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1 Patologias da tireoide A tireoide é uma glândula localizada na face anterior do pescoço, entre C5-T1, sobreposta e anterior à laringe e superior à traqueia. É formada por dois lobos (direito e esquerdo), ligados pelo istmo da tireoide. Em 40% da população existe o lobo piramidal, o qual surge a partir do istmo. É circundada/revestida externamente por uma cápsula fina de tecido conjuntivo, a qual adentra o parênquima formando trabéculas. Essas dividem o parênquima da glândula tireoide em lóbulos. Cada lóbulo é formado por 20-40 folículos tireoidianos. A unidade funcional e estrutural se dá pelo folículo tireoidiano. Sua principal função é a produção dos hormônios T3 e T4 (hormônios tireoidianos) e calcitonina (responsável pelo metabolismo do cálcio). FOLÍCULO TIREOIDIANO O epitélio folicular (epitélio simples cuboide ou colunar baixo), composto por dois tipos de células: • Células foliculares (células principais): células responsáveis pela produção de T3 e T4; • Células parafoliculares (células C): responsáveis por secretar calcitoinina, hormônio que regula o metabolismo do cálcio. Associado ao folículo, há tecido conjuntivo e vasos fenestrados. O coloide é uma substância eosinofílica gelatinosa que preenche o folículo. Ela é formada por precursores do hormônio tireoidiano (hormônios imaturos). Ou seja, o coloide é formado pela tireoglobulina T3 e T4 e MIT e DIT (precursores dos hormônios tireoidianos). PRODUÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS: A síntese dos hormônios tireoidianos acontece nos folículos tireoidianos. O centro do folículo é preenchido pelo coloide, que mantém o suprimento dos hormônios da tireoide por 2-3 meses. As células foliculares que cercam o coloide, mais especificamente o retículo endoplasmático rugoso, vão sintetizar a tireoglobulina. Essas proteínas são empacotadas em vesículas e secretadas no centro do folículo (coloide). Na região basolateral das células foliculares também concentram ativamente o iodo da dieta usando o simporte sódio-iodo. O transporte de iodeto para o coloide é mediado por um transportador de ânions, chamado de pendrina. Dessa forma, o iodeto vai para a membrana apical da célula, para que de lá ele saia, através do transportador de iodeto e cloreto, denominado pendrina. Como resultado, o iodeto é liberado para o colóide. Observação: a absorção de iodo no duodeno, possibilitada pela transformação de iodo em iodeto. O iodeto que consegue ser absorvido e cai na na circulação. • No coloide agora estão presentes tireoglobulina e iodeto. Ainda na membrana apical da célula folicular há uma enzima associada, chamada de tireoperoxidase (TPO). Isto é, conforma o iodeto entra no coloide, a TPO converte o iodeto em iodo e depois faz a iodação da tireoglobulina, de forma que se adicione átomos de iodo no resíduo de tirosina na tireoglobulina. Com isso, são formados MIT (TG + 1 iodo) e DIT (TG + 2 iodo). • A adição de um iodo à tirosina cria a monoiodotirosina (MIT); • A adição de um segundo iodo cria a di-iodotirosina (DIT). Bianca Louvain 2 • No colóide agora estão presentes tireoglobulina, iodo, MIT e DIT. A MIT e DIT, então, sofrem uma reação de acoplamento. • Uma MIT e uma DIT combinam-se para formar o hormônio da tireoide tri-iodotironina, ou T3: o DIT + MIT = T3. • Duas DIT unem-se para formar a tetraiodotironina (T4, também conhecida como tiroxina): o DIT + DIT = T4. Neste ponto, os hormônios ainda estão ligados à tireoglobulina. • No colóide agora estão presentes tireoglobulina, iodo, MIT e DIT, T3 e T4. T4 é formado em maior quantidade em relação a T3. Além disso, boa parte da conversão de T4 é feita em órgãos periféricos. Quando a célula folicular é estimulada pelo hormônio TSH, produzido pela adeno-hipófise, ela responde de duas formas: • Aumenta a secreção de tireoglobulina; • Reabsorção do colóide, o que resulta na liberação de T3 e T4 para a circulação. Sabendo que T4 é mais liberado para a circulação que o T3. • Síntese e secreção de