renda fez com que a demanda por este produto diminuísse, por isso é considerado um bem inferior. c) Er = 0 (elasticidade-renda nula) UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 88 Quando o coeficiente de elasticidade-renda é nulo, dizemos que a demanda é perfeitamente inelástica. Assim, as quantidades demandadas permanecem constantes, independentemente das variações na renda do consumidor. Aqui, temos: % 0 % ∆ = = ∆ QdEr R Por exemplo, se um aumento na renda de 10% não provocar alteração alguma na quantidade demandada do produto, teremos: 0 0 10 % % Er = = Aqui encontram-se os bens com consumo saciado, ou seja, aqueles produtos que não sofrem alteração nas quantidades demandadas devido às mudanças na renda. Alguns produtos que se aproximam deste caso são o sal de cozinha, o arroz, o açúcar, pois, se certo consumidor passe a receber o dobro de salário que recebia num período anterior, a demanda por estes produtos não sofrerá alteração, pois seu consumo possui um limite máximo. QUADRO 6 - CLASSIFICAÇÃO DA ELASTICIDADE-RENDA DA DEMANDA Bem normal Er > 0 Elasticidade-renda baixa Er entre 0 e 1 Elasticidade-renda unitária Er =1 Elástico à renda Er > 1 Bem inferior Er < 0 Elasticidade-renda nula Er = 0 FONTE: Os autores O quadro acima procura organizar a classificação da elasticidade-renda da demanda a partir do coeficiente de elasticidade-renda. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 89 4 ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA DEMANDA Conforme o que vimos até agora, a quantidade demandada de um produto pode sofrer variação devido ao preço e à renda do consumidor. Contudo, a quantidade demandada de certo produto pode variar devido ao preço dos bens relacionados a ele. Basta pensarmos: será que o preço dos pães influencia a demanda por margarina? O preço da banana pode pressionar a demanda por laranjas? Assim, quando os produtos são relacionados, encontramos produtos substitutos e complementares, pois a mudança de preço nestes produtos afeta a demanda de outros produtos (PASSOS; NOGAMI, 2008). “A elasticidade preço-cruzada da demanda mede o efeito que a mudança no preço de um produto provoca na quantidade demandada de outro produto, coeteris paribus” (PASSOS; NOGAMI, 2008, p. 202). ATENCAO Por meio deste conceito, quando temos, por exemplo, dois bens, X e Y, a elasticidade-preço cruzada da demanda será dada no ponto médio por: xy Variação percentualnaquantidade demandadado BemXE Variação percentualno preçodo BemY = 2 1 2 1 2 1 2 1 x x x x xy y y y y Qd Qd Qd Qd E P P P P − + = − + A classificação dos bens a partir da elasticidade-preço cruzada da demanda resulta do sinal do coeficiente. Desta forma, teremos bens substitutos (que podem ser trocados um pelo outro), complementares (que são comprados em conjunto) e independentes (que não possuem relação entre si) (PASSOS; NOGAMI, 2008). Vejamos com mais detalhe cada um deste casos. a) Exy > 0 Quando Exy > 0 diz-se que os bens são substitutos. UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 90 Exemplo: quando o aumento no preço do Bem Y provoca um aumento na quantidade demandada do Bem X. Se o preço do Bem Y se eleve em R$ 1,00 (passe de R$ 2,00 para R$ 3,00), e provoca um aumento na quantidade demandada do Bem X de 2 unidades (passe de 4 para 2), teríamos um coeficiente de elasticidade- preço da demanda maior do que zero: 2 1 2 1 2 1 2 1 4 2 4 2 1 66 3 2 3 2 , x x x x xy y y y y Qd Qd Qd Qd E P P P P − − + += = = − − ++ Isto representa a substituição de um produto por outro. Uma vez que ambos os produtos trariam satisfação parecida ao consumidor, com o aumento no preço de um produto, a demanda de outro produto sofre alteração. Ou seja, X e Y são bens substitutos. b) Exy < 0 Quando Exy < 0 diz-se que os bens são complementares. Exemplo: quando o aumento no preço do Bem Y provoca uma redução na quantidade demandada do Bem X. Se o preço do Bem Y se eleve em R$ 1,00 (passe de R$ 2,00 para R$ 3,00), e provoca uma redução na quantidade demandada do Bem X de 1 unidade (passe de 4 para 3), teríamos um coeficiente de elasticidade- preço da demanda menor do que zero: 2 1 2 1 2 1 2 1 3 4 3 4 0 71 3 2 3 2 , x x x x xy y y y y Qd Qd Qd Qd E P P P P − − + += = = − − − ++ Como Exy resultou em um valor menor do que zero, indica que os bens X e Y são complementares, pois o aumento de preço no Bem Y resultou numa diminuição da demanda do Bem X. Este seria o caso, em outro exemplo, do pão e da margarina. Se o preço dos pães aumentar, a quantidade demandada de pães tende a diminuir devido ao preço, mas a quantidade demandada de margarina também tende a diminuir, pois o pão e a margarina são bens complementares. c) Exy = 0 Quando Exy = 0 diz-se que os bens são independentes. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 91 Exemplo: quando o aumento no preço do Bem Y não provoca alteração alguma na quantidade demandada do Bem X. Se o preço do Bem Y (café, por exemplo) se eleve de R$ 10,00 para R$ 25,00, mas a quantidade demandada do Bem X (automóvel) permaneça constante em 1 milhão, teríamos um coeficiente de elasticidade-renda igual a zero: 2 1 2 1 2 1 2 1 0 1 000 000 0 25 10 25 10 . . x x x x xy y y y y Qd Qd Qd Qd E P P P P − + = = = − − ++ Ou seja, a alteração do preço do café não traz reflexo algum na quantidade demandada de automóveis. Por isto, como o coeficiente resulta em valor zero, dizemos que o Bem X e Y são bens independentes. Logo, suas quantidades demandadas não dependem uma do preço da outra. QUADRO 7 - CLASSIFICAÇÃO DA ELASTICIDADE-PREÇO CRUZADA DA DEMANDA Bens substitutos Exy > 0 Bens complementares Exy < 0 Bens independentes Exy = 0 FONTE: Os autores O quadro acima resume os três tipos de elasticidades a partir da classificação do coeficiente de elasticidade-preço cruzada da demanda. 5 ELASTICIDADE DA OFERTA A compreensão do conceito de elasticidade é muito importante para o entendimento dos mercados, uma vez que revela os fatores que influenciam os movimentos de oferta e demanda por produtos. Já estudamos muito sobre a elasticidade da demanda, faltando-nos entender um pouco sobre a elasticidade da oferta. “A elasticidade da oferta é a medida da sensibilidade da quantidade ofertada em resposta a mudanças de preço” (PASSOS; NOGAMI, 2008, p. 204). ATENCAO UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 92 Assim, podemos perceber que a oferta dos produtos também é igual para todos os tipos de produtos e preços. Em alguns casos, a oferta reage rapidamente à variação dos preços dos produtos, ou seja, quando o preço aumenta, a oferta aumenta também. Mas, em outros casos, o aumento do preço não representa um aumento da oferta de produtos. O cálculo da elasticidade da oferta é basicamente o mesmo da elasticidade da demanda, alterando-se apenas de quantidade demandada para quantidade ofertada. Isto é, variação percentual da quantidade ofertada dividida pela variação percentual no preço: % % ∆ = ∆O QoE P Veja a fórmula para a elasticidade-preço da oferta no ponto médio: 2 1 2 1 2 1 2 1 O Qo Qo Qo Qo E P P P P − + = − + Desta forma, teremos três formas de classificar a oferta com base em sua elasticidade-preço. a) Eo > 1, Oferta Elástica Quando a variação percentual na quantidade oferta for maior e na mesma direção que a variação percentual no preço, teremos um coeficiente de elasticidade-preço da oferta maior que do zero, sendo denominado elástico. % 1 % ∆ = > ∆O QoE PAssim, se o preço de um produto, por exemplo, aumentar em 10% e as quantidades ofertadas aumentarem em 20%, teremos coeficiente de elasticidade- preço da oferta igual a 2, resultando em uma oferta elástica. b) Eo < 1, Oferta Inelástica Quando a variação percentual na quantidade oferta for menor e na mesma direção que a variação percentual no preço, teremos um coeficiente de elasticidade-preço da oferta menor do que zero, sendo denominado inelástico. TÓPICO 1 | ELASTICIDADES 93 % 1 % ∆ = < ∆O QoE P Assim, se o preço de um produto, por exemplo, aumentar em 10%, mas as quantidades ofertadas aumentarem apenas 5%, teremos coeficiente de elasticidade-preço da oferta igual a 0,5, resultando em uma oferta inelástica. c) Eo = 1, Oferta Unitária Quando a variação percentual na quantidade oferta for igual e na mesma direção que a variação percentual no preço, teremos um coeficiente de elasticidade-preço da oferta igual a zero, sendo denominado unitário. % 1 % ∆ = = ∆O QoE P Assim, se o preço de um produto, por exemplo, aumentar em 10% e as quantidades ofertadas também aumentarem em 10%, teremos coeficiente de elasticidade-preço da oferta igual a 1, resultando em uma oferta unitária. QUADRO 8 - CLASSIFICAÇÃO DA ELASTICIDADE-PREÇO DA OFERTA Oferta Elástica Eo > 1 Oferta Inelástica Eo < 1 Oferta Unitária Eo = 0 FONTE: Os autores O quadro acima resume os três tipos de elasticidade a partir da classificação do coeficiente de elasticidade-preço da oferta. 94 RESUMO DO TÓPICO 1 Caro acadêmico, neste tópico você viu que: • O conceito de elasticidade mostra que diferentes produtos terão diferentes sensibilidades na variação de sua quantidade demandada em função das mudanças de preços. • O grau de elasticidade-preço da demanda é medido pelo coeficiente de elasticidade-preço. • Quando o coeficiente de elasticidade-preço resultar em um valor maior do que 1 (Ed > 1) a demanda será classificada como elástica. • Quando o coeficiente de elasticidade-preço resultar em um valor menor do que 1 (Ed < 1) a demanda será classificada como inelástica. • Quando o coeficiente de elasticidade-preço resultar em um valor igual a 1 (Ed = 1) a demanda será classificada como unitária. • A elasticidade-preço da demanda é mais comumente calculada pelo ponto médio, a partir da fórmula (sendo que o resultado sempre desconsidera o sinal negativo): 2 1 2 1 2 1 2 1 Qd Qd Qd Qd Ed P P P P − + = − + • Quando a demanda de um produto é classificada como elástica, uma diminuição em seu preço resultará em um aumento da Receita Total. • Quando a demanda de um produto é classificada como elástica, um aumento em seu preço resultará em uma diminuição da Receita Total. • Quando a demanda de um produto é classificada como inelástica, uma diminuição em seu preço resultará em uma diminuição da Receita Total. • Quando a demanda de um produto é classificada como inelástica, um aumento em seu preço resultará em um aumento da Receita Total. • elasticidade-renda classifica os produtos em Bens Normais (Er > 0) e Bens Inferiores (Er < 0). Os Bens Normais podem possuir elasticidade baixa (Er > 0, porém < que 1), unitária (Er = 1), e alta (Er > 1). 95 • A elasticidade-preço cruzada da demanda classifica os produtos em Bens Substitutos (Exy > 0), Bens Complementares (Exy < 0), e Bens Independentes (Exy = 0). • A elasticidade-preço da oferta resulta na classificação de produtos com Oferta Elástica (quando Eo > 1), Inelástica (quando Eo < 1), e Unitária (quando Eo = 1). 96 AUTOATIVIDADE 1 No quadro a seguir encontram-se informações sobre a escala de demanda do Bem X em dois períodos diferentes (1 e 2). Com base nestes dados responda às questões: Preço (R$/unidade) Quantidade do Bem X (unidades/mês) P1 550,00 Qd1 3.300 P2 420,00 Qd2 4.380 a) Encontre o coeficiente de elasticidade-preço no ponto médio. b) A demanda do Bem X é elástica ou inelástica? c) Encontre a Receita Total para ambos os períodos. d) O que ocorre com a Receita Total quando os preços do Bem X diminuem? Existe vantagem para o produtor na redução de preços para este tipo de produto? e) Construa o gráfico da escala de demanda e marque as áreas da Receita Total para ambos os períodos. 2 No quadro a seguir encontram-se informações sobre a escala de demanda do Bem A em dois períodos diferentes (1 e 2). Com base nestes dados responda às questões: Preço (R$/unidade) Quantidade do Bem A (unidades/mês) P1 240,00 Qd1 900 P2 160,00 Qd2 1.040 a) Encontre o coeficiente de elasticidade-preço no ponto médio. b) A demanda do Bem X é elástica ou inelástica? c) Encontre a Receita Total para ambos os períodos. d) O que ocorre com a Receita Total quando os preços do Bem X diminuem? Existe vantagem para o produtor na redução de preços para este tipo de produto? e) Construa o gráfico da escala de demanda e marque as áreas da Receita Total para ambos os períodos. 97 3 Imagine uma situação em que a demanda por produtos sofre uma alteração devido à mudança na renda de um consumidor. Assim, a demanda por produtos levando em conta a renda anterior (R1) é determinada pela quantidade consumida no período anterior (Qd1), já com a renda atual (R2) a demanda sofre uma alteração (Qd2). Analise os dados do quadro a seguir e responda às questões: Renda (R$/mês) Quantidade do Bem Z (unidades/mês) R1 240,00 Qd1 900 R2 160,00 Qd2 1.040 a) Qual é o coeficiente de elasticidade-renda no ponto médio? b) De que forma podemos classificar e explicar o comportamento da demanda deste produto em função da variação na renda do consumidor? 4 Analise os dados a seguir relativos a uma situação em que as quantidades demandadas sofrem uma alteração devido à mudança na renda de um consumidor. Renda (R$/mês) Quantidade do Bem G (unidades/mês) R1 250,00 Qd1 1.200 R2 320,00 Qd2 3.000 Responda às seguintes questões: a) Qual é o coeficiente de elasticidade-renda no ponto médio? b) De que forma podemos classificar e explicar o comportamento da demanda deste produto em função da variação na renda do consumidor? 5 Analise os dados a seguir sobre a variação na renda e na quantidade demandada, e responda às questões. Renda (R$/mês) Quantidade do Bem W (unidades/mês) R1 1.530,00 Qd1 35 R2 1.230,00 Qd2 30 a) Qual é o coeficiente de elasticidade-renda no ponto médio? b) De que forma podemos classificar e explicar o comportamento da demanda deste produto em função da variação na renda do consumidor? 98 6 Imagine dois produtos diferentes, cuja variação de preços de um produto (margarina) influencia a demanda do outro produto (pão). Se o preço da margarina passar de R$5,00 para R$8,00, a quantidade demandada de pão se altera de 40 para 25 unidades. Com base nestes dados, responda: a) Qual é o coeficiente de elasticidade-preço cruzada da demanda no ponto médio? b) Como podemos classificar a elasticidade-preço cruzada destes produtos? 7 Imagine dois produtos diferentes, cuja variação de preços de um produto (sorvete) influencia a demanda do outro produto (picolé). Se o preço do sorvete passar de R$8,50 para R$10,50, a quantidade demandada de picolé se altera de 15 para 28 unidades. Com base nestes dados, responda: a) Qual é o coeficiente de elasticidade-preço cruzada da demanda no ponto médio? b) Como podemos classificar a elasticidade-preço cruzada destes produtos? 99 TÓPICO 2 TEORIA DO CONSUMIDOR: O CONCEITO DE UTILIDADE UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Olá, caro acadêmico! Espero que esteja aproveitando muito bem os estudos até neste momento do livro. O próximo tópico desta unidade concentrar- se-á no conceito de utilidade. A noção de utilidade procura explorar os desejos que formam a demanda pelos produtos e serviços disponíveis ao consumidor. Assim, compreenderemos que a satisfação no consumo dos produtos é cada vez menor conforme consumimos mais e mais produtos. Esta é um pouco da ideia sobre a utilidade total e a utilidade marginal. Mas não é apenas isto que veremos neste tópico. Por meio destes conceitos, entenderemosa formação da curva de demanda individual do consumidor, bem como o seu equilíbrio, que ocorre quando o preço efetivo de um produto é igual ao preço marginal de reserva. Por fim, iremos entender quando acontece o excedente do consumidor, revelando produtos cujos preços estão acima da pretensão do consumidor. De forma mais ampla, todos estes conceitos e noções estão alinhados com a demanda e desejos do consumidor, os quais formam a demanda na economia e que estão relacionados com todo o entendimento da microeconomia. Vamos trabalhar mais um pouco? Bons estudos! 2 UTILIDADE TOTAL E UTILIDADE MARGINAL A demanda pelos diferentes bens e serviços à disposição dos consumidores está relacionada à satisfação que provocam nas pessoas. É claro: este é o motivo pelo qual consumimos mercadorias. Todo produto provoca algum tipo de prazer ou satisfação no momento em que é consumido – embora, às vezes, o consumo seja menos significante que noutras vezes. Assim, o prazer em consumir é fundamental para que certo produto ou serviço seja consumido. Isto explica porque não há demanda para baratas e rãs na maioria dos restaurantes brasileiros, pois não trazem satisfação aos consumidores. UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 100 FIGURA 10 - UTILIDADE DE UM JANTAR EM FAMÍLIA FONTE: Disponível em: <https://pt.pngtree.com/freepng/a-dining-table-in-front- of_811322.html>. Acesso em: 17 abr. 2018. Observe a imagem acima, por esta perspectiva, podemos questionar: por que saímos de casa numa sexta-feira à noite para jantar em um restaurante? E por que escolhemos pizza, por exemplo? Isto se deve ao prazer que envolve consumir este tipo de bem e serviço. Outras pessoas talvez vão preferir jantar em sua própria casa, junto à família, ou, então, em uma barraquinha de cachorro-quente. Mas será que esta satisfação em jantar fora é sempre a mesma? Se a opção para a sexta-feira sempre for pizza, na primeira noite será muito prazeroso, na segunda noite também, mas, na terceira, talvez não seja superprazeroso repetir o programa. O mesmo acontece com o jantar em casa, pois ao longo do tempo, a satisfação em realizar a mesma atividade ou comer a mesma refeição tende a ser menor. Nossas escolhas estão relacionadas ao grau de satisfação proporcionado pelos produtos e serviços à disposição para consumo. ATENCAO A economia procura mensurar o prazer ou a satisfação percebida pelos consumidores a partir dos produtos e serviços: a chamada “utilidade”. Assim, devemos compreender que a utilidade é diferente para diferentes produtos e em determinado período de tempo, ou seja, a utilidade dos bens e serviços possui características próprias. TÓPICO 2 | TEORIA DO CONSUMIDOR: O CONCEITO DE UTILIDADE 101 Vamos entender o conceito de utilidade por meio de um exemplo bastante simples. Para este caso, imagine que o produto em questão é um brigadeiro de chocolate. Embora não saibamos nada sobre a medida exata da utilidade de um brigadeiro, podemos supor que será diversa para diferentes pessoas. Existem pessoas que não gostam de doces, e aquelas que sentem necessidade diária em comer algum tipo de doce; ou, ainda, aquelas que nunca comeram nenhum tipo de açúcar em sua infância. De que forma podemos entender a utilidade deste produto? FIGURA 11 - UTILIDADE TOTAL EM UM PRATO COM BRIGADEIROS FONTE: Disponível em: <http://www.imgrum.org/media/15922671688 9872123_4178495620>. Acesso em: 17 abr. 2018. Se começarmos a dar um brigadeiro (imagem acima) por dia para uma pessoa que não ingeria doces até então, provavelmente o brigadeiro trará uma satisfação muito grande para esta pessoa, gerando uma utilidade relativamente alta dia após dia. Se, após a experiência de uma semana, passarmos a dar dois brigadeiros por dia para esta mesma pessoa, estes brigadeiros a mais serão muito bem recebidos, mas não da mesma forma pela qual foram recebidos os primeiros. O grau de satisfação já não é mais o mesmo. Caso acrescentássemos um terceiro brigadeiro à dieta diária desta pessoa, o entusiasmo seria ainda menor. Por meio deste exemplo, pode-se chegar à conclusão de que se formos aumentando a quantidade diária de brigadeiros, chegará um momento em que a adição de um novo brigadeiro por dia trará um benefício tão pequeno que o desejo por um novo brigadeiro será quase indiferente. O fato de receber ou não um brigadeiro adicional não trará uma grande satisfação e prazer, pois se o brigadeiro passa a ser consumido frequentemente, deixa de ser um produto escasso para ser consumido até sua saciedade, portanto, quanto menos escasso é um produto, menor será a utilidade proporcionada ao seu consumidor. UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 102 Leia com atenção o texto destacado a seguir: IMPORTANT E A utilidade total derivada do consumo de brigadeiros cresce à medida que aumentarmos o número de brigadeiros oferecidos por dia. Mas, o valor acrescentado à utilidade total pelo último brigadeiro consumido é tão menor quanto maior for o total consumido de brigadeiros. Ou seja, a utilidade total amplia-se conforme adicionamos mais brigadeiros à dieta diária. Mas, conforme a utilidade total se amplia, a utilidade que cada brigadeiro adicional proporciona é cada vez menor. Vamos entender melhor este comportamento por meio da imagem a seguir. FIGURA 12 - VARIAÇÃO DA UTILIDADE TOTAL DE ACORDO COM O CONSUMO FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011, p. 147) A imagem mostra no eixo horizontal a quantidade de brigadeiros oferecidos por dia. O eixo vertical, representado pela altura das colunas, indica a utilidade total do consumo de brigadeiros. Na parte mais escura de cada coluna, na parte superior, é mostrado quanto foi acrescentado à utilidade total pelo consumo do último brigadeiro. Isto é, a cada novo brigadeiro adicionado, adiciona-se uma certa utilidade – representada pela parte escura. O que se deve observar é que, à medida que se aumenta a quantidade de brigadeiros oferecidos por dia, ou seja, quando vamos olhando para as colunas mais à direita da figura, o trecho mais escuro das colunas fica cada vez menor. Quanto maior é a utilidade total, menor é a utilidade acrescida pelo consumo de um novo brigadeiro. 