Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Teologia e pedagogia do diálogo APRESENTAÇÃO Alguns setores da sociedade consideram que a religião é fechada em si mesma, que não aceita dialogar, que não considera os posicionamentos alheios a si mesma. Contudo, a religião tem buscado sempre mais dialogar com a ciência e com a cultura, no intuito de pensar coletivamente em projetos que possam melhorar a qualidade de vida das pessoas. Esses projetos passam fundamentalmente pela educação. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar essa temática bem como a relação da fé cristã com a história e o projeto de globalização da esperança a partir da mensagem de amor de Jesus Cristo. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar o fenômeno religioso e a sua necessidade dialógica com a ciência e a cultura moderna. • Explicar a importância da fé cristã e o seu compromisso com a história.• Identificar por que a visão cristã está a serviço da articulação entre o transcendente e o imanente. • DESAFIO O crescimento desordenado das cidades intensificou o problema da violência urbana. Essa situação ocorre devido à fome, à miséria, ao desemprego e aos baixos índices de escolaridade dos países subdesenvolvidos. No caso do Brasil, a violência urbana é oriunda de muitos fatores. Entre eles, pode-se citar a falta de acesso aos direitos fundamentais, as políticas públicas ineficientes, o excessivo crescimento demográfico e a elitização da educação. Diante desse cenário, apresente uma proposta que seja educativa, que crie oportunidade de ajuda mútua e de solidariedade para melhorar a convivência entre as pessoas. INFOGRÁFICO O papa Francisco considera fundamental que os cristãos procurem sempre mais fomentar a cultura do diálogo, com liberdade e igualdade, com vistas ao fortalecimento da convivência pública, estimulando a paz e a justiça entre os cidadãos. Para tanto, a educação pode e deve contribuir. O sumo pontífice sugere que se formem "redes" não só para unir e fortalecer escolas e universidades, mas também para vincular os saberes de forma interdisciplinar, bem como criar espaços de diálogo intercultural e inter-religioso dentro das instituições de educação. Para que os projetos educacionais sejam efetivos, o papa entende que existem três critérios essenciais: identidade, qualidade e bem comum. Veja neste Infográfico cada um deles. CONTEÚDO DO LIVRO A religião tem necessidade de dialogar com a ciência e com a cultura, sempre mais plurais e desafiadoras. Isso significa, dentro do quadro de um pluralismo religioso e ético, que as religiões devem contribuir para o fortalecimento da convivência pública, por meio de seus valores morais, estimulando a paz e a justiça entre os cidadãos. Para tanto, a fé cristã reafirma seu compromisso com a história, tanto no que diz respeito à expectativa pelas gerações vindouras quanto pela retrospectiva que nos torna conscientes e participantes de uma história comum. Dessa forma, a visão cristã busca aproximar o transcendente do imanente, isto é, entende que a educação traz consigo um horizonte de expectativas, porque está fundada na mensagem de esperança contida na verdade de Jesus Cristo. No capítulo Teologia e pedagogia do diálogo, do livro Antropologia teológica e direitos humanos, você vai aprender a analisar o fenômeno religioso e a sua necessidade dialógica com a ciência e a cultura moderna, explicar a importância da fé cristã e o seu compromisso com a história e identificar por que a visão cristã está a serviço da articulação entre o transcendente e o imanente. ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA E DIREITOS HUMANOS Paulo Gilberto Gubert Teologia e pedagogia do diálogo Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Analisar o fenômeno religioso e a sua necessidade dialógica com a ciência e a cultura moderna. Explicar a importância da fé cristã e o seu compromisso com a história. Identificar por que a visão cristã está a serviço da articulação entre o transcendente e o imanente. Introdução Neste capítulo, vamos analisar em detalhes as relações entre a teologia e o ensino dialógico. Trata-se de uma proposta que leva em conta as particularidades de cada ser humano, mas que tem por intuito contribuir com a construção do bem para todos; ou seja, do bem comum. Para alcançar o bem comum, é preciso ir além do respeito e da aceitação da cultura dos outros. É preciso reconhecer a dignidade do outro e da sua cultura como sendo tão importantes quanto a sua. E mais: o outro tam- bém ensina. O encontro entre culturas é muito produtivo e enriquecedor sempre que envolve