tireoglobulina; • Captação e concentração de iodeto a partir do sangue por simportadores de sódio/iodeto (NIS), liberação de iodeto no coloide por meio de transportadores de iodeto/cloreto (pendrina) e oxidação do iodeto a iodo pela tireoide peroxidase; • Iodação da tireoglobulina no coloide; • Formação dos hormônios T3 e T4 no coloide por reações de acoplamento oxidativas; • Reabsorção de coloide pela via lisossômica (via principal); 5TE, reabsorção de coloide pela via transepitelial mediada pelo receptor de megalina; • Liberação de T4 e de T3 da célula na circulação, DIT, di-iodotirosina; MIT, monoiodotirosina; RER, retículo endoplasmático rugoso. • Iodo, tireoglobulina e tireoperoxidase (TPO). Se houver o comprometimento de um desses componentes, não há síntese dos hormônios. T3 E T4 NA CIRCULAÇÃO O transporte de T4 se dá pela globina de ligação tiroxina (TBG – principal), enquanto o T3 é transportado majoritariamente por transtiretina. Também podem ser transportados pela albumina. Por esse motivo, problemas hepáticos podem implicar em prejuízo no transporte de hormônios tireoidianos. ⅓ de T4 é convertido em T3 pelas deiodinases (D1 e D2), que removem um iodo de T4 – T3 tem possui maior ação estimuladora celular. Hipertireoidismo: tireotoxicose • ↑ T3 e T4, ↓ TSH • Hipertireoidismo associado a hipófise (secundário): TSH normal ou ↑ Seu diagnóstico é laboratorial associado a manifestações clínicas do paciente. Estado hipermetabólico causado por níveis circulantes elevados de T3 e T4 livres. Como, em geral, essa condição é causada pelo hiperfuncionamento da glândula tireoide, é frequentemente conhecida como hipertireoidismo. No entanto, o hipertireoidismo é somente uma das causas (é a mais comum) da tireotoxicose. A tireotoxicose pode ser dividida em dois grandes grupos: associada ao hipertireoidismo e não associada ao hipertireoidismo. 1. ASSOCIADA AO HIPERTIREOIDISMO É a causa mais comum, sendo responsável por 80-95% dos casos. Pode ser dividida em primária e secundária. • Primária (principal): o Hiperplasia difusa (associada a Doença de Graves) – causa mais comum: 85% dos casos; o Bócio multinodular hiperfuncionante (“tóxico”) – esses nódulos podem se transformar em nódulos autônomos, cujas células constituintes não dependem mais de TSH, assim produzindo de forma automática T3 e T4; o Adenoma da tireoide hiperfuncionante (“tóxico”). • Secundária: o Adenoma hipofisário secretor de TSH – induz em maior estimulação da tireoide, isto é, ocorre aumento da produção de T3 e T4. BiancaLouvain 3 2. NÃO ASSOCIADA AO HIPERTIREOIDISMO • Tireoidite granulomatosa – aumento doloroso dor da glândula tireoide, bem como liberação de grandes quantidades de T3 e T4 no sangue. O coloide extravasa do folículo rompido liberando T3 e T4 para a circulação. Muitos dos casos de tireoidite subaguda surgem após infecção viral do trato respiratório superior; assim, a hipótese é de que a infecção age como fator desencadeante para a destruição dos folículos tireoidianos; • Struma ovarii – é um teratoma ovariano com tireoide ectópica (tecido maduro tireodiano), ou seja, neoplasia do ovário em que se tem tecido tireoidiano produzindo hormônios tireoidianos e ocasionando a tireotoxicose; • Tireotoxicose factícia (associação com hipotireoidismo) – é causada pela ingestão excessiva de T4 exógeno (substâncias que contêm hormônios tireoidianos) – comum em protocolo de emagrecimento ou reposição hormonal excessiva/irregular em idosos. O cenário mais comum desse quadro é a doença de Graves; • Tireoidite linfocítica subaguda – é caracterizada por ser indolor. É de causa autoimune e pode ser confundida com tireoidite de Hashimoto. Todas as tireoidites cursam com tireotoxicose. No entanto, quando o processo inflamatório se prolonga e dura por muito tempo, os coloidesse esgotam e esgotam, consequentemente, as células foliculares. Isso resulta-se em um quadro de hipotireoidismo. Exemplo: tireoidite de Hashimoto. Por esse motivo, quando a doença é autoimune, há grande chance de evolução da tireotoxicose