250 U til id ad e to ta l Brigadeiros por dia Utilidade anterior Utilidade acrescentada pela última unidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 200 150 100 50 0 Utilidade acrescentada pela terceira unidade Utilidade acrescentada pela terceira unidade TÓPICO 2 | TEORIA DO CONSUMIDOR: O CONCEITO DE UTILIDADE 103 Se trazermos os números do quadro a seguir, temos as seguintes informações. QUADRO 9 - UTILIDADE TOTAL E UTILIDADE ACRESCIDA Brigadeiros por dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Utilidade acrescida 50 40 35 25 25 20 20 15 10 5 Utilidade total 50 90 125 150 175 195 215 230 240 245 FONTE: Os autores Na primeira linha está o número de brigadeiros consumidos ao longo dos dias. A utilidade acrescida pelo consumo de brigadeiros é decrescente, ou seja, vai diminuindo ao passo que aumenta a quantidade consumida: no primeiro brigadeiro a utilidade é de 50; já no décimo brigadeiro, a utilidade acrescida é de apenas 5. A última linha do quadro se refere à utilidade total. Conforme se aumenta a quantidade de brigadeiros consumidos por dia, a utilidade total também aumenta, mas de forma menos intensa a cada brigadeiro adicional – pois a utilidade acrescida é cada vez menor. Em economia, esta utilidade acrescida à utilidade total pela adição de novos brigadeiros a cada dia é chamada utilidade marginal. Na Figura 12 a utilidade marginal é representada pelas partes mais escuras. E no Quadro 9, a utilidade marginal está descrita na terceira linha. A utilidade marginal se refere à utilidade que a última unidade consumida acrescenta à utilidade total. Definição: “A utilidade marginal do consumo de determinada mercadoria é o acréscimo à utilidade total decorrente do consumo de uma unidade adicional dessa mercadoria” (GREMAUD et al., 2003, p. 147).ATENCAO A partir do Quadro 9 percebe-se que a utilidade marginal do brigadeiro diminui à medida que seu consumo aumenta. O comportamento da utilidade marginal visto no caso do consumo de brigadeiros também tende a ser observado no consumo de outros produtos, pois se uma pessoa passa a consumir maior quantidade de um certo produto, o prazer obtido por uma unidade adicional consumida, isto é, a utilidade marginal, diminui. Desta forma, é possível entender a utilidade marginal e seu comportamento com relação à quantidade consumida por meio da seguinte lei: UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 104 Lei da utilidade marginal decrescente: à medida que aumenta o consumo de determinada mercadoria, a utilidade marginal dessa mercadoria diminui (GREMAUD et al. (2011, p. 148). Agora, se olharmos novamente a Figura 12, podemos constatar que a utilidade total do consumo de um brigadeiro por dia (primeira coluna do gráfico) é igual à utilidade marginal do primeiro brigadeiro. No caso do consumo de dois brigadeiros por dia (segunda coluna), a utilidade total é igual à soma da utilidade marginal do consumo de um brigadeiro mais o consumo de dois brigadeiros diários. Conforme visualizamos a figura, notamos que esta lógica está presente nas demais colunas: a utilidade total do consumo de quatro brigadeiros por dia, por exemplo, é a soma das utilidades marginais do consumo de 1, 2, 3 e 4 brigadeiros por dia, portanto, a relação entre a utilidade marginal e a utilidade total pode ser descrita pela seguinte expressão: ( ) ( ) 1 n i U n UMg i = =∑ Na qual: U(n) = utilidade total do consumo de n unidades. UMg(i) = utilidade marginal da i-ésima unidade consumida. Ou seja, a expressão matemática quer dizer que a utilidade marginal do consumo de n unidades é igual à soma das utilidades marginais do primeiro até ao n-ésimo produto. A relação entre utilidade marginal e utilidade total também pode ser vista a partir da Figura 13 a seguir. O eixo horizontal indica as unidades consumidas de brigadeiro por dia. E no eixo vertical mede-se a utilidade marginal do consumo. Conforme aumentamos o consumo de determinado produto – neste caso, os brigadeiros – a utilidade marginal diminui. Basta notar que as colunas mais à direita o menores do que as mais à esquerda. TÓPICO 2 | TEORIA DO CONSUMIDOR: O CONCEITO DE UTILIDADE 105 FIGURA 13 - VARIAÇÃO DA UTILIDADE MARGINAL CONFORME O CONSUMO FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) Qual será a utilidade total dos brigadeiros consumidos nos três primeiros dias? Segundo a expressão matemática vista anteriormente, bastaria somarmos as utilidades marginais das três primeiras colunas (as colunas mais escuras da imagem). Uma vez que as colunas da figura são retângulos, com base igual a 1, essa soma é igual à área das três primeiras colunas. Neste exemplo sobre o consumo de brigadeiros e as utilidades totais e marginais proporcionadas, destacamos a variação por unidade de brigadeiro. Contudo, para ser mais preciso, poder-se-ia aumentar o consumo de brigadeiros por fração de brigadeiros. Assim, não passaríamos a consumir um brigadeiro adicional inteiro no segundo dia, mas avaliar a utilidade a cada grama a mais de brigadeiro que passamos a comer. Logo, as colunas das Figuras 12 e 13 ficariam cada vez mais estreitas. Por isso, substituem-se os gráficos de colunas por gráficos de linha, conforme as imagens a seguir. FIGURA 14 - UTILIDADE TOTAL DE UM PRODUTO FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) 50 U til id ad e m ar gi na l Brigadeiros por dia 40 30 20 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 106 FIGURA 15 - UTILIDADE MARGINAL E O CONSUMO DE CHOCOLATE FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) A Figura 14 mostra o gráfico do consumo de chocolate em gramas e a utilidade total proporcionada. Conforme o consumo de chocolate aumenta, a utilidade total também aumenta. Já a Figura 15 apresenta o comportamento da utilidade marginal pelo consumo de cada vez mais gramas de chocolate. Como vimos, a utilidade marginal é decrescente conforme aumentamos o consumo de determinado produto. Na representação anterior, por meio do gráfico de colunas, a utilidade total deveria ser calculada pela área correspondente aos retângulos do gráfico. Agora que a utilidade marginal é representada em um gráfico de linha em função da quantidade consumida, a utilidade total do consumo de uma quantidade q0 será dada pela área sob a curva de utilidade marginal até a quantidade q0, conforme destaque na Figura 15. 3 A CURVA DE DEMANDA INDIVIDUAL E O EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR Uma vez que compreendemos o comportamento do consumidor por meio da utilidade marginal e da utilidade total, cabe definirmos o tamanho destas grandezas. Ou seja, como se comporta a utilidade ao longo da curva da demanda? A utilidade, como vimos, é decrescente. Mas naquele ponto em que a utilidade proporcionada por um produto é máxima, qual é o valor que estamos dispostos a desembolsar para adquiri-lo? Percebemos, portanto, que a utilidade também possui relação com o preço dos produtos. Em geral, as pessoas valorizam mais aquilo que lhes traz mais utilidade. Assim, estão dispostas a pagar um preço mais elevado em um produto que tenha utilidade maior. Leia com atenção o destaque a seguir. TÓPICO 2 | TEORIA DO CONSUMIDOR: O CONCEITO DE UTILIDADE 107 IMPORTANT E A medida de utilidade do consumo de qualquer produto pode ser entendida como o preço máximo que um consumidor está disposto a pagar por este produto. Por meio desta perspectiva, podemos nos perguntar: qual é o preço máximo que pagaríamos para o consumo das primeiras unidades de um produto? Lembrando que as primeiras unidades nos trazem maior grau de satisfação. E qual é o preço máximo que pagaríamos para adquirir a vigésima unidade deste produto? Na vigésima unidade já estaríamos totalmente saciados deste produto. É justamente desta dinâmica da utilidade que deriva a curva de demanda individual. Para ilustrar esta situação, pensemos no caso do consumo de abacaxis. Assim como no caso dos brigadeiros, a utilidade marginal do consumo deste produto também varia conforme varia o nível de seu consumo. O consumo do primeiro abacaxi traz uma certa utilidade marginal. Com o consumo do segundo abacaxi também se adiciona uma utilidade marginal, mas menor do que aquela com o consumo do primeiro. O consumo do terceiro abacaxi proporciona uma utilidade marginal menor ainda do que o consumo da segunda peça de abacaxi e assim por diante. Conforme ficamos saciados deste produto, menor será a utilidade marginal adicionada. A cada nova unidade adicional, menor é a utilidade marginal proporcionada, confirmando a ideia da utilidade marginal decrescente. Desta forma, se o consumo do segundo, terceiro e seguintes abacaxis resultar em uma utilidade marginal menor, os respectivos preços máximos também serão menores. Para entender melhor, observe a imagem a seguir. FIGURA 16 - PREÇO MARGINAL DE RESERVA E QUANTIDADE CONSUMIDA FONTE: Os autores UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 108 Neste exemplo, o preço máximo que um determinado consumidor está disposto a pagar pela primeira unidade de abacaxi é R$ 6,00. Uma vez que a utilidade marginal é decrescente, o preço máximo pago pela segunda unidade de abacaxi é de R$ 5,50. Pela terceira unidade o valor máximo pago é de R$ 4,50. A tendência é que o preço máximo vá diminuindo conforme unidades adicionais forem sendo consumidas. Em economia, o preço máximo que o consumidor está disposto a desembolsar por uma unidade adicional de certo produto é chamado de preço marginal de reserva. O preço marginal de reserva pode ser utilizado como medida para a utilidade marginal porque quanto maior for a utilidade acrescentada por uma unidade adicional de um certo produto, maior será o preço marginal de reserva. IMPORTANT E O preço marginal de reserva é uma medida da utilidademarginal. Trata-se do preço máximo que um consumidor está disposto a pagar por uma unidade adicional de um certo produto. De volta ao exemplo do consumo de abacaxis, imaginemos que o preço pelo qual o abacaxi é vendido no supermercado é de R$ 4,00 (conforme a anotação na Figura 16, “p = R$ 4,00”). Esse valor de preço é chamado preço efetivo ou preço de mercado. O consumidor deste abacaxi, cujo comportamento está expresso na imagem, comprará a primeira unidade de abacaxi por R$ 6,00, pois o preço máximo que ele está disposto a pagar está acima do preço efetivo. O segundo abacaxi também será comprado, pois o preço máximo de R$ 5,50 também está acima do preço efetivo. Com o terceiro e o quarto abacaxi ocorre o mesmo, os preços máximos são de R$ 4,50 e R$ 4,00, respectivamente. Mas, uma quinta unidade de abacaxi seria comprada a um preço máximo de R$ 3,50 – abaixo do preço efetivo. Logo, no caso deste exemplo, um quinto abacaxi não será comprado, pois para este consumidor, a utilidade proporcionada pela quinta unidade de abacaxi é muito pequena e não “vale” mais do que R$ 3,50. Assim, ele comprará apenas os quatro primeiros abacaxis por R$ 4,00 cada. Isto é, o consumidor comprará todas as unidades que tiverem seu preço marginal de reserva superior ou igual ao preço efetivo. Da mesma forma que no exemplo dos brigadeiros, a quantidade consumida de abacaxis poderia ser aumentada gradualmente ao longo do tempo e por meio de variações muito pequenas, por isso que é mais comum utilizarmos um gráfico de linhas para representar o preço marginal de reserva com relação à quantidade consumida. Veja a imagem a seguir. TÓPICO 2 | TEORIA DO CONSUMIDOR: O CONCEITO DE UTILIDADE 109 FIGURA 17 - GRÁFICO DO PREÇO MARGINAL DE RESERVA E DA QUANTIDADE CONSUMIDA FONTE: Os autores Conforme demonstra o gráfico, a quantidade consumida será aquela em que o preço marginal de reserva é igual ao preço efetivamente praticado no mercado. Se o preço for p1 a quantidade consumida será q1, pois o preço marginal de reserva (o preço máximo que o consumidor está disposto a pagar pela última unidade do produto) é maior que p1 (preço de mercado) para todas as unidades consumidas antes de o consumidor atingir o consumo q1. O consumidor não tende a consumir menos do que q1, pois o preço de mercado estará abaixo daquele que ele está disposto a pagar pelo produto. Tampouco consumirá além de q1, pois o preço de mercado estará acima daquele que ele está disposto a pagar. O que podemos notar é que a curva representada na Figura 17 é a curva de demanda do consumidor, na qual se relaciona o preço e a quantidade adquirida pelo consumidor. Quando o preço marginal de reserva for maior do que o preço de mercado (> do que p1), o consumidor poderá adquirir quantidades adicionais por um preço menor do que o máximo que ele está disposto a pagar. Assim, um preço marginal de reserva maior do que o preço de mercado serve de estímulo para que o consumidor aumente a quantidade consumida. Por isso que todas as vezes nas quais o consumidor estiver comprando uma quantidade inferior a q1, sendo que o preço de mercado é p1, ele estará sendo estimulado a comprar uma quantidade maior – até chegar ao nível de q1. E, isto ocorre, pois, conforme se vê na figura, para qualquer consumo inferior a q1, o preço marginal de reserva sempre é maior do que o preço de mercado. Por outro lado, quando o preço marginal de reserva for menor do que o preço de mercado (< do que p1), o consumidor estará pagando um valor mais alto do que aquele que ele estaria disposto a desembolsar. Logo, um preço marginal UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 110 de reserva menor do que o preço de mercado serve de estímulo para uma redução na quantidade consumida. Olhando para a figura, vemos que para qualquer quantidade além de q1, o preço marginal será menor do que o preço de mercado, impulsionando o consumo para menos. O que podemos concluir é que a tendência do comportamento do consumidor é adquirir a quantidade de produtos cujos preços de mercado e marginal de reserva sejam os mesmos, proporcionando um equilíbrio. O equilíbrio do consumidor ocorre quando a quantidade consumida de certo produto seja com preço marginal de reserva igual ao preço efetivo de mercado (GREMAUD et al., 2011). ATENCAO Nesta situação, o consumidor não verá necessidade de aumentar seu consumo, pois já está comprando todas as unidades possíveis dentro daquilo que está disposto a pagar. E não verá necessidade em reduzir seu consumo, uma vez que todas as quantidades menores possuem preço de mercado menor do que está disposto a pagar. 4 O EXCEDENTE DO CONSUMIDOR Uma vez que os conceitos de demanda individual, preço marginal de reserva e o equilíbrio do consumidor puderam ser assimilados, a respeito da teoria da utilidade resta-nos compreender de que se trata o chamado excedente do consumidor. Se visualizarmos novamente as duas últimas imagens – sobre o exemplo do consumo de abacaxis –, veremos que há um destaque para o “excedente do consumidor”. Quando o preço do abacaxi custa R$ 4,00, a demanda do consumidor seria de 4 abacaxis. Mas, pela primeira unidade de abacaxi, embora custe apenas R$ 4,00, o consumidor estaria disposto a pagar R$ 6,00 pela unidade do produto, devido à satisfação proporcionada por esta primeira unidade. Já pela segunda unidade, R$ 5,50 seria o valor máximo a ser desembolsado. A diferença entre estes dois valores, o preço efetivo e o preço marginal de reserva, representa o ganho ou a vantagem que este consumidor tem ao consumir a primeira ou a segunda unidade do produto. É justamente esta diferença que chamamos de excedente do consumidor – conforme podemos visualizar nas duas figuras anteriores. TÓPICO 2 | TEORIA DO CONSUMIDOR: O CONCEITO DE UTILIDADE 111 O excedente do consumidor é a diferença entre o preço marginal de reserva (o preço que ele está disposto a pagar) e o preço efetivo de uma mercadoria (o preço que ele paga para adquirir o produto). ATENCAO A tabela a seguir traz os dados para o excedente do consumo de cada unidade, bem como a soma de todos os excedentes relativos ao consumo dos abacaxis. TABELA 2 - EXCEDENTE DO CONSUMIDOR Abacaxi (1) Preço marginal de reserva (2) Preço de mercado (3) Excedente (2) – (3) 1º 6,00 4,00 2,00 2º 5,50 4,00 1,50 3º 4,50 4,00 0,50 4º 4,00 4,00 0,00 Excedente do consumidor (total) 4,00 FONTE: Os autores A partir da tabela percebemos que o consumo da primeira unidade de abacaxi proporciona um excedente de R$ 2,00; que o consumo da segunda unidade de abacaxi proporciona um excedente de R$ 1,50; que o consumo da terceira, R$ 0,50 de excedente; e da quarta unidade, nenhum excedente. O excedente total, relativo à soma dos excedentes individuais do consumo de cada abacaxi, é igual a R$ 4,00. O excedente total traduz o benefício ou a vantagem líquida que o consumidor obtém ao adquirir as 4 unidades de abacaxi pelo preço de R$ 4,00 a unidade. Os valores excedentes calculados podem ser representados graficamente. Na Figura 16 sobre o “Preço marginal de reserva e quantidade consumida”, a parte escura do gráfico diz respeito ao excedente do consumidor para cada unidade consumida de abacaxi, conforme a anotação no próprio gráfico. Já na Figura 17, sobre o “gráfico do preço marginal de reserva e da quantidade consumida”, o excedente do consumidor é revelado pela área hachurada e demarcada do gráfico. Esta área será acima da linha do preço e abaixo da curva da demanda. 112 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico apresentamos: • As ideias relativas à utilidade total e utilidade marginal nos ajudam a explicar o comportamento do consumidor ao adquirir determinados produtos. • A utilidade total diz respeito a toda a satisfação que envolve o consumo de um produto. • A utilidade marginal se refere à satisfação que uma nova unidade de um produto é adicionada ao consumo. • A Lei da Utilidade Marginal decrescente mostra que à medidaque aumenta o consumo de um produto, a utilidade marginal dessa mercadoria diminui. • O preço marginal de reserva é o preço que o consumidor está disposto a pagar para o consumo de uma unidade de um produto. Se aquela unidade trará muita satisfação, o preço marginal de reserva pode ser bastante alto. • O consumo do consumidor está equilibrado quando o preço marginal de reserva é igual ao preço efetivo cobrado no mercado. • Há um excedente do consumidor quando o preço marginal de reserva é superior ao preço efetivo de mercado. 113 AUTOATIVIDADE 1 De que forma podemos entender a utilidade total e a utilidade marginal? 2 O que nos mostra a Lei da Utilidade Marginal decrescente? 3 Como podemos compreender o preço marginal de reserva? 4 Em que momento ocorre o “equilíbrio do consumidor”? 5 O que vem a ser o “excedente do consumidor”? 114 115 TÓPICO 3 A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Olá, acadêmico! Estamos nos aproximando do final da Unidade 2 do livro de Microeconomia. Aqui, no Tópico 3, o enfoque será sobre a teoria da escolha do consumidor. De forma mais didática, neste tópico, estudaremos especificamente: • as cestas de mercadorias; • as curvas e mapas de indiferença; • a taxa marginal de substituição; • a linha e os deslocamentos de restrição orçamentária; • o equilíbrio do consumidor. Estes conceitos mostrarão alguns modelos de entendimento sobre as escolhas que os consumidores fazem no momento da aquisição de um produto ou serviço. Diferentes conjuntos de mercadorias podem estar presentes nas escolhas dos consumidores, bem como, alguns conjuntos podem ser mais desejáveis do que outros, revelando algumas das tomadas de decisões pelas compras, contudo, nem todos os produtos e/ou cestas de produtos podem ser adquiridos, uma vez que possuímos restrições de renda, ou seja, nossa renda não é infinita. Assim, os mapas de indiferença procuram mostrar as possibilidades de consumo dos consumidores, enquanto as linhas de restrição orçamentária demonstram os limites financeiros. Por meio destes entendimentos é que constatamos o equilíbrio que se forma no consumidor baseado em suas decisões e limites de compra. Mas isto é só um pouco do que veremos daqui em diante. Desejamos uma ótima leitura e bons estudos! 