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1 Isadora Silva Microbiologia Neisseria O gênero Neisseria é formado por 28 espécies, sendo 10 delas encontradas em humanos, e duas, Neisseria gonorrhoeae e Neisseria meningitidis, estritamente patogênicas em humanos. CARACTERÍSTICAS GERAIS Enquanto a Neisseria gonorrhoeae é uma doença sexualmente transmissível (gonorreia), a Neisseria miningitidis pode colonizar na nasofaringe de pessoas saudáveis sem causa doença ou pode causar meningite, com evolução rápida que pode levar a sepse fatal ou broncopneumonia. FISIOLOGIA: são bactérias Gram-negativas, aeróbias, tipicamente em forma de cocos. Todas as espécies são oxidase positivas e a maioria produz catalase, que combinadas com a coloração e morfologia permitem rápida identificação. -N. gonorrhoeae produz ácido pela oxidação da glicose, enquanto a N. meningitidis oxida glicose e maltose. Espécies não patogênicas são capazes de crescer em ágar-sangue ou ágar-nutriente. A estrutura da parede celular é típica de Gram- negativas, com uma fina camada de peptídeoglicano e contendo LPS. O principal fator de virulência da N. meningitides é a cápsula polissacarídica. Ambas as cepas patogênicas e não patogênicas de Neisseria possuem pili, que promove aderência, transferência de material genético e motilidade, e isso auxilia na patogenicidade. Esse pili também confere resistência à morte causada pelos neutrófilos. As porinas também estão presentes na membrana externa e formam poros ou canais para a passagem de nutrientes para dentro da célula (PorA e PorB). O Por B funciona mais ativamente para garantir a sobrevivência da bactéria, já que interfere na desgranulação de neutrófilos e protege a bactéria contra respostas inflamatórias do hospedeiro. Além disso, facilita a invasão de células epiteliais. As proteínas OPA servem para adesão e medeiam a ligação íntima ao epitélio e aos fagócitos. Já as proteínas RMP também formam porinas e estimulam anticorpos bloqueadores que interferem na atividade bactericida do soro contra Neisserias patogênicas. O ferro é essencial para o crescimento e metabolismo da N. gonorrhoeae e N. meningitidis. As Neisserias patogênicas citadas produzem a protease IgA, além de produzirem β-lactamase que degradam a penicilina e por esse motivo são resistentes a ela. PATOGÊNESE: os gonococos aderes às mucosas celulares, penetram e se multiplicam passando para o espaço subepitelial, onde permite o estabelecimento da infecção. A Pili, PorB e OPA mediam a aderência e invasão. Após a adesão e infecção há a liberação de 2 Isadora Silva uma citocina inflamatória, produzida por efeito de um antígeno da parede celular (LOS), libera TNF-α, que é o causador da maioria dos sintomas da doença gonocócica. Já a doença meningocócica, acontece quando o meningococo adere a receptores específicos de pilina IV, após a adesão, eles podem se multiplicar formando grandes agregados bacterianos. A doença ocorre em pacientes que não possuem anticorpos específicos contra a cápsula polissacarídica e outros antígenos. Sua imunidade pode ser criada por antígenos de reatividade cruzada. A resposta imune precisa de ativação do sistema complemento para ativação de Mac para combater a cápsula, para só assim poder agir efetivamente degradando a bactéria. A resposta humoral também é usada. Ambas espécies são capazes de serem internalizadas dentro do vacúolo fagocítico e lá evitam a morte intracelular, replicando e migrando para o espaço subendotelial. EPIDEMIOLOGIA: ambas ocorrem naturalmente em humanos. Atrás da clamídia a gonorreia é a segunda maior causa de doenças sexualmente transmitidas. O pico da doença acontece na faixa de 15 a 24 anos. A N. gonorrhoeae é transmitida pelo contato sexual. O risco de contágio aumenta à medida que aumentam os riscos sexuais com parceiros infectados. O principal reservatório do gonococo é a pessoa infectada e assintomática. Cerca da metade das mulheres infectadas são assintomáticas ou apresentam infecções brandas. Já a doença meningocócica acontece em todo o mundo. Dos 13 sorogrupos existentes, quase todas as infecções são causadas pelos sorogrupos A, B, C, Y, W135. A N. meningitidis é transmitida por aerossóis respiratórios entre pessoas com contato prolongado. O estado de portador é tipicamente transitório, terminando após o desenvolvimento de anticorpos específicos. Pessoas imunocomprometidas, idosas ou que vivem em ambientes fechados estão mais propensas a infecções. DOENÇAS CLÍNICAS N. gonorrhoeeae (gonorreia): infecção genital em homens é primariamente restrita à uretra. Após o período de incubação ocorre um corrimento uretral purulento e disúria. Embora as complicações sejam raras, pode ocorrer epididimite, prostatite e abscesso periuretral. Já nas mulheres o sítio primário é o colo uterino. As pacientes sintomáticas geralmente apresentam corrimento vaginal, disúria e dor abdominal. Pessoas imunocomprometidas e RN são os que mais tem chances de pegar a doença. 3 Isadora Silva As infecções genitais e de tratos ascendentes (bexiga, rim) acontece mesmo que as bactérias sejam imóveis, porque elas têm capacidade de adesão. Tem capacidade também de causar conjuntivite purulenta em RN infectados durante o parto vaginal. N. meningitidis (meningite): A doença é transmitida pelo trato respiratório, sendo que a maioria começa abruptamente com uma dor de cabeça, sinais meníngeos e febre. Pode causar vômitos e rigidez de nuca. As sequelas neurológicas são baixas, sendo deficiência auditiva e artrites as mais comumente relatadas. A meningococcemia é aquela relacionada com a septicemia, que pode ser potencialmente fatal. As manifestações clínicas são: trombose e comprometimento de vários órgãos. É comum a ocorrência de petéquias no tronco e MMII, sendo que nesse estágio já está avançado, e que podem coalescer e formar lesões maiores. A resposta a antibioticoterapia geralmente é eficiente. Pode causar também pneumonia, artrite e uretrite. DIAGNÓSTICO: Pode acontecer de diversas formas: Microscopia: A coloração Gram é muito sensível e específica para identificação de infecção gonocócica em homens com uretrite purulenta e em mulheres com cervicite, mas não tem tanta sensibilidade para diagnósticos de assintomáticos. A coloração Gram só determina se é + ou -, não define a espécie que é. Já na N. meningitidis é facilmente visualizada no LRC de pacientes com meningite, a menos que o paciente tenha sido previamente tratado com antibióticos. Detecção de antígenos: São menos sensíveis que a cultura e não são recomendados, a menos que testes confirmatórios sejam realizados em espécimes negativos. Testes em ácidos nucleicos: são testes sensíveis, específicos e rápidos e na maioria dos laboratórios substituem a cultura. Cultura: o N. gonorrhoeae pode ser facilmente isolado de espécimes genitais. N. meingitides não é tão sensível quanto N. gonorrhoeae. TRATAMENTO, PREVENÇÃO E CONTROLE A penicilina tem sido o antibiótico de escolha para o tratamento de gonorreia, mas atualmente não tem sido tão utilizada por conta da resistência existente contra ela. Muitos indicam o uso de ceftriaxona como terapia empírica inicial. Os principais esforços para se conter a gonorreia incluem educação sexual, urgência na detecção e acompanhamento dos contatos sexuais. É bom lembrar que a infecção crônica pode levar até a esterilidade. Não existe vacina ainda que seja eficaz. 4 Isadora Silva A ceftriaxona ou penicilina G pode ser utilizada também para o tratamento da meningite. Existe vacinação (vacina conjugada).
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