para hipotireoidismo. HASHIMOTO X TIREOIDITE LINFOCÍTICA SUBAGUDA Ambas são autoimunes e possuem uma fase precoce de tireotoxicose. No entanto, elas são diferenciadas pela análise histológica, uma vez que na Hashimoto observa-se fibrose e metaplasia do epitélio folicular. Na metaplasia observamos as células de Hürthle. Essas células apresentam citoplasma abundante, eosinofílico e glandular. Enquanto na tireoidite linfocítica subaguda não se observa nem fibrose nem metaplasia do epitélio folicular. Dessa forma, podemos dizer que a tireoidite de Hashimoto é um fator de risco para o câncer ao considerarmos a evolução da metaplasia (metaplasia → displasia → neoplasia). DIAGNÓSTICO LABORATIAL • Os principais marcadores são TSH, T3 e T4. O TSH e T4 são os principais, uma vez que a glândula produz preferencialmente T4, além dele ser convertido em T3. A mensuração da concentração sérica de TSH é o teste de mapeamento simples mais útil para o hipertireoidismo, porque seus níveis estão diminuídos mesmo em estágios mais iniciais, quando a doença ainda pode ser subclínica. Em geral, valores baixos de TSH são confirmados com a mensuração do T4 livre, o qual está esperadamente aumentado. CONDIÇÕES CLÍNICAS: • Hipertireoidismo primário: o Aumento de T4 e, consequentemente, de T3; o Diminuição de TSH. • Hipertireoidismo secundário (adenoma secretor de TSH): o T3 e T4 aumentados; o TSH aumentado ou nível normal. • Hipertireoidismo/tireotoxicose subclínico (mais comum): o T3 e T4 normais. o TSH diminuído. • Toxicose de T3: o T4 normal e T3 aumentado. o TSH diminuído. • Toxicose de T4: o T4 aumentado e T3 normal. o TSH diminuído. TSH T3 T4 Hipertireoidismo primário ↓ ↑ ↑ Hipertireoidismo secundário ↑ ou normal ↑ ↑ Subclínico ↓ Normal Normal Toxicose T3 ↓ ↑ Normal Toxicose T4 ↓ Normal ↑ Situação clínica: paciente idoso tomando remédios de forma aleatória → ingestão excessiva de T4 → TOXICOSE DE T4. CURSO CLÍNICO DA TIREOTOXICOSE São variáveis e o paciente pode apresentar várias manifestações clínicas que surgem em decorrência do estado de hipermetabolismo e ativação excessiva do SNA simpático (aumento do tônus β-adrenérgico). • Manifestações clínicas associadas ao aumento da taxa metabólica (metabolismo basal): o Pele macia, quente e ruborizada; o Aumento da sudorese; o Aumento da intolerância ao calor; o Perda de peso (por causa do catabolismo). BiancaLouvain 4 • Principais manifestações cardíacas (CUIDADO MAIOR – deve-se solicitar análise de função cardíaca): o Taquicardia; o Aumento da contratilidade cardíaca; o Palpitação; o Cardiomegalia; o Fibrilações e arritmia. • Manifestações no sistema gastrointestinal: o Hipermotilidade → síndrome de má absorção → diarreia (esteatorreia). • Manifestações no sistema esquelético: o Osteoporose e atrofia muscular (em decorrência do catabolismo). • Manifestações no sistema ocular (importante): o Paciente com olhar fixo e arregalado o Exoftalmia (protusão do bulbo ocular “olho esbugalhado”); o Movimentos lentos das pálpebras superiores. • Hiperatividade do SNA simpático: o Tremor; o Insônia; o Ansiedade; o Hiperatividade. • Tempestade tireoidiana (emergência médica): o É definida por uma elevação súbita e excessiva dos hormônios tireoidianos definida por uma crise tireoidiana (complicação aguda do hipertireoidismo); o A problemática são as decorrentes alterações no organismo que podem ser fatais (febre intensa, taquicardia, arritmia e insuficiência cardíaca); o Comum em cenários de intoxicação exógena por hormônios tireoidianos. • Hipertireoidismo apático: o Ocorre em idosos; o A problemática é a presença de outras comorbidades nos idosos, que fazem com que as manifestações clássicas de hipertireoidismo não sejam tão perceptíveis e, dessa forma, são mascaradas. DOENÇA DE GRAVES (TIREOTOXICOSE) É uma causa comum de hipertireoidismo endógeno (autoimune). Comumente encontrada entre 20-45 anos, principalmente em mulheres (10:1). Pode surgir associada a outras doenças autoimunes, como LES, DM1 e Doença de Addison. O distúrbio autoimune