aprendizado mútuo. Nesse contexto é que se torna possível entender o enraizamento da fé cristã no cotidiano, por meio da consciência histórica e da preocupação com as gerações futuras. Ciente disso, o cristianismo jamais poderá aceitar situações de violação da vida, porque entende que ela é o bem mais precioso, é dom de Deus. Mas não basta viver por viver: é preciso que a vida seja plena e digna. Isso somente será possível por meio da globalização da esperança. A partir da esperança na salvação, todo cristão é convidado a ser sinal de esperança e a difundir a mensagem de amor de Cristo. No contexto de uma peda- gogia do diálogo, trata-se de propagar o humanismo solidário, isto é, estar disposto a promover o bem comum por meio do diálogo e da cooperação. Neste capítulo, você vai estudar o fenômeno religioso e a sua neces- sidade dialógica com a ciência e a cultura moderna. Você também vai identificar a importância da fé cristã e o seu compromisso com a história e vai compreender por que a visão cristã está a serviço da articulação entre o transcendente e o imanente. A religião em diálogo com a cultura A pós-modernidade traz consigo a globalização. Vemos um mundo que muda constantemente, plural e em crise. Consideramos aqui as crises de desemprego, política, migratória, democrática, econômica, ambiental, etc. Diante desse cenário, percebemos que essas crises tornam a paz algo difícil de ser atingido. A violência e a morte se tornaram banais, parecem já não nos incomodar. Seja por meio de guerras entre exércitos, seja pelo terrorismo, os conflitos armados parecem estar cada vez mais presentes no cotidiano. Guerras e terro- rismo são motivados, quase sempre, pela má distribuição dos bens que Deus criou e presenteou ao homem. Em Gênesis, 1, lemos o seguinte: E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. E disse Deus: Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento (BÍBLIA, 1976, p. 27-29). A desigualdade econômica está na gênese da miséria e da exploração de uns pelos outros. O subdesenvolvimento gera condições precárias de vida e obriga as pessoas a migrarem para outros estados ou países. Fenômenos como xenofobia e conflitos raciais são comuns nos destinos para onde se dirigem os migrantes. Aqui, a indiferença fala mais alto. Pouco importa o que Teologia e pedagogia do diálogo2 acontece com os outros, principalmente se não são parentes nem pertencem aos círculos de amizade. Por outro lado, também podemos ver o contraponto da indiferença. Para além dos problemas, é preciso destacar que a globalização oferece múltiplas oportunidades. De um lado, temos os direitos humanos que, pela primeira vez, foram pensados para todos os humanos. Por outro lado, hoje podemos pensar que a globalização pode, cada vez mais, se tornar um fenômeno de solidariedade. As tragédias, sejam elas oriundas de desastres naturais ou das guerras, estão envolvendo cadavez mais pessoas que se importam, que criam associações de ajuda humanitária. Precisamos, cada vez mais pensar em projetos para melhorar a convivência entre as pessoas. Projetos que sejam educativos, que criem oportunidades de ajuda mútua e de solidariedade. Sobre isso, o Papa Bento XVI, na encíclica Caritas in Veritate, considera que a questão social é uma importante questão antropológica, que exige uma função educativa (BENTO XVI, 2009). Caritas in Veritate significa caridade na verdade. Foi a terceira encíclica escrita pelo Papa Bento XVI, publicada em 07 de julho de 2009, mas é a primeira encíclica na qual Bento XVI trata de temas e problemas sociais e econômicos, em um período de grave crise financeira e econômica no mundo. Nesse contexto, a Congregação para a Educação Católica escreveu um importante documento, intitulado “Educar ao humanismo solidário: para construir uma ‘civilização do amor’”, indicando que a Igreja tem a missão de apontar quais são os conteúdos que melhor respondem aos desafios atuais. Os grandes objetivos da humanidade passam por essa visão educativa. Segundo Versaldi e Zani (2017, documento on-line), os conteúdos devem atender aos seguintes requisitos: [...] o desenvolvimento harmônico das qualidades físicas, morais e intelectuais finalizados ao gradual amadurecimento do sentido de responsabilidade; a conquista da verdadeira liberdade; a positiva e prudente educação sexual. Ao longo desta perspectiva, intuía-se que a educação devia estar ao serviço de um novo humanismo, no qual a pessoa social estivesse aberta ao diálogo e cooperasse na promoção do bem comum. 