116 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 2 CESTAS DE MERCADORIAS O primeiro dos conceitos que veremos neste tópico se refere à Cesta de Mercadorias. Quando falamos em Cesta de Mercadorias, podemos entender que se trata de “um conjunto de uma ou mais mercadorias associadas às quantidades consumidas de cada uma dessas mercadorias” (GREMAUD et al., 2011, p. 154). Na figura a seguir podemos visualizar um conjunto de cosméticos. Poderíamos supor que uma pessoa consome duas unidades de sabonete líquido, uma unidade de xampu, uma unidade de creme para as mãos e dois desodorantes. Assim, teríamos uma determinada Cesta de Mercadorias, por exemplo, Cesta A. Contudo, conforme a satisfação proporcionada por estes produtos, a quantidade consumida de cada um destes produtos pode variar para mais ou para menos. Com a mudança nas quantidades consumidas de cada produto temos a formação de uma nova Cesta de Mercadorias, com quantidades diferenciadas, Cesta B. Desta forma, a cada nova combinação na quantidade dos produtos que compõem a Cesta, temos a formação de uma nova Cesta, Cesta C, D, E, e assim por diante. FIGURA 18 - EXEMPLO DE CESTA DE MERCADORIAS FONTE: Disponível em: <https://i0.wp.com/aprenderpalavras.com/wp-content/ uploads/2017/12/cosmeticos.jpg?fit=750%2C350&ssl=1>. Acesso em: 17 abr. 2018. As Cestas de Mercadorias podem ser mais precisas em termos numéricos. Para simplificar, levaremos em conta apenas dois tipos de produtos: alimentos e roupas. Assim, na tabela a seguir elencamos alguns exemplos de Cestas de Mercadorias. Leia os dados da tabela: TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 117 TABELA 3 - DIFERENTES CESTAS DE MERCADORIAS Cesta de Mercadorias Unidade de alimentos Unidade de roupas I 15 20 II 10 25 III 25 20 IV 20 25 V 10 10 VI 5 20 FONTE: Os autores A Cesta de Mercadorias I é composta por 15 unidades de alimentos e 20 de roupas. Já na Cesta de Mercadorias V são consumidas 10 unidades de alimentos e 10 unidades de roupas. Deste modo, na Tabela 3, podemos visualizar as diferentes combinações do consumo de roupas e alimentos devido às escolhas de um determinado consumidor. Estes dados também podem ser representados por meio do gráfico de dispersão a seguir. Analise o gráfico: FIGURA 19 - CESTAS DE MERCADORIAS FONTE: Os autores No eixo horizontal do gráfico estão dispostas as quantidades de alimentos consumidas, enquanto no eixo vertical constam as quantidades de roupas consumidas. Cada um dos pontos se refere às possíveis cestas de mercadorias para consumo. 118 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 3 CURVAS DE INDIFERENÇA As escolhas dos consumidores por cada tipo de produto geram uma específica combinação contendo quantidades e produtos, resultando em diferentes cestas de mercadorias. Mas como poderíamos classificar estas opções de consumo segundo as preferências do consumidor? Para tanto, partimos da premissa de que, não importando as escolhas preferenciais de cada consumidor, três condições devem ser verificadas: 1) Quando possuímos duas possíveis cestas de mercadorias, uma delas será mais preferível do que a outra. Ou então, a opção por uma ou outra cesta será indiferente. 2) A segunda condição presume que se um consumidor prefere uma Cesta A entre as Cestas A e B, e se este consumidor prefere uma Cesta B, entre as Cestas B e C, então este consumidor preferirá a Cesta A, entre as Cestas A, B e C. Portanto, revela-se a racionalidade lógica-econômica relativa às preferências do consumidor. 3) Uma vez que todas as mercadorias que compõem diferentes cestas são desejáveis, um determinado consumidor sempre optará por consumir a maior quantidade possível de cada uma das mercadorias. Assim, este consumidor terá preferência, por exemplo, em consumir a combinação de mercadorias presente na Cesta III, quando comparamos as Cestas I e III (da Tabela 3). Pois, embora as unidades de roupas sejam as mesmas (20), na Cesta III temos 25 unidades de alimentos, enquanto na Cesta I temos apenas 15 unidades de alimentos. A mesma situação ocorre quando comparamos a decisão entre as Cestas II e IV; aí a opção seria pela Cesta IV, pois possui 10 unidades de alimentos a mais do que na Cesta II. Estes aspectos da escolha do consumidor podem ser representados a partir de um instrumento muito útil na economia: a curva de indiferença. NOTA “A curva de indiferença mostra as combinações de consumo que proporcionam ao consumidor o mesmo nível de satisfação. Ou seja, que fazem o consumidor igualmente feliz” (MANKIW, 2013, p. 218). Ou seja, na curva de indiferença estão expostas todas as combinações de cestas de mercadorias que são indiferentes para um determinado consumidor. Pensemos no exemplo de uma pessoa que consuma mensalmente uma cesta de mercadorias composta por 50 unidades de alimentos e 10 unidades de roupas. Quais outras opções de cestas seriam tão desejáveis quanto esta? Quais cestas seriam indiferentes a esta cesta inicial? TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 119 Para visualizarmos o consumo de indiferentes cestas, aquelas com consumo igualmente desejáveis, podemos elaborar a seguinte tabela. TABELA 4 - CESTAS DE MERCADORIAS INDIFERENTES ENTRE SI Cesta de Mercadorias Unidade de alimentos Unidade de roupas A 5 50 B 11 30 C 20 20 D 28 15 E 35 12 F 50 10 FONTE: Os autores Em todas as situações das cestas de mercadorias da tabela temos combinações entre quantidade de alimentos e de roupas igualmente preferíveis por certo consumidor. Tanto a Cesta A quanto a Cesta F, por exemplo, proporcionam o mesmo grau de satisfação e, portanto, são indiferentes à escolha do consumidor. Mas será que todas as possíveiscombinações estão descritas nesta tabela? Certamente, não. Muitas outras cestas com o mesmo grau de utilidade poderiam ser criadas. Por isto, é comum na economia representarmos a curva de indiferença por meio de um gráfico em linha. A curva representada na Figura 20 revela um conjunto de cestas de mercadorias igualmente desejáveis para um determinado consumidor. FIGURA 20 - EXEMPLO GRÁFICO DE UMA CURVA DE INDIFERENÇA FONTE: Os autores 120 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR “Uma curva de indiferença nada mais é do que a representação gráfica de um conjunto de cestas de consumo indiferentes para o consumidor, ou seja, cestas que trazem a mesma satisfação” (GREMAUD et al. 2011, p. 156). No eixo horizontal do gráfico aparecem as unidades de alimentação, enquanto no eixo vertical, as unidades de roupas. As Cestas A, B, C, D, E, F descritas na tabela anterior aparecem no gráfico e formam a curva de indiferença. Pela leitura do gráfico descobrimos que a Cesta G também é indiferente ao consumo das outras cestas. Pois, o consumidor, ao optar pelo consumo de sete unidades de alimentos e 40 unidades de roupas, correspondentes à Cesta G, terá um grau de consumo tão desejável quanto às Cestas A, B, C, D, E, F. Todas as cestas de mercadorias que se situarem exatamente em cima da curva de indiferença são igualmente preferíveis para determinado consumidor. ATENCAO Além de o gráfico permitir a visualização das cestas de mercadorias que são indiferentes ou igualmente desejáveis por um consumidor, também é possível verificar as cestas que não pertencem à curva de indiferença. Desta forma, todas as cestas que se localizarem à direita e acima da curva de indiferença serão consideradas mais preferíveis do que aquelas que se localizam em cima da curva de indiferença – como é o caso da Cesta X, com 30 unidades de cada produto. Se notarmos a posição da Cesta X em relação à Cesta D, constataremos que a Cesta X possui mais unidades de alimentos e mais unidades de roupas do que a Cesta D. A Cesta X é, portanto, mais preferível (ou melhor) do que a Cesta D. Uma vez que a Cesta D é indiferente a todas as outras Cestas (A, B, C, E, F, G) sob a curva de indiferença, e, ainda, a Cesta X é mais preferível do que a Cesta D, podemos dizer que a Cesta X é mais preferível que todas as outras cestas, que estão sob essa curva de indiferença. IMPORTANT E As cestas que se localizarem à direita e acima da curva de indiferença serão mais preferíveis do que todas as cestas sob a curva de indiferença. TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 121 Do mesmo modo, é possível verificar cestas que não pertencem à curva de indiferença e que se localizem à esquerda e abaixo da curva de indiferença. Estas cestas serão consideradas menos preferíveis do que aquelas que se localizam em cima da curva de indiferença – como é o caso da Cesta Y, com 10 unidades de roupas e 15 de alimentos. A Cesta Y possui menos unidades de alimentos e menos unidades de roupas do que a Cesta C, por exemplo. Assim, a Cesta Y é menos preferível (ou pior) do que a Cesta C. O consumidor irá optar por qualquer cesta acima, como aquelas sob a curva de indiferença. Observe a Figura 21 a seguir para melhor compreender a situação das cestas que não se encontram sob a curva de indiferença. Na área mais escura da figura encontra-se o conjunto de cestas de mercadorias mais preferíveis (ou melhores) que as cestas sob a curva de indiferença. Enquanto na área branca se encontra o conjunto das cestas de mercadorias menos preferíveis (ou piores) que as cestas que estão sob a curva de indiferença. FIGURA 21 - REPRESENTAÇÃO DA ÁREA COM CESTAS MAIS E MENOS DESEJÁVEIS FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) Outra representação gráfica oriunda da curva da indiferença é o chamado mapa de indiferença, pois, as Cestas X e Y também possuem suas próprias curvas de indiferença. Neste caso, duas novas curvas são adicionadas ao gráfico inicial, cujo resultado encontra-se na figura a seguir. 122 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR FIGURA 22 - MAPA DE INDIFERENÇA FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) IMPORTANT E O conjunto de todas as curvas de indiferença do consumidor é chamado de mapa de indiferença (GREMAUD et al., 2011, p. 157). Logicamente que a quantidade de possíveis curvas existentes em um mapa de indiferença é muito grande devido às infinitas possibilidades de maior ou menor satisfação do consumidor. Para representar o gráfico anterior, escolhemos apenas duas curvas a modo de exemplo. 4 TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO Uma taxa marginal procura medir qual a mudança total de alguma variável em função do aumento de uma unidade a mais de algum item. Ou seja, no caso na Taxa Marginal de Substituição (TMgS) refere-se à mudança na utilidade total quando aumentamos o consumo de um produto em uma unidade. NOTA “A Taxa Marginal de Substituição é a taxa a qual um consumidor está disposto a trocar um produto por outro produto” (MANKIW, 2013, p. 418). TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 123 Para estudar este conceito, consideremos os dados da tabela a seguir. TABELA 5 - TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO (TMGS) DE CESTAS DE MERCADORIAS Cesta de Mercadorias Unidade de alimentos Unidade de roupas Taxa Marginal de Substituição (TMgS) A 1,0 12,0 - B 2,0 6,0 6,0 C 3,0 4,0 2,0 D 4,0 3,0 1,0 E 5,0 2,4 0,6 F 6,0 2,2 0,2 FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) Quando comparamos as Cestas A e B, percebemos que a Cesta B possui uma unidade a mais de alimentos e seis unidades a mais de roupas. Como as cestas são indiferentes entre si, quando um indivíduo estiver consumindo a Cesta A e trocar para a Cesta B, diminuindo o consumo de roupas em seis unidades, não fará diferença alguma, pois não trará benefício nem perda. Seria desvantagem trocar mais que seis unidades de roupas por uma de alimentos. Mas seria vantagem trocar menos que seis unidades de roupas por uma de alimentos. Logo, a quantidade máxima de roupas que o consumidor, quando consumir a Cesta A, estaria disposto a abrir mão em troca de uma unidade a mais de alimentos seria de seis unidades. Esta quantidade máxima é chamada em Economia de Taxa Marginal de Substituição de roupas por alimentos. IMPORTANT E A Taxa Marginal de Substituição (TMgS) revela a quantidade máxima de um certo produto que o consumidor está disposto a abrir em mão, em troca de uma unidade a mais de outro produto. A partir da taxa marginal de substituição de roupas por alimentos, temos duas constatações: ela representa a quantidade máxima de roupas que o consumidor está disposto a substituir por uma unidade a mais de alimentos; e representa em quanto devemos reduzir o consumo de roupas para aumentarmos o consumo de alimentos em uma unidade e permanecermos sob a mesma curva de indiferença. Este último trecho é importante, pois procura lembrar que ao aumentarmos o consumo de uma unidade de alimentos e reduzirmos seis unidades de roupas, o grau de consumo migra para a Cesta B, mas permanece sob a mesma curva de indiferença. 124 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NOTA “A Taxa Marginal de Substituição de uma mercadoria I por uma mercadoria II é a redução na quantidade da mercadoria I necessária para repor o consumidor na mesma curva de indiferença quando há aumento de uma unidade no consumo da mercadoria II. Ela indica o máximo que o consumidor estaria disposto a ceder da mercadoria I em troca da mercadoria II” (GREMAUD et al., 2011, p. 160). Observando novamente a Tabela 5, notamos que a última coluna foi reservada ao cálculo da TMgS de roupas por alimentos. Uma constatação importante a ser feita é sobre a diminuição da TMgS à medida que escolhemos cestas da parte inferior da tabela. Quando passamos a escolher a Cesta B ao invés da Cesta A, trocamos seis unidades de roupas por uma unidade a mais de alimento. Mas, quando escolhemos a Cesta F ao invés da Cesta E, trocamos apenas 0,2 unidadesde roupas por uma unidade a mais de alimento. Por isso, os dados da TMgS partem de 6,0 e terminam em 0,2. Esta dinâmica faz com que a curva de indiferença seja mais inclinada (ou menos deitada) à esquerda, e menos inclinada (ou mais deitada) à direita. É compreensível a decisão de um consumidor que precise escolher entre as cestas da Tabela 5. Quando opta pela Cesta A, está consumindo uma grande quantidade de roupas e pequena de alimentos, sendo mais suscetível uma troca grande de roupas por uma unidade a mais de alimentos. A carência por roupas é pequena quando comparada com a carência por alimentos. Agora, conforme as escolhas sejam pelas Cestas C, D, E, F (mais para o final da Tabela 5), a quantidade de alimentos consumida aumenta e a quantidade de roupas diminui, fazendo com que o consumidor sinta menos falta de alimento e mais falta de roupas, resultando em trocas cada vez menores de roupas por alimentos. Propriedades das curvas de indiferença Agora que já estudamos a Taxa Marginal de Substituição e a curva de indiferença, é interessante verificarmos algumas das propriedades específicas das curvas de indiferença. Leia o quadro a seguir. TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 125 QUADRO 10 - AS QUATRO PRINCIPAIS PROPRIEDADES DAS CURVAS DE INDIFERENÇA Propriedade 1: as curvas de indiferença mais elevadas são preferíveis às mais baixas. Os consumidores normalmente preferem ter mais de alguma coisa/produto a ter menos. Essa preferência por maiores quantidades se reflete nas curvas de indiferença. Propriedade 2: as curvas de indiferença se inclinam para baixo. A inclinação de uma curva de indiferença reflete a taxa à qual o consumidor está disposto a substituir um bem por outro. Na maioria dos casos, o consumidor gosta dos dois bens. Portanto, se a quantidade de um produto for reduzida, a quantidade do outro produto precisará aumentar a fim de que o consumidor fique igualmente satisfeito. Por essa razão, a maioria das curvas de indiferença se inclina para baixo. Propriedade 3: as curvas de indiferença não se cruzam. Para verificar por que isso é verdade, suponha que duas curvas de indiferença se cruzassem como na figura ao lado. Então, como o ponto A está na mesma curva de indiferença que o ponto B, os dois pontos deixariam o consumidor igualmente satisfeito. Além disso, como o ponto B está na mesma curva de indiferença que o ponto C, esses dois pontos também dariam ao consumidor o mesmo nível de satisfação. Mas essas conclusões implicam que os pontos A e C também deixem o consumidor igualmente satisfeito, embora o ponto C tenha maior quantidade de ambos os bens. Isso contradiz nossa hipótese de que o consumidor sempre prefere mais dos dois bens a menos. Portanto, as curvas de indiferença não podem se cruzar. Propriedade 4: as curvas de indiferença são convexas em relação à origem dos eixos. A inclinação de uma curva de indiferença é a taxa marginal de substituição – a taxa à qual o consumidor está disposto a trocar um produto por outro. A taxa marginal de substituição (TMgS) geralmente depende da quantidade de cada bem que o consumidor está consumindo atualmente. De modo mais específico, como as pessoas estão mais dispostas a trocar bens que tenham em abundância e menos dispostas a trocar bens que tenham em pequena quantidade, as curvas de indiferença são convexas em relação à origem dos eixos. Veja este exemplo baseado na imagem ao lado: No ponto A, como o consumidor tem muita Pepsi e somente um pouco de pizza, está com muita 126 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR fome, mas não tem muita sede. Para induzir o consumidor a abrir mão de 1 pizza, é preciso dar-lhe 6 latas de Pepsi: a taxa marginal de substituição é de 6 latas por pizza. Já no ponto B, o consumidor tem pouca Pepsi e muita pizza, de modo que está sedento, mas não tem muita fome. Nesse ponto, ele estaria disposto a abrir mão de 1 pizza para obter 1 lata de Pepsi: a taxa marginal de substituição é de 1 lata por pizza. Portanto, a convexidade da curva de indiferença reflete a maior disposição do consumidor para abrir mão do bem que ele já tem em grande quantidade. FONTE: Adaptado de Mankiw (2013, p. 419-420). 5 A LINHA DE RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA Há muitas possibilidades de cestas de mercadorias a serem escolhidas dentro de uma mesma curva de indiferença. Se cada consumidor pudesse escolher qual cesta consumir, escolheria aquela com maior quantidade possível de produtos. No entanto, há um fator limitador às escolhas infinitas do consumidor: os preços dos produtos e a renda de cada consumidor. NOTA “A restrição orçamentária representa o limite das combinações de consumo de bens que o consumidor pode adquirir” (MANKIW, 2013, p. 416). Para estudarmos a restrição orçamentária com mais detalhes, consideraremos que qa é a quantidade consumida de alimentos pelo consumidor Joaquim, e qr é a quantidade consumida de roupas; Pa, o preço de uma unidade alimento e, Pr, o preço de uma unidade de roupa. Logo, o gasto total do consumo de Joaquim será: . .a a r rP q P q+ Uma vez que a renda de Joaquim permite um consumo limitado, a inequação matemática que expressa esta situação, em que R é igual a renda de Joaquim, é: . .a a r rP q P q R+ ≤ TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 127 Assim, suponhamos que a renda mensal de Joaquim seja R$ 500,00, o preço de uma unidade de alimento, R$ 5,00 e o preço de uma unidade de roupa, R$ 10,00. Se Joaquim gastasse toda sua renda no consumo de alimentos, compraria 100 unidades de alimentos, pois R / Pa = 500 / 5 = 100. Mas, se Joaquim gastasse toda sua renda no consumo de roupas, compraria 50 unidades de roupas, pois, R / Pr = 500 / 10 = 50. A tabela a seguir revela possíveis cestas de consumo que esgotam aenda mensal de R$ 500,00 de Joaquim, com base nos preços mencionados para as roupas e para os alimentos. TABELA 6 - CESTAS DE CONSUMO PARA O LIMITE DE RENDA Cesta de consumo Unidades de alimentos Unidades de rpas A 0 50 B 20 40 C 40 30 D 60 20 E 80 10 F 100 0 FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011, p. 162) Com base nestas informações, podemos representar os “pontos de consumo” conforme a Figura 23, que apresenta as quantidades consumidas de roupas e alimentos. As Cestas A, B, C, D, E, F são pontos particulares da reta conhecida como linha de restrição orçamentária, que representa o limite de consumo de Joaquim. FIGURA 23 - LINHA DE RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) 128 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Joaquim poderia comprar todas as cestas que se encontram sob a linha de restrição orçamentária (A, B, C, D, E, F) e poderia comprar todas as cestas que se encontram abaixo e à esquerda da linha de restrição orçamentária, por exemplo, a Cesta X. Mas, Joaquim não pode consumir a Cesta Y, que contém 80 unidades de alimentos e 40 unidades de roupas, pois custaria 5•80+10•40=800 reais, ou seja, R$ 300 além de sua renda. Deslocamentos da linha de restrição orçamentária A linha de restrição orçamentária não é estática, cujo deslocamento pode ser influenciado por meio dos fatores: o preço das mercadorias consumidas e a renda do consumidor. Nas páginas a seguir iremos compreender o movimento da linha de restrição orçamentária a partir da variação destes dois fatores. Primeiro, suponha que apenas o preço de uma unidade de alimento sofra alteração, diminuindo de R$ 5,00 para R$ 4,17. Se Joaquim destinar toda a sua renda para a aquisição de alimentos, ele poderá comprar 120 unidades de alimentos, pois: 500 80 6 25,r R P = = Pois, quando Joaquim destina toda a sua renda para o consumo de alimentos, dada elevação nos preços, ele passa a ter possibilidade de comprar apenas 80 unidades de alimentos. 