é caracterizado pela produção de autoanticorpos contra múltiplas proteínas da tireoide. É caracterizada pela tríade: • Hipertireoidismo associado ao aumento difuso da glândula: • Oftalmopatia infiltrativa com exoftalmia resultante; • Dermopatia infiltrativa localizada, algumas vezes chamada de mixedema pré-tibial (aumento de volume no local, com edema “duro” pelo excesso de GAGs): Pode haver também manifestações da tireotoxicose como: pele macia, quente e ruborizada, aumento da sudorese e aumento da intolerância ao calor. A cintilografia com iodo radioativo é capaz de direcionar o profissional à possível causa da tireotoxicose. No caso da Doença de Graves, a captação do iodo radioativo é difusa. • No caso de glândula hiperfuncionante, ela capta mais iodo radioativo. • No caso de folículos destruídos como em tireoidites, a glândula capta menos iodo radioativo. • No caso de neoplasia, há aumento da captação de iodo radioativo de forma mais localizada. PATOGÊNESE É uma doença autoimune, associada à susceptibilidade genética por polimorfismos nos genes CTLA4, PTPN22, IL2RA e HLA-DR3. • CTLA4 (antígeno 4 associado ao linfócito T citotóxico). • PTPN22 (proteína tirosina fosfatase 22). • IL2RA (cadeia alfa do receptor de interleucina 2). • HLA-DR3 (antígeno leucocitário humano). BiancaLouvain 5 Esses genes, em seu estado normal, produzem proteínas regulatórias das células T. No entanto, quando modificado, perde sua função, de forma que as células T estejam alteradas em seu reconhecimento e resposta. A principal característica da doença de Graves é a produção de autoanticorpos contra múltiplas proteínas tireoidianas, sendo a principal delas o receptor de TSH (R-TSH). • Anticorpo anti-receptor TSH (estimula ou bloqueia). O subtipo mais comum dos autoanticorpos produzidos é o TSI (imunoglobulina estimuladora da tireoide), o qual é clinicamente conhecido como TRab. Dessa forma, o nível sérico aumentado de TRab é indicativo da doença de Graves. Como resposta a esse ataque, a glândula aumenta a secreção de T3 e T4, aumentando, assim, seu nível sérico. Esse primeiro aumento é acompanhado de algumas respostas adaptativas: células foliculares sofrendo hipertrofia + hiperplasia. Como resultado ocorre o bócio difuso. Em decorrência das alterações genéticas, ocorre ativação das células TCD4, que cursam com produção de citocinas e fatores de crescimento. Essas citocinas ativam e proliferam fibroblastos, os quais respondem produzindo componentes da MEC (aumento na secreção) sendo o principal deles o glicosaminoglicano. A problemática é que ele retém muito sódio e, consequentemente, retém a água, deixando o local inchado (tumefeito). • Infiltração por células mononucleares (células T) – marcante do espaço retro-orbitário - as células T ativadas começam a infiltrar de maneira progressiva a região retro-orbitária. A exoftalmia, por sua vez, é causada por aumento no volume de tecido conjuntivo no espaço retro-orbitário, como também nos músculos extraoculares; • Inflamação com edema e inchaço dos músculos extraoculares – há um infiltrado mononuclear no espaço retro-orbitário, entrando células T ativadas em grande quantidade, as quais provocam inflamação, edema e tumefação dos músculos extraoculares. Como também aumentam a deposição de componentes da MEC, principalmente GAGs (glicosaminoglicanos); • Acúmulo de componentes da MEC (glicosaminoglicanos/ácido hialurônico e o sulfato de condroitina); • Número aumentadode adipócitos (infiltração gordurosa) – decorrente da estimulação excessiva de fibroblastos, os quais se diferenciam em adipócitos. É caracterizada pelo espessamento da derme, causada por aumento da deposição de GAGs (glicosaminoglicano) e infiltrado linfocitário. MACROSCOPIA: • Glândula aumentada de forma simétrica e difusa → bócio difuso (hipertrofia e hiperplasia difusa das células epiteliais foliculares); • Ao corte, aparência carnuda (decorrente da hiperplasia cursando com aumento do parênquima) e macia. MICROSCOPIA: • Células epiteliais foliculares colunar altas