3Teologia e pedagogia do diálogo A expressão “civilização do amor” foi usada pelo Papa Paulo VI pela primeira vez em 17 de maio de 1970, por ocasião da Festa de Pentecostes, e retomada várias vezes durante o seu pontificado. Em vez de formar as pessoas para atender puramente aos interesses do “mer- cado” e para a cultura do consumo e da competição, é necessário humanizar a educação, colocando a pessoa no centro do processo, não para individualizá- -la, mas para que ela perceba que faz parte de um destino comum, isto é, interdependente. Esse é o significado de educar para o humanismo solidário. Há ainda algo que antecede a educação escolar: é a educação familiar. Esta é que dá sustentação para o humanismo, porque está fundada na confiança e na reciprocidade de deveres. Assim, ocorre o aperfeiçoamento das capacidades individuais, morais e sociais de cada um, favorecendo o bom funcionamento da sociedade como um todo. O documento “Educar ao humanismo solidário”, de Versaldi e Zani (2017, documento on-line), refere que: [...] uma educação humanizada [...] não pede simplesmente ao professor para ensinar e ao aluno para aprender, mas exorta cada um a viver, estudar e agir de acordo com as premissas do humanismo solidário; não prevê espaços de divisão e contraposição mas, pelo contrário, oferece lugares de encontro e debate para realizar projetos educativos válidos; trata-se de uma educação — ao mesmo tempo — sólida e aberta, que derruba os muros da exclusividade, promovendo a riqueza e a diversidade dos talentos individuais e expandindo o perímetro da própria sala de aula a cada âmbito da experiência social em que a educação pode gerar solidariedade, partilha, comunhão. A solidariedade deve ensinar a viver e conviver interculturalmente. Culturas múltiplas se misturam, trazendo suas religiões, tradições e formas de entender o mundo, que podem ser bastante diferentes entre si. Essas diferenças, em vez de criarem intransigências e conflitos, podem ser uma excelente oportunidade para aprendermos com o outro, com aquele que é diferente de mim. Isso inclui desde aprender uma técnica de culinária até entender e aprender algo novo a partir de uma visão de mundo diferente. Isso se encaixa no que a Igreja Católica entende como cultura do diálogo, sendo que o diálogo não serve apenas para conhecer o outro e sua cultura. Conforme Versaldi e Zani (2017, documento on-line): Teologia e pedagogia do diálogo4 O autêntico diálogo ocorre num quadro ético de requisitos e atitudes forma- tivas, bem como de objetivos sociais. Os requisitos éticos para dialogar são a liberdade e a igualdade: os participantes do diálogo devem estar livres de seus interesses contingentes e estar dispostos a reconhecer a dignidade de todos os interlocutores. O Papa Francisco entende que reconhecer a dignidade do interlocutor do diálogo é uma atitude capaz de “[...] construir pontes e […] encontrar respostas para os desafios do nosso tempo” (FRANCISCO, 2017, documento on-line). Isso implica, dentro do quadro de um pluralismo religioso e ético, que as religiões devem contribuir para o fortalecimento da convivência pública, por meio de seus valores morais, estimulando a paz e a justiça entre os cidadãos. Portanto, a cultura do diálogo deve ser o centro da educação para o huma- nismo solidário. As salas de aula das escolas e das universidades são ricas em diversidade de culturas de todos os tipos. Esses lugares são, por excelência, “moldados” para a cultura do diálogo e do encontro. Contudo, mesmo nesses locais, deve-se combater os males do egoísmo e do etnocentrismo, permitindo o encontro de diversidades e buscando construir uma civilização do amor. A fé cristã e o seu compromisso com a história Você deve estar se perguntando: como se constrói uma civilização do amor? Isso não será apenas uma utopia? E se for apenas uma utopia, quer dizer que é apenas um sonho irrealizável? Acreditamos que não. A utopia serve para dar direcionamento, para que saibamos em que direção queremos andar. Ou seja, a utopia vai ganhando corpo à medida que se torna uma prática do cotidiano. Aqui se encontram e se unem a fé com a história. Sobre a utopia, o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano, na entrevista disponível no link abaixo, afirma o seguinte, citando Fernando Birri: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”. https://goo.gl/NbF0Jl 5Teologia e pedagogia do diálogo Como isso pode acontecer? Primeiramente, fazendo com que cada pessoa se sinta protagonista, participante na construção do humanismo solidário. Deve-se promover o pluralismo de ideias, assegurando que as ciências não extrapolem a ética. Quer dizer que a Igreja Católica pretende dizer o que a