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1 Ansiolíticos e hipnóticos A ansiedade está relacionada com o medo e preocupação antecipada (preparação para uma ameaça futura). Diante disso, a ansiedade é um processo fisiológico. No entanto, quando em um quadro exagerado e em excesso, de maneira a afetar a rotina, teremos um quadro patológico. Existem vários tipos de transtornos de ansiedade. Apesar disso, todos tem duas características em comum: medo e ansiedade, mudando apenas o gatilho disso. Dependendo do tipo de transtorno há tendência de se isolar, principalmente se houver presença de TOC e fobia, tendendo a ter um quadro de ansiedade associado à depressão. É por esse motivo que a maioria dos fármacos ansiolíticos também são antidepressivos. CIRCUITOS DA ANSIEDADE A ativação da amigdala ativa várias regiões do cérebro que trará diferentes tipos de sensações e diferentes respostas (motora, endócrina, respiratória e do hipocampo – memórias traumáticas). Os sintomas do medo são regulados por um circuito centrado na amígdala. Quando as aferências para a amigdala da circuitaria neuronal são estimuladas em excesso ocorre a sensação de medo. Quando falamos em preocupação estamos falando da alça da preocupação. Ela se inicia no córtex, vai para o estriado, tálamo e volta para o córtex – alça corticoestriadotalamocortical (CETC). Esses circuitos podem estar envolvidos em todos os transtornos de ansiedade pela hiperexcitação. Para o transtorno de ansiedade os dois circuitos devem estar estimulados, diferindo no tipo de transtorno através da maior estimulação de um dos dois (medo ou preocupação). FISIOPATOLOGIA DA ANSIEDADE Os neurotransmissores excitatórios (dopaminergicos, noradrenergicos e glutaminérgicos) excitam as células locais e, dessa forma, ocorre um desequilíbrio no organismo no qual os neurônios inibitórios não conseguem atuar. Além deles temos a redução de dois neurônios inibitórios: GABA e serotonina. Deixando os neurônios excitatórios livres para atuar na alça corticoestriadotalamocortical. Fármacos ansiolíticos • Antidepressivos (ISRS e IRSN) – antidepressivos são primeira escolha para tratamento da ansiedade crônica; • Benzodiazepínicos (↑ ação do GABA); • Agonista 5-HT1A (Buspirona); • Ligantes α2δ (gabapentina e pregabalina – não aprovados no Brasil); • Barbitúricos; • Antipsicóticos atípicos; • Antagonistas de receptores β-adrenérgicos – não vão tratar a ansiedade e sim o sintoma, podendo ser administrado na ansiedade aguda. O tratamento vai variar de paciente para paciente. antidepressivos Como todo antidepressivo, ele vai demorar para iniciar seus efeitos (4-6 semanas). Em associação, para ajudar o paciente com seus sinais e sintomas da ansiedade, pode ser administrado um benzodiazepínico até o momento em que o antidepressivo começar a fazer efeito de fato. Antes das 4 semanas já é indicado iniciar o desmame do benzodiazepínico. São mais efetivos no tratamento do TAG, fobias, transtorno da ansiedade social, distúrbio do estresse pós-traumático e TOC. Um perfil de efeitos adversos mais baixo favorece o uso dos ISRS, além de reduzir a depressão, que está frequentemente associada à ansiedade. • Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS): escitalopram e paroxetina; • Inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (ISRSN): venlafaxina e duloxetina. Bianca Louvain 2 ISRS Provoca aumento inicial de 5-HT (serotonina), causando uma estimulação de autorreceptores 5- HT1A, o que provoca inibição da síntese e liberação de 5-HT. O aumento da estimulação dos autorreceptores 5-HT1A causa dessensibilização ou infrarregulação destes receptores. Após a infrarregulação dos receptores 5HT1A somatodendríticos, não há mais inibição do fluxo de impulsos no neurônio serotoninérgico, causando grande liberação de 5-HT no terminal axônico. ISRSN