e mais aglomeradas (populosas) – decorrente da hipertrofia acompanhada de hiperplasia; • Formação de pequenas papilas – essas papilas não apresentam eixo fibrovascular e pode invadir coloide. Elas são causadas pela hiperplasia. Como crescem para dentro do coloide, não tem eixo fibrovascular. • Infiltrado inflamatório mononuclear rico em células T, células B e plasmócitos maduros (linfoide); • Presença de centros germinativos (formados por linfócitos), os quais fazem com que haja um aumento de risco para linfoma; • O coloide é pálido com as margens recortadas (em branco) - decorrente da maior necessidade de liberar T3 e T4, levando a uma maior reabsorção do coloide. BiancaLouvain 6 MORFOLOGIA: TECIDO EXTRATIREOIDIANO • Hiperplasia linfoide (alargamento do timo – comum em jovens); • Coração pode apresentar-se hipertrofiado; • Oftalmopatia; • Dermopatia (espessamento da derme devido à deposição de glicosaminoglicanos e à infiltração de linfócitos). CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS • Achados clínicos: hiperplasia difusa da tireoide, oftalmopatia e dermopatia. A principais manifestações clínicas de tireotoxicose: tremor, aumento da sudorese, taquicardia, hiperatividade, insônia, aumento da intolerância ao calor e catabolismo (perda de peso). Associados com aspectos específicos da Doença de Graves, sendo bócio difuso, exoftalmia e dermatopatia. Paciente com Doença de Graves possui risco aumentado para desenvolvimento de outras doenças autoimunes (anemia perniciosa, DM I e doença de Addison), como também para desenvolvimento de câncer de tireoide e linfoma. ACHADOS LABORATORIAIS • ↑ T3 e T4 livres e ↓ TSH e ↑ do nível sérico de TRab; • Cintilografia com iodo radioativo: captação de iodo radioativo elevada de forma difusa. TIREOIDITE GRANULOMATOSA (quervain) É pouco frequente, com alta incidência em mulheres (4:1) na faixa etária de 30-50 anos. É considerada uma doença sazonal que apresenta picos no verão e no inverno. Possui resposta imune limitada, de forma que o organismo restaure a função normal da glândula quando feita a remoção do agente. PATOGÊNESE: A principal hipótese é que ela surge após infecção viral do trato respiratório superior, principalmente por coxsackie vírus, paramixovírus (caxumba), morbilivírus (sarampo) e adenovírus. A infecção viral pode causar problemas de duas formas: • Dano direto nas células do epitélio folicular; • Dano indireto por exposição dos antígenos virais e/ou tireoidianos, induzindo resposta imunomediada por célula T citotóxica, a qual também provoca danos nas células do epitélio folicular. Como resultado de ambos os casos temos destruição do folículo tireoidiano, que passa a jogar coloide na circulação e, assim, iniciando o processo de tireotoxicose. MACROSCOPIA • Aumento unilateral ou bilateral da glândula, depende do foco da infecção viral. • Consistência firme. • Cápsula intacta - fator de diferenciação das neoplasias tireoidianas, principalmente carcinomas. • Pode aderir a estruturas adjacentes. • Ao corte, áreas firmes e de coloração branco- amarelada (processo inflamatório viral cursa com a formação de fibrose). MICROSCOPIA As áreas focais são dependentes do estágio da doença. • Fase inicial (fase inflamatória ativa) – folículos tireoidianos destruídos são substituídos por neutrófilos formadores de microabscesso. • Fase intermediária (momento em que se tem a caracterização da doença) – agregados de linfócitos, macrófagos e plasmócitos associados aos folículos danificados e colapsados (infiltrado mononuclear). • Células gigantes multinucleadas circundando o coloide (é o que dá o nome a tireoidite granulomatosa) – o coloide é reconhecido como um corpo estranho e, por isso, é circundado (envolvem lagos ou fragmentos de coloide). Já que o processo inflamatório altera a composição do lipídeo. • Fase final – infiltrado mononuclear (infiltrado inflamatório crônico) e fibrose. Eles, ao longo do tempo, reabsorvem e desaparecem (remodelamento da fibrose). E assim é observado um parênquima com aspecto