500 120 4 17,a R P = = Este valor indica o encontro da linha de restrição orçamentária com o eixo horizontal do gráfico da Figura 24 (parte a). Nesta situação, a linha de restrição orçamentária como eixo horizontal se deslocará para a direita do local anterior, conforme a parte (a) da Figura 24. Por outro lado, uma elevação do preço de uma unidade de alimento, aqui, de R$ 5,00 para R$ 6,25, provocará um efeito inverso, deslocando a linha de restrição orçamentária com o eixo horizontal para a esquerda, conforme a parte (b) da Figura 24. Assim, teríamos: TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 129 FIGURA 24 – DESLOCAMENTOS DA LINHA DE RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA – ROUPAS FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) Já os ajustes de preços apenas para o consumo de roupas revelam um deslocamento da linha de restrição sob o eixo vertical do gráfico. Uma redução no preço das roupas de R$ 10,00 para R$ 8,33 provocaria um aumento na quantidade possível de roupas a ser consumida com a mesma renda, passando de 50 para 60 unidades, conforme demonstra o deslocamento para cima da linha de restrição orçamentária na parte (a) da Figura 25. Uma elevação dos preços das roupas deslocaria a linha de restrição orçamentária para baixo, conforme a parte (b) da Figura 25. Neste caso, os preços aumentaram de R$ 10,00 para R$ 12,50. As quantidades consumidas podem ser demonstradas pelas equações: 500 50060 40 8 33 12 50 , ,r r R R P P = = = = Com a redução nos preços, as quantidades consumidas passam de 50 para 60 unidades. E com o aumento nos preços, as quantidades consumidas reduzem de 50 para 40 unidades. 130 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Ademais, a dinâmica dos preços também influencia a quantidade de cestas disponíveis e acessíveis ao consumidor. Por exemplo, a redução nos preços das roupas tornou acessível a Cesta L de mercadorias. Mas, o aumento nos preços das roupas tornou inacessível a Cesta N de mercadorias. Por fim, resta-nos compreender o deslocamento da linha de restrição orçamentária devido às mudanças na renda do consumidor, demonstrado na Figura 26 a seguir. Numa primeira situação, vamos supor que a renda de Joaquim sofra um aumento de R$ 100,00, passando de R$ 500,00 para R$ 600,00, conforme a parte (a) da Figura 26. Assim, quando Joaquim dedica toda a sua renda para o consumo de roupas ou para o consumo de alimentos, a quantidade possível a ser consumida aumenta. Veja: FIGURA 25 - DESLOCAMENTOS DA LINHA DE RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA – RENDA FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 131 600 600120 60 5 00 10 00 , ,a r R R P P = = = = Se antes do aumento da renda era possível adquirir 100 unidades de alimentos, agora é possível comprar 120 unidades. Já as unidades de roupas possíveis a serem consumidas aumentaram de 50 para 60 unidades. Portanto, percebemos uma variação tanto na parte vertical, relativa às roupas, quanto na parte horizontal, relativa aos alimentos, deslocando a linha de restrição orçamentária para cima para à direita da posição original, conforme a parte (a) da Figura 26. O deslocamento da linha de restrição orçamentária para baixo e para à esquerda ocorre com a redução da renda de Joaquim. A parte (b) da Figura 26 representa uma redução da renda de Joaquim em R$ 100,00, passando de R$ 500,00 para R$ 400,00. FIGURA 26 - DESLOCAMENTOS DA LINHA DE RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA – RENDA FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) 132 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Igualmente à dinâmica dos preços, a alteração na renda influencia a quantidade de cestas disponíveis e acessíveis ao consumidor. No trecho (a) da Figura 26, o aumento da renda de Joaquim tornou acessível a Cesta M de mercadorias. Mas, a diminuição da renda tornou inacessível a Cesta O de mercadorias, no trecho (b) da Figura 26. 6 O EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR Após compreendermos os limites impostos pela linha de restrição orçamentária, bem como a utilidade proporcionada por diferentes curvas de indiferença, cabe-nos analisar as escolhas dos consumidores perante diversas cestas de mercadorias. A Figura 27 a seguir revela a sobreposição entre a linha de restrição orçamentária e o mapa de indiferença da consumidora Júlia. FIGURA 27 - LINHA DE RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA NO MAPA DE INDIFERENÇA FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) Qual das diferentes cestas de mercadorias que compõem o Mapa de indiferença seria escolhida como a mais preferida? Entre as quatro curvas de indiferença do gráfico, a preferida de Júlia é a curva de indiferença I3, com a opção, por exemplo, em consumir a Cesta C de mercadorias. Contudo, a restrição orçamentária de Júlia não permite o consumo dos itens que compõem a Cesta C ou qualquer cesta que esteja sob a curva de indiferença I3. As cestas de mercadorias possíveis, dentro da restrição orçamentária de Júlia, encontram-se na área cinza do gráfico ou sob a linha de restrição orçamentária. TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 133 Já as curvas de indiferença I0 e I1 possuem cestas de mercadorias aptas a serem consumidas por Júlia, pois, encontram-se dentro dos limites da linha de restrição orçamentária. Assim, as Cestas A e B, por exemplo, que compõem as curvas de indiferença I0 e I1 poderiam ser consumidas por Júlia. Contudo, a opção dos consumidores sempre será por aquela Cesta mais alta possível – com maior quantidade de produtos – e dentro dos limites da linha de restrição orçamentária. Assim, a curva de indiferença mais elevada que possui alguma Cesta de mercadorias dentro dos limites da restrição orçamentária de Júlia é a curva I2. Esta curva de indiferença não ultrapassa os limites da restrição orçamentária e possui a Cesta E, que toca a linha de restrição orçamentária. Por isso, é a curva preferida por Júlia dentre todas as outras que ela pode adquirir, levando em conta a restrição orçamentária. A escolha de Júlia pela Cesta E de mercadorias caracteriza o equilíbrio do consumidor. ATENCAO O equilíbrio do consumidor exatamente na Cesta E se refere ao fato de Júlia ter escolhido a melhor opção que poderia comprar, com maior quantidade de ambos os produtos, não havendo nenhum motivo para refazer sua decisão. Assim, podemos concluir que o ponto de equilíbrio entre as cestas de mercadorias ocorre na tangência entre a linha de restrição orçamentária e a curva de indiferença mais elevada que toca essa linha (GREMAUD et al., 2011). IMPORTANT E A coincidência entre a cesta de mercadorias considerada mais vantajosa e a linha de restrição orçamentária dá origem ao equilíbrio do consumidor. Mas será que este equilíbrio é sempre o mesmo? Ou ainda: quando é que o equilíbrio do consumidor é movido de lugar? Haverá uma mudança no equilíbrio do consumidor sempre que houver alteração na renda do consumidor. Observe a figura a seguir. 134 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR FIGURA 28 - ALTERAÇÃO NO EQUILÍBRIO DO CONSUMIDOR FONTE: Adaptado de Gremaud et al. (2011) Nesta situação o ponto de equilíbrio foi alterado de Eo para E1 devido a um aumento na renda do consumidor – que pode ser observado no deslocamento para à direita da linha de restrição orçamentária. A quantidade de unidades de roupas consumidas passa de 1rq . para 1 rq ; a quantidade de unidades de alimentos consumidos passa de 1aq para 1 aq . Ou seja, o consumo torna-se maior para ambos os produtos. 0 rq 0 aq TÓPICO 3 | A TEORIA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 135 LEITURA COMPLEMENTAR A política de proibição das drogas aumenta ou diminui os crimes relacionados a elas? Um problema persistente enfrentado por nossa sociedade é o uso de drogas ilegais, como a heroína, a cocaína, o ecstasy e o crack. O uso de drogas tem diversos efeitos negativos. Um deles é o fato de que a dependência de drogas pode arruinar a vida dos usuários e de suas famílias. Outro é que os viciados em drogas muitas vezes recorrem ao roubo e a outros crimes violentos para obter o dinheiro de que ecisam para sustentar seu vício. Para desencorajar o uso de drogas ilegais, o governo norte-americano[e, também, o brasileiro] gasta bilhões de dólares por ano para reduzir o fluxo de drogas que entram no país. Vamos usar as ferramentas da oferta e da demanda para examinar essa política de combate às drogas. Suponhamos que o governo aumente o número de agentes federais dedicados ao combate às drogas. O que acontece com o mercado de drogas ilegais? Como de hábito, responderemos a essa pergunta em três etapas. Em primeiro lugar, vamos verificar se as curvas de oferta e demanda se deslocam. Em segundo, vamos verificar a direção do deslocamento. E, em terceiro, vamos ver como o deslocamento afeta o preço e a quantidade de equilíbrio. Muito embora o objetivo de uma política de proibição das drogas seja reduzir seu uso, o impacto direto dessa política recai mais sobre os vendedores que sobre os compradores. Quando o governo impede que algumas drogas entrem no país e prende mais traficantes, aumenta o custo de venda das drogas e, portanto, reduz a quantidade ofertada a qualquer preço dado. A demanda por drogas – a quantidade que os compradores desejam a qualquer preço dado – não muda. Como mostra o painel (a) da figura 1 a seguir, a proibição desloca a curva de oferta para a esquerda, de O1 para O2, e deixa a curva de demanda inalterada. O preço de equilíbrio das drogas aumenta de P1 para P2 e a quantidade de equilíbrio cai de Q1 para Q2. A diminuição na quantidade de equilíbrio mostra que a proibição das drogas reduz seu uso. Mas o que acontece com a quantidade de crimes relacionados às drogas? Para responder a essa pergunta, considere a quantia total que os usuários de drogas pagam pelas drogas que compram. Como são poucos os viciados em drogas que abandonarão seus hábitos destrutivos por causa de um aumento nos preços, é provável que a demanda por drogas seja inelástica, como indica a figura. Se a demanda é inelástica, então um aumento nos preços aumenta a receita total do mercado de drogas. Ou seja, como a proibição das drogas aumenta o preço destas proporcionalmente mais do que reduz seu uso, ela eleva a quantidade total de dinheiro que os usuários pagam pelas drogas que compram. Os viciados que já́ tinham de roubar para sustentar seus hábitos terão uma necessidade ainda maior de dinheiro rápido. Assim, a proibição das drogas pode aumentar o nível de crimes ligados a elas. 136 UNIDADE 2 | ELASTICIDADES E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR Por causa desse efeito adverso da proibição das drogas, alguns analistas sugerem abordagens alternativas para o problema das drogas. Em vez de procurarem reduzir a oferta, os formuladores de políticas deveriam tentar reduzir a demanda por meio de uma política educacional. Uma bem-sucedida política educacional quanto às drogas tem o efeito representado no painel (b) da figura 1. A curva de demanda desloca-se para a esquerda de D1 para D2. Com isso, a quantidade de equilíbrio cai de Q1 para Q2 e o preço de equilíbrio cai de P1 para P2. A receita total, que é o preço multiplicado pela quantidade, também cai. Assim, ao contrário de uma política de proibição das drogas, uma política educacional contra elas pode reduzir tanto seu uso quanto os crimes relacionados a elas. Figura 1 Políticas para reduzir o uso de drogas ilegais FONTE: MANKIW, N. Gregory Princípios de microeconomia. Tradução: Allan Vidigal Hastings, Elisete Paes e Lima. Revisão técnica: Manuel José Nunes Pinto. São Paulo: Cengage Learning, 2013. p. 102-103. 137 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico você viu que: • As cestas de mercadorias são compostas por diferentes produtos que um consumidor adquire dentro um certo tempo. • Haverá diferentes combinações de quantidades de produtos que compõem uma cesta de mercadorias. • Uma curva de indiferença mostra as combinações de consumo que proporcionam ao consumidor o mesmo nível de satisfação. • Cestas de mercadorias que se localizarem à direita e acima da curva de indiferença serão mais preferíveis do que todas as cestas sob a curva de indiferença e mais preferíveis do que aquelas que estiveram à esquerda e abaixo da curva de indiferença. • Um mapa de indiferença reúne todas as curvas de indiferença de um consumidor. • A taxa marginal de substituição é a quantidade de produtos que um consumidor está disposto a trocar para poder consumir uma unidade a mais de um outro produto. • A linha de restrição orçamentária representa o limite das combinações de consumo de bens que o consumidor pode adquirir com base em sua renda. • Conforme o preço dos produtos varia, a linha de restrição orçamentária sofre um deslocamento. • O equilíbrio do consumidor ocorrerá no momento em que uma curva de indiferença coincidir com a linha de restrição orçamentária de um consumidor. 138 1 O que podemos entender por cesta de mercadorias? 2 O que são as curvas de indiferença? 3 O que contém um mapa de indiferença? 4 Como podemos entender a taxa marginal de substituição das cestas de mercadorias? 5 Qual é a importância da linha de restrição orçamentária para compreendermos o comportamento do consumidor? 6 Explique por que o consumidor atinge o equilíbrio no ponto de tangência entre a linha de restrição orçamentária e a curva de indiferença. AUTOATIVIDADE 139 UNIDADE 3 TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você será capaz de: • compreender os princípios microeconômicos; • ter o entendimento das contribuições da microeconomia; • entender a demanda e oferta de mercado; • identificar quando um mercado se encontra em equilíbrio. Esta unidade está dividida em três tópicos, sendo o que ao final de cada um deles, você encontrará atividades que o auxiliarão na apropriação dos conhe- cimentos. TÓPICO 1 – TEORIA DA PRODUÇÃO TÓPICO 2 – TEORIA DOS CUSTOS TÓPICO 3 – MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS, OFERTAS E MERCADOS COMPETITIVOS 140 141 TÓPICO 1 TEORIA DA PRODUÇÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Na Unidade 1 deste livro, você estudou os princípios da Microeconomia, em que foi possível observar que a Teoria Microeconômica permite analisar os fundamentos econômicos a partir dos agentes individuais, ou seja, do produtor e do consumidor. Agora, nesta unidade vamos estudar a Teoria da Firma, e por isso, nosso foco será a eficiência do produtor. Assim, o estudo da Teoria da Firma vai se dividir em Teoria da Produção e a Teoria dos Custos e Rendimentos. Na Teoria da Produção vamos estudar alguns conceitos-chave, que vão ajudar você a compreender: como se dá a eficiência produtiva, quais as variáveis que influenciam na produtividade da empresa, qual é o nível ideal de produção, como as empresas transformam insumos em produtos atrativos? Como as empresas gerenciam as atividades de produção? Como uma firma toma estas decisões com base na minimização de custos e como eles variam com o volume produzido? Na Teoria dos Custos e dos Rendimentos estudaremos os tipos e a forma de cálculo destes custos. Verificaremos que alguns fatores da Teoria da Produção implicam a definição de custos da empresa. Além disso, estudaremos outras questões sobre os rendimentos que ajudarão na tomada de decisão para melhor operacionalizar o negócio. Vamos estudar ainda os mercados competitivos, como eles operam e reagem às modificações das políticas econômicas. Então, vamos lá! UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 142 2 TEORIA DA PRODUÇÃO O estudo da Teoria da Produção inicia-se com o estudo da firma, pois, geralmente, quando nos referimos à produção, a primeira imagem que lembramos é a de uma fábrica, cheia de equipamentos e pessoas trabalhando. Mas o que é uma firma de negócios? “A firma de negócios é uma organização especializada em produção de propriedade de pessoas particulares e operada por elas” (HALL; LIEBERMANN, 2003, p. 180). Podemos dizer que a firma (ou empresa) é o agente responsável pela produção de bens e serviços que venham a atender à necessidade da sociedade. Entretanto, o grande objetivo da firmaque opera no setor privado é a maximização de lucros. Do ponto de vista econômico, o Lucro Total (LT) é a diferença entre a Receita Total (RT) e o Custo Total (CT): LT = RT – CT Para alcançar o máximo de lucro, a empresa utiliza os diversos fatores de produção (ou recursos produtivos) e o fator tempo na transformação de insumos em produtos. Você se recorda o que são os fatores de produção? IMPORTANT E Os fatores de produção são “os elementos que, combinados, permitem a produção dos bens. Em economia, classificam-se em: terra (terras cultiváveis, terrenos, florestas e minas), trabalho (mão de obra) e capital (máquinas, equipamentos, instalações e matérias-primas)” (MONTELLA, 2012, p. 56 – grifo nosso). FIGURA 1 – IMAGEM REPRESENTATIVA DOS FATORES DE PRODUÇÃO FONTE: Disponível em: <https://pt.slideshare.net/CaioRSFilho/aula-7-problema- econmico>. Acesso em: 18 abr. 2018. Terra Trabalho Capital TÓPICO 1 | TEORIA DA PRODUÇÃO 143 Na figura a seguir podemos observar as relações existentes entre a firma e aqueles com quem ela realiza seus negócios. Você observará que no centro do diagrama estão os diretores. A presença deste agente é muito importante em nosso estudo, pois, por diversas vezes, vamos nos referir à firma ou empresa como sendo uma tomadora de decisão. FIGURA 2 – A FIRMA E SUA RELAÇÃO COM OS AGENTES ECONÔMICOS FONTE: O autor Podemos observar ainda nesta figura que o lucro da firma após a dedução dos impostos vai para os proprietários, que inicialmente financiam a firma. As firmas também precisam manter relações de negócios com o Governo, que, por sua vez, cobra os impostos através das leis e regulamentações governamentais. Por outro lado, o Governo oferece serviços governamentais (estradas, pontes, rodovias etc.) para que as empresas possam realizar a logística de sua produção (HALL; LIEBERMANN, 2003). Basicamente as firmas podem ser divididas em dois grupos limites, ou seja, as de uso de capital intensivo e as de uso de mão de obra (BALIAN, 2016). Assim encontraremos, no mercado, empresas mineradoras, montadoras de automóveis, fabricação de alimentos que farão grandes investimentos em capital (máquinas e equipamentos) e, por outro lado, teremos as empresas de tecnologia, como as desenvolvedoras de software, que utilizarão muito mais mão de obra e, por isso, seus investimentos com certeza serão maiores em qualificação profissional. Fornecedores de Insumo Governo