ciência pode ou não pode fazer? Não. A Igreja apoia todas as iniciativas da ciência que contribuam para a melhoria da saúde e da qualidade de vida para todos. Ocorre que, quando a ciência ultrapassa os limites da ética, significa que a dignidade da vida humana foi ferida. E a vida digna está sempre em primeiro lugar. Contudo, não se trata apenas das vidas de hoje, mas também das de amanhã. O progresso da ciência e da tecnologia contribui para uma melhor qualidade de vida, mas pode influenciar os modos de vida e até a existência das futuras gerações. Portanto, o bem comum atual deve também considerar as gerações vindouras, pensando em modelos de desenvolvimento que preservem os recur- sos naturais para a posteridade. Trata-se de “[...] contribuir para a construção da cultura baseada na ética intergeracional”, conforme lecionam Versaldi e Zani (2017, documento on-line). Por outro lado, é preciso recordar das gerações que nos antecederam. Se existe uma organização social, consolidada em povos e nações, é porque existiu uma passagem histórica até os nossos dias. Por meio de erros e acertos, nossos antepassados também são responsáveis pela nossa existência. Existe uma ligação entre nossa evolução histórica e nosso desejo de vivermos bem juntos, o bem comum. É na história que o humanismo solidário se concretiza, contribuindo para a “[...] formação de uma consciência histórica, baseada na consciênciada unidade indissolúvel que leva os antepassados, os contempo- râneos e os vindouros a superarem os níveis de familiaridade para que todos se reconheçam igualmente filhos do único Pai, num relacionamento de solida- riedade universal”, como afirmam Versaldi e Zani (2017, documento on-line). Isso implica em considerar um modelo de educação que vá além da mas- sificação cultural, que tem por interesse último a manipulação dos indivíduos para que se tornem sempre mais consumistas. Nesse contexto, é preciso que se criem redes de cooperação que se proponham a superar esses desafios, por meio da partilha de experiências e de responsabilidades. Dessa forma, não se criam apenas grupos de pesquisa, mas grupos de pessoas que se entreajudam e que compartilham suas descobertas. A Igreja defende a liberdade de educação sempre que esta favoreça a formação de princípios e valores para a boa convivência entre as pessoas. Dessa forma, “[...] hoje, assim como em cada época, a Igreja Católica tem a responsabilidade de contribuir, com o seu patrimônio de verdades e valores, Teologia e pedagogia do diálogo6 para a construção do humanismo solidário”, conforme afirmam Versaldi e Zani (2017, documento on-line), tendo como prioridade a construção da civilização do amor. A globalização da esperança De acordo com a visão cristã, a educação possui, como uma de suas mais importantes características, a capacidade de criar as condições possíveis para o diálogo tanto entre os que pensam de forma semelhante quanto com os que pensam diferente, isto é, com a diversidade. Nesse ponto, o processo educativo se torna central para a convivência pacífica e enriquecedora entre os povos. Sendo assim, a educação “[...] enraíza-se no mais amplo conceito de ser humano — na sua caracterização psicológica, cultural e espiritual — para além de qualquer forma de egocentrismo e etnocentrismo, segundo uma concepção de desenvolvimento integral e transcendente da pessoa e da sociedade”, conforme lecionam Versaldi e Zani (2017, documento on-line). Em sua encíclica Populorum progressio, o Papa Paulo VI afirma que “[...] o desenvolvimento é o novo nome da paz” (PAULO VI, 1967, documento on-line). Trata-se de uma importante declaração que se confirmou na medida em que o mundo, cada vez mais, foi percebendo a importância do desenvolvimento sustentável. A ideia central do desenvolvimento sustentável é a de que se deve encontrar um equilíbrio entre três pontos: econômico, social e ambiental. O problema é que a balança ainda pesa muito mais para o econômico. As tão esperadas transformações histórico-sociais avançam de forma muito lenta. A encíclica Populorum progressio, ou Sobre o progresso dos povos, é uma importante encíclica publicada em 26 de março de 1967, pelo Papa Paulo VI, que trata da missão da Igreja na era da globalização. A encíclica trata da necessária cooperação entre os povos, sobretudo com os países em desenvolvimento. Há uma crítica ao abismo entre ricos e pobres, bem como ao neocolonialismo. Há também uma afirmação de que todos os povos têm direito ao bem-estar. Em busca desse objetivo, os cristãos são convidados a trabalharem sempre mais em prol da paz, da justiça e da solidariedade. 