normal. BiancaLouvain 7 CARACTERÍSTICA CLÍNICA • Causa comum de dor na tireoide (devemos suspeitar sempre que houver dor): o A granulomatosa geralmente gera dor por causa do tipo de mediadores químicos liberados na resposta inflamatória associada. Uma das características da granulomatosa é a formação de microabscesso na fase inicial e o excesso de neutrófilos inicialmente está associado à liberação de mediadores álgicos, principalmente histamina, PGE2 e serotonina. • Aumento variável da glândula acompanhada de dor; • Inflamação e tireotoxicose transitória (isso porque só teremos a elevação de T3 e T4 enquanto o processo inflamatório existir, normalmente de 2-6 semanas. De 6-8 semanas a tireoide terá função normal). ACHADOS LABORATORIAIS • T4 aumentado e TSH reduzido; • Autoanticorpos não serão observados; • Baixa captação de iodo radioativo na cintilografia; É o diagnóstico diferencial de carcinoma papilífero da tireoide – porque temos o aumento variável da glândula, consistência firme e que se adere às estruturas adjacentes. Além da presença de células gigantes multinucleadas. Tireoidite linfocítica subaguda É uma doença autoimune de maior incidência em mulheres, que surge entre 20-40 anos (adulto de meia- idade). Normalmente o paciente apresenta uma história familiar de outras doenças autoimunes (principalmente a DM I, doença de Addison, anemia perniciosa por gastrite crônica autoimune e lúpus eritematoso) + anti-TPO circulante. Atenção clínica por causa hipertireoidismo leve, bócio, ou de ambos. PATOGÊNESE • O paciente apresenta alto nível sérico de TPO. Essa elevação gera destruição dos folículos tireoidianos, que são mediados por células T citotóxicas, citocinas e células dependentes de anticorpos. • A ativação de linfócitos TCD4, recrutados pelas citocinas, vão produzir IFN- γ que ativa e recruta o macrófago M1 que vão destruir o epitélio folicular e, por isso, é mediado por citocinas. MORFOLOGIA • Aumento simétrico leve, difuso e discreto da glândula (é um bócio discreto) – grosseiramente normal; • Infiltrado inflamatório mononuclear rico em linfócitos, plasmócitos e macrófagos (linfocitário); • Observa-se grandes centros germinativos – risco aumento de desenvolvimento de linfoma; • Folículos tireoidianos destruídos (colapso de folículos). Paciente cursa com tireotoxicose e depois com hipotireoidismo, aumento do nível sérico de TPO (marcador comum da tireoidite de Hashimoto). O que permite diferenciar essas condições é a histologia. E, assim, não teremos (comparada com a Hashimoto) células de Hürthle (resposta adaptativa do epitélio folicular/metaplasia) e fibrose. • A fibrose e a metaplasia das células de Hürthle não são características proeminentes. Prova: caso clínico com tireotoxicose + hipotireoidismo + histologia descrita ou com imagem. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS (importante) • Bócio discreto e indolor; • Tireotoxicose leve (hipertireoidismo aparente) e, em alguns casos, transitório. E, por isso, pode ser confundida com tireoidite de Hashimoto (diagnóstico diferencial); ⅓ dos indivíduos evoluem para hipotireoidismo em até 10 anos. ACHADOS LABORATORIAIS Relacionados ao estágioem que a doença está. • Fase inicial – achados laboratoriais de tireotoxicose (aumento de T4 e diminuição de TSH); • Fase tardia – achados laboratoriais de hipotireoidismo (aumento do TSH e diminuição de T4); • Aumento do nível sérico de anti-TPO; • Redução na captação do iodo radioativo na cintilografia; Esse paciente apresenta risco aumentado de outras doenças autoimunes, carcinoma papilífero e linfoma de células B da zona marginal intermodal. BiancaLouvain 8 Hipotireoidismo (hipofunção) • ↑ TSH e ↓ T4 – ou T3 e T4 normal. É causado por um desarranjo estrutural e/ou funcional, que interfere na produção de níveis adequados de hormônios tireoidianos. É uma doença comum (0,5% da população já tem hipotireoidismo e 4% têm hipotireoidismo subclínico, sendo essa a apresentação mais comum tanto para tireotoxicose como para o hipotireoidismo subclínico). Tem