Financimaneto Inicial Serviços Governamentais/ Regulamentações Governamentais Receita Lucro depois dos impostos Impostos Produto Insumos Custo do Insumos Proprietários Clientes FIRMA (Direção) UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 144 FIGURA 3 – FLUXOGRAMA DO PROCESSO PRODUTIVO FONTE: Vasconcelos (2015, p. 113) UNI O processo de produção pode ser com mão de obra-intensiva, ou capital- intensivo, ou terra-intensivo (figura acima), dependendo do fator de produção utilizado em maior quantidade, relativamente aos demais. A escolha do processo de produção depende de sua eficiência. A eficiência pode ser avaliada pelo ponto de vista tecnológico ou pelo ponto de vista econômico. Eficiência técnica (ou tecnológica): entre dois ou mais processos de produção, é aquele processo que permite produzir uma mesma quantidade de produto utilizando menor quantidade física de fatores de produção, ou seja, se a produção de uma mercadoria não puder ser aumentada sem que ocorra a diminuição na quantidade produzida da outra mercadoria. Eficiência econômica: entre dois ou mais processos de produção, é aquele processo que permite produzir uma mesma quantidade de produto, com menor custo de produção. Como estudamos na Unidade 1, em economia nossa preocupação são os recursos escassos. Assim, temos que lembrar que os fatores produtivos são limitados e escassos e, por isso, devemos fazer diferentes combinações em função do local e situação em que esses fatores de produção se encontram (aspectos históricos), quando pensamos no que produzir. Mão de obra (N) Capital (K) Matéria-Prima (M) Produto (P) PROCESSO PRODUTIVO IN SU M O S Terra (T) TÓPICO 1 | TEORIA DA PRODUÇÃO 145 Se pensarmos em termos locacionais, em alguns países, como a China, provavelmente a mão de obra deve ser mais intensa do que em países como o Japão, que possui limitações geográficas, porém, é intenso em tecnologia e capital. Em termos históricos, sabemos que na Idade Média toda a economia girava em torno da agricultura. Desta forma, os fatores de produção com maior peso eram terra e mão de obra. Após o advento da Revolução Industrial, com a inserção das máquinas no processo produtivo, a agricultura moderna passou a ser mecanizada e com isso os fatores de produção como o capital e a tecnologia passaram a ter pesos iguais à terra. (MONTELLA, 2012). UNI Produção é o processo pelo qual uma firma transforma fatores de produção adquiridos em produtos/serviços para a venda ao mercado. Fatores são os ingredientes através dos quais a empresa vai processá-los, tais como: mão de obra (N), matéria-prima (M), capital físico (K), área/terra (A), tecnologia (T), capital intelectual (C) etc., de modo a obter produtos e serviços para depois serem oferecidos no mercado (BALIAN, 2016, p. 102). “Processo é a sequência de atividades necessárias para se transformar inputs (entradas) em outputs (saídas)” (BALIAN, 2016, p. 102). O fator tempo é importante por que as questões de produção sempre envolvem dois períodos de tempo nas análises: curto e longo prazo. Curto prazo: é aquele período de tempo no qual no mínimo um fator de produção é fixo (WALL, 2015). Longo prazo: é aquele período de tempo no qual todos os fatores de produção podem sofrer variações (WALL, 2015). De acordo com Miltons (2016, p. 94), as decisões da firma sobre a produção envolvem, basicamente, três aspectos: a) Tecnologia disponível: para produzir certa quantidade de bens, a empresa precisa combinar diferentes quantidades e tipos de insumos. Tal combinação está intimamente ligada à tecnologia, pois empresas com menor automatização, por exemplo, necessitarão de mais mão de obra para produzir que outras do mesmo setor, que disponham de mais equipamentos, por exemplo. b) Custos de produção: com o objetivo de maximizar seus lucros, as empresas procuram minimizar seus custos. c) Insumos: dada a tecnologia e definido o preço dos insumos, a quantidade a ser usada de cada insumo passa a ser fundamental. UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 146 É importante ressaltar que independentemente do tipo de atividade econômica das empresas e de suas particularidades, a Teoria da Firma parte sempre do pressuposto de que o produtor tem por objetivo produzir o máximo possível, com o melhor nível de eficiência e com o menor custo e, com isso, conseguir o maior lucro. 2.1 FUNÇÃO DA PRODUÇÃO Em microeconomia, um dos conceitos mais importantes é a função da produção que expressa a relação entre as entradas (inputs) e as saídas (outputs) de insumos de uma empresa. Ou seja, descreve, de forma gráfica ou matemática, a relação entre a quantidade de fatores de produção e a quantidade máxima de produto final a ser obtida dada certa tecnologia. Para que você compreenda melhor, suponhamos que para produzir a empresa utilize apenas dois insumos: trabalho (L) e capital (K). Desta forma, a função da produção pode ser expressa matematicamente como: q = F(K,L) onde: L = a quantidade utilizada de mão de obra; K = a quantidade utilizada de capital. Analisando a expressão acima, podemos observar que ela nos dá informação de qual a quantidade de produto (q é uma função da quantidade) que utilizaremos dos insumos: capital e trabalho. Ela também demonstra qual é a quantidade máxima do produto q que pode ser produzido a partir de uma combinação dos insumos K e L. Para cada produto ou serviço existente na economia há, teoricamente, uma função de produção diferente. Assim, elas são incontáveise, muitas vezes, não são escritas ou utilizadas, de fato, mas representam de forma relevante a descrição da capacidade produtiva de uma empresa. ATENCAO É importante que você não confunda função de produção com a função da oferta. A função da oferta relaciona a quantidade produzida com os preços dos fatores de produção, a função de produção relaciona fatores de produção à quantidade física do bem produzido (MILTONS, 2016). TÓPICO 1 | TEORIA DA PRODUÇÃO 147 2.2 ANÁLISE DE PRODUÇÃO A CURTO PRAZO Como vimos anteriormente, a questão dos prazos é muito importante nas análises microeconômicas. Assim, agora vamos estudar o comportamento da firma, em situação de curto prazo. Lembrando que quando nos referimos a curto prazo, estamos realizando menção a um período no qual existe pelos menos um dos fatores fixos de produção. 2.2.1 Teoria da produção com um fator fixo Vimos anteriormente que os fatores de produção são três (capital, terra e trabalho). Entretanto, vamos considerar inicialmente nas nossas análises e exemplificações apenas dois fatores: O trabalho (N) como fator de produção variável e o capital (k), incluindo a capacidade instalada, como fator fixo. Fatores de produção fixos – “são aqueles que permanecem inalterados quando a produção varia, por exemplo, o capital físico e as instalações da empresa” (BALIAN, 2016, p. 102). Fatores de produção variáveis – são os que se alteram conforme a quantidade de produção varia, por exemplo, matérias-primas e mão de obra desqualificada (BALIAN, 2016, p. 102). Na análise de curto prazo, com o capital fixo, a função de produção pode ser descrita como: q = f(N). onde: q = quantidade; N = mão de obra (fator variável); K = capital (fator fixo). Dessa forma, a variação da quantidade produzida dependerá da variação da quantidade utilizada do fator variável, a mão de obra. 2.2.2 CONCEITO DE PRODUTO TOTAL, PRODUTO MARGINAL E PRODUTO MÉDIO Antes de encontrarmos a quantidade ótima de produção da firma, observe a definição de Produto Total (PT), Produto Marginal (PMg) e Produto Médio (PMe), conforme Montella (2012): UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 148 Produto Total (PT) é todo o volume produzido em determinado período de tempo. Matematicamente podemos representar a produção total como PT = q Produto Marginal (PMg) é a variação no Produto Total, mais o acréscimo de uma unidade no fator de produção variável. • Se o fator de produção variável for mão de obra, teremos: PMg = ∆PT/∆N • Caso o fator de produção variável seja o capital, teremos: PMg = ∆PT/∆K O Produto Médio (PMe) é a relação entre a quantidade produzida e a quantidade de insumos necessária a essa produção (mão de obra ou capital). Assim, podemos representar o produto médio da mão de obra: PMe = PT/N e a produtividade média do capital como: PMe = PT/K. Vejamos a seguir um exemplo prático da aplicabilidade dos conceitos estudados na Tabela 1. TABELA 1 – PRODUTO TOTAL, MÉDIO E MARGINAL K N PT PMe=PT/N Pmg=∆PT/∆N 10 0 0 - - 10 1 3 3 3 10 2 8 4 5 10 3 12 4 4 10 4 15 3,75 3 10 5 17 3,4 2 10 6 17 2,8 0 10 7 16 2,3 -1 10 8 13 1,6 -3 FONTE: Vasconcelos (2015) Observe na tabela acima que o capital, neste exemplo, se mantém fixo, ou seja, em 10 unidades, o que indica que estamos trabalhando num período de curto prazo. Você pode observar que as variações que ocorreram são somente em relação à mão de obra. Agora, colocando esses dados na curva, obteremos os seguintes gráficos apresentados na figura a seguir: TÓPICO 1 | TEORIA DA PRODUÇÃO 149 FIGURA 4 – CURVAS DE PRODUTO TOTAL FONTE: Vasconcelos (2015, p. 120) FIGURA 5 – CURVAS DE PRODUTIVIDADE MARGINAL MÉDIA E PRODUTO MARGINAL FONTE: Vasconcelos (2015, p. 120) UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 150 2.3 ANÁLISE DA PRODUÇÃO A LONGO PRAZO A análise da produção a longo prazo considera que todos os fatores de produção (mão de obra, capital, instalações, matérias-primas) variam, pois, a longo prazo, você verá no decorrer de seus estudos que não existem fatores fixos de produção. Vamos considerar, como exemplo, que existam apenas dois fatores de produção, a mão de obra (N) e o capital (K). Neste caso, a função produção seria q = f(N, K) Fique atento, neste exemplo, ambos os fatores de produção são variáveis. Assim, podemos representar essa função de produção por uma curva chamada isoquanta. Você sabe o que significa uma isoquanta? A curva isoquanta significa igual quantidade e pode ser definida como sendo uma linha na qual todos os pontos representam infinitas combinações de fatores, que indicam a mesma quantidade produzida (VASCONCELOS, 2015). Vamos a um exemplo prático, imagine que você tenha na empresa vários processos produtivos igualmente eficientes, determinado por um dos fatores de produção (ex.: tecnologia) e, com isso, seja possível produzir a mesma qualidade do bem ou serviço final utilizando qualquer um dos processos que você escolher. Assim, a isoquanta representa em forma de curva as várias combinações entre dois fatores de produção variáveis e, ao final, proporciona para a empresa o mesmo volume de produção. Assim, a isoquanta traz para a empresa uma informação muito importante, pois demonstra para o gestor da produção as possíveis combinações com diferentes quantidades de fatores, cujo volume produzido não se modifica (BALIAN, 2016). Observe na figura a seguir um exemplo de curva de produção isoquanta. FIGURA 6 – EXEMPLO DE UMA CURVA ISOQUANTA DE PRODUÇÃO FONTE: Adaptado de Vasconcelos (2015, p. 121) TÓPICO 1 | TEORIA DA PRODUÇÃO 151 Observe na figura acima que 1.000 unidades do produto podem ser obtidas por várias combinações de insumos, por exemplo, utilizando 2 de K com 15 de N, ou ainda 4 de K com 80 de N. De acordo com Vasconcelos (2015), a curva isoquanta pode apresentar duas características básicas: A curva isoquanta apresenta uma inclinação negativa, pois, para uma mesma quantidade produzida, se aumentar a quantidade de um fator de produção, a quantidade do outro fator tem que ser reduzida, daí a declividade negativa da isoquanta. Essa declividade da curva de isoquanta recebe o nome de Taxa Marginal de Substituição Técnica (TMST), que representa a taxa de intercâmbio de um fator pelo outro, que mantém o mesmo nível de produção. A curva de isoquanta também pode ser convexa em relação à origem, e isso ocorre quando a quantidade de N aumenta em relação à quantidade de K, teremos trabalhadores menos produtivos (menor PMgN) e máquinas mais produtivas (maior PMgK). Em alguns casos, também teremos um conjunto de isoquantas, cada qual mostrando um nível de produção, representando uma família de isoquantas ou um mapa de produção. Ou seja, cada uma das isoquantas corresponde a um nível de produção e a empresa será indiferente a qualquer um dos pontos, uma vez que manterá o mesmo volume de produção. Você pode observar como se comporta esse conjunto graficamente, na figura a seguir: FIGURA 7 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DE UM CONJUNTO DE ISOQUANTAS FONTE: Vasconcelos (2015, p. 122) Vejamos o exemplo a seguir, onde utilizaremos a combinação de dois insumos variáveis para três níveis de produção. UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 152 QUADRO 1 - COMBINAÇÃO DE DOIS INSUMOS VARIÁVEIS PARA TRÊS NÍVEIS DE PRODUÇÃO YA = 1.500 toneladas de aço YB = 2.000 toneladas de aço Yc = 2.500 toneladas de aço Trabalho Capital Trabalho Capital Trabalho Capital 2.000 7.100 - - - - 3.000 5.800 3.000 10.700 5.000 12.500 7.000 2.500 7.000 5.000 7.000 8.900 10.000 1.300 10.000 3.500 10.000 6.500 14.000 800 14.000 2.500 14.000 4.900 FONTE: Souza (2013, p. 79) Observe a tabela acima, em cada uma das isoquantas dos níveis de produção apresentadas no exemplo (YA, YB e YC), a empresa será indiferente a qualquer um dos pontos, por manter o mesmo volume de produção. A escolha de um dos pontos vai depender única e exclusivamente do custo dos fatores. Vejamos, por exemplo, se a mãode obra for mais barata, a empresa fará a escolha de uma combinação que utilize mais mão de obra e menos capital. De acordo com o quadro acima, para produzir 1.550 t de aço (isoquanta YA), a empresa poderá usar o mínimo de trabalho (2.000), com o máximo de capital (7.100) ou, ainda, o máximo de trabalho (14.000) com o mínimo de capital (800). Se aumentar o emprego simultâneo de dois fatores, a empresa passa para uma isoquanta mais alta com YB e YC (SOUZA, 2013). Cabe reforçar que países com escassez de mão de obra e salários altos usam combinações produtivas que envolvem mais capital e menos trabalho (técnicas com capital intensivo) e o mesmo ocorre em países com mão de obra abundante (técnica com trabalho intensivo), a tendência é empregar uma quantidade maior de mão de obra (SOUZA, 2013). UNI A indústria petroquímica e a automobilística são atividades que envolvem capital intensivo, enquanto que a indústria de confecções de calçados é uma atividade que envolve trabalho intensivo (figura a seguir). TÓPICO 1 | TEORIA DA PRODUÇÃO 153 FIGURA 8 - GANHOS EM ESCALA DE PRODUÇÃO FONTE (1): Disponível em: <http://www.motorcar.com.br/cotidiano/industria-automobilistica- cresce-em-julho/>. Acesso em: 20 abr. 2018. FONTE (2): Disponível em: <http://www.exportnews.com.br/2015/01/industria-de-calcados-espera- crescimento-das-exportacoes-em-2015-url-versao-para-impressao-13012015-15h58-sao-paulo- daniel-mello-reporter-da-agencia-brasil-edicao-stenio-ribeiro-a-ass/>. Acesso em: 20 abr. 2018. 2.4 ECONOMIAS DE ESCALA A longo prazo, interessa analisar as vantagens e desvantagens de a empresa aumentar sua dimensão, seu tamanho, o que implica demandar mais fatores de produção. Isso introduz o conceito de rendimentos ou economias de escala. O que acontece com a produção quando variamos igualmente todos os insumos? (Portanto, não alteramos a escassez ou abundância relativa de fator algum. Por isso, não estamos nos referindo aos rendimentos do fator). Ou seja, o que acontece quando aumentamos o tamanho ou escala da empresa? Podemos definir economias de escala tanto do ponto de vista tecnológico como dos custos (conceito mais “econômico”): Economia de escala técnica ou tecnológica: quando a produtividade física varia com a variação de todos os fatores de produção. Economia de escala pecuniária (custos): quando os custos por unidade produzida variam com a variação de todos os fatores de produção. Podemos ter rendimentos crescentes, decrescentes ou constantes de escala. 2.4.1 Rendimentos crescentes de escala Agora vejamos em quais momentos ocorrem os rendimentos crescentes de escala. Uma das formas é quando todos os fatores de produção aumentam numa mesma proporção, isso também implicará o nível de produção, ou seja, a produção crescerá numa proporção maior. Vejamos, por exemplo, se tivermos dois fatores de produção, capital e mão de obra. Suponhamos que tivemos um aumento de 15% sobre a quantidade de mão de obra, isso quer dizer que também teremos um aumento de 15% sobre o capital investido. Neste caso, a produção também aumentará na mesma proporção. UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 154 Assim, de acordo com Balian (2016), do ponto de vista tecnológico, as economias de escala acontecem em virtude das indivisibilidades de produção e da divisão do trabalho. As indivisibilidades na produção referem-se ao fato de que certas unidades de produção só podem ser operadas em condições econômicas se possuírem uma escala ou tamanho mínimo. Da mesma forma, ao aumentar a escala de operações, a produção pode aumentar mais que proporcionalmente. Um exemplo disso são as empresas metalúrgicas, siderúrgicas e automobilísticas. Você já observou como a produção dessas empresas ocorre em escala de operações? Assim, estas empresas se tornam mais produtivas quando suas escalas de operações aumentam. À medida que a escala aumenta, surge, por exemplo, a possibilidade de operar por meio de linhas de montagem, aproveitando-se das vantagens de especialização do trabalho, o que não era possível com as dimensões anteriores da empresa (divisão do trabalho: é mais eficiente e produtivo cada trabalhador realizar uma tarefa apenas, na qual ele se especialize, do que realizar uma série de tarefas) (BALIAN, 2016). Entretanto, se considerarmos algumas operações que são realizadas por agências de publicidade, por exemplo, algumas operações só são possíveis com base em determinado nível mínimo de produção, quando então não devem implicar aumentos significativos de custos. Você alguma vez já contratou o serviço de impressão de folders? Ao realizar um orçamento para a realização deste tipo de serviço, você verá que quanto maior for o número de folders, mais barato fica o custo de produção. Isso ocorre muito também com empresas de grande porte, no momento de solicitar um empréstimo ao banco de desenvolvimento, ou ainda na compra de matéria-prima, pois maiores são suas condições de negociação para obtenção de melhores taxas de juros ou preço mais baixo. 