Doses maiores, maior inibição da recaptação de NA: provoca aumento inicial de NA, que estimula os autorreceptores pré-sinápticos e reduz a liberação de NA. O aumento da NA na fenda, dessensibiliza os receptores pós-sinápticos, diminuindo a atividade noradrenérgica e consequentemente os sintomas da ansiedade. • Nos receptores adrenérgicos pré-sinápticos teremos autorreceptores que inicialmente são estimulados e reduz a liberação de noradrenalina. O aumento da noradrenalina na fenda, com o tempo, dessensibiliza os receptores pós-sinápticos, diminuindo a atividade noradrenérgica e consequentemente os sintomas da ansiedade. Excesso de NA cursa com pesadelos, estado de hiperexcitação e ataques de pânico, além de reduzir a eficiência do processamento de informações no córtex pré-frontal e no circuito CETC (preocupação). Sudorese e aumento da PA podem ser observados. Dessa forma, gera um processo inicial de piora pela recaptação da NA (aumento de PA, sudorese) e posterior melhora (processo adaptativo neuronal). É recomendado iniciar o tratamento com ISRS. As duas classes terão piora, mas o ISRSN terá uma piora pior. As duas classes inibem o transportador. • NAT – transportador da noradrenalina; • SET – transportador da serotonina. Agonista parcial 5-HT1A • Buspirona. É um agonista, isto é, é uma substância que mimetiza a ação de uma substância endógena que, nesse caso é a serotonina. No entanto, é um agonista parcial e, dessa forma, não ativa tantos receptores como um agonista total. Por ser um agonista parcial, seus efeitos não serão imediatos. Eficaz no transtorno da TAG, mas ineficaz no tratamento das fobias e nos estados de ansiedade grave. A buspirona não tem seus efeitos pela ativação dos receptores propriamente dito e sim pela ativação dos autorreceptores da serotonina – já que ela mimetiza essa serotonina. No entanto, essa constante ativação induz dessensibilização dos receptores. • Efeito: dessensbilização dos autorreceptores. Mecanismo de ação: o aumento do agonista 5-HT na fenda, dessensibiliza ou infrarregula os autorreceptores 5HT1A somatodendríticos. Essa dessensibilização leva a um feedback negativo (inibindo a inibição da liberação de 5-HT). Com isso, há liberação de 5HT no terminal axônico. Em função disso, acredita-se que sua ação seja devido a fenômenos de adaptação nos receptores, e não pela ocupação imediata de receptores 5- HT1A. Como resultado ocorre aumento da atividade serotoninérgica nas projeções para amígdala, córtex pré-frontal, estriado e tálamo. O início de ação, assim como o dos antidepressivos, é demorado. Não causa dependência e abstinência, além de não interagir com o álcool e benzodiazepínicos. Efeitos adversos: tonturas, náuseas, cefaleias, mas não sedação ou perda de coordenação (menos incômodos que os dos BDZs – vantagem para idosos). BiancaLouvain 3 Benzodiazepínicos O GABA é necessário para que os BZ executem seus efeitos, isso porque o BZ é modulador alostérico positivo do receptor GABA-A. Portanto, aumentam a sensibilidade do receptor GABA-A pelo neurotransmissor GABA. • Os BZD não abrem canal de Cl “sozinhos”; • Aumentam a frequência de abertura do canal de Cl. Nos transtornos de ansiedade há redução da ação do GABA. eu efeito ansiolítico é através do aumento da ação do GABA na amígdala, córtex pré-frontal e nas alças CETC. 2 moléculas de GABA precisam se ligar no receptor em associação com o BZ, aumentando a frequência de abertura do canal e, quanto mais ela se abrir, maior a hiperpolarização por entrada de cloreto. No GABA-A é formado por 2 unidades de proteína α, 2 proteínas β e 1ɣ e, como existem diversos subtipos dessas proteínas, pode existir diversas combinações e consequente receptores. • Subunidade α2β3γ2: ansiolítico (predominante no córtex, hipocampo, estruturas límbicas) • Subunidade α1β2ɣ2: hipnótico/sedativo (predominantes