7Teologia e pedagogia do diálogo Nesse sentido, a Igreja Católica não procura exaltar o mito do progresso, mas “[...] associa o desenvolvimento ao anúncio da redenção cristã, que não é uma utopia indefinida e futurista, mas já é ‘substância da realidade’, no sentido de que para ela ‘já estão presentes em nós as coisas que se esperam: a totalidade, a vida verdadeira’”, conforme apontam Versaldi e Zani (2017, documento on-line). Ora, o que significa não permanecer em uma utopia futurista, mas ser substância da realidade? Significa que todo cristão, por meio da sua esperança na salvação, deve ser um sinal vivo e atuante dessa esperança, propagando a mensagem de amor de Jesus Cristo. Nesse contexto, trata-se de uma educação que se proponha a ser universal, porque é inclusiva. É dessa forma que a caridade cristã deve estar presente entre as ciências, acompanhando o homem “[...] na busca do sentido e da verdade na criação. A educação para o humanismo solidário deve então começar a partir da certeza da mensagem de esperança contida na verdade de Jesus Cristo”, conforme apontam Versaldi e Zani (2017, documento on-line). Assim, a educação deve ser portadora de esperança, por meio da razão e da vida, da teoria e da prática, para todos os povos do mundo. Por que é preciso globalizar a esperança por meio da educação? Porque um modelo de desenvolvimento que não é universal, mas de poucas pessoas ou de poucos grupos, está destinado a produzir sofrimento e miséria para a grande maioria. Daí se originam os conflitos armados, que matam milhares de pessoas todos os anos no mundo. Globalizar a esperança significa demonstrar que o conteúdo das ciências deve estar a serviço da realização plena de cada pessoa e de toda a humanidade. Significa formar para o amor cristão, defendendo a vida e promovendo a solidariedade e o bem comum. BENTO XVI, Papa. Carta Encíclica Caritas in veritate. 2009. Disponível em: http://w2.vatican. va/content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_cari- tas-in-veritate.html. Acesso em: 23 jan. 2019. BÍBLIA. Bíblia sagrada. São Paulo: Paulinas, 1976. FRANCISCO, Papa. Discurso aos participantes na Plenária da Congregação para a Educação Católica. 2017. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2017/ february/documents/papa-francesco_20170209_plenaria-educazione-cattolica.html. Acesso em: 23 jan. 2019. Teologia e pedagogia do diálogo8 PAULO VI, Papa. Carta Encíclica Populorum Progressio: sobre o desenvolvimento dos povos. 1967. Disponível em: http://w2.vatican.va/content/paul-vi/pt/encyclicals/do- cuments/hf_p-vi_enc_26031967_populorum.html. Acesso em: 23 jan. 2019. VERSALDI, G. C.; ZANI, A. V. Educar ao humanismo solidário: para construir uma “civilização do amor”. 2017. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20170416_educare-umanesimo- -solidale_po.html. Acesso em: 23 jan. 2019. Leituras recomendadas BENTO XVI, Papa. Carta Encíclica Spe salvi. 2007. Disponível em: http://w2.vatican.va/ content/benedict-xvi/pt/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20071130_spe-salvi. html. Acesso em 23 jan. 2019. GROCHOLEWSKI Z. C.; ZANI, A. V. Educar al diálogo intercultural en la escuela católica: vivir juntos para una civilización del amor. 2013. Disponível em: http://www.vatican.va/ro- man_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20131028_ dialogo-interculturale_sp.html. Acesso em: 23 jan. 2019. 9Teologia e pedagogia do diálogo DICA DO PROFESSOR A obra Utopia, de Thomas More, aborda a forma como o autor imaginou uma sociedade perfeita. A etimologia da palavra remonta para "lugar nenhum" ou "lugar inexistente". Trata-se de uma ilha imaginária onde tudo funciona bem, em contraste com o caos político que vivia a Europa naquela época. Os temas tratados na obra são muito concretos: paz, guerra, finanças, poder, colonização e economia. Nesta Dica do Professor, você vai saber mais sobre a vida de Thomas More e sobre a obra Utopia, um livro clássico do período moderno. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) As crises tornam a paz algo difícil de ser atingido. A violência e a morte se tornaram banais, parecem já não nos incomodar. Seja por meio de guerras entre exércitos, seja pelo terrorismo, os conflitos armados parecem sempre mais presentes no cotidiano. Guerras e terrorismo são motivados, quase sempre, pela má distribuição dos bens que Deus criou e presenteou ao homem. Isso significa que: A) não há o que fazer, afinal, o homem é lobo do próprio homem, como disse Thomas Hobbes. B) é importante que todos possam ter acesso tanto aos direitos quanto aos bens. C) a propriedade privada deveriaser abolida. D) é mais importante ter acesso aos bens do que ter direitos. E) os conflitos armados equilibram as forças entre o bem e o mal no mundo. 