maior incidência em mulheres e a incidência aumenta com a idade. Pode ser dividido em dois grupos: primário e secundário. PRIMÁRIO: • Hipotireoidismo primário congênito: o Deficiência de iodo na dieta (mais comum); o Bócio dis-hormonogenético (doença em que temos erro inato no metabolismo da tireoidite no qual a célula ou tem dificuldade para captar o iodeto 54); o Agenesia da glândula (nasce sem a glândula); o Hipoplasia da glândula (não se desenvolve da forma correta). • Hipotireoidismo primário autoimune: o Tireoidite de Hashimoto (mais comum); o Tireoidite linfocítica subaguda (fase tardia leva ao hipotireoidismo). • Hipotireoidismo primário iatrogênico: o Ablação cirúrgica (remoção total ou parcial da glândula por neoplasia, por tireotoxicose de difícil controle/tratamento); o Radiação (radioiodoterapia, radioterapia de cabeça ou pescoço – principalmente por linfoma de Hodgkin); o Uso excessivo de medicamentos: O metimazol compete pelo iodeto, se ligando a ele e deixando a tireoglobulina sem o iodeto, diminuindo a produção de T3 e T4. O propiltiouracil inibe as desiodases/D1, ou seja, inibe a conversão de T4 em T3. Sendo T3 a mais potente, a função hormonal é reduzida. Medicamentos à base de lítio – principalmente para o tratamento de transtorno de bipolaridade. O lítio impede a captação e transporte do iodeto. SECUNDÁRIA • Falha na hipófise – observa-se a redução do TSH; • Insuficiência hipotalâmica – observa-se redução de TRH; Ambas são causadas por necrose, câncer e traumas. • O diagnóstico é baseado nos achados laboratoriais e sintomas clínicos. • Os marcadores laboratoriais mais utilizados para o diagnóstico é o TSH. TSH T3 T4 Hipotireoidismo primário ↑ ↓ ↓ Hipotireoidismo secundário ↓ ou normal ↓ ↓ Subclínico ↑ Normal Normal Prova: exame com os marcadores e teremos que identificar qual é o tipo de hipotireoidismo. CRETINISMO O cretinismo é o hipotireoidismo que se desenvolve na lactância ou período precoce da infância. As duas principais causas de cretinismo é deficiência de iodo na dieta ou bócio dis-hormogênico. T3 e T4 são importantes para o desenvolvimento dos músculos e do cérebro. Por esse motivo, a criança vai cursar com deficiência intelectual grave, baixa estatura, traços faciais grosseiros, língua protusa (projetada) e hérnia umbilical. MIXEDEMA É o hipotireoidismo que se desenvolve em crianças mais velhas ou adultos. A principal causa são as doenças autoimunes. • Crianças mais velhas – sinais e sintomas intermediários entre aqueles dos cretinos e aqueles de adultos com hipotireoidismo; • Adulto – condição aparece insidiosamente É caracterizado por limitação/lentidão da atividade física e mental, fadiga generalizada, apatia e preguiça mental. O paciente pode apresentar ganho de peso, intolerância ao frio (redução da sudorese), constipação intestinal, perfil aterogênico (paciente evolui com aumento de LDL e favorável para formar aterosclerose), espessamento e engrossamento dos traços faciais e presença de mixedema pré-tibial. O paciente pode apresentar quadros depressivos. • ↓ DC e ↑ níveis de colesterol total e LDL. Histologicamente, o acúmulo de substâncias da MEC na pele/subcutâneo e vísceras resulta em edema não depressível, alargamento e engrossamento das características faciais, aumento da língua e engrossamento da voz. BiancaLouvain 9 Tireoidite de Hashimoto É uma doença autoimune que resulta em destruição dos folículos tireoidianos e insuficiência/falência gradual e progressiva da tireoide. Ou seja, surge inicialmente com um quadro de tireotoxicose e depois evolui para hipotireoidismo. É a causa mais comum de hipotireoidismo (em áreas não endêmicas para deficiência de iodo). Tem maior incidência em mulheres (10:1 ou 20:1 – depende do livro). Surge entre 30-45 anos. Pode surgir em crianças, sendo uma causa comum de bócio não endêmico na população pediátrica. Curso clínico da doença: hashitoxicose → hipotireoidismo: a hashitoxicose é a fase de tireotoxicose, ou seja, fase em que temos a destruição dos folículos e consequente