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1 Anemias adquiridas A anemia é uma redução da massa eritrocitária circulante total abaixo dos limites normais, reduzindo a capacidade de transporte de oxigênio no sangue, o que leva o tecido à hipoxia. Em outras palavras, é a diminuição do nível de hemoglobina no sangue com ou sem diminuição dos eritrócitos. Observação: o grupo heme é formado pela hemoglobina + ferro. A anemia normalmente é diagnosticada com base no hematócrito, que é a proporção de hemácias em relação ao volume total de sangue, e na concentração de hemoglobina no sangue em níveis abaixo da faixa normal. • Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) é a medida do conteúdo de hemoglobina por glóbulo vermelho: hipocrômica, normocrômica e hipercrômica; o VR: 30-34pg • VCM (Volume Corpuscular Médio) é um índice hematimétrico presente no hemograma e indica o tamanho médio das hemácias, as células vermelhas do sangue: microcítica, normocítica e macrocítica; o VR: 80-100fL • Os reticulócitos são um estágio intermediário de maturação, entre os eritroblastos e as hemácias, já sem núcleo mas ainda com um certo conteúdo de ácidos nucleicos no citoplasma. As hemácias são produzidas pelo processo chamado eritropoiese. A redução no número de eritrócitos induz hipóxia e estimula os rins a liberar EPO (eritropoietina). Esse hormônio liberado pelos rins estimula a medula óssea a maturarem seus eritroblastos. morfologia As hemácias possuem um formato bicôncavo, são anucleadas e possuem um halo central pálido. As características morfológicas que sugerem indicações patológicas são: • Tamanho da hemácia (normocítica, microcítica ou macrocítica); • Grau de hemoglobinização, refletido na cor das hemácias (normocrômica ou hipocrômica); • Forma. anemia ferropriva • ↓ VCM ↓ HCM • Hemácias microcíticas e hipocrômicas É a anemia por deficiência de ferro. A deficiência de ferro prejudica a eritropoiese, causando sensação de hipóxia. É o distúrbio nutricional mais comum no mundo. Pode ser causada por perda crônica de sangue, aumento da demanda sanguínea, diminuição da ingestão ou da absorção de ferro e doença inflamatória crônica. As doenças inflamatórias crônicas elevam a quantidade de mediadores inflamatórios (IFN-8, TNF-α, IL-10 e IL- 6) que inibem a eritropoiese, reduzindo, consequentemente a quantidade de eritrócitos. • IFN-8 diminui EPO; • TNF-α impede a medula óssea de produzir eritrócitos; • IL-10 como essas células armazenam ferro em seu interior, elas vão diminuir a biodisponibilidade do ferro; • IL-6 estimula a produção de hepdicina, que regula a absorção de ferro. Ahepcidina inibe a transferência de ferro do enterócito para o plasma ao se ligar à ferroportina, causando sua endocitose e degradação. Como resultado, quando os níveis de hepcidina aumentam, o ferro fica aprisionado no interior das células duodenais na forma de ferritina mucosa e é perdido quando essas células são eliminadas. Portanto, quando o organismo está repleto de ferro, altos níveis de hepcidina inibem sua absorção para o sangue. De forma inversa, com baixos depósitos orgânicos de ferro, a síntese de hepcidina diminui e, por sua vez, isso facilita a absorção de ferro. Bianca Louvain 2 Ao inibir a ferroportina, a hepcidina não apenas reduz a captação de ferro das hemácias, como também suprime a liberação de ferro dos macrófagos, uma importante fonte de ferro. Independente da causa, a deficiência de ferro sempre vai produzir anemia microcítica hipocrômicas, ou seja, pequena e pálida. As manifestações clínicas da anemia são inespecíficas. Qualquer que seja a causa, quando suficientemente grave, a anemia provoca algumas características clínicas. Os pacientes têm um aspecto pálido. Fraqueza, mal-estar e cansaço fácil constituem queixas comuns. O menor teor de oxigênio no sangue circulante provoca dispneia ao esforço leve. Hipóxia pode causar alteração gordurosa no fígado, no miocárdio e nos rins. anemia perniciosa • Macrocítica É uma forma específica da anemia megaloblástica, a causada por uma gastrite autoimune que compromete a produção do fator intrínseco pelas células parietais da mucosa do estômago. Esse fator intrínseco é necessário para a absorção de vitamina B12 (cobalamina) pelo intestino. Observação: as anemias megaloblásticas ocorrem por dano na síntese do DNA, provocando alterações morfológicas distintas, dentre elas precursores eritroides e hemácias anormalmente grandes. É mais comum em adultos idosos, em média aos 60 anos. Além da gastrite autoimune, a ressecção ileal (doença ileal difusa) pode remover ou lesar o sítio de absorção do complexo fator intrínseco-vitamina B12 (o receptor é chamado de cubulina). • A vitamina B12 é liberada dos alimentos pela ação da pepsina no estômago, ligando-se, então, às proteínas salivares chamadas haptocorrina. No duodeno, a vitamina B12 ligada é liberada pela ação das proteases pancreáticas. Ela se associa, então, ao fator intrínseco. Esse complexo é transportado até o íleo, onde sofre endocitose por enterócitos ileais que expressam receptores do fator intrínseco em sua superfície, denominado cubilina. Nas células ileais, a vitamina B12 se associa à principal proteína transportadora, a transcobalamina II, e é secretada no plasma. A transcobalamina II distribui a vitamina B12 ao fígado e a outras células do corpo, incluindo células em proliferação rápida na medula óssea e no trato gastrointestinal. anemia por deficiência de folato • Macrocítica É