no cerebelo, hipotálamo e córtex) São as α que fazem diferença na ação que vai ocorrer. A α1 vai gerar efeito inibitório com indução do sono. Sefor α2, a ação inibitória trará um efeito ansiolítico. Como os BZ não são seletivos para receptores, eles atuam como ansiolítico e hipnótico. usos clínicos Não deve ser usado como tratamento de ansiedade crônica. É de primeira linha para o tratamento em emergência de crise de ansiedade. • Indução e manutenção do sono; • Pré-medicação antes da cirurgia; • Efeito anticonvulsivante; • Redução do tônus muscular (diminuição da excitabilidade dos reflexos espinhais). efeitos adversos • Sonolência, diminuição do estado de alerta e tempo de reação retardado, amnésia anterógrada (ligação dos BZDs aos receptores GABA-A que contêm a subunidade α5, especialmente no hipocampo) e problemas de memória (dificuldade de encontrar palavras). Como o BZ é um depressor do SNC e o álcool também, eles não devem ser administrados juntos. principais benzodiazepínicos FÁRMACO DURAÇÃO TOTAL INDICAÇÃO Midazolam Ultracurta <6h Hipnótico, usado como anestesico IV e anticonvulsivante Lorazepm e temazepam Curta 12-18h Ansiolítico, hipnótico e anticonvulsivate Alprazolam Média 24h Ansiolítico e antidepressivo Diazepam Longa 24-48h Ansiolítico, relaxamente muscular e anticonvulsivante (lorazepam) Flurazepam Longa Ansiolítico e hipnótico Clonazepam Longa Anticonvulsivante e ansiolítico (principalmente mania) Duração total de ação (prova): todos atuam da mesma forma, diferenciando entre si pela duração de ação que pode ser longa ou curta. • São bem absorvidos quando administrados oralmente, alcançando o pico de concentração plasmática em cerca de 1h; • Metabolização hepática (cuidado em paciente com insuficiência hepática) e excretados na urina; • Alguns formam metabólitos ativos que prolongam sua meia-vida; • A captação dos BZDs ocorre rapidamente no cérebro e em outros órgãos (IV ou oral); • Cruzam a barreira placentária e são secretados pelo leite materno. benzodiazepínicos em idosos BZD em idosos: não pode! Em idosos, o aumento da lipossolubilidade e a redução da depuração do fármaco podem resultar em maior sedação e grau de comprometimento psicomotor, causando elevações das concentrações plasmáticas da droga no organismo. BiancaLouvain 4 Se for prescrever, não pode ser usada a mesma dose que um adulto porque o idoso, pelo aumento da lipossolubilidade, absorve mais e, dessa forma há maior risco de quedas, sonolência exagerada, confusão mental e amnésia. toxicidade por benzodiazepínicos Seu índice terapêutico é alto, sendo difícil a intoxicação. Normalmente gera sono prolongado. Se a intoxicação for por BZD + outro depressor do SNC (álcool e barbitúricos), isso pode ser letal por depressão das funções cardíacas e depressão das funções respiratórias. Nesses casos, usamos o antagonista competitivo dos receptores GABA-A (flumazenil), que vai reverter os sintomas. • Indicação: reversão dos efeitos inibitórios centrais dos benzodiazepínicos. Utilizado para reverter os efeitos sedativos em pequenos procedimentos e para reverter efeitos potencialmente perigosos dos benzodiazepínicos, como a depressão respiratória. Apesar de ser antagonista, não é recomendado para o tratamento de dependência de benzodiazepínicos nem para o tratamento da síndrome de abstinência de benzodiazepínicos. Os BZD podem ser usados como indutor de sono, sem que passe 4 semanas, já que não pode ser usado de maneira crônica. hipnóticos O sono segue uma arquitetura, onde há 2 componentes, o sono NREM e o sono REM. Fazemos de 4 a 6 ciclos NREM e REM (cada ciclo dura em torno de 90 minutos, mas o sono REM tem duração de 20 minutos). A dissonia é a insônia com dificuldade para dormir ou para permanecer dormindo, o que afeta a qualidade e/ou quantidade do sono, levando a prejuízos no dia