2.4.2 Rendimentos decrescentes de escala Agora veremos como ocorrem os rendimentos decrescentes de escala. Isso ocorre sempre que todos os fatores de produção crescem numa mesma proporção, e a produção cresce numa proporção menor. Tomamos como exemplo a seguinte situação: suponhamos que temos novamente dois fatores de produção, mão de obra e capital e ocorre um aumento de 10% na quantidade de mão de obra e de capital, porém, a produção aumenta somente em 5%. Isso significa que as produtividades médias dos fatores de produção caíram. De acordo com Balian (2016), vários motivos podem levar aos rendimentos decrescentes de escala, por exemplo, a expansão da empresa pode provocar uma descentralização nas decisões que faça com que o aumento de produção não compense o investimento feito na ampliação da empresa. TÓPICO 1 | TEORIA DA PRODUÇÃO 155 O conceito de rendimento decrescente de escala não deve ser confundido com a lei dos rendimentos decrescentes. Esta supõe sempre algum fator de produção fixado no processo de produção (portanto, curto prazo), enquanto os rendimentos de escala representam um conceito de longo prazo, em que não há fatores de produção fixos (BALIAN, 2016). ATENCAO DICAS A META A Meta é um best-seller consagrado, com mais de 2 milhões de exemplares vendidos no mundo e traduzido em mais de 20 idiomas. O livro, adquirido pelo grande público e homens de negócios, foi adotado por mais de 200 faculdades. Escrito em forma de romance, o autor trata dos princípios de funcionamento de uma indústria, questionando o porquê de ela funcionar de determinada forma e como seria possível solucionar os problemas de empresas que estão com atrasos na produção e baixa receita. Com resultados alcançados na prática, o processo de melhoria contínua desenvolvido por Goldratt pode ser aplicado em outras organizações, como bancos, hospitais, seguradoras, e até no ambiente familiar. GOLDRATT, Eliyahu M.; COX, Jeff. A meta: um processo de melhoria contínua. Ed. Nobel, 1984. UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 156 LEITURA COMPLEMENTAR TEORIA DA FIRMA: UMA RELAÇÃO ENTRE A EMPRESA E O MERCADO Por Silvia Ferreira Persechini A Teoria da Firma é um conceito criado pelo economista britânico Ronald Coase, em seu artigo The Nature of the Firm, de 1937. Coase explica que as "firmas" são organizadas para atuarem nos mercados, com o objetivo de diminuir os custos de transação que são os incorporados por terceiros nas negociações econômicas do mercado (custos de informações, custos contratuais etc.). Em outras palavras, para o criador dessa Teoria, os agentes econômicos não atuam diretamente no mercado, as empresas são criadas e estruturadas para tanto1. Nesse particular, Rachel Sztajn registra que: Diferentes técnicas são empregadas pelos agentes econômicos para exercer domínio sobre a informação e o conhecimento disseminados em ambiente social que muda rapidamente.Por isso, para superar essas dificuldades, reduzir riscos e custos inerentes à produção de bens e serviços destinados a mercados, os agentes optam por criar uma outra estrutura, destinada a facilitar o tráfico negocial, organização essa que é a empresa, estrutura hierárquica em que se procura harmonizar esses diversos interesses, ao mesmo tempo em que se diminuem custo de transação.2 A partir dessa concepção foi construída a Teoria da Firma, que estuda o comportamento da unidade do setor da produção. Ela procura explicar a forma de proceder da sociedade empresária quando esta desenvolve a sua atividade produtiva, para a produção de bens ou de serviços com mais eficiência. O mercado é o ambiente virtual onde acontecem as negociações contratuais, a circulação de bens, a celebração de contratos entre sociedades e entre consumidores e sociedades para a aquisição de bens. Para atuar diretamente no mercado, há logicamente os custos de transação. Por isso, depender exclusivamente dele para realizar as trocas econômicas não é eficiente; mormente porque há momentos em que haverá escassez de alguns dos necessários fatores de produção. Por exemplo, de uma mão de obra para se realizar um trabalho específico ou de uma matéria-prima especial. Por isso, há necessidade de se organizar "firmas". Nesse contexto, Ronald Coase apud Rachel Sztajn explica que: TÓPICO 1 | TEORIA DA PRODUÇÃO 157 [...] firmas, como instituição de aprovisionamento para facilitar o fornecimento de bens e serviços nos mercados, são resultado da procura de mecanismos de redução dos custos de transação, custos estes incorridos para ir ao mercado oferecer ou procurar bens e serviços, afirmando que as firmas, empresas "perhaps the most important adaptation to the existence of transaction costs".3 Em outras palavras, Rachel Sztajn destaca que "A firma permite centralizar, organizar a produção, e com isso se reduzem os custos de ir a mercados; as firmas crescem, expandem-se, até que a economia obtida entre o custo de realizar ou organizar qualquer operação internamente seja superior ao custo de realizar a mesma operação via mercados".4 Assim, pode-se dizer que há duas opções de se realizar negociações econômicas: (i) diretamente no mercado e (ii) organizando sociedades empresárias. Nesse particular, Rachel Sztajn expõe claramente: Quem quer oferecer bens ou serviços no mercado, de forma eficiente e lucrativa, pode escolher entre organizar a empresa, isto é, organizar a produção, criar vínculos mais ou menos duradouros entre trabalhadores e fornecedores de matérias-primas e recursos ou recorrer pontualmente ao mercado quando houver necessidades de adquirir matérias-primas, contratar mão de obra ou qualquer dos outros fatores de produção. Essa segunda alternativa é mais arriscada do que a primeira, uma vez que não garante estabilidade nem regularidade de obtenção, para satisfazer às necessidades da produção, de qualquer dos fatores produtivos no mercado. Por isso, a doutrina econômica parte da produção, que se desenvolve ao longo do tempo, pode variar e resulta do trabalho de organização do empresário.5 De acordo com a Teoria da Firma, a organização de sociedades empresárias é necessária para diminuir os custos de transação que recaem sobre o empreendedor, em razão das instabilidades e imperfeições do mercado. Por meio da criação de sociedades empresárias, haverá formações de equipes organizadas (prestadores de serviços e fornecedores de recursos) sob o controle de gestão de um único empresário, o que ensejará uma produtividade mais eficiente. Isso porque as organizações econômicas estarão centradas em contratos de longo prazo, o que gera uma maior estabilidade da produção de bens ou serviços. Por exemplo, contratos de trabalho para a realização de uma tarefa bem específica eliminam a dificuldade da sociedade empresária de conseguir encontrar, no mercado, essa determinada mão de obra. Assim, percebe-se que a atividade empresa, além de envolver o sistema jurídico, no sentido de ser uma atividade econômica organizada para a prestação ou circulação de bens ou serviços, está relacionada com a eficiência da produção, para atingir a redução de custos e a maximização de lucros, sendo, portanto, indispensável a análise de seu conceito econômico. FONTE: Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI82885,91041-Teoria+da+Fir ma+uma+relacao+entre+a+empresa+e+o+mercado>. Acesso em: 15 mar. 2018. 158 Neste tópico você viu que: • A firma é uma unidade de negócios responsável pela transformação de insumos em produtos que atendam à necessidade da sociedade. • A escolha do processo de produção depende de sua eficiência técnica e econômica. • Os fatores de produção podem ser fixos e variáveis. E que no curto prazo sempre teremos um fator fixo e a longo prazo todos os fatores de produção são variáveis. • A curva da isoquanta representa em forma de curva as várias combinações entre dois fatores de produção variáveis e, ao final, proporciona para a empresa o mesmo volume de produção. • Os rendimentos de escala ocorrem quando todos os fatores de produção aumentam numa mesma proporção, isso também implicará o nível de produção, ou seja, a produção crescerá numa proporção maior. RESUMO DO TÓPICO 1 159 1 Diferencie fator de produção fixo do fator de produção variável. 2 Analise as proposições a seguir e assinale a alternativa correta: a) Produtividade média é a variação do produto sobre a variação da quantidade de um fator de produção. b) Produtividade marginal é a relação entre o produto e a quantidade de um fator de produção. c) Produção total é a quantidade produzida de determinado período exclusivamente no longo prazo. d) Produtividade marginal é a variação no Produto Total, mais o acréscimo de uma unidade no fator de produção variável. 3 Explique o que é a economia de escala técnica e a economia de escala pecuniária. AUTOATIVIDADE 160 161 TÓPICO 2 TEORIA DOS CUSTOS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Vimos anteriormente que os custos dos fatores de produção são importantes para a tomada de decisão do empresário, principalmente, para que ele defina seu mapa de produção, ou seja, qual a quantidade que será produzida de cada produto. Mas por que estudar os custos de produção? Assim, podemos dizer que a Teoria dos Custos é um importante complemento à Teoria da Produção, pois apresenta ferramentas de gestão que proporcionam ao empresário uma tomada de decisão mais segura e criteriosa. 2 DIFERENÇAS ENTRE CUSTOS E DESPESAS Antes de iniciarmos nossos estudos sobre os custos, é importante que você saiba diferenciá-los das despesas. Na teoria microeconômica neoclássica ou marginalista, geralmente não realizamos a distinção rigorosa entre os conceitos de custos e despesas, como é feito na contabilidade privada. A definição contábil coloca que custos são os gastos associados ao processo de fabricação de produtos, enquanto despesas são associadas ao exercício social, e alocadas para o resultado geral do período (como despesas financeiras, comerciais e administrativas). Despesas: são desembolsos relaiconados aos goastos com o setor administrativo da firma (Ex.: aluguel do andar do prédio onde está localizado o escritório da empresa). Custos: são desembolsos relativos a fabricação de produtos e/ ou prestação de serviços (Ex.: gastos com os funcionários da fábrica são classificados como custo de produção. Já os custos são normalmente divididos em custos diretos (que correspondem aos custos variáveis, visto mais adiante) e custos indiretos (que se referem aos custos fixos) (BALIAN, 2016). 162 UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 3 DIFERENÇA ENTRE CUSTOS ECONÔMICOS E CUSTOS CONTÁBEIS Existem muitas diferenças entre a ótica utilizada pelo economista e a utilizada nas empresas, por contadores e administradores. Em linhas gerais, pode- se dizer que a visão econômica é mais global, estratégica, visando analisar como as decisõesde preço e produção das empresas afetam a alocação de recursos no mercado, enquanto a ótica contábil-financeira é mais específica, centrando-se no registro e acompanhamento do fluxo financeiro de uma determinada empresa. O contador considera como custos algumas despesas que o economista não consideraria. Podemos citar como exemplo: o contador consideraria as despesas atuais e as despesas ocasionadas pela desvalorização dos equipamentos que são determinadas com base nos documentos fiscais (nota fiscal) e normas da Secretaria da Fazenda de cada Estado brasileiro. Custos contábeis: são aqueles normalmente lançados na contabilidade privada, ou seja, são custos explícitos, que sempre envolvem um dispêndio monetário. São os gastos efetivos contabilizados no balanço da empresa (BALIAN, 2016). Mas quais são os custos que fazem parte dos custos econômicos? Os custos econômicos compreendem todos os custos relevantes para a produção. Além daqueles que já conhecemos, como a mão de obra, matéria- prima e capital, devemos também considerar os custos de oportunidades, que estudaremos a seguir. 4 CUSTOS DE OPORTUNIDADE Os economistas consideram os custos econômicos e os custos de oportunidade como sinônimos. O custo de oportunidade não representa um desembolso de caixa, mas sim, aquele valor que se deixou de ganhar em função de uma oportunidade que não se concretizou (BALIAN, 2016). Os custos de oportunidade de um fator de produção correspondem ao melhor ganho que a empresa obtiver ao empregar este fator de produção em outra atividade que não seja a produção da empresa. Para que você compreenda melhor como isso ocorre na prática, vamos utilizar como exemplo o capital de uma empresa. Quando o capital está em caixa, a empresa pode utilizá-lo em alguma aplicação financeira. Essa aplicação gerará, ao fim de determinado período, um valor de rendimento. Esse rendimento é o custo de oportunidade do capital da empresa. O mesmo ocorre com o aluguel de parte de um imóvel da empresa, o custo de oportunidade será o valor do aluguel dessa área (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2008). TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS 163 Embora os custos de oportunidade quase sempre estão ocultos, eles devem ser considerados nas tomadas de decisões. São vistos como custos ocultos aqueles que não representam, muitas vezes, um desembolso de caixa, mas acontecem indiretamente e por isso não são contabilizados. Podemos citar como exemplo vários acontecimentos: a falta de funcionário que implica um atraso na realização de uma tarefa, o cancelamento de voo provocado por uma nevasca, impedindo a realização de uma reunião para fechamento de um grande pedido de vendas, ou, ainda, os atrasos provocados pelo trânsito nas grandes capitais etc. UNI Os economistas têm um método muito interessante de definir e medir custos. Em vez de perguntar quanto determinada coisa vai custar ou quanto terá de pagar por ela, procuram saber o tipo de sacrifício que precisarão fazer para obtê-la. Essa estranha frase é extremamente reveladora para as pessoas que recorrem a ela com frequência. IMPORTANT E OS CUSTOS OCULTOS E DE OPORTUNIDADE NÃO REPRESENTAM DESEMBOLSOS DE CAIXA. 5 CUSTOS EXPLÍCITOS E IMPLÍCITOS Os custos de oportunidade são importantes para classificarmos os custos totais em custos implícitos e custos explícitos. Custos explícitos envolvem desembolso direto de dinheiro para pagar fatores de produção. Custos implícitos não envolvem desembolso direto de dinheiro, por sua vez, os custos implícitos estão “escondidos”, e, portanto, não são contabilizados. Podem ser classificados em custos ocultos e de oportunidade. 164 UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS QUADRO 2 – PRINCIPAIS CUSTOS EXPLÍCITOS E IMPLÍCITOS Custos explícitos Custos implícitos Aluguel pago Custo de oportunidade de: Juros sobre empréstimos Terreno do proprietário (desistência do aluguel). Salários dos gerentes Dinheiro do proprietário (desistência da renda sobre investimento). Remuneração por hora dos trabalhadores Tempo do proprietário (desistência da renda do trabalho). Custos das matérias-primas FONTE: Hall e Liebermann (2003, p. 195) Digamos que você seja o proprietário de uma loja de calçados no centro de uma cidade, cuja sala comercial também é sua e, por isso, você não precisa pagar o aluguel do espaço. Assim, o seu custo explícito é zero. Isso quer dizer que o imóvel é de graça? Se verificarmos sob a ótica da contabilidade, sim, pois o setor de contabilidade somente considera os valores pagos pela empresa. Já para o economista, não, pois em economia considera-se o sacrifício da oportunidade de tê-lo alugado para outra pessoa. 6 CUSTOS PRIVADOS VERSUS CUSTOS SOCIAIS: Antes de verificarmos a diferença entre custos privados e os custos sociais é preciso que você compreenda o conceito de externalidades. Toda atividade econômica gera benefícios à sociedade, sem receber pagamento por isso (chamadas de externalidades positivas), mas também causa impactos negativos, ou seja, cria custos para a sociedade sem pagar por isso (chamadas de externalidades negativas). De acordo com Balian (2016), as externalidades são as alterações de custos e receitas da empresa devidas a fatores externos à empresa. Desta forma, a partir do conceito de externalidades, vamos diferenciar custos privados e custos sociais. Podemos dizer que custos privados são os desembolsos financeiros que a empresa realiza. Os custos sociais são os custos que são gerados para toda a sociedade, derivados da atividade produtiva da empresa, incluindo assim as chamadas externalidades negativas. Para que você compreenda melhor, suponhamos a construção de uma rodovia estadual: para a construtora (ótica privada), são muito importantes os TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS 165 custos efetivos, como mão de obra, materiais, equipamentos etc. Na visão social, o que importa é analisar quais as externalidades provocadas pelo empreendimento, que poderão ser positivas (aumento do emprego e desenvolvimento do comércio na região) ou negativas (problemas ambientais, poluição, congestionamentos). 7 CUSTOS NO CURTO PRAZO As funções de custos a curto prazo são utilizadas para demonstrar as várias relações entre o custo de produção e o nível de produção da firma. O curto prazo é o período de tempo breve o suficiente para que a firma não possa alterar a quantidade de alguns de seus insumos. À medida que o período de tempo aumenta, os insumos sofrem variações. O período de “curto prazo” também se altera de acordo com os setores da economia, ou seja, poderá ser maior ou menor em alguns do que em outros. Curto prazo: é o período de tempo em que ao menos um fator de produção é constante, geralmente, um ano e o valor a ser pago não se altera neste período (BALIAN, 2016). Os custos podem ser divididos em fixos e variáveis. Os Custos Fixos (CF) são os que a empresa tem e não estão relacionados com as quantidades produzidas, ou seja, se a empresa produzir mais ou menos, ou ainda mesmo que a empresa não produza nada durante um determinado período, eles irão existir. Exemplo: mensalidade de seguros, salário dos funcionários administrativos, pró-labore dos sócios, mensalidade da empresa de segurança etc. Os Custos Variáveis (CV) são os custos que a empresa terá durante o processo produtivo e se alteram de acordo com o volume de produção. Quanto maior for a quantidade de unidades produzidas, maior será o valor a ser desembolsado pela empresa, ou seja, possuem vínculo direto com a produção. Exemplo: comissão de vendas, impostos sobre faturamento e gastos com matérias-primas. Os Custos Totais (CT) compreendem a somatória dos custos fixos com os custos variáveis. Podem ser representados pela equação a seguir: CT = CF + CV Você deve pensar como é difícil separar os custos. Embora pareça uma tarefa simples, mas se considerarmos o dia a dia da organização (com vários clientes para atender, máquinas em manutenção, funcionário faltando,pedido para entregar, entre outras atribulações), vemos que não é fácil essa separação. Mas, o que acontece se eles não forem separados de forma correta? 166 UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS De acordo com Balian (2016), a não classificação correta pode acarretar prejuízos para a empresa, pois muitos dos desembolsos possuem uma parcela fixa e outra variável, por exemplo, o gasto com a folha de pagamento da produção. Ele não é um custo totalmente fixo, mas também não é variável, mesmo se considerarmos que quando as vendas diminuem a empresa poderia dispensar funcionários e recontratá-los quando a demanda se recuperar. Mas esta decisão de dispensar os funcionários em épocas de crise não é tão simples, pois nem sempre você encontrará a mesma mão de obra já qualificada disponível no mercado. Além disso, ao desligar um funcionário, a empresa terá custos com sua rescisão e estes custos nem sempre estão computados no orçamento da empresa. E o custo com treinamento do outro funcionário? Por isso, muitas vezes escutamos nos noticiários ou até vivenciamos na prática que, antes de dispensar um colaborador, a empresa utiliza todas as estratégias possíveis, por exemplo, antecipar o período de férias, diminuir a carga horária diária, e somente quando não tem mais nenhuma alternativa é que são realizados os desligamentos. Exemplo: Empresas automobilísticas. Assim, para que não haja problemas na hora de dividir os custos da mão de obra, cabe à empresa considerar a mão de obra qualificada como custo fixo e a mão de obra operacional, não especializada, como custo variável (BALIAN, 2016). E, quando o custo for de energia elétrica? E se considerarmos que a maioria das empresas solicita um volume de energia elétrica mensal à companhia de eletricidade, ela se compromete a gastar todos os meses esse montante, que passa a ser considerado um custo fixo, e somente o excedente, quando houver, será considerado custo variável (BALIAN, 2016). UNI CUSTOS FIXOS só podem ser eliminados se a empresa deixar de operar. O Custo Total (CT) compreende a somatória dos custos fixos com os custos variáveis. Pode ser representado pela equação: CT = CF + CV As curvas de custos (CT, CV, CF) podem ser representadas conforme figura a seguir: TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS 167 FIGURA 9 – RELAÇÃO GRÁFICA DAS CURVAS DE CUSTOS: TOTAL, FIXO E VARIÁVEL FONTE: Balian (2016) UNI Lembre-se de que os custos são fundamentais na apuração do preço final do produto. Por isso, as empresas possuem um departamento de custos e se utilizam de sistemas específicos para apurar o real gasto na fabricação de um produto. Vejamos agora um exemplo de medição de custos no curto prazo. Observe o quadro a seguir. Nele consideramos um exemplo com dados hipotéticos, e veremos o que ocorre com os custos à medida que a produção se altera a curto prazo. TABELA 3 – CUSTOS DE PRODUÇÃO A CURTO PRAZO (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) Produção (por dia) Capital Trabalho CFT CVT CT CM CFM CVM CTM 0 1 0 75,00 0 75,00 - - - - 30 1 1 75,00 60,00 135,00 2,00 2,50 2,00 4,50 90 1 2 75,00 120,00 195,00 1,00 0,83 1,33 2,17 130 1 3 75,00 180,00 255,00 1,50 0,58 1,38 1,96 155 1 4 75,00 240,00 315,00 2,40 0,48 1,55 2,03 172 1 5 75,00 300,00 375,00 3,53 0,44 1,71 2,18 185 1 6 75,00 360,00 435,00 4,62 0,41 1,95 2,35 FONTE: Hall e Liebermann (2003, p. 196) 168 UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS Observe no quadro acima que nas colunas 3, 4 e 5 estão dispostos três tipos de custos totais (CFT, CVT e CT). Os custos fixos totais (CFT), neste exemplo, não apresentam variações, independentemente do nível de produção. Na coluna 5 temos o valor do custo variável total (CVT), e à medida que a produção aumenta, seus valores sofrem variações. Por exemplo, para produzir 90 unidades, são necessários dois trabalhadores, e para cada trabalhador se paga o valor de R$ 60,00 por dia, ou seja, o CVT será de 2 x R$ 60,00 = R$ 120,00. Mas quando a produção for de 130 unidades, precisaremos de três trabalhadores, logo o CVT será de R$ 180,00. Neste caso teremos como Custo Total (CT) para a produção de 90 unidades o valor de R$ 195,00, ou seja, o valor do CF = R$ 75,00 + CV= R$ 120,00 = R$ 195,00. FIGURA 10 – GRÁFICO DE CUSTOS DE PRODUÇÃO DA FIRMA FONTE: Adaptado de Hall e Liebermann (2003, p. 197) Graficamente, se observarmos a figura acima, veremos que a linha que representa o custo fixo total é uma linha reta, pois ela não se altera de acordo com os níveis de produção. Já as linhas que representam o CT e o CVT são representadas por linhas inclinadas para cima, já que seus custos aumentam de acordo com a produção. Podemos observar ainda a distância vertical entre as linhas, que corresponde ao valor de R$ 75,00 e permanece o mesmo, pois representa o CFT que é a diferença entre CVT e CT. 8 CUSTO MÉDIO E CUSTO MARGINAL Anteriormente estudamos os custos fixos, variáveis e totais no curto prazo, agora vamos aprofundar nosso estudo a partir dos custos médios e marginais. Custo Total Médio (CTMe) = são os custos totais (CF+CV) divididos pela quantidade produzida (produção total). São representados pela função: TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS 169 Custo Total Médio (CTMe) = CustoTotal CT ProduçãoTotal Q = CFT CVT CFT CVTCTMe Q Q Q + = = + Ou, CTMe = CFMe + CVMe Como o custo total pode ser dividido em custo fixo e variável, também podemos calcular o Custo Total Médio em: Custo Fixo Médio (CFMe), que é o custo fixo total dividido pelas quantidades produzidas, e CFMe = CFQ Custo Variável Médio (CVMe), que é a somatória dos custos variáveis dividida pelas quantidades produzidas. CVMe = CVQ Utilizando o quadro anterior, ainda podemos verificar que as colunas 7, 8, 9 e 10 apresentam o valor do custo médio de cada um dos tipos de custos já apresentados. Veremos como se dá este cálculo: Vimos anteriormente que o custo fixo não se altera de acordo com a produção. Entretanto, o custo fixo médio já sofre alterações, pois envolve no cálculo as unidades produzidas. Assim, quando a produção for de 90 unidades por dia, teremos um CFM de R$ R$ 0,83. 