liberação de coloides e aumento dos hormônios tireoidianos. Chega um momento de destruição dos folículos que eles não conseguem mais produzir hormônios, caracterizando o quadro de hipotireoidismo. PATOGÊNESE É caracterizada por falha na autotolerância aos antígenos tireoidianos (autoantígenos), que é causada por anormalidades nas células T reguladoras (Tregs) e/ou exposição dos antígenos tireoidianos. A anormalidade nas células T são causadas por suscetibilidade genética, principalmente pelo polimorfismo nos genes CTLA4, PTPN22 e IL2RA (os mesmos observados na doença de Graves). Esses genes vão passar a produzir anti-TPO (tireoperoxidase) e anti- TG (tireoglobulina). O anti-TPO é o principal autoanticorpo envolvido na destruição do folículo, que induz 3 mecanismos moleculares de destruição (morte das células foliculares): • Morte celular mediada por células T citotóxicas (TCD8); • Morte celular mediada por citocinas (através dos macrófagos M1); • Citotoxicidade mediada por células dependentes de anticorpos. Prova: cite dois mecanismos moleculares envolvidos na patogênese da tireoidite de Hashimoto. MACROSCOPIA • Aumento difuso e simétrico (pode ser observado aumento mais localizado), cápsula intacta, glândula bem delimitada; • Ao corte: a glândula pode apresentar-se pálida ou castanha-amarelada; • Consistência firme e levemente nodular. MICROSCOPIA • Infiltrado inflamatório mononuclear extenso – rico em linfócitos pequenos e com presença de centros germinativos; • Ao analisarmos os folículos tireoidianos que ainda estão íntegros, observamos folículos atróficos, revestidos por células de Hürthle (metaplasia do epitélio folicular) com citoplasma abundante, eosinofílico e granular. • Tecido conjuntivo intersticial abundante e limitado a cápsula (é a fibrose). Lembrando que a presença de células de Hürthle e fibrose é diagnóstico histológico diferencial. • Leves nodulações, glândula aumentada com áreas pálidas (por fibrose + ausência de folículos) associadas às áreas castanhas. A presença da célula de Hürthle é um prognóstico ruim pois é indicativa de um quadro crônico que pode evoluir para displasia e, posteriormente, neoplasia. BiancaLouvain 10 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Paciente apresenta-se com hipotireoidismo e bócio difuso e indolor, que é precedida pela fase transitória de tireotoxicose (chamada de Hashitoxicose), risco aumentado para o desenvolvimento de outras doenças autoimunes (DM I, doença de Addison, LES, miastenia gravis, síndrome de sjogren – lágrima de crocodilo/ausência de lágrimas), risco aumentado para o desenvolvimento de carcinoma papilífero da tireoide e linfoma de células B da zona marginal extranodal. • Aumento indolor da tireoide; • Aumento da glândula é simétrico e difuso (pode ser suficientemente localizado); • Pode serprecedido por tirotoxicose transitória – causada pelo rompimento dos folículos tireoidianos, levando à liberação secundária dos hormônios tireoidianos (“hashitoxicose”). ACHADOS LABORATORIAIS Depende do estágio da doença • Fase de tireotoxicose: TSH reduzido e T4 aumentado; • Fase de hipotireoidismo: TSH aumentado e T4 reduzido (fase mais comum); • Aumento do nível sérico de anti-TPO e anti-TG; • Na análise de iodo radioativo teremos a redução difusa da captação do iodo radioativo. Clinicamente podemos ter a sobreposição dos dois perfis (Hashimoto e Gravis), o que torna difícil o fechamento do diagnóstico: paciente que chega com quadro clínico de Hashimoto e, após um ano, apresenta o quadro clínico de Gravis. Deve ser tratado de acordo com o quadro clínico do paciente. Tireoidite atrófica É uma tireoidite autoimune no qual ocorre a produção de autoanticorpos que bloqueiam o receptor de TSH – também identificado nos testes como TRab, que pode ter função estimuladora (mais comum) ou de bloqueio do receptor de TSH. • TRab com função estimuladora teremos a doença de Gravis e com função de bloqueio teremos a tireoidite atrófica. BiancaLouvain
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