seguinte, como indisposição, cansaço e dificuldade de concentração. Alguns critérios para o diagnóstico de insônia: • Insatisfação com a quantidade ou qualidade do sono associada a dificuldade para iniciar, dificuldade para manter ou despertar precoce; • Prejuízo no funcionamento de diversas áreas, seja social, profissional, acadêmico ou comportamental; • Ocorre pelo menos 3x por semana, permanecendo por pelo menos três meses; • Não é atribuída a efeitos de substâncias; • Não há outra comorbidade que explique a insônia. O tempo de sono não é indicativo de qualidade de sono. Uma característica muito importante é que os fármacos para tratamento de insônia não podem interferir com o sono REM. Mas, maioria dos fármacos hipnóticos reduz a proporção do sono REM (zolpidem afeta menos). A interrupção artificial do sono REM causa irritabilidade e ansiedade, mesmo que a duração total do sono não tenha sido reduzida. Apresentam tolerância e dependência (maior para os BZDs do que para os fármacos Z) e sua interrupção pode levar a insônia a rebote. A vigília é regulada pela histamina e o sono é regulado pelo GABA. Enquanto um está alto, o outro está baixo. Esse circuito é regulado pela melatonina. • ↑ histamina ↓ GABA: acordado; • ↑ GABA ↓ histamina: dormindo. benzodiazepínicos • BZD de ação curta: lorazepam e temazepam. Reduzem o tempo de latência para o sono e aumentam a duração do sono no estado natural ao aumentar a frequência de abertura do canal de cloreto. • Diminuem a latência do sono, o número de despertares e o tempo gasto no estágio 1. Aumentam o tempo gasto no estágio N2 (o que permanecemos mais tempo). Diminuem sono REM, porém o número de ciclos de sono REM aumenta. Causam tolerância/dependência e levam a insônia rebote. BiancaLouvain 5 Fármacos Z • Zolpidem, zopiclona, zaleplona e eszoplicona (usado no tratamento prolongado de insônia com mais de 12 meses. Meia vida: 6h) São fármacos agonistas seletivos dos receptores de GABA-A. Mecanismo semelhante, mas com estrutura não-BZD, ou seja, interagem seletivamente com os receptores GABA-A que contém subunidades α1 e modula a abertura do canal de Cl. É tratador como um agonista, mas é um modulador da abertura do canal de cloreto. • Ações: diminuem a latência do sono, prolongam a fase 2 do sono e reduzem as outras fases, reduzem o número de despertares noturnos e aumentam o tempo total de sono, melhorando a sua qualidade como um todo. Na dosagem recomendada, tem menor interferência no estágio N3 e no sono REM do que os BZDs. • Efeitos adversos: são raros, mas pode ter insônia de rebote quando há interrupção abrupta, a administração muito tarde à noite dá sedação matutina, retardo dos tempos de reação e amnésia anterógrada e sonambulismo (se administrar e não se deitar). A maioria dos efeitos adversos está relacionada à dose. Grandes superdosagens não provocam depressão respiratória grave. Tem pouco efeito sobre os estágios do sono nos indivíduos normais (sem distúrbio do sono). São hipnóticos de ação ultra-curta, não são ansiolíticos. Seu início da ação é em torno de30 minutos Causa tolerância e dependência menor que os BZDs. barbitúricos Barbitúricos aumentam o tempo que o canal de cloreto fica aberto e, em altas concentrações, ativam direto o receptor GABA-A. • Fenobarbietal e tiopental. BZD aumenta a frequência de abertura e o barbitúrico aumenta o tempo. Assim como os BZDs, apresentam efeito ansiolítico e hipnótico. Foram os primeiros ansiolíticos usados, mas, hoje em dia, são pouco usados como hipnótico e ansiolítico. São mais usados para tratamento da epilepsia e indução de anestesia geral. agonistas de receptores MT1 e MT2 O benefício não é produzir sono imediatamente e sim regular o ciclo de dormir e acordar. • Rameleona, melatonina e tasimelteona. BiancaLouvain
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