75 00 0 83 90 , , CFM = = 170 UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS Se nossa produção for de 130 unidades por dia, o CFM será de R$ 0,58 75 00 0 58 130 , ,CFM = = Observe que à medida que a produção aumenta, o CFM diminui, ou seja, quanto mais a produção aumenta, menor será o custo fixo por unidade produzida. O valor do custo variável médio (CVM) está descrito na coluna 9 do quadro anterior. Observe que quando a produção for de 90 unidades, com um custo variável de R$ 60,00, o CVM será de R$ 1,33. 60 00 1 33 90 , ,CVM = = Ao contrário do que observamos anteriormente com o CFM, o CVM sempre aumentará à medida que a produção aumentar. E o custo Total Médio (CTM)? O custo total médio também é dividido pela quantidade produzida. Assim, para uma produção de 90 unidades teremos um custo total médio de R$ 2,17, ou seja, CTM = CFM + CVM CTM = 0,83 + 1,33 CTM = 2,17 Custo Marginal (CMg): é a adição ao custo total resultante da produção de unidade extra de produção. O custo marginal é um custo variável e matematicamente é calculado dividindo a variação do custo total (∆CT) pela variação da produção (∆Q), representado por: CTCM Q ∆ = ∆ Utilizando ainda o exemplo anterior, podemos observar que o custo marginal (CMg) está inserido no quadro na coluna 7. Desta forma, quando a produção aumenta de 90 para 130 unidades, temos uma variação no custo de R$ 60,00, pois o custo total aumenta de R$ 195,00 para R$ 255,00. Matematicamente teremos um custo marginal (CM) de R$ 1,50: CM = 60 1 50 40 ,= TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS 171 9 CUSTOS A LONGO PRAZO No período de tempo de longo prazo não teremos mais os custos fixos, já que todos os custos se tornam variáveis. Entretanto, é muito importante que você, acadêmico, saiba quais são as ligações entre as curvas de custo médio de curto prazoe as curvas de custo médio de longo prazo. Longo prazo: é aquele período de tempo em que todos os fatores são variáveis, ou seja, com o passar dos anos, o valor sofre reajustes e passar a ser um custo variável (BALIAN, 2016). A longo prazo podemos dizer que a empresa tem muito mais tempo para tomada de decisões. É possível maximizar sua produção e investir na ampliação da sua capacidade instalada, com a construção de uma nova unidade ou o aumento/diminuição da força de trabalho, e quando necessário poderá alterar as suas estratégias e design de produtos. UNI “Para produzir qualquer nível de produto, a firma irá escolher a combinação de insumos que tiver o menor custo” (HALL; LIEBERMANN, 2003, p. 203 – grifo nosso). Você se recorda de que no curto prazo trabalhamos a relação da produção e os custos (tabela XX). Vamos utilizar os mesmos dados para exemplificar a relação de custos no longo prazo. Os dados hipotéticos são referentes à lavação de carros da empresa “Alfa”. QUADRO 3 – CUSTOS DE PRODUÇÃO A LONGO PRAZO (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) Produção (por dia) Capital Trabalho CFT CVT CT CMg CFM CVM CTM 0 1 0 75,00 0 75,00 - - - - 30 1 1 75,00 60,00 135,00 2,00 2,50 2,00 4,50 90 1 2 75,00 120,00 195,00 1,00 0,83 1,33 2,17 130 1 3 75,00 180,00 255,00 1,50 0,58 1,38 1,96 155 1 4 75,00 240,00 315,00 2,40 0,48 1,55 2,03 172 1 5 75,00 300,00 375,00 3,53 0,44 1,71 2,18 185 1 6 75,00 360,00 435,00 4,62 0,41 1,95 2,35 FONTE: Hall e Liebermann (2003, p. 196) 172 UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS Assim, vamos aplicar a regra de menor custo para a empresa Alfa. Vamos considerar que nosso objetivo agora é saber qual é o custo que a empresa terá para lavar 185 carros por dia. Como vimos anteriormente, no curto prazo, para que possamos lavar 185 carros, nossa única opção seria contratar mais mão de obra, ou seja, teríamos um custo total de 6 x R$ 60,00 + R$ 75,00 = R$ 435,00. Mas no longo prazo? Teríamos outra opção? Sim, no longo prazo a empresa Alfa poderia variar tanto o capital (número de linhas automatizadas), quanto a mão de obra (número de trabalhadores) e com isso seus dois fatores produtivos tornam-se dois fatores variáveis. Assim, a empresa poderá fazer várias combinações utilizando capital e mão de obra, utilizando em cada uma das combinações mais ou menos quantidades de cada um dos fatores de produção. Vejamos as possíveis combinações de fatores com base em Hall e Liebermann (2003): Na combinação “A” a empresa utilizaria maior número de mão de obra e nenhum tipo de automação, ou seja, todos os nove trabalhadores lavariam os carros à mão. Na combinação “B” a empresa utilizaria seis trabalhadores e uma linha automatizada. Na combinação “C” a empresa utilizaria quatro trabalhadores e duas linhas automatizadas. Na combinação “D” utilizaria o máximo de linhas automatizadas, 3 linhas, 3 trabalhadores. Agora vamos ver como ficam os resultados do custo total com combinações propostas por Hall e Liebermann (2003), considerando que cada linha automatizada custa R$ 75,00 e cada trabalhador custa R$ 60,00 por dia. QUADRO 4 - SIMULAÇÃO DE QUATRO COMBINAÇÕES (MANEIRAS) PARA LAVAR 185 CARROS POR DIA Combinação Quantidade de capital Quantidade de trabalho Custo (R$) A 0 9 540,00 B 1 6 435,00 C 2 4 390,00 D 3 3 405,00 FONTE: Adaptado de Hall e Liebermann (2003) Como a empresa Alfa tem o objetivo de escolher uma combinação que lhe trará o menor custo possível, podemos observar no quadro acima que a empresa optaria pela combinação C, em que seu custo total seria de R$ 390,00, e as demais opções poderiam ser ignoradas. TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS 173 O Custo total a longo Prazo (CTLP) informa o custo de produção quando a menor opção de custo de produção de cada quantidade de mercadorias for escolhida. No longo prazo, todos os insumos podem ser ajustados da forma que a firma desejar. Então, vejamos o exemplo a seguir proposto por Hall e Liebermann (2003), onde a empresa decidiu fazer uma combinação de produção ao menor custo possível. QUADRO 5 - CUSTOS DE PRODUÇÃO A LONGO PRAZO Produção CTLP (R$) CTLPM (R$) 0 0 - 30 100 3,33 90 195 2,17 130 255 1,96 155 315 2,03 172 360 2,09 185 390 2,11 200 450 2,25 250 650 2,60 300 1.200 4,00 FONTE: Hall & Liebermann (2003) Observe no exemplo do quadro acima que já constam os valores do Custo Total Médio a Longo Prazo (CTMLP). Mas qual é a fórmula para calculá-lo? O CTMLP é determinado através da divisão do custo Total a Longo Prazo (CTLP) dividido pela produção (Q), ou seja, CTLPCTMLP Q = O Custo Total Médio a Longo Prazo informa o custo por unidade quando a empresa tem um conjunto de insumos variáveis e opta por sempre escolher a combinação que lhe dará o menor custo possível. O formato da curva de custo total, custo médio e custo marginal de longo prazo depende da existência ou não de rendimentos de escala. Se a função de produção apresentar rendimentos crescentes de escala, a curva de custo total de longo prazo será côncava e o custo médio e o custo marginal são decrescentes. 174 UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS FIGURA 11 - CURVAS DE CUSTO TOTAL, CUSTO MARGINAL E CUSTO MÉDIO (GANHOS CRESCENTES DE PRODUÇÃO) FONTE: Adaptado de Vasconcelos (2008) Caso a função da produção apresente ganhos decrescentes de escala, a curva de custo total será convexa e as curvas de custo médio e custo marginal serão crescentes. FIGURA 12 - CURVAS DE CUSTO MÉDIO E CUSTO MARGINAL (GANHOS DECRESCENTES DE PRODUÇÃO) FONTE: Adaptado de Vasconcelos (2008) E se a função de produção apresentar rendimentos crescentes de escala, a curva de custo total será representada por uma linha reta na diagonal e as curvas de custo médio e custo marginal serão uma linha reta na horizontal. TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS 175 FIGURA 13 - CURVAS DE CUSTO TOTAL, CUSTO MÉDIO E MARGINAL (RENDIMENTOS CRESCENTES DE ESCALA) FONTE: Adaptado de Vasconcelos (2008) 10 RELAÇÃO ENTRE OS CUSTOS NO LONGO PRAZO E NO CURTO PRAZO Utilizando como base os exemplos anteriores (no curto e longo prazo) e realizando uma comparação entre eles, poderemos observar que o CTLP é menor que o CT, ou seja, a longo prazo a empresa, para lavar 185 carros, teria um custo de R$ 390,00 e a curto prazo seu custo para lavar a mesma quantidade de carros era R$ 435,00. Se você observar as tabelas anteriores, verificará que no Longo Prazo a empresa Alfa tinha quatro maneiras diferentes de lavar os 185 carros e que a curto prazo ela tinha apenas uma opção de lavagem, ou seja, a longo prazo a empresa pôde fazer escolhas de quanto insumo utilizar. Assim, a tendência é que a longo prazo a empresa possa economizar dinheiro. Se compararmos novamente nossos exemplos, podemos verificar que em determinado nível de produção, por exemplo, no caso de lavar 130 carros, o CTLP é igual ao CT, ou seja, R$ 255,00. De acordo com Hall e Liebermann (2003, p. 205), esse resultado será verdadeiro para qualquer tipo de empresa. “No longo prazo, o custo total de produzir determinado nível de produto pode ser menor ou igual, mas nunca maior que o custo total no curto prazo (CTLP ≤ CT)”. O economista utiliza a nomenclatura “planta” para o conjunto de insumos fixos que a firma tem à sua disposição. Por exemplo, consideramos como planta para a empresa Alfa as linhas automatizadas de lavação que ela possui. 176 UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS FIGURA 14 – EXEMPLO DE LINHAS AUTOMATIZADAS DE LAVAÇÃO DE CARROS FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8WUyYzRuKFs>(a). FONTE: Disponível em: <https://jetwash.pt/loja/carros/lavagem-automatica/mix- tecnosmart-2-lavagem-automatica-carros/>.(b) Assim, a partir do momento em que a empresa adquira novas unidades de linha automatizada, ela terá uma planta bem maior e diferente, conforme observamos na imagem acima. UNI No longo prazo, a empresa poderá alterar sua planta (realizar ampliação) e a curto prazo ela não terá opção de ampliaçãoda planta (ficará com a planta atual). O custo total médio nos dá a informação do custo total por unidade da firma no curto prazo (quando a empresa tem uma planta única). E a longo prazo? A empresa precisa desenvolver uma planta para cada uma das combinações que escolheu. Graficamente, a relação entre o custo total a curto prazo e a longo prazo pode ser representada conforme imagem a seguir. TÓPICO 2 | TEORIA DOS CUSTOS 177 FIGURA 15 – GRÁFICO DA RELAÇÃO ENTRE O CUSTO TOTAL A CURTO PRAZO E LONGO PRAZO FONTE: Vasconcelos (2008, p. 160) 178 UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS LEITURA COMPLEMENTAR LIÇÕES DE UMA FÁBRICA DE ALFINETES “Quem tudo faz, nada sabe”. Esta frase se aplica por que as empresas às vezes usufruem de economias de escala. Alguém que tenta fazer tudo geralmente acaba fazendo tudo mal. Se uma quer que seus trabalhadores sejam mais produtivos que puderem, muitas vezes é melhor confiar a cada um uma tarefa limitada que possa ser dominada. Entretanto, isso só é possível se a empresa tem muitos trabalhadores e gera uma grande quantidade de produto. Em seu famoso livro A Riqueza das Nações, Adam Smith descreveu uma visita que fez a uma fábrica de alfinetes. Smith ficou impressionado com a especialização entre os trabalhadores com as economias de escala resultantes. Ele escreveu: Um homem estende o arame, outro o estica, um terceiro o corta, um quarto lhe deixa com ponta, um quinto lixa o topo para receber a cabeça; a feitura da cabeça requer duas ou três operações distintas; encaixá-las é uma atividade peculiar; branqueá-la é outra; até mesmo embalá-los é um negócio por si só. Smith relatou que graças à especialização, a fábrica de alfinetes produzia milhares de alfinetes por trabalhador por dia. Ele conjeturou que, se os trabalhadores tivessem optado por trabalhar separadamente e não como uma equipe de especialistas, “eles certamente não poderiam, cada um por si só, fazer sequer 20 alfinetes por dia”. Em outras palavras, por causa da especialização, uma grande fábrica de alfinetes pode atingir uma maior produção por trabalhador e um menor custo por alfinete do que uma fábrica de alfinetes menor. A especialização que Smith observou na fábrica de alfinetes prevalece na economia moderna. Se você quer construir uma casa, por exemplo, pode tentar fazer tudo sozinho, mas muitas pessoas recorrem a um construtor, que, por sua vez, contrata carpinteiros, encanadores, eletricistas, pintores e muitos outros tipos de trabalhadores. Esses trabalhadores especializam-se em atividades específicas, e isso lhes permite fazer melhor o seu trabalho do que se fossem generalistas. Na verdade, o uso da especialização para alcançar economias de escala é um dos motivos pelos quais as sociedades são tão prósperas. Fonte: MANKIW, Gregory. Princípios de microeconomia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005, p. 283. 179 Neste tópico, você aprendeu que: • Os custos são muito importantes para que a empresa possa traçar estratégias de comercialização. • Os custos podem ser fixos ou variáveis. • A curto prazo a empresa não consegue realizar grandes alterações em seu custo de produção. • A visão econômica de custos se diferencia da visão contábil. • Para o economista, o valor econômico é importante para que a firma possa definir o preço de seu produto, bem como, verificar a viabilidade de seu empreendimento. • Para os economistas, a planta é o espaço geográfico onde a firma está instalada. RESUMO DO TÓPICO 2 180 AUTOATIVIDADE 1 Considere as seguintes informações de custos de um restaurante. Quantidade (dúzias) Custo Total (R$) Custo Variável (R$) 0 300 0 1 350 50 2 390 90 3 420 120 4 450 150 5 490 190 6 540 240 Com base nos dados do quadro acima, responda: a) Qual é o valor do custo fixo? b) Construa uma tabela e calcule o custo médio por dúzias de pizzas a partir das informações do custo total. 181 TÓPICO 3 MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS, OFERTAS E MERCADOS COMPETITIVOS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO As firmas sempre buscam a maximização de seus lucros. Mas, antes de chegar a este resultado, elas precisam traçar estratégias que levam em conta a tomada de decisões em relação a quanto produzir e qual o valor que deverá ser cobrado pelo produto. De acordo Hall e Liebermann (2003), em 1996, a empresa Nintendo America lançou um produto que no futuro seria campeão de vendas – o videogame, que possibilitava ao jogador muitas aventuras, como voar, pular e nadar, proporcionando muitas fantasias. Mas, na sequência, vieram perguntas difíceis de serem respondidas, por exemplo, onde lançar o produto? Como captar recursos para financiar os custos de produção? Quanto deveria gastar com publicidade? E o principal, quanto deveria cobrar pelo produto? Exemplos como estes ainda fazem parte do dia a dia das firmas. Entretanto, vamos iniciar nossos estudos verificando o que é um mercado competitivo, e na sequência veremos por que as empresas objetivam maximizar seus lucros e como elas realizam suas escolhas de produção para alcançar este objetivo. 