2) A Congregação para a Educação Católica escreveu um importante documento, intitulado Educar ao humanismo solidário: para construir uma “civilização do amor”, indicando que a Igreja tem a missão de apontar quais são os conteúdos que respondem mais adequadamente aos desafios atuais. Nesse contexto, a função da educação é: A) estimular a formação de pessoas abertas ao diálogo e à construção do bem comum. B) impedir a educação sexual nas escolas. C) formar pessoas que amem a todos e que nunca entrem em conflito com ninguém. D) determinar quais conteúdos podem ser abordados em sala de aula. E) padronizar a educação, para que todos pensem de forma parecida e assim possam se entender. 3) Como a Igreja entende ser possível, por meio da educação, defender o pluralismo de ideias e, ao mesmo tempo, impedir que a ciência se sobreponha à ética? A) Apoiando sempre os progressos da ciência e da tecnologia. B) Considerando que o meio ambiente deve estar sempre à disposição do homem. C) Entendendo que as gerações futuras resolverão os problemas da civilização atual. D) Considerando sempre, em primeiro lugar, a dignidade da vida humana. E) Promovendo os interesses do mercado. 4) Um relacionamento de solidariedade universal implica considerar um modelo de educação que vá além da massificação cultural. Como deve ser esse modelo de educação? A) Deve estimular incessantemente o progresso e o consumo, motores do desenvolvimento. B) Deve conduzir o aluno para o aprendizado coletivo, desconsiderando os aspectos individuais. C) Deve formar redes de cooperação que partilhem experiências e responsabilidades. D) Deve favorecer o diálogo, pois, onde há diálogo, não existem conflitos. E) Deve impor a verdade da mensagem cristã. 5) Em sua encíclica Populorum Progressio, o papa Paulo VI afirma que “o desenvolvimento é o novo nome da paz”. Trata-se de uma importante declaração que se confirmou na medida em que o mundo, cada vez mais, foi percebendo a importância do desenvolvimento sustentável. Qual é o modelo de desenvolvimento sustentável defendido pelo papa Paulo VI? A) O modelo que leva em conta o acúmulo de bens sem necessidade. B) O mesmo modelo de desenvolvimento pensado pelo papa Francisco. C) O modelo que equilibra a ciência com a tecnologia. D) O mesmo modelo de desenvolvimento sustentável defendido anteriormente pelo papa Bento XVI. E) O modelo que busca o equilíbrio entre o econômico, o social e o ambiental. NA PRÁTICA Quando um modelo de desenvolvimento não pode ser universal, mas de poucas pessoas ou de poucos grupos, está destinado a produzir sofrimento e miséria para a grande maioria. Daí se originam os conflitos armados que matam milhares de pessoas todos os anos no mundo. Para mudar esse quadro, a Igreja convoca as escolas e universidades católicas para que promovam a globalização da esperança, de tal forma que o conteúdo das ciências esteja a serviço da realização plena de cada pessoa e de toda a humanidade. Isso significa formar para o amor cristão, defendendo a vida, promovendo a solidariedade e o bem comum. Conheça, Na Prática, o trabalho de São Marcelino Champagnat e o dos Irmãos Maristas. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Declaração sobre a educação cristã Gravissimum Educationis Gravissimum Educationis é uma declaração do Concílio Vaticano II sobre educação cristã. Foi promulgada em 28 de outubro de 1965 pelo papa Paulo VI, após a aprovação dos bispos reunidos. O Concílio enunciou alguns princípios fundamentais sobre a educação cristã, especialmente nas escolas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae A Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae (No coração da Igreja) foi escrita por João Paulo II com o intuito de descrever a identidade das universidades católicas, apresentar a missão das instituições superiores de ensino e tratar do trabalho prático dessas universidades. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Educar hoje e amanhã. Uma paixão que se renova Este discurso do papa Francisco ressalta a maneira como a educação se tornou seletiva e elitista na atualidade. O papa entende que a educação católica deve ajudar a família, as instituições de ensino e o Estado a retomarem suas responsabilidades educativas. Francisco destaca ainda que a educação precisa conjugar três linguagens ao mesmo tempo: a do coração, a da mente e a das mãos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Compartilhar