um tipo de anemia megaloblástica. A vitamina B9 (ácido fólico) vai apresentar os mesmos aspectos patológicos que a causada por deficiência de vitamina B12. Em geral, é causada pela desnutrição, alcoolismo crônico, síndrome da má absorção, uso de antagonistas de folato (metotrexato), além de erros inatos do metabolismo deste. Apesar de ter tido uma queda devido à diminuição de carência nutricional, ainda se vê na clínica, especialmente em gestantes de classes mais pobres. As fontes mais ricas de B9 são os vegetais verdes, como alface, espinafre, aspargos e brócolis. • Diminuição da ingestão ou da absorção intestinal, aumento da necessidade e utilização prejudicada. A síntese suprimida de DNA, o denominador comum da deficiência de ácido fólico e vitamina B12, é a causa imediata da megaloblastose. O folato é importante para a formação do eritrócito ao participar da biossíntese das purinas, timina, serina e histadina. anemias hemolíticas Todas apresentam as mesmas características: encurtamento do ciclo de vida das hemácias (abaixo dos 120 dias normais), elevação dos níveis de EPO e aumento compensatório da eritropoiese e acúmulo de produção de degradação da hemoglobina derivados como parte do processo de hemólise das hemácias. BiancaLouvain 3 • ↑ HCM Esse distúrbio hereditário é causado por defeitos intrínsecos do esqueleto da membrana eritrocitária (perda de espectrina e de actina) que tornam as hemácias esferoides, menos deformáveis e vulneráveis ao sequestro e à destruição no baço (ficam presas nos cordões do baço, processo chamado de eritrostase, no qual as hemácias ficam expostas à capturação pelos macrófagos). A EH é causada por diversas mutações que provocam deficiência nos componentes do esqueleto da membrana. A destruição prematura das hemácias também ocorre no interior dos fagócitos, processo chamado de hemólise extravascular. Se persistente, a hemólise extravascular provoca hiperplasia dos fagócitos, manifestada por vários graus de esplenomegalia. Doença autossômica dominante e recessiva. Morfologia: esferocitose (importante), hemácias microcíticas e hipercrômicas, esplenomegalia por congestão dos cordoes de Billroth, corpúsculo de Howell-Jolly (fragmentos roxos quase pretos na periferia da célula), células vermelhas escuras. Os aspectos clínicos característicos consistem em anemia, esplenomegalia e icterícia. Anormalidades navia da hexose-monofosfato ou no metabolismo da glutationa, resultantes de uma função enzimática deficiente ou prejudicada, reduzem a capacidade das hemácias de se protegerem contra lesões oxidativas e provocam hemólise. • A hemólise episódica característica da deficiência de G6PD é causada por exposições que causam estresse oxidativo. O mais importante desses distúrbios enzimáticos é a deficiência hereditária (ligada ao cromossomo X) da atividade de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD), que é responsável por reduzir NADP em NADPH. Morfologia: corpos de Heinz (inclusões escuras no interior das hemácias), aspecto mordido pelos macrófagos (como resultado da lesão de membrana, algumas dessas células parcialmente devoradas retêm uma forma anormal, dando a impressão de que foram mordidas). A hemólise intravascular de hemácias pode ser causada por lesão mecânica, fixação de complemento, parasitas intracelulares. • Qualquer que seja o mecanismo, a hemólise intravascular é manifestada por anemia, hemoglobinemia, hemoglobinúria, hemossiderinúria e icterícia. • Independentemente da causa, os principais aspectos clínicos da hemólise extravascular são anemia, esplenomegalia e icterícia. BiancaLouvain 4 A doença falciforme é uma hemoglobinopatia hereditária comum causada por uma mutação pontual na β-globina que promove a polimerização de hemoglobina desoxigenada, levando a distorção de hemácias, anemia hemolítica, obstrução microvascular e lesão isquêmica tecidual. • Mutação gera hemácia em forma de foice: hemoglobina S. A substituição do ácido glutâmico por valina na cadeia β da hemoglobina tende uma polimerização da hemoglobina desogixenada, responsável por transformar a hemácia em uma “foice”. Esse formato em foice resulta em oclusão dos vasos e consequente lesão isquêmica tecidual. • Células irreversivelmente falciforme, reticulocitose, corpos de Howell-Jolly. As síndromes talassêmicas formam um grupo heterogêneo de distúrbios causados por mutações hereditárias que diminuem a síntese de cadeias de α- globina e β-globina que compõem a hemoglobina adulta, HbA (α2β2), levando a anemia, hipoxia tecidual e hemólise de hemácias relacionada ao desequilíbrio na síntese das cadeias de globina. • As β-talassemias são causadas por mutações que diminuem a síntese das cadeias de β-globina. É causada por mutação em dois genes que pode gerar talassemia major (severa), minor (severa) ou intermediária. O paciente cursa com anemia por déficit de hemoglobina normal (HbA) e cadeias não pareadas. • As α-talassemias são causadas por deleções hereditárias em 4 genes que resultam na síntese reduzida ou ausente das cadeias de α-globina. Em geral, existem quatro genes de α-globina, e a gravidade da α-talassemia depende de quantos genes de α-globina são afetados → estado portador silencioso (afeta só um gene), caráter α- talassemia (deleção de dois genes), doença da hemoglobina H (três genes) e hidropisia fetal (forma mais grave, com deleção de quatro genes). Se assemelha à anemia ferropriva. BiancaLouvain
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