2 MERCADOS COMPETITIVOS Caro acadêmico! O modelo de competição perfeita se baseia em três pressupostos básicos que estudaremos detalhadamente a partir de agora, com base em Pindick e Rubenfeld (2013). O primeiro pressuposto coloca que as empresas são tomadoras de preço, ou seja, empresas não têm influência sobre o preço de mercado e, portanto, seguem o preço determinado pelo mercado. Para que você compreenda melhor essa dinâmica, vamos considerar uma empresa distribuidora de produtos de limpeza. Os produtos de limpeza são comprados de uma fábrica e revendidos no atacado para pequenos comerciantes e lojas de varejo. Porém, você é apenas um dos muitos que realizam a distribuição deste produto. Como resultado, não consegue fazer uma boa negociação com UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 182 os clientes e, se não ofertar os produtos com preços competitivos, seus clientes buscarão outro distribuidor. E a sua quantidade de vendas também não é significativa a ponto de influenciar seu preço de atacado. Neste caso, portanto, você é considerado um tomador de preço. Da mesma forma que as empresas, os consumidores também são tomadores de preços. No mercado competitivo, cada consumidor compra apenas uma parte do total produzido, e por isso suas compras não influenciam significativamente no preço, ficando o consumidor obrigado a aceitar o preço estabelecido pelo mercado. O segundo pressuposto coloca que há homogeneidade dos produtos e, com isso, as empresas cujos produtos são homogêneos não podem praticar um preço acima do preço de mercado, pois perderiam parte ou todos os seus negócios. Isso ocorre muito com produtos agrícolas, a diferença entre eles é mínima e o produtor não se apega em particularidades no momento da compra, ou seja, não verificará em qual local este foi aplicado e apresentou melhor resultado, seu determinante para fechar o negócio é o preço do produto praticado no mercado. Os economistas costumam se referir a produtos homogêneos como commoditties. UNI Commodities (significa mercadoria em inglês) podem ser definidas como mercadorias, principalmente minérios e gêneros agrícolas, que são produzidas em larga escala e comercializadas em nível mundial. As commodities são negociadas em bolsas de mercadorias, portanto, seus preços são definidos em nível global, pelo mercado internacional. As commodities são produzidas por diferentes produtores e possuem características uniformes. Geralmente, são produtos que podem ser estocados por um determinado período de tempo sem que haja perda de qualidade. As commodities também se caracterizam por não ter passado por processo industrial, ou seja, são geralmente matérias-primas. Existem quatro tipos de commodities: Commodities agrícolas: soja, suco de laranja congelado, trigo, algodão, borracha, café etc. Commodities minerais: minério de ferro, alumínio, petróleo, ouro, níquel,prata etc. Commodities financeiras: moedas negociadas em vários mercados, títulos públicos de governos federais etc. Commodities ambientais: créditos de carbono. O Brasil é um grande produtor e exportador de commodities. As principais commodities produzidas e exportadas por nosso país são: petróleo, café, suco de laranja, minério de ferro, soja e alumínio. Se por um lado o país se beneficia do comércio destas mercadorias, por outro o torna dependente dos preços estabelecidos internacionalmente. Quando há alta demanda internacional, os preços sobem e as empresas produtoras lucram muito, porém, num quadro de recessão mundial, as commodities se desvalorizam, prejudicando os lucros das empresas e o valor de suas ações negociadas em bolsa de valores Fonte: Disponível em: <https://www.suapesquisa.com/o_que_e/commodities.htm - Acesso em 15/01/2018>. Acesso em: 20 abr. 2018. TÓPICO 3 | MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS, OFERTAS E MERCADOS COMPETITIVOS 183 O terceiro pressuposto faz referência à livre entrada e saída de empresas no mercado. Significa que a empresa não terá um custo extra para entrar, sair ou obter lucro no mercado. Assim, é muito normal as empresas mudarem de fornecedores sempre que lhes for conveniente. Mas o que seriam estes custos extras? Vejamos, por exemplo, uma indústria farmacêutica. Para que uma indústria farmacêutica se estabeleça no mercado, ela depende de patentes que lhe garantem exclusividade para a produção de certos medicamentos. Geralmente, este tipo de empresa realiza muito investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para obter os melhores medicamentos ou ainda compra licenças de outros laboratórios. Esses altos investimentos podem ser os limitadores para que outras empresas entrem no mercado e tal característica faz com que a indústria farmacêutica não seja um mercado perfeitamente competitivo. Quando um mercado é altamente competitivo? Com exceção da agricultura, poucos mercados são perfeitamente competitivos, considerando que há ampla liberdade para que as empresas entrem ou saiam do mercado. De acordo com Pindyck e Rubenfield (2013, p. 273), “muitos mercados são altamente competitivos no sentido de que as empresas se defrontam com curvas de demanda com elevada elasticidade e relativa facilidade de entrada e saída”. De acordo com os autores, não existe uma regra que possa ser aplicada para a identificação de mercados que estão próximos da competição perfeita. A presença de muitas empresas não é condição suficiente para afirmar que o mercado é competitivo. Estudaremos como se dá a competição dos mercados, ao estudarmos as estruturas de mercados. Desta forma, considerando os três pressupostos para um mercado totalmente competitivo, a análise do comportamento dos preços poderá ser realizada observando as curvas de oferta e de demanda de mercado, como veremos a seguir. 3 POLÍTICA DE MAXIMIZAÇÃO DE LUCROS DAS EMPRESAS No decorrer de nossos estudos, você já pôde perceber que as firmas, independentemente de seu tamanho, são organizações complexas que envolvem muitas pessoas, processos e inovações tecnológicas. Os proprietários das empresas têm um único objetivo, a maximização do lucro. Você se recorda o que é lucro? O lucro é definido como a receita das vendas das firmas, subtraindo seus custos de produção. Ao deduzirmos do valor da receita total, somente os custos reconhecidos pelos contadores, teremos a seguinte definição de lucro: UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 184 LUCRO CONTÁBIL = RECEITA TOTAL – CUSTOS CONTÁBEIS Em termos econômicos, a visão dos custos é mais ampla, em que o proprietário vê o custo de oportunidade, que é o valor total de tudo que é sacrificado para produzir os produtos. Neste sentido, na definição econômica, ao contrário dos contadores que reconhecem os custos explícitos (remuneração e despesas com matérias-primas), também são considerados os custos implícitos e, assim, se forma uma nova concepção de lucro: LUCRO ECONÔMICO = RECEITA TOTAL – TODOS OS CUSTOS DE PRODUÇÃO = RECEITA TOTAL – (Custos explícitos + Custos implícitos) Assim, saber diferenciar o lucro econômico e o lucro contábil é muito importante para a empresa, de modo que não surjam problemas futuros. Vejamos o exemplo a seguir para entendermos melhor a importância dessa diferenciação: Imagine uma empresa que produza bolas de futebol e você queira calcular seu lucro durante o ano. O escritório de contabilidade lhe fornece as seguintes informações: Receita Total das vendas das bolas R$ 150.000,00 Custo da matéria-prima R$ 20.000,00 Remuneração e salários R$ 60.000,00 Gastos com energia e telefone R$ 18.000,00 Custos com publicidade e propaganda R$ 5.000,00 Custo explícito total R$ 103.000,00 Lucro Contábil R$ 47.000,00 Teoricamente observando neste exemplo, poderíamos concluir que a empresa teve êxito, pois, ao final do ano ela apresentou um lucro de R$ 47.000,00. Mas, se olharmos pela ótica econômica, veremos que seu resultado não foi interessante, pois deixou de contabilizar alguns custos, como o valor investido para iniciar o negócio foi de R$ 100.000,00, as salas de sua casa que estão sendo utilizadas como fábrica poderiam ser alugadas por R$ 5.000,00, as horas de trabalho despendidas para gerenciar o empreendimento em tempo integral poderiam receber R$ 45.000,00 de salário. Então, se considerarmos todos estes custos implícitos, o valor investido de R$ 100.000,00 poderia estar aplicado e você receberia juros (R$ 6.500,00), as salas poderiam ser alugadas e gerariam um valor de aluguel anual (R$ 5.000,00), e suas horas de dedicação integral, você poderia estar trabalhando em outra atividade que lhe gerasse renda extra (R$ 45.000,00). TÓPICO 3 | MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS, OFERTAS E MERCADOS COMPETITIVOS 185 FIGURA 16 – VISÃO ECONÔMICA X VISÃO CONTÁBIL DO LUCRO FONTE: Os autores Então vejamos como ficaria o cálculo do lucro econômico. Receita total das vendas das bolas R$ 150.000,00 Custo da matéria-prima R$ 20.000,00 Remuneração e salários R$ 60.000,00 Gastos com energia e telefone R$ 18.000,00 Custos com publicidade e propaganda R$ 5.000,00 Custo explícito total R$ 103.000,00 Renda de investimento não realizado R$ 6.500,00 Aluguel não recebido R$ 5.000,00 Salário não recebido R$ 45.000,00 Custo implícito total R$ 56.500,00 Custos totais R$ 159.500,00 Lucro econômico R$ -9.500,00 Observando o exemplo acima, podemos concluir que a firma de bolas de futebol não é lucrativa, pois, no final deste ano, a empresa apresenta uma perda de R$ 9.500,00, que não representam desembolsos financeiros para empresa, mas sim um custo oportunidade que seu proprietário teve (tempo que sacrificou para dirigir a empresa). LUCRO ECONÔMICO LUCRO CONTÁBILCustos Explícitos R EC EI TA VISÃO ECONÔMICA VISÃO CONTÁBIL C us to d e O po rt un id ad es R EC EITA Custos Implícitos Custos Implícitos UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 186 UNI A medida adequada do lucro para entender e prever o comportamento das firmas é o lucro econômico, que reconhece os custos de oportunidades da produção (custos implícitos e explícitos). 4 AS RESTRIÇOES DA FIRMA E A MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO Quando falamos em maximização do lucro, precisamos lembrar que as firmas não são livres para obter qualquer nível de lucro. Elas enfrentam restrições que impõem limites tanto em suas receitas quanto em seus custos. Essas restrições são oriundas de um conceito que já estudamos anteriormente, a curva de demanda. A curva de demanda nos dá a informação da quantidade que o consumidor deseja adquirir de determinado bem ou serviço. A curva de demanda que a firma enfrenta “informa, para diferentes preços, a quantidade de clientes que escolherão comprar daquela firma” (HALL; LINBERMANN, 2003, p. 225). Vamos a um exemplo prático adaptado de Hall e Liebermann (2003), de uma empresa Delta que produz estruturas metálicaspara janelas. Podemos observar no quadro a seguir que o fabricante poderá cobrar diferentes preços por cada uma das estruturas, bem como o número que conseguiria produzir por dia. QUADRO 6 – CURVA DE DEMANDA QUE A FIRMA ENFRENTA Preço (R$) (1) Produção (q) (2) Receita Total (R$) (3) Custo Total (R$) (4) Lucro (R$) (5) 650,00 0 0 300,00 -300,00 650,00 1 650,00 700,00 -50,00 600,00 2 1.200,00 900,00 300,00 550,00 3 1.650,00 1.000,00 650,00 500,00 4 2.000,00 1.150,00 850,00 450,00 5 2.250,00 1.350,00 900,00 400,00 6 2.400,00 1.600,00 800,00 350,00 7 2.450,00 1.900,00 550,00 300,00 8 2.400,00 2.250,00 150,00 250 9 2.250,00 2.650,00 -400,00 200 10 2.000,00 3.100,00 -1.100,00 FONTE: Adaptado de: Hall e Liebermann (2003) TÓPICO 3 | MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS, OFERTAS E MERCADOS COMPETITIVOS 187 Na imagem a seguir podemos observar graficamente a curva de demanda que a firma de estruturas metálicas enfrenta. FIGURA 17 - GRÁFICO DA CURVA DE DEMANDA QUE A FIRMA ENFRENTA FONTE: Adaptado de Hall e Liebermann (2003) Podemos observar no quadro acima que a receita total (coluna 3) corresponde ao valor de recebimento das vendas de um determinado produto da firma. Ao determinar seu nível de produção, ela também determina o valor de sua receita. A receita total é o número de unidades total de produtos (coluna 2) multiplicado pelo preço unitário (coluna 1). Observe que ao produzir três unidades de estruturas metálicas, ao preço de R$ 550,00 cada, a firma terá uma receita total no valor de R$ 1.650,00. Como a curva de demanda inclina-se para baixo, cada vez que a firma aumentar sua produção, ela terá que reduzir seu preço, ou não conseguirá vender todos os produtos. À medida que as vendas aumentarem com um preço menor, sua receita total poderá aumentar ou diminuir. Podemos observar também que a empresa possui uma restrição de custos. Observe que se a empresa vender sua produção (nove unidades) a um preço de R$ 250,00 ela terá um prejuízo de R$ 400,00. De acordo com Hall e Liebermann (2003), a firma enfrenta restrições que limitam sua capacidade de obter lucro. Para cada nível de produção que a firma escolher, sua curva de demanda determina o preço que ela pode cobrar e a receita total que receberá com as vendas. Sua tecnologia e o preço dos insumos são os determinantes do seu custo total com o qual ela deverá arcar. UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 188 5 NÍVEL DE PRODUÇÃO PARA A MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS A CURTO E LONGO PRAZO Vimos anteriormente que a planta da firma é de fundamental importância para que empresa tome decisões quanto ao seu nível de produção, principalmente no curto prazo, quando não tem opção de realizar as alterações necessárias, o que faz com que ela opere com uma quantidade fixa de capital e escolha entre os níveis de insumos variáveis (trabalho e matéria-prima). Para compreendermos melhor a maximização do lucro de uma empresa que opera em um mercado competitivo, vamos utilizar como exemplo: a Empresa Alfatec de produção de queijo. A empresa Alfatec é uma empresa familiar que produz uma quantidade Q de queijo e vende cada unidade ao preço P. Sabemos que a receita total da empresa é determinada por Q x P, por exemplo, o quilo do queijo é de R$ 6,00 e a empresa vende um total de 1.000 quilos, sendo que o valor da receita total é de R$ 6.000,00. A empresa Alfatec é pequena em comparação ao mercado mundial e por isso não determina o preço do mercado. E por isso, se expandir a sua produção, o preço do queijo se manterá constante somente. A sua receita proporcional é que será equivalente à sua produção. Mas, como o objetivo da empresa é a maximização do lucro, veremos como sua decisão conduz a sua curva de oferta. Inicialmente, vamos começar nossa análise a partir da tabela a seguir com um exemplo de maximização de lucro da empresa Alfatec. QUADRO 7 - MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO DA EMPRESA Quantidade Receita Total Custo Total Lucro Receita Marginal Custo Marginal Variação do Lucro (Q) (RT) (CT) (RT-CT) (RMg=∆RT/∆Q) (CMg=∆CT/∆Q) (RMg-CMg) 0 0 3,00 -3,00 6,00 0 0 1 6,00 5,00 1,00 6,00 2,00 4,00 2 12,00 8,00 4,00 6,00 3,00 3,00 3 18,00 12,00 6,00 6,00 4,00 2,00 4 24,00 17,00 7,00 6,00 5,00 1,00 5 30,00 23,00 7,00 6,00 6,00 0,00 6 36,00 30,00 6,00 6,00 7,00 -1,00 7 42,00 38,00 4,00 6,00 8,00 -2,00 8 48,00 47,00 1,00 6,00 9,00 -3,00 FONTE: Adaptado de Mankiw (2005) TÓPICO 3 | MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS, OFERTAS E MERCADOS COMPETITIVOS 189 Observe no quadro acima que na primeira coluna temos a quantidade de quilos de queijo que a firma produz. Na segunda coluna, a receita total (R$6,00 x Q). Na terceira coluna temos o custo total da fazenda, que são R$ 3,00 de custos fixos e os custos variáveis que dependem da produção. Na quarta coluna, temos o valor do lucro. E podemos verificar que a firma terá o maior lucro quando ela produzir quatro ou cinco quilos de queijo. A figura a seguir nos mostra graficamente como se comporta a curva de custo marginal e a decisão de oferta da empresa. FIGURA 18 – MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO PARA EMPRESA COMPETITIVA FONTE: Mankiw (2005, p. 294) Observe na figura acima que, ao produzir Q1, sua receita marginal (RMg1) é maior que o custo marginal (CMg1), isso significa que, se a empresa aumentasse sua receita marginal (RMg) e seu custo marginal (CMg) em uma unidade, sua receita adicional (RMg1) excederia seus custos adicionais (CMg1). E, consequentemente, o lucro (receita total – custo total) aumentaria. Assim, quando a receita marginal é maior que o custo marginal, a empresa pode aumentar seu lucro, aumentando a produção. Já no caso de Q2, observamos que o custo marginal é maior que a receita marginal e, caso a empresa reduzisse a produção em uma unidade, conseguiria superar a receita perdida. Neste caso, se a receita marginal for menor que o custo marginal (como ocorre em Q2), a empresa pode aumentar seu lucro reduzindo a produção (MANKIW, 2005). Assim, independentemente se a empresa partir de um nível de produção baixo como Q1 ou alto como Q2, ela poderá realizar ajustes de produção até que chegue ao Qmax. Tal análise demonstra uma regra geral de maximização do lucro, segundo Mankiw (2005, p. 295): “no nível de produção que maximiza o lucro, a receita marginal e o custo marginal são exatamente iguais”. UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 190 5.1 DECISÃO DE PARALISAR AS ATIVIDADES NO CURTO PRAZO Vimos, no exemplo anterior, a questão de quanto uma empresa competitiva deverá produzir para maximizar seu lucro, mas em alguns casos podemos observar que, dependendo da situação, a empresa poderá optar por paralisar suas atividades e nada produzir. Isso não quer dizer que ela saia do mercado, a paralisação refere-se a algo temporário. Para ficar mais claro para você, acadêmico, é importante verificarmos a diferença entre “sair do mercado” e “paralisação temporária”. UNI Paralisação é uma decisão de curto prazo de não produzir nada por um período determinado de tempo devido às condições atuais de mercado (MANKIW, 2005). Saída do mercado é uma decisão de longo prazo de deixar o mercado (MANKIW, 2005). Mas temos que lembrar que, principalmente nas decisões de curto prazo, as empresas permanecem com seu custo fixo e que a longo prazo elas poderão eliminá-lo. Da mesma forma, em algumas situações, como no caso da agricultura, se o produtor decidir não produzir mais nada em suas terras por uma estação, ou seja, a curto prazo, ele terá um custo fixo chamado de custo irrecuperável, pois o custo das terras é seu custo fixo. Se optar por não produzir nada, a terra ficará ociosa e ele não conseguirá recuperar estes custos. Entretanto, se a decisão for parar de produzir definitivamente, ele poderá recuperar este custo fixo vendendo suas terras. UNI “Os economistas dizem que um custo é um custo irrecuperável quando já ocorreu e não pode ser recuperado [...] não pode ser evitado, independentemente das opções que faça [...]” (MANKIW, 2005,p. 297). TÓPICO 3 | MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS, OFERTAS E MERCADOS COMPETITIVOS 191 Mas, em que caso a empresa toma a decisão de paralisar suas atividades? Geralmente, as empresas optam por parar as atividades a partir do momento em que sua receita total é menor que seu custo variável de produção. Assim, a empresa poderá optar em paralisar nas seguintes situações: • Se RT < CV (Receita Total menor que Custo Variável). • Se RT/Q < CV/Q (Receita Total dividida pela quantidade menor que Custo variável dividido pela quantidade de produtos). • Se P < CVM (preço menor que custo variável médio). Graficamente podemos representar esta decisão, conforme figura a seguir: FIGURA 19 – CURVA DE OFERTA DE CURTO PRAZO DAS EMPRESAS COMPETITIVAS FONTE: Mankiw (2005, p. 297) 5.2 A DECISÃO DA EMPRESA DE ENTRAR EM UM MERCADO OU SAIR NO LONGO PRAZO Veremos agora que a decisão de uma empresa em deixar o mercado no longo prazo é bem semelhante à decisão de paralisar suas atividades. Geralmente, esta decisão ocorre quando a receita que obteria com a produção for menor que seus custos totais. Assim, a empresa tomará esta decisão sempre que: • Se a RT < CT (receita total menor que Custo Total). • Se RT/Q<CT/Q. • Se P < CTM. UNIDADE 3 | TEORIA DA FIRMA E MERCADOS COMPETITIVOS 192 Em suma, podemos dizer que a empresa tomará a decisão de sair do mercado sempre que seu preço for inferior ao seu custo médio de produção. Vejamos, na figura a seguir, como se comporta a curva de oferta de longo prazo. FIGURA 20 – CURVA DE OFERTA DE LONGO PRAZO DAS EMPRESAS COMPETITIVAS FONTE: Mankiw (2005, p. 299) E o que leva a empresa a entrar num mercado competitivo? A empresa entrará no mercado se o empreendedor ver a possibilidade de o negócio ser lucrativo, ou seja, quando o preço do bem superar o custo total médio de produção. Desta forma, o critério de entrada matematicamente pode ser expressado por: Se P> CTM (Preço maior que o custo total médio). 6 CURVA DE OFERTA EM UM MERCADO COMPETITIVO A análise da curva de oferta em um mercado competitivo envolve duas situações distintas: a primeira diz respeito à oferta no mercado com um número fixo de empresas (curto prazo); e a segunda análise corresponde a um mercado variável devido à saída de empresas antigas, bem como a entrada de novas empresas no mercado (longo prazo). A oferta do mercado com um número fixo de empresas, em que um número expressivo de empresas a qualquer preço, cada uma fornece uma quantidade de produtos ao custo marginal igual ao preço e sua curva de oferta será representada por sua curva do custo marginal. E, como as empresas são iguais, a oferta ao mercado será x vezes maior do que a quantidade que cada empresa oferta, conforme observamos na imagem a seguir. TÓPICO 3 | MAXIMIZAÇÃO DOS LUCROS, OFERTAS E MERCADOS COMPETITIVOS 193 FIGURA 21 - OFERTA DE MERCADO COM NÚMERO FIXOS DE EMPRESAS FONTE: Mankiw (2005, p. 301) Já no longo prazo, trabalhamos com a oferta do mercado com entrada e saída de empresas. A decisão para uma empresa deixar o mercado ou entrar nele vai depender muito do tipo de incentivo que esteja recebendo naquele momento. De acordo com Mankiw (2005, p. 302), “ao fim do processo de entrada e saída, as empresas que ficarem no mercado deverão ter lucro econômico igual a zero”. Entretanto, uma empresa só poderá apresentar lucro zero se o preço do bem for inferior ao custo total médio da produção. 194 Neste tópico, você aprendeu que: • Um mercado perfeitamente competitivo baseia-se em três pressupostos: empresas tomadoras de preço; homogeneidade de produtos e livre entrada e saída do mercado. • A diferença entre custos implícitos e explícitos. • O lucro econômico é aquele que reconhece os custos de oportunidades. • Que muitas vezes as empresas precisam tomar a decisão de paralisar temporariamente a produção e/ou sair do mercado definitivamente. • Sugestão: listar a questão da maximização do lucro, quando ocorre, bem como quando aumentar a produção e diminuir a produção. RESUMO DO TÓPICO 3 195 AUTOATIVIDADE 1 Diferencie lucro contábil de lucro econômico. 2 O que significa a curva de demanda que a firma enfrenta? 3 Em qual momento a empresa pode optar por paralisar as suas atividades: 196 197 REFERÊNCIAS BALIAN, José Eduardo Amato. 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